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2 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
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A Lavoura DEZEMBRO/2011 3A L
avoura
A Lavoura
ANO 114 - NO 687DIRETOR RESPONSÁVEL
Antonio Mello Alvarenga Neto
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Cristina Baran
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Ibsen de Gusmão Câmara
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É proibida a reprodução parcial ou total dequalquer forma, incluindo os meioseletrônicos, sem préviaautorização do editor.
ISSN 0023-9135
Os artigos assinados são de responsa-
bilidade exclusiva de seus autores, não
traduzindo necessariamente a opinião
da revista A Lavoura e/ou da Socie-dade Nacional de Agricultura
Capa: Uva da variedade grenache,
da fazenda vinícola “La Vieille Ferme”,
em Vinsobres, Provence, França,
de propriedade da Família Perrin
Foto de Cristina Baran
editoria@sna.agr.br
SNA 114 ANOS 06
PANORAMA 10
SOCIEDADE RURAL
BRASILEIRA - SRB 22
SOBRAPA 25
BIOTECNOLOGIA 34
ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO 42
EMPRESAS 48
PESQUISARaça bovina americana é foco de
melhoramento pela Embrapa
O senepol é uma raça adaptada
ao calor, fértil e sua carne
é de boa qualidade 38
HORTICULTURATomate: produção integrada com milho
ganha força
Um novo aumento da produção de
tomate poderá ocorrer em 2012
nas propriedades onde o
cultivo é alternado com
o plantio de grãos 40
LEITENovos desafios da produção leiteira
O mercado leiteiro é um setor de
grande impacto no agronegócio
com uma produção média
estimada de 32 bilhões
para 2011 49
VINICULTURAVinhos, tradição e modernidade 14
ALGODÃO
Avanços e recordes do algodão
no Brasil 21
VITICULTURA
Produção integrada de uva: maior valor
agregado no processamento
à cadeia vitivinícola 29
VITICULTURA
Cultivo protegido de uva aumenta
produtividade em 100% 35
SILAGEMÉ tempo de pensar na silagem 44
COOPERATIVISMOExportações das cooperativas crescem
34,6% entre janeiro e outubro 46
DESENVOLVIMENTO
AGRÍCOLAAs Câmaras Setoriais e Temáticas
do Ministério da Agricultura 54
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4 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
DIRETORIA EXECUT IVA
ANTONIO MELLO ALVARENGA NETO PRESIDENTE
ALMIRANTE IBSEN DE GUSMÃO CÂMARA 1O VICE-PRESIDENTE
OSANÁ SÓCRATES DE ARAÚJO ALMEIDA 2O VICE-PRESIDENTE
JOEL NAEGELE 3O VICE-PRESIDENTE
TITO BRUNO BANDEIRA RYFF 4O VICE-PRESIDENTE
FRANCISCO JOSÉ VILELA SANTOS DIRETOR
HÉLIO MEIRELLES CARDOSO DIRETOR
JOSÉ CARLOS AZEVEDO DE MENEZES DIRETOR
LUIZ MARCUS SUPLICY HAFERS DIRETOR
RONALDO DE ALBUQUERQUE DIRETOR
SÉRGIO GOMES MALTA DIRETOR
SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA · Fundada em 16 de janeiro de 1897 · Reconhecida de Utilidade Pública pela Lei nº 3.459 de 16/10/1918Av. General Justo, 171 - 7º andar · Tel. (21) 3231-6350 · Fax: (21) 2240-4189 · Caixa Postal 1245 · CEP 20021-130 · Rio de Janeiro - Brasil e-mail:sna@sna.agr.br · http://www.sna.agr.brESCOLA WENCESLÁO BELLO / FAGRAM · Av. Brasil, 9727 - Penha CEP: 21030-000 - Rio de Janeiro / RJ · Tel. (21) 3977-9979
Academia Nacional
de Agricultura CADEIRA
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TITULAR
ROBERTO FERREIRA DA SILVA PINTO
JAIME ROTSTEIN
EDUARDO EUGÊNIO GOUVÊA VIEIRA
FRANCELINO PEREIRA
LUIZ MARCUS SUPLICY HAFERS
RONALDO DE ALBUQUERQUE
TITO BRUNO BANDEIRA RYFF
FLÁVIO MIRAGAIA PERRI
JOEL NAEGELE
MARCUS VINÍCIUS PRATINI DE MORAES
ROBERTO PAULO CÉZAR DE ANDRADE
RUBENS RICUPERO
PIERRE LANDOLT
ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
ISRAEL KLABIN
SYLVIA WACHSNER
ANTONIO DELFIM NETTO
ROBERTO PARAÍSO ROCHA
JOÃO CARLOS FAVERET PORTO
ANTONIO CABRERA MANO FILHO
JÓRIO DAUSTER
ANTONIO CARREIRA
ANTONIO MELLO ALVARENGA NETO
IBSEN DE GUSMÃO CÂMARA
JOHN R I CHARD LEWIS THOMPSON
JOSÉ CARLOS AZEVEDO DE MENEZES
AFONSO ARINOS DE MELLO FRANCO
ROBERTO RODRIGUES
JOÃO CARLOS DE SOUZA MEIRELLES
FÁBIO DE SALLES MEIRELLES
LEOPOLDO GARCIA BRANDÃO
ALYSSON PAOLINELLI
OSANÁ SÓCRATES DE ARAÚJO ALMEIDA
DENISE FROSSARD
EDMUNDO BARBOSA DA SILVA
ERLING S. LORENTZEN
PATRONO
ENNES DE SOUZA
MOURA BRASIL
CAMPOS DA PAZ
BARÃO DE CAPANEMA
ANTONINO FIALHO
WENCESLÁO BELLO
SYLVIO RANGEL
PACHECO LEÃO
LAURO MULLER
MIGUEL CALMON
LYRA CASTRO
AUGUSTO RAMOS
SIMÕES LOPES
EDUARDO COTRIM
PEDRO OSÓRIO
TRAJANO DE MEDEIROS
PAULINO FERNANDES
FERNANDO COSTA
SÉRGIO DE CARVALHO
GUSTAVO DUTRA
JOSÉ AUGUSTO TRINDADE
IGNÁCIO TOSTA
JOSÉ SATURNINO BRITO
JOSÉ BONIFÁCIO
LUIZ DE QUEIROZ
CARLOS MOREIRA
ALBERTO SAMPAIO
EPAMINONDAS DE SOUZA
ALBERTO TORRES
CARLOS PEREIRA DE SÁ FORTES
THEODORO PECKOLT
RICARDO DE CARVALHO
BARBOSA RODRIGUES
GONZAGA DE CAMPOS
AMÉRICO BRAGA
NAVARRO DE ANDRADE
MELLO LEITÃO
ARISTIDES CAIRE
VITAL BRASIL
GETÚLIO VARGAS
EDGARD TEIXEIRA LEITE
FUNDADOR E PATRONO : OCTAVIO MELLO ALVARENGA
DIRETORIA TÉCNICA
ALBERTO WERNECK DE FIGUEIREDO
ANTONIO FREITAS
CLAUDIO CAIADO
JOHN RICHARD LEWIS THOMPSON
FERNANDO PIMENTEL
JAIME ROTSTEIN
JOSÉ MILTON DALLARI
KATIA AGUIAR
MARCIO SETTE FORTES DE ALMEIDA
MARIA HELENA FURTADO
MAURO REZENDE LOPES
PAULO PROTÁSIO
ROBERTO FERREIRA S. PINTO
RONY RODRIGUES OLIVEIRA
RUY BARRETO FILHO
COMISSÃO F ISCAL
CLAUDINE BICHARA DE OLIVEIRA
MARIA CECÍLIA LADEIRA DE ALMEIDA
PLÁCIDO MARCHON LEÃO
ROBERTO PARAÍSO ROCHA
RUI OTAVIO ANDRADE
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A Lavoura DEZEMBRO/2011 5
SSSSSNANANANANACarta daCarta daCarta daCarta daCarta da
Antonio Mello Alvarenga Neto
NN
Segurança alimentar para 9 bilhões de bocas
população mundial atingiu, no início de no-
vembro, sete bilhões de pessoas. Até 2050,
a ONU estima que chegaremos a nove bi-
lhões de habitantes. São 213 mil novas bo-
cas por dia, ou 78 milhões por ano.
O maior desafio a ser enfrentado nas próximas
décadas será equacionar a oferta de alimentos para
os novos habitantes do planeta. Não é tarefa fácil,
principalmente se levarmos em conta que temos atu-
almente cerca de um bilhão de pessoas subnutridas.
Caberá ao Brasil desempenhar importante papel
na solução dessa equação, que envolve segurança ali-
mentar e sustentabilidade. Principalmente nos pró-
ximos 20 ou 30 anos, enquanto novas áreas de pro-
dução no mundo não venham a ser desenvolvidas.
Além de produzir alimentos em quantidade, qua-
lidade e preço para a sua população, o Brasil precisa-
rá responder, cada vez mais, ao desafio de suprir
as necessidades de alimentação do mundo. Isso sem
falar na produção de energia verde.
Para atender a essa demanda, a expansão virá
com o aumento da produtividade de nossas pasta-
gens e com a incorporação, ao processo produtivo,
de novas áreas no cerrado. É inevitável.
O Brasil tem conseguido aproveitar suas vanta-
gens comparativas para tornar-se referência no agro-
negócio global. Temos terra, água, clima, tecnolo-
gia e mão-de-obra qualificada para satisfazer a cres-
cente demanda global por produtos de origem agro-
pecuária.
Há tempos estamos aumentando nossa produção
a taxas maiores do que aquelas alcançadas em ou-
tras regiões do planeta. Com isso, vamos consolidan-
do nossa posição de grande player nos mercados do
agronegócio mundial.
Somos o maior produtor de café, cana-de-açú-
car e laranja do mundo; o segundo maior produtor
de soja e o maior exportador mundial de carnes. Em
pouco tempo, seremos o principal polo mundial de
algodão e de biocombustíveis e um dos principais for-
necedores de madeira, papel e celulose.
As exportações da agropecuária brasileira atin-
giram a cifra recorde de US$ 92 bilhões no período
de 12 meses, entre novembro de 2010 e outubro de
2011. O valor representa uma expansão de 25% em
relação ao mesmo período do ano anterior.
Considerando que as importações do setor alcan-
çaram o montante de US$ 16,8 bilhões no mesmo pe-
ríodo, o superávit da balança comercial do agrone-
gócio alcançou a extraordinária cifra de US$ 75 bi-
lhões!
É difícil imaginar o que seria da economia brasi-
leira se não fosse esse vigoroso sucesso de nosso agro-
negócio.
Há muitos interessados em investir no desenvol-
vimento do setor. No entanto, precisamos supe-
rar alguns obstáculos. O primeiro deles é propor-
cionar mais segurança aos investidores, resolven-
do a questão do novo Código Florestal e a legisla-
ção sobre a venda de terras para estrangeiros.
Outro problema é a precariedade de nossa in-
fraestrutura de transporte, armazenagem e logís-
tica de exportação. Somos muito eficientes “da
porteira para dentro”, mas nossa infraestrutura não
acompanhou o crescimento do agronegócio, afe-
tando duramente a competitividade dos produtos
brasileiros no exterior, e reduzindo a renda dos pro-
dutores. Para se ter uma ideia, o custo do frete
no Brasil chega a ser quatro vezes maior que em
outros países exportadores do agribusiness, como
é o caso dos EUA e da Argentina.
As oportunidades são claras e devemos
aproveitá-las. Somos uma nação que precisa cres-
cer, proporcionar emprego e boas condições de
vida aos brasileiros. Não podemos impedir o pro-
gresso de nosso agronegócio. O Brasil precisa
produzir alimentos e energia renovável para os
novos habitantes do planeta. Uma questão de
segurança alimentar e sustentabilidade.
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6 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
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Até 2050, a população mundial será de nove
bilhões de habitantes, segundo estimativas da ONU.
Organismos internacionais apontam que há cerca
de um bilhão de pessoas mal alimentadas no mun-
do. Com o objetivo de debater os desafios que o
planeta terá de enfrentar na produção de alimen-
tos, nos próximos anos, bem como o papel do Bra-
sil na solução deste problema, a Sociedade Nacio-
nal de Agricultura, para comemorar a Semana
Mundial da Alimentação, promoveu, em seu audi-
tório, no dia 19 de outubro, uma reunião com
membros da diretoria e da Academia Nacional de
Durante evento,
instituição assina acordo
com a Organização das
Cooperativas Brasileiras
lação, vem se tornando responsável por garantir boa parte das ne-
cessidades de alimentação do mundo”.
Segundo o presidente da SNA, o Brasil vem respondendo bem
a este desafio, aumentando sua produção a taxas maiores do que
os índices de crescimento em outras regiões do planeta. “O país
está ganhando participação cada vez maior no mercado interna-
cional, consolidando-se como um grande player do agronegócio
mundial”, salientou, acrescentando que, mesmo com um cená-
rio positivo, “é necessário melhorar a pauta exportadora, com o
incremento de produtos de melhor valor agregado”.
Em seguida, o diretor da SNA, Fernando Pimentel, disse que,
apesar do bom momento pelo o qual o agronegócio vem passando, o
setor não está imune à crise internacional. Na ocasião, traçou um
painel geral do Brasil no contexto geoeconômico que, para ele,
apresenta estabilidade, ao lado de países como China e Austrália.
SNA comemora a Semana
Mundial da Alimentação
SNA comemora a Semana
Mundial da Alimentação
Agricultura. O encontro contou ainda com a participação de au-
toridades representativas do setor agrícola.
Na abertura do evento, o presidente da SNA, Antonio Alvarenga,
saudou os presentes e falou sobre a importância de promover um
debate de qualidade, reunindo personalidades de vários segmentos
do agronegócio. Citando números da FAO - que prevê, até 2050, a
necessidade do mundo em aumentar a produção de grãos em cerca
de 50%, e de carnes, em quase 100% -, Alvarenga abordou a questão
de futuras demandas globais.
“Nos próximos anos, a crise de alimentos estará cada vez mais
presente nos fóruns internacionais e em nosso dia-a-dia. A preocu-
pação mundial se voltará com grande intensidade para a segurança
alimentar. E o Brasil deverá desempenhar um papel cada vez mais
importante nesse sentido. Além de produzir alimentos em quantida-
de, qualidade e preço para atender às necessidades de sua popu-
Fábio Meirelles, presidente da Federação de
Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), afirmou
que as lideranças do campo devem se empenhar
para defender o produtor, a cultura agrícola e a
sociedade brasileira. “É necessário estabelecer uma
política de defesa da nossa economia, dentro da
realidade nacional”.
Cooperativismo
O movimento cooperativista ganhou destaque
durante o encontro, que foi finalizado com a assi-
natura de um convênio entre a SNA e a Organiza-
ção das Cooperativas Brasileiras (OCB), para promo-
ver ações de ensino e capacitação, bem como pro-
jetos de sustentabilidade e segurança alimentar. Es-
tiveram presentes à ocasião Márcio Lopes de
Freitas, presidente da OCB-Nacional, Marcos Diaz,
presidente da OCB-RJ, Jorge Barros, superintenden-
te técnico do Sescoop-RJ, e Renato Nobile, supe-
rintendente da OCB-Brasília.
O vice-presidente da SNA, Joel Naegele, consi-
derou o acordo histórico. “O documento garante
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Fábio de Salles Meireles (presidente da FAESP); Antonio Alvarenga (presidente da
Sociedade Nacional de Agricultura), e o vice-presidente da SNA, Osaná de Araújo Almeida
Marcos Diaz (presidente da OCB-RJ), Márcio Lopes de Freitas (presidente da
OCB-Nacional) e Antonio Alvarenga (presidente da SNA)
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A Lavoura DEZEMBRO/2011 7
a permanência das práticas cooperativistas,
para que os produtores tenham maior assis-
tência e ganhos”.
Márcio Lopes de Freitas informou que,
atualmente, o país conta com 1612 coopera-
tivas, respondendo por 44% da produção bra-
sileira. “Cooperativa é negócio, é estruturada
para ganhar dinheiro”, afirmou, sugerindo,
como estratégias para o setor, maior
interatividade entre cooperativas e empresas,
e a formação de uma sociedade anônima para
captar recursos do exterior.
Ao anunciar a estruturação de um gran-
de centro de formação cooperativista em São
Paulo, Freitas declarou que “as cooperativas
devem ter um compromisso maior nas comu-
nidades em que estão presentes”.
Cesário Ramalho, presidente da Socieda-
de Rural Brasileira, destacou o papel da SRB
setor “é uma espécie de rede onde pequenos, médios e grandes
produtores dependem um do outro e das comunidades que utili-
zam os produtos”. “Nesse âmbito”, disse a coordenadora, “é im-
portante saber o que o consumidor deseja”. Sylvia observou ainda
a falta de marcas genuinamente brasileiras no agronegócio, em com-
paração às multinacionais.
Também presente ao encontro, o diretor da SNA, Márcio
Sette Fortes de Almeida, argumentou que “o produto rural é
competitivo até a porteira da fazenda, mas vai perdendo com-
petitividade quando chega ao consumidor final”. O diretor atri-
bui este problema a falhas de infraestrutura, incluindo fatores
como transporte e armazenamento (neste caso, a carência de
silos). De acordo com Márcio Fortes, “30% da safra se perde no
próprio trajeto”. Segundo ele, “falta investimento e diálogo”
para resolver esses gargalos.
Ao introduzir no debate a questão ambiental, o vice-presiden-
te da SNA, almirante Ibsen de Gusmão Câmara, reconheceu que
há dificuldades em conciliar a produção de alimentos com a rea-
lidade das mudanças climáticas. “O clima onde as regiões são frias
será atenuado, mas nas regiões temperadas e tropicais, será mais
quente. O panorama agrícola será totalmente modificado. Portan-
to, as próximas décadas serão cruciais para a preservação da hu-
manidade”.
Ao final da reunião, o diretor da SNA, Alberto de Figueiredo,
apresentou aos representantes da OCB um programa destinado à
melhoria da pecuária leiteira no Estado do Rio
DA
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neste setor. “Temos um relacionamento profundo com várias asso-
ciações rurais. O agricultor deve ter a capacidade de gerir seu
negócio, com o apoio das cooperativas”, declarou, ressaltando a
luta da SRB por uma renda e apoio maior ao homem do campo.
Produção e consumo
Para falar sobre a produção cafeeira, Ruy Barreto Filho, dire-
tor da SNA, denunciou o abandono do setor nos últimos 25 anos,
lembrando a extinção, pelo governo, do Instituto Brasileiro do Café
(IBC). O diretor também chamou a atenção para a falta de políticas
de exportação. “Não exportamos café solúvel e, ao mesmo tem-
po, somos importadores de café brasileiro industrializado. Nossa
política vesga beneficia o produtor e prejudica a exportação com
valor agregado”, alertou.
Já na visão de Ruy Barreto, “o café não é um produto primário
e tornou o Brasil um dos maiores países do mundo”. Ampliando o
debate, o produtor frisou que “o mundo tem, atualmente, uma
enorme responsabilidade para alimentar sete bilhões de pessoas”.
Representando a Embrapa, Regina Lago, chefe da área de ali-
mentos da instituição, abordou as oscilações nos preços de mer-
cado, chamou a atenção para o aumento do valor da cesta básica,
e falou sobre a importância da produção alimentar. “Atualmente,
não basta produzir o alimento; é preciso que haja qualidade e se-
gurança”, declarou, citando a atuação da Embrapa nas áreas de
nutrição, biotecnologia e saúde.
Com o foco voltado para a cadeia do agronegócio, a coorde-
nadora do Projeto OrganicsNet, Sylvia Wachsner, ressaltou que o
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Joel Naegele (vice-presidente da SNA), Márcio Lopes de Freitas (presidente da OCB-Nacional), Antonio Alvarenga (pres. SNA),
Marcos Diaz (presidente da OCB-RJ), Cesário Ramalho (presidente da SRB), Renato Nobile (superintendente da OCB-Brasília) e
Jorge Barros (superintendente do Sescoop-RJ) comemoram a parceria SNA/OCB
O empresário e produtor rural Ruy Barreto e o presidente da FAESP, Fábio de Salles
Meireles, durante almoço comemorativo, ao lado da diretoria da SNA: Antonio
Alvarenga (presidente), almirante Ibsen de Gusmão Câmara (vice-presidente), Ronaldo
de Albuquerque (diretor) e Roberto Paraíso Rocha (membro da Comissão Fiscal)
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8 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
A Sociedade Nacional de Agricultura promo-
veu, no dia 6 de outubro, a festa de lan-
çamento de sua nova publicação, Animal
Business Brasil.
Participaram do evento, no auditório da
SNA, mais de 80 pessoas, entre membros da
diretoria, lideranças empresariais, autoridades
e representantes do setor agropecuário.
Na ocasião, o presidente da Sociedade Na-
cional de Agricultura, Antonio Alvarenga, dis-
se que, apesar da notável liderança do Brasil
como maior exportador de carne bovina e de
frango do mundo, é preciso avançar mais em
termos de produtividade. “Nos últimos anos ti-
vemos grandes progressos nos setores de grãos
e cana de açúcar. Agora é preciso cuidar do au-
mento da produtividade de nossa pecuária”.
Alvarenga ressaltou ainda a importância da
tecnologia para o desenvolvimento da pecuá-
ria - aspecto que constitui um dos principais
focos da nova revista da SNA, também volta-
da para a ampliação da inserção internacional
das cadeias produtivas do segmento animal.
Ao abordar os propósitos da publicação,
seu editor, Luiz Octavio Pires Leal, informou
que a Animal Business Brasil é uma revista de
negócios, direcionada a atrair investimentos
para o setor. “Divulgar internamente e no ex-
terior as tecnologias avançadas e as oportuni-
dades de investimentos constituem também
objetivos da nova publicação, e para isso con-
tamos com a colaboração de especialistas”.
O diretor da SNA, Márcio Sette Fortes de
Almeida, que assina um artigo no primeiro nú-
mero da revista, destacou que a publicação é
voltada para o produtor que pretende adotar
novas tecnologias, e elogiou os esforços do em-
presariado e do governo brasileiro para incre-
mentar a qualidade dos produtos de origem
animal.
Especializada em tecnologia da criação, re-
produção, industrialização e comercialização de
animais, a revista Animal Business Brasil, em seu
número de estreia, publica matérias sobre re-
produção high tech, avicultura brasileira, mer-
cado de saúde animal, comércio internacional
de cavalos, exportação de carne, entre outros.
Com 72 páginas em cores, periodicidade
bimestral e forte distribuição no Brasil e no ex-
terior, a publicação bilíngue (português e in-
glês) tem por objetivo estimular as exportações
e os investimentos em tecnologia no segmen-
to animal do agronegócio brasileiro.
Durante o coquetel de lançamento da re-
vista, o público assistiu a uma apresentação do
pianista Osmar Milito e da cantora Sanny Alves,
que mostraram clássicos da música brasileira.
Sociedade Nacional de Agricultura
lança nova publicação
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Embaixador Flávio Perri, Antonio Alvarenga (presidente da SNA), Roberto Paulo Cézar de
Andrade, membro da Academia Nacional de Agricultura, e o ex-deputado Márcio Fortes
Cristina Baran, editora da revista A Lavoura; Márcio Sette Fortes de Almeida, diretor da
SNA; e os representantes da Animal Business Brasil: Marcelo Thadeu Rodrigues
(diagramador) e Luiz Octavio Pires Leal (editor)
Antônio Carlos de Andrade (economista); Antonio Alvarenga (presidente da SNA), e
os diretores Francisco Vilela e Sérgio Malta
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A Lavoura DEZEMBRO/2011 9
O projeto OrganicsNet, da Sociedade Nacional de Agri-
cultura, participou do 3º Workshop de Cooperação Inter-
nacional - Gestão & Inovação na Panificação, realizado em
outubro, na Federação das Indústrias do Estado Mato Grosso
do Sul.
O evento mostrou aos empresários do setor de panifica-
ção do estado as novas práticas de gestão, além das tecno-
logias e inovações que visam à melhoria do processo produ-
tivo, com o incremento da qualidade.
Na ocasião, a coordenadora do projeto OrganicsNet,
Sylvia Wachsner, apresentou o case da primeira padaria
orgânica do Brasil, a Molino D´Oro, localizada em Itaipava
- região de Petrópolis (RJ). O estabelecimento, que per-
tence ao Sítio do Moinho, utiliza fermento natural sem co-
adjuvantes no processo produtivo, e desenvolve conheci-
mento e técnica próprios para garantir a qualidade e a ras-
treabilidade de seus produtos, fabricados com matéria pri-
ma italiana.
Dias antes de sua palestra, Sylvia fez uma visita a Itaipava
e teve a oportunidade de conversar com os técnicos respon-
sáveis pela Molino D‘Oro e acompanhar todas as etapas da
produção de pães.
OrganicsNet debate orgânicos na panificação
A Faculdade de Ciências Agro-ambi-
entais (FAGRAM) realizou, no último dia
20 de outubro, no auditório da SNA, a
cerimônia de formatura de sua última
turma de Zootecnia. Após quinze anos
de funcionamento, a FAGRAM encerrou
suas atividades no campus da Penha.
O presidente da SNA, Antonio Al-
varenga, lamentou o término do cur-
so “por falta de demanda no Rio de
Janeiro” e ressaltou a importância da
Zootecnia na segurança alimentar de
futuras gerações.
“Até 2050, teremos dois bilhões de
pessoas a mais no mundo para alimen-
tar, e a Zootecnia é a área que cuida
da produção de alimentos de origem
animal com qualidade e respeito ao
meio ambiente e ao homem. O mundo
espera que Brasil consiga aumentar sua
produção para suprir esta demanda,
pois ainda podemos crescer em eficiên-
cia e em área, de forma sustentável e
responsável” – declarou Alvarenga.
A coordenadora do curso de
Fagram forma sua última turma de Zootecnia
Zootecnia, Christianne Perali, lembrou a história da FAGRAM e chamou a atenção para os deveres a atitudes dos novos
profissionais. “Apesar de ser a última turma, a responsabilidade de cada um dos zootecnistas formados nesta data e nas
turmas anteriores está centrada na produção com ética e responsabilidade ambiental e social”. A professora recomendou
aos formados que se dediquem constantemente ao aprimoramento profissional e trabalhem com afinco para atingir seu
sucesso.
Os demais professores agradeceram ao período de convivência com os alunos e as experiências trocadas em sala de
aula, e manifestaram pesar pelo fim do curso.
Colaram grau, durante a cerimônia, os alunos Leonardo Gonçalves, Flávio Bindi, Amanda Arêa, Ildecir Sias, Ellen Simas,
Gustavo Mattozinhos da Rosa, Eruana Santos, Marcos Nalin, Marcos Provetti e Mário Tremura.
Estiveram presentes à mesa o professor Olavo David Filho, Christianne Perali, Antonio Alvarenga, Dione Firmino (paraninfa),
professor Markus Budjinsky e Marcos Aronovich.
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Formandos posam para a foto clássica
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10 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
A safra de trigo em 2011, em áreas
irrigadas com pivô central, no Distrito
Federal, Minas Gerais e em Goiás acom-
panhou a redução de produtividade
verificada em todo o país. Em compa-
ração à safra anterior, a produtividade
foi 10% inferior, embora algumas lavou-
ras tenham alcançado em torno de 115
sacos por hectare com a cultivar BRS
264, quando a média foi de 90 sacos por
hectare. Levantamento da Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab) in-
dica que a produção nacional deverá ser
de 5.129,9 mil toneladas, 12,8% menor
do que a colhida em 2010.
A área total cultivada com trigo ir-
rigado no Distrito Federal, Minas Gerais
e em Goiás também teve uma redução
neste ano. Em relação a 2010, a cultu-
ra foi plantada em menos 20% das áre-
as. As condições climáticas favorece-
ram o bom desenvolvimento das plan-
tas de trigo na região do Brasil Central.
“A maioria das lavouras foi colhida no
período seco, sem a ocorrência de chu-
vas, o que favoreceu a qualidade dos
grãos e, consequentemente, favoreceu
a comercialização. Os produtores estão
vendendo a sua produção entre R$
37,00 e R$ 42,00 por saco de 60 kg”,
explica o pesquisador da Embrapa Cer-
rados Júlio Cesar Albrecht.
As cultivares BRS 264 e BRS 254 são
indicadas para região do Cerrado do
Brasil Central, que compreende os es-
tados de Minas Gerais, Goiás, Mato
Grosso, Bahia e o Distrito Federal. Atu-
almente, 90% da área plantada com
trigo irrigado nessa região utiliza as
variedades lançadas pela Embrapa.
As unidades da Empresa Brasilei-
ra de Pesquisa Agropecuária - Embra-
pa Cerrados e Embrapa Trigo são as
responsáveis pelo desenvolvimento do
programa de melhoramento do trigo.
Somado à boa produtividade, o tri-
go produzido na região é todo de alta
qualidade, comparável ao das melho-
res regiões produtoras do mundo, como
o Canadá. Todas as variedades planta-
das no Cerrado são de trigo pão e
melhorador, conforme a demanda da
indústria moageira. “No Brasil, o trigo
de melhor qualidade industrial é o do
Cerrado, em função de sua alta força
de glúten e estabilidade”, acrescenta
o pesquisador.
Menos perdas
O ataque de pragas e doenças não
foi significativo nesta safra, o que con-
tribuiu para a produtividade e a quali-
dade do trigo nessa região. Dessa for-
ma, muitos produtores conseguiram
chegar até o final do ciclo com apenas
duas aplicações de fungicidas e duas de
inseticida, o que baixou os custos das
lavouras.
A brusone continua sendo a doença
que mais causa prejuízos na triticultura
do Cerrado. Segundo o pesquisador da
Embrapa Cerrados, no caso do plantio
do trigo irrigado, a doença se agrava
com a ocorrência de chuvas no estágio
de espigamento. Isso diminui conside-
ravelmente a produtividade da lavou-
ra e a qualidade de grãos. Os grãos
infectados apresentam-se enrugados,
pequenos, deformados e com baixo
peso específico. Para as lavouras per-
manecerem livres desta doença, os tra-
tamentos com fungicidas, indicados
pela pesquisa, devem ser preventivos.
A Embrapa possui projetos em an-
damento que visam identificar fontes
de resistência à brusone, mas ainda não
foram desenvolvidas cultivares resis-
tentes ao fungo Pyricularia grisea, cau-
sador da doença. Experimentos em
rede estão sendo desenvolvidos em
Planaltina-DF, Dourados-MS e Londrina-
PR. Nos campos experimentais da
Embrapa Cerrados, em Planaltina-DF,
estão sendo testados vários genótipos
anualmente. O objetivo é selecionar
materiais que apresentem baixo nível
de incidência da doença.LILIANE CASTELÕES - EMBRAPA CERRADOS
Safra de trigo em 2011 é menor,mas com excelente qualidade
Safra de trigo em 2011 é menor,mas com excelente qualidade
Safra de trigo em 2011 é menor,mas com excelente qualidade
EM
BRA
PA
TRIG
O
!ALAV687-10-13-Panorama.pmd 4/11/2011, 09:3010
A Lavoura DEZEMBRO/2011 11
A Pesagro-Rio dá mais um passo para o domínio da tecnologia de
produção de embriões in vitro de bovinos de leite.
Nasceram entre os dias 21 e 24 de junho passado, as três primei-
ras bezerras desenvolvidas a partir de embriões produzidos integral-
Bezerros de laboratório
PESA
GRO
-RIO
Bezerras produzidas
“in vitro” pela
Pesagro-Rio
Bois confinados em Minas
produzem 80 mil ton de carne
Rebanho mantido nos currais
e piquetes aumentou 20%
Iniciado o período das águas, os
pecuaristas de Minas Gerais que mantiveram
bois em confinamento durante a seca de
2011 estão levando o gado gordo para os
abatedouros. Neste ano, cerca de 400 mil
animais (volume 20% superior ao de 2010)
ficaram nos currais ou piquetes durante um
período de até três meses para cada lote,
recebendo alimento e água, informa a
Emater-MG, vinculada à Secretaria de Agri-
cultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).
“Os animais de confinamento ofere-
cem carne em quantidade e com a quali-
dade exigida pelos frigoríficos e os consu-
midores, um produto muito valorizado”,
diz o coordenador estadual de
Bovinocultura da Emater, José Alberto de
Ávila Pires.
Ele estima que pelo menos 90% dos bois
confinados em Minas neste ano já foram ofe-
recidos no mercado. Segundo o balanço re-
alizado pela Emater, o volume total de ani-
mais preparado à base de ração deve possi-
bilitar o aproveitamento de 80 mil tonela-
das de carne. Este volume é suficiente para
o abastecimento de 6,7 milhões de pessoas
em quatro meses, consumindo cada uma a
média de 12 quilos.
O agrônomo Renato de Assis Porto de
Melo, assessor técnico do programa Minas
Carne, criado pela Secretaria da Agricultura,
também ressalta a importância do
confinamento de bovinos e diz que os produ-
tores estão aderindo ao sistema com
profissionalismo. “Eles fazem altos investi-
mentos principalmente na compra de ração
para os animais confinados e, por isso, sem-
pre têm a expectativa de obter uma remu-
neração melhor ao vender esse gado do que
obteriam com a comercialização de animais
engordados no pasto”, explica.
A arroba do boi, comercializada atual-
mente em Minas Gerais por cerca de R$ 100,
tem apresentado cotações
crescentes desde janeiro.
Segundo análise da
Subsecretaria do Agronegó-
cio da Secretaria da
Agricultura, no período de
janeiro a outubro de 2011,
o preço médio subiu
19,92%. Há sinais de que a
tendência de alta seguirá
até janeiro/fevereiro.
De agora em diante,
acrescenta o assessor da se-
va que vem aprimorando o confinamento
desde 1979, quando adotou essa alterna-
tiva de manejo do gado utilizando ape-
nas cem bois. No ano seguinte engordou
mil animais e depois continuou expandin-
do a produção.
Para 2012, Queiroz confirma que vai tra-
balhar com 40 mil bois, pois em sua opinião
a engorda de um grande volume de animais
possibilita renda ao produtor inclusive nos
períodos de baixa cotação da carne. “Prin-
cipalmente quando se pode contar com uma
boa safra de milho no dstado, como a esti-
mada para 2012, e a possibilidade de pro-
duzir na propriedade uma parte dos compo-
nentes da ração”, finaliza.
Cenário do boi
Dados da Emater mostram que, em Mi-
nas Gerais, um grupo de 63 produtores tra-
balha com plantéis confinados de mil a cin-
co mil cabeças, respondendo por 56,5% dos
animais dentro do sistema. Para completar
a oferta da carne confinada no Estado, há
um contingente de 658 pecuaristas que tra-
balham na faixa inferior a 150 e até mil bois.
De acordo com Ávila Pires, a presença des-
se número de pequenos produtores é um
bom suporte à atividade, que garante o abas-
tecimento do mercado interno em extenso
período, possibilitando a oferta de carne
bovina de qualidade a preços estáveis.
IVANI CUNHA - SECRETARIA DE ESTADO DE AGRICULTURA,
PECUÁRIA E ABASTECIMENTO
cretaria, a procura pela carne deve aumen-
tar, sendo a oferta quase exclusivamente do
produto de confinamentos. Começa um novo
ciclo de engorda de animais centralizado nos
pastos que já apresentam sinais de recupe-
ração.
Números positivos
Considerado um dos pioneiros do
confinamento de bois no Brasil, o pecuarista
Adalberto José de Queiroz, do município de
Frutal (Triângulo Mineiro), manteve em cur-
rais, desde março, um total de 12 mil bois e
ainda conta com 25% desse plantel. Para o
produtor, os resultados deste ano foram po-
sitivos porque ele conseguiu fechar bons
contratos de venda a termo, isto é, comer-
cialização dos animais à base de acertos que
independem dos preços praticados geral-
mente pelo mercado. Predominam nas ne-
gociações as condições dos animais ofereci-
dos, o cumprimento de prazos e outros as-
pectos. “Estamos entregando boi por R$
98,50 a arroba e um mês atrás vendíamos
por um preço acima da cotação atual do
mercado”, enfatiza.
Queiroz ressalta que o confinamento
é uma prática rentável sobretudo para os
produtores que cuidam bem da gestão do
negócio. “É necessário aproveitar bem as
oportunidades para vender o boi gordo e
também para comprar os bezerros que
iniciarão um novo ciclo nos currais ou pi-
quetes”, esclarece. O pecuarista obser-
Confinamento é rentável para produtores que cuidam bem
da gestão do negócio
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A Lavoura DEZEMBRO/2011 11
mente no Laboratório de Reprodução Animal do Campo Experimen-
tal Santa Mônica, em Valença-RJ, mais um fruto da parceria entre
a Pesagro-Rio e a Embrapa Gado de Leite. O resultado foi come-
morado pelo presidente da Pesagro, Sílvio Galvão, que destacou a
parceria estratégica, a dedicação e o profissionalismo das equipes
e dos pesquisadores responsáveis pelo trabalho.
De acordo com a pesquisadora Raquel Varella Serapião, da
Pesagro-Rio, os embriões foram produzidos a partir de óvulos
coletados de vacas doadoras de alto valor genético da raça Gir e
fecundados com sêmen de touro Holandês, sendo então transferi-
dos para vacas receptoras (barrigas de aluguel) do rebanho do
Campo Experimental, sendo todas as etapas executadas pela equipe
da empresa.
A técnica vem sendo utilizada para a produção de matrizes que
resultem em animais de alta qualidade genética, permitindo a
melhoria do rebanho fluminense e o aumento da produtividade do
leite, informou o pesquisador da Pesagro Agostino Jorge dos Reis
Camargo, que integra a equipe do projeto.
!ALAV687-10-13-Panorama.pmd 4/11/2011, 09:3011
12 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
Pesquisa avalia
transferência de renda
do agronegócio para
outros setores da
economia
O agronegócio brasileiro, nos últimos 15 anos, aumentou
sua produção e cresceu mais do que o PIB do País, permi-
tindo que se expandissem o consumo interno e a exportação de
seus produtos. Analisando esse contexto, uma pesquisa desen-
volvida no programa de Pós-graduação em Economia Aplicada,
da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP),
observou o papel do agronegócio no processo de transferência
de renda para os demais setores da economia doméstica e tam-
bém para o mercado externo.
De autoria de Adriana Ferreira Silva e orientação do pro-
fessor Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, do Departamento
de Economia, Administração e Sociologia (LES), o estudo
intitulado “Transferências Interna e Externa de Renda do Agro-
negócio Brasileiro” apontou que a redução da concentração
de renda e da pobreza no Brasil também teve suas raízes no
agronegócio. “Ao assumir posição estratégica para o contro-
le da inflação e geração de divisas no comércio exterior, esse
setor teve participação relevante nesta trajetória”, explica
Adriana.
Setor pecuarista
Segundo a pesquisadora, devido à queda de preços dos pro-
dutos agropecuários, a sociedade absorveu, entre os anos de
1995 a 2009, uma renda de R$ 837 bilhões do agronegócio, prin-
cipalmente do setor pecuarista, e dos segmento primário e in-
ESA
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/U
SP
Safra estadual deve alcançar volume
5,3% superior ao do ano passado
Apesar das importações crescentes de alho pelo Brasil –
entre janeiro e agosto de 2011 entraram no país 109,9 mil
toneladas do produto argentino e chinês –, os agricultores
mineiros investem no aumento da safra. O IBGE estima que a
produção de alho em Minas Gerais neste ano vai alcançar 19,7
mil toneladas, volume 5,3% maior que o registrado no ano
passado.
A colheita mineira prevista para este ano equivale a
16,6% da safra nacional, garantindo a vice-liderança do
ranking brasileiro do alho, atrás apenas de Goiás. Para o su-
perintendente de Política e Economia Agrícola da
Subsecretaria do Agronegócio da Secretaria da Agricultura
de Minas Gerais, João Ricardo Albanez, o aumento da safra
estadual é consequência principalmente da intensa utiliza-
ção de tecnologia nas lavouras. “Por isso, a produtividade
média de alho no Estado é de 12,1 toneladas de alho por
hectare. Há dez anos, a produtividade era de 8,1 toneladas
por hectare”, explica Albanez.
Primeiro colocado na produção estadual de alho, o Alto
Paranaíba tem uma safra estimada de 13,8 mil toneladas, volu-
me correspondente a cerca de 70% da safra estadual. Albanez
avalia que o plantio, principalmente na região líder de produção,
foi estimulado em 2011 pela recuperação de preço registrada em
2010, como consequência de uma redução temporária das im-
portações de alho chinês.
Qualidade reconhecida
O agricultor familiar Oswaldo Júnior, que mantém o cultivo
de alho em 18 hectares no município de São Gotardo, no Alto
Paranaíba, diz que o produtor deve sempre investir na qualida-
de, independente da importação. “É necessário produzir sem-
pre o nosso alho com qualidade, exista ou não a importação. Além
disso, o volume das compras externas do produto pelo Brasil pode
cair, e nesse caso os preços internos serão mais compensadores.”
Oswaldo concorda que o alho nacional, especialmente o co-
lhido nas lavouras mineiras, tem a preferência dos consumidores
que valorizam a qualidade. A observação é compartilhada pelo
extensionista Dener Henrique de Castro, que atua no município.
CRIS
TIN
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Setor pecuarista: queda de preços devido ao aumento da produção
Alho: colheita mineira equivale a 16,6% da safra nacional, ficando
atrás apenas de Goiás
12 DEZEMBRO/2011 A Lavoura12 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
Alho: Minas aposta na qualidade para concorrer
!ALAV687-10-13-Panorama.pmd 4/11/2011, 09:3012
A Lavoura DEZEMBRO/2011 13
dustrial da agricultura. “Essa queda de preços se dá devido ao
aumento da produção, gerado pela aquisição de novas tecnolo-
gias. Isso significa que a renda perdida pelo agronegócio não
afetou sua sustentação. Além disso, o fato da produção apre-
sentar crescimento nesse cenário é um indicador de que as
quedas de preço não representaram perda total da rentabilida-
de das novas tecnologias”, afirma.
Adriana expõe ainda outro motivo para a queda dos pre-
ços no País: o avanço da tecnologia e o aumento da produ-
ção em escala internacional. “Aliados ao protecionismo dos
países mais desenvolvidos, eles geraram uma baixa dos pre-
ços em grandes proporções. Ou seja, o desempenho do Bra-
sil não se deu de forma isolada, ele apenas ajustou seus cus-
tos ao movimento dos demais países”, explica. O trabalho
conclui que a redução dos preços reais dos produtos agrope-
cuários foi fator primordial na capacidade do poder aquisiti-
vo dos consumidores, em especial, para as famílias de baixa
renda - nas quais grande parcela da renda é despendida em
alimentos. Por outro lado, há que se garantir que os preços
pagos aos produtores remunerem seus esforços, para que
desestímulos à produção de alimentos não surjam e no futu-
ro ocasionem uma redução da oferta e consequente eleva-
ção dos preços.
Esta pesquisa de Adriana Ferreira Silva ganhou o Prêmio
Edson Potsch Magalhães de melhor tese em economia rural,
durante a realização do 49º Congresso da Sociedade Brasi-
leira de Economia, Administração e Sociologia Rural (SOBER),
realizado em julho.
ANA CAROLINA MIOTTO - ESALQ/USP
A colheita do milho começou em junho no Nordeste bra-
sileiro, e os produtores da região, principalmente os pe-
quenos agricultores familiares do Semiárido, já comemo-
ram o aumento da produção. Na região de Irecê, no cen-
tro norte da Bahia, que integra cidades como Ibititá,
Canarana, Lapão e João Dourado, a produtividade desta
safra foi três vezes maior do que a dos últimos seis anos.
A média, que era de 40 mil toneladas, subiu para 142 mil
toneladas de milho este ano.
Boa parte desse sucesso se deve à utilização do BRS
Caatingueiro, desenvolvido pela Embrapa Tabuleiros Costei-
ros, em parceria com a Embrapa Milho e Sorgo, e
comercializado pela Embrapa Transferência de Tecnologia,
unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
Superprecoce
A cultivar apresenta grãos semiduros amarelos e é
adaptada especialmente ao Semiárido nordestino. Sua
principal vantagem é o ciclo superprecoce, o que per-
mite boas colheitas mesmo em períodos de pouca chu-
va. Como o florescimento do BRS Caatingueiro ocorre
entre 41 e 50 dias, diminui o risco de estresse hídrico
no momento em que o milho é mais sensível à falta de
água.
Após o plantio, a cultivar precisa de apenas 90 dias para
atingir a época da colheita. Mas se a distribuição das chuvas
for regular, a safra já está garantida com 65 a 70 dias de plan-
tio. Na região mais seca do Semiárido, a produtividade do BRS
Caatingueiro varia em torno de 2 a 3 toneladas de grãos por
hectare.
Em condições mais regulares de precipitação, a produti-
vidade pode chegar a 6 toneladas de grãos por hectare. Por
isso, a cultivar é ideal para os pequenos produtores, que
geralmente dispõem de poucos recursos, encontram dificul-
dades para ter acesso ao crédito e não têm tipo algum de
orientação técnica.
EDUARDO PINHO RODRIGUES - EMBRAPA TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
“O produto de Minas Gerais tem qualidade reconhecida em todo
o país, especialmente nos mercados de São Paulo, Recife e Ama-
zonas”, explica.
A preferência do consumidor brasileiro pelo alho nacional
também é citada por Eduardo Sekita, diretor do grupo Sekita, de
São Gotardo, que trabalha com a parceria de 49 produtores em
190 hectares da propriedade. Esse contingente de agricultores
familiares deve garantir ao grupo, em 2011, uma produção da
ordem de 3,7 mil toneladas, ele informa.
“O grande problema é que as importações permitidas pelo
governo federal possibilitam a venda do acho chinês por R$ 40,00
a caixa de dez quilos, enquanto no Alto Paranaíba o preço varia
de R$ 42,00 a R$ 45,00, porque abaixo disso seria insuficiente para
cobrir os custos de produção”, explica o executivo.
Segundo Sekita, outro aspecto que dificulta a situação dos
produtores brasileiros é que o alho importado está presente em
todo o país durante o ano inteiro. Já o produto colhido nas lavou-
ras da maioria dos Estados chega ao consumidor em um período
definido, de agosto a fevereiro, sendo que em Minas Gerais o
abastecimento predomina numa faixa de tempo ainda menor, de
agosto a janeiro.
Organização da produção
“Diante do cenário da importação de alho pelo Brasil, os agri-
cultores devem buscar orientação junto às associações e coope-
rativas para desenvolver a produção programada”, recomenda o
superintendente do Mercado Livre do Produtor (MLP) da
CeasaMinas pela Subsecretaria de Agricultura Familiar da Secre-
taria da Agricultura, Lucas de Oliveira Scarascia. Ele diz que é
fundamental para os produtores o acesso a informações sobre as
tendências do mercado, política de abastecimento do país, situ-
ação do câmbio e interesse de outros países em colocar seus pro-
dutos no Brasil.
IVANI CUNHA - SECRETARIA DE ESTADO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO DE MINAS GERAIS
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Milho BRS
Caatingueiro
melhora a produção
no Semiárido
Milho BRS
Caatingueiro
melhora a produção
no Semiárido
BRS Caatingueiro: superprecoce
com produto importado
!ALAV687-10-13-Panorama.pmd 4/11/2011, 09:3113
14 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
VINICULTURAVINICULTURA
Vinhos, tradição
e modernidade
Vinhos, tradição
e modernidade
CRIS
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A BA
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Uvas para a produção dos vinhos
Château de Beaucastel: os “galets”
(pedras arredondadas no solo),
retém o calor do dia e aquecem
as videiras durante a noite
ANTONIO ALVARENGA
PRESIDENTE DA SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA - SNA
14 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
A família Perrin produz
vinhos desde 1909, na
região da Provence, e
hoje é uma das maiores
podutoras da França
Uvas para a produção dos vinhos
Château de Beaucastel: os “galets”
(pedras arredondadas no solo),
retém o calor do dia e aquecem
as videiras durante a noite
!ALAV687-14-20-Vinicultura.pmd 4/11/2011, 09:3214
A Lavoura DEZEMBRO/2011 15
VINICULTURA
Em recente viagem à França,
tivemos a oportunidade de co-
nhecer as propriedades viní-
colas da tradicional família Perrin,
gente simples, elegante e muito aco-
lhedora.
A família Perrin dedica-se à pro-
dução de vinhos desde 1909, na re-
gião da Provence, sendo atualmente
uma das maiores produtoras de vinho
da França.
François Perrin dirige o grupo de
empresas da família com extrema de-
dicação e eficiência, adotando mo-
dernas técnicas de gestão - desde o
manejo das videiras, colheita das
uvas e produção dos vinhos até sua
comercialização, incluindo toda a
complicada logística envolvida no pro-
cesso e o marketing dos produtos. O
ambiente é bastante informal, mas
tudo funciona perfeitamente. Aqui
vale nosso ditado: “o olho do dono é
que engorda o gado”. Atento a tudo
que se passa em suas propriedades,
caves e instalações industriais, é vi-
sível seu amor pela terra, videiras e
pela produção do vinho.
O reconhecimento desse trabalho
apaixonado vem, dentre outros resul-
tados relevantes, por meio da avali-
ação dos críticos especializados. Re-
centemente, um dos vinhos – Château
de Beaucastel, branco, velhas vinhas
– obteve a nota máxima - 100 - do
renomado crítico norte-americano
Robert Parker, uma das maiores au-
toridades mundiais em vinhos, cuja
crítica favorável pode lançar o preço
de um vinho às alturas. É a primeira
vez que um vinho branco da região de
Châteauneuf-du-Pape recebe 100
pontos.
“Assemblage”
Um dos principais segredos de um
bom vinho é o “assemblage”, ou seja,
o percentual de cada tipo de uva em
sua composição final. Esse “assem-
blage” é sempre diferente em cada
safra, tendo em vista que anualmen-
te as características das uvas são
diferentes conforme o clima e épo-
ca da colheita, que interferem no re-
sultado final após sua maturação e
fermentação. É François Perrin quem
define a data de início da colheita e
dá a palavra final no “assemblage”
de cada um dos vinhos produzidos
pelas vinícolas da família.
Linha de produtos
Há uma extensa linha de produ-
tos, desde o especialíssimo Châ-
teauneuf-du-Pape – Château de
E
Propriedade da família Perrin, na Provence,
França, onde são produzidos e armazenados
os vinhos Château de Beaucastel (detalhe)
CRIS
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CRIS
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A Lavoura DEZEMBRO/2011 15
!ALAV687-14-20-Vinicultura.pmd 4/11/2011, 09:3215
16 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
VINICULTURA
A Lavoura DEZEMBRO/2011 17
A vinícola Perrin e Fils faz parte de uma associa-
ção exclusiva que reúne 12 empresas pertencen-
tes a famílias tradicionais produtoras de vinhos, com
o objetivo de manter a tradição e transmitir às ge-
rações futuras a paixão que eles têm com a produ-
ção do vinho. A associação realiza reuniões periódi-
cas com as famílias associadas e também promove
programas de cooperação mútua, sobretudo na divul-
gação de seus produtos, visando ganhar maior com-
Primum Familae Vini (Grandes Famílias do Vinho)
petitividade no mercado internacional.
Atualmente, os membros da Primum Familae Vini
são as vinícolas: Champagne Pol Roger, Joseph Drouin
(Borgonha), Hugel & Fils (Alsácia), Perrin & Fils
(Rhone), Château Mouton Rothschild (Bordeaux), to-
dos da França; Torres e Vega Sicilia (Espanha); Tenuta
San Guido e Antinori, ambos da Toscana, Itália; Egon
Müller Scharzhof, da Alemanha; e Grupo Symington,
de Portugal.
Beaucastel – até vinhos mais sim-
ples, como os La Vieille Ferme ou
Côtes du Rhone, de boa qualidade,
honestos e adequados para os seg-
mentos de mercado aos quais se pro-
põem atender.
Há também os excelentes vinhos
Gigondas, produzidos a partir de
uvas grenache, cultivadas em solos
muito arenosos; o Vinsobres, um dos
melhores Crus do sul do Vale do Rhone,
cujo vinhedo está localizado ao nor-
te de Châteauneuf-du-Pape, a uma
altitude de cerca de 300 m e clima
bastante adequado para a uva syrah;
e o Vacqueyras, produzido em solos
argilosos pesados com cascalho de
Ouvèze, onde uma combinação das
uvas grenache com syrah produz um
vinho aromático e de muito boa re-
putação na França.
A linha de produtos inclui vinhos
tintos, brancos, roses e até um
doce. Também há vinhos orgânicos
– como é o caso do Château de Beau-
castel e Côtes du Rhone Rouge
Obedecendo o método tradicional de produção, a colheita do Château de Beaucastel é manualPERRIN
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ILS
PERRIN
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ILS
VINICULTURA
!ALAV687-14-20-Vinicultura.pmd 4/11/2011, 09:3216
A Lavoura DEZEMBRO/2011 17
VINICULTURA
17 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
Nature. Desde 1962, os vinhedos de
Château de Beaucastel produzem
vinhos orgânicos.
Há vinhos produzidos a partir de
vinhas antigas, algumas com 90
anos. Em determinados anos, depen-
dendo da característica da safra, são
produzidos alguns vinhos especiais,
como é o caso do “Hommage à
Jacques Perrin”, que também já re-
cebeu a pontuação máxima do críti-
co Robert Parker.
A produção total das propriedades
da família Perrin é de 10 milhões de
garrafas por ano, sendo 500 mil gar-
rafas do Châteauneuf-du-Pape.
Galets
No Château de Beaucastel, o mé-
todo de produção é tradicional: co-
lheita manual e sistemas artesanais
de prensagem, maturação, envelhe-
cimento, engarrafamento e guarda
em barris de carvalho.
O terreno em Beaucastel – entre
as cidades de Avignon e Orange - é
marcado pela presença de um gran-
de número de pedras arredondadas,
conhecido como “galets” Estes
“galets” retêm o calor do dia e aque-
cem as videiras durante a noite. O
clima tem um papel importante: bai-
xa precipitação, o vento Mistral, seco
e forte, que chega a atingir 100 km/
hora. Todos estes componentes – in-
clusive as diferenças entre altas e
baixas temperaturas – se combinam
e se complementam pa-ra dar às vi-
nhas de Beaucastel excepcionais qua-
lidades e originalidade
reconhecidas mundial-
mente.
A propriedade cobre
um total de 130 hecta-
res, dos quais apenas
100 hectares são planta-
dos com vinhas: 75%
são dedicados à produ-
ção do Châteauneuf-du-
Pape – Chateau de Beau-
castel, e 25% para produ-
ção do Côtes-du-Rhone
denominado Coudoulet
de Beaucastel. Os res-
tantes 30 hectares, são
utilizados na rotação de
culturas para preparar
novos plantios de vinha,
porque, a cada ano, um
ou dois hectares de vi-
nhas velhas são desati-
vadas e uma área equivalente é
replantada em terreno onde não hou-
ve produção dura*nte, pelo menos,
dez anos. Desde 1962 o cultivo dos
vinhedos de Beaucastel é orgânico.
Château de Beaucastel tinto
O vinho é resultado de 13 varie-
dades de uvas. As videiras têm em
média 50 anos e o rendimento é de,
no máximo, 30 hectolitros por hecta-
re. Essa é uma vinha saudável e vi-
brante, devido a anos de cultivo
orgânico. Na produção do vinho tin-
to Château de Beaucastel, são utili-
zados 30% de mourvedre, 30% de
grenache, 10% de syrah, e 5% de
muscardin, vaccarese e cinsault
cada. O restante é composto de pe-
quenas quantidades de sete outras
variedades permitidas em Château-
neuf-du-Pape, que proporcionam uma
complexidade graciosa que fazem o
Château de Beaucastel ser um vinho
extraordinário.
O período de colheita é fundamen-
tal, porque as uvas são colhidas e vi-
nificadas separadamente, permitin-
do-lhes expressar suas próprias per-
sonalidades no produto final.
A colheita e a classificação são
manuais. As peles das uvas são aque-
cidas rapidamente para 80°C e, em
seguida, resfriado a 20°C antes de le-
var os cachos para cubas de
maceração onde ficam durante 12
dias. O suco é, então, drenado.
A partir do método de aquecimen-
to flash, Beaucastel Rouge segue uma
vinificação mais ou menos clássica. A
maioria das variedades são fermen-
tadas separadamente. O vinho jo-
vem, em seguida, amadurece em
barricas de carvalho por cerca de 12
meses. As castas das uvas - vinifi-
cadas separadamente - são mistura-
das após a fermentação e uma série
de degustações. O vinho resultante é
então amadurecido por um ano em
grandes barricas de carvalho e depois
engarrafado. Finalmente, o vinho é
maturado em garrafas e guardado
nas caves Beaucastel por mais um
ano antes de ser colocado à venda.
Château de Beaucastel branco
Os vinhos brancos do Château de
Beaucastel estão entre os melhores
Produção do vinho Château de Beaucastel:
maturação, envelhecimento e guarda...
PERRIN
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PERRIN
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ILS
... em barris de carvalho
A Lavoura DEZEMBRO/2011 17
!ALAV687-14-20-Vinicultura.pmd 4/11/2011, 09:3217
18 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
VINICULTURA
vinhos brancos da França. Produzidos
a partir de uvas cultivadas em clima
quente, sendo 80% roussanne, 15%
grenache blanc e 5% de outras vinhas.
As vinhas datam entre 10 e 40 anos.
Há uma pequena quantidade do
“Vieilles Vignes” cuvée, produzido in-
teiramente a partir de vinhas
roussanne, com cerca de 100 anos de
idade.
A vinha que produz o Château de
Beaucastel Blanc possui apenas sete
hectares para uma produção de
6.000 garrafas por ano. A extraordi-
nária qualidade e reduzida produção
tornam esse vinho uma raridade no
mercado.
As uvas são colhidas à mão e le-
vadas para a adega em pequenos
cestos. A classificação também é
manual, para separar as uvas verdes
ou danificadas. Trinta por cento do
vinho é fermentado em barris e o
restante em temperatura controla-
da, em cubas de aço inoxidável. Uma
vez que a fermentação é concluída,
a metade do vinho novo amadurece
em pequenos barris de carvalho e
metade em cubas por cerca de oito
meses. O Vieilles Vignes cuvée é
mantido em carvalho por um perío-
do mais longo.
Engarrafamento do vinho rosé “La Vieille Ferme” (detalhe), da Perrin et Fils
PERRIN
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ILS
François Perrin na cave
em Beaucastel, onde estão
guardadas garrafas de
vinho de diversas safras.
No detalhe, o vinho
branco Château de
Beaucastel, que foi
recentemente premiado
com a nota máxima
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VINICULTURA
18 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
!ALAV687-14-20-Vinicultura.pmd 4/11/2011, 09:3218
A Lavoura DEZEMBRO/2011 19
VINICULTURA
A França é referência mundial na produção de vinhos. É
lá que se produz os mais famosos vinhos do mun-
do e a maior variedade de vinhos de alta qualidade.
A vinicultura existe na França há mais de 2.000
anos. A partir de 1905, o governo começou a controlar
e regulamentar a produção do vinho no país. Em 1935
foi criado o Institut National des Appellations d’Origine
(INAO), que fiscaliza toda a produção de vinhos na
França.
Cada região produtora tem sua própria regulamen-
tação e classificações diversas. As principais regiões
produtoras são Bordeaux, Borgonha, Champagne,
Alsácia, Rhone e Loire.
São cerca de 110 mil vinhedos espalhados pelo país,
com os “terroirs” mais diversos, nas mãos de cerca
de 69 mil produtores/negociantes e cooperativas. Só
em Bordeaux, são mais de 7.000 châteaus e cerca de
13.000 vinhedos.
A legislação é rigorosa no controle da produção dos
vinhos, sendo os vinhos classificados conforme sua
qualidade:
“Vin de Table”, ou vinho de mesa
São vinhos básicos, simples e mais baratos. É o
vinho produzido pelas comunidades onde, mais ou me-
nos, se faz o que quer. Representam cerca de 17% do
vinho produzido na França e é, quase que totalmente,
consumido localmente. A região de origem não é men-
cionada no rótulo.
“Vin de Pays” ou vinho regional
São vinhos regionais em que as regras de produ-
ção são menos rígidas do que nas AOC, especialmen-
te no que se refere às cepas de uvas que podem ser
usadas. Existe uma maior liberdade e é aqui que os
produtores deixam fluir sua criatividade e experimen-
tação na busca de novos vinhos. Apesar de existir muito
vinho de baixa qualidade, pode-se encontrar bons pro-
dutos com esta denominação. Correspondem a cerca
de 30% da produção total.
Os vinhos franceses
VDQS, vinho delimitado de qualidade superior
Na teoria, um degrau antes de um vinho ou região
alcançar o nível AOC, ficando situado entre esta clas-
sificação e o “Vin de Pays”. Corresponde a aproxima-
damente 2% do total da produção.
“Vin d’Appellation d’Origine Contrôlée” - AOC
(Vinho de Denominação de Origem Controlada)
Nesta categoria estão os grandes vinhos franceses.
As normas de produção são estabelecidas pelo Institut
National des Appellations d’Origine (INAO). A AOC pos-
sui regras rígidas de controle e fiscalização, determinando
desde as uvas que podem, ou não, ser produzidas na re-
gião, procedimentos de controle do vinhedo, uvas que
podem ser usadas na elaboração dos vinhos, porcentuais
dos cortes, teores de álcool, etc. Daqui saem a grande
maioria dos grandes vinhos da França. São mais de 450
diferentes AOC espalhadas por todas as regiões produ-
toras, respondendo por cerca de 50% da produção nacio-
nal. A denominação é estampada no rótulo e pode ser
usada sozinha, ou em conjunto com o nome da região.
A França rivaliza com a Itália como maior produtor e com
a Espanha em termos de área plantada. Sua produção
anual alcança cerca de 5.8 bilhões de garrafas. O consumo
per capita está hoje ao redor de 60 litros anuais, uma signifi-
cativa redução em relação aos 150 litros da década de 1950.
Enquanto o consumo na França vem se reduzindo, na China
está em franca expansão.
Superfície de Vinhedos
1. Espanha – 1.113.000 ha (hectare)
2. França – 840.000 ha
3. Itália – 818.000 ha
4. China – 470.000 ha
O mercado mundial de vinhosProdução Mundial de Vinhos
1. Itália – 47.700.000 hl (um hectolitro = 100 litros)
2. França – 45.600.000 hl
3. Espanha – 35.200.000 hl
Consumo Mundial de Vinhos
1. França – 29.900.000 hl
2. Estados Unidos – 27.300.000 hl
3. Itália – 24.500.000 hl
4. Alemanha – 20.300.000 hl
5. China – 14.000.000 hl
Exportação Mundial de Vinhos
1. Itália – 18.600.000 hl
2. Espanha – 14.400.000 hl
3. França – 12.500.000 hl
4. Austrália – 7.700.000 hl
Vinhos produzidos na Provence, França, pela Perrin et Fils
CRIS
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!ALAV687-14-20-Vinicultura.pmd 4/11/2011, 09:3219
20 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
VINICULTURA
Numa pequena região, no coração da região sul do Rhone,
fica a área de produção de Châteauneuf-du-Pape, en-
tre as cidades de Avignon e Orange. Situada no topo de uma
colina, possui 3.000 hectares de vinhedos. Nesta área o solo
é coberto de pequenas pedras que absorvem calor durante
o dia e aquecem as raízes das videiras de noite, os chama-
dos “galets”. Uma das regiões de terras mais caras na Fran-
ça, em Châteauneuf-du-Pape o hectare custa em média o equi-
valente a R$ 1 milhão e as propriedades medem em torno de
5 hectares.
A estória desses vinhedos tem as suas raízes num dos capí-
tulos mais curiosos da História da França, que é a chegada dos
papas à Avignon durante a Idade-Média. Nesta cidade, seis pa-
pas se sucederam ao longo de um período de setenta anos.
Denominação
Em 1929, a denominação de origem, Châteauneuf-du-Pape,
foi sacramentada.
A denominação permite a utilização de 13 tipos de uvas
diferentes para constituir esse vinho. Contudo, nos
“assemblages”, a proporção de uva grenache noir costuma
ser de 80%, sendo complementada em geral pela syrah e a
mourvèdre. As outras variedades são usadas como tempe-
ro: cinzault, muscardin, vaccarèse, terret noir, picpoul noir,
counoise.
Vale mencionar também as castas brancas que produzem
vinhos, cuja qualidade vem aumentando a cada ano, e cuja
uva dominante é a grenache blanc, seguida pela clairette, a
bourboulenc, a picardan e a roussanne.
Fama mundial
De fama mundial, conhecido pelas suas garrafas amplas e
bojudas, que trazem o selo das armas dos papas estampado
no vidro, o Châteauneuf-du-Pape possui grande força e volu-
me, graças à uva grenache que proporciona a sua consistên-
cia característica de um vinho de guarda. Assim, os seus
melhores vinhos podem esperar de 10 a 12 anos até serem
consumidos, alguns dos quais podem ser guardados por até
25 anos.
A sua cor mais característica é um rubi escuro com refle-
xos granada. Os seus aromas, por tradição, são extremamen-
te sedutores. Entre eles, predominam toques pronunciados
de frutas vermelhas maduras, de especiarias e de ervas aro-
máticas, sempre de grande intensidade.
No paladar, há equilíbrio entre acidez e álcool, sendo que
o seu corpo aveludado e volumoso tem um final longo e
frutado, com um amargor leve e amadeirado.
Para os tintos: mourvedre, grenache, syrah, cinsault,
counoise, muscardin, vaccarese.
Para os brancos: grenache blanc, bourboulenc, clairette,
roussanne, picpoul, picardan.
Châteauneuf-du-Pape
produz vinhos de fama mundial
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CRIS
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Châteauneuf-du-Pape, uma das regiões de terra mais caras da França...
... e as vinhas com as quais são produzidos os vinhos com alto
valor no mercado
VINICULTURA
!ALAV687-14-20-Vinicultura.pmd 4/11/2011, 09:3320
A Lavoura DEZEMBRO/2011 21
Avanços e recordes do algodão no Brasil
ALGODÃO
SÉRGIO DE MARCO
PRESIDENTE DA ABRAPA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE ALGODÃO
RONALDO SPIRLANDELLI
PRESIDENTE DA APPA – ASSOCIAÇÃO PAULISTA DOS PRODUTORES DE ALGODÃO
O setor agropecuário é uma das molas propulsoras da
economia brasileira. Respondendo por quase 1/3 do
nosso PIB (Produto Interno Bruto), compete de igual
para igual com o setor automobilístico e, mais recentemente,
com os empreendimentos imobiliários. Somente nos primeiros
três meses de 2011, a agricultura foi responsável pelo aumen-
to de 1,3% do PIB, e o algodão foi uma das culturas que mais
contribuíram para esta ampliação.
A indústria nacional consome 1 milhão de toneladas/ano de
pluma, e nos primeiros 5 meses de 2011 as vendas estiveram
concentradas basicamente nesse mercado. A safra 2010/2011,
que já começou a ser colhida, deverá abastecer o mercado
externo, prevendo-se novos recordes de exportação, cujo vo-
lume de 2010 esteve próximo de meio milhão de toneladas.
Os números relativos à exportação fizeram com que o Bra-
sil ganhasse destaque entre os outros países que cultivam a
fibra, como China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. E tam-
bém está impulsionando os produtores brasileiros no sentido
de fomentar a atuação comercial em Hong Kong e Cingapura,
que integram os Tigres Asiáticos. As expectativas são grandes
em relação a esses dois países, e os números a serem alcança-
dos giram em torno de 60 mil toneladas. É mais um grande passo
para os agricultores brasileiros, pois o horizonte continua pro-
missor, haja visto o crescimento de 66% da área plantada, re-
sultando numa safra 74% maior do que a do ano passado, se-
gundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Esforços em pesquisas
Este espaço alcançado no cenário nacional e internacional
corresponde a uma série de esforços em pesquisas. Vale res-
saltar ações de entidades como a Embrapa Algodão, os
Institutos Agronômicos de Campinas e do Paraná, o Instituto
Mato-Grossense do Algodão, a Fundação de Apoio a Pesquisa e
Desenvolvimento do Oeste Baiano e a Fundação Goiás,
entre outras, que colaboram para o aperfeiçoamento genético
da fibra, do cultivo e do controle de pragas, assim como para a
seleção de plantas mais resistentes a doenças. Todas estas ações
se configuram como colaborações relevantes para o produtor
de algodão, o qual passa a receber orientações e diretrizes que
culminam na rentabilidade dos negócios.
Além destes estímulos ou contribuições das pesquisas para
o progresso do setor, destacamos importantes avanços no
setor industrial, como o desenvolvimento de maquinários agrí-
colas e novas tecnologias, os quais, se agregados corretamen-
te, contribuem para que o processo de colheita e industrializa-
ção sejam aperfeiçoados, tanto para o grande, como para o
médio e para pequeno produtor do algodão.
Diante destes dois exemplos - esforços em pesquisa e
avanços da indústria - fica evidente como a fibra é impor-
tante para o cenário interno, pois faz com que corporações
de diversos setores participem do processo e comecem a se
desenvolver também. Evidentemente estas ações são tam-
bém positivas para a geração empregos, seja no campo ou
na cidade.
Cabe-nos refletir como o avanço positivo da cultura algo-
dão não se trata de uma ação isolada e que também
não traz frutos e méritos somente para o setor produtivo do
algodão. Há o envolvimento de toda uma cadeia de empresas e,
portanto, eles são partilhados. E para o crescimento ininter-
rupto é preciso que haja continuidade do fortalecimento
dessa cadeia, seja com pesquisas ou estudos, ou com a ge-
ração de novos negócios, pois isto fará com que o Brasil te-
nha destaque sempre.
CA
RLO
S RU
DIN
EY
O
Com melhoramento genético e maquinário adequado, a área
cultivada no Brasil aumentou 66% em 2011
!ALAV687-21-Algodão.pmd 4/11/2011, 09:3421
22 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
A citricultura brasileira em Anuga 2011Diretor de Citricultura da Rural, Gastão Crocco, visitou a feira de Anuga,
em Colônia, Alemanha. Considerada a maior do mundo, ela recebeu 6.500 expositores.
A agenda de trabalho também contou com visitas a vários importadores do suco
brasileiro, às grandes cadeias de supermercados do continente e aos terminais da
Citrovita e da Cutrale em portos da Bélgica e da Holanda, respectivamente
GASTÃO CROCCO
DIRETOR DE CITRICULTURA DA SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA
PAULO SADER
COLABORADOR DA RURAL E CITRICULTOR
Entre 8 e 12 de outubro, aconteceu em Colô-
nia, Alemanha, a Feira de Anuga. O evento é
o maior do gênero alimentício no mundo e é re-
alizado a cada dois anos. Apresentaram-se cer-
ca de 6.500 expositores de diversos países,
compradores e vendedores.
A fim de mostrar e vender produtos da ca-
deia produtiva, a participação da Citrovita,
Citrosuco e Dreyfus como expositores - com
estandes - foi especialmente interessante para
a citricultura nacional. Além disso, a Cutrale re-
cebeu clientes e convidados paralelamente à
feira.
Como está em curso a negociação de novo
padrão de relacionamento e negócios entre os
elos da cadeia produtiva - o Consecitrus - a So-
ciedade Rural Brasileira (SRB) entendeu ser na-
tural e importante que o setor agrícola buscas-
se conhecer, com profundidade, todo o trajeto
que perfaz a laranja brasileira, dos pomares até
o consumidor final. Pensando nisso, a Rural pre-
parou-se para visitar a Anuga 2011 e fazer con-
tatos com os principais agentes do mercado de
suco de laranja no mundo, de modo a extrair
informações valiosas que possam orientar as
negociações de criação do futuro conselho.
Além da Rural, representada pela diretoria
de Citricultura, estiveram em atividades con-
juntas a Faesp, com seu diretor Marco Antonio
dos Santos; a CitrusBR, representada por seu
presidente Christian Lohbauer e o Coordena-
dor do Consecitrus, João de Almeida Sampaio.
Estiveram com o grupo, também, a Alicitrus, com
o diretor Paulo Celso Biasioli, a FGV/MB Associ-
ados, com Roberto Perosa e a Cutrale, com seu
Diretor Corporativo Carlos Viacava.
A agenda de trabalho também contou com
visitas a vários importadores do suco brasilei-
ro, às grandes cadeias de supermercados do
continente e aos terminais da Citrovita e da
Cutrale em portos da Bélgica e da Holanda, res-
pectivamente.
A satisfação dos europeus em receber, de
modo inédito, uma comitiva organizada com
representantes de produtores do Brasil foi evi-
dente e se manifestou na franqueza das consi-
derações e respostas dadas aos questionamen-
tos elaborados pelo grupo e por produtores con-
sultados pela Rural, antes da partida. Foi a for-
ma que a Rural encontrou de ampliar a partici-
pação e incluir os que não puderam viajar. Os
brasileiros expuseram preocupação em relação
aos custos de produção, à necessidade de apro-
ximar os elos da cadeia produtiva na busca de
eficiência e remuneração equilibrada para to-
dos, e as impressões colhidas foram as que se-
guem abaixo.
O mercado e a concorrência – O suco de
laranja tornou-se um produto velho, ou desa-
tualizado. O consumo de bebidas cresce com a
substituição desses produtos rapidamente ul-
trapassados, em primeiro lugar, por bebidas
energéticas e isotônicos, que vendem quase 17
bilhões de litros/ano, com crescimento médio
de 7,1% a.a., de 2004 a 2010***
. Nos últimos dois
anos, enquanto o consumo de refrigerantes
cresceu 2 bilhões de litros, o de sucos caiu 71
milhões.
O consumo de FCOJ 100% natural é o que
apresenta maior queda. Dentre outros fatores,
em função da concorrência acirrada de produ-
tos com marketing de intenso apelo à diversão
e esportividade, cujas embalagens diferencia-
das atraem os segmentos infantil e jovem. O
NFC tem condição mais vantajosa em relação
ao concentrado e é com ele que se fazem as
guerras promocionais nas gôndolas dos super-
mercados.
No caso do NFC, o principal concorrente
do Brasil no mercado europeu é a Espanha. A for-
ça de sua concorrência deve-se à pequena dis-
tância dos mercados consumidores e do curto
lapso entre a colheita e a mesa do consumidor,
contado em poucas horas. A qualidade deste
produto, embora bastante inferior ao que ofe-
recemos, não parece incomodar o consumidor,
uma vez que seu consumo cresce em detrimen-
22 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
E
A notícia de que os produtores rurais têm
sofrido fortes pressões de custos não se
configurou novidade para os engarrafadores,
que já há cinco anos sentem essa influência
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!ALAV687-22-24-SRB.pmd 4/11/2011, 09:3522
A Lavoura DEZEMBRO/2011 23
to do nosso.
Entre os sucos, o de maçã, produ-
zido em larga escala na Polônia e na Chi-
na, é o principal concorrente da laran-
ja. São os dois “sucos base” utilizados
para misturas. Na lógica de mercado, o
que estiver mais barato terá preferên-
cia no mix. No momento, o suco de maçã
vem acompanhando a alta da laranja.
Aliás, nos últimos 5 anos, a alta de pre-
ços das frutas em geral tem deixado os
engarrafadores e supermercados sem
muita referência de preço. Desta for-
ma, os contratos de fornecimento fe-
chados têm sido de curto prazo, um ano.
Do ponto de vista da distribuição,
os engarrafadores têm sofrido forte
pressão das grandes cadeias varejis-
tas/supermercados que vendem cada
vez mais produtos com marca própria
em vez de comercializarem as marcas
tradicionais que receberam anos e mi-
lhões de investimentos em logística e
marketing. Os produtos de marca pró-
pria dos supermercados vendem-se em
giro rápido a preços inferiores aos das
marcas dos engarrafadores. Com as
margens caindo, os engarrafadores
substituem seus produtos adaptando-
os para não perder mercado.
O que se observa, na ponta do con-
sumo, portanto, são duas guerras: uma
de preços e promoções em que o
engarrafador tem de reduzir constan-
vendas de orgânicos ou produtos com apelo de
sustentabilidade. Não há identificação de ori-
gem. No máximo vê-se estampado um “suco tipo
Florida”, por exemplo. Neste quesito, muitos
engarrafadores veem como positivo o apelo de
origem brasileira como tática de marketing.
Para os intermediários europeus importa
que haja um bom relacionamento ao longo da
cadeia produtiva, mas os efeitos da concentra-
ção sobre os produtores não são considerados
por eles quando se mencionou o alto grau de con-
centração de poder econômico das indústrias
produtoras de suco e seu impacto sobre os elos
que estão do lado de dentro da porteira.
A visão dos engarrafadores europeus –
A visita de produtores, considerada muito posi-
tiva por todos, reforçou a noção de que a alta
dos preços do suco nos últimos anos é estrutu-
ral. A notícia de que aqueles, nas propriedades
rurais, têm sofrido fortes pressões de custos,
não se configurou novidade para os
engarrafadores que já há cinco anos sentem a
pressão, não só da laranja, mas das frutas em
geral. Tal fato é atribuído a um conjunto de pro-
blemas cambiais, fitossanitários e climáticos.
O consumidor não está disposto, contudo,
a pagar preços altos e tem um constante inte-
resse por novidades. O comprador tradicional
de suco FCOJ vem substituindo suas compras
por NFC, experimentando, aos poucos, as mar-
cas próprias dos varejistas, cujos preços são
mais baixos e impõem margens de ganho meno-
res aos engarrafadores.
A guerra de preços e o marketing
agressivo parecem ter contribuído para
a aceleração do “envelhecimento” do
suco de laranja puro, concentrado ou
não, que vai sendo ultrapassado por uma
série impressionante de bebidas de
baixíssimo teor de suco, embaladas em
frascos coloridos, sem clareza a respei-
to das características do conteúdo ou
de sua origem e que atendem a um pú-
blico sem muita condição de avaliação
crítica sobre o que está bebendo como,
por exemplo, o kit lanche (pequenas em-
balagens) vendido e promovido em su-
permercados ingleses.
Como se negocia – O suco não é
armazenado pela indústria nacional na
Europa, apenas nas fábricas no Brasil,
segundo as conversas na ocasião. Há
uma estocagem mínima e breve para
distribuição aos engarrafadores.
Quando os preços estão altos,
como no momento, US$ 2.700,00/ t, o
comprador adquire em contratos de
curto prazo, “da mão para a boca”,
com preços fixos, nunca renegociáveis.
Quando há queda muito expressiva de
preço, maior do que US$ 200,00/t,
ocorre do comprador suspender a com-
pra de longo prazo, no que é, em geral,
atendido pela indústria que procura
renegociar a entrega mais à frente.
As grandes cadeias varejistas, por
temente suas margens para manter mercado e
não inviabilizar seu próprio negócio; outra en-
tre as bebidas mix, que levam cada vez mais
água e outras frutas na composição. Essas guer-
ras são alimentadas pelas barreiras psicológi-
cas de preço que imperam entre os consumido-
res finais. Entre a infinidade de produtos que
pretendem atender a este consumidor sensível
ao preço estão muitos cuja composição apre-
senta até 2% de suco natural.
Os novos mercados – O consumo de suco
de laranja no Leste Europeu ainda é muito bai-
xo e vem sendo afetado pela crise econômica.
Na China o consumo é crescente, mas o
carro chefe na preferência do consumidor é o
“Pulpy”, com baixíssimo teor de suco embora
com grande quantidade de polpa. Este produto
é destaque da Coca Cola no país asiático, onde
foi lançado em 2005, e foi responsável por fa-
zer do Minute Maid Pulpy o terceiro braço de
US$ 1 bilhão da companhia. Em todo caso, o
baixo uso de suco na fórmula produz pouco im-
pacto nas exportações brasileiras. No Japão, o
consumo está estagnado há anos e já foi alcan-
çado pelos chineses (80 mil ton/ano).
As novas tendências mercadológicas –
Os operadores do mercado parecem conserva-
dores e tradicionais no que diz respeito à influ-
ência das tendências e das grandes causas am-
bientais e sociais sobre o consumo de suco de
laranja: fundamental é o preço!
Ninguém parece apostar no incremento das
sua vez, negociam volumes certos de entrega.
Se os preços estão altos elas reduzem ou suspen-
dem as compras, colocando outras bebidas nas
prateleiras. Os engarrafadores, por seu turno,
estão obrigados a suspender, também, suas com-
pras, fazendo com que a indústria a estoque ou
baixe preços. Os movimentos dos varejistas e
dos engarrafadores são sentidos durante a sa-
fra no Brasil, principalmente quando eles pedem
um suco com característica especial como mai-
or ou menor acidez.Ao negociar suas compras,
todos os engarrafadores dizem consultar os pre-
ços das quatro grandes indústrias, sem usar qual-
quer outra referência, alegando, ainda, que não
há correlação entre os preços da Bolsa em Nova
York e o que se pratica na Europa, posto que a
Bolsa carrega preços afetados por especuladores
e grandes investidores, tais como fundos de pen-
são, que distorcem o mercado.
Por fim, a questão formulada com intenção
de ajudar na elaboração do CONSECITRUS: os
engarrafadores estariam dispostos a criar um
índice em que, preservando a identidade das
partes, seriam abertos os valores negociados
em suas compras de suco? A resposta foi nega-
tiva em face de limitações empresariais e legais
para a divulgação destes dados, por causa do
risco de alterar de modo significativo o funcio-
namento do mercado.
***Fonte: Markestrat a partir de Tetra Pak e
Euromonitor
A Lavoura DEZEMBRO/2011 23
“O consumo de bebidas cresce, mas com a substituição
pelos energéticos e isotônicos, que vendem quase 17
bilhões de litros/ano”, ressalta Crocco
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24 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
Sociedade Rural BrasileiraRua Formosa, 367, 19O andar – Anhangabaú - Centro
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Jornalista Responsável: Silvia Palhares – silviapalhares@srb.org.br
Corredator: Renato Ponzio
Tela da Rural seráexposta no maior festival
de artes da Europa
O Brasil será homenageado no maior festival de artes da
Europa, a Europalia. Nesta 23ª edição, serão apresen-
tados 130 shows, 60 apresentações de dança e 40 de tea-
tro, 20 exposições de artes visuais e 90 palestras e confe-
rências literárias em cinco países: Bélgica, Luxemburgo,
França, Alemanha e Holanda. O evento iniciou em outubro
deste ano e segue até fevereiro de 2012.
Um dos quadros que embarcarão para a Europa é “A
Florada do Café”, do italiano Antônio Ferrigno (1863 - 1940),
que pertence ao centenário acervo da Sociedade Rural Bra-
sileira. Discípulo da Scuola di Maiori (Itália/ 1863 - 1920),
Ferrigno morou em São Paulo por 12 anos, de 1893 a 1905.
Nesse período, reproduziu paisagens paulistanas, do inte-
rior e do litoral.
Por ter retratado diversas fazendas de café, a pedido
dos proprietários que queriam fixá-las em telas, ficou co-
nhecido como o “pintor do café”. Um de seus trabalhos
mais conhecidos é a série de seis telas sobre a atividade
cafeeira, que ele pintou na Fazenda Santa Gertrudes, loca-
lizada no atual município de Santa Gertrudes/SP e de pro-
priedade de um dos fundadores e ex-presidente da Rural,
Conde de Prates.
As seis telas que compõe a série – A Florada, A Colheita,
Lavadouro, O Terreiro, Ensacamento do Café e Café para a
Estação – foram enviadas pelo governo brasileiro à famosa
Exposição Universal de Saint Louis (EUA), em 1903, e será
uma delas que voltará a encantar o mundo 108 anos depois.
RENATO PONZIO
A sede da Rural tem um vasto e rico acervo, que narra a história da agricultura
e pecuária no Brasil. Os destaques são a biblioteca com milhares de obras,
muitas do começo do século XX, e os quadros dos pintores paisagistas Antonio
Ferrigno, Rosalbino Santoro e Oscar Pereira da Silva
O
Ministro Mendes Ribeiro Filho
visita a Sociedade Rural Brasileira
No dia 3 de outubro, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abaste-
cimento, Mendes Ribeiro Filho, participou, na sede da Socieda-
de Rural Brasileira, de um almoço-reunião com o presidente da enti-
dade Cesário Ramalho da Silva e as principais lideranças do agronegó-
cio nacional.
Na abertura do encontro, Cesário Ramalho enfatizou que a pre-
sença do ministro na “Casa da Agricultura Brasileira”, valoriza e
apoia o setor que é formado pelo pequeno, médio e grande pro-
dutor. Destacou, também, que a presidente Dilma Rousseff tem
feito um trabalho de sinergia que vai ao encontro das causas prin-
cipais do agro brasileiro, a exemplo das novas medidas de apoio
contidas no Plano Safra 2011/2012.
Em nome da agropecuária nacional, o presidente da Rural pe-
diu a Mendes Ribeiro que olhasse com atenção para algumas ques-
tões que atrapalham o desenvolvimento e o crescimento do se-
tor: “O novo Código Florestal, no qual estamos trabalhando há
quase dois anos, e entendemos que deve ser aprovado ainda este
ano. A segunda questão que perturba o nosso setor e que está
inibindo investimentos importantes é o da regulamentação da venda
de terras para estrangeiros”.
Durante seu discurso, Mendes Ribeiro salientou que não en-
tende a razão de a agricultura não ter a importância da qual é
digna no dia-a-dia dos brasileiros. E, esclareceu, que “se eu te-
nho alguma coisa que fazer na agricultura é emprestar minha ex-
periência política para o reconhecimento do setor, o seu fortale-
cimento, para que as pessoas possam perceber que ao ajudarmos
a agricultura, ela vai ajudar o Brasil”.
O ministro da Agricultura finalisou ressaltando que “queremos
ser, até a metade de 2013, um país livre de aftosa, mas para isso há
que se ter o comprometimento e a disposição dos estados e mu-
nicípios, dos integrantes da cadeia, e a participação concreta da
iniciativa privada”.
Sobre os pedidos do presidente da Rural, Mendes Ribeiro co-
mentou que tem o novo Código Florestal como objetivo, bem como
a definição da AGU em relação a terras para estrangeiros. Outra
prioridade apontada pelo ministro é a construção, junto de sua
equipe, de um seguro de renda para os produtores.
SILVIA PALHARES E RENATO PONZIO
O presidente da SRB, Cesário Ramalho (esq) recebe o ministro da Agricultura
Mendes Ribeiro
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A Lavoura DEZEMBRO/2011 25
Carta da S O B R A PASOCIEDADE BRASILEIRA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
Ibsen de Gusmão Câmara
Presidente
Um futuro sombrio
O notável sucesso do agronegócio brasileiro pode ser
comprovado por ter sido capaz de suprir as necessidades
alimentares decorrentes do acréscimo da população na-
cional havido nos últimos 60 anos, da ordem de 140 mi-
lhões de pessoas, além de permitir ao País tornar-se atu-
almente um grande exportador de alimentos. Grãos e
carnes, juntamente com minérios, formam hoje a maior
parte da base de nossa receita de exportação, a ser pro-
vavelmente reforçada dentro de algum tempo pelo petró-
leo do pré-sal. Grande parte da indústria brasileira, em
especial a de manufaturados, tornou-se pouco ou não com-
petitiva, prejudicada que foi pelas exportações agressivas
dos países asiáticos, notadamente a China, nos quais o
baixo custo da mão-de-obra os torna imbatíveis,
vulnerabilidade essa à qual se acrescem a vigência de
nossa legislação trabalhista e tributária complexa e ul-
trapassada, a carência crônica de vias de transporte mo-
dernas e eficientes, e todos os demais problemas do “cus-
to Brasil”.
Assim, tudo leva a crer que, embora seja indesejável,
nossa receita de moedas estrangeiras continuará por lon-
go tempo baseada na exportação de produtos primários,
com destaque naqueles derivados do labor nos campos. E
isto dependerá de forma crucial dos impactos das mudan-
ças climáticas e de sua evolução.
Os cenários futuros das alterações de clima já em cur-
so ainda são precários, mas mesmo assim precisam ser
considerados com muito cuidado pelos agricultores e
pecuaristas, e o que já se pode prever justifica graves pre-
ocupações.
Estudo elaborado em 2008 – e revisto em 2009 – por
equipe da Fundação Brasileira para o Desenvolvimen-
to Sustentável (FBDS), denominado Economia das
Mudanças Climáticas no Brasil – Estimativas das
Ofertas de Recursos Hídricos no Brasil em Cenários
Futuros de Clima 2015-2100, com base em dados con-
tidos em 15 diferentes cenários, levou a conclusões
merecedoras de considerações com profunda serieda-
de. Ele é longo e complicado, mas adiante menciona-
se parte de seus resultados e recomendações. Uma das
mais significativas dessas conclusões diz respeito à
variação do fluxo das principais bacias hidrográficas
do País, intimamente ligado às variações de precipi-
tações hídricas.
Considerando como base de referência (100%) as
médias dos fluxos das diferentes bacias no período de
1961-1990, abaixo são indicados os respectivos futu-
ros valores percentuais previstos para o período 2011-
2040:
Bacia do Amazonas .............................. 88%
Bacia do Tocantins ................................ 83%
Bacia do Paraguai ................................ 68%
Bacia do Paraná.................................... 80%
Bacia do Parnaíba ................................ 69%
Bacia do S. Francisco ........................... 73%
Outros rios da Região Sul .................... 95%
Embora se reconheça que o estudo é apenas uma pri-
meira abordagem do tema, constata-se que todas as baci-
as pesquisadas evidenciam tendência para diminuição de
fluxo, decorrente de redução das precipitações e do aumen-
to da evapotranspiração, acentuada esta pela maior tem-
peratura do planeta. Serão especialmente afetadas as ba-
cias do Nordeste e do Centro-oeste, enquanto as do Sul
sofrerão menor alteração. No período seguinte, de 2041-
2100, as previsões ainda mais se agravam; na bacia do S.
Francisco, por exemplo, no final do Século, o fluxo poderá
reduzir-se para 43%, passando toda a região a ter clima
semiárido. Assim, vale ponderar sobre as consequênci-
as para os cultivos irrigados ao longo do rio e para o
polêmico e caríssimo Projeto de Transposição, hoje em
andamento.
Claro está que as reduções de fluxo não serão rigida-
mente proporcionais a menores índices de precipitação
hídrica posto que, com o aumento de temperatura e, con-
sequentemente, incremento da evapotranspiração, em al-
guns casos poderá haver diminuição de fluxo de alguns rios
mesmo sem haver redução de chuvas. Há também a reco-
nhecer que as previsões se baseiam em modelos matemá-
ticos e que estes são passíveis de alterações e de aperfei-
çoamento, afetando as previsões. Uma das recomendações
do estudo é justamente que futuras versões sejam
efetuadas, mediante constante aperfeiçoamento desses
modelos.
Contudo, mesmo com tantas incertezas, seria pruden-
te levar em conta que, em decorrência das mudanças cli-
máticas, cuja realidade já não mais pode ser negada, há
clara tendência de agravamento das condições hídricas no
País e, por óbvio, as atividades agrícolas deverão preparar-
se para uma provável redução da disponibilidade de água.
Nesta oportunidade, lembre-se que, justamente quan-
do esse cenário sombrio se vislumbra, as alterações propos-
tas no novo Código Florestal favorecem redução de flores-
tas, indispensáveis para a alimentação das bacias e dos
aquíferos.
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26 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
S O B R A PASOCIEDADE BRASILEIRA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
Citações
A imprensa atribuiu o seguinte pensamento ao Dr. Britaldo
Silveira Soares Filho, professor do Instituto de Geociências da
Universidade de Minas Gerais, que, dentre outros temas de
pesquisa, atua em análise e modelagem de Sistemas Ambien-
tais e em Meteorologia Agrícola, e desenvolve modelos mate-
máticos de mudanças no uso e na cobertura do solo:
“O País precisa parar de ver as áreas protegidas como cus-
to e enxergá-las como um investimento para garantir equilíbrio
climático, chuvas e produção agrícola (...) O Brasil dá uma
contribuição para o mundo com suas florestas; isto precisa ser
reconhecido e apoiado.”
Essas observações são extremamente oportunas numa oca-
sião em que muitos, sem os conhecimentos necessários, defen-
dem mudanças do Código Florestal para reduzir as áreas com
florestas nas reservas legais, em margens de rios e nos terre-
nos acidentados, sem atentar para o que preceitua o conheci-
mento científico.
Natureza em perigo
Um dos mais conhecidos produtos extraídos das flo-
restas nativas é a castanha-do-pará, semente da casta-
nheira (Bertholletia excelsa), ou castanheira-do-pará,
árvore da Família Lecythidaceae e única espécie do gê-
nero. O fruto da castanheira é uma cápsula lenhosa ex-
tremamente dura e aproximadamente esférica, com 10
a 15 centímetros de diâmetro, provida de uma abertura
com uma espécie de tampa; as castanhas se desenvolvem
arrumadas dentro dessa cápsula. Quando os frutos ama-
durecem e caem, alguns roedores, especialmente as
cotias, roem a tampa e liberam as sementes, comendo
parte delas e enterrando as demais, que assim germinam
e regeneram a planta.
As castanheiras são polinizadas somente por um tipo de
abelha, que por sua vez depende para sua reprodução de de-
terminada orquídea. Dessa forma, a regeneração das casta-
nheiras é condicionada à existência dessas abelhas e da orquí-
dea, num encadeamento ecológico extremamente interessan-
te, mas que constitui uma vulnerabilidade para a existência
da espécie.
As castanheiras são árvores monumentais, encon-
tradas dispersas nas florestas de terra firme da Ama-
zônia, e são nativas das Guianas, Venezuela, Brasil e
parte leste da Bolívia e do Peru. No Brasil, existem no
Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará
e Rondônia, mas devido aos extensos desmatamentos
vêm-se tornando muito raras em vastas regiões do País,
embora estejam supostamente protegidas pela legisla-
ção. Hoje, a árvore somente é relativamente comum no
Suriname, Bolívia e Acre. Apesar de seu nome popular,
atualmente metade da produção total da castanha-do-
pará vem da Bolívia. Sabe-se da existência de planti-
os, em pequena escala, pelo menos no estado do Acre,
mas a quase totalidade da produção de castanhas pro-
vém das florestas nativas.
A castanheira é considerada ameaçada de extinção e clas-
sificada na categoria de “Vulnerável”, tanto na lista oficial
brasileira quanto na da IUCN.
Os peixes e a floresta
Já se sabia que alguns peixes amazônicos comedores de
frutos são importantes na distribuição de sementes e no
consequente rejuvenescimento da floresta, mas pesquisas re-
centes permitiram melhor avaliar seu verdadeiro papel nesta
função ecológica.
A pesquisadora Jill Anderson, da Universidade de Duke,
North Carolina, e sua equipe instalaram radiotransmissores
em 24 tambaquis (Colossoma macropomum) durante três chei-
as na região e monitoraram o tempo que os peixes mantinham
ingeridas as sementes. Os dados obtidos indicaram que as se-
mentes podem ser carregadas até 5,5 km, uma das maiores
distâncias conhecidas para animais que dispersam sementes.
Uma vez expelidas em águas rasas, elas germinam quando as
águas refluem e ajudam a reflorestar as margens dos rios.
A pesca excessiva dos tambaquis de grande tamanho, no
entanto, pode estar comprometendo esse meio natural de dis-
persão de sementes, de considerável importância para a ma-
nutenção e regeneração das florestas ripárias da região.
Outro peixe amazônico comprovadamente responsável por
dispersão de sementes na Amazônia é o cachorro-de-padre
(Auchenipterihthys longimanus), segundo foi constatado por
pesquisa realizada na Universidade Federal do Pará, financi-
ada pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Fonte: Nature 31-03-2011 e Ciência Hoje 01-06-2011
Costa Rica cria enorme parque marinho
A pequena Costa Rica, reconhecida como um dos países
mais preocupados com a conservação de sua flora e fauna,
expandiu uma área marinha já protegida no Pacífico para cerca
de um milhão de hectares.
Centrada na ilha de Cocos, que se situa a 550 km do con-
tinente, e denominada Área de Manejo dos Montes Subma-
rinos, a nova reserva é rica em tartarugas-de-couro
(Dermochelys coreacea), hoje fortemente ameaçadas de
extinção, e em tubarões-martelos, bem como outros tipos de
tubarões, atuns e espécies endêmicas, agora completamente
protegidas nas áreas de exclusão de pesca recentemente cri-
adas. O número das tartarugas-de-couro havia caído 40% na
região, em virtude principalmente da coleta de seus ovos, e
os tubarões-martelos também se encontram em acentuado
declínio devido às capturas visando à exportação de suas
nadadeiras para o Oriente.
Segundo um representante da ONG Conservation
International, que ajudou Costa Rica na criação da Área Ma-
rinha Protegida, ela contribuirá fortemente para conservar o
ecossistema único das montanhas submarinas existentes na
região.
É auspicioso constatar-se que a criação de Áreas Mari-
nhas Protegidas de grande extensão é uma forte tendência
em várias regiões do globo. Somente neste século, já foram
criadas as seguintes: Monumento Nacional Marinho
Papaanaumokuakea (2006, EUA, 360.000 km2), Área Ma-
rinha Protegida Ilhas Phoenix (2008, Kiribati, 408.250 km2),
Monumento Nacional Marinho Fossa das Marianas (2009,
EUA, 246.608 km2), Monumento Nacional Marinho Ilhas
Remotas do Pacífico (2009, EUA, 210.000 km2), Área Mari-
nha Protegida Ilhas Príncipe Edward (2009, África do Sul,
180.633 km2), Área Marinha Protegida Chagos (2010, Ter-
ritório Britânico do Oceano Índico, 544.000 km2) e Parque
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A Lavoura DEZEMBRO/2011 27
S O B R A PASOCIEDADE BRASILEIRA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
Marinho Motu Motiro Hiva (2010, Chile, 150.000 km2).
Encontram-se propostas ou em planejamento: Reserva
Marinha da Comunidade Britânica Comer Sudoeste (Pro-
posta para 2011, Austrália, 322.000 km2), Área Marinha
Protegida das Ilhas Cook (1.000.000 km2) e Área Marinha
Protegida em águas internacionais no Mar de Sargaços
(? 5.000.000 km2).
À vista desses exemplos, quando o Brasil, que se com-
prometeu internacionalmente a proteger 10% de suas águas
jurisdicionais, vai envolver-se nesse esforço de proteger a vida
marinha?
Fonte:Science 11-03-20 e MPA News
As florestas do mundo
Levantamento realizado pela FAO em 2010, abrangendo
233 países , indicou que existem no mundo um pouco mais de
quatro bilhões de hectares de florestas, representando cerca
de 30% das terras do planeta, o que corresponde a aproxima-
damente 0,6 hectares por habitante humano. Rússia, Brasil,
Estados Unidos da América, Canadá e China possuem mais
de metade da área total de florestas.
Embora 30% das terras do planeta seja uma extensão con-
siderável, é necessário levar em conta que a FAO define como
floresta quaisquer terras abrangendo mais de meio hectare,
dotadas de vegetação com altura superior a cinco metros e uma
cobertura de copa superior a dez por cento, ou de árvores com
capacidade de atingir esta altura in situ. Assim, plantações
homogêneas de árvores para fins comerciais podem ser inclu-
ídas na área total de florestas indicadas acima. Embora elas
contribuam com a efetivação de alguns serviços ambientais
prestados pelas florestas naturais, pouco significam em termos
de preservação da diversidade biológica.
Fonte: FAO, 2010. Global Forest Resources Assessment. Forestry Paper 163.
Pesca destrutiva
Segundo constatou um estudo patrocinado pela prestigio-
sa Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, em
inglês), a pesca desordenada não apenas dizimou as popula-
ções de várias espécies, tais como bacalhaus e atuns, mas tam-
bém alterou drasticamente a constituição da biomassa nos
oceanos do mundo.
Uma equipe da Universidade da Colúmbia Britânica, do
Canadá, analisou os modelos matemáticos de mais de 200
cadeias alimentares marinhas em torno do mundo, abrangendo
o período de 1880 a 2007, avaliou a distribuição de biomassa
nesses ecossistemas e extrapolou os resultados para todos os
oceanos. O resultado evidenciou dados alarmantes: a biomassa
total de peixes predadores – como, dentre outros, os atuns -
despencou em mais de dois terços nos últimos cem anos, sen-
do que 40% somente desde a década dos anos 70, enquanto que
a biomassa de suas presas, tais como sardinhas e afins, aumen-
tou globalmente cerca de 130%, a despeito de reduções regio-
nais.
A conclusão é que hoje temos um oceano diferente, no qual
o desequilíbrio nas cadeias alimentares não é saudável nem
sustentável. Mesmo que novos procedimentos de pesca susten-
tável sejam adotados mundialmente – algo improvável – não
poderemos prever quais serão as futuras condições de equilí-
brio a serem atingidas com a evolução dos ecossistemas hoje
afetados.
Fonte: Science, 25-02-2011
Aumenta a quantidade de carbono naatmosfera
No decorrer de 2010, o carbono atmosférico originado pe-
las atividades humanas alcançou o nível recorde de 30,6 bilhões
de toneladas, de acordo com estimativas divulgadas pela
Agência Internacional de Energia, em maio último. Esse to-
tal é superior em 5% ao recorde anterior, estabelecido em
2008. Em 2009, devido à crise econômica mundial, havia ocor-
rido uma pequena queda .
Verifica-se portanto que, apesar das repetidas advertências e
conferências internacionais sobre aquecimento global, a economia
mundial continua desprezando-as e aumentando as emissões de
CO2, o mais importante gás do efeito estufa. A situação asseme-
lha-se à de um carro que, aproximando-se de um precipício, con-
tinuasse a acelerar o motor ao invés de usar os freios.
Outros dados podem ser obtidos no endereço eletrônico
go.nature.com/rtgd7f.
A importância dos insetos
Segundo informação divulgada pelas Nações Unidas e
publicada na edição de 18-03-2011 da revista Science, a con-
tribuição dos insetos para a produção anual de alimentos,
consequente de sua ação como polinizadores, corresponde a 153
bilhões de euros. O informe decorreu de um estudo em que se
examinou o fenômeno de diminuição das abelhas em muitas
regiões do mundo e suas conseqüências para a agricultura. Não
foram indicados os parâmetros utilizados para chegar-se a tal
montante.
Essa notícia faz lembrar que as diferentes espécies de abe-
lhas nativas sem ferrão, existentes nos nossos ambientes na-
turais, estão em processo de acentuada redução em muitas
regiões em virtude do desmatamento. Se outras razões não
houvesse, isto bastaria para justificar a preservação de áreas
com vegetação nativa próximas aos cultivos.
Como se distribui a energia usada pelohomem
Em 2008, a energia total usada pelo homem para todos os
fins derivou de fontes muito díspares. A queima de combustí-
veis fósseis correspondeu, em conjunto, a 85,1%, distribuídos
da seguinte forma: petróleo – 34.6%, carvão - 28,4% e gás –
22,1%. A energia nuclear contribuiu com apenas 2,0% e aque-
las ditas renováveis, com 12,9%. No entanto, se excluirmos
destas o uso tradicional de biomassa (6,3%), as demais formas
de energia renovável ficariam com apenas 6,6% do total, as-
sim repartidas: biomassa não tradicional – 3,9%,
hidroeletricidade – 2,3%, energia eólica – 0,2%, energia solar
e geotérmica – cada uma com 0,1%, e energia oceânica –
0,002%.
Esses números mostram que os combustíveis fósseis – res-
ponsáveis pela maior parte do efeito estufa - geraram mais de
quatro quintos da energia total utilizada em 2008 e, assim,
evidenciam a enorme dificuldade para serem substituídas, em
curto prazo, as fontes produtoras do carbono atmosférico. No
que pesem as ameaças do aquecimento global, em todos os
cenários imaginados como viáveis os combustíveis fósseis con-
tinuarão a ter um papel importante nas próximas décadas, a
não ser que se reduza substancialmente o uso de energia, o que
levaria nosso tipo de civilização ao colapso.
Qual, então, poderá ser a saída?
Fonte dos dados numéricos: Nature 12-05-2011
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28 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
S O B R A PASOCIEDADE BRASILEIRA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
SOBRAPA
Sociedade Brasileira de Proteção Ambiental
CONSELHO DIRETOR
PRESIDENTE
Ibsen de Gusmão Câmara
DIRETORES
Maria Colares Felipe da Conceição
Olympio Faissol Pinto
Cecília Beatriz Veiga Soares
Malena Barreto
Flávio Miragaia Perri
Elton Leme Filho
CONSELHO FISCAL
Luiz Carlos dos Santos
Ricardo Cravo Albin
SUPLENTES
Jonathas do Rego Monteiro
Luiz Felipe Carvalho
Pedro Augusto Graña Drummond
Geologistas debatem se devemos criaruma nova época para marcar a atuaçãohumana no planeta
O tempo geológico é dividido em eóns, eras, períodos e
épocas, separadas por fatos geológicos ou biológicos que as
distinguem e deixam marcas nos sedimentos. Desde 11.700
anos atrás, quando se convencionou o fim da última
glaciação, vivemos na época denominada Holoceno. Contu-
do, os profundos impactos causados pela atuação humana
sobre o planeta estão levando alguns geólogos a proporem
o início de uma nova época, que seria denominada
Antropoceno. Esta denominação, sugerida no ano 2000, ain-
da não está formalmente aceita, mas já vem sendo usada
repetidamente.
Alguns acham a idéia prematura, ou mesmo sem sen-
tido, mas outros a defendem, uma vez que a presença hu-
mana evidentemente está deixando marcas muito profun-
das em todo o globo. A produção de alimentos, a urbaniza-
ção e outras formas de utilização dos espaços já alteraram
mais de metade das terras não cobertas pelo gelo. A movi-
mentação do solo e das rochas já ultrapassou em volume
os efeitos das alterações naturais, tais como erosão e
vulcanismo. Espera-se que no final deste século, devido às
maciças emissões de dióxido de carbono, a acidez devida
ao CO2 tenha alterado em 0,3 a 0,4 pontos o pH da água
do mar, afetando significativamente a composição dos se-
dimentos oceânicos.
Seja como for, o estabelecimento de uma nova época
vai depender de sua aceitação e oficialização pela Comis-
são Internacional de Estratigrafia, mas, de qualquer
forma, aceita ou não a ideia, é indiscutível que a passa-
gem do homem sobre a Terra, dure ela quanto durar,
deixará uma impressão indelével.
Perigoso precedente
Os Parques Nacionais são uma das mais rígidas cate-
gorias das áreas naturais protegidas, conhecidas oficial-
mente no Brasil como Unidades de Conservação. Sua ra-
zão de ser é proteger áreas onde o impacto humano seja o
menor possível, de modo a permitir que nelas a natureza
siga seu curso, viabilizando a sobrevivência dos
ecossistemas em sua integridade. Para isto, é indispensá-
vel que seus limites sejam mantidos imutáveis. A criação
das Unidades de Conservação é prevista na Constituição
Federal, que determina em seu Artigo 225 a definição, em
todas as unidades da Federação, de “...espaços territoriais
e seus componentes a serem especialmente protegidos, sen-
do a alteração e a supressão permitidas somente através de
lei...” . A verdadeira razão de ser das Unidades de Conser-
vação é constituírem bancos genéticos, onde a diversidade
da vida seja preservada em perpetuidade.
Em agosto de 2011, porém, a Presidente Dilma, por Me-
dida Provisória, alterou a demarcação dos denominados
Parques Nacionais da Amazônia, Campos Amazônicos e
Mapinguari, todos na Amazônia, e liberou a exploração mi-
neral no entorno de dois deles. Com a mudança, as
empreiteiras recebem autorização para estabelecer cantei-
ros de obras das usinas hidrelétricas de Tapajara, Santo
Antônio e Jirau.
A Usina de Tapajara, prevista no PAC, dependia da alte-
ração dos limites do P.N. Campos Amazônicos, e está prevista
para gerar 350 megawatts. O Parque perdeu 340 km2, mas foi
compensado por um aumento de 1.500 km2. O P.N. da Amazô-
nia e o P.N. Mapinguari perderam respectivamente 70 km2 e
280 km2, com a justificativa de que antes haviam recebido
ampliações.
Embora, no caso, as alterações de limites tenham sido
compensadas com acréscimos, o precedente é perigoso
porque o princípio de perpetuidade foi negligenciado. Se
for reduzido o território já estabelecido, mesmo compen-
sando a perda com inclusão de outra área, o ecossistema
sofrerá. Parques Nacionais podem receber acréscimos,
mas não devem estar trocando de lugar. Além disto, o
desrespeito à inviolabilidade serve de exemplo para ou-
tros casos futuros, em que compensações sejam ignora-
das.
Lamentavelmente, o descaso flagrante com as unida-
des de conservação e a falta de compreensão de sua enor-
me importância biológica vêm motivando disputas entre
ambientalistas e ruralistas. Recentemente o deputado
federal Moreira Mendes (PPS-RO) propôs uma “grande
campanha” para que novas unidades só sejam criadas
com autorização do Congresso Nacional. Se for aceita a
estapafúrdia proposta, com a “eficiência” conhecida do
nosso Congresso, o Brasil não cumprirá os compromis-
sos assumidos por ocasião da Conferência de Nagoya
para ampliar suas áreas naturais protegidas, uma ten-
dência mundial em um mundo cada vez mais
antropizado.
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A Lavoura DEZEMBRO/2011 29
VITICULTURA
A Produção Integrada de
Frutas irá atender à
sustentabilidade social
e à rentabilidade da
produção, tornando o
produtor mais competitivo
em um cenário de
economia globalizada
e mercados exigentes
em qualidade e segurança
do alimento
A Lavoura DEZEMBRO/2011 29
Produção integrada de uva:
maior valor agregado
no processamento
vitivinícola
Produção integrada de uva:
maior valor agregado
no processamento
vitivinícola
!ALAV687-29-33-Viticultura.pmd 4/11/2011, 09:3929
30 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
A viticultura ocupa uma área de aproximadamente
82,5 mil hectares no Brasil e produz 1,34 milhão
de toneladas de uva/ano. Deste volume, cerca da
metade (50,39%) é destinada ao processamento para a elabo-
ração de vinhos, sucos e outros derivados, sendo o restante
(49,61%) comercializado como uva de mesa.
Do total da uva processada, estima-se que 77% sejam usa-
das na produção de vinho de mesa e 9% na de suco de uva,
ambas elaboradas a partir de uvas de origem americana, es-
pecialmente as cultivares de Vitis labrusca e Vitis bourquina, ehíbridos interespecíficos diversos; e que cerca de 13% seja des-tinada à produção de vinho fino e espumante, elaborados comcultivares Vitis vinifera.
A produção de uva para processamento, conclui-se, é umimportante segmento gerador de emprego e renda no país,capaz de fornecer um produto com valor agregado – suco, vi-nho e espumante – que atrai divisas à nação. Prova disso é que,segundo dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), ex-portamos vinho para 22 países, destacando-se os Estados Uni-dos, Alemanha, Inglaterra e República Tcheca.
Essa condição só foi alcançada devido ao desenvolvimentode tecnologias de ponta no Brasil. Todavia, ela está ameaçadadevido ao rigor crescente do mercado externo em relação aprodutos de qualidade e saudáveis, em conformidade com osrequisitos da sustentabilidade ambiental e da segurança alimen-tar, mediante a utilização de tecnologias não-agressivas ao meioambiente e à saúde humana.Sistema da Produção Integrada de Frutas - PIF
A adoção do sistema PIF por parte dos viticultores e viníco-las é uma forma segura de vencer esses desafios. A ProduçãoIntegrada da Uva é definida como a produção econômica deuvas de alta qualidade, dando prioridade a métodos segurosdo ponto de vista ecológico, os quais minimizam os efeitos se-cundários nocivos do uso de agroquímicos, de modo a salva-guardar o ambiente e a saúde humana. Além disso, a PIF sur-giu para atender, também, à sustentabilidade social e à renta-bilidade da produção, tornando o produtor mais competitivoem um cenário de economia globalizada e mercados exigentesem qualidade e segurança do alimento.
A adoção da PIF, adicionalmente, proporciona outros be-nefícios aos produtores, por abranger princípios de sustenta-bilidade ambiental, permitindo o ajustamento de conduta jun-to a órgãos ambientais. Traz, ainda, uma grande contribuiçãopara a gestão da propriedade, já que direciona o produtor aorganizar e registrar suas informações, possibilitando análiseseconômicas mais pertinentes e confiáveis.
Para o consumidor, os produtos da PIF garantem a re-dução dos riscos de contaminação, sejam de ordem quí-mica (resíduos de agrotóxicos, micotoxinas, nitratos eoutros), física (solo, vidro, metais e outros) ou biológica(dejetos, bactérias, fungos e outros). Para atingir essesobjetivos é preciso seguir normas, desde o manejo dovinhedo até a embalagem do produto processado, passan-do pelo cuidado na colheita e no transporte.Qualidade e segurança
Em sintonia com uma preocupação setorial, diversas açõesvêm sendo organizadas pela Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária (Embrapa), para que seja possível se produzir commelhor qualidade e maior segurança para o produtor e para oconsumidor. Desde 1997, a Embrapa Uva e Vinho tem atuadocom o sistema de Produção Integrada (PI), possibilitando uma
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certificação que é aceita internacionalmente.O processo de certificação envolve a auditoria da empresa
ou produtor rural que produz a uva, o vinho e/ou o suco poruma empresa certificadora, a qual deve ser acreditada peloInstituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia(Inmetro) para esta finalidade. Dessa forma, a Produção Inte-grada preconiza que todo o sistema de produção, desde a pro-dução da uva no campo, até a elaboração do vinho ou do suco,passe por um processo de avaliação de conformidade com oscritérios descritos nas Normas da Produção Integrada de Uvapara Processamento, permitindo receber o selo da ProduçãoIntegrada somente aqueles produtores ou vinícolas que aten-dem todos os pré-requisitos.
VITICULTURA
SAMAR VELHO DA SILVEIRA
ENGENHEIRO AGRÔNOMO, MESTRE E DOUTOR EM FITOTECNIA
PESQUISADOR EMBRAPA UVA E VINHO
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A Lavoura DEZEMBRO/2011 31
VITICULTURA
31 OUTUBRO/2011 A Lavoura
nhedos da Serra Gaúcha e da Campanha. Os primeiros resulta-dos foram obtidos na safra 2011, culminando no processamentoda matéria-prima – elaboração de suco ou vinho, de acordo coma cultivar – e na realização de análises multirresíduos na uva,no suco e no vinho.
A análise multirresíduo visa detectar a eventual presençade resíduos químicos na uva e em seus produtos, sendo que arelação de moléculas químicas analisadas segue a legislaçãovigente. Nesse sentido, o Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento (MAPA) atualiza periodicamente os limites má-ximos de resíduos e de contaminantes tolerados para fins demonitoramentos de agrotóxicos, através da publicação, noDiário Oficial, de Instruções Normativas. Dessa forma, sabe-se quais os princípios ativos proibidos, os permitidos e em queníveis podem estar presentes nos alimentos.Manuais técnicos
Neste ano, foram instaladas novas parcelas de validaçãodas Normas da Produção Integrada de Uva para Processamentono Vale do São Francisco e no Estado do Paraná. Em comple-mentação a estas atividades, estão sendo preparados manu-ais técnicos a serem utilizados em futuros cursos de capacita-ção para técnicos que atuarão junto a produtores de uvas e avinícolas. Estes manuais contêm a informação técnica neces-sária para implantar o sistema de Produção Integrada, desde ainstalação do vinhedo – passando pelo manejo do solo e da plan-ta – e a colheita, até o processamento da uva na vinícola.Estruturação do Projeto da Embrapa
O Projeto da Embrapa irá elaborar, validar e disponibilizar àsociedade brasileira as Normas Técnicas da Produção Integra-da de Uva para Processamento – Vinho e Suco (Normas PIUP).Ele contempla vinte e duas atividades, distribuídas em quatroplanos de ação (Gestão do Projeto; Elaboração e Harmonizaçãodas Normas; Transferência de Tecnologia via Unidades de Vali-dação; Articulação e Sensibilização de Agentes de Mídia paraExternalização do Sistema PIUP). O projeto abrangerá quatroregiões – Serra Gaúcha, Campanha (RS), Vale do São Franciscoe Estado do Paraná.
Nestas regiões, está prevista a instalação de parcelas ex-perimentais, onde serão avaliadas as cultivares mais impor-tantes de uva, de acordo com sua representatividade de culti-vo, seguindo o seguinte esquema:
- Grupo 1: Vinhos finos (Vitis vinifera) – Serra Gaúcha,Campanha, Lagoa Grande (PE) e Casa Nova (BA);
- Grupo 2: Vinhos de mesa e suco (Vitis labrusca) – SerraGaúcha e Paraná.
No Rio Grande do Sul, foram instaladas, em meados de2010, quatro parcelas experimentais, também denominadasunidades demonstrativas, localizadas em:
- Flores da Cunha: vinhedo cultivar Merlot, da Vinícola LuizArgenta; Caxias do Sul: vinhedo cultivar Isabel, de RodrigoFormolo, viticultor associado à Cooperativa Vitivinícola NovaAliança; Garibaldi: vinhedo cultivar Concord, de Selmar Cor-bellini, viticultor associado à Empresa Tecnovin e Santana doLivramento: vinhedo cultivar Cabernet Sauvignon, da VinícolaAlmadén.
No Estado do Paraná e no Vale do São Francisco, as unida-des demonstrativas já estão sendo instaladas de acordo com aseguinte localização:
- Araucária (PR): vinhedo cultivar Bordô, de Nelson Bertu-lucci, viticultor assistido pela Emater-PR; Almirante Tamandaré(PR): vinhedo cultivar Bordô, de Mauro S. Perussi, viticultor as-sistido pela Emater-PR; Lagoa Grande (PE): vinhedo cultivarTempranillo, da Vinícola Ducos; e Lagoa Grande (PE): vinhedocultivar Syrah, da Vinícola Santa Maria.
Uva da cultivar Merlot, na vinícola
Luiz Argenta, no município de
Flores da Cunha/RS
Exigência do mercadoA avaliação de conformidade é uma exigência de mercado,
a qual assegura a qualidade e a inocuidade do produto, possi-bilitando o controle e a rastreabilidade hábil e permanente detodo o sistema e do processo produtivo. O processo de certifi-cação permite, portanto, o acesso a mercados externos, osquais são reconhecidamente exigentes em termos de segurançaalimentar.
Após diversos outros processos de certificação para frutas,como a maçã, o pêssego, a uva de mesa, a manga e o mamão,a uva para processamento está sendo trabalhada em um pro-jeto coordenado pela Embrapa e com a parceria de diversasinstituições e empresas privadas. Este projeto abrange os polosde viticultura de clima temperado, tropical semiárido e sub-tropical do Brasil, representados, respectivamente, pelo Esta-do do Rio Grande do Sul, pelo Vale do São Francisco e pelo Es-tado do Paraná.
No Rio Grande do Sul, o projeto iniciou-se na metade de2010, com a instalação de quatro áreas de validação em vi-
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32 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
Ações previstas• Elaboração e Harmonização das Normas -
Esta etapa do projeto visa à elaboração eharmonização das Normas Técnicas da Produção In-tegrada de Uva para Processamento. Para estefim, pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho eEmbrapa Semiárido elaboraram as referidasNormas, as quais foram posteriormenteapresentadas ao setor produtivo para suadiscussão e harmonização.
As Normas Técnicas da Produção In-tegrada de Uva para Processamento con-templam 15 áreas temáticas, as quaisabrangem todas as etapas do sistemade produção da uva e do seu processa-mento. Cada área contém práticas obri-gatórias, recomendadas, permitidas,com restrição e proibidas. Sua impor-tância reside no fato de constituir-seem documento regulamentador espe-cífico para a cultura da uva para proces-samento, vindo a nortear todas as prá-ticas adotadas dentro do sistema. Por-tanto, o documento, além de dar asdiretrizes para a produção de ali-mentos seguros à saúde hu-mana, conterá as leis que re-gem a Produção Integrada deFrutas no Brasil. Nele, asempresas certificadoras de-verão se basear para estabelecer a conformidade, ou não, daspráticas adotadas no vinhedo e na vinícola por aqueles que de-sejarem receber o selo da PI.
• Transferência de Tecnologia via Unidades de Valida-
ção - A experiência da Embrapa em projetos de produçãointegrada tem demonstrado que a forma mais eficiente detransferir tecnologia aos produtores rurais é através da ins-talação de unidades de validação, onde o produtor observae vivencia diariamente a aplicação do sistema. Nesse con-texto, o viticultor adquire confiança e sente-se seguro paraadotá-lo na sua propriedade. Por outro lado, as unidades devalidação também servem para detectar e corrigir as possí-veis falhas do sistema, as quais somente são detectadasquando o Sistema da Produção Integrada está sendo aplica-do no campo.
No Sistema da Produção Integrada, prevalecem as normase critérios de manejo definidos na Instrução Normativa MAA20/2001 e Instrução Normativa MAA 11/2003, as quais norteiam
a elaboração das Normas PIUP e quetêm como principais características:
• O manejo da cultura devemaximizar a entrada de luz no dosselvegetativo, promover o desenvolvi-
mento equilibrado das plantas, per-mitir a produção de fruta de alta
qualidade e regular a produção deacordo com a capacidade das
plantas;• Os agroquímicos somen-
te podem ser utilizados quan-do indicados pelos resultados
de análises, do monitoramentode pragas e moléstias ou quan-
do recomendados pelos técnicosresponsáveis, mas desde que este-
jam registrados para a cultura noMapa e que sejam respeitadas as do-
ses de aplicação e os prazos de carênciaconstantes do rótulo do produto. Nas fo-tos abaixo, é possível visualizar o moni-
toramento de pragas e moléstias que éadotado nas parcelas da Produção In-tegrada de Uva para Processamento;
• Adoção de práticas queminimizam o impacto ambientale de critérios (relevo, clima, solo,
segurança ambiental e alimentar) desde a escolha da áreapara plantio do vinhedo até o processamento da uva na vi-nícola, visando à redução dos riscos de contaminação quí-mica (resíduos de agrotóxicos, micotoxinas, nitratos e ou-tros), física (restos de vidro, metais e partículas de solo)e biológica (fungos, bactérias, dejetos e outros).
Externalização do Sistema de Produção Integrada de Uva
para Processamento - Após a conclusão da etapa de elabora-ção e validação das normas, o sistema será transmitido à ca-deia produtiva da uva e do vinho e à sociedade brasileira, atra-vés da realização de cursos de capacitação de técnicos, diasde campo, seminários e distribuição dos manuais técnicos queorientam e embasam a adoção do sistema, bem como por meioda publicação de artigos na mídia.Duração do projeto e parceiros
O projeto tem previsão de duração de três anos e meio:teve início em meados de 2010 e término no final de 2013.
Um importante conjunto de instituições, empresas pri-vadas e cooperativas do setor vitivinícola aporta a este pro-
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VITICULTURA
Colheita de uva da variedade Cabernet Sauvignon em parcela
da Produção Integrada, na Vinícola Almadén,
em Santana do Livramento, em 2011
Monitoramento de pragas e doenças na PI: à esquerda, armadilha modelo do tipo McPhail, para captura dos adultos da mosca-das-
frutas do gênero Anastrepha; no centro, armadilha modelo Delta, para captura de adultos da traça-dos-cachos (Cryptoblabes gnidiella);
à direita, dano do besouro desfolhador (Maecolaspis aenea) nas bagas
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A Lavoura DEZEMBRO/2011 33
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Embrapa inicia pesquisa
sobre compostos bioativos em
bagaço de uvas
A Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro, RJ) ini-
ciou atividades de pesquisa que visam “extrair do bagaço
de uvas compostos bioativos, como o resveratrol e outras mo-
léculas, que possam contribuir para saúde e desenvolver bebi-
das lácteas e sucos de frutas com estes compostos funcionais
de interesse comercial e industrial”, explica a pesquisadora
Lourdes Maria Correa Cabral, líder do projeto extração e uso
de substâncias de interesse comercial e industrial a partir de
do. O projeto vai aperfeiçoar a técnica de separação do caroço
do bagaço e os processos de extração e refino do óleo da se-
mente da uva, garantindo seu aproveitamento. Os resíduos da
indústria vinícola e de sucos ganharão aproveitamento econômi-
co e para os produtores, mais opções de renda.
Fases
Na primeira fase, serão realizados estudos de extração de
compostos com atividade biológica (bioativos) dos bagaços por
meio de extração com solvente e enzimática, além de estu-
dos de extração de óleo das sementes presentes no bagaço.
Pretende-se, no primeiro ano do projeto, aperfeiçoar o pro-
cesso de extração no que diz respeito à atividade antioxidan-
te em cada um dos extratos. Será verificado o nível de ativida-
de antioxidante e o teor de antocianinas para saber qual é o
mais interessante do ponto de vista funcional.
Em uma segunda fase, as instituições parceiras vão realizar
estudos e testes com os extratos e desenvolver os produtos.
Participam do projeto pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho
(Bento Gonçalves, RS), Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral, CE)
e quatro grupos de pesquisa da Universidade Federal do Rio
de Janeiro – Escola de Química, Grupo de Bioquímica Médica,
Instituto de Microbiologia e Grupo Ciência de Alimentos. Além
da parceria de instituições de ensino e pesquisa, o projeto
conta com a participação da Vinícola Aurora e da Tecnovin,
empresas produtoras de vinhos e suco de uva com expressiva
participação no mercado, sediadas no Rio Grande do Sul.
JOÃO EUGÊNIO - EMBRAPA AGROINDÚSTRIA DE ALIMENTOS
jeto o apoio do setor produtivo, disponibilizando suas áre-as de vinhedos ou de seus fornecedores e associados paraa implementação das Estações de Validação das NormasPIUP, além de vários insumos empregados na produção deuvas, de mão-de-obra especializada e de logística de trans-porte. Também o meio acadêmico e a área de extensão,além do governo federal, oferecem suporte. Compõem talgrupo a Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Gran-de do Sul (Fecovinho), a União Brasileira de Vitivinicultura(Uvibra), o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e o Insti-tuto do Vinho do Vale do São Francisco (Vinhovasf); a em-presa Tecnovin, além das vinícolas Almadén, Luiz Argenta,Ducos e Santa Maria; a Cooperativa Central Nova Aliança(Coocenal); e ainda a Universidade Federal do Rio Grandedo Sul (UFRGS), Emater-PR e Ministério da Agricultura, Pe-cuária e Abastecimento (MAPA).
Ao MAPA, representado por seus agentes federais, cabeacompanhar todas as etapas do projeto, analisar as questõesque envolvem a legislação do país e a conformidade dos proce-dimentos a serem preconizados nas Normas PIUP e os adota-dos na realização das análises multirresíduos. Além disso, após
a validação das Normas PIUP a campo, são os responsáveis pordar continuidade aos procedimentos legais até a publicação dasNormas no Diário Oficial da União.Mais competitividade
A concretização deste projeto proporcionará mais compe-titividade ao setor da uva e do vinho, seja pelo aumento daqualidade de seus produtos, seja pelo marketing positivo queo sistema possibilita. Com isso, busca-se atender à satisfaçãodo consumidor, que está cada vez mais exigente, e o acesso anovos mercados.
No entanto, para a manutenção destes benefícios, apósa publicação das Normas da Produção Integrada de Uvapara Processamento no Diário Oficial, torna-se necessá-ria a criação de um comitê a fim de atualizar o sistemaanualmente, principalmente quanto à Grade de Agroquí-micos, à adoção de novas práticas ao sistema e àharmonização dessas Normas com as adotadas pelos prin-cipais países importadores.
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coprodutos gerados na produção de
vinhos e suco de uva. O projeto vai
trabalhar com resíduos do proces-
samento de suco de uva, vinho tin-
to e vinho branco e também vai es-
tudar a extração de óleo dos caro-
ços presentes no bagaço. O óleo da
semente de uva tem alto valor agre-
gado e é muito utilizado na indús-
tria de cosméticos, cada vez mais in-
teressada em utilizar ingredientes
naturais, mas ainda não é extraído
do resíduo da uva, sendo descarta-
VITICULTURA
O óleo do resíduo da uva
ainda é descartado, mas pode
ter aproveitamento econômico
Processo de microvinificação da uva feita na Cantina Experimental da
Embrapa: à esquerda, as uvas despejadas na desengaçadeira... vão para o
minitanque de fermentação, onde se inicia o processo de maceração... e os
garrafões de vidro onde ocorrem os processos de fermentação (tumultuosa à
esq e lenta à dir) em Bento Gonçalves, RS
!ALAV687-29-33-Viticultura.pmd 4/11/2011, 09:3933
34 OUTUBRO/2011 A Lavoura
A Monsanto está em fase de multiplicação de uma semente
de soja transgênica inédita no mundo, resistente a ervas da-
ninhas e a insetos, desenvolvida especialmente para o Brasil,
e poderá lançá-la comercialmente nas próximas safras. A soja
Intacta RR2 Pro foi aprovada em 2010 pela Comissão Técni-
ca Nacional de Biossegurança (CTNBio).
“A nova soja foi desenvolvida pensando na produção no Bra-
sil, onde as plantas daninhas e as pragas são os principais entra-
ves para a produção agrícola. Nesta fase de desenvolvimento,
fazemos melhoramento genético de novas cultivares para ter o
registro. Em paralelo, começamos a produção de sementes para
disponibilizar ao agricultor,” afirmou Geraldo Berger, diretor de
Regulamentação da empresa. Segundo ele, a Monsanto já está
multiplicando as sementes para conseguir ter um volume que
considera suficiente para as principais regiões produtoras, e so-
mente depois fará o lançamento no país. “Logo que tiver-
mos volume suficiente, a soja será lançada em 2012/13”, esti-
ma Berger. “Vamos fazer um trabalho bastante grande na próxi-
ma safra com agricultores, para que eles conheçam a tecnolo-
gia” acrescentou.
Quando chegar ao mercado, a soja será mais uma al-
ternativa para produtores reduzirem os gastos com de-
fensivos na lavoura. O diretor evitou comentar sobre
eventuais ganhos de produtividade com a nova soja, di-
zendo apenas que os testes são “promissores”: “se al-
guém tem o controle de plantas daninhas e resistência a
insetos, protegendo a planta desses fatores, é possível
ampliar o potencial produtivo, com a expectativa de um
aumento da produtividade em função dessas caracterís-
ticas”, pondera.
Segundo a estimativa do diretor da consultoria Céleres,
Anderson Galvão, a Monsanto tem prometido um ganho de pro-
dutividade de 8% com a nova soja, que deverá ser plantada
para multiplicação em cerca de 60 mil hectares em 11/12.
Berger afirma ainda que a forma de trabalho com a soja
Roundup Ready, resistente ao herbicida glifosato, repetiu-se:
o estabelecimento de parcerias entre a Monsanto, outras em-
presas de melhoramento genético e produtores de sementes
para desenvolver o novo produto, que oferece, além do RR, a
tecnologia Bt, de proteção contra insetos. Segundo a Céleres,
na safra 11/12 a soja RR, plantada em larga escala no Brasil
há vários anos, estará presente em 82,7 % das lavouras do
Brasil, em uma área de 20,8 milhões de hectares, contra 18,4%
na temporada 2011.Fonte: Agrolink
Monsanto multiplica soja inédita
À direita, a soja RR2 foi desenvolvida para resistir a ervasdaninhas e insetos no Brasil
Brasil se torna centro de
negócios para transgênicosEm cinco anos, o Brasil se consolidou
como segundo maior produtor de grãos
transgênicos do mundo, atrás apenas dos
EUA, e se transformou em um centro de
negócios para as indústrias de sementes
geneticamente modificadas (GMs).
Quem elogia as mudanças que fize-
ram da produção transgênica uma ban-
deira nacional são os representantes das
indústrias e os pesquisadores, que criti-
cavam a lentidão na aprovação das se-
mentes. Eles comemoram o quadro atu-
al como uma vitória de organizações
como o Conselho de Informações sobre
Biotecnologia (CIB) que ctem entre seus
29 associados as indústrias multinacio-
nais Monsanto, Syngenta, Basf e Bayer,
principais investidores do setor.
O país aprovou 33 sementes GMs
desde 1998 – 23 delas nos últimos três
anos. O sistema de avaliação deslanchou
depois da criação da Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança (CTNBio), em
2005. Os 27 membros da organização
estão levando menos de um ano para li-
berar a produção comercial de organis-
mos geneticamente modificados. “O
Brasil vive um novo momento desde
2005. A CTNBio tem feito um trabalho
exemplar na avaliação e liberação de se-
mentes seguras para o consumidor e o
meio ambiente”, disse a diretora-exe-
cutiva do CIB, Adriana Brondani. Ela de-
fende que o país se tornou referência não
apenas por tomar decisões mais rapida-
mente, mas também por ter adotado um
marco regulatório estruturado.
Apesar de ter aprovado a importação
de 36 tipos de transgênicos para consu-
mo humano e produção de ração animal,
a maior parte da União Europeia proíbe
o cultivo de transgênicos, informa Sylvia
Burssens, pesquisadora da Universidade
de Gent (Bélgica).
Cobranças à CTNBio - Contudo, a
atuação da CTNBio)vem sendo forte-
mente questionada por pesquisadores e
representantes de organizações que de-
fendem o ambiente e os direitos dos con-
sumidores. “A CTNBio nunca negou um
pedido de liberação comercial de um
transgênico”, questiona Ana Carolina
Brolo de Almeida, advogada da Terra de
Direitos, organização que estuda entrar
na Justiça Federal contra a liberação do
feijão transgênico da Embrapa, que ocor-
reu em 15 de setembro. “Estamos
aguardando prazo de 30 dias que as en-
tidades de registro e fiscalização possu-
em para possível apresentação de recur-
so junto ao CNB (Conselho Nacional de
Biossegurança)”.
O próprio Conselho Nacional de Se-
gurança Alimentar (Consea) colocou em
xeque a liberação do feijão. Para o pre-
sidente do Consea, Renato Maluf, faltam
estudos para provar que a semente re-
sistente ao mosaico dourado – principal
doença do feijoeiro – é segura para a saú-
de e o ambiente. Na votação da CTNBio,
15 membros foram favoráveis, dois se
abstiveram e cinco disseram que falta-
vam estudos, pedindo diligências. Mes-
mo assim, a liberação foi considerada
válida.
Por outro lado, as 33 liberações de se-
mentes permitiram que os transgênicos
passassem a cobrir mais da metade dos
50 milhões de ha destinados pelo país à
produção de grãos (2/3 da área da soja
e 2/3 do plantio de milho de inverno,
além de metade da área do milho de ve-
rão). A tecnologia facilita o controle de
ervas daninhas e insetos, mas não im-
plica necessariamente em redução de
custos ou no uso de agrotóxicos.Fonte: Agrolink
!ALAV687-34-Biotecnologia.pmd 19/11/2011, 07:0934
A Lavoura DEZEMBRO/2011 35
VITICULTURA
Cultivo protegido de uva
aumenta produtividade
em 100%
Sistema que utiliza cobertura
impermeável reduz também
incidência de doenças em até 70%
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Cultivo protegido de uva
aumenta produtividade
em 100%
A Lavoura DEZEMBRO/2011 35
!ALAV687-35-37-Viticultura.pmd 4/11/2011, 09:4235
36 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
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O IAC
Aumento de 100% na produtivi-
dade e redução de 70% na apli-
cação de defensivos agrícolas.
Esses são os resultados do uso do cul-
tivo protegido em “Y” com cobertura
impermeável para plantio de videiras.
A técnica, introduzida e adaptada pelo
Instituto Agronômico (IAC), de Campi-
nas, para as condições do Estado de São
Paulo, poderá substituir, mesmo que
gradativamente, a condução em
espaldeira a céu aberto para cultivo da
uva niagara rosada, sistema muito uti-
lizado pelos produtores paulistas.
A nova técnica, resultante de traba-
lho do IAC, melhora ainda a qualidade
dos frutos, gera cachos de uva maiores
e protege a plantação contra chuvas de
granizo e ataque de pássaros, que po-
dem acabar com toda a produção ou pre-
judicar seriamente a qualidade das uvas
atingidas. O estudo é inédito no Estado
de São Paulo.
Diminuição de pragas
A principal contribuição do cultivo
protegido está na diminuição da ocor-
rência das principais doenças da viticul-
tura. “O uso de cobertura de plástico ou
de outro material impermeável prote-
ge as folhas e cachos da incidência di-
reta da chuva e, consequentemente,
reduz as condições que favorecem o de-
senvolvimento de doenças fúngicas”,
diz José Luiz Hernandes, pesquisador do
IAC, da Secretaria de Agricultura e Abas-
tecimento do Estado de São Paulo.
Ainda segundo Hernandes, a cober-
tura impermeável funciona como um
guarda-chuva sobre a videira e os fun-
gos não têm como se instalar, já que não
há água livre sobre as plantas. “Em
ensaios que foram conduzidos sem ne-
nhuma pulverização para controle de
antracnose, míldio, mancha-das-folhas
e podridão, que são as principais doen-
ças da uva niagara rosada, constatou-
se a redução de 60% a 70% da ocorrên-
cia de enfermidades”, afirma o pesqui-
sador do IAC.
Neste mesmo percentual é a queda
do uso de defensivos agrícolas. “Essa
redução, além do retorno financeiro de-
vido à baixa do uso de defensivos, eco-
nomia de mão-de-obra, combustível e
diminuição do desgaste de equipamen-
tos, gera ainda um retorno que, em ge-
ral, não é capitalizado, como a prote-
ção do meio ambiente e também um
ganho humano, tanto para a saúde dos
aplicadores como dos consumidores fi-
nais”, explica Hernandes.
Normalmente, os produtores utili-
zam o sistema de condução em
espaldeira a céu aberto (parecido com
uma cerca com três fios de arame) para
o cultivo da uva niagara rosada. Neste
método, as parreiras ficam um pouco
mais baixas e são distribuídas pelas ruas
de maneira uniforme. Os ramos anuais
são conduzidos na vertical e precisam
ser amarrados aos fios de arame para
não serem derrubados ou quebrados
pelos ventos ou pelo peso da uva. “No
sistema em Y, os ramos ficam quase na
horizontal e deitam-se naturalmente
sobre os arames. Com isso, reduz-se a
necessidade de amarrio para que eles
não caiam e ainda os desestimula a bro-
tar – por não ficarem mais na horizon-
tal – reduzindo também a necessidade
de desbrota das plantas, uma operação
que demanda muitas horas de trabalho
no vinhedo”, diz o pesquisador do IAC.
Na videira, no sistema usual, os
cachos ficam a uma altura entre 80 cen-
tímetros a um metro do solo, enquanto
no “Y”, ficam entre 1,5 m e 1,8 m. De
acordo com o pesquisador do IAC, a di-
ferença na altura das parreiras também
reflete na ocorrência de doenças.
“Quanto mais próximo do chão, mais
perto a planta fica da umidade e do
calor refletido e, com isso, há maior
incidência de doenças. Se a planta fica
mais alta e mais ventilada, esse índice
vai diminuir”, explica.
A
Ao proteger as folhas da incidência direta da chuva, a
cobertura diminui o ataque dos fungos e outras doenças
!ALAV687-35-37-Viticultura.pmd 4/11/2011, 09:4236
A Lavoura DEZEMBRO/2011 37
Redução no custo de produção
Os cachos das uvas também ficam
mais afastados por conta da disposição
dos ramos, separados com metade para
cada lado do “Y”. Segundo o pesquisador
do IAC, essa característica também influ-
encia a aplicação de defensivos e a pro-
dutividade. “Na uva, se os cachos ficam
muito próximos, quando você aplica o
defensivo, um vai impedir que o outro
receba o produto aplicado. Quanto à pro-
dutividade, se os ramos estão mais aber-
tos, as gemas ficam mais expostas à luz
solar. Isso altera a fisiologia da uva e es-
timula a produção”, explica Hernandes.
Com a diminuição no número de
aplicação de defensivos, redução da
desbrota e amarrio, o cultivo protegido
em “Y” otimiza o tempo para o cuida-
do com a plantação, reduzindo signifi-
cativamente a mão de obra utilizada e
influenciando positivamente no custo de
produção.
“A circulação dentro do vinhedo é
facilitada possibilitando a mecanização
de diversas operações, desde a aplica-
ção de defensivos por turbina, aduba-
ções, até a circulação de pequenos ve-
ículos na colheita. Some-se ainda o
maior conforto do agricultor ao realizar
as tarefas com o corpo em posição mais
ereta, na sombra e protegido da chu-
va”, acrescenta.
O sistema já está sendo implanta-
do em alguns municípios paulistas,
como Louveira, Jundiaí, Indaiatuba e
Itupeva. “Há um aumento da procura de
informações por parte dos produtores.
Eles estão percebendo a vantagem do
cultivo protegido em “Y” e querem im-
plantar em seus vinhedos, por isso já
estamos trabalhando na edição de um
boletim técnico sobre o assunto”, co-
menta Hernandes.
Investimento
O custo inicial para implantação do
sistema é elevado. Para plantar um hec-
tare de espaldeira a céu aberto o pro-
dutor investe em média R$ 30 mil. No
sistema protegido em “Y” com cober-
tura impermeável, o valor pode chegar
a R$ 70 mil. “Pelo valor mais elevado
do investimento, a recomendação é que
o produtor faça a conversão aos poucos,
ao longo dos anos”. Hernandes ressal-
ta que o investimento é recuperado em
pouco tempo por conta da maior produ-
tividade e menores gastos com defen-
sivos e mão-de-obra.
ARQ
UIV
O IAC
O material utilizado para colocar em
cima da estrutura é o filme plástico
impermeável, a ráfia plastificada ou o
telado plástico. Este último não é im-
permeável e perde a principal vantagem
que é a diminuição de doenças.
O pesquisador do Instituto Agronômi-
co alerta para a necessidade do uso de
quebra-ventos nos vinhedos que adotam
a técnica. “Devido à altura de 1,5m do
telado, é necessário utilizar quebra-ven-
to que pode ser tanto natural, como a
plantação de renques de plantas altas,
como artificial, com a colocação de tela.”
Qualidade das uvas
As uvas cultivadas em sistema pro-
tegido têm qualidade superior às plan-
tadas a céu aberto. Com o aumento no
tamanho das bagas, os cachos também
ficam maiores, e com menos resíduos
de defensivos, deixando o produto mais
atraente para o consumidor.
O Estado de São Paulo é o maior pro-
dutor e consumidor de uvas de mesa no
Brasil. A niagara rosada, destinada ao
consumo in natura, é a mais cultivada
no Estado – cerca de cinco mil hectares
plantados.
CARLA GOMES – ASSESSORA DE IMPRENSA DO IAC E
FERNANDA DOMICIANO – ESTAGIÁRIA
ARQ
UIV
O IAC
A maior exposição ao sol
estimula a produção
Os cachos no sistema
protegido são maiores,
mais atraentes para
o consumidor
VITICULTURA
!ALAV687-35-37-Viticultura.pmd 4/11/2011, 09:4237
38 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
Depois de formar seu primeiro rebanho adaptado da raça caracu, a Embrapa
Gado de Corte, com sede em Campo Grande, MS, agora investe no resultado
da cruza entre as raças red poll e senegal n’dama: o gado senepol
PESQUISA
Raça bovina americana é foco de melhor am
O senepol foi desenvolvido nos Estados Unidos e tem
pelagem curta, cor avermelhada, resistente a
parasitoses, carne marmorizada, precocidade sexual
e bom acabamento. A venda de sêmen tem crescido nos
últimos anos, o que indica um resultado satisfatório obti-
do pelos usuários. O senepol é uma raça adaptada ao ca-
lor, resistente às doenças tropicais, fértil, que apresenta
bom acabamento de carcaça e carne de boa qualidade -
macia e suculenta, bem ao gosto do consumidor.
Formação do rebanho
Esta nova opção em trabalhos de melhoramento gené-
tico em rebanhos adaptados da Embrapa teve a colabora-
ção de dois criadores da raça em Mato Grosso do Sul, os
pecuaristas Roberto Coelho, da fazenda San Francisco, e
de Ivo Reich, da fazenda CMI. “A colaboração desses cri-
adores foi fundamental para a formação do rebanho puro
de origem importada (POI). Os animais serão utilizados em
pesquisas da Embrapa e como unidade demonstrativa do
programa de melhoramento da raça senepol”, informa o
pesquisador Roberto Torres, supervisor dos trabalhos. Se-
gundo Torres, a Embrapa Gado de Corte já fez pesquisas
com a raça senepol, tendo sido utilizada em avaliações de
cruzamentos de raças taurinas adaptadas e um teste de
touros em parceria com a associação americana de cria-
dores de senepol.
Os pecuaristas que se dispuseram a colaborar com a Em-
brapa colocaram suas melhores matrizes para coleta de
ovócitos (células sexuais produzidas nos ovários dos ani-
mais), doaram o sêmen de reprodutores, de materiais uti-
lizados na sincronização das receptoras. Depois, fizeram
parceria para a realização da maturação dos ovócitos e co-
briram custos diversos, como o de transporte para a cole-
ta e de mão-de-obra especializada. Esta foi utilizada para
realizar trabalhos como de acasalamentos das doadoras,
inoculação dos embriões, diagnóstico de gestação e
sexagem dos embriões. “Coube à Embrapa disponibilizar
as matrizes utilizadas como receptoras e executar o ma-
nejo dos animais durante o processo de implantação. Sem
dúvida, uma parceria digna dos resultados proporciona-
dos”, declara Roberto Torres. O pesquisador informa tam-
bém que foram implantados 121 embriões. Destes, resul-
taram 31 prenhezes de machos e 22 de fêmeas. Estas pre-
nhezes, explica Torres, são oriundas de 17 das 24 vacas
coletadas e de 10 touros diferentes. “Se considerarmos
também os “avôs” maternos, temos um total de 19 touros
diferentes o que ajudará o rápido estabelecimento do re-
banho senepol da Embrapa”.
Os animais oriundos destas prenhezes se unirão àque-
les provenientes do cruzamento absorvente com o senepol
que serão apresentados para registro. A expectativa da Em-
brapa é estabelecer um rebanho de 100 matrizes puras da
raça senepol.
O crescimento da raça no Brasil
A raça senepol foi introduzida no Brasil em 1999 e hoje
a estimativa é de que existam 15 mil animais registrados
no país. O número de animais dessa raça tem crescido no
O
Rebanho Senepol
da fazenda CMI
ARQ
UIV
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MBRA
PA
38 DEZEMBRO/2011 A Lavoura Senepol: raça foi introduzida no Brasil em 1999
!ALAV687-38-39-Pesquisa.pmd 4/11/2011, 09:4338
A Lavoura DEZEMBRO/2011 39
PESQUISA
hor amento pela EmbrapaBrasil e prestado uma importante contribuição na melhoria
genética da raça nelore via cruzamento. A informação é do
pesquisador Gilberto Romeiro Menezes, que trabalha no
Núcleo do rebanho da Embrapa juntamente com Roberto
Torres. “A Embrapa começou a trabalhar com melhoramento
genético da raça há dois anos, trabalho no qual são avali-
adas características de reprodução, desempenho e quali-
dade de carne”, explica Menezes. Ainda segundo pesqui-
sadores, um aspecto positivo é de que esses animais con-
seguem, com certa facilidade, montar nas vacas nelore e
assim fazer o cruzamento sem problema.
Espaço conquistado pela raça: vários fatores
O espaço na pecuária brasileira conquistado pela raça
está ligado a uma série de fatores, entre eles a fertilida-
de, adaptabilidade, eficiência reprodutiva, produtividade
e qualidade da carne, características necessárias para o
sucesso na pecuária moderna.
O cruzamento entre raças, quando bem elaborado, ofe-
rece aumento de rentabilidade para o produtor, isso por-
que os produtos cruzados normalmente superam os de ra-
ças puras.
A procura por animais adaptados tende a aumentar,
bem como o trabalho de cruzamento entre elas. A busca é
por animais mais produtivos, que produzam carne saboro-
sa e de boa qualidade, além de outros atributos.
A pesquisa deverá comprovar as qualidades da raça por
meio de trabalhos científicos, indicando-a para o cruza-
mento industrial com zebuínos como o nelore e animais de
1/2 sangue britânicos e/ou continentais. Isso aproveita-
ria a heterose maternal, produzindo 100% heterose nos pro-
dutos com essas cruzas.
ELIANA CEZAR SILVEIRA – EMBRAPA GADO DE CORTE
A Lavoura DEZEMBRO/2011 39
Vaca da raça senepol
bate recorde na
produção de embriões
Tácita de quatro anos é o nome da vaca da raça senepol,
recordista mundial na produção de embriões. Enquanto as
outras vacas produzem em média de seis a dez embriões, Tá-
cita produz de 60 a 100. Isso representa prolificidade em
bovinocultura.
Esse recorde é o resultado da explosão genética exclusi-
va presente no rebanho bovino senepol. De acordo com Jair
dos Santos, que trabalha há mais de cinco anos com a raça,
é visível a alta performance dos animais seja a pasto ou em
confinamento.
“O senepol tem características muito peculiares. Um dos
grandes exemplos disso é a vaca Tácita. Ela representa o
resultado do investimento que fazemos em agregar tecno-
logia de ponta com excelência em melhoramento genético,
seleção e produção. Não é a toa que ela produz dez vezes
mais embriões que vacas de outras raças”, relata o pecua-
rista.
A vaca super produtiva faz parte do rebanho da senepol
Água Limpa, onde há muitos outros animais campeões da
raça. O criatório disponibiliza para venda aspirações de
novilhas selecionadas criteriosamente e com classificação
máxima da fazenda. Além disso, a senepol Água Limpa ofe-
rece touros selecionados, criados a campo e aprovados em
testes levados ao extremo.
A raça
O senepol combina a tolerância ao calor e a resistência
aos insetos e enfermidades do gado n’dama com a
docilidade, qualidade da carne e alta produção leiteira do
gado red poll. O cruzamento dessas duas raças originou o
senepol. Longevidade, habilidade materna, fertilidade, dis-
posição, pelo zero, caráter mocho, rendimento da carcaça,
facilidade de manejo são outras características marcantes
da raça senepol.
SE
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PO
L
ÁG
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LIM
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Tácita: vaca recordista em embriões
!ALAV687-38-39-Pesquisa.pmd 4/11/2011, 09:4439
40 DEZEMBO/2011 A Lavoura
HORTICULTURA
Tomate: produção integrada commilho ganha força
Agricultor mineiro colhe a hortaliça o ano
inteiro e vende também para outros Estados
Produtores de tomate de Minas Gerais produziram 441,8
mil toneladas da hortaliça em 2011, volume 8,7% superior
ao do ano passado, informa a Secretaria de Agricultura, Pe-
cuária e Abastecimento com base em dados do IBGE. Boa parte
deles faz uma rotação da cultura com o milho e a soja, que es-
tão em fase inicial de plantio. Para quem cultiva tomate, é tem-
po de avaliar o mercado, sobretudo o comportamento da de-
manda, para programar o reinício do plantio da hortaliça em
janeiro ou fevereiro.
Um novo aumento da produção de tomate poderá ocorrer
em 2012, principalmente nas propriedades onde o cultivo da
hortaliça segue alternado com a produção de grãos, o que pode
resultar em equilíbrio na administração das contas da propri-
edade. “Atualmente, a receita gerada pelas lavouras de to-
mate em Minas Gerais é da ordem de R$ 7 mil por hectare”,
informa Georgeton Silveira, coordenador estadual de
Olericultura da Emater-MG, vinculada à Secretaria.
Em Lagoa Formosa, na região do Alto Paranaíba, a produção
alternada é utilizada em grande escala. A safra de tomate do muni-
cípio, em 2011, alcançou 28 mil toneladas (40,7% da produção regi-
onal). Agora o milho e feijão podem ser cultivados até a definição
de outros espaços para a hortaliça.
Rotação de culturas
“Uma das vantagens da rotação de culturas é que os resí-
duos orgânicos mantidos no solo depois da colheita do toma-
te substituem parte da adubação para o novo plantio”, expli-
ca o produtor Marcos Nascimento. Ele ainda fará uma colhei-
ta da hortaliça neste ano para completar a safra estimada de
4,2 mil toneladas e em seguida vai ocupar o espaço com milho
ou soja.
Integrante de um grupo de cinco produtores que se de-
dicavam exclusivamente ao cultivo de grãos no município,
Nascimento enfatiza que o rodízio das lavouras é uma boa
alternativa. “Inclusive porque existe um limite para a utili-
zação das áreas de tomate. Elas não devem atender ao
cultivo da hortaliça em safras seguidas”, informa. O produ-
tor diz que vem obtendo resultados satisfatórios com a pro-
dução de tomate iniciada em 2010 e acrescenta que está
animado com a possibilidade de aumento da receita para
compensar os investimentos em tecnologia, sobretudo irri-
gação e adubação.
“O clima da região é um dos fatores que ajudam na produção
de tomate”, observa o agricultor. Neste ano, segundo Nascimen-
to, o cultivo foi de 70 hectares. Para a próxima safra a programa-
ção é de uma área 50% maior. Ele estima que a produção vai alcan-
çar 6,3 mil toneladas.
Além de ser destinado ao atacado e varejo de diversas regiões
de Minas Gerais, o tomate também reforça a participação de La-
goa Formosa no entreposto da CeasaMinas, localizado na Região
Tomate: previsto novo aumento da produção em 2012
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!ALAV687-40-41-Horticultura.pmd 16/11/2011, 13:1940
A Lavoura DEZEMBRO/2011 41
HORTICULTURA
Tomate mineiro é destinado
principalmente a atacadistas
e varejistas de São Paulo
Metropolitana de Belo Horizonte. “Uma parte do produto é envi-
ada para outros Estados, como Goiás, São Paulo e Distrito Fede-
ral”, finaliza Nascimento.
Agricultura familiar
No Sul de Minas, agricultores familiares participam da pro-
dução de hortaliças com assistência da Emater-MG. Eles traba-
lham em terras cedidas sem custo, com o compromisso de, de-
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pois de cada safra, devolver aos proprietários as áreas
enriquecidas com os resíduos orgânicos do tomate. Essas áreas
serão utilizadas no período das águas para a produção de mi-
lho e outros grãos, e após a safra os pequenos produtores
vão reiniciar mais um período com as hortaliças.
José Nelson Martins é um dos 12 agricultores que se bene-
ficiam há quatro anos do cultivo de lavouras de tomate no Sí-
tio São João, localizado em Turvolândia e está entusiasmado
com as perspectivas do produto para 2012. “Os resultados
obtidos até agora com tomate são animadores”, ele diz. “Nes-
te ano, colhemos em cinco hectares. Até o final de dezem-
bro ou início de janeiro vamos fazer o primeiro plantio para a
safra de 2012 e em junho o segundo, completando a ocupa-
ção de 10 hectares”, prevê o agricultor.
Produção
A produção será destinada principalmente a atacadistas
e varejistas de São Paulo, que parecem dispostos a adquirir
até um volume maior que o previsto atualmente”, acrescenta
José Nelson. Ele ainda explica que, neste ano, a cotação do to-
mate produzido no Sítio São João variou de R$ 17 a R$ 33 a caixa
de 23 quilos.
Segundo o agricultor, o grupo de produtores do Sítio São João
consegue administrar os negócios sem dificuldade porque está bem
organizado. “Os equipamentos de irrigação que utilizamos nas la-
vouras e também os insumos foram comprados em conjunto, com
orientação da Emater, que ajuda também a organizar a comerci-
alização do tomate”, finaliza.
IVANI CUNHA - SECRETARIA DE ESTADO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO
Atender um novo segmento do mercado que busca produtos
com sabores diferenciados. Essa é a meta da Embrapa Hor-
taliças com o BRS Couto, recentemente lançado pela empresa.
O híbrido do segmento mini-italiano ou mini-saladete, pos-
sui frutos alongados e peso variando entre 50g e 80g, um pou-
co mais graúdos que os segmentos cereja e cerejão.
De acordo com o pesquisador Leonardo Boiteux, o mate-
rial vai atender um novo nicho de mercado, que busca por
produtos com características e sabores diferenciados. “O
segmento mini-italiano apresenta expansão de consumo nos
grandes centros urbanos como Rio de Janeiro, Belo Horizonte
e São Paulo”, afirma.
Características
Entre as características da nova cultivar, destaca-se a múl-
tipla resistência a doenças. Segundo o pesquisador, o material
é um dos poucos híbridos deste segmento com tolerância a
geminivírus, um dos principais problemas da cultura do toma-
teiro no Brasil. “O BRS Couto é tolerante a algumas das princi-
pais espécies de geminivírus ou begomovírus que infectam o
tomateiro nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Bra-
sil”, explica.
Além disso, o material possui resistência ao nematóide-das-
galhas (Meloidogyne incognita, M. javanica e M. arenaria), além
de tolerância a populações do pulgão que atacam as solanáceas
Tomate do segmento
mini-italiano atende novo
nicho de mercado
(Macrosiphum euphorbiae). O BRS Couto
é ainda resistente aos fungos que cau-
sa a Murcha de Fusário raça 1 e 2 e
Murcha de Verticílio raça 1.
Sementes
O tomate BRS Couto é também o
primeiro material lançado pela Embrapa
Hortaliças sob os termos da Lei de Ino-
vação (lei nº 10.973/04). De acordo com
o chefe-adjunto de Transferência de
Tecnologia, Warley Marcos Nascimen-
to, o material foi desenvolvido
numa cooperação técnica com a
empresa de sementes Agrocinco,
que detém a exclusividade de co-
mercialização do BRS Couto por um pe-
ríodo de cinco anos.
Ele explica que a produção de se-
mentes do híbrido será coordenada
pela Embrapa Transferência de Tec-
nologias, e as sementes do tomate
BRS Couto estarão disponíveis até o
final de dezembro de 2011 para os pro-
dutores brasileiros.MARCOS ESTEVES - EMBRAPA HORTALIÇAS
Tomate BRS Couto, mini
italiano: um pouco mais
graúdo que o cereja e o
cerejão
EM
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!ALAV687-40-41-Horticultura.pmd 16/11/2011, 13:1941
42 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
Pele e pelo,
proteção e beleza
do animal
A pele é o maior órgão do corpo e uma barreira natu-
ral de defesa, fornecendo proteção contra agentes ex-
ternos e refletindo muito do que se passa no organismo
do animal. Devido a esses fatores, a pele merece uma
atenção especial. Já o pelo, além de seu elemento es-
tético e característico das raças, também possui sua
importância, ao proporcionar isolamento térmico e atu-
ar como um meio protetor entre o animal e o habitat.
São vários os fatores que podem ocasionar mu-
danças na pele e no pelo dos animais de estimação;
alguns são fisiológicos, como as diversas fases da
vida. Por exemplo, quando deixam de ser filhotes e
se tornam adultos, a pelagem torna-se mais espes-
sa. Já os mais idosos podem ter seus pelos
embranquecidos ao longo do tempo, principalmente na
região do focinho. Outra mudança normal e frequente
é a troca do tipo de pelagem no verão e no inverno. Con-
tudo, é possível que algumas alterações de coloração e
queda de pelos sejam decorrentes de fatores que neces-
sitam de cuidados médicos. As doenças de pele/pelagem
podem ser causadas por pulgas, carrapatos, piolhos, fungos,
bactérias, vermes, desnutrição, alergias, desequilíbrios
hormonais, entre muitos outros fatores.
Problemas de pele prejudicando o animal
Nem sempre o proprietário percebe, mas coceiras,
lambeduras e mordeduras nas patas são os primeiros
indicativos de que o animal precisa de avaliação dermatológica
de um médico veterinário. Sobre a pele dos seres vivos existe
uma população de bactérias. Geralmente inofensiva, a flora
de microorganismos não faz com que esse órgão perca suas
funções de barreira natural e eficaz às infecções bacterianas.
Por isso, arranhaduras ou irritações que prejudiquem a inte-
gridade da pele podem torná-la mais susceptível a infecções.
Nos animais de estimação, a coceira pode se tomar um gran-
de sofrimento e também aflige o dono do pet. Neles, os proble-
mas de pele estão mais relacionados à estrutura do tecido do
que à quantidade de bactérias que o animal tem sobre o corpo.
Os sintomas clínicos mais comuns dos problemas dermatológicos
nos animais de estimação são os três já citados, além da perda
de pelos e odor desagradável. Nos casos mais severos, entre-
tanto, é aflitivo ver o bichinho coçando-se, lambendo-se sem
parar e até mordendo as patas. Porém, as causas das alergias
e dos problemas de pele muitas vezes têm origem genética,
dificultando a prevenção. É aconselhável, ao detectar primei-
ros sintomas, procurar um médico veterinário para diagnosti-
car a causa do problema, para que a coceira não se agrave e o
animal não chegue a machucar-se, ferindo a pele e, assim, per-
mitindo a contaminação e a infecção do tecido.
Ainda que existam algumas raças mais predispostas, qual-
quer animal pode manifestar os sintomas e desenvolver pro-
blemas de pele. Hoje em dia, já existem exames eficazes,
como raspados de pele, citologia e exames de sangue, que
auxiliam o médico veterinário a um diagnóstico mais preci-
so para determinar as causas dos problemas dermatológicos.
Além do tratamento, que pode envolver vacinas manipuladas
e medicamentos para diminuir a inflamação e a coceira, é de
extrema importância realizar a assepsia (desinfecção) do
ferimento ou lesão.
Atenção aos sinais
Apesar da dificuldade de evitar as causas do aparecimen-
to dos problemas de pele, principalmente nos animais com pre-
disposição, é importante tomar alguns cuidados, dentre os
quais limpar frequentemente o local onde o animal costuma
dormir, escovar diariamente a pelagem do animal e evitar que
ele ande ou permaneça sobre superfícies molhadas. Vale lem-
brar também que, em condições normais, os donos de ani-
mais de estimação não precisam evitar o contato com o bi-
cho de estimação, pois, na maioria das vezes, não estarão
sob o risco de contágio.
Isso mostra que são muitos os aspectos envolvidos com a
saúde da pele e dos pelos dos pets. Um outro fator relaciona-
do, de extrema importância, é a alimentação. Esta deve ser
balanceada e suplementada com nutrientes específicos para
proporcionar uma pele saudável e uma pelagem bonita e ma-
cia. As rações de boa qualidade cumprem este papel adequa-
damente, mas “lanchinhos” como bolachas, pães e outras gu-
loseimas devem ser evitados: alguns animais podem ter rea-
ções alérgicas e até mesmo intoxicação ao ingerir esses ali-
mentos. A higiene também é muito importante, principalmen-
te no que diz respeito ao combate de pulgas e carrapatos, pois
estes parasitas, além de trazerem problemas para a pele e o
pelo, podem causar doenças aos nossos amigos.
ISABELLA VINCOLETTO - MÉDICA VETERINÁRIA DA VETNIL (ADAPTADO)
Alterações de coloração e queda de pelo devem ser
observadas pelo proprietário do cão
!ALAV687-42-43-Animais.pmd 4/11/2011, 09:4742
A Lavoura DEZEMBRO/2011 43
Papai Noel
também
visita os pets
Cada vez mais frequente nos lares
brasileiros e considerados membros da família,
os pets também estão inclusos nas listas de
presentes de fim de ano
Os pets hoje são mais do que animais de companhia. Tor-
naram-se membros da família, recebendo todos os mi-
mos e regalias que merecem, afinal, a felicidade do pet
reflete e influencia na do dono. E com a chegada das fes-
tas de fim de ano, os bichinhos de estimação são pre-
sença garantida nas listas de presentes. Para os que nunca
pensaram nesta possibilidade, o mercado oferece produ-
tos variados que prometem agradar. Veja algumas dicas
da Focinho Dourado para cães e gatos.
Almofadas e Cobertores
Feitas de materiais como plush ou pelúcia, as almo-
fadas e cobertores da Focinho Dourado não possuem de-
formações e trazem conforto e maciez para os pets. Seu
design é moderno e são fáceis de lavar.
Coleiras caninas e felinas
De couro ecológico, as coleiras possuem design moder-
no e são adornadas com pedras de strass, pérolas ou me-
tal. São acessórios de luxo que seguem as últimas tendên-
cias da moda pet.
Cama com
brinquedo:
conforto e
diversão
Almofada de plush:
conforto e maciez
para cães
FO
CIN
HO
DO
URADO
FO
CIN
HO
DO
URAD
O
Se você já rodou a cidade procu-
rando algo que ajudasse na difícil ta-
refa de fazer seu cãozinho engolir
aquele comprimido indicado pelo ve-
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vida especialmente para acomodar a
maioria das cápsulas, comprimidos e
pílulas. Ele pode ser facilmente engoli-
do por cães de pequeno, médio e gran-
de porte, assim seu pet consome o re-
médio sem perceber e causar stress
nem pra si próprio, nem pra você.
O produto é vazado e possui uma
tampa (feita do próprio petisto) para
manter o remédio em seu interior. “O
design especial unido à alta palatabili-
dade do alimento ajudam na eficácia
dos tratamentos, que muitas vezes são
interrompidos devido à dificuldade na
administração do medicamento”, ex-
plica a médica veterinária Márcia Fer-
nandes, Gerente de Produto da linha
Super Premium da Total Alimentos.
encontra uma caixa de Equilíbrio
Snack Especial, com 40 unidades em-
baladas individualmente.
TO
TAL ALIM
EN
TO
S
O petisco é oco para inserir o medicamento
Arranhadores e Kit com Cama, Arranhador e Brinquedo
Diversão garantida para gatos, os arranhadores foram
confeccionados em MDF forrados com pelúcia. O kit con-
tendo cama, arranhador e brinquedo garantem conforto e
diversão para gatos em qualquer lugar, já que o kit se trans-
forma numa prática bolsa que pode ser levada para onde
quiser. É importante que o gato tenha um local para arra-
nhar pois com esse ato, além de se divertir, ele apara e afia
suas unhas e marca o seu território.
www.focinhodourado.com.br
!ALAV687-42-43-Animais.pmd 4/11/2011, 09:4743
44 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
O plantio
de milho, cana e das
diversas gramíneas, agora
na primavera para o verão,
permite ao produtor planejar o
fornecimento de comida para os períodos
rigorosos do ano. A melhor forma de preservar
o alimento é ensilando, pois evita a perda de peso
em tempos de escassez de pasto
SILAGEM
É tempo de pensarna silagem
É tempo de pensarna silagem
Há um costume entre os pro-
dutores que trabalham com
rebanhos de corte de forma
extensiva em não produzirem e guar-
darem alimento para os períodos crí-
ticos do ano, onde a natureza não
disponibiliza comida farta e de quali-
dade para a manutenção do peso dos
animais. Desta maneira, o que geral-
mente ocorre é o emagrecimento e
perda de tempo, pois quando a época
de bons pastos retorna o rebanho tem
que primeiro recuperar os quilos per-
didos para depois começar a ganhar
peso.
Uma das formas de evitar este
“efeito sanfona” é fazer ensilagem, que
é um processo de conservação dos ali-
mentos em locais hermeticamente fe-
chados, livres de oxigênio. Seu objeti-
vo é preservar ao máximo o valor nu-
tritivo original da forragem escolhida
para isto, seja ela cana, capim ou mi-
lho e sorgo (planta inteira). A ensilagem
é a forma mais eficiente e barata que
se conhece para garantir suprimento de
volumoso ao rebanho durante o perío-
do de entressafra. “É ideal para siste-
mas de produção que buscam
maximizar o uso da terra, do trabalho
e do tempo”, afirma a diretora técnica
da Kera Nutrição Animal, Regina Flores.
Segundo a diretora, o processo de
conservação da forragem baseia-se na
redução do pH (aumento da acidez) gra-
ças à produção de ácido lático a partir
do açúcar. “A forragem se conserva
porque levamos para o silo toda a flo-
ra microbiana que está aderida à for-
ragem na lavoura. Esta flora está com-
posta por um universo muito grande,
mas os que podem influir na maior ou
menor qualidade da silagem são os
fungos, leveduras, bactérias láticas,
(que são as responsáveis pela conser-
vação da silagem), clostrídios e
coliformes”, explica Regina.
Para o consultor técnico da empresa,
Carmelindo Tomielo, uma boa silagem
precisa ser complementada com a adi-
ção de inoculantes biológicos que são
“bons micro-organismos” que auxiliam
na fermentação da ensilagem. Uma
silagem sem adição de inoculantes de-
mora de 25 a 40 dias para chegar a um
pH menor que 4,5; isto significa que,
neste período, também se desenvolve-
rão bactérias láticas, coliformes e
clostrídios. “Este processo faz perder o
valor nutritivo da silagem. Para inativar
estes micro-organismos, o inoculante
deverá baixar o pH abaixo de 4,5 o mais
rapidamente possível. Com altas concen-
trações de bactérias por grama de
silagem, pode-se conseguir que a silagem
esteja ‘pronta’ em três dias”, avalia
Tomielo.
Vantagens
O custo de produção para silagem
varia muito, porque há diferenças na
escala, tipo de cultura a ser ensilada,
fertilidade do solo, etc. Mas, em geral,
H
Trator distribuindo silagem no cocho aberto
NE
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!ALAV687-44-45-Silagem.pmd 4/11/2011, 09:4944
A Lavoura DEZEMBRO/2011 45
uma silagem tem entre R$35 a R$90 por
tonelada de matéria original (matéria
úmida). É importante salientar que a
silagem produzida e bem armazenada
dura por muitos anos. Fazendo silagem,
é possível a manutenção de um maior
número de animais ou unidades ani-
mais (450 kg) por unidade de terra;
permite a manutenção ou maximiza-
ção da produção (carne ou leite); per-
mite, através do confinamento, ofertar
animais bem nutridos em épocas de
melhor preço; permite armazenar gran-
de quantidade de alimento em pouco
espaço.
Apesar das vantagens deste processo, são
necessários cuidados para sua compo-
sição ideal em termos de equilíbrio de
micro-organismos. O universo da flora que
integra a pastagem é vasto, sendo compos-
to, dentre outros, de fungos, leveduras,
clostrídios, coliformes e bactérias láticas,
sendo as últimas as responsáveis pela con-
servação da silagem. A proporção entre os
componentes da flora influirá na maior ou
menor qualidade da silagem.
Fermentações
Logo após o fechamento do silo, as
fermentações se iniciam. Dentre elas, a que
mais interessa é a lática: as bactérias láticas
transformam os açúcares em ácido lático,
o qual aumenta a acidez da forragem, res-
ponsável por sua conservação. A acidez é
medida por pH, uma medida de acidez que
vai de zero a 14, sendo que o quanto me-
nor for o pH, mais ácido será o meio. As-
sim, quando a forragem entra no silo, ela
tem um pH de 6,0 a 6,5 e ele precisa ficar
abaixo de 4,5 para que coliformes e
clostrídios parem de se desenvolver. E por
que é preciso que eles se desenvolvam o
mínimo possível?
Propriedades microbiológicas ideais para a silagemPorque os coliformes consomem
energia e proteínas da forragem e pro-
duzem chorume, um líquido poluente
que baixa o valor nutritivo da silagem.
Além disso, o chorume causa a formação
butírica que dá sabor e cheiro repulsi-
vos à silagem, diminuindo o consumo pelo
animal. Outro grave problema é a produ-
ção de toxinas, muito prejudiciais à saú-
de animal, como a histamina – responsá-
vel pela laminite, entre outras doenças –
a cadaverina, putrescina, triptamina além
de outras toxinas, que podem causar
abortos, lesões hepáticas, renais e intes-
tinais e diarreia, cuja gravidade depen-
de do teor das mesmas. Como não é pos-
sível evitar que elas se desenvolvam,
pode-se, pelo menos, diminuir seu tem-
po de multiplicação com o uso do
inoculante. Este produto deverá possuir
um alto teor de bactérias por grama de
silagem, dados que que estão no rótulo
de todos os produtos comerciais.
Nem toda silagem será aproveitada
Todo o alimento que passa por um pro-
cesso de conservação – neste caso, uma fer-
mentação – perde valor nutritivo. O que o
inoculante faz é diminuir ao máximo esta
perda e também em termos físicos, com mau
cheiro, aquecimento no cocho, etc. Con-
tudo, o problema mais grave é a morte de
animais por silagem deteriorada, algo que
está sendo cada vez mais frequente e tem
duas causas principais: primeiro, o grande
desenvolvimento de clostrídios e seus pro-
dutos tóxicos, listados acima. Depois, o de-
senvolvimento de fungos na silagem. Eles se
desenvolvem na presença de ar, o que sig-
nifica que a compactação é fundamental
para dar estabilidade à silagem.
Presença de fungos
O sinal mais evidente da presença de
fungos é o aquecimento da silagem, que
geralmente acontece logo após o fecha-
mento do silo. Neste momento, o ar esta-
rá presente, e, quanto melhor for a com-
pactação, o processo ocorrerá com me-
nor intensidade. Porém, o aquecimento
retornará quando o silo for aberto para
utilização. Os fungos produzem micotoxi-
nas altamente tóxicas: aflatoxina, cuja
dose letal é igual à estricnina;
zearalenona, abortiva e até mortal; DON;
vomixina e uma lista de mais de 500 subs-
tâncias. Para evitá-las, o primeiro passo
sempre será a compactação, facilitada
pelo corte da forragem em partículas pe-
quenas, observação do teor de matéria
seca e as particularidades de cada silagem,
por exemplo, bolas de pré-secado sempre
terão mais ar em seu interior.
Porém, às vezes uma boa compactação
será impossível, como na presença de pro-
blemas climáticos, quando a matéria seca da
silagem estiver muito alta. Neste caso, o
produtor deve também utilizar uma bacté-
ria propiônica, que produz o ácido de mes-
mo nome e que inativa fungos e leveduras.
Desta forma, apesar de não poder impedir
a presença de ar, eles se manterão inativos
graças à presença do ácido propiônico.
REGINA FLORES
DIRETORA TÉCNICA DA KERA NUTRIÇÃO ANIMAL
Cortando a silagem para colocar no distribuidor
AG
RO
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Silagem: esmo com o cuidado do produtor,
ocorrem perdas naturais de ordem química
ou física
SILAGEM
!ALAV687-44-45-Silagem.pmd 4/11/2011, 09:4945
46 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
COOPERATIVISMO
Exportações das cooperativas
crescem 34,6% entre janeiro e outubro
APPA
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Resultado recorde retrata profissionalismo
do setor e qualidade dos produtos
ser explicada, de acordo com o gerente de Ramos e Mercados da
OCB, Gregory Honczar, pelos mesmos condicionantes já observados
no passado, principalmente pela forte demanda do etanol brasileiro
aliada aos bons preços.
Mercados
A China se mantém como o principal mercado de destino dos
produtos cooperativistas. De janeiro a outubro, os chineses com-
praram US$ 661 milhões. O valor corresponde a 12,9% das expor-
tações do segmento. Os Emirados Árabes ocuparam a segunda
colocação, com US$ 497,2 milhões e 9,7%. Na sequência, estão
Estados Unidos (US$ 483,5 milhões; 9,4%), Alemanha (US$ 384,9
milhões; 7,5%) Holanda (US$ 265,1 milhões; 5,2%) e Japão (US$
243,5 milhões; 4,7%).
Estados exportadores
Na relação dos estados exportadores, São Paulo, mais uma vez,
registrou o maior valor, com US$ 1,7 bilhão, representando 33,4% dos
negócios do setor. O Paraná, por sua vez, fechou com US$ 1,6 bilhão
e 33% do total. Na terceira colocação, está Minas Gerais (US$ 666,8
milhões; 13%), seguido do Rio Grande do Sul (US$ 331,4 milhões; 6,5%)
e Santa Catarina (US$ 248,9 milhões; 4,8%).
Importações
Também houve expansão de 33,8% nas compras externas
efetuadas por cooperativas de janeiro a agosto deste ano, se com-
paradas ao mesmo período do ano passado, passando de US$ 165,6
milhões para US$ 221,6 milhões. Sob a ótica das importações, a par-
ticipação na pauta é 0,3%. Entre os principais produtos importados
pelas cooperativas nos primeiros oito meses de 2011, destacam-se
os seguintes: cloretos de potássio (com compras de US$ 39,5 mi-
lhões, representando 17,8% do total importado pelas cooperati-
vas); cevada cervejeira (US$ 23,8 milhões, 10,7%); malte não torra-
do (US$ 17,7 milhões, 8,0%); e diidrogeno-ortofosfato de amônio (US$
17,2 milhões, 7,7%).
GABRIELA AFONSO PRADO - OCB
As cooperativas brasileiras registraram um novo recorde em
exportações. Nos primeiros dez meses de 2011, o setor
contabilizou crescimento de 34,6% em relação ao mesmo
período de 2010, alcançando US$ 4,4 bilhões em vendas ao exterior.
Para o intervalo avaliado, esse foi o melhor resultado registrado des-
de 2005. Os dados fazem parte de um estudo elaborado pelo Minis-
tério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O
resultado positivo se repetiu no saldo da balança comercial do seg-
mento, que fechou em US$ 4,9 bilhões nos primeiros dez meses do
ano, outro recorde, superando em 34,7% o de 2010, quando atingiu
US$ 3,6 bilhões.
Para o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras
(OCB), Márcio Lopes de Freitas, os indicadores comprovam que o
movimento cooperativista está respondendo às exigências de mer-
cado com produtos e serviços de qualidade. “O profissionalismo marca
a gestão das cooperativas brasileiras e isso reflete nos resultados
alcançados. Por isso, trabalhamos com um cenário positivo e a indi-
cação é de que chegaremos a praticamente US$ 6 bilhões no final
de 2011”, disse.
Produtos
No grupo de produtos exportados pelas cooperativas, conti-
nua em primeiro lugar o complexo sucroalcooleiro, com US$ 1,9
bilhão, respondendo por 37,2% do total. Em seguida, aparece o
complexo soja, com US$ 1,1 bilhão e 22,4%. Café em grão fechou
o período com US$ 623,7 milhões, representando 12,1% das vendas.
A carne de frango também está entre os principais itens, registran-
do US$ 461,2 milhões e correspondendo a 9%. Vale citar ainda o tri-
go, com US$ 241,5 milhões e 4,7% das exportações.
A permanência do complexo sucroalcooleiro na liderança pode
Soja em grão: um dos principais produtos exportados pelas cooperativas
A
!ALAV687-46-47-Cooperativismo.pmd 4/11/2011, 12:4246
A Lavoura DEZEMBRO/2011 47
COOPERATIVISMO
Cooperativas mostram força
no campo com exemplo
de boas práticasatendidas outras 64 mil pessoas em ou-
tros projetos realizados pela coopera-
tiva, que alcançou desde propriedades
rurais até comunidades inteiras.
Já a Coplana (cooperativa dos
Plantadores de Cana da Zona de
Guariba) foi pioneira na implementação
de uma Central de Recebimentos de
Embalagens de Defensivos. A unidade,
coordenada pela Divisão Agrícola, com-
pletou16 anos de trabalho em prol da
preservação ambiental e da saúde da
população rural. Com sua estrutura re-
cém modernizada e ampliada, a Central
teve capacidade de processamento
aumentada de 20 para 90 toneladas
mensais.
Resultados
Os resultados obtidos pela Central
da Coplana são modelo no mundo, ao
atingir a marca de 100% de devolução
das embalagens de defensivos utilizadas
por seus cooperados. Desde a implan-
tação, a unidade já retirou do meio
ambiente 3,1 mil toneladas de embala-
gens (o equivalente a 2,8 mil caminhões
carregados). O descarte adequado co-
meça com o trabalho do produtos ain-
da no campo, com a tríplice lavagem. Ao
chegar à Coplana, as embalagens são
inspecionadas e separadas. Após pren-
sagem e enfardamento, são levadas à
indústria de reciclagem.
Outra referência no setor é a ativi-
dade desenvolvida pela Coplacana, Co-
operativa dos Plantadores de Cana do
COPLACANA
A Lavoura DEZEMBRO/2011 47
Fomentar boas práticas agrícolas é
fundamental para pautar um futuro
de sucesso no Brasil, reconhecido in-
ternacionalmente pelo seu potencial
para ser o celeiro do mundo. Algumas
cooperativas brasileiras já aderiram à
ideia e demonstram engajamento à cau-
sa, apresentando resultados sensíveis
na valorização da educação e sustenta-
bilidade no campo.
No ano passado, dezenas de proje-
tos realizados por produtores e associ-
ados conscientes atingiram milhares de
pessoas em seus diversos grupos, irra-
diando oportunidades e conscientiza-
ção à população rural e urbana de di-
versas faixas etárias.
Iniciativas
São iniciativas assim que tornam
possível ao Brasil ser uma potência em
alimentos e energia limpa. “Ao difundir
os hábitos sustentáveis, é possível ins-
tituir uma nova mentalidade voltada à
adoção de boas práticas e diminuir de
maneira significativa os danos à saúde,
ambiente e qualidade de vida dos pro-
fissionais envolvidos, bem como minimi-
zar os impactos ao meio ambiente”, afir-
ma José Annes Marinho, gerente de
educação da ANDEF (Associação Nacio-
nal de defesa Vegetal), complementando
que diversas iniciativas produtivas e efi-
cazes foram apresentadas à entidade
esse ano, ao longo do XIV Prêmio Andef
– que destaca atividades de responsa-
bilidade social e ambiental.
Projeto
Um dos projetos que chamou a aten-
ção foi a iniciativa da Cooperativa
Cooxupé, que em 2010 realizou 231
eventos educacionais, envolvendo mais
de 26,5 mil participantes em debates e
palestras sobre o uso correto e seguro
de defensivos agrícolas.
Tal conscientização já surtiu efeitos.
Com os eventos, as vendas dos equipa-
mentos de proteção individuai (EPIs) au-
mentou em 28% nas lojas Cooxupé. além
das palestras e treinamentos, foram
estado de São Paulo, dentro do proje-
to Implantar, realizado pelo Instituto
Nacional de Processamento de Embala-
gens Vazias (InpEV). Durante todo o ano
de 2010, a Coplacana realizou ações
itinerantes no estado de São Paulo para
receber embalagens vazias. Nessas oca-
siões, aproveitou para falar sobre a im-
portância da aplicação segura de de-
fensivos, abordando o uso de EPIs,
tríplice lavagem e devolução em local
correto.Resultados em eficácia e ges-
tão foram notórios – a Coplacana ficou
em terceiro lugar no programa, princi-
palmente por causa da redução dos
custos no processamentos das embala-
gens em 60%, um índice e tanto.
Responsabilidade social
Quando o assunto é responsabilida-
de social, a Cocari também se sobres-
sai. Por meio da campanha Cocari Soli-
dária, em atividade desde 2005, a coo-
perativa estimula o voluntariado, unin-
do forças de cooperados, familiares e
colaboradores em prol da população
carente. Além disso, a instituição orga-
niza promoções para arrecadar recur-
sos, para distribuição integral em asilos,
creches e escolas. A partir de 2008, o
projeto passou a incentivar o envolvi-
mento a comunidade na preservação
ambiental, distribuindo mudas de árvo-
res produzidas por alunos da Associação
de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE)
de Mandaguari – esses alunos foram con-
tratados pela Cocari, a fim de contri-
buir para a inclusão social de portado-
res de necessidades especiais.
Embalagens de defensivos
utilizadas: 100% de devolução
!ALAV687-46-47-Cooperativismo.pmd 4/11/2011, 09:5047
48 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
Misturador de ração
Equipamento é destinado a produtores
de médio e pequeno porte
Um vagão misturador de pequeno para médio porte é o novo
lançamento que a Casale Equipamentos, de São Carlos, SP. O
Unimix é um novo produto que traz como vantagem o forneci-
mento de uma ração homogênea aos animais, evitando que con-
suma uma dieta desbalanceada. Isto é possível porque o Unimix
foi projetado para realizar uma perfeita mistura entre o volumo-
so e o concentrado.
O fabricante explica que o equipamento processa entre 500 a
600 kg por mistura sendo ideal para produtores de leite, ovinos,
caprinos ou bovinos de cor te que tenham rebanhos pequenos.
Ele vem com um opcional: uma balança eletrônica que permite
pesar e dosar de forma independente os elementos que compõem
a dieta, o que o transforma num equipamento de precisão na hora
de distribuir a comida no cocho.
De acordo com a Casale, o Unimix é um produto que agrega valor
à produção, pois seu custo/benefício é bem significativo. No momen-
to em que a dieta é balanceada e o animal come aquilo que realmente
necessita, o retorno em produção de leite e/ou carne é garantido, em
consequência, o lucro também, esclarece o fabricante.
A Coimma, tradicional fabricante de Balanças e Troncos
de Contenção para a pecuária, colocou no mercado o ‘Tron-
co Americano Supremo’.
Segundo o fabricante, o equipamento conta com novo
sistema push-lock, imobilização hybrid-wall e sistema de
travamento dos por tões e pode ser conjugado às diversas
linhas de balanças eletrônicas da empresa. O novo modelo
conta com avançado sistema de contenção, mensuração,
castração, acionamento por pistões e dispositivo salva-vi-
das como itens de série. Todos estes dispositivos facilita-
rão sobremaneira qualquer tipo de tratamento fitossanitário,
além de evitar estresses e lesões nos animais, explica a
Tronco de contenção e medição
para o rebanho
Tronco americano Supremo
COIMMA
Nutrição sob medida para a fase
pré-inicial dos pintinhos
Produto de alta performance nutre os pintinhos em
seus primeiros dias de vida
A Presence, nova marca da Evialis, lançou
uma novidade em nutrição para os primeiros
dias dos pintinhos: a ração Préforte.
De acordo com a Presence, diversos são os
fatores que influenciam o desempenho das aves
em seus primeiros momentos de vida. Um dos
principais influenciadores é o tempo decorrido
entre a eclosão e o início da ingestão de alimen-
to e água, que reflete diretamente na dependên-
cia que o pintinho terá das reservas contidas do
saco vitelino. A manutenção dos pintinhos em
jejum por períodos prolongados após a eclosão
determina menor habilidade para absorção de
aminoácidos e outros nutrientes pelo intestino
quando as aves passam a ser realimentadas.
Pintinhos em condição de subnutrição inicial de-
vido ao jejum prolongado e à inadequada dispo-
nibilidade de nutrientes no primeiro alimento têm perdas no potencial de
ganho de peso que jamais são recuperadas, quando comparados a pinti-
nhos que foram nutridos de forma adequada após a eclosão. Préforte
Presence chega ao mercado para suprir essa necessidade, utilizando o
que há de mais moderno e eficaz em nutrição pré-inicial, explica o fabri-
cante.
Benefícios
Com o objetivo de maximizar a digestibilidade, a Préforte apresen-
ta formulação apurada e ingredientes funcionais que melhoram a efici-
ência alimentar, integridade intestinal e balanço hídrico. A Préforte ain-
da inova ao combater o estresse térmico recorrente nas regiões mais
quentes do país, por meio da inclusão de vitamina C protegida e espe-
cífico balanço eletrolítico para esta fase, esclarece a Presence. Misturador de ração Unimix
CASALE
PRESENCE
Préforte: para os
primeiros dias
dos pintinhos
Coimma.
• Mais informações sobre a Coimma podem ser obtidas no telefone 0800 11 2555 ou no site www.coimma.com.br.
!ALAV687-48-Empresas.pmd 4/11/2011, 09:5248
A Lavoura DEZEMBRO/2011 49
LEITELEITE
DANIELA MIYASAKA S. CASSOL E
PIETRO MASSARI
MÉDICOS VETERINÁRIOS
Ainda há muito a fazer para a adequação da IN 51.
Como o agronegócio brasileiro é persistente, apesar dos obstáculos,
a participação do mercado é crescente
O agronegócio é a principal locomotiva da econo-
mia brasileira: próspero e rentável. O leite é um
dos alimentos de maior importância para o ho-
mem e o mercado leiteiro é um setor de grande impacto
no agronegócio, com uma produção média estimada de
30,6 bilhões de litros em 2010 (IBGE) e 32 bilhões para
2011. Cerca de 90% dos produtores são considerados pe-
quenos e apenas 10% são médios e grandes, que geram
aproximadamente 4,2 milhões de empregos diretos e 42
milhões indiretos. A exportação do alimento é de 455 mi-
lhões de litros e é um importante componente para o equi-
líbrio da balança comercial brasileira.
Com a criação do Plano Nacional da Qualidade do Lei-
te (PNQL), em 1996, por meio do Ministério da Agricultu-
ra, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e com apoio de ór-
gãos de ensino e pesquisa, houve muitos debates e dis-
cussões para implantar novos regulamentos técnicos e
critérios para produção de leite. Este foi o ponto de par-
tida de uma série de normativas e portarias que viria a
culminar com a criação do Conselho Brasileiro de Quali-
dade do Leite (CBQL) pela Instrução Normativa (IN) 37.
Instrução Normativa 51
Com a publicação da IN 51 definiu-se parâmetros técni-
cos sobre a qualidade do leite (regulamentos técnicos de
GU
STAVO
PAN
HO
S
O
Instalações adequadas previnem contaminações e facilitam o manejo
GU
STAVO
PAN
HO
S
!ALAV687-49-53-Leite.pmd 4/11/2011, 09:5349
50 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
LEITE
produção, identidade e qualidade dos leites tipos A, B e C,
do leite pasteurizado e do leite cru refrigerado e o regula-
mento técnico da coleta de leite cru refrigerado e seu trans-
porte a granel).
Antes da criação e publicação da IN 51 não existiam
parâmetros para contagem de células somáticas e de con-
tagem bacteriana total para o leite C, somente ao leite A e
B. Da data de sua publicação até 1o de julho de 2005 para as
regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, o limite máximo era
de 1 milhão de CCS e de CBT e para as regiões Nordeste e
Norte com a data de 1o de julho de 2007. Atualmente o teto
está em 750 mil células/ml para CCS e CBT.
Parâmetros prorrogados
Os parâmetros atuais estão em vigor até 1o de dezem-
bro de 2011 por motivo de prorrogação, já que deveriam
ter sido novamente modificados em 1o de julho de 2011,
onde passariam de 750.000 cél./ml para 400.00 cél./ml e
100.000 cél./ml de CCS e CBT, respectivamente. Veja o
quadro comparativo:
Atual Exigência Redução
IN 51 de:
CBT 750.000 100.000 86%(Contagem Bacteriana Total) cél./mL cél./mL
CCS 50.000 400.000 46%(Contagem de Células 7cél./mL cél./mLSomáticas)
Fonte: IN 51 (MAPA)
Outras informações estão disponíveis no site do MAPA (www.agricultura.gov.br)
A CCS deve ser alcançada com o tempo, tentando
baixar cada vez mais as concentrações. Outro fator a
ser corrigido é a assistência, capacitação técnica, di-
vulgação de informações de modo mais abrangente,
que deve chegar a todos os produtores, oferecendo co-
50 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
nhecimento com clareza, não só sobre as mudanças,
mas também o modo correto de se adaptar as exigên-
cias da IN 51.
Cuidados contra a contaminação do leite
O produtor deve ter o conhecimento de que a quantidade
de microorganismos presentes no leite varia de acordo com a
contaminação inicial, o tempo e temperatura de armazena-
mento, podendo variar em decorrência de processos inflama-
tórios do úbere ou de enfermidades no rebanho.
Para a obtenção da produção de leite com qualidade, higi-
enização no processo de obtenção, resfriamento do leite (4oC)
e controle da mastite são de fundamental importância. Na
higienização destaca-se a limpeza das mãos dos ordenhado-
res, dos equipamentos e do úbere da vaca com água potável.
O ordenhador deve estar com roupas limpas, ser organizado,
manter uma rotina e seguir processos de higienização.
Sala de ordenha
A sala de ordenha deve ser um local sem agitação, limpo
e fresco. Os equipamentos devem ser lavados com água
morna de 70o a 7oC e detergente alcalino clorado na dosa-
gem indicado pelo fabricante. Depois, é preciso passar de-
tergente ácido diluído em água a 45ºC. A sala de ordenha
deve fornecer conforto térmico às vacas. Materiais como
latões, caneca de fundo preto, papel toalha, frascos para
imersão dos tetos, escova para limpeza do material, deter-
gente, soluções desinfetantes, todos devem sempre estar
disponíveis para uso. Para desinfecção dos equipamentos,
materiais e até no pré e pós-dipping pode ser utilizada uma
solução à base de cloreto de alquil dimetil benzil amônio (de-
sinfetante) + poliexietilenonilfenileter (tensoativo).
Resfriamento do leite
Em relação ao resfriamento do leite, o tanque de resfri-
amento deve ficar próximo ao local da ordenha e ser de fá-
cil acesso para o veículo coletor. O local deve ser coberto,
GU
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O
PA
NH
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O exame CMT pode detectar
a mastite subclínica, sem
sintomas tão aparentes
!ALAV687-49-53-Leite.pmd 4/11/2011, 09:5350
A Lavoura DEZEMBRO/2011 51
LEITE
pavimentado, com energia elétrica e água de boa qualida-
de. Deve haver um bom isolante térmico a fim de evitar o
aquecimento do leite. A instalação do tanque deve ser feita
perfeitamente em nível para facilitar o escoamento do leite
e da água de lavagem aproveitando o desnível que já existe
no fundo do tanque. A potência do resfriador deve ser sufi-
ciente para permitir rápido abaixamento da temperatura do
leite sem que tenha alterações em sua qualidade.
Controle da mastite
A mastite bovina deve ser entendida como uma inflama-
ção da glândula mamária. As principais causas são bactérias,
fungos, leveduras e algas. A mastite pode ser clínica ou
subclínica, podendo aquela ser detectada pelo exame da ca-
neca de fundo escuro ou caneca telada, em que é identifica-
da a presença de grumos. Já a forma subclínica não apresen-
ta sinais clínicos e por isso é assim chamada, mas pode facil-
mente ser detectada por meio do California Mastitis Testis
(CMT). Outros métodos, como a análise da CCS (contagem
de células somáticas), cultura bacteriológica e condutividade
elétrica são também muito eficazes para a identificação des-
tas mastites. Pode ser diferenciada pelo agente causador na
forma contagiosa ou ambiental; sendo a contagiosa mais
comum durante toda lactação por Staphycoccus aureus,
Streptococcus agalactiae, Corynebacterium bovis,
Streptococcus uberis e ambiental, que ocorre principalmente
no pré-parto e início da lactação, causada por Escherichia coli,
Klebsiella sp, Enterobacter sp, Streptococcus dysgalactiae.
Para o tratamento da vaca em lactação com mastite
recomenda-se a utilização de um antibiótico eficaz e se-
guro à base de gentamicina associado a um mucolítico
(bromexina), administrado pela via intramamária associ-
ado a penicilinas, estreptomicina, oxitetraciclina +
diclofenaco de sódio, ou de acordo com a orientação do
médico veterinário. Na secagem é recomendada a utiliza-
ção de gentamicina em alta concentração.
Ainda há muito a fazer até a adequação da IN 51. Como
o agronegócio brasileiro é persistente, apesar dos obstá-
culos, a participação do mercado é crescente. Como van-
tagens brasileiras, temos terras abundantes, potencial de
produção, climas favoráveis, imensa disponibilidade de
água doce e energia renovável, capacidade empresarial,
tudo isso faz do agronegócio um importante componente
da balança comercial que permite ao Brasil comemorar o
superávit primário.
LEITE
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BRA
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A água utilizada na higienização e materiais é sempre potável
O treinamento dos empregados também inclui
o uso correto e eficiente dos equipamentos
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52 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
LEITE
Pesquisas sobre produção
de leite orgânico podem
fortalecer a cadeia
produtiva
Sem conter resíduos químicos de qualquer
espécie, o leite orgânico é mais saudável do que o
convencional, embora ambos possuam o mesmo
valor nutritivo. Contudo, o que seria uma opção
de consumo esbarra na baixa produção
brasileira, cerca de 0,01% do total
Observando esta demanda crescente, foi implantada
uma rede de pesquisa interinstitucional coordenada pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecno-
lógico (CNPq), da qual a Embrapa Cerrados, Unidade da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), faz
parte. A meta do projeto, cuja expectativa de investimen-
to é de R$ 1 milhão, também visa ao desenvolvimento e
fortalecimento da cadeia produtiva do leite orgânico no país
a partir da disponibilização de tecnologias – e os trabalhos
da Embrapa Cerrados já começaram.
Com a pesquisa localizada neste bioma, será estudada
a produção de biomassa de forragem para sistemas agro-
ecológicos de leite. A pastagem será avaliada durante três
anos. “Plantamos braquiária consorciada com estilosantes
e, nas faixas, vamos plantar feijão guandu”, informa o pes-
quisador responsável João Paulo Guimarães. Segundo ele,
para uma pastagem ser orgânica, não deve ser utilizado
nenhum insumo químico, as fontes de adubo têm de ser
substituídas por fontes naturais e o sistema de pastejo tem
de ser do tipo rotativo (conforme a Lei 10.831/03 e a Ins-
trução Normativa 64/08, que entrou em vigor em janeiro
de 2011).
Substituição da ureia
O pesquisador explica que, para substituir a ureia, que
não é permitida no sistema orgânico por ser obtida a par-
tir do petróleo, utiliza-se adubação verde, com legumino-
sas fixadoras de nitrogênio, como é o caso do estilosantes
e do guandu. “Para aumentar a absorção de nutrientes pelas
A média brasileira da produção orgânica é de 9 litros de leite
por dia
EM
BRA
PA
AG
RO
BIO
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GIA
Na produção orgânica de leite, não são permitidos
conservantes ou aditivos
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A Lavoura DEZEMBRO/2011 53
LEITE
A bebida pode remunerar até 50% a mais
em relação ao produto convencional,
cujo valor pago é de R$ 0,80 por litro,
enquanto com o orgânico o produtor pode ser
remunerado com até R$ 1,20 por litro
A produção de leite orgânico registrada em 2010 chegou a
quase 5,5 milhões de litros, o equivalente a 1% do comércio
total do produto. Produzido em sistema diferente do processo
habitual, representa uma fonte de renda alternativa para o
agricultor, a preços atrativos.
“A mudança do sistema produtivo pode ser bastante posi-
tiva, já que estudos mostram que o leite orgânico é valorizado
no mercado e o preço chega a ser 50% maior do que o conven-
cional em algumas regiões”, explica o pesquisador da Empre-
sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), João Paulo
Guimarães Soares, zootecnista da unidade Cerrados da Em-
brapa, no Rio de Janeiro.
A produção de leite no sistema orgânico ainda é em peque-
na escala (a média diária varia entre oito e dez litros). Isso
acontece porque existem poucos produtores certificados no
Brasil adequados à Lei 10.831 e à Instrução Normativa nº 64 do
Ministério da Agricultura. Os custos de produção são menores,
pois o produtor usa menos insumos. Esse sistema evita a uti-
lização de máquinas agrícolas, trabalha com plantio direto e
compostos orgânicos, porém, exige mão-de-obra maior e mais
qualificada.
Para adotar o sistema orgânico de produção é necessário
ter, no mínimo, um período de 12 meses de manejo sustentá-
vel necessário para a conversão, principalmente das pastagens.
Somente depois desse período o produto é considerado orgâ-
nico.
SOPHIA GEBRIM – MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
O leite orgânico não contém resíduos químicos
ASSESSO
RIA
DE C
OM
UN
ICAÇ
ÃO
DO
MIN
ISTÉRIO
DA A
GRIC
ULTU
RA
raízes das gramíneas e leguminosas, também vamos
utilizar fungos micorrízicos, desenvolvidos em labora-
tório. Como fonte de fósforo, são usados fosfatos de
rochas naturais e, para suprir de potássio, no lugar do
cloreto de potássio, usamos o pó de rocha. Tudo é
natural e não tem nada de adubo químico”.
As pastagens foram instaladas na sede da Embra-
pa Cerrados, localizada em Planaltina (DF), e também
na escola agrícola do município de Unaí (MG), que
possui um projeto ligado a agricultores familiares sen-
do desenvolvido por pesquisadores da Unidade. O es-
tudo das pastagens levará 36 meses. Em seguida,
segundo o pesquisador, serão avaliadas as condições
de pastejo e, por fim, validada a pesquisa junto aos
agricultores familiares do DF e entorno. “O projeto de
agricultura orgânica é direcionado à agricultura fami-
liar, que é responsável por quase 60% de toda a produ-
ção de leite do país”, informa.
O pesquisador destaca, ainda, que para implemen-
tar esse projeto buscou-se estabelecer parceiras com
os outros trabalhos já em andamento na Embrapa
Cerrados. “Além da parceria com o Projeto Unaí, tam-
bém estamos trabalhando em conjunto com o projeto
de rochas potássicas e com o de melhoramento de le-
guminosas. Quero agregar todos os grupos que pos-
sam trabalhar com agricultura orgânica. Acredito num
sistema diferenciado que ofereça produtos de quali-
dade com segurança alimentar”, enfatizou o pesqui-
sador.
Projetos
O pesquisador João Paulo Guimarães Soares é lí-
der do projeto componente Sistemas Orgânicos de
Produção Animal (iniciado em outubro de 2007) do
Macroprograma 1 da Embrapa - Bases Científicas e
Tecnológicas para o Desenvolvimento da Agricultura
Orgânica no Brasil. Além do projeto de pesquisa apro-
vado em dezembro pelo CNPq, o pesquisador também
coordenará a partir deste ano, com previsão de tér-
mino para 2013, um trabalho de estruturação da ca-
deia produtiva do leite orgânico no Distrito Federal e
municípios do entorno.
Serão priorizados os seguintes locais: Paranoá (DF),
PAD-DF, Padre Bernardo (GO), Luziânia (GO), Formo-
sa (GO), Cristalina (GO) e Unaí (MG). O trabalho con-
ta com recursos do programa Mais Alimentos, do Mi-
nistério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
“Com esses dois projetos aprovados externamen-
te queremos apoiar financeira e tecnicamente o de sis-
temas orgânicos de produção animal, que está inseri-
do no projeto em rede de agricultura orgânica”, ex-
plica o pesquisador.
JULIANA CALDAS
Leite orgânico
aumenta
a renda do
produtor
Leite orgânico
aumenta
a renda do
produtor
!ALAV687-49-53-Leite.pmd 4/11/2011, 09:5353
54 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
A
Sua importância no entendimento
entre o setor privado do
Agronegócio e o governo
As Câmaras Setoriais e Temáticas se con-
solidaram, ao longo dos últimos anos,
como o principal foro de interlocução
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abaste-
cimento com o setor produtivo. São ferramen-
tas indispensáveis para a identificação de opor-
tunidades ao desenvolvimento das cadeias pro-
dutivas, definindo ações prioritárias de interes-
se para o agronegócio brasileiro e seu relacio-
namento com os mercados internos e externos.
Este elo entre governo e setor privado resulta
em um mecanismo democrático e transparente
de participação da sociedade na formulação de
políticas públicas.
As Câmaras Setoriais, ligadas à ideia de ca-
deias produtivas, e as Temáticas, que tratam de
temas transversais, são constituídas por repre-
sentantes de entidades de caráter nacional: for-
necedores de insumos, produtores, trabalhado-
res, indústrias, exportadores, importadores, en-
tidades de assistência técnica e extensão rural,
instituições financeiras, supermercados e órgãos
públicos ligados ao setor, entre eles, Ministério
da Agricultura, Ministério de Desenvolvimento
Agrário (MDA), Ministério de Desenvolvimento In-
dústria e Comércio Exterior (MDC), Ministério da
Fazenda, Planejamento, da Integração, Relações
Internacionais, Ciência e Tecnologia, dos Trans-
portes, EMBRAPA, SEBRAE, entre outros.
As Câmaras Setoriais e Temáticas contribu-
em com análises e informações que permitem a
identificação de prioridades de atuação do Go-
verno, resultando em contribuições para os pla-
nos agrícolas e pecuários do Governo Federal e
busca de consenso para conflitos e negociações
internas e externas que promovam o desenvol-
vimento, agregação de valor e aumento de com-
petitividade dos diversos setores do agronegó-
cio brasileiro, hoje responsável por 26,4% do PIB
nacional, por 36% das nossas exportações, e que
responde por 39% dos empregos gerados no mer-
cado interno.
Atualmente existem 34 Câmaras que repre-
sentam diferentes setores e temas do agrone-
gócio nacional: Açúcar e Álcool, Algodão e deri-
vados, Arroz, Aves e Suínos, Biodiesel, Borracha
Natural, Cacau, Cachaça, Caprinos e Ovinos, Car-
ne Bovina, Citricultura, Culturas de Inverno,
Equideocultura, Feijão, Fibras Naturais, Flores
e Plantas Ornamentais, Fruticultura, Hortaliças,
Leite e derivados, Mandioca e derivados, Mel e
Produtos Apícolas, Milho e Sorgo, Palma de Óleo,
Silvicultura, Soja, Tabaco, Viticultura, Vinhos e
derivados, Agricultura Orgânica, Agricultura Sus-
tentável e Irrigação, Crédito e Comercialização
do Agronegócio, Seguros do Agronegócio, Infra-
estrutura e Logística do Agronegócio, Insumos
Agropecuários e Relações Internacionais
Para garantir a máxima eficiência dos traba-
lhos das Câmaras, o MAPA conta uma estrutura es-
pecífica para acompanhá-las: a Coordenação-Ge-
ral de Apoio às Câmaras Setoriais e Temáticas. For-
mada por uma equipe de vários profissionais, a
CGAC tem como principal função coordenar e
apoiar os trabalhos das Câmaras.
Agendas estratégicas
Ao longo de 2010, as Câmaras Setoriais do
MAPA se dedicaram à construção das agendas es-
tratégicas de seus diversos setores. O objetivo
foi estabelecer um plano de trabalho para cada
cadeia representada por Câmara, para os pró-
ximos cinco anos (até 2015), além de facilitar e
organizar a ação conjunta das Câmaras nos as-
suntos de interesse comum e fortalecê-las como
ferramentas de construção de Políticas Públicas
e Privadas para o Agronegócio.
Para tanto, foi definida uma metodologia
única, a fim de que os assuntos transversais (que
perpassam diversas cadeias) fossem claramen-
te identificados e o conjunto das propostas pu-
desse compor uma Agenda Estratégica do Agro-
negócio Nacional.
De acordo com a metodologia adotada, as
Agendas se estruturaram em torno de 11 gran-
des temas: Estatísticas, Pesquisa e Desenvolvi-
mento, Inovação, Assistência Técnica
(Capacitação, Difusão e Extensão), Defesa Agro-
pecuária, Marketing e Promoção, Gestão da Qua-
lidade, Governança da Cadeia, Crédito e Segu-
ro, Comercialização, Relações Internacionais e
Legislação.
Para cada tema foram identificados, inici-
almente, itens de agenda e diretrizes, compon-
do um documento inicial para discussão. Após a
aprovação da Agenda, foram estabelecidos os
itens prioritários e, a partir daí, foram definidas
as Ações a Tomar, com seus respectivos respon-
sáveis e prazos de execução.
As Agendas Estratégicas, assim, passaram a
orientar a elaboração das pautas das reuniões,
de forma que cada Câmara pudesse acompanhar
a evolução das questões elencadas. No que se
refere aos assuntos comuns, foi feito um traba-
lho de consolidação dessas Agendas, para iden-
tificar quais as questões que afetariam as cadeias
produtivas. Esta fase foi fundamental na ela-
boração da Proposta do MAPA para o Pla-
no Plurianual 2011-2015, onde se buscou
alinhar as prioridades do MAPA com aque-
las apontadas pelas Agendas.
Versões eletrônicas desses docu-
mentos estão disponíveis no site do
MAPA (www.agricultura.gov.br). A inten-
ção é disseminar este trabalho, permi-
tindo não só a participação de pessoas
ligadas às cadeias que não fazem parte
das Câmaras como, ao mesmo tempo,
balizar a atuação dos diversos agentes
da Cadeia em suas ações, tendo como
objetivos, prioridades e metas aquelas
elencadas nas Agendas Estratégicas.
Nesse sentido, foi proposta a criação de
uma Visão de Futuro e a indicação de Indi-
cadores e Metas para 2015. A Visão de Fu-
turo corresponde à manchete que os se-
tores gostariam de ver estampadas nos ca-
dernos de Economia dos grandes jornais do
país. Os indicadores e metas permitirão ava-
liar, com o passar do tempo, se as ações ado-
tadas tanto pelo Governo quanto pelo se-
tor produtivo estão sendo efetivadas. Des-
sa forma, as Agendas Estratégicas atuam
como instrumentos para facilitar a celebra-
ção de compromissos mútuos entre Gover-
no e setor privado, pelo fortalecimento da
Agropecuária brasileira.
A participação da SNA
A Sociedade Nacional de Agricultu-
ra - SNA tem atuado como membro efe-
tivo das Câmaras Temáticas, cujos temas
perpassam por todas as cadeias produ-
tivas. A participação ativa de sua dire-
toria e do presidente Antonio Alvarenga,
nas Câmaras Temáticas de Infraestrutu-
ra e Logística do Agronegócio e de Se-
guros do Agronegócio, tem fortalecido
a representatividade destes fóruns, con-
ferindo maior peso de legitimidade nas
decisões tomadas em plenário e enca-
minhadas ao governo. Recentemente,
a SNA foi convidada a participar como
membro efetivo da recém criada Câma-
ra Temática de Crédito e Comercializa-
ção do Agronegócio, cujos objetivos são
discutir e debater a melhor adequação
e modernização do crédito agrícola
existente, tanto o público como o pri-
vado, e criar inovações em mecanismos
de comercialização.
Aguinaldo José de Lima atua na Coordenação Geral de
Apoio às Câmaras Setoriais e Temáticas (GCAC) do Minis-
tério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
As Câmaras Setoriais e Temáticas
do Ministério da Agricultura
DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA
Atualmente, existem 34 Câmaras que representam
diferentes setores do agronegócio. A SNA participa
como membro efetivo desses fóruns. Na foto, o diretor
Francisco Vilela Santos (em primeiro plano) repre-
senta a SNA na Câmara de Seguros do Agronegócio
m
!ALAV687-54-Desenv.Agrícola.pmd 4/11/2011, 16:0254
A Lavoura OUTUBRO/2009 55
!!ALAV687-3ªe4ªCapas.pmd 4/11/2011, 09:5455
56 OUTUBRO/2009 A Lavoura
!!ALAV687-3ªe4ªCapas.pmd 4/11/2011, 09:5456