Post on 21-Apr-2015
Criação, texto e formataçãogrotto.storti@terra.com.brCaldas Novas - Goiássetembro de 2009Músicas: Unchanged MelodyDistânciaSarabanda - opus 5 - nº 8
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Nasci de família pobre,
em uma casinha de pau a pique,
num pé de serra; Se na vida não
finco o pé, esquecendo que
existe o tal pé frio,
jamais eu sairia da condição de
um pé rapado ou de um pé
de chinelo .
Até meus doze anos,
por andar sempre descalço,
eu era chamado de pé rachado e, por
ter os pés grandes,
também fui apelidado de pé de lancha. Meu primeiro
calçado foi número trinta e sete.
Nunca tive problema de
pé de atleta, mas tive muito bicho de
pé, o que era comum naquela
época.
Assim como meus irmãos mais
velhos, no trabalho eu era um pé de boi. Trabalhando sempre juntos,
enfrentamos muito pé de vento e,
debaixo de muito pé d’água
plantamos muitos pés de pau de
todas as espécies, frutíferas ou não.Tínhamos também nosso gadinho pé
duro.Dentre nossas
ferramentas mais leves posso citar o
pé de cabra e outras como o
machado, a enxada, a foice,
etc.
Aos doze anos, vendo que aquela vida não
dava pé, tive uma conversa de pé de ouvido com meu
pai, quando expus minha intenção
de dar no pé e ir para a cidade.
Contrariado, meu pai reprovou
minha decisão mas, finquei pé
e não mudei de idéia. Foi então que botei o
pé na estrada e fui tentar,
na cidade, fazer meu pé de meia.
Na cidade quase fraquejei,
e cheguei a pensar que realmente eu
não era um pé quente; Tudo pra
mim era mais difícil do
que para os outros; Não que
eu fosse menos capaz que
eles, muito pelo contrario,
e o tempo veio comprovar isso; É que eu nunca quis
nada de mão beijada; Sempre finquei pé e corri
atrás do que eu queria. Comecei com o pé
firme por isso todos diziam
que eu tinha começado
com o pé direito.
O meu primeiro carro era
velho, um pé de bode modelo
mil novecentos e pouca coisa e,
aos pouco, fui tirando o
pé da lama; Então ninguém mais
achava que eu era um pé de
chinelo ou um pé rapado.
Para não tirar o pé do chão,
nunca fui boêmio nem mulherengo, nunca enfiei o pé na jaca, mesmo
porque na minha
humildade não era nenhum pé de mesa; Mas sempre gostei de
dançar; Eu era um verdadeiro pé
de valsa.
Tudo o que eu fazia era em pé de igualdade com muitos
outros colegas pé de chumbo; Alguns deles se
tornaram verdadeiro pé
de cana.
Dos chefes que tive,
alguns foram pessoas
inteligentes outros imbecis; Desses últimos
tive muitas vezes em pé de briga; Por isso, sempre
fiquei com um pé atrás
com esses caras;
Nunca dei pé para discórdias,
mesmo sendo esses caras um pé no saco; Se conseguissem,
me dariam um pé na bunda,
mas sempre precisaram de
mim para salvar suas
imbecilidades, pois nunca fui um funcionário pé de
porco; Mas confesso que
muitas vezes tive vontade de
pregar a mão no pé da orelha
deles.
E assim, sempre com o
pé no chão, fui aos
poucos, fazendo meu
pé de meia. Até comprei
o um pé de borracha
novinho em folha;
Com esse carro novo
eu poderia sair por aí
enfiando o pé na tábua,
mas não, sempre fui
prudente e mantive o
pé no freio.
Hoje, volto a dizer:
Eu sou um cara do
pé quente; Com meu pé de meia feito, estou numa boa,de pé pro
alto!
O único problema
é que o tempo passa e, pelos pés de galinha
que vem aumentando
em meu rosto, percebo
que estou quase com o
pé na cova, mas farei pé
firme até o fim.
Quando eu amarelar o pé e for para a
cidade dos pés juntos,
se realmente restar
alguma coisa ativa em
quem vai para lá,
quero continuar fincando o pé e trabalhar para
que todos, em pé de
igualdade, deixem de ser pé de chumbo
e façam o pé de meia
de suas almas.