Post on 16-Feb-2015
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INTRODUÇÃO
O perfil de uma criança em sala de aula diz muito sobre o meio social
em que está inserida.
São muitas as queixas de educadores e da própria família, de crianças
que não conseguem assimilar aprendizagens, são quietos demais e arredios, ou
simplesmente se fecham em seus mundos, deixando o adulto sem explicação para
tal atitude.
LEITE (2000); TASSONI (2000), afirmam que “na área educacional, a
crença de que a aprendizagem é social, mediada por elementos culturais, produz um
novo olhar para as práticas pedagógicas.” 1 Hoje, os professores estão preocupados
em como ensinar seus conteúdos e despertar o interesse dos alunos.
Partindo da idéia da constituição da pessoa pensado por Wallon, onde
a afetividade é tema presente em suas obras e entendendo que algumas situações
presenciadas por pais em casa e educadores em sala de aula podem ter uma
ligação afetiva que pode estar servindo de barreira prejudicando o seu
desenvolvimento.
Sabemos que a afetividade é um tema complexo para os psicólogos,
quiçá por educadores, porém é importante ressaltar seus estudos na área que pode
ser tratada em sala de aula também: a literatura. Pois é nela que se encontram a
utilização dos termos como afeto, emoção e sentimento.
Pensando nessa premissa, vários educadores utilizam estórias infantis
a fim de prender a atenção dos alunos e tentar melhorar de uma forma inconsciente,
as suas atitudes em sala de aula.
Sendo assim, utilizam os contos de fadas como forma de acessar a
mentalidade da criança em idade escolar.
A contação de histórias está presente na vida do ser humano há
milhares de anos. Desde o momento que os primeiros homens começaram a
desenhar em cavernas a fim de mostrar aos membros de seus clãs as suas
1 LEITE, Sérgio Antônio da Silva Leite; TASSONI, Elvira Cristina Martins. Afetividade em sala de aula:
As condições de ensino e a mediação do professor, p. 01.
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façanhas durante a caçada até os dias atuais quando a estória2 é passada de uma
pessoa a outra por meio de linguagem oral, escrita ou pela imagem.
Silva afirma:
“A arte de contar histórias é uma prática milenar que teve seu início desde os primórdios da humanidade por meio da tradição oral, sendo intensificadas na Grécia Antiga e no Império Árabe – por meio das famosas histórias presentes na obra “As mil e uma noites”, contadas por Sherazade. Essa arte amplia o universo literário, desperta o interesse pela leitura e estimula a imaginação através da construção de imagens interiores. Narrar uma historia será sempre um exercício de renovação da vida, um encontro com a possibilidade, com o imaginário e o desafio de, em todo tempo e em todas as circunstâncias de construir um final a maneira de cada leitor/ouvinte.”
3
A partir da construção do conceito de infância, muitos estudos foram
focados no desenvolvimento da criança.
Profissionais de diversas áreas, acreditando que é na infância onde se
origina grande parte dos males sociais, neurológicos e intelectuais do adulto,
dedicaram seus estudos na infância onde, segundo eles, ocorrem transformações
importantes na constituição da pessoa que vai influenciar toda sua vida.
Sendo assim, o presente trabalho de pesquisa tem como foco principal
os contos de fadas e indicar como os mesmos podem auxiliar uma criança com
dificuldades de aprendizagem desencadeadas por problemas de afetividade.
A monografia tentará explicar como o profissional da educação poderá
utilizar os contos de fadas para abordar a criança e ao mesmo tempo identificar a
raiz da barreira que dificulta seu desenvolvimento emocional.
1. A FAMÍLIA
1.1 A FAMÍLIA E A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE
Para explicar a influência dos contos de fadas no desenvolvimento
emocional da criança e sua utilização como ferramenta por um profissional da
2 O termo estória refere-se a narrativas sem fundamentação científica. Exemplo dos contos.
3 SILVA, Flavio Alves. Portal Literal. Disponível em <http://www.portalliteral.com.br/artigos/contacao-
de-historias-e-desenvolvimento-da-crianc> acessado em dezembro de 2009.
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educação, é necessário entender uma das raízes de vários problemas emocionais
desencadeados pelas crianças, ou seja, seu primeiro meio social.
Em consulta às várias bibliografias relacionada ao assunto,
entendemos que uma pessoa passa por diversos meios de convivências durante
toda a sua vida. Dentre esses meios, a família pode ser considerada a primeira
instituição social para grande parte das crianças, seguida por casas de passagem,
quando estas não têm a possibilidade de conhecer sua origem, ou quando são
induzidas a conviver no ambiente devido a sua desestrutura familiar.
Após certa idade a criança começa a freqüentar uma escola onde
inicia seu desenvolvimento cognitivo e conhece outros meios sociais, se
relacionando com eles e se desenvolvendo nos padrões sociais designados a elas.
Aprendendo códigos de escrita e entendo seus deveres para viver de acordo com a
conduta que seu meio social exige.
Todas as sociedades possuem um sistema natural de seleção4, como
algumas pessoas são diferentes biologicamente ou resultantes de um meio social
problemático, elas são rotuladas como possuidoras de algum tipo de problema que é
necessário ser sanado pela sociedade que a abriga a fim de se tornar uma
sociedade perfeita.
Em cada sociedade existe uma criança que não consegue desenvolver
plenamente sua capacidade intelectual pela falha da instituição que a abriga, seja
ela a família, seja o meio social que entrar em contato.
Para SARECENO (1988), GOLEMAN (1995) o primeiro meio social
para grande parte das crianças em idade escolar é a família. Então, é importante
realizar um estudo sobre a família, sua história e formação até chegar aos modelos
familiares atuais onde seu ritmo de vida possa desencadear alguma dificuldade de
comunicação entre a criança e o mundo externo, prejudicando seu desenvolvimento.
Sabemos que existem vários problemas que podem dificultar o aprendizado de uma
criança que podem ser de origem neurológica, biológica, social e afetiva. Entretanto,
o assunto de interesse desta pesquisa é o que está ligado com o lado emocional da
4 A teoria da seleção de espécies de Darwin foi tomada como base dessa conclusão. Para Darwin, a
natureza do mais forte prevalecia sobre os mais fracos. Assim, muitos cientistas do mesmo período de Darwin, associaram suas teorias com a do famoso autor, lançando a idéia de que os mais fracos serão sempre dominados pelos mais fortes na área cultural, política, genética e social.
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criança. Sendo assim, procuramos estudar o primeiro meio social que a criança tem
contato que é a família.
A constituição da família em sua forma mais primitiva tem seu início
com os clãs, cujos membros possuíam ligações sanguíneas ou por parentescos
adquiridos por meio de casamento adotando os filhos do parceiro.
Dependendo da cultura ou da situação o clã poderia ser regido tanto
por um membro masculino, geralmente o homem mais antigo, sendo chamado de
patriarca, ou poderia ser comandado por uma mulher, denominada matriarca.
No inicio, esses clãs preocupavam-se em produzir para seus membros,
tendo, assim, muito tempo livre para diversão. Como afirma Cotrim (2004), “O resto
do tempo era preenchido com brincadeiras, festas, danças, cerimônias, rituais,
refeições, banhos, etc.”
No decorrer dos tempos, os clãs desenvolveram a agricultura,
domesticaram animais e começaram a trocar seus excedentes com outros clãs, além
de casar seus membros com os de outros clãs por motivo comercial, para paz
territorial ou por entender instintivamente que seus filhos poderiam ter algum
problema fisiológico pela proximidade parental5. Surgindo, então, o primeiro sistema
econômico e as primeiras civilizações, onde Mesopotâmia, Egito, Grécia e Roma
difundiram regras, hábitos, costumes e conhecimentos para outros povos.
Logicamente existiram os povos nômades a procura de terras para se fixar, a
história tem registros destes povos denominados pelas civilizações de bárbaros, por
seus costumes serem tão diferentes deles.
O tipo de família, nas primeiras civilizações, exceto a romana, seguia o
modelo patrilinear, onde o homem ganha destaque.
Cotrim exemplifica o modelo familiar nas primeiras civilizações explicando a forma
de vida dos gregos:
“O chefe da família era o pai. Ele tinha absoluta autoridade sobre a mulher e os filhos. Podia, por exemplo, ajustar o casamento de um filho sem consultá-lo sobre o assunto ao pai cabia administrar os bens de família e determinar as atividades dos escravos [...].”
5 Freud, Sigmund. Totem e Tabu, Vol. XIII, p.26.
5
“A regra era o marido passar o dia inteiro fora de casa. Enquanto a mulher era a verdadeira dona do lar, executando inúmeras atividades, como dirigir o trabalho doméstico, vigiar os escravos, regular as despesas da família.”
6
Cabia ao pai, também, o direito de vida ou morte de seu filho recém
nascido, aceitando ou não como membro de sua família.
Naquela época, os pais matavam os filhos que tivessem algum
problema de origem biológica, por entender que eles não seriam motivos de orgulho
em sua mocidade ou que eles não sobreviveriam devido à sua condição.
1.2 A INFLUENCIA DA SOCIEDADE NA ESTRUTURA FAMILIAR
Nos séculos que sucederam, o papel de família foi se reformulando e
se adaptando aos novos desafios da sociedade qual fazia parte.
Nos períodos que se sucederam à Antiguidade, analisamos a
sociedade sob a perspectiva econômica feudal e a transição da mesma para o
capitalismo. Pois foi na análise econômica da sociedade européia que encontramos
as significativas mudanças familiares.
Sob o ponto de vista econômico feudal, vemos na Idade Média, por
exemplo, o medo da população decorrente da invasão bárbara, motivo da
decadência do grande Império Romano do Ocidente. As pessoas foram obrigadas a
ir para o interior, se submeter à lei do senhor de terras e adequar sua vida para a
agricultura.
Essa atitude ocasionou a descentralização do poder, antes nas mãos
dos reis gora para as mãos dos senhores feudais. Estes, por sua vez, tinham um
sistema de leis próprias que submetiam seus servos.
Os servos, em troca de proteção teriam que trabalhar nas terras de
seus senhores e oferecer morada quando fosse época de caça, até ceder uma filha
ou sua mulher para que se pudesse deitar com elas. Nessa época a posição social
era hereditária e fechada, ou seja, nascia servo, morria servo.
6 COTRIM, Gilberto. História Geral, p 34.
6
A Igreja Católica era a maior proprietária de terras na Europa
Ocidental.
Segundo Cotrim, a igreja “estava diretamente interessada na
manutenção das relações servis, pregava que a existência de senhores e servos era
absolutamente normal em uma sociedade cristã e que os servos deveriam obedecer
aos seus senhores.” 7
Com o tempo, algumas famílias agricultoras foram produzindo
excedentes e desenvolvendo o sistema de trocas. Surgiram-se os burgos e os
burgueses cujo sistema econômico enfraqueceu o poder dos senhores feudais e
restituiu o poder aos monarcas.
Entretanto, essa mudança na sociedade não ocorreu bruscamente,
mas depois de muitas revoltas camponesas e resistência dos senhores feudais.
Devido às crises econômicas resultantes da escassez de terras
cultiváveis, à peste negra que dizimou parte da população européia, a Europa viu a
necessidade de expandir seus mercados. Agora o sistema de trocas não estava
mais satisfazendo a sociedade burguesa, assim foi criado o sistema do dinheiro.
Nessa época, não era quem tinha terras que era poderoso e sim quem
tinha dinheiro.
Beruti apud Conte afirma:
“O aparecimento da renda em dinheiro na economia feudal como elemento que precipita a crise do sistema feudal, sem, no entanto criá-la. Preocupa-se, em seguida, em identificar o verdadeiro motor da evolução da sociedade feudal para uma organização capitalista de produção,enfatizando,sobretudo,a superexploração feudal e a luta de classes dos camponeses como responsável pela segregação do feudalismo “clássico”.
8
Cotrim afirma que “o desenvolvimento do capitalismo foi impulsionado
pela expansão marítimo comercial na Europa, nos séculos XV e XVI. Dessa
expansão resultaram o descobrimento de novas rotas de comércio para o Oriente e
a conquista e colonização da América.” 9
Portugal foi o primeiro país europeu a se lançar nas expedições
marítimas no século XV. Seguido por Espanha no final do mesmo século. Ambos os
7 COTRIM, Gilberto. História Geral, p. 36.
8 BERUTTI, Flávio. História Moderna através de textos. p.25.
9 COTRIM, Gilberto. História Geral, p. 45.
7
países com objetivo comum de chegar às índias em busca de produtos para
comercializar.
Com as expedições em buscas de rotas alternativas para chegar às
índias, Portugal acaba por aportar no Brasil.
E uma carta destinada ao rei de Portugal, Pero Vaz de Caminha
descreve o Brasil de terras férteis e águas abundantes que abriga pessoas que
necessitam ser convertidas ao cristianismo.
Com o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, qual dividia o continente
americano em dois, Portugal resolveu colonizar o Brasil, temendo os avanços dos
espanhóis pelo oeste, sentido leste.
A princípio, a intenção econômica portuguesa no Brasil foi a extração
do Pau Brasil e, para isso utilizaram a força de trabalho indígena que, por diversas
vezes fugia de suas funções mata adentro.
Os índios não costumavam trabalhar mais do que o necessário por sua
sobrevivência motivo de sua fuga por um território que conheciam tão bem.
Para Fausto (2003):
“Os grupos tupis praticavam caça, a pesca, a coleta de frutas e a agricultura, mas seria engano pensar que estivesse intuitivamente preocupado em preservar ou restabelecer o equilíbrio ecológico das áreas por eles ocupadas. Quando ocorria uma relativa exaustão de alimentos nessas áreas, migravam temporária ou definitivamente para outras.”
10
O hábito da mulher indígena encantava os europeus que aportaram no
Brasil. Destes encantamentos, iniciou a miscigenação do povo brasileiro: “mostra,
até hoje, sua presença silenciosa na formação da sociedade brasileira.” Afirma
Fausto.
Sobre a miscigenação indígena brasileira, Freyre, explica:
“A transigência com o elemento nativo se impunha à política de colonial portuguesa: as circunstancias facilitaram-na. A luxúria dos indivíduos, soltos sem família, no meio da indiada nua, vinha servir a poderosas razões de Estado no sentido de rápido povoamento mestiço da nova terra. E o certo é que sobre a mulher gentia fundou-se e desenvolveu-se através dos séculos XVI e XVII o grosso da sociedade colonial, em um largo e profundo mestiçamento, que a interferência dos padres da Companhia
10
FAUSTO, Boris. História do Brasil, p 38.
8
salvou de resolver-se todo em libertinagem para em grande parte regularizar-se em casamento cristão.”
11
Em 1808, com a chegada da família real no Brasil, fugindo das guerras
napoleônicas. O rei D. João VI, vê na colônia a possibilidade de atividades
mercantis. Uma vez que a família real situada na colônia, deixaria o Brasil livre do
Pacto Colonial.12
Com a fuga da família real para o Brasil, a elite burguesa de Portugal
tomou o poder e estabeleceu o regime de monarquia constitucional, em 1820.
Forçando o rei D. João VI a voltar para Portugal. O novo governo Português tentou
restaurar o pacto colonial, porém os colonos reagiram. Fazendo com que o jovem rei
D. Pedro, filho de D. João VI, que havia ficado no Brasil, assumisse a coroa,
proclamando a independência do Brasil em 1820.
Com a nova economia mercantil qual operava o capitalismo, o novo
sistema comercial que começou a dar lucros foi o tráfico de escravos.
Assim, o português deixou de lado o trabalho indígena e adotou a
escravidão.
Segundo Fausto, “os colonizadores tinham conhecimento das
habilidades dos negros, sobretudo por sua rentável utilização na atividade
açucareira das ilhas do Atlântico. Muitos escravos provinham de culturas em que
trabalhos com o ferro e a criação de gado eram usuais.“
O negro era considerado uma fonte de renda para os senhores de
engenho, pois além da sua resistência no trabalho braçal superior à indígena,
também sua mão de obra compensava ao europeu o dinheiro gasto na sua
aquisição.
Assim como o índio, o negro também ofereceu resistência aos seus
patrões. Dessa resistência surgiram grandes histórias que marcaram a cultura
brasileira.
Cotrim (2003) afirma:
“De várias maneiras, os negros procuravam reagir contra a violência da escravidão. Algumas escravas procuravam abortar os filhos em gestação, para que eles não viessem a sofrer o que elas padeciam. Outros escravos fugiam em busca de
11
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala, p.161. 12
Pacto Colonial assegurava o comercio da colônia somente com a metrópole.
9
liberdade e fundavam comunidades para se protegerem dos capitães - do – mato, homens violentos que perseguiam e capturavam os escravos.”
13
A mulher negra destacou-se na sociedade colonial por sua
sexualidade, como destaca Freyre:
“Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se deliciam nossos sentidos, na música, no andar, na fala, no canto de ninar menino pequeno, em tudo que é expressão sincera de vida, trazemos quase todos, a marca da influência negra. Da escrava ou sinhama que nos embalou. Que nos deu de mamar. Que nos deu de comer, ela própria amolengando na mão o bolão de comida. Da negra velha que os contou as primeiras histórias de bico e mal assombrado. Da mulata que nos tirou o primeiro bicho de pé de uma coceira tão boa. Da que nos iniciou no amor físico e nos transmitiu, ao ranger da cama de vento, a primeira sensação completa de homem. Do moleque que foi nosso primeiro companheiro de brinquedo.”
14
A sociedade brasileira tinha as características de uma sociedade
patriarcal, como afirma Freyre:
“Também é característico do regime patriarcal o homem fazer da mulher uma criatura tão diferente dele quanto o possível. Ele, o sexo forte, ela o fraco; ele o sexo nobre, ela o belo. Mas a beleza que se quer da mulher, dentro do sistema patriarcal, é uma beleza meio mórbida. A menina de tipo franzino, quase doente. Ou então a senhora gorda, mole, caseira, maternal, coxas e nádegas largas. Nada do tipo vigoroso e ágil de moça, aproximando-se da figura de rapaz. “O máximo de diferenciação de tipo e de trajo entre os dois sexos”.
15
A visão da mulher européia não é muito animadora. Talvez o papel
designado a ela pela sociedade vigente a tivesse colocado em segundo plano com o
estereótipo de mulher indígena e o da negra. Personagens que muito povoaram a
história da sociedade brasileira.
Através deste estereótipo feminino “a extrema diferenciação e
especialização do sexo feminino em “belo sexo” e “sexo frágil, “fez da mulher de
senhor de engenho e de fazenda e mesmo da Iaiá de sobrado, no Brasil, um ser
artificial, mórbido. “Uma doente, deformada no corpo para ser a serva do homem e a
boneca de carne do marido.”
Quando a Revolução Industrial do século XVIII surgiu uma nova classe
social de trabalhadores na Europa: classe dos proletariados.
13
COTRIM, Gilberto. História Geral, p. 23. 14
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala, p 367. 15
FREYRE, Gilberto. Sobrados & Mucambos, p207.
10
Com o sistema de salários mínimos e jornadas extenuantes de
trabalho, onde adulto e crianças labutavam em troca de pagamento, surge o novo
sistema capitalista.
Os negros já não eram tão lucrativos se cativos, pois a Inglaterra
apertava a elite brasileira em extinguir o tráfico negreiro. Entretanto, a elite não
extinguiu de imediato devido ao ciclo econômico do café, eles usavam da mão de
obra escrava para a produção do café. Essa afirmação histórica é contada por
Fausto em sua obra, qual enfatiza uma frase comum nos círculos dominantes da
primeira metade do século XIX: “O Brasil é o café e o café é o negro”. 16
Parafraseando com Fausto, essa não era uma idéia totalmente
verdadeira. No Brasil não existia só o cultivo de café, como também não só existira o
cultivo do açúcar. Porém, a realidade que movimentava a economia cafeeira nesse
período era a expansão do trafico de escravos devido à necessidade nas lavouras
de café.
Em setembro de 1850, o projeto de lei que proibia o comércio de
escravos proposto pelo então ministro da justiça Eusébio de Queirós, começou a
valer. Fausto explica que dados do período informam que “a entrada de escravo no
país caiu de cerca de 50 mil cativos, em 149, para menos de 23 mil, em 1850 e em
torno de 3300, em 1851, desaparecendo praticamente a partir daí.”17
Com a escravidão se tornando crime, os grandes produtores de café
sentiram a necessidade de contratar mão de obra européia, e assim começou a
imigração no território brasileiro.
Darcy Ribeiro, em sua obra intitulada “povo brasileiro” dá ênfase à formação do
brasileiro a partir dos ciclos econômicos, quais foram descritos, de forma sintetizada
a fim de explicar a miscigenação brasileira desde os tempos da colônia portuguesa
até os dias atuais.
A cada mudança da sociedade brasileira, cada nova tecnologia
incorporada e novas posições no campo econômico, político e social, o brasileiro foi
mudando para se adequar às novas condições de vida.
16
FAUSTO, Boris. História do Brasil, p. 192. 17
FAUSTO, Boris. História do Brasil, p. 195.
11
Com esse pensamento, a família mudou substancialmente, passando do modelo
patrilinear e grande para os tipos mais conhecidos atualmente.
A Ditadura militar foi o período que mais marcou a sociedade, pois
durante esse período muitas pessoas, armadas com conhecimentos, começaram a
questionar a participação do povo na construção de um país melhor, mais aberto.
Vários movimentos sociais apontaram na ditadura, auxiliando na
mudança de opinião do povo, dentre eles, o movimento Hippie.
Sousa aponta:
“Na década de 1960, a cultura jovem ganhou uma visível repercussão por meio de diferentes manifestações políticas e artísticas. Em várias situações, vemos que a sociedade de consumo é alvo do protesto de jovens estudantes engajados. Um pouco antes desse período, o movimento beatnik, nos EUA, já trilhava uma série de críticas que ia contra os padrões da sociedade industrial. Logo em seguida, os hippies apareciam como defensores de um modelo de vida alternativo. Em muitas situações, os jovens atrelados a esse movimento criticavam os padrões morais de um tempo em que as guerras ceifavam a vida de milhares de inocentes. Não por acaso, o pacifismo do movimento hippie comungava com a defesa de uma nova sociedade, de outros padrões que pudessem alcançar uma sonhada harmonia de grande amplitude. Apesar de visivelmente pretensiosos, muitos jovens saíram do conforto do seu lar para viverem em sociedades dotadas de outros valores e anseios.”
18
O ponto culminante desse movimento foi quando muitas pessoas se
reuniram em uma fazenda na cidade de Nova York para curtir música folk e rock,
usar drogas, principalmente a maconha, nadar nu e fazer sexo em barracas. “O
clima libertário do vento virou símbolo da cultura hippie e da geração "Paz e Amor".19
As mulheres começaram a trabalhar para auxiliar nas finanças em
casa. Assim sendo, os modelos familiares vão sofrendo profundas modificações.
Com a chegada de novas tecnologias, graças à globalização20, a família brasileira,
antes restringida aos modelos de sua sociedade, passa a conhecer outros modelos,
criar outras consciências, outras morais e formar outros conceitos de família. Tabus
18
SOUSA, Rainer. Portal Brasil Escola. Disponível em <http://www.educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/reflexos-cultura-hippie-no-brasil.htm> acessado em abril de 2010. 19
SALATIEL, José Renato. Festival de Woodstock Marco da contracultura faz 40 anos. . UOL Educação. Disponível em <http://educacao.uol.com.br/atualidades/festival-woodstock.jhtm> acessado em novembro de 2009. 20
A globalização pode ser definida, segundo o dicionário Houaiss, como processo pelo qual a vida social e cultural nos diversos países do mundo é cada vez mais afetada por influências internacionais em razão de injunções políticas e econômicas.
12
são quebrados e outros levantados. Como o reconhecimento da mulher na
sociedade atual.
Tiba destaca:
“O machismo, que se apoiava na subserviência da mulher cada vez mais cai por terra à medida que a mulher vai se integrando à globalização e à mulherização. Nos Estados Unidos, de 1950 para cá, a empregabilidade do homem caiu de 70% para 52%, e a mulher subiu de 30% para 48%. Não há como o homem não aceitar a superior capacitação das mulheres, porque elas estudam mais anos, tem mais diplomas e mais títulos de mestrado e doutorado. O número de mulheres chefes de família aumentou 8 vezes entre 1995 e 2005, estando 28% dos lares brasileiros providos pelas mulheres.”
21
A mulher tem seu papel destacado pela habilidade de cuidar dos filhos
e trabalhar para ajudar nas finanças do lar. Ela passou a ser colaboradora,
chegando a uma posição mais igualitária em relação ao homem.
O homem, por sua vez, em muitas famílias, desempregado, passa a
desempenhar o papel doméstico.
A utopia dos papéis está na representação feliz dessas famílias. Porém
o que se nota não é muito animador em relação a elas.
O homem desempregado se vê impossibilitado de sustentar a família,
se entregando a vícios e não dispensando seus cuidados em relação aos filhos.
A mãe, por trabalhar demais, não consegue acompanhar o
desenvolvimento dos filhos, relegando a terceiros sua educação.
Há também outros estereótipos familiares quais os papéis de mãe e
pai, são incumbidos a uma pessoa apenas, ou a várias
Tiba acredita que:
“Quanto mais deparamos com os problemas das crianças e adolescentes, mais recorremos à família. Fica cada vez mais claro que aprendemos nosso lugar no mundo de acordo com o lugar que assumimos e que nos é dado dentro da família. A família tem então um enorme poder para o bem como para o mal. Quando vivemos a Cidadania Familiar, colocamos no mundo seres humanos com potencial transformador da dura realidade que vivemos, tanto social quanto ecológica. Quando os criamos egoístas, individualistas, sem éticas e valores, estamos alimentando essa doença social que vemos não só no Brasil, mas no mundo todo.”
22
Mandelbaum entende que a família “se transforma continuamente
durante a história para acompanhar as alterações sociais, econômicas e culturais.
21
TIBA, Içami. Quem ama, Educa p.58. 22
TIBA, Içami. Quem ama, Educa p.221.
13
Muitos fatores afetam sua configuração, a forma de seus membros se relacionarem
e seu modo de ser e de educar os filhos.”23
São as famílias nas suas mais variadas formas que fazem parte da
sociedade brasileira. E é nesse contexto histórico do século XXI que os profissionais
da educação trabalham a fim de entender e direcionar o desenvolvimento da
criança.
2. A CRIANÇA
2.1 A HISTÓRIA DA CRIANÇA
A visão de criança que temos hoje é resultado de observações e
pesquisas dos mais diversos profissionais que se interessaram pelo assunto desde a
Idade Média até os dias atuais.
A diferença entre a Idade Medieval e a Contemporânea é exatamente a
visão sobre a criança.
Até o século XII, a criança era ignorada pela sociedade européia.
Sendo assim, os artistas da época não viam necessidade de serem fiéis aos traços
infantis.
Ariés (1989) explica que:
“Uma miniatura otoniana do século XI nos dá uma idéia impressionante da deformação que o artista impunha, então aos corpos das crianças, num sentido que nos parece muito distante de nosso sentimento e de nossa visão. O tema é cena do Evangelho em que Jesus pede que se deixe vir a ele as criancinhas, sendo o texto latino claro: parvuli. Ora, o miniaturista agrupou em torno de Jesus oito verdadeiros homens, sem nenhuma das características da infância: eles foram simplesmente reproduzidos em escala menor.”
24
As crianças vão ganhar destaque a partir do século XVI, devido ao
retrato de uma criança morta, qual Ariès afirma que “marcou, portanto um momento
muito importante na história dos sentimentos.”
23
MANDELBAUM, Belinda. Revista Nova Escola. Nº 234. Ed. Agosto. 2010. 24
ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família, p.17.
14
Ainda no século XVI, alguns pintores se destacaram ao retratar a
infância. Dentre eles destacam-se, Rubens, Van Dyck, Franz Hals, Le Nain, Philippe
de Champaigne Largillière.
A infância, na Idade Média era bem curta. Desde o nascimento aos 7
anos de idade, quando saia dos cueiros para passar um tempo com seus tutores a
fim de aprender algum ofício.
Aos sete anos de idade, o jovem já vestia roupas de adultos e
começava a freqüentar outros ambientes.
Existem vários registros dos tempos medievais que falam sobre a idade
do europeu25, dentre eles, Ariès(1989), destaca a obra Le Grand Propriétaire de
toutes choses qual explica que as idades desse período correspondem aos planetas
em sete números.
“A primeira idade é a infância que planta os dentes, e essa idade começa quando a criança nasce e dura até os sete anos, e nessa idade aquilo que nasce é chamado de enfant (criança), que quer dizer não falante, pois nessa idade a pessoa ainda não pode falar bem nem formar perfeitamente suas palavras, pois ainda não tem seus dentes bem ordenados nem firmes, como dizem Isidoro e Constantino. Após a infância, vem a segunda idade, chamada de pueritia (...) e essa idade dura até os 14 anos. Depois segue a terceira idade, que é chamada de adolescência, que termina, segundo Constantino em seu viático, no vigésimo primeiro ano, mas segundo Isidoro, dura até os 28 anos...e pode se estender até os 30 ou 35 anos. Essa idade é chamada de adolescência porque a pessoa é bastante grande para procriar. ”
26
Em meados do século XVII o pensamento burguês vem para afirmar
que a infância dura enquanto o individuo for dependente. Seja a criança burguesa,
dependente fisicamente. Seja um servo, dependente financeiramente. Ariès (2006)
afirma que “um petit garçon (menino pequenino) não era necessariamente uma
criança, e sim um jovem servidor (da mesma forma hoje, um patrão ou um
contramestre dirão de um operário de 20 a 25 anos: “É um bom menino”, ou “esse
menino não vale nada”).
Sendo assim, o conceito de infância da época nada tem a ver com os
fatores biológicos, como afirmam os estudiosos da educação desse século. Mas sim
com fatores relacionados à dependência.
25
A pesquisa parte de costumes europeus por causa de suas influencias nos costumes brasileiros, parte devido à sua colonização. 26
ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família, p.6.
15
Do século XVI até os dias atuais, muito se sabe sobre criança e seu
desenvolvimento.
Ariès afirma que “Nosso sentimento contemporâneo da infância
caracteriza-se por uma associação da infância ao primitivismo e ao irracionalismo o
pré - logismo. Essa idéia surgiu com Rousseau, mas pertence à historia do século
XX. Há apenas pouco tempo ela passou das teorias dos psicólogos,
pedagogos,psiquiatras e psicanalistas para o senso comum.”27
Com novos estudos destinados à infância, muito se foi descobrindo
sobre seu desenvolvimento.
Cada pesquisador foi trabalhando em teorias para explicar o
desenvolvimento humano. Os mais famosos foram Piaget (1896-1980), Freud (1856-
1939), Vigotsky (1896-1934), Erik Erikson (1904-1994) e Wallon (1879-1962), qual
atribui o desenvolvimento humano relacionado à afetividade, objeto essencial à
presente pesquisa, destacado mais adiante.
2.2 O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA, SEGUNDO WALLON
Para pesquisadores e educadores, tais como WAGNER (1999); ALVES
(2004); DELFINO (2005); DESSEN & POLONIA (2007); PRATTA & SANTOS (2007),
o primeiro contato da criança com o mundo externo é feito através da família. A
família vai servir como a primeira ponte de comunicação entre a criança e o meio
externo, mostrando para a criança o mundo através de sua visão dentro de sua
cultura.
Com as mudanças na sociedade devido às evoluções técnica –
científicas, políticas e sociais, a configuração familiar também modificou e se
apresenta no século XXI com suas inúmeras facetas. Desde o modelo pai, mãe e
filhos para os mais recentes que seria a ausência de um dos pais ou dos dois,
crianças criadas por avós ou outros tutores, filhos de pais ou mães solteiros, filhos
de casais homossexuais, entre outras situações.
27
ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família, p.91.
16
Com modelos familiares tão variados, as crianças serão os
transmissores desse meio. E por que não dizer que são o termômetro do seu meio?
Demonstrando, através de seu comportamento, um êxito ou uma falha familiar.
Sabe-se que
O ambiente familiar pode influenciar na maneira em que a criança vê o
mundo. Tanto no aspecto positivo como negativo, podendo dificultar o processo de
aprendizagem.
Nesse aspecto explica Aranha:
“A dificuldade em aprender pode ter tanto uma origem orgânica do tipo intelectual e cognitiva, quanto emocional o que envolve a estrutura familiar e suas relações sociais. Entretanto o que se percebe na prática é a existência de ambos os fatores tornando a situação complexa. Pode-se observar neste caso o papel dos mitos familiares que influenciam a construção de uma realidade irreal desejada para a continuação da história familiar.”
28
Para Wallon, as emoções têm papel importante na constituição da
pessoa, pois é através delas que a criança exterioriza seus desejos e suas
vontades. E é sobre a teoria walloniana que será explicada abaixo.
“Buscando compreender o psiquismo humano, Wallon volta sua atenção para a criança, pois através dela é possível ter acesso à gênese dos processos psíquicos. De uma perspectiva abrangente e global, investiga a criança nos vários campos de sua atividade e nos vários momentos de sua evolução psíquica. Enfoca o desenvolvimento em seus domínios afetivo, cognitivo e moto,procurado mostrar quais são, nas diferentes etapas, os vínculos entre cada campo e suas implicações com o todo representado pela personalidade.”
29
Henri Wallon foi um médico Frances que nasceu em Paris em 1879 e
atuou na profissão entre 1914 e 1918, período que ocorreu a Primeira Guerra
Mundial, ajudando no cuidado de pessoas com distúrbios psiquiátricos.
Construiu uma teoria em que o conhecimento estava interligado com outros fatores
que constituem a pessoa.
Assim, trabalhou na teoria do ser completo, onde os elementos
motores, afetivos e cognitivos, denominados de elementos funcionais se
28
GALVÃO, Izabel. Disponível em http://www.icc-br.org/art/a168.pdf. Acessado em abril de 2010. 29
GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil, p.8.
17
apresentariam em cada etapa do desenvolvimento da pessoa com uma
responsabilidade em seu desenvolvimento.
Pensando na criança como ferramenta de estudo de sua teoria, passou
sua vida estudando a infância e o caminho da inteligência da criança.
Na teoria do ser completo, Wallon apresenta esses domínios funcionais
através de estágios de desenvolvimento que são: Impulsivo – emocional sensório
motor, personalismo e categorial, puberdade, adolescência, adulto.
No estágio impulsivo - emocional que compreende o primeiro ano de
vida, onde a afetividade orienta as demais reações do bebê às pessoas.
Sensório – motor e projetivo que vai de um1 ano aos três anos de idade. Nesse
período, a criança começa a marchar, manipula objetos e explora espaços.
No personalismo, que compreende a idade dos 3 e se estende aos 6
anos, a criança começa a construir consciência de si diante as interações com seu
meio.
Dos sete aos doze anos de idade, a criança está no estágio categorial.
Nessa fase, ela se interessa pelo conhecimento e conquista do mundo exterior e sua
sociabilidade é ampliada.
A partir dos doze anos de idade, acontecem as transformações
fisiológicas e psicológicas, o afetivo é preponderante.
Para a pedagoga da Universidade de São Paulo Izabel Galvão, a
afetividade é um dos principais elementos do desenvolvimento humano.
Para Wallon, as emoções necessitam da organização dos espaços
para se manifestarem.
A afetividade é um domínio funcional cujo desenvolvimento depende do
fator orgânico e social. No decorrer do desenvolvimento da pessoa esses fatores se
modificam quanto às formas de expressão. Na criança recém nascida a afetividade
se inicia como fator orgânico e, á medida que ela vai interagindo com o meio, passa
a ser influenciada pelo meio social.
Sobre a teoria walloniana, Galvão (1997) resume:
“De uma perspectiva abrangente e global, investiga a criança nos vários campos de sua atividade e nos vários momentos de sua evolução psíquica. Enfoca o desenvolvimento em seus domínios afetivo, cognitivo e motor, procurando mostrar
18
quais são, nas diferentes etapas, os vínculos entre cada campo e suas implicações com o todo representado pela personalidade. Considerando que o sujeito constrói-se nas suas interações com o meio, Wallon propõe o estudo contextualizado das condutas infantis, buscando compreender, em cada fase do desenvolvimento, o sistema de relações estabelecidas entre a criança e seu ambiente. ”
30
Assim como Wallon, a pesquisa focou no desenvolvimento da criança
para entender seu desenvolvimento. Porém, tomando as palavras de Galvão onde
diz que “para a compreensão do desenvolvimento infantil não bastam os dados
fornecidos pela psicologia genética, é preciso recorrer a dados provenientes de
outros campos de conhecimento. Neurologia, psicopatologia, antropologia e a
psicologia animal foram os campos de comparação privilegiados de Wallon.” 31
Sabendo que o meio social da criança é complexo, à medida que ela
vai estabelecendo relações sociais e, conseqüentemente, aprendendo com seu
meio, a presente pesquisa faz um recorte para a primeira instituição que a criança
tem contato, qual serve de elo entre o mundo externo e a criança.
Essa instituição, como foi dita anteriormente, pode ser as varias
configurações de famílias quais conhecemos hoje. Todas influenciando nos
domínios funcionais da criança, seja de maneira cultural, seja de maneira estrutural.
Exemplo de dificuldades culturais seria a adaptação da criança de uma
determinada cultura, dentro de um meio social de outra cultura. Como exemplo e
sem se aprofundar no tema, tomemos como exemplo, as crianças haitianas que
devido à tragédia que passaram por causa do terremoto, foram viver com famílias
estrangeiras, tendo que assimilar hábitos e costumes diferentes do que lhes eram
apresentados até o momento por seu meio. Em teoria, devido a tragédia que
passaram, perdendo parentes e amigos, somados as famílias de culturas diferentes,
elas terão dificuldades em se relacionar, devido ao trauma afetivo que sofreram e,
tendo dificuldade em se relacionar, também atrasarão seu desenvolvimento
intelectual.
Outros exemplos de crianças com problemas afetivos são as que vivem
nas chamadas situações de riscos. Sobre esse assunto, Bandeira explica que:
30
GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil, p.11. 31
GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil, p.23.
19
“Uma criança é considerada em situação de risco quando seu desenvolvimento não ocorre de acordo com o esperado para sua faixa etária de acordo com os parâmetros de sua cultura. Podendo este ser de aspecto físico (doenças genéticas ou adquiridas, prematuridade, problemas de nutrição, entre outros), social (exposição à ambiente violento, drogas) ou psicológico (efeitos de abuso, negligência ou exploração).”
32
O que a pesquisa tenta demonstrar é como a afetividade pode
influenciar no desenvolvimento da pessoa.
Sabendo que os elementos funcionais, quais se dedicou Wallon em
sua pesquisa, serão sempre interligados, entende-se que se um deles está com
problemas, o desenvolvimento da pessoa não é completo.
Com base nessas informações e focando no desenvolvimento da
afetividade, a pesquisa buscou um trabalho alternativo para ser usado como
ferramenta do educador e para quem interessar no auxilio à criança com
dificuldades na área afetiva, oferecendo soluções para que ela consiga superar uma
barreira emocional para seguir suas etapas de desenvolvimento.
Surge, assim, a necessidade de se utilizar os contos de fadas como
alternativas pedagógicas no desenvolvimento da afetividade em crianças, sem limite
etário.
3. OS CONTOS INFANTIS
3.1 DA HISTÓRIA ORAL À HISTÓRIA IMPRESSA
As histórias existem desde que os seres humanos começaram a
desenvolver suas habilidades intelectuais, criando a linguagem.
Atribuem-se as primeiras contações de estórias aos ditos “homens das
Cavernas” quando contavam aos membros de seus clãs, através de desenhos
esculpidos em cavernas, seus feitos durante uma caçada.
32
BANDEIRA, D. R. apud HUTZ, C. e KOLLER, S. H. Resiliência e vulnerabilidade em crianças em situação de risco. Coletâneas da ANPEPP,p 82.
20
A necessidade de criar um sistema de signos surgiu nas civilizações
antigas, como os povos da Mesopotâmia33, os sumérios, inventaram a escrita
cuneiforme34 que por volta de 3000 a.C., passou a ser utilizada para o registro de
textos religiosos, literários e jurídicos.
A cultura desses povos foi marcada pela crença em vários deuses.
Esses povos acreditavam em astrologia e na influencia dos astros na vida das
pessoas.
Por esse motivo, a sua literatura era baseada em magia e imortalidade.
Sua principal obra era Epopéia de Gilgamesh, registrada em escrita cuneiforme. 35
Assim como os mesopotamios, os egípcios também criaram seu
sistema de escrita: os hieróglifos que eram um tipo de papel, onde registravam seus
conhecimentos.
Os persas também contribuíram com os registros no âmbito religioso,
com princípios encontrados no cristianismo, no judaísmo e no islamismo, como as
idéias de juízo final, ressurreição dos mortos, salvação no Céu e condenação do
inferno.
Os gregos se destacaram em várias áreas, difundindo sua cultura em
diversas partes do mundo. “Além disso, difundiram seus gêneros literários (lírica,
epopéia e drama), dos quais deriva o romance, a novela, o ensaio, a biografia etc.”
36
A literatura desses povos antigos era sobre heróis e seus feitos sobre
humanos. Suas estórias eram recheadas de criaturas místicas, metades deuses,
metades humanos que povoavam várias estórias de amor, guerra e perdição.
O herói mais famoso na Antiguidade foi o semideus grego Hércules.
“Hércules ou Héracles é um dos principais heróis da mitologia grega, filho de Zeus e da princesa Alcmena. Hera, mulher de Zeus, tinha ciúme de Alcmena e odiava Hércules. Quando Hercules casou-se com Mégara, uma princesa tebana, Hera fez com que ele enlouquecesse e pusesse fogo em sua casa, matando sua mulher e seus filhos.
33
É a região do Oriente Médio, situada entre os rios Tigre e Eufrates. Foi o berço das primeiras civilizações. 34
Escrita feita em argila mole, com um estilete em forma de cunha. 35
Cotrim, Gilberto. História Geral, p28 36
Cotrim, Gilberto. História Geral, p56
21
Quando Hércules recuperou a razão, procuro o auxílio do oráculo de Delfos.o oráculo disse que deveria servir durante 12 anos a seu primo Eristeu, rei dos Argos.”
37
Nesses doze trabalhos, Hércules se viu tendo que matar um leão, cuja
pele usou como armadura. Matou, também, a Hidra de Lerna, cujo veneno foi
utilizado por ele para tornar sua flechas venenosas; Capturou o javali de Erimanto, a
corsa dos chifres de ouro e cascos de bronze, da cidade de Cerinéia. Espantou as
aves do lago de Estinafale; Limpou os estábulos do rei de Augias em um só dia,
desviando o curso de dois rios para passarem por dentro da propriedade a fim de
realizar o trabalho; Capturou o touro selvagem do rei Minos. Matou o rei Diomedes
da Tracia e deu sua carne para os cavalos do rei que eram devoradores de homens;
Obteve o cinto de Hipolita, rainha das Amazona. Foi buscar o gado de um monstro
chamado Gerião, que vivia no estreito de Gibraltar. Pegou as maças de ouro do
jardim das Hespérides e levou pra Euristeu. E, por último, capturou o cão de três
cabeças que guardava as portas dos infernos, chamado de Cérbero e o levou à
presença de Euristeu.38
Todas as cidades antigas seguiam com suas estórias de deuses e
criaturas bestiais que só foram deixadas de lado com o nascimento de Jesus Cristo,
considerado o Messias pelo povo hebreu.
Jesus pregava a crença em um único Deus e suas estórias, chamadas
de parábolas, eram contadas com o objetivo de ensinar valores às pessoas que
escutavam. Surge o Cristianismo, cuja difusão foi bastante perigosa: Jesus e seus
discípulos foram perseguidos, muitos mortos pela fé, outros escaparam para
escrever o que é considerado por muitos “o maior livro de histórias do mundo”: a
Bíblia.
A Bíblia é considerada, por muitos, o maior e mais antigo livro de
histórias do mundo39. Ela conta a história do povo hebreu e suas aventuras no
decorrer do tempo. Há quem acredita que ela foi contada por pessoas diferentes, já
que, os apóstolos que a escreveram, não poderiam estar em vários lugares ao
37
ENSINO, Sistema Didático de. Vários autores, p.133. 38
A estória mitológica dos doze trabalhos de Hércules foi utilizada, séculos mais tarde, por escritores de livros sobre auto-ajuda para fazer as pessoas vencerem as barreiras emocionais que as impediam de crescer individualmente. Um exemplo está no livro de, intitulado
22
mesmo tempo ou em um período muito curto de tempo. Sendo assim, ela pode ter
sido escrita por intermédio das histórias orais das pessoas daquele povo.
Como afirmam Neil Silberman e Finkelstein 40 em entrevista à revista
Época:
“Ao que tudo indica, no decorrer de poucas décadas, há cerca de 2.600 anos, um esforço conjunto de escribas, sacerdotes e profetas deu forma a uma escritura sagrada que iria mudar o mundo. Ao unir uma coleção de memórias, poesias, lendas, folclore e relatos históricos, esses homens do pequeno reino de Judá, perdido entre as montanhas próximas ao Mar Morto, deram início ao Antigo Testamento e plantaram a pedra fundamental de religiões que iriam se espalhar por toda a Terra”. (Ver ano e data da publicação).
Como vê, a Bíblia está sendo reescrita pela ciência. Os estudiosos do
assunto estão desmistificando os granes eventos bíblicos. Entretanto, por mais que
cada vez mais existam estudos provando da inexistência de algum fato, as histórias
nela escrita são de fundamental importância na construção de valores morais nos
seres humanos.
As principais histórias utilizadas para esse fim, nesse século, são as
parábolas de Jesus que, segundo a Biblia, viajou a vários povoados a fim de pregar
a benevolência do Deus único que, ao contrario dos deuses romanos e gregos, era
perfeito e auxiliava quem Nele cresse e oferecia vida eterna a quem obedecesse.
Jesus costumava se sentar com uma pequena população e ensinar,
através das parábolas, valores essenciais para um cristão. Suas histórias eram orais
e, cada vez mais conhecido, cada vez mais gente o procurava para ouvir seus
ensinamentos.
Veja, abaixo, uma parábola resumida contada por Jesus, e muito
conhecida hoje, sobre a história do filho perdido:
“Jesus contou mais uma história, sobre um homem que tinha dois filhos. Um dia, o filho mais novo resolveu sair de casa. Ele viajou para longe e gastou todo o seu dinheiro com festas. O rapaz precisou arranjar um trabalho e foi cuidar de porcos. Estava com tanta fome que comia a comida dos porcos. Um dia, ele resolveu voltar para a casa e pedir desculpas ao seu pai. Seu pai ficou muito feliz porque o filho tinha voltado. Ele preparou uma festa para comemorar.
40
FERRONI, Marcelo. A Bíblia reescrita pela Ciência. Revista Época. Disponível em
<http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG61899-6014,00.html> acessado em abril de 2010.
23
Jesus disse: Deus também fica feliz quando recebe as pessoas que estavam perdidas.”
41
Séculos mais tarde, após a morte de Jesus, o cristianismo foi
considerado religião, ganhou vários adeptos do mundo ocidental e influenciou
pensamentos na Idade Média.
Com as invasões bárbaras, muitas das produções culturais do mundo
antigo, já escassos com o incêndio da biblioteca de Alexandria, foram perdidas. As
obras que não tiveram esse fim foram guardadas nas bibliotecas dos mosteiros na
Idade Média. Nem aos monges eram confiadas às leituras dessas obras ditas pagãs
sob a pena de morte para quem desobedecesse.
No período medieval destaca-se o pensamento humano elevado a
Deus e a produção cultural da época influenciada pela Igreja Católica.
Na idade média havia os trovadores. Provavelmente é um estilo
influenciado pelos poetas árabes da Espanha. As principais obras nessa
característica foram escritas em Frances arcaico.
Carlos Magno contribuiu com a literatura cavalheiresca. Destacando as
sagas do rei Arthur e os cavalieros da Távola Redonda.
“O mais importante autor da literatura cavalheiresca aparecera já na
renascença italiana: Ludovico Ariosto (1474-1533). Sua principal obra, Orlando o
Furiodo, é um exemplar típico de valores medievais, como a fé religiosa. Autores
como Shakespeare, Byron e Milton seriam influenciados por Ariosto.” 42
Na Idade Média, o principal sistema econômico era o Feudalismo, onde
quem tinha terras eram os senhores feudais.
Esse sistema surgiu por causa da emigração da população urbana
para a zona rural, com medo da invasão bárbara.
A emigração enriqueceu o senhor feudal que, através de suas leis,
mantinha o trabalho de seus subordinados, em troca de proteção.
A maior detentora de terras era a Igreja Católica. Isso se dava quando
o senhor feudal morria e não deixava herdeiros. Suas terras iriam para essa
instituição.
41
DAVID, Juliet. A Bíblia das Criancinhas,p. 281. 42
ENSINO, Sistema Didático de. Vários autores, p. 149.
24
Nessa época, o poder dos reis foi descentralizado e a população viveu
da agricultura.
Mais tarde, em alguns feudos, os senhores feudais permitiram que
seus agricultores comercializassem seus excedentes em feudos vizinhos, porém
cobravam taxas todas as vezes que saiam e entravam em sua propriedade. O
mesmo acontecia quando esses agricultores entravam em outras propriedades.
Sendo assim, esses agricultores se organizaram em locais específicos
para trocar seus excedentes. Esses locais eram chamados de burgos.
Cansados das altas taxas cobradas pelos senhores feudais, muitos
desses trabalhadores começaram a viver nesses burgos e ficaram conhecidos como
burgueses.
Livres das leis dos senhores de terras, os burgueses começaram a
construir rotas de comércio. Através dessas rotas, tiveram contatos com outros
povos e outras civilizações, rompendo como isolamento do período feudal e
inovando com o papel e a pólvora. Começa a trocar o sistema econômico feudal
para o capital.
Cotrim (2004) afirma que “A transição do feudalismo para o
capitalismo, um processo amplo que, além do campo econômico e político, também
foi modificando valores, idéias, arte e tecnologia da cidade européia. Mais confiante
em suas possibilidades, o homem deixou de olhar tanto para o alto, em busca de
Deus, passando a dar mais valor a si mesmo”. Surge o Humanismo.
O Humanismo, assim como o racionalismo e o Individualismo, faz parte
do Renascimento que foi um “movimento intelectual e cultural que caracterizou a
transição da mentalidade moderna.” 43
Com a expansão do Renascimento, surgiram vários intelectuais em
toda a Europa.
François Rabelais (1494 – 1553) e Michel de Montaigne (1533 – 1592)
na França; Thomas Morus (1478-1535) e William Shakespeare (1564-1616) na
Inglaterra; Luiz Vaz de Camões (1524-1580) em Portugal; Desidério Erasmo (1466-
1536) nos países baixos e Miguel de Cervantes (1547-1616). Alguns criticando os
43
COTRIM, Gilberto. História Geral, p.150.
25
hábitos medievais, outros lançando novas teorias em questão do Estado. E assim a
sociedade foi se moldando aos novos padrões econômicos, questionando e
difundindo suas teorias.
O contato com outros povos quebraram tabus e levantaram
questionamentos sobre a forma de vida das pessoas diferentes umas das outras.
Surgiram teorias e discussões sobre os assuntos mais diversos que se
apresentavam na sociedade.
Vários outros escritores, em suas obras lançavam suas criticas da
sociedade em que estavam inseridos. E, as histórias que eram antes contavam as
grandes façanhas dos nobres, passaram a contar a trajetória de vida de um povo
sofrido que tirava sustento de seu trabalho e sofreu com as grandes mudanças
sociais.
É sobre esse povo que a pesquisa recaiu. Sobre suas histórias
contadas em cada período importante de nossa historiografia a fim de esquecer um
pouco das dificuldades sociais em que se encontravam.
Descrever rapidamente os períodos onde houve significativa mudança
de pensamento das sociedades que participaram da mesma história foi importante
para demonstrar os pensamentos em relação aos contos orais da época.
Como muito da história que é vista como verdade hoje foi porque
surgiu de um conto oral e se transformou em escrita por algum estudioso da época,
servindo como um instrumento de estudo de um profissional de hoje para confirmar
sua autenticidade.
Com base nessa informação e sem ocultar que desde a antiguidade
até o presente século, a sociedade vem passando por momentos históricos que vem
modificando sua forma de concepção da realidade.
Vejamos o que foi dito anteriormente sobre a concepção de infância.
Em cada período histórico a criança foi vista por prismas diferentes de
acordo com o conhecimento da época em que ela vivia.
Na Idade Média, ela nada mais era considerada do que um pequeno
adulto. Porém, esse pensamento foi mudando, quando começaram a enxergá-la
como ser frágil que necessitava de cuidados diferentes dos adultos.
26
Essa visão só foi interiorizada graças às mudanças na sociedade
européia.44
A partir daí, muitas das histórias orais contadas nas rodas de
conversas, a fim de esquecer-se do frio ou da miséria que a população se
encontrava, foram adaptadas para atender às necessidades das crianças, como
veremos a seguir.
3.2 A LITERATURA INFANTIL – OS CONTOS INFANTIS
“[...] nada é tão enriquecedor e satisfatório para a criança, como para o adulto, do que
o conto de fadas folclórico. Na verdade, em um nível manifesto, os contos de fadas ensinam um pouco sobre as condições específicas da vida na moderna sociedade de massa; estes contos foram inventados muito antes que ela existisse. Mas através deles pode-se aprender mais sobre os problemas interiores dos seres humanos, e sobre as soluções corretas para seus predicamentos em quaisquer sociedades, do que com qualquer outro tipo de estória dentro de uma compreensão infantil.”
45
Em meados do século XVII não existia nenhuma literatura escrita
direcionada às crianças, pois como já foi falado anteriormente, o conceito de infância
nessa época estava começando a ser construído.
Naquele tempo, a infância terminava ao completar sete anos de idade.
Após essa idade, os pequenos adultos eram levados por seus familiares a outras
casas para aprender um ofício.
Os primeiros a notarem a fragilidade das crianças, foram justamente os
religiosos da época, fazendo citação a esses pensamentos em seus escritos.
As linhas históricas pesquisadas foram baseadas nas transformações
sociais que ocorreram desde o começo da humanidade e foram se modificando
formando as diversas culturas que conhecemos hoje.
Sabendo que os contos de fadas se originaram das histórias orais,
podemos acreditar que eles demonstram a época em que estavam sendo narrados.
44
A nosso cultura foi baseada na cultura européia. Sendo assim, o que mais interessa à pesquisa é focalizar no desenvolvimento da sociedade européia finalizando com a sociedade brasileira. 45
BETELHEIM, Bruno. Psicanálise dos Contos de Fadas, p. 5.
27
Outro fato importante salientar era a forma de vida das épocas
abordadas. Como as histórias eram vistas e contadas até chegar às histórias que
conhecemos hoje.
Sabemos que as crianças só foram vistas como tais, diferentes do
adultos a partir do século XVIII.
Em meados século XVIII, a Europa estava caminhando para a
industrialização, graças à mudança significativa na sociedade européia. A essa
mudança atribui-se a troca do sistema feudal para o sistema capitalista.
Abordando a sociedade européia pelo ponto de vista econômico,
trataremos, agora, dessa mudança que auxiliou no surgimento de estudos sobre a
criança e conseqüentemente, aos contos infantis.
Com a industrialização do século XVIII, os crescimentos políticos e
econômicos das cidades substituíram o sistema econômico baseado no feudo por
um modelo mais flexível, onde os burgueses poderiam lucrar com suas mercadorias
sem a interferência dos impostos dos senhores feudais. Com isso, a burguesia
passa a ditar regras nessa sociedade.
O Estado, por sua vez, começou a incentivar a família nuclear e
patriarcal e passa a valorizar a criança.
A partir de então a criança começa a ser vista pela sociedade como um
ser frágil que necessita de cuidados e proteção. Surgem, então, estudos
direcionados ao desenvolvimento da criança e sua forma de enxergar o mundo que
a rodeia.
Nessa época, as histórias eram recheadas de crueldade onde os
adultos que as contavam em rodas de conversas não ocultavam partes horrendas
das histórias para seus locutores, justamente porque o que prendia a atenção do
público eram as partes dramáticas da história.
Os primeiros contos foram surgir, segundo Merkel e Richter, nas
primeiras décadas do século XVIII cujas estórias manifestavam o desejo da classe
mais pobre da população em se ver livre de sua condição social, que era a de
inferioridade.
Por falta de uma literatura própria para crianças, o francês Charles
Perrault, membro da alta burguesia que resolve retratar em sua obra estórias que
28
ouvia de sua mãe e de contadores de histórias, fazendo adaptações caso houvesse
alguma estória que incluía o paganismo ou descreviam relações sexuais. Incluindo
detalhes às suas narrativas, sempre mantendo uma posição neutra em uma época
em que havia muita influencia da religião na forma de pensar da sociedade européia.
Em 11 de janeiro de 1697, Lança sua primeira obra intitulada de
“contos da mamãe ganso” que remete à moral da história.
É importante ressaltar que, os contos de fadas, tais quais conhecemos
hoje, nas narrativas de Perrault, não refletiam a leveza dos que temos
conhecimento.
Sendo assim, na história de Chapeuzinho vermelho, Perrault destaca a
forma de narrativa atribuída aos seus contos:
“Certo dia, a mãe de uma menina mandou que ela levasse um pouco de pão e leite pra sua avó. Quando caminhava pela floresta, um lobo aproximou-se e perguntou-lhe onde ia. - Para a casa da vovó. -Por qual caminho, a dos alfinetes ou os das agulhas? - O das agulhas. O lobo seguiu pelo caminho dos alfinetes e chegou primeiro à casa. Matou a avó, despejou seu sangue numa garrafa, cortou a carne em fatias e colocou numa travessa. Depois, vestiu sua roupa de dormir e deitou-se na cama à espera. Pa, pam. - Entre, querida. - Trouxe um pouco de pão de leite. - Sirva-se também, querida. Há carne e vinho na copa. A menina comeu o que foi oferecido, enquanto o gatinho dizia: “menina perdida! Comer a carne e beber o sangue da própria avó!” Então o lobo disse: - Tire a roupa e deite-se comigo. - Onde ponho meu avental? - Jogue no fogo. Você não vai mais precisar dele. Para cada peça de roupa (...) a menina fazia a mesma pergunta, e a cada vez o lobo respondia: - Jogue no fogo... (etc.). Quando a menina deitou na cama, disse: - Ah, vovó! Como você é peluda! - É p ara manter você mais aquecida, querida. - Ah, vovó! Que ombros largos você tem! (etc., etc., nos moldes do diálogo conhecido, até o clássico desfecho): -Ah vovó! Que dentes grandes você tem! - É para comer melhor você, querida. E ele a devorou. ”
46
46
Junqueira, Regina Regis apud Perrault.
29
O verdadeiro conto de Chapeuzinho Vermelho não tem final feliz
porque a época em que ele foi contado não exigia isso de seus narradores. Talvez, o
que eles tentavam fazer era prender a atenção do público com estórias de terror que
pareciam próximas às suas realidades, pois naquela época, as narrativas retratavam
a realidade dessas pessoas e temas como frio, morte, solidão e desespero eram
enfatizadas nessas estórias.
Talvez, as pessoas buscassem nessas narrativas uma maneira de se
aquecer do frio e se esquecer, nem que por um momento da realidade em que
viviam.
Kehl explica:
“[...] As narrativas populares européias, matrizes dos modernos contos infantis que, a partir das adaptações feitas no século XIX, passaram a integrar a rica mitologia universal, não apresentavam a riqueza que faz dos contos de fadas um depositário de significações inconscientes aberto à interpretação psicanalítica. Na verdade eles nem eram destinados especificamente às crianças, nem parecem aliados a uma pedagogia iluminista.”
47
Essas narrativas foram sendo reformuladas de acordo com o período
histórico em que as sociedades estavam passando.
No século XIX, outros escritores se aventuraram no mundo dos contos.
Foi o caso dos irmãos alemães Jacob e Wilhem Grimm. A sua coleta de narrativas
foi idêntica à do Frances Perrault, porém com outras finalidades. Também
abordaram o conto de Chapeuzinho Vermelho com a diferença de que ela e a
vovozinha foram saúvas por um lenhador.
Cátia Kanton explica essa diferença na narrativa de Perrault e dos
irmãos Grimm sobre o mesmo conto, além do fato de um ser do século XVIII e os
outros do século seguinte:
“Uma cultura tem diretrizes morais que mudam. Há maneiras de cadastrar o mesmo conto em diferentes culturas. O exemplo mais comum é a Cinderela. Conheci 490 versões desse conto e há mais de mil versões espalhadas. A postura da Cinderela vai mudando. Há versões em que ela é independente, corajosa, forte. Ela mesma planeja a fuga para o baile e aborda o príncipe. E em outras, como a da Disney, a Cinderela é
47
KEHL, Maria Rita apud CORSO & CORSO. Fadas no Divã, p 15.
30
passiva. É um reflexo das mudanças de padrões morais e culturais.”48
Alguns estudiosos acreditam que os irmãos Grimm, a principio,
estavam coletando narrativas por toda a Alemanha com a finalidade de registrar seu
folclore e estudar a língua pátria de modo a conhecer a realidade histórica do país.
Os irmãos Grimm, ao contrario de Perrault, reproduziam as narrativas
da maneira que elas eram contadas pelas pessoas, não modificando nem
acrescentando nada, como fazia o francês.
Entre os anos 1812 e 1822, os irmãos Grimm compilaram cerca de 210
narrativas populares em uma obra de três volumes, destinados para as crianças e
adultos.
Os contos dos irmãos Grimm apresentam as emoções em forma de
personagens, ficando mais palpável para o conhecimento infantil. Sendo assim, seus
contos são repletos de madrastas más, casas de doces, príncipes encantados,
bruxas desprezíveis, entre outros personagens presentes em seus contos.
Outro famoso autor de contos que viveu entre os anos de 1805 e 1875,
foi Hans Christian Andersen. Considerado por vários estudiosos o pai da literatura
infantil, por ter escrito contos especialmente para o publico infantil, o dinamarquês
destacou, em suas obras o sofrimento que as crianças são submetidas em seu
mundo real, inclusive ele próprio em sua infância, retratada na famosa estória do
Patinho Feio.
É importante destacar três pontos importantes na obra de Andersen: a.
sua literatura destinada ao publico infantil; b. os personagens serem crianças; c. os
problemas enfrentados pelos personagens se aproximarem dos enfrentados pelas
crianças.
“Graças a sua contribuição para a literatura para a infância e
adolescência, a data de seu nascimento, dois de abril, é hoje o Dia Internacional do
48
PEROZIN, Lívia apud CANTON, Cátia. Revista Carta Capital. Disponível em <http://www.cartacapital.com.br/carta-fundamental/a-historia-dos-contos-de-fada> acessado em maio de 2010
31
Livro Infanto- Juvenil. Além disso, o mais importante prêmio do gênero leva o seu
nome.” 49
Em Portugal e no Brasil, as primeiras estórias do gênero surgiram no
final do século XIX e eram chamadas de Contos da Carochinha. Somente no final do
século XX que ficaram conhecidos como Contos de Fadas.
Destaque Para o autor brasileiro Monteiro Lobato, cujas estórias
povoaram e ainda povoam a imaginação dos brasileiros, desde os pequeninos até
os adultos.
No sítio do Pica Pau Amarelo, obra de Monteiro Lobato, o autor cria
diálogos entre as duas crianças da estória com vários personagens do folclore e da
história brasileira, levando-as a construir um conhecimento histórico de seu país e
aprender valores essenciais para conviver em sociedade.
4. OS BENEFÍCIOS DOS CONTOS DE FADAS NA INFÂNCIA
4.1 OS CONTOS DE FADAS E A CRIANÇA
Os contos de fadas são elementos surreais, fantásticos e mágicos,
presente na vida do ser humano desde o conhecimento de sua existência.
Os contos de fadas permitem à criança pensar sobre seus sentimentos
incentivando-as a ter esperança de que o sofrimento qual é submetida se torne
passageiro. (CALDIN 2004).
Afirma, ainda, Caldin, que a universalização dos problemas da criança
é uma garantia de que ela não se encontra sozinha em sua dor.
Acreditamos que os contos foram modificados para atender a
necessidade emergente da sociedade, abordando aspectos da realidade em suas
narrativas transmitindo alguns valores definidos pelos padrões sociais.
Como o ser humano é uma criatura que utiliza da linguagem para se
comunicar, subentende-se de que ele necessita viver em contato com o meio para
desenvolver habilidades e capacidades.
49
Educação UOL. Disponível em <http://educacao.uol.co.br/biografis/ult1789u692...> acessado em maio de 2010.
32
Portanto se o meio é falho, seu desenvolvimento é comprometido.
O meio social abordado pela pesquisa é o seio familiar, que é a ponte
de comunicação entre o ser humano e a sociedade.
Se esse meio familiar tem problemas de convivência, o ser mais fraco
que depende dele para se desenvolver, sofre as conseqüências.
Entende-se que o ser mais fraco de um ambiente familiar é a criança
por estar no inicio de seu desenvolvimento, podendo comprometer seu afetivo.
Com base nessa hipótese, a pesquisa buscou nas obras de Bettelhein
assim como na do casal Corso, a atuação dos contos de fadas na vida dessas
crianças com dificuldades de aprendizagem ligadas à afetividade.
Com vários estudos direcionados às crianças e seu desenvolvimento,
os contos de fadas ganharam destaque e tornaram-se ferramentas nas mãos de
pais, psicólogos e educadores com o objetivo de entender e auxiliar no
desenvolvimento emocional da criança.
Bettelhein afirma:
“[...] os contos de fadas ensinam um pouco sobre as condições específicas da vida na moderna sociedade de massa; estes contos foram inventados muito antes que ela existisse. Mas através deles pode-se aprender mais sobre os problemas interiores dos seres humanos, e sobre as soluções corretas para que seus predicamentos em qualquer sociedades, do que com qualquer outro tipo de estória dentro de uma compreensão infantil. Como a criança em cada momento de sua vida está exposta à sociedade em eu vive, certamente aprenderá a enfrentar as condições que lhe são próprias, desde que seus recursos interiores o permitam.
50
O mundo real é muito complexo para a criança e, para poder lidar com
suas emoções, o meio da criança deve proporcionar alternativas para que ela possa
ter a oportunidade de entender o mundo.
Para Bettelhein os contos de fadas podem ser uma ótima alternativa,
pois oferecem exemplos tanto para soluções temporárias como permanentes para
as dificuldades prementes. (BETTELHEIN, 1980).
Bettelhein afirma também que esta é exatamente a mensagem que os
contos de fadas transmitem à criança. Ensina que uma luta contra as dificuldade na
vida é inevitável, faz parte da existência humana. Mas que a criança deve encarar os
problemas dominando-os para se sair vitoriosa.
50
BETELHEIM, Bruno. Psicanálise dos Contos de Fadas, p. 5.
33
Temas como morte de familiares, solidão, isolamento, diferenças, são
bastante abordados nos contos de fadas.
O casal Corso concorda com a obra do francês, acrescentando que os
contos que falam de crianças que foram deixadas pelos pais, funcionam como
antecipações que irão permitir às crianças a dominar o dito “mundo cruel”.
Ressaltam, ainda, a importância dos pais na vida da criança em não
colocar sobre os ombros dos pequenos seus sonhos, fantasias e frustrações,
destacando para essa situação a história de Pinóquio, onde, nas palavras de Kehl “a
paternidade é o sonho de fazer de alguém a marionete de nossos próprios sonhos.”
51
Como já foi dito anteriormente, os contos vem se modificando à medida
que a sociedade vai ficando mais complexa e vai surgindo mais estudos sobre o
desenvolvimento da mentalidade humana.
No decorrer dos tempos, com a criança se tornando o centro das
atenções de estudiosos de várias áreas de trabalho, muito se descobriu sobre o
desenvolvimento do ser humano. Pois, como acredita Piaget, Vygostski, Freud e o
próprio Wallon52, a maioria dos problemas que afligem a pessoa adulta tem sua
origem na infância.
Por esse motivo, várias alternativas de tentar entender a infância vêm
sendo trabalhadas por profissionais de diversas áreas. Dentre eles, os psicanalistas
que estão tornando acessíveis seus métodos de estudos aos profissionais da
educação e às famílias que se interessarem pelo assunto.
Pregnolato atenta para o fato de que a criança pode parar seu
desenvolvimento por falta de estimulação do meio externo, devido as dificuldades
que ela estaria enfrentando.
Para Pregnolato (2005) “trazer a vitória do bem sobre o mal, evocam
sempre ma verdade atemporal. A criança, internamente, fará a transposição para a
sua realidade atual. E em função de suas necessidades psíquicas momentâneas,
irão reelaborando seus conteúdos internos através da repetição da estória.”
51
KEHL, Maria Rita. cit. CORSO & CORSO. Fadas no Divã. Ed 2009, p 18. 52
LEITE; TASSONI, em artigo sobre afetividade (ver referencias) afirmam que é por intermédio da afetividade que a pessoa estabelece contato com o mundo simbólico, originando atividade cognitiva que permeia entre a criança e o outro, auxiliando na construção de sua identidade.
34
Cyrulnik (2005) destaca o encantamento da criança para a frase “era uma vez”,
porque faz um convite para embarcar em uma aventura verbal entre o narrador e
seu ouvinte. Esse é o momento em que a estória vai oferecer uma proteção ao
psiquismo da criança, onde irá reviver sua história por meio do faz de conta com a
esperança do final feliz.
Para tal análise, pegamos os estudos de Bettelhein e do casal Corso,
cujas obras intituladas “Psicanálise dos contos de fadas” e “Fadas no Divã” vêm
explicar a aplicação dos contos de fadas em especifico na vida de uma criança e
como elas podem interpretar contos.
Para alguns pesquisadores Bettelhein pensa como Freud, sobre o fato
dos contos de fadas constituírem uma linguagem de símbolos dos conflitos e que,
portanto, a criança pode interiorizar os conteúdos desses contos a fim de entender o
mundo externo.
Para Bettelhein os contos de fadas dirigem a crianças para a
descoberta de sua identidade e comunicação, sugerindo também as expectativas
necessárias para desenvolver ainda mais seu caráter.
O casal de psicanalistas Corso, se basearam no interesse de suas
filhas sobre os contos de fadas e, com base na obra de Bettelhein e com ajuda de
outros doutores, fazem uma análise das mais famosas estórias infantis explorando
os diversos significados atribuídos a eles pelas crianças.
Para ambos, as crianças podem substituir os personagens dos contos
de fadas por pessoas conhecidas a eles, como seus pais e familiares, se
identificando também com um personagem.
No Brasil, foi realizado um estudo para analisar o comportamento das
crianças que apresentavam algum transtorno ligado á aprendizagem após serem
apresentadas aos contos de fadas.
Sobre a relação da criança com o conto de fadas Gutfreind (2003)
constatou que “ao experienciar a proposta do atelier de contos inspira-se no trabalho
de renomados estudiosos franceses, como Marie Bonnafé (1944), em seu trabalho
com bebes e famílias marginalizadas e em Pierre Laffourge (1955), que usa os
contos como possibilidade de intervenção com crianças autistas. Gutfreind(2004)
evidenciou melhoras nos transtornos de condutas apresentados pelas crianças
35
francesas após freqüentarem o atelier dos contos. Essas crianças demonstraram
uma significativa evolução no modo de expressar-se.
Com essa constatação, Gutfreind, utilizou métodos parecidos ao
trabalhar com as crianças de escolas comunitárias da cidade de Porto Alegre, no rio
Grande do Sul.
Confirmou, também, uma significativa melhora dessas crianças, após
serem apresentadas aos contos de fadas.
A criança observou Gutfreind, se tornaram mais atentas, menos
hiperativas e mais abertas aos processos de aprendizagem.
4.1 A UTILIZAÇÃO DOS CONTOS DE FADAS EM CRIANÇAS COM
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM RELACIONADAS À AFETIVIDADE
Como foram explanados anteriormente, os contos de fadas, vem
sofrendo modificações a fim de atender a complexidade das sociedades. Um único
conto pode ter varias versões e várias interpretações.
Partindo dos estudos do casal Corso e do próprio Bruno Bettelhein,
foram selecionados alguns dos principais contos analisados pelos psicanalistas em
questão a fim de abordar as dificuldades de aprendizagem apresentadas pelas
crianças relacionadas ao emocional.
O casal Corso agrupou, em sua obra, contos de fadas que
expressavam o mesmo sentimento no imaginário infantil.
O primeiro agrupamento diz respeito ao desamparo infantil, angustia de
separação, sentimento de rejeição na família. Essas questões são abordadas nos
contos de Andersen nas estórias de o patinho feio, Dumbo e Cachinhos Dourados.
(CORSO & CORSO, 2009).
O casal Corso critica a opinião de Bettelheim quanto a
descaracterização de um conto de fadas quando não há elementos mágicos na
forma tradicional, como bruxas, fadas, duendes. Para eles, o simples fato da
36
utilização de animais que demonstram uma situação familiar humana já possui o
elemento mágico presente nos contos de fadas.
Para o casal Corso “A jornada desses pequenos heróis, o patinho e a
menina, é mais interior do que exterior. O primeiro luta contra o desamparo e a
desesperança, a segunda busca seu lugar numa casa, numa família.” 53
Já na estória de Dumbo, escrita por Disney em 1936, o que o
elefantinho espera é superar as expectativas maternas e se tornar algo grandioso. O
que para o casal pode ser entendido como ser condicionado à objeto materno.
“O aspecto mais marcante dessa modificação é seu prolongamento. Não há mais pressa em abandonar as asas da mãe. Junto dessa prorrogação do crescimento, estão a valorização desse período da vida e as expectativas que temos dele: ser crianças por mais tempo, para que os pais também possam investir mais em tornar os filhos algo mais próximo de seu ideal. Em Dumbo, essa infância prolongada já está presente, pois ele é um herói fixado nesse período de idílio com a mãe.”
54
Na estória de Cachinhos Dourados, os autores interpretaram como
sendo a vontade de sair de casa por não se enquadrar com a família que nela vive
representada nessa estória como a menina que veio de um lugar qualquer, entrando
na casa de estranhos e tentando se enquadrar no ambiente.
“Nos contos de fadas, algum tipo de maltrato precede a partida do lar: a vida do herói corre perigo, ele é mal amado, mal compreendido. É preciso que suas conquistas, em outros reinos ou na floresta, sirvam para mostrar para as pessoas que os viram crescer, e que apostavam tão pouco nele, o seu grande valor. Quando ele volta para a família, o faz cheio de tesouros e glória. Muitas vezes, nem volta: vai viver sua realeza num mundo por ele conquistado através dos dons que em casa ninguém soube apreciar.”
55
Os autores ressaltam que as estórias foram escritas e interpretadas de
acordo com as situações vividas na época em que foram ouvidas, escritas e
compiladas para serem contadas ao público ouvinte.
Estórias como João e Maria, O Lobo e os Sete Cabritinhos e o Flautista
de Hamelin, historicamente falando, eles ressaltam o período em que a população
européia viveu em condições subumanas na miséria e passando fome. Essas
53
CORSO & CORSO. Fadas no Divã. Psicanálise nas Histórias Infantis, p.32. 54
CORSO & CORSO. Fadas no Divã. Psicanálise nas Histórias Infantis, p.36. 55
CORSO & CORSO. Fadas no Divã. Psicanálise nas Histórias Infantis, p.38.
37
estórias retrataram a realidade européia em que há escassez e comida e os pais
livram-se de seus filhos para ficar com o pouco que sobrou.
Os autores exemplificam essas estórias como o sentimento dos adultos
de se livrarem de seus filhos a fim de melhorar suas vidas e a intuição da criança em
não ser bem vinda em sua família. E essa separação escritas nas estórias serem
bem vistas pelas crianças, pois acabam separando-as das pessoas ditas ruins.
Essa questão de separação levada para a atualidade mostra que as
crianças, longe das pessoas que as fazem mal, podem levá-las a ter uma vida
melhor.
Outros assuntos, bastante debatidos na comunidade psicanalítica e na
área educacional são a inocência e a perda dela, a curiosidade sexual infantil,
fantasias de sedução por um adulto e o medo na construção da figura paterna. Para
estas questões, temos as estórias de Chapeuzinho Vermelho, Dama Duende, João-
Sem-Medo e os Três Porquinhos. (CORSO & CORSO, 2009).
Chapeuzinho Vermelho é uma estória bem esplanada pelos autores.
Eles citam as mais variadas edições da mesma estória. Em uma delas, Chapeuzinho
é devorada pelo lobo, na mais antiga, ela consegue enganá-lo e ir embora e em
outra ela é ajudada por um lenhador. O que é destacado dessa estória é a maneira
como é descrito o diálogo entre Chapeuzinho e o lobo, interpretado como o adulto e
também como o pai e, como esse dialogo vai mostrar a curiosidade e desconfiança
da menina perante a cena que está se desenrolando.
No ponto de vista dos autores:
“Três gerações de mulheres estão envolvidas no conto: a filha, a mãe e a avó. Se o lobo puder também ser considerado uma forma de simbolizar aspectos do desejo paterno, veremos que ele se interessa justamente por aqueles que não podem e nem deve seduzir na vida real. O lobo-pai teria de restringir às mulheres da sua geração, sem assuntos a tratar com crianças e senhoras com idade de ser sua mãe.”
56
A estória de Chapeuzinho faz com que a criança compreenda a
organização sexual da vida adulta. A criança deve compreender o amor e como
esse sentimento está dividido em sua vida familiar.
56
CORSO & CORSO. Fadas no Divã. Psicanálise nas Histórias Infantis, p.54.
38
Chauí concorda com os autores acrescentando o conteúdo sexual
tanto para a estória de Chapeuzinho,como para de João e Maria.
Sendo assim, Chaui explica:
A sexualidade do lobo aparece não só como animalesca e destrutiva, mas também "infantilizada" ou oral, visto que pretende digerir a menina (o que poderia sugerir, de nossa parte, uma pequena reflexão sobre a gíria sexual brasileira no uso do verbo comer). O comer também aparece num outro conto de retorno, João e Maria. A curiosidade de João, depois acrescida pela gula diante da casa de confeitos, arrasta os irmãozinhos para a armadilha da bruxa (que é, na simbologia e mitologia da Europa medieval uma das figuras mais sexualizadas, possuída pelo demônio (o sexo), ou tendo feito um pacto com ele). A astúcia salva as crianças quando João exibe o rabinho mole e fino de um camundongo no lugar do dedo grosso e duro (o pênis adulto), evitando a queda do menino no caldeirão fervente (outro símbolo europeu para o sexo feminino, tanto a vagina quanto o útero).
57
A conotação sexual aparece também na estória de João-Sem-Medo.
Na visão de Bettelhein, o personagem que não tinha medo de nada, mas busca
encontrar algo que o fizesse tremer de medo e acaba aceitando a idéia de sua
criada em que levar um banho de água fria com peixes enquanto estivesse deitado
na cama com sua princesa o faria tremer de medo.
O medo é um fator importante nos contos infantis, pois é o medo que
vai dar sentido as estórias contadas. É entendendo seus medos que a criança pode
desenvolver mecanismos para combatê-los. Então irão escolher os contos infantis
que descreverão inconscientemente seus medos através dos personagens e
indicarão meios de superá-los.
Nesse contexto, a estória mais contada na primeira infância é a dos
Três Porquinhos, pois representa o medo da criança na futura separação de sua
família.
Para os autores, a estória dos Três Porquinhos representa o dia em
que as crianças sairão de casa e enfrentarão o mundo. Nessa estória, chega um dia
em que a mãe não consegue sustentá-los e eles seguem seus caminhos. A primeira
providencia que tomam ao sair de casa é construir seu próprio lar. Todos recebem
57 CHAUÍ,Marilena. Repressão sexual: essa nossa (des)conhecida, pág. 32
39
ajuda de um homem na beira da estrada e constroem casas de acordo com sua
disponibilidade de tempo.
Quando o lobo aparece na estória, cada porquinho já tem sua casa. Na
versão antiga, os dois primeiros porquinhos que construíram casas de palha e
madeira, são devorados, pois o lobo usa seu fôlego para soprar, derrubar as casas e
comer os porquinhos. É apenas com o terceiro porquinho que a estória muda. O
lobo usa dos mesmos artifícios para convencê-lo a abrir, porém suas ameaças de
nada valem já que poderia soprar o quanto quisesse que a casa feita de tijolos não
cairia. Então o lobo tenta seduzir o porquinho para que abra a porta. Entretanto, o
esperto porquinho sempre se adianta nas investidas do lobo e acaba se dandobem
no final da estória.
Para o casal Corso, essa estória dos três porquinhos é bem recebida
pelas crianças, pois “compartilha certa codificação oral do mundo – dividida entre os
que comem e os que são comidos -, que ainda persiste um bom tempo após o
desmame.” (Corso & Corso, 2009)
“Inicialmente desprotegidos, à mercê de serem devorados, o porquinho e a criança aprendem a criar empecilhos que os separem da mãe, diferenciando sua vontade da dela.[...] O trabalho de se entender como indivíduo é progressivo e bastante marcado por estratégias de defesa, como se recusar a comer e negar-se a fazer o que lhe é solicitado. Sucessivas paredes, cada vez mais bem construídas, demarcarão os territórios entre a criança e seus adultos.”
58
É importante ressaltar que as estórias e suas contribuições na infância
são divididas tanto para o casal Corso, como para Bettelhein de acordo com o
entendimento da criança de seu meio.
Quando as crianças são menores, seus problemas emocionais são
ligados à sua existência. Quando vão crescendo e entendendo sua parte no meio
social, seus problemas afetivos são ligados ao meio social qual está inserida.
Para Bettelhein (1980)
Para dominar os problemas psicológicos do crescimento - separar decepções narcisistas, dilemas edípicos, rivalidades fraternas, ser capaz de abandonar dependências infantis; obter um sentimento de individualidade e de auto valorização, e um sentido de obrigação moral - a criança necessita entender o que se está passando dentro de seu eu inconsciente. Ela pode atingir essa compreensão, e com isto a habilidade de lidar com as coisas, não através da compreensão racional da
58
CORSO & CORSO. Fadas no Divã. Psicanálise nas Histórias Infantis, p.57.
40
natureza e conteúdo de seu inconsciente, mas familiarizando-se com ele através de devaneios prolongados - ruminando, reorganizando e fantasiando sobre elementos adequados da estória em resposta a pressões inconscientes. Com isto, a criança adequa o conteúdo inconsciente às fantasias conscientes, o que a capacita a lidar com este conteúdo. É aqui que os contos de fadas têm um valor inigualável, conquanto oferecem novas dimensões à imaginação da criança que ela não poderia descobrir verdadeiramente por si só. Ajuda mais importante: a forma e estrutura dos contos de fadas sugerem imagens à criança com as quais ela pode estruturar seus devaneios e com eles dar melhor direção à sua vida.
59
Em todas as estórias a criança busca se identificar nos personagens.
Isso a ajuda a entender o mundo a sua volta e a se desenvolver emocionalmente.
Para o casal Corso, cada situação difícil encarada pela criança pode
ser apresentada pra elas através dos famosos contos infantis, atuando como uma
espécie de auto-ajuda infantil que vai auxiliar a criança a atravessar o momento
emocional ajudando no seu desenvolvimento emocional.
São inúmeras as estórias apresentadas tanto pelo casal de
psicanalistas, qual o trabalho foi embasado, quanto por Bettelhein. Estórias que
mexeram e mexem com a mentalidade infantil são representadas por seus
estudiosos como representação da psique infantil.
Cada estória obedece ao grau de complexidade do desenvolvimento
intelectual do ser humano. Aí está o motivo de iniciar a dissertação com as estórias
que agradam o publico infantil, cuja maioria ainda não saiu das fraldas.
Para os maiores, os que começam a entender o funcionamento da
família, as estórias como as dos Três Porquinhos não são mais as preferidas, pois já
passaram dessa fase. Contos mais complexos fazem parte de seu imaginário
infantil.
Sendo assim, os autores apresentam outros contos que tentarão suprir
as necessidades emocionais em crianças maiores.
Como foi falado anteriormente, o medo tem função importante nos
contos infantis60. O medo das crianças de crescer e deu seu meio social e da
transmissão do medo dos adultos quanto ao futuro da criança.
59
BETELHEIN, Bruno. Psicanálise dos Contos de Fadas, p.16 60
Ver página 36 da presente monografia.
41
Quanto a essas especulações, destacam-se a estória de Rapunzel e A
Fada da Representação do Moinho, cujas estórias levam à reflexão da
possessividade materna e sua dificuldade diante do crescimento da filha.
“Um filho recém-chegado pode ser uma suspensão da relação com o resto do mundo para a mãe. Durante um tempo, as exigências da vida ficam em segundo plano, trabalho, casamento, projetos inconclusos, tudo isso será adiado para outro momento. Não é fácil retomar. Muitas vezes apegar-se ao bebê é uma saída para a covardia de reenfrentar a vida. Em casa, com seu filho, identificada com a vida infantil deste, ela se manterá afastada do trabalho, das exigências sociais e, freqüentemente, da própria sexualidade.”
61
A mãe tem papel importante na vida das crianças. Contos como A
Jovem Escrava, Branca de Neve, A Bela Adormecida e Sol, Lua e Tália,
representam bastante esse período infantil. Período em que a menina se identifica
com a mãe, apresenta sentimentos fortes como amor e ódio pela mãe.
Esses contos explicam a passagem da infância para a adolescência e
todas as mudanças ocorridas no corpo e mente femininos durante essas mudanças.
“A partir da sociedade moderna, ficou estabelecido que, entre a infância e a vida adulta, haverá o período cada vez mais prolongado da adolescência. Essa é a época de um grande sono, em que os sujeitos estão vivos, mas ausentes do mundo ao qual pertenciam, sendo que ainda não despertaram no tempo que está seu próprio futuro. Esses belos adormecidos provavelmente têm contribuído para a preservação das histórias de princesas adormecidas, já que elas seguem existindo, agora com novos significados.”
62
É importante destacar que as estórias de princesas citadas pelo casal
de psicanalistas não tem o mesmo sentido para as criança menores. E os elementos
que aparecem nesses contos possuem outro sentido para os pequenos. Nesse
sentido, utilizaremos da explicação de Chvatal.63
Para ela, cada elemento mágico dos contos são simbolismos que
representam a descida ao inconsciente em busca de autoconhecimento.
61
CORSO & CORSO. Fadas no Divã. Psicanálise nas Histórias Infantis, p.73 62
CORSO & CORSO. Fadas no Divã. Psicanálise nas Histórias Infantis, p.89. 63
CHVATAL, Vera Lúcia Soares apud CHEVALIER, J. & GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio: 1990.
42
Sendo assim, após consulta a bibliografia especializada chegou a
seguinte conclusão:
a) Castelo: mundo interior;
b) Espelho mágico: símbolo de conhecimento e sabedoria;
c) Floresta: símbolo do subconsciente, obscuridade;
Complementando a simbologia da autora acima, ainda temos os anões
que, segundo o casal Corso, representariam a criança. A bruxa má e invejosa
representa a raiva da filha pela mãe, entre outros símbolos.
Outro assunto importante abordado por inúmeros estudiosos do tema é
o incesto. Nesse prisma, destacaram vários contos que indicam incesto. Dentre eles
Bicho Peludo, Pele-de-Asno, A Ursa e Capa-de-Junco.
Nesses contos destacam a importância do desejo paterno para o
amadurecimento sexual da menina, a construção da sedução feminina e o complexo
de Édipo feminino.
“O dramático é quando, na vida real, as meninas não conseguem deixar de ser um bicho peludo. Ou seja, para fugirem de um suposto olhar paterno, certas mulheres optam por enfear-se. A forma mais comum de esconder-s, e um dos disfarces mais difíceis de tirar, parece ser a gordura. Sob analise, descobrimos que certas mulheres assim se mantém obesas por uma dificuldade extrema em suportar um olhar desejante, agora já generalizado, ou seja, vindo de qualquer um.”
64
Em qualquer lugar do mundo existem crianças exploradas sexualmente
por um parente próximo. Algumas fogem de casa, outras usam artimanhas para se
tornar menos atraentes aos olhos de um adulto. Logicamente que, essas situações
extremas, os contos de fadas relacionados aos assuntos podem atingir o emocional
dessas crianças e ensiná-las um caminho a traçar. Entretanto, somente isso não
melhora muito a situação delas. Nesses casos toda a área que zela pela infância
deve ser acionada.
É nesse contexto que um educador se encaixa.65
A criança que aparece na escola suja, é distraída durante as aulas,
pode ter um problema em casa. Se esse problema se diz respeito à parte sexual,
64
CORSO & CORSO. Fadas no Divã. Psicanálise nas Histórias Infantis, p.104 65
Existem, em várias cidades brasileiras, projetos que visam erradicar a violência sexual infantil, cujos participantes são educadores e membros da comunidade se utilizam dos contos de fadas para trabalhar o problema.
43
uma boa contação de estória pode fazer com que essa criança conte sua estória,
incorporando o personagem e apresentando seu conflito emocional.
Assim, segundo Bettelhein, que “a pessoa imatura, que ainda não está
pronta para o sexo, mas é exposta a uma experiência que suscita fortes sentimentos
sexuais, recai nas formas edípicas de lidar com ele.” 66
Enfim, há uma enormidade de contos de fadas e, cada um pode ser
visto pela criança como um modelo de sua situação de vida. É importante para ela
ter contato com os mais diversos contos e escolher quais mais se identifica. A partir
dessas escolhas, cabe à família a aos educadores que passarem pelas crianças,
ficarem atentos as suas representações. É através dessas estórias que a criança se
mostra ao mundo e é se utilizando dessas estórias que o pai e o educador pode
estabelecer uma ponte de comunicação com a criança, entendendo sua
necessidade emocional e guiando seus conhecimentos.
Bettelhein aconselha prudência na hora da utilização desses contos de
fadas, ressaltando um problema de uma paciente sua:
“Nesse caso, um pai relatava de modo livre o conto de Cinderela para sua filha. Na sua maneira de contar a história, eles se incluíram enquanto personagens e alteravam o curso da trama: eles a salvava das garras da madrasta e juntos viviam aventuras. Pois bem, Bettelhein acrescenta que a menina entendeu essa liberdade narrativa como uma sedução paterna,e isso à levou à esquizofrenia.[...] alguma neurose familiar que fez os pais ficarem numa posição inadequada[...] algo deve ter se expressado na narrativa que o pai fez.”
67
O casal Corso acredita que, quando se conta uma estória para a
criança, aprofunda os laços entre pais e filhos. Entende também que as patologias
desenvolvidas pela criança é o resultado da situação em que encontra o meio social
qual está inserida. Ela desenvolve patologias em decorrência desse meio.
Concordam com Bettelhein quando este diz que “a criança necessita
muito particularmente que lhe sejam dadas sugestões em forma simbólica sobre a
forma como ela pode lidar com estas questões (os problemas existenciais) a crescer
a salvo para a maturidade.” 68
66
BETELHEIN, Bruno. Psicanálise dos Contos de Fadas, 2002, p.187 67
CORSO & CORSO. Fadas no Divã. Psicanálise nas Histórias Infantis, p.163 68
CORSO & CORSO apud BETTELHEIN, Bruno. Fadas no Divã. Psicanálise nas Histórias Infantis, p.163
44
Nessa visão, aplicam aos contos de fadas um sentido terapêutico no
tratamento com crianças, levando-as a enfrentarem seus temores e ansiedades
decorrentes de sua consciência existencial.
45
CONCLUSÃO
Sabendo que a criança é um ser frágil e está construindo sua
identidade no mundo em que vive e que, por causa de sua imaturidade, não
consegue se expressar abertamente é necessário entende-las e compreender os
caminhos que traçam em busca do auto conhecimento, a fim de alcançar suas
capacidades esperadas pelo meio social que se insere.
A conclusão que chegamos nesse assunto foi que muitos profissionais,
a grande maioria, psiquiatra e psicólogos vem, faz algum tempo, estudando os
contos em crianças e adolescentes com problemas afetivos.
Esses profissionais chegaram à conclusão que os contos de fadas são
o equivalente dos livros de auto-ajuda para adultos: fazem as pessoas se
identificarem nas estórias e as permitem retirar sua essência para superar uma
dificuldade em sua vida.
Todos nós conhecemos histórias reais de que várias patologias graves
são desencadeadas na infância, como estupradores que sofreram abuso sexual na
infância ou os mentirosos compulsivos que desenvolveram suas habilidades por
uma pressão de sua família no seu modelo de perfeição.
Com base nessa teoria, montamos todo plano de estudo voltado à
utilização dos contos de fadas como um meio de interpretar a criança.
Os contos de fadas comprovaram eficácia na maioria dos casos
apresentados por vários estudiosos da área e sua forma de utilização dos
profissionais depende de suas habilidades intelectuais e especialidades.
No Brasil, já existem projetos que visam a utilização dos contos de
fadas nas mais diferentes formas, pois a ecleticidade dos contos e suas diversas
interpretações auxilia os profissionais na proximação de crianças arredias,
conseguindo, assim, apresentar um diagnóstico mais próximo da realidade dessas
crianças.
Os contos de fadas, por terem a magia e os elementos que os
pequenos gostam, acaba se tornando valiosa ferramenta nas mãos do profissional
da educação.
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Sendo assim, as formas de utilizar os contos infantis são muitas, que
vão desde desenvolver a leitura até a ocupação das crianças ociosas, além de
construir uma ponte que auxilia a criança a exteriorizar seus medos e ansiedades,
mostrando aos profissionais a raiz de muitos problemas destacadas em seu
desenvolvimento cognitivo, motor, psicológico e emocional.
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