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5/17/2018 Cognição Social no Transtorno Esquizotípico de Personalidade - slidepdf.com
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COGNIÇÃO SOCIAL NO TRANSTORNO ESQUIZOTÍPICO DE PERSONALIDADE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICATonelli, H.A.(1); Alvarez, C. E.(1); von der Heyde, M. D.(1); Silva, A. A(1).
(1) Médico psiquiatra
Introdução
O TranstornoEsquizotípico de Personalidade é definido clinicamenteno DSM-IV (APA,
1994), como um padrão inv as iv o de déf ic its soc iais e interpe ssoa is , marcado por
desconforto agudo e reduzida capacidade para relacionamentos íntimos, além de
distorções cognitivas ou perceptivas e comportamento excêntrico, que costuma começar
no início da idade adulta e estar presente em umavariedade de contextos,associando-se a
pelo menos 5 dos 9 traços esquizotípicos: idéias de referência, crenças bizarras ou
pensamentomágico que influenciamo comportamento e são inconsistentes com as normas
da subcultura do indivíduo, experiências perceptivas incomuns, pensamento e discurso
bizarros, desconfiança ou ideação paranóide, afeto inadequado ou constrito, aparência ou
comportamento esquisito ou peculiar, ausência de amigos íntimos ou confidentes e
ansiedade socialexcessiva.
O diagnóstico de TEP é considerado um importante fator de vulnerabilidade para o
desenvolvimento de esquizofrenia; por outro lado, esquizofrênicos parecem ter uma
incidência maior defamiliares portadores de TEPem relação à populaçãogeral.
Por Cognição Social (CS) subentendem-se “as operações mentais que estão por trás
das interações sociais e que incluem a habilidade humana de perceber as intenções e
disposições dos outros”. As representações geradas por este tipo específico de cognição
servempara que o indivíduo guie seu comportamento social de forma flexível e adaptada.
Evidências de que a CS seja um domínio cognitivo separado abrangem, por exemplo,
estudos de indivíduos quesofreram lesão cortical frontalou pré-frontal demonstrandoque
eles podemapresentar como conseqüência danosem seu comportamento sociala despeito
de manutençãode habilidades cognitivas comomemória e linguagem.
O estudo da CS nos Transtornos do Espectro da Esquizofrenia concentra-se, de
maneira geral, no estudo das habilidades “Teoria da Mente”, relacionadas à habilidade de
representar os estados mentais e/ou de fazer inferências acerca das intenções dos outros,
nos estudos de percepção social (cujas linhas de pesquisa concentram-se principalmente no
reconhecimento do afeto facial e percepção de atitudes sociais) e nos estudos de estilo
atribucional.
O estudo da CS em portadores de TEP poderá auxiliar na compreensão do papel de
alterações do processamento cognitivo social na gênese de sintomas psicóticos na
esquizofrenia. Da mesma forma, a comprovação da presença de alterações atenuadas
deste processame nto e m portadore s de TEP pode ria ser interpretada como um a
Pickup, 2006 (7)
Investigar ToM em indivíduos normais que variam em
pontuações de esquizotipia, com o objetivo de replicar os
resultados obtidos por Langdone Coltheart (ref 13), ou seja,
de que altas pontuações em instrumentos que avaliam
esquizotipia estariam associados a prejuízo no processamento
ToM
Houve escores piores de
processamento ToMa penas nos
indivíduos que pontuaram mais em
uma subescalaespecífica de apenas
um instrumento empregado. Não
houve relações entre a pontuação total
dos escores de esquizotipiae prejuízos
no processamento ToM. Também não
houve correlações entre
processamento CS e cognição geral.
Langdon e Coltheart, 2004 (8)
Investigar se indivíduos com altos escores de esquizotipia
apresentam comprometimento da compreensão da
linguagem pragmática, que envolve a ironia e a metáfora.
Os indivíduos com alto grau de
esquizotipia não diferiram
estatisticamente dos com baixa
esquizotipia em relação à
compreensão de metáforas, mas sim
em relação à compreensão de ironia.
Loughland e cols., 2003
(9)
Avaliar a transmissão familiar do escaneamento visual
(scanpath) de faces e expressões faciais, anteriormente
descritas como comprometidas em esquizofrênicos
Esquizofrênicos apresentaram
restrição do escaneamento em
comparação com controles e parentes
em primeiro grau.
Parentes em primeiro grau
apresentaram evitação de emoções
tristes e maior duração de fixação do
olhar em expressões de alegria.
Langdon e Coltheart,
2001 (10)
Avaliar a relação da tomada de perspectiva visual e
mentalização em indivíduos portadores de TEP
Indivíduos com altos escores de
esquizotipia pareceram ter maior
comprometimento tanto na
capacidade de mentalização como na
tomada de perspectiva visual
Martin e Penn, 2001
(11)
Examinar a relação entre ideação persecutória e variáveis
cognitivas clínicas e sociais em uma população não clínica.
Altos níveis de ideação paranóide
puderam ser significativamente
associadas a humor deprimido,
ansiedade social e evitaçãoe baixa
auto-estima, mas não a vieses
atribucionais.
Langdon e Coltheart, 1999
(12)
Investigar a relação entre a habilidade de mentalização e
traços esquizotípicos em indivíduos de populações não clínicas
sem história de doença psiquiátrica.
Indivíduos com altos escores de
esquizotipia pontuaram menos do que
os indivíduos com baixos escores de
esquizotipia apenas em histórias que
envolviam falsas crenças, mas não em
histórias mecânicas, de script social e
capture. Não houve diferenças no que
tange a cognição geral.
Discussão
A avaliação comparada da CS entre indivíduos portadores de diferentes transtornos
do espectro da esquizofrenia poderá elucidar acerca da interface entre os mesmos,
auxiliando na compreensão fisiopatológica dos sintomas psicóticos da esquizofrenia. Estes
característica traço dependente e predisponente para o desenvolvimento de sintomas
psicóticos.
ObjetivoRevisar sistematicamente a literaturaa respeito de CS em portadores de TEP.
Métodos
Foi realizada umabusca porartigos na base de dados MEDLINE, utilizandoa seguinte
frase de busca: “Schizotypal Personality Disorder” [Mesh] AND “Social Cognition” OR
“Theory of Mind”. A busca resultou inicialmente em 655 artigos, dos quais 21 foram
selecionados por tratarem diretamente do assunto em questão. Destes, foram escolhidos
12,apósa leitura dosresumos.
Resultados
Os trabalhos selecionados são sumarizados na tabela a seguir.
Estudo e
número da
referência
Objetivos Resultados
Sheane Bell,
2007 (1)
Aval iar o gr au em que car acter íst icas esquizotípicas
associam-se com déficits na habilidade de identificar
emoções expressas facialmenteou atravésde posturas.
Cor r elações s igni ficat ivas , mas não em
todosos instrumentos utilizados.
Jahshane Sergi,
2006 (2)
Avaliar ToMem uma população de esquizotípicos, bem
como funcionamento execut ivo e memór ia ver balsecundária namesma população.Umterceiroobjetivofoi
ode examinar ostatusfuncionalde indivíduoscom altae
baixa esquizotipia.
Não houve diferenças no processamento
de cogniçãogerale socialentreindivíduos
de altae baixa esquizotipia.Os indivíduos
c om a lt a e sq ui zo ti pi a e st av am ma is
comprometidosfuncionalmente do que os
debaixa esquizotipia.
Irani e cols,
2006(3)
Aval iar a cor r elação entr e habil idades ToM e auto-
reconhecimentofacial, bem como investigar a influência
detraços esquizotípicos nasvariáveisestudadas.
H ouv e di fer en ça s s ig ni fi ca ti va s de
pontuaçõesentre pacientese controles em
relaçãoàtarefaCSem pregada.
Contro les e par entes com baixo gr au de
esquizotipia diferiram significativamente
dosparentescomalto graude esquizotipia
nasacuráciasdas avaliaçõesempregadas.
Meyer e Shean,
2006 (4)
Examinar a r elação entr eCS e pensamento mágico em
portadoresde TEP
H ou ve r el aç ão e nt re a c ap ac id ad e d e
i de nt if ic aç ão d e e mo çõ es a tr av és d o
i ns tr um en to e mp re ga do ( Ey es T es t) e
crenças irreais.
Marjorame
cols., 2006 (5)
Examinar se o comprometimentodo processamento de
habilidades ToM correlaciona-se com vulnerabilidade a
esquizofrenia
H ou ve d if er en ça s e st at is ti ca me nt e
significativas nas pontuações das tarefas
CS parao grupo deindivíduosparentesde
esquizofr ênicos com histór ia de ter em
apresentadosintomaspsicóticos
Marjorame
cols., 2006 (6)
Comparar a performance de um grupo de parentes de
esquizofrênicos com um grupo de controles saudáveisem tarefas envolvendo capacidade de mentalização.
As tarefas promoveram ativação de áreas
cerebrais já relacionadas a atividades de
mentalização. Os parentes de
esquizofrênicos sem história prévia de
sintomas psicóticos obtiveram pontuações
significativamente superiores às dos
indivíduos com história de sintomas
psicóticos.
poderiam, por exemplo, ser um reflexo de um processamento cognitivo social deficitário
nestes pacientes.
A presente revisão mostra que já existem muitas iniciativas de pesquisa envolvendo
populações de indivíduos portadores de quadros subsindrômicos visando avaliar se os
mesmos apresentam diferentes pontuações nos vários instrumentos empregados na
avaliaçãode CS em relação a populações clínicas e gruposcontrole.
Todavia, os resultados dos trabalhos avaliados são, ainda, contraditórios. Estas
contradiçõespoderiam ser entendidasà luz dos problemassubjacentes ao próprio estudo
da C S. M artin e Penn (11) , ao estudarem a possível co rrelação exis tent e ent re
persecutoriedade e cognição geral e social, mostram que a dissociação entre estas
variáveis pode ser facilmente feita do ponto de vista teórico e que variáveis clínicas,
mesmoem populações nãoclínicas, devemser tambémlevadas emcontana compreensão
dagênese da ideação persecutória. Alémdisso, apesarde os estudiososda CS dividirem-se
entre os que postulam a existência de um módulo cognitivo social independente do
processamento de outras funções cognitivas e os quenão aceitameste modelo, ainda não
foi possível demonstrar a existência deste módulo cognitivo específ ico. De fato, o
processamento cognitivo social parece recrutar muitas funções cognitivasgerais.
Contudo, muitos estudos sugerem que há maior comprometimento na pontuação
em diversas tarefas CS, principalmente em indivíduos com alto grau de esquizotipia, que
poderia representar um continuum de prejuízo no processamento CS entre indivíduos
esquizotípicos e esquizofrênicos. Levando-se em conta que a esquizotipia representa um
estado de risco aumentado para o desenvolvimento da esquizofrenia, poder-se-ia pensar
em alternativas de abordagem sócio-cognitiva para tais indivíduos, diminuindo, assim, as
taxasde viragem paraestados psicóticos maisseveros.Conclusões
Existem muitos estudos sobre o funcionamento cognitivo social em indivíduos
portadores de diferentes graus de esquizotipia, contudo, os resultados, são, ainda,
controversos. O conhecim ento adquir ido atravé s do e studo da CS e m indivíduos
portadores de subsíndromes psicóticas poderá auxiliar no desenvolvimento de estratégias
terapêuticas e preventivas juntoa estes indivíduos.
Bibliografia1: Shean G, Bell E, Cameron CD. Recognition of nonverbal affect and schizotypy. J Psychol. 2007 May;141(3):281-91.
2: JahshanC S, Sergi MJ. Theory of mind, neurocognition, and functional status in schizotypy.SchizophrRes. 2007 Jan; 89(1-3):278-86.
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4: Meyer J, Shean G. Social-cognitive functioning and schizotypalcharacter istics. J Psychol. 2006 May; 140(3):199-207. PMID: 16916074
5: Marjoram D, Miller P, McIntosh AM, Cunningham Owens DG, Johnstone EC, Lawrie S. A neuropsychological investigation into 'Theory
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6: Marjoram D, Job DE, WhalleyHC, Gountouna VE, McIntosh AM, Simonotto E, Cunningham-Owens D, Johnstone EC, LawrieS. A visual
joke fMRIi nvestigation into Theory of Mind and enhanced risk of schizophrenia. Neuroimage.2006 Jul 15; 31(4):1850-8.
7: Pickup GJ. Theory of mind and its relation to schizotypy. CognitNeuropsychiatry. 2006 Mar; 11(2):177-92.
8: Langdon R, ColtheartM. Recognition of metaphor and irony in young adults: the impact of schizotypal personality traits.PsychiatryRes. 2004 Jan 30; 125(1):9-20.
9: LoughlandCM, Williams LM, Harris AW. Visual scanpathdysfunction in first-degree relatives of schizophrenia probands: evidence for
a vulnerability marker? SchizophrRes. 2004 Mar 1; 67(1):11-21.
10: Langdon R, ColtheartM. Visual perspective-taking and schizotypy: evidence for a simulation-based account of mentalizingin normal
adults. Cognition. 2001 Nov; 82(1):1-26.
11: Martin JA, Penn DL. Social cognition and subclinical paranoid ideation. Br J ClinPsychol. 2001 Sep; 40(Pt 3):261-5.
12: Langdon R, Coltheart M. –Mentalising, schizotypy and schizophrenia.Cognition 71 (1999): 43 – 71
Agradecimentos
Agradecemos aos doutores Glenn Shean, Grahan Pickup e Nigel Blackwoodpor terem gentil e
prontamente nos enviado seus manuscritos após solicitação de nosso grupo.
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