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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL
Cavalo do Sorraia, uma raça ameaçada:
Márcia Filipa Marujo Pinheiro
MESTRADO EM BIOLOGIA DA CONSERVAÇÂO
2008
medidas de conservação e gestão genética.
Orientador: Professora Doutora Maria do Mar Oom
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL
Cavalo do Sorraia, uma raça ameaçada:
Márcia Filipa Marujo Pinheiro
MESTRADO EM BIOLOGIA DA CONSERVAÇÂO
2008
medidas de conservação e gestão genética.
“There is something about the outside of a horse that is good
for the inside of a man.”
Winston Churchill
Nota Prévia
Ao longo do intervalo de tempo em que decorreu este Mestrado, diversas foram as
tarefas desenvolvidas no âmbito da estratégia de conservação implementada na raça
Sorraia pela mão da sua respectiva associação de criadores. Dada a diferente natureza de
cada um destes trabalhos, encontra-se a presente dissertação dividida em três partes
fundamentais, totalmente independentes entre si e abarcando diferentes vertentes no
domínio da conservação de populações ameaçadas. Os objectivos a cumprir em cada
uma destas tarefas encontram-se definidos no início de cada capítulo e os resultados
apresentados de seguida, acompanhados pela respectiva discussão e conclusões. Por fim
os vários resultados alcançados ao longo deste tempo são enunciados e confrontados nas
“Considerações finais”, discutindo-se a sua importância relativa na preservação desta
raça de tão grande valor.
Não existindo quaisquer linhas orientadoras no que se refere ao modelo de apresentação
das diferentes referências bibliográficas consultadas, foi adoptada nesta dissertação a
estrutura que se encontra descrita na revista indexada Journal of Animal Breeding and
Genetics.
Conteúdos Agradecimentos xi
Resumo xiii
Abstract xiv
Capítulo I. Introdução 1 1. O cavalo doméstico e o declínio da biodiversidade .....................................................2
2. O Cavalo do Sorraia: uma raça ameaçada ....................................................................6
3. Objectivos ...................................................................................................................13
Capítulo II. Adaptação e optimização do programa Gescab 2000 Losina para a
gestão do Studbook da raça Sorraia 14
1. O Studbook como instrumento fundamental na gestão de uma raça ..........................15
2. Materiais e Métodos ...................................................................................................18
2.1. Introdução dos dados populacionais ........................................................................18
2.2. Avaliação das competências do programa ...............................................................21
2.2.1. Menus de registo ...................................................................................................21
2.2.2. Cálculos ................................................................................................................22
2.3. Pedido de alterações ................................................................................................24
2.4. Introdução de dados complementares .....................................................................26
2.5. Controlo de filiação .................................................................................................26
3. Resultados e Discussão ...............................................................................................27
4. Conclusão ...................................................................................................................36
Capítulo III. Caracterização da variabilidade genética e estrutura demográfica da
raça Sorraia através da análise da informação genealógica 38
1. A análise da genealogia como ferramenta de grande utilidade para a eficaz gestão de
uma raça ..........................................................................................................................39
2. Materiais e Métodos ...................................................................................................42
2.1. Preparação do ficheiro .............................................................................................42
2.2. Parâmetros demográficos ........................................................................................43
2.3. Parâmetros genéticos ...............................................................................................45
3. Resultados e Discussão ...............................................................................................48
3.1. Análises demográficas .............................................................................................48
3.2. Análises genéticas ...................................................................................................57
4. Conclusão ...................................................................................................................74
Capítulo IV. Acções de promoção, divulgação e avaliação da raça Sorraia 77
1. Importância da divulgação no âmbito da conservação de uma raça ameaçada ..........78
2. Materiais e Métodos ...................................................................................................80
2.1. Reformulação da página web da AICS ....................................................................80
2.2. Feiras e eventos .......................................................................................................82
3. Resultados e Discussão ...............................................................................................83
4. Conclusão ...................................................................................................................92
Considerações finais 94 Referências bibliográficas 97 Anexos 111 Anexo 1. Padrão da raça Sorraia ..................................................................................112 Anexo 2. Certificado de Filiação ..................................................................................115 Anexo 3. Certificado de Inscrição ................................................................................116
Agradecimentos Já dizia Aristóteles na sua obra Metaphysica, publicada há mais de 2000 anos, que “o
todo é maior que a soma das partes”. Tal como acontece em tantas outras situações do
nosso quotidiano, também ao longo do presente Mestrado esta máxima poderia ser
aplicada na perfeição, tendo sido fundamental o contributo de um vasto conjunto de
pessoas a quem me cabe, desde já, agradecer:
À Professora Doutora Maria do Mar Oom, por me ter permitido realizar este trabalho e
por todo o seu apoio e incentivo ao longo deste tempo, sobretudo naqueles momentos
em que tudo parece mais difícil. Obrigada pela confiança!
Ao Dr. Ignacio Melgarejo, pela sua simpatia e pela paciência demonstrada em todas as
reuniões.
Ao Dr. Félix Goyache, por todo o seu interesse e prontidão de resposta a todas as
dúvidas solicitadas.
À Ana Isabel e à Sandra pela amizade de longa data que perdura mesmo apesar das
distâncias e dos longos períodos que passamos sem nos vermos!
Ao gang da Biologia Humana e Ambiente, Mónica, Margarida, Patrícia, Inês, Fernanda,
Cristina e Ana pelos momentos inesquecíveis que fomos vivendo (e vamos continuar a
viver) em cada jantar, saída ou viagem!!! Obrigada por incluírem uma intrusa no
núcleo!
À Teresa, pela incansável prontidão em ajudar, pela companhia nos dias intensivos de
trabalho na biblioteca, pelas conversas via Messenger, por se ter tornado uma verdadeira
amiga!
Ao Hugo, pelos esclarecimentos informáticos tão úteis na elaboração do website.
xi
Ao Tobias, a avezinha mais mimada de todas, simplesmente por existires e por me teres
feito descobrir quão forte pode ser a amizade entre seres de espécies diferentes!
Obrigada pela companhia nas noitadas de trabalho!
Ao Diogo. Para ti, um obrigado muito especial, por seres o meu pequenino, o meu
melhor amigo, o meu “apoiador de serviço”. Obrigada pela ajuda em todas as revisões
sem nunca teres reclamado… APADOPOROPO-TEPE!!!
A toda a minha família, em particular aos meus pais, por serem os meus grandes pilares
e por estarem SEMPRE, SEMPRE, SEMPRE lá…
xii
Resumo O Cavalo do Sorraia constitui, para além do Lusitano e do Garrano, uma das poucas
raças equinas autóctones presentes a nível nacional, sendo considerado um cavalo
primitivo e o mais provável ancestral das actuais raças de cavalo de sela da Península
Ibérica. Com um efectivo a rondar os 200 indivíduos, integra a lista das raças raras
(particularmente ameaçadas) definidas no mais recente PDR nacional e é classificada
como “critical-maintained” de acordo com os critérios estabelecidos pela FAO. Inserido
no programa de conservação in situ actualmente em curso sob o escrutínio da
associação de criadores, pretendeu-se com este Mestrado contribuir para o aumento da
eficácia das medidas de conservação e gestão genética que se revelam essenciais para a
preservação desta raça equina tão peculiar. Com a realização deste trabalho, todos os
dados populacionais ficaram disponíveis num software especialmente desenvolvido
para a gestão do Studbook de raças autóctones ameaçadas, o qual foi adaptado e
optimizado para o tornar um importante instrumento na gestão do Cavalo do Sorraia.
Por outro lado, no contexto da monitorização periódica dos índices de variabilidade,
importante no delineamento de planos de conservação cada vez mais adequados, foram
obtidos diversos parâmetros genéticos e demográficos populacionais (alguns nunca
antes calculados) a partir dos dados genealógicos disponíveis recorrendo ao programa
ENDOG v.4.0, os quais vieram a revelar os baixos valores de diversidade que
caracterizam a raça e que estão de acordo com os resultados que têm sido descritos ao
longo dos últimos anos. O presente trabalho passou ainda pela colaboração em diversas
acções de avaliação, promoção e divulgação da raça Sorraia (sobretudo através da
reformulação e enriquecimento do website a ela dedicado) na tentativa de aumentar o
número de interessados ao seu redor, fundamental para a sua sustentabilidade futura.
Palavras-chave: conservação de raças ameaçadas, Cavalo do Sorraia, informação
genealógica, variabilidade genética, gestão genética.
xiii
Abstract Sorraia is, along with Lusitano and Garrano, one of the few native horse breeds in
Portugal and is considered a primitive horse and the most probable ancestor of the
modern southern Iberian saddle horse breeds. With roughly 200 living animals (less
than 100 reproductive females) it’s considered by FAO as a critical-maintained breed
and, therefore, an efficient conservation plan is essential to guarantee its future
sustainability. The aim of this work was to contribute for the improvement of
management measures essential to the breed’s survival, practices that have been applied
by the breeders association over the last few years according to the in situ conservation
program already in practice. In this way, all the available population data was gathered
on a computer program designed for the management of threatened autochthonous
breeds, software that was also optimized to the Sorraia Horse in order to get a useful
tool for its own population management. The regular assessment of the within
population genetic variability, important for the establishment of an efficient
conservation strategy, was also carried out in the present work through the analysis of
the pedigree information registered on the Sorraia Horse Studbook. All the genetic and
demographic parameters computed using ENDOG v.4.0 (some of them for the first
time) revealed low levels of diversity characterizing this breed, being consistent with
results obtained from several previous studies. Finally, as an attempt to increase the
interest around this horse, some additional tasks were performed during this project,
particularly the enrichment of the breeders association’s webpage which represents a
powerful tool to divulgate such valorous breed.
Keywords: endangered breed conservation, Sorraia Horse, genealogic information,
genetic variability, genetic management.
xiv
1. O cavalo doméstico e o declínio da biodiversidade
A biodiversidade constitui um termo chave no âmbito da Conservação e é definida
como “a variabilidade entre os organismos vivos de todas as origens incluindo, entre
outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os
complexos ecológicos dos quais fazem parte; compreende a diversidade dentro de cada
espécie, entre espécies e nos ecossistemas”. Resultado da acção conjunta dos processos
naturais e da intervenção humana ao longo de 3,5 mil milhões de anos de evolução, a
Biodiversidade actual forma a rede de vida da qual somos parte integrante e sobre a qual
assentamos a nossa sociedade e economia de forma local, nacional ou global (United
Nations Treaty Series 1993; Secretariat of the Convention on Biological Diversity 2000,
2005).
O número total de espécies existentes no planeta é desconhecido. Podendo variar entre
10 a 100 milhões, as estimativas actuais apontam para um valor na ordem dos 15
milhões, dos quais apenas uma pequena fracção é conhecida (1,7-1,8 milhões)
(http://www.iucn.org/en/news/archive/2007/09/12_pr_redlist.htm1). Apesar da extinção
constituir um componente natural do processo evolutivo, nas últimas décadas e
principalmente devido à acção humana, as espécies têm vindo a desaparecer a um ritmo
alarmante, 100 a 1000 vezes superior à taxa natural deduzida a partir dos registos
fósseis (Frankham et al. 2004). Para além das que actualmente se encontram extintas, o
número de espécies ameaçadas tem vindo a crescer forma de exponencial ao longo dos
anos. A mais recente Lista Vermelha, editada pela IUCN em Setembro de 2007
(http://www.icn.org/en/news/archive/2007/09/12_pr_redlist.htm1) considera em risco
39% das 41 415 espécies avaliadas (representantes de diversos grupos taxonómicos),
estando a sua subsistência futura em grande parte dependente da intervenção humana
(Figura 1). Dada a magnitude dos factos, este é já considerado o período da sexta grande
extinção da vida na Terra (Frankham et al. 2004; IUCN 2004) tendo determinado o
aparecimento de uma nova área científica direccionada para a preservação da
Biodiversidade em todos os seus domínios – a Biologia da Conservação.
1 Acedido em 10-11-2007
2
O aumento da preocupação da comunidade internacional face a este cenário levou à
formação de um pacto entre os principais líderes mundiais durante a Conferência da
Terra decorrida em 1992 no Rio de Janeiro, o qual tem sido ratificado por um crescente
número de governos. A então designada Convenção sobre a Diversidade Biológica tem
como divisas a conservação da Biodiversidade e o uso sustentável dos seus
componentes, promovendo a partilha justa e equitativa dos benefícios resultantes da
utilização dos recursos genéticos (United Nations Treaty Series 1993; Secretariat of the
Convention on Biological Diversity 2000, 2005)
.
Figura 1. Evolução do número de espécies ameaçadas nos principais grupos de organismos desde 1996
até 2007 (retirado de http://www.iucn.org/en/news/archive/2007/09/12_pr_redlist.htm1)
O cavalo desempenhou desde sempre um papel de destaque na vida do Homem.
Actuando numa primeira fase como fonte de alimento e de matéria-prima para vestuário
ou abrigo, a sua domesticação constitui um marco na história da Humanidade já que
nenhum outro animal contribuiu de forma tão peremptória na aceleração de processos
sociais e desenvolvimentos políticos (Bowling & Ruvinsky 2000; Vilà et al. 2001;
Edwards 2006; Oom 2006). Actualmente, acompanhando a tendência observada na
generalidade dos outros taxa, a erosão da variabilidade genética nos cavalos é
significativa e o facto de se dividirem em raças, espécies selvagens e nichos de
produção torna mais difícil o estabelecimento de uma eficaz estratégia conservacionista,
indispensável para a sua continuidade futura (Sponenberg 2000). A origem e evolução
do cavalo doméstico – Equus caballus – é ainda hoje uma questão que suscita inúmeras
dúvidas e sobre a qual recai um considerável número de estudos. Os indícios existentes
3
elegem o Tarpan (Equus ferus) como o seu mais provável ancestral selvagem e apontam
para que o processo de domesticação tenha sido iniciado há cerca de 6000 anos a partir
de animais que se dispersavam pelas agrestes regiões de estepes da Eurásia, com a
Península Ibérica a puder constituir um segundo centro de domesticação (Bowling &
Ruvinsky 2000; FAO/UNEP 2000; Sponenberg 2000; Vilà et al. 2001; Aberle & Distl
2004; Edwards 2006; Seco-Morais 2007). Utilizado ao longo dos séculos como um
meio de carga e transporte por excelência, o cavalo desempenha hoje em dia um papel
essencialmente recreativo, de lazer e desporto, mas de igual forma importante na
sociedade (Bowling & Ruvinsky 2000; Aberle & Distl 2004; Edwards 2006; Oom
2006).
Só muito recentemente foi reconhecida a importância dos animais domésticos como
componentes chave da Biodiversidade e, desde então, vários esforços têm sido
envidados no sentido da sua preservação (Sponenberg 2000). A evolução das espécies
domesticadas ao longo dos milénios determinou a sua diferenciação em variadas raças
que, em conjunto com as espécies que representam, bem como as respectivas espécies
selvagens, constituem os designados Recursos Genéticos Animais (RGAn) importantes
na alimentação e agricultura (FAO/UNEP 2000). Com o estabelecimento da Convenção
sobre a Diversidade Biológica, a diversidade doméstica animal (o espectro de diferenças
genéticas existentes dentro e entre todas as raças e espécies utilizadas na agricultura) foi
formalmente reconhecida como um genuíno e importante componente da biodiversidade
global e o conhecimento de que uma enorme percentagem dos Recursos Genéticos
Animais registados estão actualmente em risco de perder-se realça a importância das
medidas que assegurem a sua preservação (FAO/UNEP 2000; FAO 2007)
Figura 2. Proporção de raças registadas na base de dados da FAO por categoria de risco: (A) totalidade
das raças; (B) raças de mamíferos – dados relativos a Janeiro de 2006 (retirado de FAO 2007).
4
No caso do cavalo este facto é particularmente evidente uma vez que, nos últimos anos,
as espécies selvagens se tornaram praticamente extintas na natureza – apenas tendo
sobrevivido, em cativeiro, o cavalo de Przewalski (Equus ferus przewalskii),
recentemente introduzido na Mongólia – pelo que a maior parte da variabilidade se
encontra contida na forma doméstica (Sponenberg 2000). O cavalo doméstico, Equus
caballus, representa, desta forma, uma espécie de inquestionável relevância. Os cerca de
59 milhões de indivíduos que actualmente constituem a população global
(http://faostat.fao.org/site/573/DesktopDefault.aspx?PageID=5732) encontram-se
agrupados em diversas raças, tipos e variedades, cujo conhecimento é essencial para
uma eficaz conservação da espécie. Na base de dados da FAO encontram-se registadas
cerca de 800 raças, grande parte das quais consideradas ameaçadas face aos reduzidos
efectivos que apresentam (FAO/UNEP 2000; FAO 2007).
Figura 3. Distribuição por categoria de risco das raças de mamíferos registadas na base de dados da FAO
(agrupadas por espécie), em termos absolutos (tabela) e em proporção (gráfico) – dados relativos a
Janeiro de 2006 (retirado de FAO 2007).
2 Acedido em 12-03-20085
2. O Cavalo do Sorraia: uma raça ameaçada
Dada a sua localização e características particulares, Portugal é detentor de um
património natural extremamente rico, com vários endemismos e espécies relíquia do
ponto de vista biogeográfico e/ou genético (ICN 1998). Engloba, também, uma grande
diversidade de Recursos Genéticos Animais o que lhe confere particulares
responsabilidades na gestão dos mesmos. Neste sentido, e em consonância com o
estabelecido na Estratégia Global da FAO, foi constituída em Portugal uma Estratégia
Nacional cujo objectivo fundamental é a manutenção da biodiversidade dos recursos
genéticos animais, promovendo a sua conservação e utilização sustentável (FAO/UNEP
2000; Carolino et al. 2004; Gama et al. 2004). No que toca às espécies pecuárias, são
mais de 35 as raças autóctones reconhecidas a nível nacional, a maior parte das quais
em risco devido ao reduzido efectivo (ICN 1998; Gama et al. 2004; MADRP 2007).
O Cavalo do Sorraia constitui, para além do Garrano e do Puro-Sangue-Lusitano, uma
das raças equinas inseridas neste grupo (MADRP 2007). Embora todas se encontrem de
alguma forma ameaçadas, a Sorraia é a que suscita maior apreensão, constituída por um
pequeno número de indivíduos e exibindo índices de diversidade extremamente baixos.
O seu reduzido efectivo (pouco mais de 200 animais, dos quais menos de 100 são éguas
de ventre) faz com esteja considerada pela FAO como em estado “crítico” quanto ao
risco de extinção embora mantida através de um programa de conservação (critical-
maintained), constituindo a única raça equina classificada como rara (particularmente
ameaçada) na acção 2.2.2 do recentemente editado Programa de Desenvolvimento
Rural que, destinada à protecção da biodiversidade doméstica, tem como objectivo
fundamental o apoio à manutenção de raças autóctones nacionais (FAO/UNEP 2000;
MADRP 2007).
Apesar do seu pequeno porte – altura média ao garrote de 1,48m para os machos e de
1,44m para as fêmeas – é considerado um verdadeiro cavalo, caracterizado por uma
conformação do tipo eumétrica e mediolínea e perfil subconvexilíneo (Andrade 1945;
Oom 1992; Oom et al. 2004; Oom 2006). Os caracteres particulares que apresenta, em
associação aos dados históricos e arqueológicos existentes, fazem com que este seja
considerado um cavalo primitivo e o descendente mais directo do ancestral selvagem da
região quente meridional da Península Ibérica que terá estado na origem das actuais
6
raças desta região (Puro-Sangue-Lusitano e Pura-Raza-Española) e, possivelmente, de
todas as raças de cavalos do Novo Mundo (Andrade 1926, 1937, 1945; Oom 1992; Oom
& Cothran 1994; Oom 2006). De facto, de pelagem baia ou rato e sempre com lista de
mulo (por vezes também axial), apresentam extremidades mais escuras e zebruras nos
membros, por vezes visíveis noutras áreas do corpo (Figura 4), características estas que,
encontrando-se representadas em diversas pinturas da era paleolítica, são consideradas
de origem remota (Andrade 1926, 1937, 1945, Oom 1992; Oom et al. 2004; Oom
2006). A corroborar o carácter primitivo desta raça está a sua rusticidade e invulgar
capacidade de sobreviver em condições extremas, assim como os resultados obtidos ao
nível molecular. Utilizados como cavalos de sela e para trabalhos agrícolas variados,
subsistiram durante largos anos relegados ao total abandono pelos seus criadores,
suportando a escassez de alimento e vivendo dia e noite ao ar livre, expostos a todo o
tipo de intempéries (Andrade 1945; Oom 2006; Luís et al. 2006a; Luís et al. 2007a;
Seco-Morais 2007).
CBA
Figura 4. A – Tipos de pelagem que caracterizam a raça Sorraia: rato (à esquerda), baio (no centro), rato
escuro (à direita). B – Extremidades escuras e zebradas. C – Lista de mulo
O processo de recuperação desta raça teve início em 1920 quando o hipólogo e
historiador Ruy d’Andrade descobriu, por ocasião de uma caçada na zona de Coruche,
no vale do Rio Sorraia, um grupo de cerca de 30 animais de aspecto selvagem e
aparência muito particular que imediatamente despertaram a sua atenção (Andrade
1926, 1937, 1945). Profundo conhecedor da história e da arqueologia da Península
Ibérica e dos seus cavalos, admitia a divisão da população equina desta região em dois
grupos bem distintos, de formação e desenvolvimento local. O primeiro, típico de zonas
montanhosas com clima frio e húmido, é constituído por cavalos de baixa estatura,
extremidades curtas, pelagem grossa e perfil côncavo ou rectilíneo. Nele se inclui
actualmente o Garrano que, livre da influência de outros tipos de cavalos e de tal forma
adaptado ao meio natural, subsistiu sem alterações significativas até aos dias de hoje.
7
Em oposição, o grupo característico do sul da Península, mais quente, seca e plana,
inclui animais de maiores dimensões, pêlo fino, extremidades compridas e cabeça de
perfil subconvexo, considerados por estes motivos “verdadeiros cavalos”. Domesticados
desde tempos remotos, terão sido alvo de contínua intervenção humana e de
cruzamentos com cavalos de origem distinta no intuito de potenciar as suas qualidades,
sobretudo como cavalos de sela, tão determinantes em tempos de guerra (Andrade 1926,
1937, 1945; Oom 1992; Oom 2006). Como criador de cavalos pura raça andaluza, Ruy
d’Andrade havia já notado que muitos destes poldros apresentavam uma pelagem de
coloração amarelo-palha zebrada que, em muitos casos, era perdida em fases posteriores
do desenvolvimento. Tendo observado semelhantes características em diversas
reproduções antigas do sul da Península, a sua presença no grupo de animais
acidentalmente descoberto e, mais tarde, em muitos outros que encontrou em zonas do
Alto Alentejo e dos vales do Tejo e do Guadalquivir, levou-o a considerar a hipótese de
se encontrar na presença de uma reminiscência do ancestral selvagem do cavalo ibérico
da região quente meridional, a partir do qual se teriam formado as actuais raças desta
região (Andrade 1926, 1937, 1945).
Anos mais tarde, no intuito de averiguar a autenticidade desta teoria, Ruy d’Andrade
procura adquirir alguns exemplares detentores das referidas características de forma a
tentar reconstituir o que considerava ser um tipo de cavalo primitivo peninsular. Não
tendo sido possível adquirir a manada inicial, como era sua intenção, um núcleo
fundador constituído por 7 fêmeas e 3 machos procedentes de vários criadores da região
foi instalado, a partir de 1937, na Herdade da Agolada de Baixo (Coruche) ao qual se
juntou, em 1948, um reprodutor de origem argentina (Figura 5). Porque uma das éguas
adquiridas (Azambuja) se encontrava já prenhe, um 12º fundador teve de ser
considerado que, por nunca ter sido identificado, surge como “Desconhecido” (Andrade
1937, 1945; Oom 1992; Oom et al. 2004; Oom 2006). Sendo seu objectivo fazer
ressurgir os caracteres considerados primitivos, os animais foram propositadamente
mantidos por Ruy d’Andrade num regime exclusivamente manadio, de autêntica vida
selvagem, num ambiente análogo ao que sempre se criaram e que permitiu a
preservação do seu tipo originário. Estas seriam, portanto, as condições ideais para a sua
conservação e reconstituição (Andrade 1945; Oom 2006).
8
Nome Sexo Pelagem Local de Origem Cigana F Baia Couço Gaivota F Rato Coruche Pomba (Pintassilga) F Rato Coruche Garrana (Tolosa) F Baia Tolosa Azambuja F Rato Azambuja Freire F Rato Salvaterra de Magos Anselma F Baia Coruche Cunhal M Rato Coruche Raposo M Rato Coruche Baio M Baia Montemor-o-Novo Tata Dios Cardal M Baia Argentina “Desconhecido” M ----- -----
Figura 5. Descrição dos animais fundadores da raça Sorraia adquiridos por Ruy d’Andrade a partir de
1937.
Após várias décadas de permanência no local original, o conturbado período político
que assolava o país em 1975 provocou o transvio da população que, posteriormente
recuperada na zona do Alto Alentejo, foi entregue aos cuidados da Coudelaria Nacional.
Pouco tempo depois, o efectivo foi restituído à família Andrade, agora na Herdade de
Font’Alva (Elvas), a qual ofereceu, em gesto de agradecimento, 4 poldros (2 machos e 2
fêmeas) à referida coudelaria. Estava assim formada a primeira subpopulação da raça
que se mantém sob a tutela do Estado até aos dias de hoje. Desde então e
particularmente nos anos mais recentes, fruto do crescente interesse manifestado ao
redor desta raça, o número de núcleos foi-se diversificando, não só em Portugal como
em vários outros países. Apesar do efectivo actual se distribuir maioritariamente em
coudelarias a nível nacional, um significativo e crescente número de animais pode ser
encontrado na Alemanha (Figura 6). A presença do Sorraia neste país teve início no ano
de 1976, altura em que 3 fêmeas (uma delas prenhe) e 2 machos foram adquiridos pelo
criador alemão Michael Schäfer e instalados na sua coudelaria perto de Munique.
Atingindo um total de 42 animais em 1996, esta foi, sem dúvida, uma das coudelarias
de maior relevo na história da raça, tendo servido de base para a formação de muitos
outros núcleos alemães. Em Portugal, o grupo mais representativo encontra-se
localizado na Herdade de Font’Alva, a qual integra a maior parte dos animais que
constituem o efectivo actual. (Oom 1992; Oom et al. 2004; Oom 2006;
http://www.aicsorraia.fc.ul.pt/Font%27Alva_modelo.htm#3).
3 Acedido em 14-11-2007
9
(retirado de Oom 2006)
Consideradas as unidades básicas dos recursos genéticos nas espécies domesticadas, as
raças são caracterizadas por um fenótipo característico, determinado por um genótipo
particular, que se transmite de forma consistente de geração em geração. Assim, no
âmbito de uma eficaz preservação das espécies, é fundamental a descrição e
caracterização destas populações no sentido de se definirem aquelas que, dado o seu
carácter ímpar, constituem alvos prioritários das estratégias conservacionistas
(FAO/UNEP 2000; Sponenberg 2000; FAO 2007).
Ao longo dos últimos anos, o Cavalo do Sorraia tem sido alvo de um considerável
número de estudos, não só no plano molecular como em termos morfológicos,
genealógicos ou até mesmo comportamentais (Oom 1991; Oom et al. 1991; Oom 1992;
Oom & Cothran 1994; Matos 1996; Luís & Oom 2000; Oom & Luís 2000; Oom & Luís
2001a,b; Jansen et al. 2002; Luís, et al. 2002a,b; Aberle & Distl 2004; Oom 2004;
Cavaco-Silva et al. 2005; Kjöllerström 2005; Lopes et al. 2005; Luís et al. 2005; Royo
et al. 2005; Heitor 2006a,b; Luís 2006; Luís et al. 2006a,b; Luís et al. 2007a,b; Seco-
Morais 2007). No que concerne às análises moleculares, vários tipos de marcadores
genéticos têm sido investigados, quer ao nível do DNA nuclear (microssatélites, grupos
sanguíneos e polimorfismos bioquímicos) como ao nível do DNA mitocondrial
(mtDNA), amplamente utilizado nos dias que correm em estudos de filogenia e de
10
diversidade (FAO 2007). Todos estes trabalhos têm vindo a revelar os baixos níveis de
variabilidade genética e os valores de consanguinidade e parentesco extremamente
elevados que caracterizam este cavalo quando comparados com outras raças domésticas.
Os resultados obtidos devem-se essencialmente ao reduzido efectivo da população e ao
facto ter sido originada a partir de um pequeno número de fundadores, sem novas
introduções e com uma desequilibrada utilização dos garanhões desde então, em parte
consequência do regime de exploração extensiva em que sempre foram sendo criados
(Oom 2006). A representação dos fundadores na população actual mostra-se muito
desigual, tendo-se perdido irreversivelmente a contribuição de 2 deles (Kjöllerström
2005) e, das 7 linhas maternas iniciais, apenas 2 (Azambuja e Cigana) se mantiveram ao
longo dos vários anos de reprodução, tendo sido determinadas ao nível do mtDNA e
confirmadas a partir dos dados genealógicos (Jansen et al. 2002; Luís, et al. 2002a;
Lopes et al. 2005). Diferenças significativas ao nível da estrutura genética foram
encontradas para as 2 subpopulações da raça, portuguesa e alemã, através da análise de
um conjunto de 22 microssatélites (Luís et al. 2007b). Apesar do menor número de
alelos encontrado para a grande maioria dos loci na população da Alemanha, resultado
do efeito fundador que naturalmente ocorreu aquando do seu estabelecimento, os níveis
de heterozigotia determinados neste grupo revelaram-se superiores, não tendo ocorrido
perdas de alelos fundadores em qualquer um dos loci testados. Na origem destas
variações deverá estar o tipo de estratégia reprodutiva adoptada pelos criadores dos dois
países: enquanto que nas coudelarias nacionais apenas um garanhão é geralmente
lançado em cada época de monta, por vezes o mesmo durante anos consecutivos, na
Alemanha é dada primazia à regular rotatividade dos garanhões, sendo frequente a
utilização de diversos animais em cada ano de reprodução (Oom 2006; Luís et al.
2007b).
Apesar de nos últimos anos se ter assistido a um aumento do número de animais e uma
melhoria nos parâmetros genéticos, a existência de um plano de gestão apropriado é
fundamental para a continuidade futura desta raça (Oom et al. 2004; Kjöllerström 2005;
Oom 2006). Neste sentido, foi instituída, em 1994, a Associação Internacional de
Criadores do Cavalo Ibérico de Tipo Primitivo – Sorraia (AICS) objectivando tudo o
que se relacione com a sua criação, preservação, promoção, divulgação, estudo e
11
comercialização (http://www.aicsorraia.fc.ul.pt/ojectivos_modelo.htm4). Esta
associação tem ainda a seu cargo a salvaguarda e manutenção do Studbook (Livro
Genealógico) da raça, sendo a responsável pela execução, junto dos criadores, das
acções integradas no programa de melhoramento genético/demográfico definidas pela
respectiva Direcção Técnica no âmbito do plano de conservação in situ actualmente em
curso (Gama et al. 2004; Oom et al. 2004).
As inúmeras incertezas que ainda subsistem quanto ao processo de domesticação do
cavalo e sua posterior evolução têm levado ao desenvolvimento de um grande número
de trabalhos que visam estabelecer relações entre as diferentes raças equinas,
principalmente no que a autóctones diz respeito (Jansen et al. 2002; Aberle & Distl
2004; Luís et al. 2005; Royo et al. 2005; Luís et al. 2006b; Luís et al. 2007a; Seco-
Morais 2007). Baseados, na sua grande maioria, na análise de determinadas regiões do
mtDNA (D-loop), o padrão de distribuição dos haplótipos por entre as raças possibilita
a formação de variados “clusters” onde estas se encontram agrupadas de acordo com o
maior ou menor grau de semelhança. Embora as 2 sequências encontradas na raça
Sorraia se enquadrem num grupo a que pertencem muitos outros tipos de cavalos
considerados primitivos, nenhum dos vários coeficientes e métodos de agrupamento
utilizados permitiram inferir, até um passado muito recente, a relação de proximidade
entre a raça Sorraia e as demais raças ibéricas e do Novo Mundo (Jansen et al. 2002;
Aberle & Distl 2004; Lopes et al. 2005; Royo et al. 2005; Luís et al. 2006b; Oom 2006;
Seco-Morais 2007). A descoberta de uma nova linha materna da raça Sorraia, já extinta
neste animais mas que persiste na raça Lusitana devido à existência de uma fêmea
fundadora em comum (a Pomba) (Luís et al. 2006a), e os resultados obtidos através da
análise conjunta de uma vasta gama de marcadores genéticos (microssatélites e loci
proteicos) (Luís et al. 2007a) permitiram finalmente corroborar esta teoria,
comprovando a relação histórica entre as referidas raças.
4 Acedido em 15-11-2007
12
3. Objectivos
O Cavalo do Sorraia constitui, por todas as razões previamente mencionadas, uma raça
única e de valor inquestionável. A análise dos parâmetros genéticos e demográficos que
caracterizam a população actual remeteram esta raça para o estatuto de “criticamente
ameaçada, embora mantida com um plano de gestão”, como é classificada pela FAO
(critical-maintained, FAO/UNEP 2000). Neste estatuto está implícita a necessidade de
manter medidas de gestão adequadas e actualizadas para a perpetuação da raça, a
reavaliar anualmente face às alterações da população. A implementação destas medidas
de conservação e gestão genética é, assim, um procedimento absolutamente essencial.
Neste sentido, e para que tão valorosa meta possa ser alcançada, pretendeu-se com este
projecto de tese de Mestrado contribuir de forma significativa para o aumento da
eficácia das medidas atrás referidas, trabalho que passou pela concretização de 3 pontos
essenciais:
- Adaptar e optimizar um software desenvolvido especialmente para a gestão de
Studbooks de raças ameaçadas de forma a torná-lo perfeitamente ajustado às
características e requisitos da raça Sorraia;
- Caracterizar o estado actual da população recorrendo a um conjunto de análises
genéticas e demográficas obtidas a partir dos dados genealógicos;
- Colaborar em acções que visem a promoção, divulgação e avaliação da raça.
13
Capítulo II
Adaptação e optimização do
programa Gescab 2000 Losina
para a gestão do Studbook da raça
Sorraia
14
1. O Studbook como instrumento fundamental na gestão de uma raça
O primeiro passo para a gestão adequada de uma raça consiste na elaboração do
respectivo Livro Genealógico, ou Studbook, onde se encontrem reunidos os dados
genealógicos de todos os indivíduos (pedigree), bem como diversas informações
relevantes acerca da sua história e características (Frankham et al. 2004). Foi em
Inglaterra, nos finais do século XVIII, que se publicou o primeiro de todos os Studbooks
– “The General Studbook for Thoroughbred Horses” –, respeitante à raça equina Puro-
Sangue-Inglês. No caso dos animais selvagens, este tipo de registo começou a ser
efectuado apenas a partir de 1923, nomeadamente para os dados relativos às populações
cativas do bisonte Europeu (Bison bonasus), tendo o respectivo livro sido oficialmente
lançado quase uma década depois, em 1932 (Tudge 1992; Bastos-Silveira 1997). Desde
então, e especialmente nos anos mais recentes, tem-se assistido a um rápido aumento do
número de Studbooks editados para as mais diversas populações em cativeiro, tendo a
IUCN reconhecido, em 1967, a sua inegável relevância para fins conservacionistas
(Tudge 1992; Bastos-Silveira 1997). Ao fornecer o conhecimento detalhado das
genealogias, este tipo de registos possibilita uma correcta caracterização de populações
ameaçadas, tornando-se, portanto, uma ferramenta excepcional e de reconhecida
importância para a eficaz gestão das mesmas (Bastos-Silveira 1997; Alzaga et al. 2000;
http://www.biaza.org.uk/public/pages/conservation/studbooks.asp5).
Editado em 2004, no intuito de “assegurar a pureza étnica da raça” e, deste modo,
“concorrer para a sua preservação e desenvolvimento”, o Studbook da raça Sorraia
inclui todos os animais nascidos até 2002 e que são descendentes do grupo fundador
inicial (Oom et al. 2004; Oom 2006). Neste arquivo são mantidos, de forma totalmente
independente, 3 níveis de registo – Livro de Nascimentos, Livro de Reprodutores e
Livro de Reprodutores Complementares – nos quais são aditados apenas os animais
cujas características satisfazem as condições de admissão definidas no respectivo
Regulamento (Oom et al. 2004). De forma a garantir a fiabilidade do registo, tão
importante para o estabelecimento de eficazes estratégias conservacionistas, a inscrição
de um indivíduo no Livro de Nascimentos só é efectivada após confirmação da
paternidade (Oom et al. 2004; Oom 2006). Actualmente, e uma vez que a tecnologia
5 Acedido em 21-03-2008
15
baseada no DNA se tem revelado mais eficaz, rápida e menos onerosa que os
tradicionais métodos baseados em grupos sanguíneos e polimorfismos proteicos, a
filiação é comprovada através da análise de um conjunto de marcadores moleculares, os
microssatélites6 (Tirados 2001; Luís et al. 2002b). Face à reduzida variabilidade destes
marcadores detectada na raça Sorraia (Luís et al. 2002b; Luís et al. 2007a,b), tornou-se
necessário recorrer a um painel de microssatélites mais alargado do que os 9 utilizados
por rotina no Lusitano e no Garrano, de modo a aumentar a eficácia da exclusão de
falsas paternidades (Oom 2006). Os 15 microssatélites actualmente analisados nesta
raça garantem um eficiente controlo de filiação dos animais já que a probabilidade de
exclusão a eles associada é de 99,8% (Luís et al. 2007b).
Os avanços tecnológicos, especialmente na área da informática, permitiram o
desenvolvimento de bases de dados genealógicas informatizadas que fornecem a
informação num formato de fácil consulta, baixo custo, pouco volume e rapidamente
actualizável (Melgarejo et al. 2000; Tirados 2001; Melgarejo, 2004; Melgarejo et al.
2004; Benavente et al. 2007). Recentemente, os dados populacionais disponíveis foram
inseridos no programa SPARKS V.I.5 (Single Population Analysis and Records Keeping
System), especialmente desenvolvido para a gestão de populações em cativeiro mantidas
em múltiplas infra-estruturas (e.g. Parques Zoológicos). Para além da compilação e
edição dos dados, este programa permite a análise de vários parâmetros genéticos e
demográficos essenciais e a criação de relatórios sobre o estado das populações o que o
torna um poderoso instrumento para sua gestão (Kjöllerström 2005).
Encontrando-se o efectivo actual da raça Sorraia distribuído em diversos núcleos de
reprodução cuja gestão é da responsabilidade dos respectivos criadores, a existência de
um suporte informático que tornasse possível a consulta de informações relativas aos
animais num ambiente fácil e apelativo seria extremamente vantajoso para o
delineamento de um plano de gestão apropriado, nomeadamente no que respeita ao
6 Repetições “em tandem” de pequenos motivos de DNA, tipicamente constituídos por 1 a 5 pares de
bases de comprimento. Os microssatélites tornaram-se o marcador molecular de eleição para estudos
populacionais face às vantagens que apresentam comparativamente a outros métodos de análise ao nível
do DNA: são altamente polimórficos, de transmissão mendeliana , os genótipos individuais podem ser
determinados de forma directa (são co-dominantes) e é possível analisar DNA de amostras recolhidas de
forma não invasiva (e.g. Frankham et al. 2004).
16
programa de emparelhamentos a promover em cada época de reprodução. Em meados
dos anos 90, face à crescente necessidade evidenciada pelos criadores de cavalos Pura-
Raza-Española de uma base de dados genealógicos informatizada, rapidamente
consultável e actualizável, surge o programa Gescab®, desenvolvido pela empresa
espanhola Melpi S.L (Melgarejo et al. 2000). Embora inicialmente concebido para esta
raça equina, o Gescab tornou-se o primeiro software especificamente desenvolvido para
a gestão de Studbooks de raças autóctones em perigo de extinção através da versão
desenhada para o cavalo Losino (Melgarejo et al. 2004) que, à semelhança do que
acontece com o Cavalo do Sorraia, está inserido no grupo das raças critical-maintained
definidas pela FAO (FAO/UNEP 2000). Para além dos dados genealógicos
tradicionalmente presentes no Studbook de uma raça e correndo num ambiente de muito
fácil utilização, este programa põe à disposição dos criadores uma vasta gama de
informações complementares e relevantes. Dotado de uma forte componente genética,
validada pelo Departamento de Genética da Universidade de Córdoba, o Gescab2000
Losina permite o cálculo de variáveis fundamentais para populações em risco, tornando-
se, desta forma, uma ferramenta muito útil na gestão das mesmas (Melgarejo, 2004;
Melgarejo et al. 2000, 2004).
A possibilidade de solicitar à empresa responsável pelo desenvolvimento deste software
a modificação ou adição de certos componentes é, indubitavelmente, uma das grandes
inovações inerentes ao Gescab. Constituindo um dos objectivos deste Mestrado, a sua
adaptação à raça Sorraia, de características e riqueza de informação muito peculiares,
será, certamente, uma valiosa e apelativa ajuda rumo à sua preservação no âmbito dos
programas de gestão em implementação pela Associação Internacional de Criadores do
Cavalo Ibérico de Tipo Primitivo – Sorraia (AICS).
17
2. Materiais e Métodos
2.1. Introdução dos dados populacionais
Como previamente referido, certas particulares do Gescab poderão ser alteradas e novos
componentes poderão ser adicionados de forma a tornar o programa o mais adequado
possível a cada raça, em particular. Neste sentido, a empresa responsável pelo seu
desenvolvimento disponibilizou à AICS uma versão de demonstração do Gescab2000
Losina, raça autóctone espanhola igualmente ameaçada, para que se pudessem explorar
todas as potencialidades do programa antes da sua aquisição em definitivo.
Figura 7. Interface da versão de demonstração do software Gescab Losina cedida à Associação de
Criadores do Cavalo do Sorraia
Numa primeira fase, todos os dados populacionais disponíveis desde o início da
recuperação da raça Sorraia, em 1937, até Dezembro de 2006 foram introduzidos no
ficheiro. Para além dos animais inscritos no respectivo Studbook (num total de 564,
nascidos até 2002) foram também inseridos, não só os que nasceram após a sua
publicação, em 2004, como também todos aqueles cuja informação estava no ficheiro de
trabalho da Prof. Doutora Maria do Mar Oom e que, por diversas razões (nados-mortos,
abortos, entre outros), não se encontravam incluídos no registo oficial. No final da
presente tarefa 622 animais foram introduzidos na referida versão de demonstração,
tendo sido criado, para cada um dos exemplares, um registo individual onde figuram as
seguintes informações:
18
Código: número de identificação do animal atribuído pelo extinto Serviço
Nacional Coudélico (SNC), agora Fundação Alter Real, e que se encontra registado na
Declaração de Nascimentos, anualmente comunicada pelos criadores à AICS. Sempre
que este número não é conhecido, por mera questão temporal ou por morte precoce dos
indivíduos, a identificação é realizada recorrendo à utilização de três dígitos precedidos
pelas letras FCL (FCL***).
Nacimiento (nascimento): data de nascimento do animal apresentada sob a
forma dd/mm/aaaa. Na impossibilidade de inserir apenas o ano do nascimento, nos
casos em que apenas este dado é conhecido, foi definido o dia 1 de Janeiro como data a
ser introduzida por defeito (01/01/aaaa).
Sexo: identificação do sexo do animal através da letra M (machos) ou H
(fêmeas).
Nombre (nome): espaço destinado ao registo do nome do animal. Sempre que
existente, foi também inserido neste campo, entre parêntesis, o número de identificação
atribuído por cada criador aos animais da sua coudelaria e que, na grande maioria dos
casos, se encontra marcado, “a fogo”, na espádua direita ou na tábua do pescoço. Por
vezes, o símbolo * pode surgir à frente do nome como forma de indicar que o respectivo
animal aguarda a realização do teste para controlo de filiação.
Fecha baja (data da baixa): campo onde foi registada a data de óbito do
animal, também ela de formato dd/mm/aaaa. Em muitos casos, sobretudo nos registos
mais antigos, esta informação não é conhecida, tendo sido introduzida uma data
estimada uma vez que se sabe que estes animais já não fazem parte do efectivo actual.
vezes esta informação não se encontra disponível, pelo que a opção desconocida foi
utilizada para a quase totalidade das ocorrências.
Causa de la baja (causa da baixa): sempre que conhecida, a causa de morte do
indivíduo poderá ser inserida neste campo, seleccionando uma das 3 hipóteses
disponíveis: muerte accidental (morte por circunstâncias acidentais), desconocida
(morte por motivos desconhecidos) ou muerte por sacrifício (nos casos em que o animal
foi sacrificado). Porém, à semelhança do que acontece com a data de morte, muitas das
19
Padre (pai): número de identificação do SNC e nome do progenitor masculino,
o qual deverá estar previamente registado no ficheiro para que possa ser reconhecido.
Madre (mãe): número de identificação do SNC e nome do progenitora
minina, a qual deverá estar previamente registada no ficheiro para que possa ser fe
reconhecida.
Criador: sigla do criador seguida do respectivo nome. Sempre que é introduzida
sta informação surge na ficha individual a imagem da marca do criador (ferro) que o
imal
ição de um animal está dependente da presença do respectivo
riador na base de dados, a informação relativa a cada coudelaria foi inserida no sub-
e
an pode apresentar na coxa direita, identificada como Nucleo. Tal como acontece
com os progenitores, o criador já deverá constar do ficheiro, incluído na lista das
diversas coudelarias.
Uma vez que a inscr
c
menu Ganaderías (coudelarias) dos Ficheros Auxiliares. Para além do nome, cada
ficha individual foi enriquecida com os seguintes elementos:
Código: corresponde à sigla do criador delimitada por parêntesis rectos.
Dirección (morada): indicação da localização da coudelaria.
oudelaria, entre as
árias opções disponíveis.
Pais (país): campo onde se selecciona o país de origem da c
v
Hierros (ferros): utilizada desde tempos remotos, a marcação dos animais com
m símbolo distintivo é uma prática usual nas coudelarias portuguesas. Na maior parte
botão Hierros que poderá ser seleccionado dentro do sub-menu Ganaderías.
u
dos casos este procedimento é efectuado por volta dos 6 meses de idade, altura em que
os poldros são desmamados, onde o ferro da coudelaria é marcado a fogo na respectiva
coxa direita. Apesar de nos dias que correm este tipo de identificação poder ser, em
alternativa, realizado a frio (recorrendo à utilização de azoto líquido), esta é ainda uma
técnica pouco corrente entre os criadores nacionais (Oom 2006). O ferro característico
de cada coudelaria foi, sempre que existente, incluído no respectivo registo através do
20
2.2. Avaliação das competências do programa
Terminada a fase de registo dos dados populacionais, foi possível dar início à análise
ó ao nível dos diferentes menus para
gisto de dados como ao nível dos diversos cálculos que podem ser realizados no
Gescab é um programa que, para além dos registos genealógicos tradicionais, permite
tipos de informação de grande utilidade na gestão de uma raça
meaçada, nomeadamente:
dos vários componentes do Gescab Losina, não s
re
referido software.
2.2.1. Menus de registo
O
a adição de muitos outros
a
Valoraciones (avaliações): para a grande generalidade das raças com Studbook
instituído, a utilização de um animal para fins reprodutivos está dependente da sua
resença no Livro de Reprodutores. De modo a garantir a pureza da raça, apenas os p
candidatos que apresentam as características expressas no padrão da raça (Anexo 1),
aliadas a uma boa conformação e desenvolvimento, são admitidos no referido registo.
Neste contexto, várias medições de carácter morfométrico são efectuadas aos animais,
os quais são pontuados de acordo com uma tabela baseada na respectiva apreciação
morfológica e funcional (tabela de pontuação). Através do programa Gescab, os valores
resultantes deste exame podem ser facilmente armazenados recorrendo a este menu.
Otros datos (outros dados): seleccionando este ícone, presente no ecrã
principal, é-nos facultada uma tabela onde a data e os resultados de alguns
rocedimentos no âmbito veterinário podem ser inseridos. p
Fotografía/Videos: o registo individual de cada exemplar poderá ser
enriquecido no Gescab através da adição deste tipo de recursos.
alquer animal no Livro
e Nascimentos está dependente do resultado desta análise, este software permite
registar os alelos determinados para cada um dos microssatélites analisados.
Microsatélites: para as raças em que o controlo de filiação é uma prática de
rotina, como é o caso da raça Sorraia, em que a admissão de qu
d
21
inadas
ariáveis estatísticas e genéticas é de extrema importância para o delineamento de
estão eficazes que visem a sua subsistência futura. Tendo sido
esenvolvido para a gestão de uma raça com elevado estatuto de risco, o Gescab Losina
Comentarios: funciona como um bloco de notas onde podem ser armazenadas
todas as informações relevantes que não podem ser incluídas na ficha individual.
2.2.2. Cálculos
Quando estamos na presença de uma raça ameaçada, o cálculo de determ
v
estratégias de g
d
põe à disposição dos utilizadores o menu Informes (Informar), onde é possível
consultar:
Ejemplares fundadores (animais fundadores): corresponde à representação
genética, em termos percentuais, de cada um dos fundadores no indivíduo em causa.
Informe de la descendencia (informação da descendência): seleccionando
or
elagem, quer através das respectivas representações gráficas. Se necessário, a
esta opção, informação detalhada acerca da descendência de um animal pode ser
visualizada, quer através de tabelas com a frequência de descendentes por sexo e p
p
identificação de cada um destes descendentes pode ser facilmente consultada premindo
o botão Visualizar.
Informe de la ascendencia (informação da ascendência): grau de influência
de cada ancestral no indivíduo em causa. Esta informação é apresentada sob a forma de
percentagem e para os ancestrais presentes em cada uma das gerações parentais.
dicionalmente, é possível determinar os valores que seriam obtidos para um animal
informações, quer do
animal considerado, como dos seus vários ascendentes.
A
resultante de um hipotético cruzamento entre 2 indivíduos.
Ainda no que toca à linha de ascendência de um determinado exemplar, o programa
disponibiliza, através do botão Árbol (árvore), a visualização gráfica da respectiva
árvore genealógica, na qual se encontram reunidas as principais
22
23
dmatdpatd II
I+
= dmatdpat II .4
∑=d
imatoudpat ad
I )(1
=i 1
Consanguinidad (coeficiente de consanguinidade): constituindo um dos
de acordo com a metodologia
roposta por Wright (1922), posteriormente modificado por Lush (1940):
specialmente relevante no delineamento dos cruzamentos mais favoráveis, o Gescab
sanguinidade do produto que resultará do
se poderá
mentos entre indivíduos de diferentes coudelarias
ados como
produtores na geração seguinte.
parâmetros mais importantes para a gestão de raças ameaçadas, o coeficiente de
consanguinidade de um indivíduo é definido como a probabilidade de dois alelos
presentes num determinado locus serem idênticos por descendência. O valor resultante é
representado sob a forma de percentagem e é calculado
p
E
permite determinar o coeficiente de con
emparelhamento entre 2 exemplares presentes no ficheiro. Este tipo de análi
ser realizada em simultâneo para cruza
o que permitirá determinar os animais mais indicados a serem utiliz
re
Índice de acabado (coeficiente de preenchimento): corresponde ao nível de
preenchimento da genealogia de um indivíduo. Podendo variar entre 0 e 1 (resultado
obtido quando são conhecidos todos os ancestrais de um determinado animal), é
calculado a partir da fórmula proposta por MacCluer et al (1983):
( )∑=
um Fa = consanguinidade do ante N = número de antepassados smo antepassado comum
d = profundidade da genealogia
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡+⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛=
N
ia
n
x FF1
121
21
Fx = coeficiente de consanguinidade do indivíduo x n = número de gerações que vão dos dois progenitores do indivíduo x ao antepassado com
passado comum
comuns ou vias diferentes entre o me
(n.º de gerações incluídas no cálculo)
igeraçãonasmatoupatlinhana )(
oantepassaddetotalnigeraçãodaosantepassadn
ai .º,.º
=
dice
álculo do número efectivo de fundadores pr al, este
râmetro poderá constituir um indicador de grande importância na gestão de uma raça
am r Alderson (1991) na tentativa de maximizar a retenção da
alculado de acordo com a seguinte fórmula:
A análise destes elem íveis no pro permitiu avaliar
a adequabilidade do mesmo à raça Sorraia, assinalando e pr
lterações de modo a torná-lo mais adaptado a este cavalo em particular.
para a gestão
a raça Sorraia:
de conservação genética):Índice de conservación genética (ín baseado no
c esente no pedigree de um anim
pa
eaçada. Proposto po
variabilidade genética presente na população fundadora ao longo das gerações, é
c
∑= 2
1
iPICG ∑ ⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛=
n
iP21
Pi = proporção de genes do fundador i no pedigree do animal em estudo n = n.º de “caminhos” existentes no pedigree desde o fundador até ao animal em estudo
entos, já dispon grama Gescab Losina,
opondo as possíveis
a
2.3 Pedido de alterações
Depois de exploradas as capacidades do Gescab Losina, e antes da sua aquisição em
definitivo por parte da AICS, foram solicitadas diversas alterações aos seus
componentes e a adição de novos conteúdos, considerados fundamentais
d
Tabela de Pontuação: diferenças significativas foram encontradas no que diz
curso de Modelo e Andamentos, e que determina a aptidão dos animais
omo possíveis reprodutores.
respeito aos caracteres morfológicos que são avaliados em cada raça bem como nos
coeficientes a eles associados. Deste modo, foi pedida a inclusão da tabela de pontuação
que é utilizada por rotina na avaliação de exemplares da raça Sorraia, geralmente
realizada em con
c
Coeficiente de consanguinidade: este parâmetro foi determinado para cada um
dos exemplares presentes no ficheiro e o resultado obtido foi comparado com o valor
24
que se encontra registado no Studbook. Tendo-se verificado que os valores calculados
pelo Gescab para os animais mais recentes se encontravam subestimados, foi colocada a
hipótese de que apenas um número limitado de gerações estariam a ser consideradas no
ento. O cálculo deste parâmetro foi, então, alterado de modo a que a respectivo procedim
totalidade da informação genealógica disponível, até aos animais fundadores, pudesse
ser incluída, independentemente do número de gerações que tal facto representa.
Microssatélites: a designação de cada um dos 15 microssatélites actualmente
analisados para efeitos de controlo de filiação na raça Sorraia – ASB2, HMS3, HMS6,
HMS7, HTG4, HTG6, HTG10, VHL20, AHT4, AHT5, LEX20, LEX23, LEX36,
UCDEQ405 e UCDEQ5 – foi disponibilizada à empresa para que fossem incluídos no
programa, substituindo os que são normalmente utilizados no cavalo Losino.
Certificado de filiação: a análise do painel de microssatélites atrás mencionado
permite verificar a compatibilidade entre um determinado animal e os indivíduos que
foram declarados como seus progenitores. O resultado deste teste – no qual o animal é
dado como compatível ou incompatível – é cedido pela AICS aos criadores sob a forma
de um pequeno relatório. No intuito de tornar a emissão deste documento mais simples
a, foi solicitada a sua inclusão no referido programa. e rápid
Certificado de Inscrição: neste documento encontram-se reunidas as principais
características inerentes aos indivíduos e é produzido no momento em que o animal é
registado no Studbook, após o cumprimento dos requisitos necessários para que tal
aconteça. Tal como no caso anterior, a sua emissão automática pelo programa Gescab
constituirá uma importante mais valia na gestão da raça, poupando tempo e evitando
rros de edição manual, pelo que sua inserção no referido programa foi igualmente
licita
etectadas, através de testes minuciosos e morosos, foram sendo
e
so da.
É importante referir que a adaptação do programa Gescab Losina às particularidades da
raça Sorraia veio a revelar-se um processo muito complexo e moroso, uma vez que as
modificações foram sendo enviadas para a AICS através de várias versões de
actualização que, por diversas vezes, não se encontravam a funcionar correctamente. As
anomalias d
25
constantemente anotadas e comunicadas à empresa Melpi S.L. no intuito de se obter
uma versão final com a maior brevidade possível. No decurso deste trabalho, todas as
dificuldades encontradas e os pontos a alterar no referido software foram também
transmitidas de forma pessoal ao técnico responsável pelo seu desenvolvimento, Ignacio
Melgarejo, tanto por ocasião de duas das suas viagens a Portugal, como nas próprias
instalações da empresa, sedeada em Sevilha.
2.4. Introdução de dados complementares
Após a aquisição do programa pela AICS e depois de consumadas muitas das alterações
solicitadas, o registo dos animais foi complementado com os seguintes elementos:
Pelagem: a cor da pelagem foi introduzida no campo Capa do registo individual,
iamente adicionadas à base de dados: baia,
rata ou rata escura, as únicas existentes na raça Sorraia.
seleccionado uma das 3 hipóteses prev
Microssatélites: sempre que disponível, a informação relativa aos alelos
determinados para cada um dos microssatélites utilizados na raça Sorraia para
2.5. C
técnicas m
este trabalh ratoriais referentes ao controlo
e filiação dos animais de raça Sorraia nascidos neste período de tempo. Este
realizado no Laboratório de Genética Aplicada do Centro
biental / Departamento de Biologia Animal da Faculdade de Ciências da
imagens em software apropriado (RFLP-Scan).
controlo de filiação foi introduzida no ficheiro.
ontrolo de filiação
Com o principal objectivo de ficar a conhecer e contactar de perto com as diversas
oleculares utilizadas por rotina no âmbito de um teste de paternidade, durante
o foram ainda acompanhadas as análises labo
d
procedimento é actualmente
de Biologia Am
Universidade de Lisboa, mediante protocolo, e envolve a análise do conjunto de
microssatélites anteriormente referido de acordo com a metodologia standard que tem
vindo a ser eficazmente utilizado para este fim (Luís et al. 2007b): extracção do DNA a
partir de sangue total, amplificação dos microssatélites pela técnica de PCR, separação
dos fragmentos por electroforese num sequenciador automático Li-Cor e análise das
26
3. Resultados e Discussão
No final do presente trabalho, os dados populacionais da raça Sorraia, compilados desde
a sua fundação até Dezembro de 2006, ficaram disponíveis num programa informático
totalmente direccionado para a gestão de raças autóctones ameaçadas e com diversas
novas aplicações que o tornam um instrumento de grande utilidade para este cavalo. O
Gescab Raça Sorraia, como passou a ser designado, poderá ser adquirido ou
elos vários criadores, os quais terão acesso a todas as
formações de uma forma rápida e intuitiva, quer seja de forma directa ou através da
simplesmente consultado p
in
AICS que disponibilizará os elementos solicitados.
Com este software, cada um dos indivíduos registados na base de dados poderá ser
facilmente localizado recorrendo ao menu Ejemplares. Depois de seleccionado o
indivíduo pretendido, é possível visualizar de forma imediata um resumo das
informações que o caracterizam e que foram previamente inseridas na ficha individual.
Figura 8. Ecrã inicial do Gescab Raça Sorraia onde se observam todos os menus que se encontram
disponíveis para consulta.
27
Figura 9. Dados de Uhipi apresentados no menu ue
poderá ser consultada mediante pesquisa por anim (B): número de identificação (código); data de
nascimento (nacimiento); sexo; cor da pelagem (cap estado do animal para fins reprodutivos (estado):
reprodutor, não reprodutor ou castrado; data de mudança de estado (fecha cambio estado); nome
(nombre); data de morte (fecha baja); causa de morte (causa de la baja); progenitor masculino (padre);
progenitor feminino (madre); criador; proprietário e ferro (núcleo). É também possível consultar o
histórico dos estados apresentados pelo indivíduo dur e a sua vida (Histórico de Estados) bem como o
histórico dos seus proprietários (Histórico d r etarios). Sempre que disponíveis, as datas de
raciones) (Figura 10).
Ejemplares (A) e respectiva ficha individual q
al
a);
ant
e P opi
inclusão/exclusão dos animais no Livro de Nascimento e no Livro de Adultos poderão ser facilmente
adicionadas ao registo individual através do botão Registro de Libros.
Como previamente referido, o Gescab é um programa que possibilita a inclusão de uma
vasta gama de conteúdos para além dos dados que geralmente se encontram registados
no Studbook de uma raça. Em termos morfológicos, o registo de um animal poderá ser
complementado não só através da adição de fotografias e vídeos como também através
do registo das pontuações atribuídas aos caracteres que são por rotina avaliados nos
animais candidatos a integrar o Livro de Reprodutores (Valo
Figura 10. Tabela de pontuações de apreciação morfológica e funcional utilizada na raça Sorraia que
etermina a aptidão dos animais como possíveis reprodutores (A) e fotografias de Uhipi depositadas no
menu com o mesmo nome dos Ficheros Auxiliares
d
(B).
A B
A B
28
Constituindo uma das principais particularidades do Gescab face aos demais programas
ara registos genealógicos, é possível incluir, para cada animal, os dados moleculares
ue resultam do teste de paternidade que é efectuado para controlo de filiação. Assim,
ada um dos alelos determinados para o conjunto de microssatélites analisado poderá
r inserido na respectiva tabela (Microsa ), e a compatibilidade entre o indivíduo
igura 11. Alelos determinados no controlo de filiação de Vialonga (A) e Zizi (46) (B). Para cada um dos
icrossatélites, a compatibilidade entre o animal (ejemplar) e os progenitores declarados pelos criadores
(pai) e madre (mãe)) pode ser visualizada através das cores apresentadas nas colunas à direita
mpatibilidad): cor verde significa concordância entre os alelos enquanto que a cor vermelha indica
ue nenhum dos alelos encontrados no filho está presente no presumível progenitor, determinando
compatibilidade.
A B
p
q
c
se télites
e os presumíveis progenitores pode ser examinada através da simples comparação entre
os resultados obtidos para cada um dos casos. Com a realização deste trabalho, a tabela
dos 15 microssatélites actualmente analisados no controlo de filiação da raça Sorraia
ficou disponível para preenchimento e os dados dos vários testes realizados até ao
momento foram inseridos no registo individual de cada animal. No entanto, uma vez
que até muito recentemente este procedimento era efectuado recorrendo à análise de um
painel de microssatélites mais reduzido, os campos correspondentes aos marcadores
mais recentes não se encontram preenchidos para a grande maioria dos animais.
F
m
(padre
(co
q
in
29
Sempre que disponíveis, também os resultados de diversos procedimentos no âmbito
veterinário poderão ser armazenados na base de dados do programa através do menu
Otros datos.
Figura 12. Informações que podem ser incluídas no menu Otros datos, presente no ecrã principal: data
a colocação do microc hip (microchip); data da
esparatisação (fecha de desparasitación); data da determinação do hemótipo (análise genética para
ntrolo de filiação) (fecha de hemotipo); resultado do controlo de filiação (filiación): incompatible con
adre (incompatível com o pai), incompatible con madre (incompatível com a mãe), incompatible con
adre o madre (incompatível com o pai ou com a mãe), pendiente de extracción (aguarda o resultado da
álise) ou filiación compatible (filiação compatível); data de vacinação (fecha de vacunación).
registo
ue dizem respeito a cada um destes casos em particular (Figura 14) e onde podem ser
d hip (fecha de microchipado); número do microc
d
co
p
p
an
Refira-se, ainda, a existência neste programa do menu Altas/Bajas, presente no ecrã
principal, a partir do qual é possível aceder a dois novos sub-menus: Nacimientos e
Bajas. Seleccionando a primeira destas opções, surgem no ecrã diversos campos de
registo relativos a um novo nascimento na população (Figura 13), indivíduo este que
passará a fazer parte integrante da lista dos exemplares da raça. Já no caso do sub-menu
Bajas, será possível escolher entre Sacrificio e Muerte para aceder às fichas de
q
incluídas as informações referentes à morte do indivíduo em causa.
Figura 13. Campos de re da a partir do sub mengisto presentes da ficha Nuevo Nacimiento, obti u
acimientos: data de nascimento (nacimiento), sexo, progenitor masculino (padre), progenitoN r
feminino (madre), proprietário e nome (nombre).
30
Figura 14. (A) Campos de registo presentes na ficha Datos del Sacrificio, obtida a partir da opção
acrificio do sub-menu Bajas: nome (nombre), núm
), progenitor masculino (padre), progenitor feminino (madre), data do sacrifício (f.
), responsável pelo sacrifício e respectivo número do Documento Nacional de Identidade
o e D.N.I.). Sempre que a documentação necessária é entregue, tal facto deve ser assinalado no
mpo Documentación Entregada. (B) Campos de registo presentes na ficha Muertes, obtida a partir da
pção Muerte do sub-menu Bajas: nome (nombre), número de identificação (código), progenitor
ulino (padre), progenitor feminino (madre), data de scimento (nacimiento), data da morte (fecha
de
rma simples e apelativa, a representação gráfica da respectiva árvore genealógica
A B
S ero de identificação (código), data de nascimento
(nacimiento
sacrificio
(matader
ca
o
masc na
baja) e causa de morte: morte natural (muerte natural) ou morte acidental (muerte accidental).
Com a totalidade dos animais inseridos na base de dados, a optimização do Gescab
Raça Sorraia possibilita, pela primeira vez, aos seus utilizadores a consulta de variados
aspectos relacionados com a ascendência e descendência dos indivíduos, assim como o
cálculo rápido e interactivo de parâmetros genéticos e demográficos que adquirem
particular relevância em raças consideradas em perigo de extinção. De forma a conhecer
a linha de ascendência de um determinado animal, o programa permite visualizar,
fo
(Árbol). Para além da identificação dos ancestrais, também a data de nascimento, cor da
pelagem e ferro do criador podem ser observados de forma imediata (Figura 15A). Uma
análise mais detalhada da contribuição destes animais no indivíduo em causa poderá ser
realizada com base nos valores do grau de influência determinado para os vários
ancestrais presentes em cada geração parental (Informe de la ascendencia) (Figura
15B).
31
e forma análoga, a contribuição genética de cada fundador para o indivíduo em análise
ferido software (Ejemplares
dadores) (Figura 16).
o que diz respeito à descendência de um exemplar, informação detalhada sobre o sex-
tio dos produtos e respectivas pelagens pode ser observada sempre que solicitada.
stes resultados são disponibolizados quer em termos de tabelas de frequências quer
través de gráficos de percentagens (Informe de la descendencia) (Figura 17).
D
poderá ser facilmente consultada recorrendo ao re
Fun
N
ra
E
a
Figura 15. (A) Árvore genealógica de Uhipi onde podem ser observados todos os ancestrais até à 4ª
eração (secções de círculo indicam as respectivas pelagens) e (B) tabela de ascendência onde se
ntra representado o grau de influência dos ancestrais em cada geração parental.
g
enco
Figura 16. Representação genética dos exemplares fundadores no Uhipi (em percentagem) obtido a partir
o sub menu Ejemplares Fundadores.
A B
d
32
Traduzindo a existência de cruzamentos entre indivíduos aparentados na população, o
oeficiente de consanguinidade (Consanguinidad) constitui um dos parâmetros de
aior utilidade na gestão de populações ameaçadas. Com a realização do presente
abalho, e actualização deste programa à raça Sorraia, é possível aos utilizadores a
onsulta deste importante coeficiente, no cálculo do qual se encontra incluída toda a
ice de
s (Informe de la ascendencia de dos
jemplares) no produto resultante de cada cruzamento testado (Figura 18), e avaliar, em
c
m
tr
c
informação genealógica até aos fundadores. Para além deste parâmetro, também o
ndice de preenchimento das genealogias (Índice de acabado) e o índí
conservação genética (Índice de conservación genética) poderão ser facilmente
calculados para cada um dos indivíduos da raça.
No âmbito de uma eficaz gestão da raça, o delineamento de programas de reprodução
adequados de forma a minimizar a perda de variabilidade genética entre gerações é uma
tarefa de extrema importância. Através do Gescab Raça Sorraia é possível aferir quais
os cruzamentos mais favoráveis a promover em cada época de reprodução, uma vez que
é possível estimar tanto o coeficiente de consanguinidade (Consanguinidad de la
descendencia) como a contribuição dos ancestrai
e
cada momento, a consequência de tais cruzamentos na preservação da variabilidade
genética da raça.
Figura 17. Informação sobre a descendência de Regalo: frequências absolutas e relativas do número de
rodutos por classe de sexo e de pelagem e representação gráfica das respectivas percentagens. p
33
Este tipo de análise pode ser realizada de forma simultânea para diversos cruzamentos
ntre animais da mesma ou de distintas coudelarias, facto importante quando se
retende promover a troca de reprodutores entre núcleos, tão benéfica neste tipo de
opulaçõe Consanguinidad – informe de la población) (Figura 19).
e
p
p s (
Figura 18. Coeficiente de consanguinidade (A) e grau de influência dos ancestrais em cada geração
arental (B) num hipotético descendente do cruzamento entre Uhipi e Vialonga.
A B
p
Figura 19. Resultados obtidos na simulação de cruzamentos entre vários indivíduos na população: (A)
enu inicial onde são seleccionadas as coudelarias, datas de nascimento e cor da pelagem dos reprodutores;
) selecção dos pares reprodutores; (C) valores do coeficiente de consanguinidade e do índice de
nservação genética determinados para cada um dos cruzamentos seleccionados.
A
C
m
(B
co
B
34
Por fim, a emissão de certificados fundamentais para a acção da AICS junto dos
forma directa e
stantânea.
criadores, tais como os certificados de inscrição (Certificado de inscripción) e de
iliação (Certificado de filiación), passou a ser possível através desta versão do Gescab
Anexos 2 e 3). Delineados de acordo com as exigências do Regulamento do Studbook,
stes documentos poderão, deste modo, ser produzidos de uma
f
(
e
in
35
4. Conclusão
onstituindo a base fundamental de qualquer programa de reprodução em cativeiro, o
tudbook representa um instrumento de importância inquestionável na gestão de uma
opulação (Tudge 1992; Bastos-Silveira 1997). Este tipo de registo torna-se
specialmente relevante quando a população em causa se encontra em risco de
esaparecer, como é o caso da raça Sorraia, reunindo um conjunto de informações
ca dos seus indivíduos e a partir do qual poderão ser facilmente traçadas
s suas genealogias. Com os progressos alcançados ao nível tecnológico,
ção do Registo Genealógico e o cumprimento do
spectivo Regulamento), tornando possível o registo dos animais, a validação dos
C
S
p
e
d
relevantes acer
a
particularmente evidentes nas décadas mais recentes, foram surgindo no mercado
diversas aplicações que possibilitam hoje em dia manter estes dados em bases de dados
informatizadas, facto que tem permitido gerir os efectivos populacionais de um modo
muito mais fácil, rápido e fiável (Melgarejo et al. 2000; Tirados 2001; Melgarejo et al.
2004a,b; Benavente et al. 2007).
No decorrer do presente trabalho, como referido, várias alterações foram induzidas ao
programa Gescab Losina, um software informático destinado à gestão do Studbook de
uma raça ameaçada, que o tornaram bem mais adaptado e totalmente optimizado para o
caso particular do Cavalo do Sorraia. O programa Gescab Raça Sorraia, como passou a
ser designado, constituirá, sem dúvida, uma valiosa ferramenta de trabalho para a AICS
(que tem a seu cargo a manuten
re
testes de paternidade e a emissão dos documentos necessários ao cumprimento do
referido Regulamento de uma forma mais rápida e isenta de possíveis erros decorrentes
da emissão manual. Por outro lado, apesar dos diversos softwares disponíveis para
informatização de Studbooks serem mais ou menos profundos, permitindo análises
demográficas e genéticas mais ou menos profundas (como poderemos avaliar no
Capítulo III), nem todos são apelativos e de fácil utilização por parte dos criadores,
principais interessados e veículos na conservação das raças. O programa Gescab, em
geral, e o Gescab Raça Sorraia, em particular, vem colmatar essa lacuna, tendo já sido
muito apreciados os diferentes tipos de informação que rapidamente disponibiliza junto
dos criadores. Assim, quer seja através da aquisição do programa, quer seja através de
simples consulta, os próprios criadores ficarão com a possibilidade de consultar,
analisar e gerir directamente o seu efectivo e de uma forma muito mais rápida e eficaz.
36
Pensamos, desta forma, ter contribuído de uma forma determinante para uma melhor
gestão de uma raça tão ameaçada, como é o Cavalo do Sorraia, com a componente
importante de tornar acessível aos criadores uma ferramenta de utilidade indiscutível,
envolvendo-os directamente nessa mesma gestão.
37
Capítulo III
genética e estrutura demográfica
da raça Sorraia através da análise
Caracterização da variabilidade
da informação genealógica
38
1. A análise da
gestão de uma
A continuidade de uma raça e
ínimo de animais que garanta a sua sobrevivência, mas também da variabilidade
enética que, constituindo a capacidade de adaptação em resposta a alterações
mbientais, representa a base do seu potencial evolutivo (Carolino et al. 2004;
rankham et al. 2004; Toro & Caballero 2005; FAO 2007). A avaliação desta
cial para se perceber o grau em que esta se encontra ameaçada e
portante para o estabelecimento de programas de selecção e/ou conservação eficazes
r, a análise da
enealogia constitui uma ferramenta de grande utilidade para descrever a diversidade
genealogia como uma ferramenta de grande utilidade para a eficaz
raça
stá dependente da manutenção, não só de um número
m
g
a
F
diversidade dentro das populações, assim como a da respectiva estrutura, fluxo genético
e demografia, é essen
im
(Goyache et al. 2003; Gutiérrez et al. 2003; Fernández et al. 2004; Valera et al. 2005;
Cervantes et al. 2008). Alguns parâmetros demográficos, fortemente dependentes das
políticas de gestão e reprodução praticadas, têm um grande impacto na evolução da
diversidade genética de uma população (Goyache et al. 2003; Gutiérrez, et al. 2003;
Valera et al. 2005). A análise deste tipo de componentes por parte de criadores e
investigadores poderá, desta forma, constituir um forte auxílio na descrição da estrutura
e da dinâmica das diferentes raças, permitindo uma maior compreensão da história
genética a elas associada (Goyache et al. 2003; Gutiérrez, et al. 2003).
A monitorização periódica dos diversos índices que caracterizam uma população é uma
tarefa de reconhecida importância no âmbito de qualquer estratégia conservacionista
(United Nations Treaty Series 1993; FAO/UNEP 1998; FAO 2007). No caso da raça
Sorraia, dada a sua importância no contexto nacional e mundial, este é um procedimento
que adquire particular relevância, sobretudo se tivermos em conta o reduzido efectivo e
os baixos níveis de variabilidade que, desde sempre, a caracterizaram. Utilizada de
modo independente ou como complemento à abordagem molecula
g
genética de uma população e a sua evolução ao longo das gerações (Boichard et al.
1996). Durante os anos mais recentes, diversas técnicas e parâmetros de análise
genealógica têm vindo a ser desenvolvidos, fruto do crescente número de estudos a esta
área dedicados, e algumas rotinas computacionais estão actualmente disponíveis para
este tipo de pesquisa (Caballero & Toro 2000; Carolino & Gama 2002; Gutiérrez &
Goyache 2005; Gutiérrez et al. 2005).
39
Os programas SPARKS v.1.5 (Single Population Analysis and Records Keeping
System) (Scobie et al. 2004), que inclui os programas GENES v.12 (Software package
for genetic analysis of studbook data, desenvolvido por Robert Lacy, Chicago
Zoological Society, Brookfield, EUA) e DEMOG (desenvolvido por Laurie Bingaman-
Lackey e Jon Ballou, National Zoological Park, Washington, EUA), e o PM200
(Population Management 2000) v.1.163 (Pollak et al. 2002), direccionados para a
gestão genética de populações em cativeiro detentoras de Studbooks, permitindo a
compilação, edição, análise e produção de relatórios sobre o seu estado, foram
al. 2005; Valera et al. 2005;
lfonso et al. 2006; Cecchi et al. 2006; Ruíz-Flores et al. 2006; Adán et al. 2007;
utilizados na raça Sorraia para a determinação de diversos parâmetros genéticos e
demográficos recorrendo aos dados genealógicos disponíveis (Oom & Luís 2000,
2001a,b; Oom et al. 2004; Kjöllerström 2005). Os resultados obtidos evidenciam os
reduzidos índices de diversidade genética associados a esta raça, corroborando os
resultados inferidos a partir da análise molecular (Oom & Cothran 1994; Luís et al.
2002a,b; Luís et al. 2005; Luís 2006; Luís et al. 2007b).
No contexto da monitorização periódica dos parâmetros de variabilidade, fundamental
para o eficaz plano de gestão da raça, pretende-se com esta tarefa obter uma
caracterização do estado actual da população com base nas análises genéticas e
demográficas através do programa ENDOG v.4.0 (Gutiérrez & Goyache 2005). O
ENDOG é um software de genética populacional especialmente desenvolvido para
trabalhar com populações ameaçadas e recorrentemente utilizado em diversos estudos
nos últimos anos (Gutiérrez & Goyache 2005; Gutiérrez, et
A
Álvarez et al. 2007; Fernández et al. 2007; González-Recio et al. 2007; Kim et al. 2007;
Olsson 2007; Royo et al. 2007; Álvarez et al. 2008; Cervantes et al. 2008; Gutiérrez et
al. 2008). Correndo num ambiente de fácil utilização, permite efectuar diversas análises
baseadas na informação genealógica disponível, permitindo monitorizar as alterações na
variabilidade genética e na estrutura das populações sem grande esforço na preparação
dos dados (Gutiérrez & Goyache 2005). Essencialmente direccionado para raças
pecuárias, é dotado de uma linguagem mais acessível aos que se dedicam à produção
animal e, ao realizar outro tipo de análises não incluídas nos programas SPARKS e
PM2000, constitui um complemento aos resultados obtidos pelos mesmos (Oom et al.
2004; Kjöllerström 2005; Oom 2006), permitindo tornar o conjunto de dados final
indubitavelmente mais rico. Os resultados obtidos no presente trabalho irão ser
40
analisados e comparados com os dos trabalhos desenvolvidos anteriormente para a raça
Sorraia no sentido de se avaliar a sua evolução. Adicionalmente, sendo o ENDOG um
programa mais divulgado e utilizado no universo das espécies pecuárias, os resultados
da sua aplicação nesta raça equina tornarão mais fácil e objectiva a comparação da
variabilidade genética encontrada com a de diversas outras raças.
41
2. Materiais e Métodos
.1. Preparação do ficheiro
ara que se pudesse dar início à análise dos diversos parâmetros genéticos e
emográficos, foi necessária a preparação prévia dos dados populacionais de acordo
om as exigências do ENDOG v.4.0, descritas no respectivo manual (Gutiérrez &
oyache 2006). Um ficheiro de dados incluindo todos os indivíduos da raça registados
1937, até 31 de Dezembro de 2006 foi exportado a partir
rograma SPARKS v.1.5 no qual se encontra compilada toda a informação genealógica
te actualizada há medida que os animais vão nascendo e
ovas informações vão sendo conhecidas. Este registo, constituído por 652 animais (315
2
P
d
c
G
desde a sua fundação, em
p
da raça Sorraia, constantemen
n
machos, 335 fêmeas e 2 nados-mortos de sexo indeterminado), ficou disponível em
formato xls (Microsoft® Office Excel), reunindo, para cada animal, um vasto conjunto
de informações. Depois de seleccionadas as características importantes para o trabalho
em curso, descritas de seguida, os dados foram organizados respeitando as instruções do
programa de análise e cuidadosamente conferidos, um por um, de modo a garantir a
fiabilidade do ficheiro. Adicionalmente, e por imposição do software, foi incluído na
base de dados um animal de raça Alter Real – Vigilante – que, devido a um cruzamento
casual com uma égua Sorraia fundadora (Freire) pouco tempo após a fundação desta
raça, deu origem a uma linha de descendência à qual pertencem alguns dos animais
registados mas que foi rapidamente erradicada da população. Do ficheiro final,
constituído por 653 indivíduos, fazem parte as seguintes características:
Número de identificação: corresponde ao número atribuído pelo Serviço
Nacional Coudélico (SNC), actual Fundação Alter Real, que figura na respectiva
Declaração de Nascimento.
Número de identificação do progenitor masculino: número do Serviço
Nacional Coudélico (SNC), actual Fundação Alter Real, do progenitor masculino. No
caso dos animais fundadores, esta coluna foi preenchida com o algarismo 0.
42
esta coluna foi preenchida com o algarismo 0.
Número de identificação do progenitor feminino: número do Serviço
Nacional Coudélico (SNC), actual Fundação Alter Real, do progenitor feminino. No
caso dos animais fundadores,
Data de nascimento: data de nascimento do animal com formato dd-mm-aaaa.
Sexo: sexo do animal codificado com os algarismos 1 e 2 para machos e fêmeas,
spectivamente. re
Criador: número identificativo da coudelaria de origem do animal.
Concluída a fase de preparação do ficheiro de dados, deu-se início à análise dos vários
aior parte dos parâmetros que se seguem foram calculados para a totalidade dos
imai
o actual, constituída por 206 animais vivos, foi considerada para
nálise.
.2. Parâmetros demográficos
índices genéticos e demográficos que caracterizam a população do Cavalo do Sorraia. A
m
an s inscritos no programa SPARKS (653 indivíduos), contudo, em alguns casos,
apenas a populaçã
a
2
Intervalo de gerações: idade média do pais ao nascimento da descendência que é
mantida para fins reprodutivos (James 1977). Foi calculado para as 4 vias
progenitor-descendência (pai-filho, pai-filha, mãe-filho, mãe-filha), a partir das
datas de nascimento dos animais e respectivos progenitores.
Idade média: definida como a média das idades dos progenitores ao nascimento
pendentemente de se tornarem eles próprios animais
reprodutores ou não). Foi calculado para as 4 vias progenitor-descendência (pai-
da sua descendência (inde
filho, pai-filha, mãe-filho, mãe-filha), a partir das datas de nascimento dos
animais e respectivos progenitores.
da raça Sorraia foi
analisada através da descrição da percentagem de ancestrais conhecidos em cada
geração da genealogia, considerada até à 5ª geração parental (pais, 21, avós, 22,
Preenchimento da genealogia: a qualidade do pedigree
43
dmatdpatd II +
dmatdpat III =
.4
∑=
=d
iimatoudpat a
dI
1)(
1
bisavós, 23, trisavós, 24, e tetravós, 25), e do índice de preenchimento do pedigree,
proposto por MacCluer et al. (1983), que, podendo variar entre 0 e 1 (resultado
obtido quando são conhecidos todos os ancestrais de um determinado animal), é
calculado a partir da fórmula:
: número de gerações que separam o indivíduo do
mais remoto ancestral presente na sua genealogia. Ancestrais com pais
desconhecid
Número máximo de gerações
os foram considerados fundadores (geração 0).
Número de gerações completas: corresponde ao número de gerações que
ais afastada onde os seus 2n ancestrais são
de cada ancestral conhecido. Ancestrais com pais desconhecidos foram
considerados fundadores (geração 0).
separam o indivíduo da geração m
conhecidos na totalidade, sendo n o número de gerações que separam o indivíduo
e à soma das parcelas
(1/2) n, sendo n o número de gerações que separam o indivíduo de cada ancestral
Número equivalente de gerações completas: é calculado de acordo com a
metodologia proposta por Maignel et al. (1996) e correspond
conhecido.
Vassalo et al. (1986), as quais foram
classificadas como:
d = profundidade da genealogia
(n.º de gerações incluídas no cálculo)
igeraçãonaosantepassaddetotalnmatoupatlinhanaigeraçãodaosantepassadn
ai .º)(,.º
=
Importância genética das coudelarias: a contribuição das coudelarias que
contribuíram com garanhões para a população em estudo foi analisada de acordo
com a metodologia proposta por
44
a) coudelarias núcleo, se os criadores utilizam exclusivamente os seus próprios
garanhões para reprodução, não utilizando animais provenientes de outros
criadores mas permitindo a transferência de animais para núcleos externos;
c) coudelarias comerciais, sempre que os criadores utilizam machos
) coudelarias isoladas, se apenas são utilizados para reprodução machos da
2.3. Parâmetros genéticos
b) coudelarias multiplicadoras, no caso em que são utilizados para reprodução
machos oriundos de outros criadores e em que são cedidos garanhões a outras
coudelarias;
provenientes de outras coudelarias, nunca cedendo garanhões a outras
coudelarias;
d
própria coudelaria, não havendo compra nem transferências de garanhões para
outras coudelarias.
Nú
necessári ir a mesma diversidade genética encontrada na população em
studo, se todos estivessem igualmente representados na população descendente. É
obtid
mero efectivo de fundadores (fe): número de fundadores que seriam
os para produz
e
o a partir da fórmula ∑
= f
k
e
qf
2
1 , sendo q
=k 1
a população originada pelo fundador k (calculado como o coeficiente de relação média
e fundadores. É equivalente ao parâmetro fe determinado
etodologia proposta por James (1972) ou Lacy (1989, 1995) sempre que
k a proporção da variabilidade genética
d
- AR), e f o número real d
seguindo a m
no cálculo é incluída a totalidade do pedigree.
Número efectivo de ancestrais (fa): número mínimo de ancestrais, fundadores
ou não, que explicam a l diversidade genética encontrada na população em estudo
(Boichard et al.
tota
1997). É calculado de acordo com o algoritmo ∑=
= a
j
a
qf
2, sendo qj a
j 1
1
45
contribuição marginal do ancestral j, ou seja, a contribuição genética associada ao
ancestral que não é explicada por quaisquer outros previamente escolhidos. Para o seu
cálculo é considerada uma população de referência constituída apenas pelos animais
ujos 2 progenitores são conhecidos, excluindo, desta forma, os fundadores. c
Coeficiente de consanguinidade (F): calculado de acordo com o método
proposto por Meuwissen & Lou (1992), define-se como a probabilidade de um
indivíduo ser portador de dois alelos idênticos por descendência (W
right 1931).
Coeficiente de relação média (AR): o coeficiente de relação média de cada
indivíduo é definido como a probabilidade de um alelo aleatoriamente escolhido na
população total do pedigree pertencer a um determinado indivíduo (Gutiérrez &
Goyache 2005). Em termos numéricos, corresponde ao dobro da probabilidade de dois
lelos escolhidos ao acaso (um do animal e outro da população total, incluindo ele
oeficientes que integram a linha do indivíduo em causa (Goyache et al. 2003; Gutiérrez
al. 2
a
próprio) serem idênticos por descendência, podendo ser interpretado como a
representação de um animal no pedigree total da população (Dunner et al. 1998). O
parâmetro AR é calculado a partir da matriz aditiva de parentesco como a média dos
c
et 003), ou seja, a média das relações genéticas desse indivíduo com todos os outros
da população, incluindo ele próprio, tendo em conta, de forma simultânea, os
respectivos coeficientes de parentesco entre cada dois indivíduos (coancestry, kinship)
(metade do conteúdo da célula de intersecção de ambos) e de consanguinidade
(Gutiérrez & Goyache 2005). Para os animais fundadores, AR pode ser obtido
atribuindo a cada indivíduo o valor 1 por pertencer à população, ½ por cada filho a que
deu origem, ¼ por cada neto e por aí adiante, ponderando posteriormente o valor
encontrado pelo número total de animais que constituem a população. O resultado
obtido representa, nestes casos, a contribuição genética de cada fundador para a
população em estudo (Dunner et al. 1998).
Para complementar o conjunto de análises previamente referido, o programa PM2000
foi também utilizado para o cálculo de alguns parâmetros genéticos de importância
reconhecida na gestão de populações em cativeiro, os quais foram calculados tendo em
conta apenas os animais que actualmente constituem o efectivo vivo da raça, sobre os
quais recairão os planos de gestão futura. Para além da representação genética dos
46
diversos fundadores no pool genético total desta população, foram ainda determinados
os valores individuais do coeficiente médio de parentesco (mean kinship) – mk –,
definido como o parentesco (kinship) médio de um indivíduo com todos os outros
divíduos da população viva, incluindo ele próprio (Ballou & Lacy 1995). in
47
3. Resultados e discussão
.1. Análises demográficas
os 653 animais incluídos no ficheiro analisado, 640 (328 fêmeas e 310 machos) são
escendentes de pais conhecidos enquanto que apenas 13 (7 fêmeas e 6 machos) foram
onsiderados fundadores já que se desconhece a identidade dos seus progenitores. A
igura 20 mostra a evolução do número de nascimentos registados no Studbook da raça
orraia (fundadores não incluídos) desde a sua fundação, em 1937, até 31 de Dezembro
ções que se observam ao longo dos vários anos de registo,
ma tendência para o aumento progressivo do número de nascimentos pode ser,
ncremento é particularmente evidente nas últimas duas
écadas (1987-2006), onde se encontram representados cerca de 50,6% do número total
3
D
d
c
F
S
de 2006. Apesar das flutua
u
contudo, visualizada. Este i
d
de nascimentos, em grande parte resultado do aumento do número de criadores e do
interesse manifestado em redor da raça.
0
5
10
15
20
25
30
N.º
de re
gist
os
1937
1941
1945
1949
1953
1957
1961
1965
1969
1973
1977
1981
1985
1989
1993
1997
2001
2005
Ano de nascimento Figura 20. Número de nascimentos registados em cada ano no Studbook da raça Sorraia desde a sua
fundação (1937) até 31 de Dezembro de 2006.
Da totalidade dos animais inscritos no Studbook, apenas 36,1% se tornaram animais
reprodutores. Esta divergência encontrada torna-se ainda mais evidente ao
considerarmos cada sexo em particular uma vez que, enquanto que aproximadamente
metade das fêmeas (52,2%) se tornaram fêmeas reprodutoras, somente 61 dos 316
machos registados (19,3%) produziram algum tipo de descendência. Valores ainda mais
48
baixos foram encontrados no cavalo Árabe Espanhol (Cervantes et al. 2008), onde
apenas 27,9% das fêmeas e 12,6% dos machos viriam a ser utilizados para fins
reprodutivos, e no cavalo Brasileiro de Hipismo (Dias et al. 2000), com valores de
24,2% e 1,2% para fêmeas e machos, respectivamente.
Ao longo da história da raça, a desequilibrada contribuição dos animais reproduto
para a população, em termos de descendência produzida, é também clara (Figura 21
a vez mais, as diferenças mais significativas são encontradas entre os garanhões.
res
) e,
um
0
5
10
15
20
25
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 16 17 18 20 23 24 32 33 34 52 65
Classe de descendência
N.º
de a
ni
30
50
35
40
45
s m
ai
Garanhões
Éguas
Figura 21. Distribuição dos animais usados como reprodutores de acordo com o número de descendentes
a que deram origem.
A maior parte das éguas reprodutoras (58,3%) deu origem a uma descendência
e a
ariância dos valores neste grupo de indivíduos é significativamente maior. Apesar da
principal fracção (65,6%) ter dado origem a um número de filhos compreendido entre 1
e 8, para 2 dos casos analisados foi registado um valor superior a 50 – Afogado (922) e
Manco. Um cenário semelhante foi descrito por Cervantes et al. (2008) para o cavalo
Árabe Espanhol, com 71,2% dos garanhões apresentam entre 1 a 5 descendentes e um
pequeno número de machos a registarem uma prole que ultrapassa os 70 indivíduos. No
caso do cavalo Brasileiro de Hipismo (Dias et al. 2000), 54,5% dos machos
reprodutores deram origem a uma descendência constituída por 10 ou menos
constituída por 1, 2 ou 3 animais, e o número máximo de filhos por égua, encontrado
em 3 casos – Arisca (27), Pinoia (14) e Engeitada (2) – foi de 11. Observando a
distribuição dos garanhões no gráfico correspondente, é possível verificar qu
v
49
indivíduos, sendo 95 o número máximo de filhos apresentado por um garanhão. Na raça
Sorraia, a desequilibrada contribuição dos animais reprodutores de cada sexo para a
população em estudo encontra-se, de igual forma, reflectida no valor médio de filhos
por progenitor – 3,66 para o caso das fêmeas e 10,49 para os machos. A diferença entre
os valores médios registada para os dois sexos vai de encontro ao descrito para diversas
outras raças equinas como a Mangalarga no Brasil (4,4 para as éguas e 23,8 para os
garanhões) (Mota et al. 2006), Campolina (3,1 para as éguas e 22,2 para os garanhões)
(Procópio et al. 2003) e Brasileiro de Hipismo (2,8 para as éguas e 15,2 para os
garanhões) (Dias et al. 2000). O número médio de filhos determinado para os garanhões
da raça Sorraia (10,49) é, ainda assim, bastante inferior aos valores anteriormente
997), dos 8,9 encontrados para a Pura-Raza-Española (Valera et al.
mencionados, estando mais próximo dos 10,1 encontrados para o Pónei Brasileiro
(Bergmann et al. 1
1997) e dos 12,28 que caracterizam o cavalo Puro-Sangue-Lusitano (Valera et al. 2000).
Constituindo um dos factores que influenciam a taxa de progresso genético de uma
população, o intervalo de geração representa uma medida de grande importância no
âmbito da gestão de uma raça. Comparativamente com outras espécies domésticas, este
intervalo é geralmente longo no caso dos equinos, situando-se, para a grande maioria,
entre os 9 e os 11 anos (Bowling 1996). Na população do Cavalo do Sorraia, o valor
encontrado foi de 7,94 anos, um valor de certa forma baixo e bastante inferior aos 10,11
anos registados por Valera et al. (2005) para o cavalo Pura-Raza-Española. No Quadro
1 encontram-se detalhados os valores médios calculados para cada uma das vias
progenitor-descendência. Apesar das semelhanças encontradas entre os diversos
resultados, verifica-se que as vias mãe-descendência são sempre ligeiramente superiores
às vias que envolvem os garanhões. O cenário oposto foi encontrado por Moureaux et
al. (1996) para as populações analisadas de 5 raças de cavalos francesas (Puro Sangue
Inglês, Trotteur Français, Árabe, Anglo-Árabe e Selle Français), nas quais as vias pai-
descendência são, em praticamente todos os casos, superiores às vias que englobam as
éguas, com valores que variam entre os 8,2 (Árabe) e os 13,1 anos (Trotteur Français).
Considerando a totalidade da descendência produzida (mantida para fins reprodutivos
ou não), a idade média dos pais determinada para a população do Cavalo do Sorraia foi
de 8,39 anos e, tal como no caso anterior, os valores mais elevados foram encontrados
nas vias mãe-descendência.
50
A diferença que se regista entre as vias que abrangem cada sexo, em separado, é
justificada pelo facto das fêmeas serem utilizadas como reprodutoras durante toda a
vida, sendo deixadas nas eguadas até ao limite, ao contrário do que acontece com os
garanhões, que vão sendo substituídos desta função de forma bem mais frequente. Uma
das medidas de conservação genética implementadas nesta raça prende-se,
es associadas à recuperação e posterior manutenção/gestão
precisamente, com uma maior rotatividade dos garanhões de forma a possibilitar a
inclusão de maior variabilidade genética na descendência das diferentes eguadas. Nas
restantes raças, em que se pretende, acima de tudo, melhoramento genético,
nomeadamente nas raças em que os garanhões são valorizados pela respectiva
performance ao longo da vida, a pressão de selecção é muito superior e os animais são
colocados à reprodução em idades mais avançadas, algumas vezes recorrendo, até, a
sémen congelado após a sua morte, o que, obrigatoriamente, aumenta o intervalo de
geração nas vias pai-descendência.
Quadro 1. Valores médios encontrados na população da raça Sorraia para o intervalo de gerações e idade
média dos pais em cada uma das 4 vias progenitor-descendência.
Dadas as particulares condiçõ
Intervalo de Gerações Idade Média
da raça ao longo dos vários anos da sua história, o Studbook do Cavalo do Sorraia
constitui um ficheiro de elevada fiabilidade e no qual se encontra incluída informação
genealógica completa sobre todos os indivíduos presentes na população desde a sua
fundação. O número máximo de gerações encontrado no pedigree de um animal foi de
13 e, dos 653 animais incluídos na base de dados analisada, mais de metade (54%)
apresentam 10 ou mais gerações na sua genealogia (Figura 22). Se considerarmos
apenas os animais que se encontram actualmente vivos, verifica-se que a grande maioria
(57%) é caracterizada por genealogias com 12 ou 13 gerações decorridas desde os
ancestrais fundadores, não existindo qualquer caso com um número máximo de
gerações inferior a 7.
Vias N Anos N Anos Pai – Filho 55 7,65 310 8,27 Pai – Filha 168 7,28 330 7,73 Mãe – Filho 55 8,61 310 9,02 Mãe – Filha 168 8,48 330 8,57
Média 446 7,94 1280 8,39
51
41%
520%
654%
725%
072%
14% 2
15%
310%
410%5
21%
627%
11%
População total Animais vivos
100
120
140
ais
0
20
40
60
80
1 2 4 5 7 8 10 1 13
Número o de ger
N.º
de a
nim
0 3 6 9 1 12
máxim ações
Figura 22. Distribuiçã ai S da raça aia consoa número máximo
rações que aprese na respectiva genealog derando a t da população e apenas a
endo em conta apenas as gerações que se encontram totalmente preenchidas, onde os
Figura 23. Distribuição dos animais inscritos no Studbook da raça Sorraia consoante o número de
gerações completas que apresentam na respectiva genealogia considerando a totalidade da população e
apenas a população viva.
o dos anim
ntam
s inscritos no tudbook
ia consi
Sorr
otalidade
nte o
de ge
população viva. A classe 0 corresponde aos fundadores.
T
2n ancestrais que as constituem são conhecidos na íntegra, o número máximo
encontrado para os animais da raça Sorraia foi 7. A distribuição dos animais pelo
número de gerações completas que apresentam pode ser visualizada na Figura 23, a qual
permite verificar que a maioria dos indivíduos (59%) exibe, na sua genealogia, 5, 6 ou 7
gerações totalmente preenchidas. Esta percentagem é ainda mais expressiva se
observarmos o gráfico obtido apenas para a população viva, com 79% dos casos a
apresentarem 6 ou 7 gerações completamente conhecidas.
População total População viva
52
53
O declínio dos valores registados relativamente ao número máximo de gerações não é
justificado pela existência de ancestrais desconhecidos, uma ve
ente referido, as genealogias de todos os animais inscritos no Studbook
ente conhecidas até aos fundadores, ou seja, com 100% de preenchime
diferença encontrada deve-se exclusivamente ao facto de no pedigree dos anim
tos se atingirem mais ou menos rapidamente os animais fundadores, não havendo,
o, informação sobre ancestrais mais remotos. Esta circunstância encontra-se,
a, ilustrada na Figura 24 que descrimina as percentagens de an
conhecidos em cada uma das posições da genealogia até à 5ª geração parental. Com
z que, como
anteriorm são
totalm nto. A
ais mais
remo
portant de
igual form cestrais
o é
ente para os ancestrais da 1ª geração
arental já que se desconhece a procedência dos animais fundadores. O mesmo cenário
igura 24. Percentagem de ancestrais conhecidos determinadas para cada posição da genealogia até à 5ª
eração parental, considerando a totalidade da população da raça Sorraia (A) e os animais que se
ncontram vivos (B).
al, o preenchimento da
ndo em conta os ancestrais conhecidos, adquirindo valores
A B
possível verificar, apesar de bastante elevados, os valores determinados são inferiores a
100% em qualquer uma das posições, inclusivam
p
não se verifica se apenas forem considerados os animais que se encontram vivos, tendo
sido registados, para esta população, valores iguais a 100% em quase todas as posições
e havendo conhecimento de todos os ancestrais até à 4ª geração parental.
F
g
e
A qualidade da informação genealógica registada no Studbook da raça Sorraia pode, de
forma análoga, ser avaliada através do índice de preenchimento do pedigree, Id,
et al. 1983), ilustrado na Figura 25. Para cada anim(MacCluer
genealogia é calculado te
010
2030
405060
7080
90100
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Geração
Pree
nchi
men
to (%
)
nulos sempre que se desconhece a identidade de um dos pais, independentemente de
quão completa se encontre a genealogia do progenitor complementar. No caso da raça
Sorraia, para as duas primeiras gerações parentais os valores médios encontrados foram,
respectivamente, I1= 98,0% e I2= 94,9%, mantendo-se acima dos 70% até à 5ª geração.
Figura 25. Valores médios do índice de preenchimento (Id) das genealogias de todos os animais inscritos
no Studbook da raça Sorraia encontrados para cada geração parental de acordo com a metodologia
roposta por MacCluer et al. (1983).
Española, Valera et al. (2005) obtiveram,
gerações, uma percentagem de ancestrais conhe
gerações parentais, caindo de forma significa
partir da 10ª. Valores mais baixos foram
totalidade da população do cavalo Árabe Espa
92,0%, 86,6% e 80,8% a caracterizarem
valores inferiores a 40% a partir da 8ª.
Também o número equivalente de gerações pletas foi determinado para cada um
um valor muito alto, pelos motivos
nteriormente referidos, é, ainda assim, muito semelhante às 5,7 gerações encontradas
p
Analisando a informação genealógica registada no Studbook do cavalo Pura-Raza-
para pedigrees com um maior número de
cidos superior a 90% para as primeiras 5
tiva para 80% na 7ª e para baixo de 30% a
registados por Cervantes et al. (2008) para a
nhol, com níveis de preenchimento de
as três primeiras gerações, baixando para
com
dos animais presentes no ficheiro, tendo sido obtido um valor médio de 6,14 para a
população total da raça Sorraia. Não sendo
a
por Cervantes et al. (2008) no cavalo Árabe Espanhol, mas inferior às 8,26 gerações
registadas por Valera et al. (2005) no cavalo Pura-Raza-Española, embora, nestes casos,
para um maior número de gerações conhecidas. Já para o caso dos animais actualmente
54
vivos, o número médio registado foi significativamente superior, atingindo as 8,17
gerações.
A classificação das coudelarias de acordo com a origem e a utilização dos respectivos
vivos, o número médio registado foi significativamente superior, atingindo as 8,17
gerações.
A classificação das coudelarias de acordo com a origem e a utilização dos respectivos
garanhões (Vassalo et al. 1986) está presente no Quadro 2. Das 10 coudelarias
icialmente contradas no referido
uadro, uma vez que nas restantes 4 os animais que constituem o efectivo não
, até ao momento, qualquer tipo de descendência. Como se pode verificar,
enhuma destas 6 coudelarias foi classificada como “núcleo”, usando exclusivamente os
eus machos para reprodução e permitindo a transacção de animais para outros grupos.
o invés, todas as coudelarias surgem como “multiplicadoras” ou “comerciais”,
aracterizadas pelo facto de usarem garanhões provenientes de núcleos diferentes,
bora em proporções bastante variáveis. As diferenças entre elas residem na utilização
Utiliza Utiliza Cede Número % garanhões
55
garanhões (Vassalo et al. 1986) está presente no Quadro 2. Das 10 coudelarias
icialmente definidas para a raça Sorraia, apenas 6 podem ser encontradas no referido
uadro, uma vez que nas restantes 4 os animais que constituem o efectivo não
, até ao momento, qualquer tipo de descendência. Como se pode verificar,
enhuma destas 6 coudelarias foi classificada como “núcleo”, usando exclusivamente os
eus machos para reprodução e permitindo a transacção de animais para outros grupos.
o invés, todas as coudelarias surgem como “multiplicadoras” ou “comerciais”,
aracterizadas pelo facto de usarem garanhões provenientes de núcleos diferentes,
bora em proporções bastante variáveis. As diferenças entre elas residem na utilização
Utiliza Utiliza Cede Número % garanhões
inin definidas para a raça Sorraia, apenas 6 podem ser en
produziramproduziram
nn
ss
AA
cc
emem
ou não dos seus próprios garanhões para reprodução e na possibilidade de cederem este
tipo de animais a outros criadores.
ou não dos seus próprios garanhões para reprodução e na possibilidade de cederem este
tipo de animais a outros criadores.
Classificação garanhões externos
próprios garanhões garanhões coudelarias externos
Núcleo Não Sim Sim 0 0
Classificação garanhões externos
próprios garanhões garanhões coudelarias externos
Núcleo Não Sim Sim 0 0 Multiplicadora Sim Sim Sim 3 16,39 Multiplicadora Sim Não Sim 0 100 Comercial Sim Sim Não 2 82,76 Comercial Sim Não Não 1 100 Isolada Não Sim Não 0 0
Quadro 2. Coudelarias registadas no Studbook da raça Sorraia classificadas de acordo com a origem e
utilização dos respectivos garanhões seguindo a metodologia proposta por Vassalo et al. (1986).
No Quadro 3 estão descritos os indicadores demográficos que caracterizam cada um
facto que fez com que esta coudelaria fosse incluída na referida categoria. Deste modo,
destes núcleos, em particular. Apesar da grande variância encontrada entre os diversos
resultados, verifica-se que as coudelarias de maior influência, onde se registaram a
maior parte dos nascimentos, pertencem, na totalidade, ao grupo das coudelarias
“multiplicadoras”. Refira-se que, no caso da coudelaria Andrade, a coudelaria
fundadora da raça e a mais importante ao longo de toda a sua história, 97,09% dos seus
animais são descendentes de garanhões próprios. Dos 447 nascimentos, apenas 13 – os
fundadores – foram considerados resultado de garanhões oriundos de núcleos externos,
55
apesar de classificada como “multiplicadora”, a coudelaria Andrade funciona, na
realidade, como uma coudelaria “núcleo”, utilizando exclusivamente os seus garanhões
ara fins reprodutivos e permitindo a transferência de alguns destes animais para outros p
locais. Do conjunto de coudelarias representadas no Quadro 3, observa-se ainda que 3
delas, ou seja metade, se encontram localizadas na Alemanha, evidenciando a enorme
relevância deste país na manutenção e conservação da raça ao longo dos anos.
Coudelaria País Classificação Nascimentos % progenitor
mesma coudelaria
Descendência % mesma coudelaria
Andrade Portugal Multiplicadora 447 97,09 556 78,06 Schäfer Alemanha Multiplicadora 67 38,81 38 68,42
C. Nacional Portugal Multiplicadora 84 47,62 41 97,56 MA / FA Portugal Comercial 17 23,53 4 100
W. Springe Alemanha Comercial 17 0 0 0 Wilpferd Alemanha Comercial 12 8,33 1 100
Quadro 3. Caracterização das diferentes c
origem, classificação de acordo com a orig
oudelarias presentes no Studbook da raça Sorraia: país de
em e utilização dos garanhões (Vassalo et al. 1986), número
tal de nascimentos registados, proporção de nascimentos com progenitor masculino nascido na mesma
coudelaria, número de desc origin s gara nascid dela o da
descen anhõ na co e o ss dela
to
endentes
es nascidos
ados pelo
udelaria qu
nhões
correram ne
os na cou
a mesma cou
ria e proporçã
ria. dência dos gar
56
3.2. Análises genéticas
No Quadro 4 estão presentes os resultados de alguns parâmetros genealógicos que
caracterizam a variabilidade genética da raça Sorraia.
Número total de animais 653
Número de fundadores 13
Número efectivo de fundadores 7,46
úme ctiv is
m nc car 10 15
Núm c car 50 2
ons dad 26,99
el a (% 46,26
N ro efe o de ancestra 4
Nú ero de a estrais a expli 0%
ero de an estrais a expli %
C anguini e ) média (%
R ação médi )
uadro 4. Principais parâmetros genealógicos que ilustram a variabilidade genética da raça Sorraia,
ma raça distinta, um dos animais incluídos neste grupo é um garanhão de raça Alter
eal, tendo sido adicionado ao ficheiro por ter dado origem a uma linha de
escendência, constituída por uma pequena fracção da população, resultado de um
ruzamento fortuito com uma das éguas fundadoras da raça Sorraia, como anteriormente
ferido. O número efectivo de fundadores (fe) determinado para a população foi de
,46, um valor que representa cerca de metade do número total de fundadores,
dicando a perda de variabilidade genética associada à desequilibrada contribuição
estes animais ao longo das gerações (Lacy 1989). O baixo valor encontrado para o
avalo do Sorraia revela, deste modo, que uma importante fracção da variabilidade
enética inicial foi perdida ao longo dos vários anos da sua história como consequência
as diferentes contribuições dos fundadores para a população descendente. Apesar de
duzida, a proporção entre fe e o número total de fundadores é, ainda assim, bastante
perior à registada por Valera et al. (2005) no cavalo Pura-Raza-Española e por
ervantes et al. (2008) no cavalo Árabe Espanhol, para os quais foram obtidos, embora
m genealogias um pouco mais profundas, valores de fe de apenas 39,6 e 38,6 para um
úmero inicial de fundadores superior a 1000. Valores bastante reduzidos
Q
calculados para a totalidade da população.
Dos 653 animais que integram a população total, 13 foram identificados como
fundadores, desconhecendo-se a identidade dos seus progenitores. Apesar de pertencer a
u
R
d
c
re
7
in
d
C
g
d
re
su
C
e
n
57
comparativamente ao número inicial de fundadores foram igualmente obtidos para
opulações de referência analisadas noutras raças domésticas, nomeadamente no caso
corte espanholas (Gutiérrez et al.
003) e italianas (Bozzi et al. 2006), independentemente da qualidade da informação
genealógica disponível e do número de gerações decorridas. O mesmo foi observado
por Mour ualquer uma das 5 populações de referência estudadas,
representantes de 5 diferentes raças equinas francesas. Um panorama idê
Sorraia fo l. (2005) para a raça burro Catalão, tendo sido
obtido, c s profunda, um fe de 70,6 para uma
população completamente desconhecida e 37 para os
quais se c enitores.
ética inicialmente presente na população base. Em
ondições ideais, de forma a promover a retenção do maior número de alelos presentes
p
da ovelha Xalda das Astúrias (Goyache et al. 2003), na raça bovina Mertolenga
(Carolino et al. 2004) ou em diversas raças de gado de
2
eaux et al. (1996) em q
ntico ao da raça
i descrito por Gutiérrez et a
onsiderando uma genealogia meno
com 128 animais de ascendência
onhece apenas um dos prog
O objectivo fundamental de um programa de gestão genética é a preservação, na maior
extensão possível, da diversidade gen
c
no pool genético inicial, contribuições equivalentes deveriam ser proporcionadas a cada
um dos animais fundadores (iguais ao valor de paridade7), não existindo animais sobre-
representados em detrimento de outros, menos representados (Frankham 2002). O valor
de fe da população atingiria, assim, o seu valor máximo, igualando o número total de
fundadores iniciais (Lacy 1989). A Figura 26 ilustra a fracção da população total que é
explicada por cada um dos animais fundadores da raça Sorraia. Justificando o baixo
valor de fe encontrado para a população, verifica-se que os valores associados a estes
animais são, de facto, bastante divergentes. Traduzindo o referido desequilíbrio,
verifica-se que os 3 indivíduos mais representados – Gaivota, Baio e Cunhal – são
responsáveis por aproximadamente 52% da variabilidade genética total, enquanto que a
restante diversidade se deve aos 10 fundadores remanescentes.
Observando o mesmo gráfico, verifica-se, também, que a contribuição do Vigilante, o
garanhão de raça Alter Real inserido neste grupo pelas razões anteriormente
mencionadas, é bastante reduzida (0,48%). Do seu cruzamento com Freire (uma das
7 Calculado como o inverso do número total de fundadores (1/f), é a fracção de material genético que
corresponde à contribuição ideal destes animais para a população em estudo (e.g. Frankham et al. 2004).
58
éguas fundadoras), pouco tempo após a recuperação da raça, resultou uma linha de
descendência composta por apenas 13 animais e que cedo se extinguiu, não se
encontrando representada na população viva actual (Figura 26).
Gaivota22,61%
Baio
C
Cigana8,54%
Anselma0,23%
Freire0,48%
Vigilante0,48%
Tata Dios Cardal8,19%
Raposo7,12%
Azambuja6,53%
Desconhecido2,27%Garrana (Tolosa)
3,18%
Pomba (Pintassilga)
18,47%
unhal11,11%10,79%
genética praticada na raça ao longo da sua história,
Figura 26. Contribuição genética dos animais fundadores para a totalidade da população da raça Sorraia.
A discrepância entre os valores encontrada para a raça Sorraia é uma realidade que, de
forma semelhante, caracteriza muitas outras raças equinas. No caso do cavalo Andaluz,
Valera et al. (2005) verificaram que os 10 fundadores mais influentes são responsáveis
por mais de 40% da diversidade presente na população total (o mais representado a
contribuir com 8,19%), explicando o baixo valor de fe registado comparativamente ao
número total de fundadores. Para a população de referência da raça Lipizzaner,
analisada por Zechner et al. (2002), apenas 19 dos 457 animais identificados como
fundadores são necessários para explicar aproximadamente 50% do pool genético total
(a maior contribuição a atingir os 6,66%), tendo sido determinado para este conjunto de
565 animais (alguns com 32 gerações conhecidas) um fe igual a 48,2.
Resultado da desajustada gestão
verifica-se na população viva actual a representação de apenas 10 dos fundadores
iniciais, tendo-se perdido, de forma irreversível, a contribuição das fundadoras Anselma
e Freire, para além da do Vigilante, já referida (Figura 27).
59
Cigana8,82%Garrana (Tolosa)
2,75%
Pomba (Pintassilga)9,66%
Azambuja6,22%
Cunhal11,56%
Baio17,21%
Tata Dios Cardal9,55%
Figura 27. Contribuição genética dos animais fundadores para a população viva da raça Sorraia.
De acordo com Boichard et al. (1997), o número efectivo de ancestrais (fa) calculado
ão necessariamente fundadores) que explicam a total diversidade genética de uma
opulação, este parâmetro tem em conta a perda de variabilidade associada à
lugar surge uma
gua – Borboleta (17) – mas a sua contribuição para a população (16,91%) é
Desconhecido1,96%
Raposo7,28%
Gaivota25,00%
para a população de referência foi de 4. Representando o número mínimo de ancestrais
(n
p
desequilibrada utilização de indivíduos reprodutores ao longo das gerações e que
conduz ao que se designa por “efeito de gargalo”8. Seguindo esta metodologia, a total
variabilidade genética da raça Sorraia é explicada por apenas 15 ancestrais, alguns dos
quais fundadores, e somente 2 indivíduos são necessários para explicar 50% desta
diversidade. No Quadro 5 encontram-se descritos os valores de contribuição associados
a cada um destes animais, assim como as principais informações que os caracterizam.
Nascidos ao longo das décadas de 30 e 40, integram a referida lista 10 fêmeas e 5
machos, todos provenientes da coudelaria inicial, a coudelaria Andrade. Um garanhão
nascido em 1948, Manco, é, sem margem para dúvidas, o ancestral mais representado
na raça, explicando 43,48% da respectiva diversidade. Em segundo
é
consideravelmente inferior à anterior. Apresentando a quarta maior contribuição
(7,82%), Baio é o primeiro fundador a surgir nesta sequência e, ocupando posições
menos relevantes, Pomba (Pintassilga), Tata Dios Cardal, Gaivota, Raposo, Cigana e
o atribuído à súbita redução do tamanho de uma população que tem como consequências a perda
e alelos (especialmente os raros), redução da variabilidade genética e mudanças aleatórias nas
equências alélicas (e. g. Frankham et al. 2004).
8 Term
d
fr
60
Anselma
ancestrais d
Nome Sexo Ano Nascimento Coudelaria Contribuição (%)
completam o grupo de fundadores que podem ser encontrados na lista dos
a raça Sorraia.
Quadro 5. Descrição dos ancestrais responsáveis pela total diversidade genética da raça Sorraia,
identificados de acordo com a metodologia proposta por Boichard et al. (1997). Os animais fundadores
encontram-se assinalados a negrito.
A Figura 28 indica, graficamente, a proporção de variabilidade genética explicada pelo
conjunto de ancestrais indicado no eixo das abcissas. Como pode ser facilmente
visualizado, e já referido no Quadro 5, os dois ancestrais de maior contribuição são
responsáveis por mais de 60% da diversidade genética da população da raça Sorraia
(contribuição total = 60.39%), enquanto que apenas 4 são necessários para explicar 80%
desta variabilidade.
1 Manco M 1948 Andrade 43,48
2 Borboleta 17 F 1946 Andrade 16,91
3 Engeitada II 29 F 1949 Andrade 13,51
4 Baio M 1936 Andrade 7,82
5 Vassoura F 1937 Andrade 4,31
6 Pomba (Pintassilga) F 1933 Andrade
8 Engeitada 2 F 1939 Andrade 1,95
3,31
7 Esponja F 1938 Andrade 2,29
9 Garrano M 1938 Andrade 1,94
10 Tata Dios Cardal M 1942 Andrade 1,45
11 Gaivota F 1936 Andrade 1,17
12 Caraça F 1939 Andrade 0,66
13 Raposo M 1934 Andrade 0,65
14 Cigana F 1933 Andrade 0,47
15 Anselma F 1935 Andrade 0,08
61
90
100
00 1
10
20
30
60
7
80
2 3 5 6 8 9 10 13 14
Núme cestrais
Varia
bilid
ade
gené
tica
(%)
Fi 2 tica ulativa dos ancestrais os para Sorraia
(a ntados p escente importância pool gené ulação tot
T ém par alos de a Árabe hol e An nálise a el dos
ancestrais, realizada considera o a totalid a populaç a revela
significativa ilidade ética resu do uso d e reprodutores
880 animais registados no Studbook do cavalo Árabe
spanhol, 994 foram identificados como os ancestrais responsáveis pela total
iversidade genética da raça (7 dos quais a explicarem 50% desta diversidade) tendo
pizzaner, apesar de detectado um valor de fa ligeiramente superior
(26,2), Zechner et al. (2002) verificaram que, à semelhança do que acontece com as
raças anteriores, metade da diversidade encontrada na população de referência em
análise se deve à contribuição de um reduzido número de ancestrais (8), a maior das
quais a atingir os 10,74%. Em qualquer um destes estudos, o número efectivo de
ancestrais calculado representa cerca de ½ do número efectivo de fundadores
40
50
0
4 7 11 12 15
ro de an
váriosgura 8. Contribuição gené cum identificad a raça
prese or ordem decr de ) para o tico da pop al.
amb a os cav raç Espan daluz a a o nív
nd ade d ão, veio r uma perda
de variab gen ltante esequilibrado d
ao longo dos vários anos da sua história, tendo sido detectados, para qualquer um dos
casos, valores de fa inferiores a 20 (19 e 16,5, respectivamente) (Cervantes et al. 2008;
Valera et al. 2005). Dos 18
E
d
sido encontrado um valor de contribuição aproximadamente igual a 14% para o
ancestral de maior influência (Cervantes et al. 2008). Já no caso do cavalo Andaluz, o
principal ancestral é responsável por cerca de 16% dos genes encontrados no pool
genético da população, sendo que 6 dos 331 ancestrais reconhecidos de acordo com o
método de Boichard et al. (1997) explicam metade desta variabilidade (Valera et al.
2005). Para a raça Li
62
previam et
al.
e fe
determ tal
lado
um f ais em
fenóm , os
o como
onsequência directa a diminuição dos valores de heterozigotia presentes na população
ente estimado. Uma diferença mais significativa foi encontrada por Gutiérrez
(2005) para os 510 animais inscritos no Studbook do burro Catalão, tendo sido
obtido um valor de fa igual a 27 (aproximadamente 3 vezes inferior ao valor d
inado para esta população), com 11 dos 93 ancestrais a explicar 50% da to
variabilidade. No caso da raça ovina Xalda das Astúrias, para a população de referência
analisada por Goyache et al. (2003), 236 indivíduos foram reconhecidos como
ancestrais (13 responsáveis por 50% dos genes da população total), tendo sido calcu
a de 40,2 animais. Carolino et al. (2004) descrevem, para o conjunto de anim
análise referentes à raça bovina Mertolenga, um fa de apenas 85 ancestrais.
Nas populações fechadas de efectivo reduzido, a ocorrência de consanguinidade é um
eno frequente e praticamente inevitável uma vez que, com o passar do tempo
animais se vão tornando, de alguma forma, aparentados entre si, impossibilitando os
cruzamentos entre reprodutores sem qualquer tipo de parentesco. Tend
c
em estudo, a consanguinidade determina uma redução dos índices de fertilidade e de
sobrevivência dos descendentes, sobretudo dos juvenis (depressão consanguínea),
agravando, deste modo, a diminuição do efectivo e a capacidade de evolução da
população em resposta a possíveis alterações ambientais e aumentando, por
conseguinte, o risco de extinção a ela associado (Frankham 2002). Constituindo uma
medida que permite avaliar a referida perda de heterozigotia, ao representar a
probabilidade de um indivíduo apresentar alelos idênticos por descendência num
mesmo locus, provenientes de um ancestral comum, o coeficiente de consanguinidade
(F) é um dos parâmetros mais importantes no âmbito da gestão das populações, sendo
utilizado tanto por investigadores como pelos próprios criadores, especialmente no
momento de planear os cruzamentos a promover em cada época de reprodução. No caso
da raça Sorraia, o pequeno número de fundadores associado ao reduzido efectivo que
sempre caracterizou a população e a desadequada utilização dos animais reprodutores
ao longo das gerações justificam os elevadíssimos e invulgares níveis de
consanguinidade encontrados para a sua população. O valor de F médio encontrado
considerando a totalidade do pedigree foi de 26,99% (27,54% se excluirmos os 13
fundadores iniciais), um valor que em muito supera os 3,42%, 7,0%, 8,48% e 9,03%
(calculado considerando 9 gerações) previamente relatados para as raças equinas Losina
(Valera et al. 2004), Árabe Espanhol (Cervantes et al. 2008), Pura-Raza-Española
63
(Valera et al. 2005) e Puro-Sangue-Lusitano (Costa-Ferreira & Oom 1989) ou os
1,54%, 1,94%, e 3,36%, encontrados para as populações de raça ovelha Xalda das
Astúrias (Goyache et al. 2003), ovelha Galega (Adán et al. 2007) e burro Catalão
(Gutiérrez et al. 2005). Contudo, apesar da diferença entre os valores ser, efectivamente,
bastante expressiva, o coeficiente de consanguinidade é um parâmetro que em muito
está dependente de factores como a profundidade e a qualidade do pedigree disponível
para análise, pelo que, tendo em conta as diferentes conjunturas associadas a cada raça
em particular, a comparação entre os resultados deverá ser feita de forma cuidada e
consciente. De facto, o elevado nível de conhecimento do pedigree que caracteriza a
a Sorraia poderá, em alguns casos, ser responsável pelo acentuar das discrepâncias raç
encontradas no que se refere ao valor de F apurado por outros autores já que este
parâmetro estará muito provavelmente subestimado nas raças cuja informação
genealógica não se encontra tão completa.
A Figura 29 evidencia a evolução do coeficiente de consanguinidade médio dos animais
registados no Studbook da raça Sorraia em função do respectivo ano de nascimento. A
estratégia de reprodução adoptada durante grande parte da sua história teve como
resultado o aumento acentuado dos valores médios de F ao longo dos vários anos de
registo, atingindo um máximo de 44,63% para os animais nascidos em 1999. No
entanto, e sobretudo face aos esforços desenvolvidos pela Associação de Criadores do
Cavalo do Sorraia no sentido de minimizar o aumento deste parâmetro na população,
verifica-se uma certa tendência para a redução do coeficiente médio nos anos mais
recentes, mantendo-se, apesar de tudo, em níveis que em muito superam os valores
encontrados na literatura para as mais diversas raças. Nesta figura estão também
representadas as percentagens de animais consanguíneos encontradas para cada um dos
anos de registo. Os 5 primeiros anos decorridos após o início da recuperação da raça são
caracterizados pela ausência de nascimentos consanguíneos, a maioria dos quais fruto
de cruzamentos entre os animais fundadores, facto que manteve o valor médio de F no
estado nulo durante o designado período. É a partir do ano de 1942 que começam a
surgir animais consanguíneos na população da raça Sorraia, animais estes que se vão
tornando cada vez mais frequentes ao longo dos anos até se verificar, a partir da década
de 60, que a totalidade dos nascimentos registados se encontram associados a maiores
ou menores índices de endogamia.
64
Animais consanguíneos F
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
1937
1940
1943
1946
1949
1952
1955
1958
1961
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
2003
2006
Ano de registo
%
Figura 29. Evolução dos valores médios de F (%) calculados para os animais nascidos em cada ano de
registo da raça e percentagem de nascimentos consanguíneos que caracterizam cada um destes anos.
om o objectivo de averiguar quais as gamas de valores de F mais comuns na
ais de sexo indeterminado presentes na
C
população em análise, foi elaborada uma tabela de frequências com a distribuição dos
animais registados no Studbook por intervalo de consanguinidade (fundadores não
incluídos), discriminando o número de machos e de fêmeas a integrar cada uma das
classes (Quadro 6). Dos 640 indivíduos considerados para análise, apenas 52 (8,13%)
são animais não-consanguíneos enquanto que a grande maioria da população (65,78%)
regista coeficientes de consanguinidade superiores ou iguais a 25%. A proporção de
machos e de fêmeas encontrada por classe de F é muito semelhante aos valores de
percentagem determinados para a totalidade da população, não tendo sido detectadas
grandes diferenças entre os sexos para a maior parte dos intervalos considerados. As
maiores discrepâncias entre os dois grupos foram detectadas para a classe dos animais
não-consanguíneos (em que o número de fêmeas é aproximadamente o dobro do
número de machos) e para o intervalo 12,5% ≤ F < 25,0%. Também os valores médios
de coeficiente de consanguinidade calculados para as populações de machos e de
fêmeas e para a população total se encontram muito próximos entre si, tendo sido
estimadas percentagens de 28,53%, 26,57% e 27,54%, respectivamente. Diferenças
idênticas foram encontradas por Goyache et al. (2003) na ovelha Xalda das Astúrias
(2,01% para os machos e 1,45% para as fêmeas) e por Gutiérrez et al. (2005) no burro
Catalão (4,05% para os machos e 2,88% para as fêmeas). Para finalizar a análise em
causa é importante referir que os dois anim
65
p opulação em estudo apresentam, também eles, elevados índices de consanguinidade,
com valores de 27,46% e 37,57%.
População total Machos Fêmeas Vivos F (%)
N % N % N % N % 0 52 8,13 18 5,81 34 10,37 0 0
[0,10 - 6,25[ 23 3,59 11 3,55 12 3,66 0 0 [6,25 - 12,5[ 22 3,44 10 3,23 12 3,66 0 0 [12,5 - 25,0[ 122 19,06 67 21,61 55 16,77 6 2,91
≥ 25 421 65,78 204 65,81 215 65,55 200 97,09 Total 640 100 310 100 328 100 206 100
Quadro 6. Frequências absolutas e relativas (%) de animais de raça Sorraia encontradas para cada uma
das classes de consanguinidade indicadas na coluna F (%). Apenas os animais com os dois pais
conhecidos foram incluídos para análise.
No estudo realizado por Cervantes et al. (2008) para o cavalo Árabe Espanhol, as
frequências encontradas para cada uma destas classes são bastante diferentes quando
comparadas com as da raça Sorraia, com 26,5% dos animais a não apresentarem
qualquer tipo de consanguinidade e 55,7% com valores de F inferiores a 12,5%. Já no
cavalo de raça Losina, face ao reduzido número de gerações decorridas desde o início
da sua recuperação, a grande maioria dos animais surge na classe dos não-
consanguíneos e apenas 27,44% do efectivo total apresenta valores não nulos (Valera et
al. 2004). No caso do cavalo Andaluz (Valera et al. 2005), cerca de 93% da população
analisada é endogâmica, um valor semelhante ao encontrado na raça Sorraia e bastante
mais elevado que os 26,9% e os 10,7% detectados para o burro Catalão (Gutiérrez et al.
2005) e ovelha Xalda das Astúrias (Goyache et al. 2003), respectivamente.
Uma perspectiva mais detalhada da distribuição dos indivíduos da população total da
raça Sorraia por classe de coeficiente de consanguinidade é dada na Figura 30 onde
estão representados os números de animais encontrados para cada valor de F em
particular. Como pode ser facilmente observado, uma grande fracção da população total
da raça Sorraia é caracterizada por coeficientes de consanguinidade que ultrapassam os
40%, sendo 27% o valor mais frequente entre os animais (34 casos). O F máximo
encontrado para esta população foi de 60%, um valor efectivamente muito elevado e
pouco comum face aos efeitos nefastos que normalmente lhe estão associados.
66
60
0
10
20 de
30
50
5 0 20 5 35 40 5 55
F (%)
ani
mai
s 40
0 1 15 2 30 45 0 60
N.º
Figura 30. Distribuição dos animais registados no Studbook da raça Sorraia em função do valor de
coeficiente de consanguinidade apresentado (fundadores não incluídos).
Se tivermos em consideração os resultados obtidos apenas para a população viva,
verificamos que em praticamente todos os casos se registam valores de consanguinidade
iguais ou superiores a 25%, tendo sido obtido um nível médio de 36,9% (38,13% para
os machos e 35,9% para as fêmeas). Na Figura 31 encontra-se ilustrada a distribuição
destes animais por cada um dos intervalos indicados, a partir da qual é possível verificar
os valores extremamente elevados que caracterizam estes indivíduos.
64317
36
1
40
37
53
[12,5 - 25,0[
[25,0 - 30,0[
[30,0 - 35,0[
[35,0 - 40,0[
[40,0 - 45,0[
[45,0 - 50,0[
[50,0 - 55,0[
[55,0 - 60,0[
[60,0 - 65,0[
A variação do valor médio de consanguinidade por número de gerações parentais
incluídas no respectivo cálculo encontra-se ilustrada na Figura 32. Tal como se pode
verificar, uma forte tendência para o aumento de F foi detectada durante a inclusão das
primeiras 7 gerações parentais, atingindo neste patamar um valor bastante elevado
Figura 31. Distribuição dos animais vivos da raça Sorraia por intervalo de coeficiente de
consanguinidade (em percentagem).
67
(aproximadamente 27%) que permaneceu praticamente inalterado à medida que novas
gerações foram sendo adicionadas. Estes resultados demonstram o efeito que um
conhecimento genealógico mais profundo pode exercer sobre o coeficiente de
consanguinidade de uma população, evidenciando os benefícios de incluir no
respectivos cálculos o maior número de gerações disponível. A mesma recomendação é
feita por Costa-Ferreira & Oom (1989) depois de analisados os resultados obtidos no
estudo ao nível da consanguinidade realizado no cavalo de raça Lusitana. A
estabilização dos valores de F a partir da 7ª geração observada na Figura 13 dever-se-á,
em grande parte, ao acentuar das lacunas presentes nas genealogias dos indivíduos, que
são pouco profundas, impossibilitando a detecção de mais ancestrais comuns cuja
s
e para distinguir se a
onsanguinidade de uma população é de origem antiga ou se, pelo contrário, tem uma
as presente nos
nimais mais recentes. Este comportamento denuncia a previamente descrita prática de
cruzam
sde o início da
sua recupe
existência está na base do cálculo deste parâmetro. Adicionalmente, este tipo de análise
poderá constituir uma ferramenta de grande utilidad
c
génese mais recente. No caso da raça Sorraia, a diferença entre os valores de F
calculados tendo em conta o maior ou menor número de gerações parentais evidencia a
origem remota da consanguinidade nesta população, verificando-se, desde logo, um
aumento acentuado dos valores com a inclusão de um número muito reduzido de
gerações na análise, os quais se vão mantendo praticamente inalterados à medida que no
cálculo vai sendo considerado um maior número de gerações, apen
a
entos entre animais fortemente aparentados entre si logo após a fundação da
população, resultado das condições particulares associadas a esta raça de
ração.
0
15
20
25
30
F (%)
5
10
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Geração
Figura 32. Valores médios de consanguinidade calculados para a população de referência do Cavalo do
Sorraia (animais com pais conhecidos) de acordo com o número de gerações parentais consideradas para
o respectivo cálculo.
68
Sendo um dos parâmetros mais utilizados nos últimos anos nos estudos destinados à
caracterização da variabilidade genética das populações, o coeficiente de relação média
(AR) constitui uma ferramenta de grande utilidade no âmbito da gestão de raças já que,
ao indicar a representação de um animal no pedigree em análise, poderá ser usado como
uma forma de manter o stock genético inicial, permitindo seleccionar como reprodutores
os animais que apresentam os valores mais reduzidos (Gutiérrez & Goyache 2005). O
valor médio de AR encontrado para a totalidade da população da raça Sorraia foi de
46,26%. Acompanhando a tendência observada para o caso dos coeficientes de
consanguinidade médios ao longo da história da raça, um aumento progressivo do AR
médio por ano de nascimento foi detectado na referida população (Figura 33), com um
máximo de 56,54% a ser atingido para animais nascidos em 1999. Verifica-se, contudo,
uma certa estabilização desta linha a partir do início da década de 70, período durante o
qual se registaram percentagens que oscilaram entre os 49,41% e o valor máximo
anteriormente mencionado. No caso particular dos indivíduos fundadores, ao fornecer as
percentagens da contribuição genética de cada um no pedigree da população total a que
deram origem (Gutiérrez & Goyache 2005), o cálculo do parâmetro AR poderá permitir
ao criador equilibrar as contribuições a eles associadas, quer através do fundador em si,
se ainda se encontrar vivo, quer através dos seus descendentes (Goyache et al. 2003).
No caso do Cavalo do Sorraia, as contribuições associadas aos fundadores da raça
encontram-se ilustradas na Figura 7, cuja soma perfaz, tal como seria de esperar, os
100% que correspondem à totalidade da população.
0
10
20
30
40
50
1937
2003
2006
AR
(%)
60
1940
1943
1946
1949
1952
1955
1958
1961
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
Ano de registo Figura 33. Evolução dos valores médios de AR (%) calculados para os animais nascidos em cada um dos
anos de registo da raça desde a fundação da população, em 1937, até 31 de Dezembro de 2006.
69
A distribuição dos animais registados no Studbook da raça Sorraia por intervalo de AR é
apresentada na Figura 34. Analisando as colunas referentes à população total, verifica-
se que a vasta maioria dos indivíduos (67%, cerca de 2/3 do total) exibe índices de AR
entre os 50% e os 60%, sendo o intervalo 30% ≤ AR < 40% o segundo mais
representado com 67 animais incluídos. Dos 653 animais presentes no ficheiro em
análise, apenas 19 (aproximadamente 3% do total) integram o grupo dos animais com
menores índices de AR, o que bem demonstra o elevado grau de relação média que
caracteriza os indivíduos da raça Sorraia. A comparação entre os resultados obtidos para
machos e fêmeas, em particular, permite detectar algumas diferenças entre os dois sexos
no que se refere à distribuição dos animais por classe de AR, tendo sido encontrados
valores médios de 47,3% e 45,2%, respectivamente. De facto, a proporção de machos
associada aos 3 intervalos de AR de índice mais elevado é superior à encontrada para a
população de fêmeas (87% contra 81%), a qual conta com uma maior percentagem de
animais a exibir coeficientes de relação médios inferiores a 10% (Figura 35). Tal como
acontece no caso dos coeficientes de consanguinidade, os 2 animais cujo sexo não foi
determinado pertencem ao grupo que engloba os maiores valores de AR, para os quais
foram obtidas percentagens de 56,9% e 57,0%. Considerando os valores obtidos a título
individual, o AR máximo detectado na população da raça Sorraia foi de 59,72%, um
coeficiente que se encontra associado a um dos principais garanhões da raça, Serreiro
(283), do qual descendem 34 indivíduos.
0
50
0
0
0
0
0
0
0
[0 - 10[ [10 - 20[ [20 - 30[ [30 - 40[ [40 - 50[ [50 - 60[
AR (%)
10
15
20
25
30
35
40
450
500
N
População total Machos Fêmeas Sexo desconhecido População viva
Figura 34. Distribuição dos animais registados no Studbook da raça Sorraia por cada classe de AR,
considerando a totalidade da população, cada um dos sexos, em particular, e apenas a população viva.
70
Fêmeas
4% 7%8%
7%
8%66%
Machos
2% 6% 4%
13%
5%70%
[0 - 10[ [10 - 20[ [20 - 30[ [30 - 40[ [40 - 50[ [50 - 60[
Figura 35. Proporções de machos e de fêmeas encontradas em cada um dos intervalos de AR
considerados.
À semelhança do que foi previamente descrito no âmbito da análise dos coeficientes de
consanguinidade que caracterizam a raça Sorraia, os 46,26% encontrados como o valor
médio de AR para a população total deste cavalo superam, em grande escala, as
percentagens obtidas em diversas outras raça, tanto equinas como relativas a outras
espécies. Como exemplos elucidativos podem ser referidos os 12,25% encontrados por
Valera et al. (2005) no cavalo Andaluz, os 9,1% obtidos por Cervantes et al. (2008) no
cavalo Árabe Espanhol, os 3,76% (4,45% para os machos e 3,27% para as fêmeas)
descritos por Gutiérrez et al. (2005) para o caso do burro Catalão, os 1,79% (2,60% para
os machos e 1,64% para as fêmeas) que caracterizam a ovelha Xalda das Astúrias
(Goyache et al. 2003) ou os 0.63% detectados por Adán et al. (2007) para o pedigree
total da ovelha Galega. Na raça bovina Mertolenga, Carolino et al. (2004) encontraram,
para a população de referência analisada, um valor médio de 31,4% entre animais
pertencentes à mesma exploração e de 1,7% entre os animais de diferentes núcleos.
No caso da população viva, verificou-se que todos os 206 animais que integram o
efectivo actual apresentam índices de AR iguais ou superiores a 50%, tendo sido
encontrado um valor médio de 55,11% (55,25% para os machos e 55% para as fêmeas)
e um valor máximo de 59,17%.
Para além de constituir um eficaz indicador para a escolha dos reprodutores que
permitam a máxima preservação da variabilidade genética ainda presente na população
o parâmetro AR poderá ainda ser utilizado como alternativa ou complemento aos
,
71
resultados obtidos através do cálculo de F como forma de prever a tendência a longo
72
prazo da consanguinidade nestes grupos de animais (Gutiérrez & Goyache 2005).
ssim, sempre que numa determinada população são detectados elevados valores de
R, mais cuidado e sustentado deverá ser o planeamento dos cruzamentos a promover
m cada uma das épocas de reprodução de modo a evitar a utilização de animais que se
ncontrem de alguma forma relacionados entre si, atenuando, portanto, o incremento
os níveis médios de consanguinidade (Goyache et al. 2003). Esta relação entre os
arâme o seria de
etectados aumentos no F médio dos animais depois de observado um
umento do índice médio de AR nos anos de registo imediatamente anteriores. Assim,
A
A
e
e
d
p tros F e AR presentes numa população pode, efectivamente, e com
esperar, ser verificada a partir dos resultados obtidos para o caso do Cavalo do Sorraia,
tendo sido d
a
aos animais com baixo valor de AR deverá ser dada prioridade na reprodução, visto que,
ao serem menos aparentados com os outros animais da população, encerrarão material
genético mais raro e, ao promovermos a reprodução entre si, não só podemos perpetuá-
la como, simultaneamente, produziremos descendentes menos consanguíneos.
A Figura 36 ilustra a distribuição dos animais vivos da raça Sorraia por classe de
coeficiente médio de parentesco (mean kinship) (mK). Tal como seria de esperar,
encontrara-se valores de mK bastante elevados (a maioria incluída no intervalo 0,315-
0,338), tendo sido estimado um valor médio de 0,340.
Figura 36. Distribuição dos animais que integram a população viva da raça Sorraia por intervalo de
coeficiente médio de parentesco (kinship) – mK.
Representando a intensidade com que um animal se encontra relacionado com todos os
indivíduos da população, incluindo ele próprio, o mK é um dos mais importantes
parâmetros que podem ser utilizados na gestão de uma população em cativeiro, como é
o caso da população da raça Sorraia, uma vez que a sua minimização constitui o método
mais recomendado para o estabelecimento de uma gestão genética eficaz (Frankham et
al. 2004). Valores mais baixos para este coeficiente revelam a maior raridade da
composição genética dos indivíduos, permitindo estabelecer uma adequada estratégia
reprodutiva de forma a garantir a máxima retenção da diversidade genética e a
minimização da consanguinidade da população, através da selecção como reprodutores
dos animais que apresentem os menores índices para este coeficiente (Oom 2006).
73
4. Conclusão Fundamental para o delineamento de programas de gestão adequados e eficazes, a
monitorização regular dos diversos índices genéticos e demográficos que caracterizam
uma população ameaçada constitui um dos pontos-chave no contexto da respectiva
estratégia conservacionista (United Nations Treaty Series 1993; FAO/UNEP 1998; FAO
2007). Com o desenvolvimento de diversas metodologias e parâmetros de análise
genealógica observado ao longo dos últimos anos, esta tem vindo a tornar-se uma
ferramenta cada vez mais utilizada pelos investigadores na caracterização das
populações quer seja de forma isolada ou complementando os resultados obtidos ao
ível molecular (Caballero & Toro 2000; Carolino & Gama 2002; Gutiérrez & Goyache
005; Gutiérrez et al. 2005).
ecorrendo ao ENDOG v.4.0 (Gutiérrez & Goyache 2005), um software de genética
opulacional essencialmente desenvolvido para analisar a informação genealógica de
opulações ameaçadas, pretendeu-se com este trabalho obter uma caracterização
enética e demográfica da população da raça Sorraia, particularizando, em alguns
spectos mais relevantes, a informação sobre o conjunto de indivíduos que integram
ctualmente o respectivo efectivo vivo. Em concordância com os vários resultados
reviamente obtidos ao nível molecular, quer seja a partir do estudo de grupos
nguíneos e de polimorfismos bioquímicos (Oom & Cothran 1994), de mtDNA (Luís
t al. 2002a), de microssatélites (Luís et al. 2002b; Luís et al. 2007b) e de genes MHC
ajor histocompatibility complex) (Luís et al. 2005), os resultados encontrados neste
abalho denunciam o reduzido grau de diversidade genética associado a esta população,
cto que pode colocá-la em risco de sobrevivência no futuro. O cenário encontrado
eve-se, essencialmente, ao reduzido efectivo que caracteriza esta raça, associado ao
cto de ter sido originada a partir de um reduzido número de fundadores (sem novas
troduções desde então) e com uma desequilibrada utilização dos garanhões ao longo
os vários anos de reprodução (Oom 2006). As inapropriadas práticas de maneio
doptadas durante grande parte da sua história justificam os baixos valores de fe (7,46) e
e fa (4) encontrados para a totalidade da população, com apenas 15 ancestrais a serem
ecessários para explicar a total diversidade destes animais e verificando-se uma
esequilibrada representação dos indivíduos fundadores no pool genético total.
ontrariamente ao que deve acontecer de forma a garantir a máxima retenção da
n
2
R
p
p
g
a
a
p
sa
e
(m
tr
fa
d
fa
in
d
a
d
n
d
C
74
variabilidade genética ao longos das várias gerações, observa-se na raça Sorraia uma
lara discrepância relativamente à proporção de animais utilizados para fins c
reprodutivos (apenas 36,1%), diferença que se enfatiza se consideramos cada sexo em
separado, uma vez que, enquanto que 52,2% das fêmeas se tornaram reprodutoras,
somente 19,3% dos machos produziram algum tipo de descendência. A situação torna-
se ainda mais grave se olharmos para o número de descendentes associada a cada um
destes indivíduos, com um pequeno grupo de reprodutores a ser responsável por proles
bastante numerosas. Os elevados valores médios de F e de AR encontrados para esta a
raça (26,99% e 46,26%, respectivamente) distanciam-se, em muito, dos valores
previamente reportados para diversas outras raças equinas, e não só, sendo o reflexo
directo da ocorrência de cruzamentos entre animais aparentados que, desde muito cedo,
se verifica nesta população.
Com o aparecimento da Associação de Criadores do Cavalo Ibérico de Tipo Primitivo –
Sorraia, em meados da década de 90, várias acções têm vindo a ser desencadeadas no
sentido de promover a continuidade desta raça de cavalo tão invulgar, medidas que se
têm reflectido num ligeiro mas positivo progresso dos parâmetros genéticos e
demográficos da raça (Oom 2006). Para além de um aumento no número de registos ao
longo dos últimos anos, verifica-se, ainda, uma diminuição dos índices médios de
consanguinidade nos nascimentos mais recentes e uma estabilização dos respectivos
valores de AR.
Tal como seria esperado face aos resultados anteriormente descritos, o cenário
encontrado para os 206 animais que integram o efectivo actual da raça Sorraia é
particularmente grave e pouco frequente em populações deste tipo. As contribuições
genéticas dos fundadores para o pool genético da população viva é muito
desequilibrada, tendo inclusivamente sido definitivamente perdida a representação de
alguns destes animais na população actual. Esta situação encontra-se igualmente
reflectida por elevadíssimos valores individuais de F e AR que atingem um nível médio
de 36,9% e 55,11%, respectivamente. Deste grupo de indivíduos, cerca de 97%
apresenta valores de F iguais ou superiores a 25%, os quais se distribuem por classes de
consanguinidade que podem mesmo atingir percentagens superiores a 60%. Também os
valores de AR encontrados para estes animais se afiguram bastante elevados, não
havendo registo de casos com coeficientes de relação média inferiores a 50%, o mesmo
75
acontecendo com os índices de mK, cujo valor médio encontrado foi de 34%. O número
efectivo de fundadores (fe) obtido para esta população foi de apenas 2,43.
Com este trabalho, novas análises de índole demográfica e genética foram pela primeira
vez conduzidas na raça Sorraia a partir do programa ENDOG v.4.0, nomeadamente a
importância genética das coudelarias para a população em estudo (Vassalo et al. 1986),
o número efectivo de ancestrais (Boichard et al. 1997) e o coeficiente de relação média
(AR) (Goyache et al. 2003; Gutiérrez et al. 2003). Não podendo ser encontradas nos
programas anteriormente utilizados para a análise dos dados genealógicos desta raça,
estas novas funções permitiram obter um conjunto de resultados que constituem um
importante complemento a todos aqueles que foram previamente descritos, tornando,
deste modo, a gama de dados final bem mais completa e informativa quanto ao estado
esta população tão peculiar. d
76
1. Importância da divulgação no âmbito da conservação de uma raça ameaçada
Estabelecido como ponto essencial na Convenção sobre a Diversidade Biológica, a
nsibilização da opinião pública para a importância da conservação, gestão e uso
stentável da biodiversidade e das medidas necessárias à concretização destes
ropósitos constitui uma tarefa de reconhecida importância nos dias que correm
ecretariat of the Convention on Biological Diversity 2005). Este esforço adquire
special relevância se estivermos perante uma raça que se encontre de alguma forma
eaçada já que a eficácia de qualquer programa de conservação está fortemente
pendente, não só do interesse manifestado ao seu redor, como também do
consequente envolvimento da comunidade local, nacional ou, até mesmo, internacional
O/UNEP 1998; FAO 2007). Na actualidade, várias são as ferramentas de divulgação
e se encontram disponíveis para fazer chegar a mensagem pretendida aos seus mais
diversos destinatários e, neste contexto, a publicação de artigos científicos em revistas
os progressivos avanços alcançados na área da informática, a
blicação de matérias em formato electrónico tornou-se um dos mais utilizados meios
de divulgação (FAO/UNEP 1998). O expoente máximo foi atingido com o
arecimento da Internet que, ao permitir a consulta de todo o tipo de informação de
ples, célere e de baixo custo, representa, hoje em dia, um excepcional modo
para a difusão de
Como raça indígena e dado o patrimó
acções destinadas à divulgação do Ca
preservação e continuidade futura. A crescente procura destes animais para os mais
variados fins, quer científicos, quer culturais e de lazer, constitui a pedra fundamental
entar rapidamente, sem a qual não poderá haver qualquer
retensão de poder gerir e conservar a sua variabilidade. Assim, na continuidade do
sforço que tem vindo a ser realizado nos últimos anos, sobretudo por parte da
ssociação Internacional de Criadores do Cavalo Ibérico de Tipo Primitivo – Sorraia
ICS), e que se tem reflectido num aumento muito significativo
o interesse por parte do público relativamente a esta raça tão particular, o ponto
se
su
p
(S
e
am
de
(FA
qu
de referência ou na imprensa generalizada, bem como a realização de conferências e
reuniões alusivas a cada tema em particular são apenas alguns exemplos que podem ser
adoptados no âmbito desta propagação de informação (FAO/UNEP 1998). Nos últimos
anos, porém, com
pu
ap
modo sim
todo o tipo de conhecimentos (Zamora et al. 2000).
nio único e de interesse mundial que representa, as
valo do Sorraia são, de facto, essenciais para a sua
para que o efectivo possa aum
p
e
A
(adiante designada por A
d
78
essencial deste trabalho passa pela reformulação do website da referida associação, de
odo a torná-lo mais completo e apelativo e um meio privilegiado de divulgação destes m
animais. Esta tarefa passará, também, pela participação nas diferentes feiras e eventos
em que a referida associação esteja representada, os quais assinalam oportunidades
únicas de avaliar, promover e divulgar este tipo de cavalos.
79
2. Materiais e Métodos
2.1. Reformulação da página web da AICS
Dando continuidade ao trabalho desenvolvido pela AICS, esta tarefa teve como
principal objectivo reformular e enriquecer a página web da referida entidade
ww.aicsorraia.fc.ul.pt), dotando-a de um conjunto de informações e de documentos
ais alargado e tornando-a, em simultâneo, visualmente mais atractiva e interactiva.
este sentido, toda a informação que já se encontrava disponível para consulta neste
ndereço foi transferida para o novo website e adaptada ao seu renovado formato, e um
onjunto de novas páginas foi ainda criado de modo a permitir a inclusão de dados
dicionais.
urante a presente tarefa, diversos textos descritivos foram distribuídos pelas várias
áginas do website, na maior parte das vezes complementados por fotografias,
squemas ou tabelas como forma de ilustrar a informação previamente descrita. Vários
ocumentos importantes para uma eficaz gestão do efectivo por parte da AICS foram
mbém incluídos, assim como um vasto conjunto de ficheiros referentes aos trabalhos
ue, ao longo dos anos, se têm vindo a realizar no âmbito desta raça. Em termos
struturais, no intuito de facilitar e tornar mais rápida a navegação entre as várias
áginas, o website foi organizado em diferentes menus e sub-menus e diversos ícones
ram espalhados ao longo do ecrã, servindo, de modo semelhante, como elementos de
gação a algumas das páginas informativas. Na sua estrutura base foi ainda incluído um
spaço destinado à divulgação de notícias que se encontrem em destaque e uma zona de
ublicações de forma a dar a conhecer os livros já lançados tendo este cavalo como
bjecto de estudo.
ara o desenho das múltiplas páginas e inserção dos seus mais variados componentes
i utilizado o programa Macromedia® Dreamweaver® MX que, correndo em ambiente
icrosoft® Windows®, permite a criação e manutenção destes domínios de uma forma
pida e bastante simplificada (Figura 37).
(w
m
N
e
c
a
D
p
e
d
ta
q
e
p
fo
li
e
p
o
P
fo
M
rá
80
igura 37. Ecrã de trabalho do software Macromedia® Dreamweaver® MX com os vários menus e F
ferramentas que se encontram à disposição do utilizador.
O programa Adobe® Photoshop® 7.0 foi também utilizado como uma importante
ferramenta para a realização deste trabalho, tendo permitido preparar as diversas
fotografias a serem incluídas no website e possibilitado a colocação do nome do autor
em cada uma destas imagens de forma a dissuadir a sua livre reprodução por parte dos
utilizadores.
Figura 38. Ecrã de trabalho do software Adobe® Photoshop® 7.0 com os vários menus e ferramentas que
se encontram à disposição do utilizador.
81
2.2. Feiras e eventos
Ao longo do intervalo de tempo em que decorreu este projecto de Mestrado, várias
as feiras e os eventos onde esteve representada a AICS com o principal objectivo
de dar a conhecer ao público em geral esta raça equina tão invulgar e, simultaneam
eaçada. Ao constituírem prováveis pontos de destino para os diversos criadores
das raças participantes, estes encontros representam boas oportunidades para um
ais próximo entre os criadores da raça Sorraia e a respectiva associação. Por
esta razão, um dos objectivos deste trabalho passou pela participação em alguns destes
eventos (nomeadamente no II Salão Internacional do Cavalo de Desporto – Santarém,
20 a 22 de Janeiro de 2006 – e na III Feira Nacional do Toiro – Santarém
Fevereiro de 2006) no sentido de promover, junto dos criadores, uma ferrame
foram
ente,
tão am
contacto m
, 17 a 19
nta de
ação desta raça equina.
gestão de tão grande utilidade como é o Gescab Raça Sorraia e que, tal como referido
no Capítulo I, tão importante será para a preserv
82
3. Resultados e Discussão
epois de escolhido o idioma pretendido, surge no ecrã aquela que foi definida como a
omepage deste site (Figura 3B). Apresentando um breve resumo acerca das
aracterísticas da raça e dos factos históricos associados à sua recuperação, a partir deste
cal é possível aceder a qualquer uma das restantes páginas de informação através dos
ários menus e ícones distribuídos ao longo da mesma. Com a realização deste trabalho
caram, assim, disponíveis para consulta os seguintes elementos:
enu Principal
Com a realização do presente trabalho, o renovado website da AICS ficou disponível
para consulta através do endereço www.aicsorraia.fc.ul.pt, reunindo, num novo formato
mais apelativo e interactivo, toda a informação que já figurava no referido local e
diversos novos conteúdos que o tornaram, desta forma, mais completo. A Figura 39A
representa a página inicial deste website onde se encontram descritas as definições
recomendadas para o seu correcto funcionamento e a partir da qual, num futuro
próximo, se poderá seleccionar o inglês como idioma de apresentação.
D
h
c
lo
v
fi
M
Menu AICS: a partir deste menu é possível consultar todas as informações
levantes acerca da associação de criadores em causa através das páginas Objectivos,
orpos Sociais e, brevemente, Estatutos (Figura 40). Seleccionando o sub-menu
ocumentos, os utilizadores interessados, nomeadamente os criadores desta raça,
oderão visualizar, guardar e imprimir diversos documentos (muitos dos quais
ndamentais para a gestão do efectivo), facilitando e tornando mais rápida a troca de
A B
re
C
D
p
fu
Figura 39. Página inicial (A) e homepage (B) do site da Associação de Criadores do Cavalo Ibérico de
ipo Primitivo – Sorraia T
83
informações entre criadores e respectiva associação. A partir deste sub-menu, é, então,
ossível ter acesso aos ficheiros Inscrição de Novo Sócio, Declaração de
ra 40. Representação dos sub-menus que constituem o menu AICS, através dos quais é feita a
p
Nascimentos, Documento de Identificação de Equinos (também conhecido por
resenho), Certificado de Inscrição, Baixa ao Efectivo.
Figu
ligação para as páginas apresentadas à direita (Objectivos, Corpos Sociais e Estatutos (disponíveis em
breve)).
Menu Raça Sorraia: nesta secção poderão ser encontradas as principais
informações relativas a esta raça, distribuídas pelas 4 páginas web acessíveis a partir
deste menu: Origem, Padrão, Sistema de Criação e Ajudas (Figura 41). A página
Origem tem como objectivo fundamental dar a conhecer aos utilizadores um pouco da
história desta raça equina tão particular, incluindo os motivos que conduziram à sua
recuperação e os factos relevantes no decorrer deste processo. Na página Padrão
ncontram-se descritas as características inerentes à raça e que se encontram definidas
book. Aqui foram incluídas diversas fotografias representativas dos
aracteres atrás referidos cuja descrição poderá ser visualizada colocando o cursor sob
e
no respectivo Stud
c
as zonas em causa (Figura 42A). Também a Tabela de Pontuação utilizada para a
apreciação morfológica e funcional dos animais (Figura 42B) poderá ser visualizada a
partir desta página, seleccionando o ícone que se encontra no final do texto. Por outro
lado, as condições associadas à criação desta raça, assim como as várias práticas
recorrentes e algumas das suas consequências, são enumeradas na página Sistema de
Criação. Finalmente, as principais informações quanto às ajudas disponibilizadas pelo
84
Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas para apoio aos
criadores de animais de raças autóctones nacionais ameaçadas podem ser encontradas
na página Ajudas, actualmente em actualização.
Figura 41. Representação dos sub-menus que constituem o menu Raça Sorraia através dos quais é feita
a ligação para as páginas apresentadas à direita (Origem, Padrão, Sistema de Criação e Ajudas (em
actualização)).
Figura 42. (A) Fotografia do garanhão Espantado incluída na página Padrão, a partir da qual poderão ser
visualizadas as descrições referentes a diversos caracteres morfo-funcionais sempre que o cursor é
colocado sob a região pretendida (neste caso, a garupa). (B) Tabela de pontuações utilizada por rotina na
raça Sorraia para determinação da aptidão de um animal para fins reprodutivos e que pode ser visualizada
através do ícone que se encontra no canto inferior direito da imagem anterior.
Menu Studbook: 2 novas páginas são disponibilizadas a partir deste menu com
informações que se encontram incluídas no Studbook da raça Sorraia (Figura 43).
Através da página Regulamento (Figura 44), os 25 artigos, distribuídos por 9 secções,
que constituem o regulamento deste livro poderão ser facilmente consultados.
A B
85
Adicionalmente, o resultado dos controlos de filiação solicitados pelos criadores e que
são fundamentais para a inscrição dos animais no Studbook da raça encontram-se à
disposição para consulta através do sub-menu Controlo Filiação. Seleccionando este
otão, é estabelecida ligação para a página homónima da Fundação Alter Real (antigo
a identificação do
nimal pretendido (o seu número caracterís e, ano
e nascimento e número do respectivo criador). S
e dados disponível até ao momento da última actualização, o resultado do teste de
aternidade em causa é apresentado no ecrã (Figur
b
Serviço Nacional Coudélico – SNC) onde deverá ser introduzida
a tico ou o conjunto formado pelo nom
d e o indivíduo em causa consta da base
d
p a 45).
Figura 43. Representação dos sub-menus que constituem o menu Studbook através dos quais é feita a
igura 44. (A) Página Regulamento onde é possível consultar os artigos que integram cada uma das 9
do regulamento do Studbook. No caso de preferir consultar este documento na sua totalidade (B)
til
ligação para as páginas Regulamento e Controlo Filiação.
A B
F
secções
o u izador deverá premir o ícone que se localiza no canto superior direito da referida página.
86
Figura 45. (A) Página destinada à consulta dos resultados relativos ao controlo
indivíduo. Aqui deverá ser inserido o número de identificação do anim
de filiação de um
al pretendido (NSC) ou
reenchidos os ) Resultado do
referido ais e filho é
apresentada rtificado. Para o
indivíduo em seus dados mais
importantes
p
A B
campos referentes ao nome, ano de nascimento e número de criador. (B
teste para a fêmea Zuapa. A compatibilidade ou incompatibilidade entre p
no ecrã, assim como o número do teste e a data da emissão do respectivo ce
causa e para os seus presumíveis progenitores são apresentados ainda os
(nome, ano de nascimento, número de identificação, sexo, pelagem e criador).
Menu
tem nu dividido em 3
novos sub-m Alemanha e
Outros a nova página onde a
apa de
loridos, os quais funcionam também
omo elementos de ligação para as páginas dedicadas a cada um destes núcleos em
aracterístico, se existente), estas páginas individuais incluem um pequeno resumo
cerca da história da coudelaria, assim como um conjunto de fotografias de alguns dos
eus exemplares e, em alguns casos, dos seus espaços exteriores (Figura 48).
Criadores: destinado às várias coudelarias por onde o efectivo da raça se
vindo a distribuir ao longo da sua história, encontra-se este me
enus que representam 3 áreas geográficas distintas: Portugal,
(Figura 46). Cada um destes sub-menus dá acesso a um
localização dos vários núcleos pode ser facilmente visualizada a partir do m
pontos que surge no ecrã (Figura 47). Nestas imagens, a identificação das coudelarias é
exibida sempre que o cursor passa pelos pontos co
c
particular. Para além das informações básicas (localização, criador responsável e ferro
c
a
s
87
Figura 46. Representação dos sub-menus que constituem o menu Criadores através dos quais é feita a
ligação para as páginas Portugal, Alemanha e Outros.
Figura 47. Mapas de distribuição das coudelarias associadas à raça Sorraia apresentados nas páginas
Portugal (A), Alemanha (B) e Outros (C). A identificação dos vários núcleos é visível sempre que o
cursor é colocado sob os pontos coloridos, os quais dão acesso às páginas individuais dedicadas a cada
um destes grupos. Na página relativa a criadores de outros países (C) um pequeno texto explicativo
poderá ser consultado premindo o ícone patente no seu canto inferior esquerdo.
Figura 48. (A) Página dedicada à Herdade de Font’Alva, a coudelaria mais importante e a que detém a
maior parte do efectivo actual da raça. Nestas páginas individuais, várias fotografias são postas à
A B C
A B
88
disposição do a cada um destes
núcleos (B). E do esquerdo da
fotografia prin
navegador, assim como um pouco da história e das práticas associadas
ste texto surge no ecrã depois de premido o ícone que se localiza do la
cipal.
no âm
deste me , surgem 2
publicados ação da
raça ao público em resultado dos vários
studos realizados aos mais diversos níveis ao longo das últimas 8 décadas, englobando
portamental.
e Divulgação). Sempre
ue o artigo se encontre disponível para consulta, o ficheiro é disponibilizado ao utilizador através do
surge à esquerda de cada título.
Menu Artigos: tal como o próprio nome indica, os diversos artigos já publicados
bito do Cavalo do Sorraia podem, na sua grande maioria, ser consultados a partir
nu. Assim, seleccionando os sub-menus Científicos e Divulgação
novas páginas onde são apresentados, respectivamente, os títulos dos trabalhos
em diferentes revistas científicas ou os trabalhos destinados à divulg
geral (Figura 49). Todos estes artigos são
e
trabalhos de carácter morfológico, genético, demográfico ou até mesmo
com
Figura 49. Representação dos sub-menus que constituem o menu Artigos através dos quais é feita a
ligação para as páginas apresentadas à direita (Artigos Científicos e Artigos d
q
ícone que
Menu Contactos: neste último botão do m
ágina homónima, onde podem ser encontrados todos os dados necessários para
ventuais contactos com a AICS (nomes, moradas, números de telefone e fax e
ereços de e-mail).
enu principal é feita a ligação para a
p
e
end
89
Figura 50. Página Contactos onde são apresentadas as informações necessárias para que os utilizadores
interessados possam estabelecer contacto com a Associação de Criadores do Cavalo Ibérico de Tipo
Primitivo – Sorraia.
Publicações
Nesta secção do website encontram-se representadas as capas dos mais recentes livros
dedicadas a este cavalo, os quais se encontram
raça Sorraia”, editado em 2004, e “
e genético a preservar”, editado em
consultar o índice de conteúdos de cada um
um texto com algumas informações adicion
de conteúdos dos livros “Stud Book da raça Sorraia” (A) e
O Cavalo do Sorraia – um património histórico e genético a preservar” (B), depois de seleccionados
íco
disponíveis para venda: “Stud Book da
O Cavalo do Sorraia – um património histórico
2006. Seleccionando estas imagens é possível
a das publicações e, no caso do Studbook,
ais (Figura 51).
Figura 51. Forma de apresentação do índice
“
A B
os nes correspondentes que se encontram na margem direita do website.
Notícias
Localizado na margem direita do website, este é um espaço destinado à divulgação de
notícias relacionadas com a raça Sorraia. Serão anunciados os eventos (feiras, concursos
de Modelo e Andamentos, colóquios, entre outros) em que a associação de criadores
90
venha a participar e ra estabelecer um
contacto mais próxim bém, um
local privilegiado para anuncia o funcionamento do
regulamento do Studbook il a todos os criadores.
Outros botões
que constituem excelentes oportunidades pa
o e saber mais sobre este cavalo tão particular. Será, tam
r todas as medidas relacionadas com
, igualmente divulgadas por e-ma
Botão Home: botão que promove a ligação para a página principal (homepage) do
website.
Botão LINKS: seleccionando este botão, os logótipos de variadas instituições e
ssociações de possível interesse para os utilizadores deste site surgem distribuídos no a
ecrã (Figura 52A). Colocando o cursor sob estas imagens, a legenda identificativa é
apresentada junto à mesma, sendo possível navegar para a página web correspondente a
partir deste local.
Botão Ficha Técnica: todas as informações acerca da propriedade e coordenação
do website, assim como os autores responsáveis pelos respectivos conteúdos e execução
técnica poderão ser visualizadas na página que é apresentada ao premir este botão
ig
permitem a ligação para as
guintes páginas web. (B) Página Ficha Técnica onde figura a entidade detentora da propriedade deste
omo os responsáveis pela sua coordenação, conteúdos e design e concepção.
(F ura 52B)
Figura 52. (A) Página LINKS onde se encontram distribuídos os ícones que
se
site, assim c
91
92
por
edidas de acção eficazes, é um processo absolutamente necessário para que possam
s de a manter a longo prazo. Neste contexto, as acções destinadas à
ivulgação destes grupos e à sensibilização da população para a importância da sua
s referidos programas, as quais poderão, de facto, desempenhar um papel
levante na sua subsistência futura. Como previamente referido, o reduzido efectivo
is que integram o efectivo da raça – fundamental para a sua
ma mais breve possível, pretendeu-se com este trabalho reformular e
website desta associação (http://www.aicsorraia.fc.ul.pt/), elemento que
onstitui, actualmente, uma das mais importantes ferramentas que podem ser utilizadas
fácil, rápida e a partir de qualquer parte do m
formações acerca do Cavalo do Sorraia, dos seus criadores e da sua respectiva
ssociação, assim como variados recursos visuais que exemplificam os factos descritos
uma série de documentos importantes no âmbito da gestão da raça, tornando-se desta
êm sido vários, crescentes e muito diversificados, os contactos com a AICS a partir da
onsulta deste website, de fácil e imediato acesso através dos pesquisadores mais usuais
a Internet (como, por exemplo, o Google). Estes contactos representam, em muitos
4. Conclusão
Sempre que estamos a lidar com uma população que se encontra ameaçada e em risco
de se perder, o estabelecimento de um plano de conservação cuidado, constituído
m
existir pretensõe
d
preservação têm, cada vez mais, sido reconhecidas como uma importante vertente a
incluir no
re
que sempre caracterizou a raça Sorraia desde que Ruy d’Andrade deu início à sua
recuperação, em 1937, constitui uma das principais razões que levaram à perda de
grande parte da diversidade inicialmente presente no pool genético fundador. Neste
sentido, constitui uma das grandes prioridades da AICS aumentar consideravelmente o
número de anima
preservação –, resultado que só poderá ser alcançado se um maior interesse for
manifestado ao seu redor, reflectindo-se, não só numa maior procura destes animais,
como no aparecimento de novos criadores. Para que tal possa efectivamente vir a
acontecer, e da for
enriquecer o
c
para a difusão de conhecimentos, permitindo a consulta de informação de uma forma
undo. As diversas páginas desenvolvidas
ao longo da presente tarefa põem à disposição dos utilizadores um vasto conjunto de
in
a
e
forma, um meio privilegiado para que esta raça possa vir a ser conhecida e reconhecida
pelos mais variados sectores da sociedade.
T
c
d
casos, possíveis novos criadores, tão importantes para que se possa vislumbrar um
umento de efectivo e sua repartição por vários núcleos reprodutivos, possibilitando, a
assim, uma gestão da raça mais polivalente.
A impressão dos documentos de suporte ao registo dos animais tem tido um grande
sucesso, sendo muito mais célere e uniforme a informação que chega ao secretariado da
AICS, em muito facilitando a actualização do Studbook, ferramenta fundamental para a
adequada gestão da população e delineamento dos planos de reprodução em cada ano.
93
Considerações finais
Reconhecida a importância do Cavalo do Sorraia, quer ao nível nacional (constituindo
uma das 3 raças equinas autóctones), quer ao nível mundial (sendo considerado um
cavalo primitivo e o mais directo descendente do ancestral selvagem da região quente
meridional da Península Ibérica que estará na origem das actuais raças Puro-Sangue-
Lusitano e Pura-Raza-Española e, provavelmente, das raças de cavalos do Novo
Mundo), o estabelecimento de eficazes medidas de conservação e gestão genética que
visem a sua preservação é um processo que adquire extrema relevância. As tarefas
realizadas durante o presente trabalho, inseridas no programa de conservação in situ
actualmente em curso nesta raça e englobando diferentes áreas no domínio da
conservação de populações, pretenderam, na maior extensão possível, contribuir para o
melhoramento das medidas de acção atrás referidas, o que, de facto, pensamos ter
conseguido.
A inserção dos dados populacionais no software Gescab Raça Sorraia, adaptado e
optimizado para as particulares características associadas à gestão desta raça, torna
possível, a partir deste momento, a fácil consulta de um vasto conjunto de informações
referentes à totalidade dos animais da população, assim como o cálculo de diversos
parâmetros (e.g. o coeficiente de consanguinidade, o índice de conservação genética, a
percentagem de ancestrais conhecidos, o índice de preenchimento de cada genealogia, a
transmissibilidade das pelagens, o sex-ratio da descendência) e a emissão de vários
documentos de grande utilidade na gestão dos efectivos, como é o caso dos certificado
de inscrição e de filiação. Com este trabalho, quer seja através da aquisição do
programa, quer seja através da simples consulta, os criadores poderão, eles próprios,
consultar, analisar e gerir directamente o seu efectivo e de uma forma muito mais rápida
e eficaz. A descrição detalhada de todas as funções disponíveis neste software e o modo
de funcionamento de cada uma delas incluída nesta dissertação, poderá vir a ser muito
útil no futuro, funcionando como um manual de iniciação para novos utilizadores.
94
De grande relevância no contexto da estratégia de conservação de raças ameaçadas, a
análise de diversos parâmetros genéticos e demográficos que permitem caracterizar o
estado actual de uma população foi outro dos objectivos deste Mestrado. Tal como seria
de esperar face às particulares condições associadas à recuperação da raça e posterior
manutenção ao longo dos anos, foram detectados reduzidos índices de variabilidade
para a população da raça Sorraia, sobretudo para os animais que constituem o efectivo
actual, tendo sido determinados elevados valores médios para os coeficientes de
consanguinidade e de relação média, assim como para o coeficiente médio de
parentesco (mean kinship). A avaliação de alguns destes parâmetros demográficos e
genéticos, de impacto considerável na evolução da variabilidade genética de uma
população e muito condicionados pelas estratégias reprodutivas que ocorrem de geração
em geração, são determinantes no delineamento de planos de gestão cada vez mais
adequados, pelo que os resultados aqui obtidos serão certamente importantes no âmbito
da estratégia implementada tendo em vista a preservação desta raça de cavalo.
Uma vez que o reduzido efectivo populacional constitui uma das principais ameaças à
sua sobrevivência futura, procurou-se com este Mestrado promover o aumento do
número de interessados em redor da raça Sorraia, quer da parte do grande público, quer
da parte das entidades responsáveis pela produção cavalar em Portugal. Com a
reformulação do website da Associação Internacional de Criadores do Cavalo Ibérico de
Tipo Primitivo – Sorraia (www.aicsorraia.fc.ul.pt), ficou disponível para consulta um
conjunto de informações bem mais alargado, complementado por variados recursos
visuais, assim como diversos documentos de importância reconhecida na gestão de
populações. Assim, para além da sua utilidade na gestão do efectivo actual, o referido
website constitui, ainda, um meio privilegiado para a divulgação desta raça e irá
certamente conduzir a uma crescente procura deste recurso animal, quer por futuros
criadores quer por simples e potenciais utilizadores, facto que se irá reflectir num
aumento do efectivo, essencial em qualquer estratégia conservacionista.
95
Perspectivas futuras
Dadas as melhorias nos parâmetros populacionais verificadas nos últimos anos como
resultado das medidas de conservação que têm vindo a ser adoptadas, é notória a
importância de se prosseguir com um plano de gestão cuidado de forma a tentar
preservar esta raça equina tão particular. A estratégia actualmente em curso tem
passado, essencialmente, pelo estabelecimento de programas de reprodução adequados,
através dos quais são feitas recomendações relativas aos cruzamentos mais favoráveis a
promover em cada coudelaria, tendo como principal critério o valor de mK apresentado
pelos indivíduos. Ao serem escolhidos os indivíduos associados a menores valores deste
coeficiente, promove-se a minimização da consanguinidade e a maximização da
retenção da variabilidade genética dos fundadores ainda disponível e que está na base
do potencial evolutivo de uma população (Oom 2006). Todos trabalhos a realizar no
âmbito da preservação desta raça são de extrema importância, dado o seu carácter único
e de interesse genético mundial associado ao facto de constituir uma raça autóctone e,
por isso, parte integrante do património histórico e cultural de Portugal.
96
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110
Anexo 1. Padrão da raça Sorraia
1. TIPO – Perfil subconvexilineo, eumétrico e mediolíeno. Animais sobre o pernalta, de
ossatura pouco volumosa mas de muito boa textura. Musculatura pobre. Quando magros
tomam a forma mulina e quando gordos arredondam.
2. ALTURA MÉDIA AO GARROTE – Medida com hipómetro nos animais adultos:
Machos: 1,48m
Fêmeas: 1,44m
3. PELAGEM – Varia do baio (pardo amarelo) claro ao baio torrado, ou do rato (pardo
rato) claro ao rato escuro, sempre com lista de mulo. É mais ou menos gateado ou
zebrado nos cabos e por vezes noutras partes do corpo. Crinas fartas e bicolores, com
cerdas escuras na linha do meio e das cor do corpo na parte mais externa. Cauda
igualmente bicolor, formando uma borla na sua base. Extremidades (ponta dos orelhas,
focinho, e membros) sempre em tom escuro.
4. TEMPERAMENTO – Arisco no desbaste, torna-se manso e tolerante no trabalho.
Reage com agilidade e finura às ajudas do cavaleiro. É por vezes reparador. O macho
inteiro, se bem que manso, tem muita vivacidade.
5. ANDAMENTOS – São correctos, não muito extensos nem saltados. São
arredondados mas não muito elevados. Podem manter velocidades notáveis por um
longo período.
6. APTIDÃO – Sela e pequenos trabalhos agrícolas.
7. CABEÇA – Rectangular e seca, de perfil subconvexo, crânio nitidamente inclinado
em relação à face, que é bastante comprida. Os olhos expressivos, inseridos em órbita
elíptica truncada posteriormente e situada acima da linha occipito-incisiva. As orelhas
são sobre o comprido, secas e móveis, de implantação algo atrasada devido à inclinação
do crânio.
112
8. PESCOÇO – Bem inserido, esbelto, de comprimento médio, invertido nos animais
magros, armazena gordura para a época da fome, fazendo com que se transforme e
apareça rodado no animal gordo.
9. GARROTE – Bem destacado e muito extenso, liga-se quase a meio do dorso por
uma linha suave.
10. PEITORAL – Não muito largo mas musculoso. O cilhadouro está bem situado sob
o seladouro. O tórax é profundo e não muito largo.
11. COSTADO – É extenso e composto de costelas chatas e compridas que guarnecem
bem o flanco.
12. ESPÁDUAS – De comprimento médio, são secas e relativamente oblíquas.
13. DORSO – É curto, horizontal e destacado das costelas.
14. RIM – É curto, largo e convexo e encontra harmoniosamente, sem ressalto, a
garupa.
15. GARUPA – De largura e comprimento médio e de forma elíptica, deixando ver a
crista sagrada saliente com perfil subconvexo.
16. MEMBROS ANTERIORES - Ligeiros de osso, mas bem aprumados.
Braços harmoniosamente inclinados.
Antebraços bem aprumados e pouco musculosos.
Joelhos bem conformados, secos e pouco volumosos.
Canelas ligeiramente compridas, secas, com tendões bem destacados com ausência de
pelo remontante.
Boletos pouco volumosos, quase sem machinhos.
Quartelas sobre o comprido e harmoniosamente inclinados.
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Cascos bem conformados e aprumados, de aspecto ligeiro e taipa de boa qualidade.
17. MEMBROS POSTERIORES – Ligeiros de osso e musculatura, mas bem
conformados.
Curvilhões bem conformados.
Canelas, boletos, quartelas e cascos como dos membros anteriores.
Indivíduo de raça Sorraia (Espantado - Quinta do Arripiado de Baixo)
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Anexo 2. Certificado de Filiação
Figura 1. Certificado de filiação relativo ao indivíduo Xearas, obtido a partir do software Gescab
Raça Sorraia
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