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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAISCOORDENAÇÃO ESTADUAL DO PDE
VITORIA COSMO
BRINCADEIRAS: É PRECISO ETERNIZAR
CASCAVEL2009
VITORIA COSMO
BRINCADEIRAS: É PRECISO ETERNIZAR
Artigo apresentado ao Programa deDesenvolvimento Educacional (PDE), na disciplina de Educação Física do NRE de Cascavel - PR, como um dos requisitos para certificação ao término das atividades do programa no ano letivo de 2009.
CASCAVEL
2009
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BRINCADEIRAS: É PRECISO ETERNIZAR
Vitoria Cosmo1
Eneida Maria Troller Conte2
Resumo: A produção do presente artigo está vinculada às atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) e tem como fundamento um estudo sobre jogos e brincadeiras tradicionais. Trata-se do relato de uma intervenção pedagógica, amparada na concepção de estudos de casos observacionais, realizada no Colégio Estadual Marilis Faria Pirotelli – Cascavel – PR, com uma turma de quinta série do Ensino Fundamental. O estudo foi apresentando como objeto de uma proposta de desenvolvimento de material didático denominada de Unidade Didática, adequada à realidade escolar em que foi aplicada e às exigências das Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná. A viabilidade e a aplicabilidade desta proposta, por meio da metodologia crítico-superadora, apontam a necessidade de resgate de jogos e brincadeiras tradicionais como um conteúdo rico de possibilidades para o desenvolvimento do aluno, fazendo-o refletir, pesquisar e vivenciar tais brincadeiras. Considerou-se que essa atividade, dentro do ambiente escolar é, também, uma das possibilidades de promoção da interação dos jovens com gerações passadas e que perpetuará as brincadeiras e os jogos, por crianças e adolescentes que, por sua vez, irão preservá-las e recriá-las a cada nova geração.
Palavras chave: Jogos e brincadeiras tradicionais. Resgate. Escola
Abstract: The production of this article is linked to the activities of the (PDE) Educational Development Program, and it is based in traditional games and tricks. This study it had support in the conception of studies of observational cases for dealing with a pedagogical intervention that if gave at Marilis Faria Pirotelli School – in Cascavel – PR with 5 level of the High School, with the objetive the study to the proposal of didactic material called of Didactic Unit adjusted to the pertaining to school reality and the requirements of the Curricular Lines of direction of the State of the Paraná. The viability and the applicability of this proposal through the description-critical pedagogy point the necessity to relate the traditional games and tricks as a rich content of possibilities to the development of the students to reflect it, to search and to live deeply such tricks and for considering that the rescue of games and traditional tricks inside the school environment is one of the possibilities to promote an interaction with the last generations one will only perpetuate through the children
1 Professora PDE da Rede Estadual de Educação do Estado do Paraná, graduada em Educação Física, com especialização em Educação Especial.2 Professora orientadora da Unioeste, Mestre em Educação Física em Saúde e Qualidade de Vida pela Universidade de Florianópolis – SC, Professora do Curso de Educação Física da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, Membro do GEPEFE (Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Física Escolar).
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and teenagers who will go to preserve them and to recreate them it each new generation.
Keywords: Traditional games and tricks okes. Rescue. School.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo atende às exigências de desenvolvimento de trabalho didático do
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da
Educação do Paraná. Após um ano de estudos, em cursos, seminários e trabalhos
de grupo em rede on-line, elaborou-se um Projeto de Intervenção Pedagógica para a
implementação de uma produção didática para os alunos de 5ª. série do Colégio
Estadual Marilis Faria Pirotelli da cidade de Cascavel – Paraná, tendo como objeto
de estudo o resgate de jogos e brincadeiras, suas origens e a construção de
brinquedos nas aulas de Educação Física.
O interesse por este objeto se justifica pelo fato de que as crianças estão
cada vez mais modificando a sua visão do que é e de como é brincar. Brincadeiras e
jogos, antes vivenciados por seus pais e avós, estão cada vez mais sendo
esquecidos, tornando-se atividades desconhecidas por elas. Inseridos numa
sociedade moderna, capitalista e individualista, fatores como a redução de espaços
físicos devido ao crescimento das cidades, a falta de segurança agravada pela
violência, a influência da mídia e o aparecimento dos jogos eletrônicos e
tecnológicos fazem com que as oportunidades de brincar com o outro tornem-se
momentos cada vez mais raros na sua infância.
Onde brincar então? Na escola? Talvez. É um dos espaços mais adequados,
mas, na maioria das aulas de Educação Física as brincadeiras e os jogos são
deixados de lado, em função de outras atividades, julgadas mais importantes pelo
professor.
Este trabalho objetiva sugerir encaminhamentos didático-metodológicos com
base numa produção didática aplicada em aulas de Educação Física, utilizando a
metodologia crítico-superadora no conteúdo estruturante Jogos e Brincadeiras,
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contribuindo para um melhor entendimento do professor sobre sua prática docente e
apresentando uma visão crítica e reflexiva das formas de como as brincadeiras
podem estar presentes no processo ensino aprendizagem, por meio da Cultura
Corporal no âmbito escolar, proporcionando aos alunos espaços para o ato de
brincar e resgatar os jogos e brincadeiras tradicionais.
Em concordância com o que se propõe nas Diretrizes Curriculares Educação
Básica:
Almeja-se organizar e estruturar a ação pedagógica da Educação Física, de maneira que o jogo seja entendido, apreendido, refletido e reconstruído como um conhecimento que constitui um acervo cultural, o qual os alunos devem ter acesso na escola (Coletivo de Autores, 1992 apud PARANÁ, 2008, p. 66).
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. JOGOS E BRINCADEIRAS TRADICIONAIS
Os jogos e as brincadeiras tradicionais são transmitidos de geração para
geração, por meio da oralidade, são universais e fazem parte da cultura popular.
A tradicionalidade e a universalidade dos jogos e brincadeiras tradicionais
mantêm-se da mesma maneira, ainda hoje, ou seja, com a mesma estrutura inicial,
conservada de quando foram criadas. Em outras brincadeiras mantém-se a estrutura
inicial, porém, há modificações explicadas pela dinâmica da transmissão oral,
favorecendo assim o surgimento de variantes e a adaptação ao contexto em que a
brincadeira está ocorrendo, do mesmo modo a inclusão ou a eliminação de
elementos de acordo com o momento em que a brincadeira é vivenciada. (SANTOS,
1997).
De acordo com Tisuko Kishimoto: “Enquanto manifestação livre e espontânea
da cultura popular, a brincadeira tradicional tem a função de perpetuar a cultura
infantil, desenvolver formas de convivência social e permitir o prazer de brincar”
(1993, p. 15).
O prazer e a liberdade de ação e decisão são características dos jogos e das
brincadeiras. Estes também comportam regras, mas não ficam presos a elas,
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deixam um espaço de autonomia para que sejam adaptados, conforme o interesse
de todos. Nas brincadeiras, o interesse da competição é afastado. A participação se
dá sem tensões e sem restrições. Sua principal sensação é o bem-estar e a alegria,
construindo e desenvolvendo uma convivência social entre os indivíduos/crianças.
As atividades lúdicas são importantes para o desenvolvimento da criança, pois é
durante estas trocas de convivência que ela tem oportunidade de assumir diversos
papéis e de se colocar no lugar do outro.
As características do brincar de cada grupo são definidas em função do
tempo e do espaço existentes para a brincadeira acontecer. É importante que as
crianças auxiliem na reconstituição dessas regras, segundo a necessidade e os
desafios estabelecidos.
As práticas culturais de um povo, nos diferentes momentos históricos de sua
evolução, também são representadas e identificadas por meio das brincadeiras. De
acordo com as Diretrizes Curriculares, “É no lúdico que também se reconhecem e se
valorizam as formas particulares que os brinquedos e as brincadeiras tomam em
distintos contextos e em diferentes momentos históricos, nas variadas comunidades
e grupos sociais” (PARANÁ, 2008, p. 54).
Por meio das brincadeiras a criança se manifesta, cria, inventa, faz conexões
entre o imaginário e o real, expressa a compreensão da realidade e a reconstrói. No
lúdico, a criança exercita suas fantasias, suas noções de responsabilidade
referentes à descoberta do eu, do outro e do grupo com possibilidades de refletir
sobre suas ações e atitudes. “Por pertencer à categoria de experiências transmitidas
espontaneamente conforme motivações internas da criança, a brincadeira tradicional
garante a presença do lúdico, da situação imaginária” (KISHIMOTO, 1993 apud
SOLER, 2003, p. 136).
Nesse sentido, jogos e brincadeiras têm grande significação no contexto
infantil, pois é através deles que a criança tem a oportunidade de convívio social e
de extravasar e expressar as suas sensações, sentimentos e emoções, elaborando
e obedecendo a regras traçadas por ela ou pelo grupo, ajustando-se ao grupo,
aceitando a participação de outras brincadeiras, ela aprende a ganhar e também a
perder (OLIVEIRA, 2001). O prazer de brincar também desenvolve o espírito de
solidariedade, a formação de novas amizades, com isso a criança vai construindo e
firmando as suas relações sociais.
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Movimentos como correr, saltar, saltitar e pular têm grande significado na
brincadeira, pois através dela a criança se orienta no mundo e expressa seus
sentimentos. As brincadeiras e os jogos devem ser abordados conforme a realidade
regional e cultural do grupo. Cada geração de crianças brinca com as brincadeiras
antigas e as transforma recriando-as em suas próprias brincadeiras (KISHIMOTO,
1993).
De acordo com Faria Júnior (1996), os jogos e as brincadeiras tradicionais,
parlendas e jogos cantados foram sendo perdidos ou transformados nos últimos
cinquenta anos como consequência da urbanização e da industrialização. A
aplicação das novas tecnologias, em jogos de vídeo-game e computadores,
televisores e brinquedos de controle remoto, tem feito que as crianças cada vez
mais estejam dentro de suas casas. São atividades passivas, diante de brinquedos
eletrônicos que a criança apenas manipula, sendo somente receptora ou mesmo seu
imitadora de seu brinquedo. Não que esses brinquedos modernos sejam
considerados “ruins”, a questão é que se têm tornado praticamente a única “opção”
para as crianças de hoje (OLIVEIRA, 1986, p.66).
Antes as brincadeiras eram praticadas nas ruas ou em terrenos baldios, hoje
as crianças, em grande parte, já não vivenciam essas experiências com tanta
frequência e liberdade, devido a vários fatores, como afirma Soler (2003, p. 135): “As
crianças já não podem brincar livremente pelas ruas, pois dois motivos as impedem:
o crescente desenvolvimento das cidades e a escalada da violência”.
Contemplar no ambiente escolar, nas aulas de Educação Física, os jogos e
brincadeiras, seria uma contribuição importante da escola para que estas crianças
conheçam, vivenciem e se divirtam com elas, aproveitando assim, o máximo de seu
tempo de ser criança?
Segundo Soler (2003, p. 138):
Existem muitas razões para o brincar fazer parte de qualquer projeto sério da Educação Física, pois através dele a criança tem a sua independência aumentada, sua sensibilidade visual e auditiva é estimulada, a cultura popular é preservada, as habilidades motoras são trabalhadas, a agressividade é diminuída, a imaginação e a criatividade são muito exercitadas, acontece uma aproximação entre pessoas, e com certeza a escola cumpre o seu papel fundamental que é o de transformar uma realidade difícil.
Como conteúdo, os jogos e brincadeiras tradicionais devem estar sujeitos a
uma ação pedagógica com objetivos claros e direcionados. O professor deve saber
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por onde iniciar e aonde quer chegar. Deve possuir uma postura
didático-pedagógica e “preocupado com a teorização e conceituação pedagógica,
pois, só assim, a prática será explicada para todo o universo escolar” (SOLER, 2003,
p. 135). Confundir o ensinar a brincar, de acordo com objetivos específicos e claros,
com o brincar livremente no pátio ou na quadra dentro das aulas de Educação
Física, também é um fator desmotivante para a criança. Certamente perderá o seu
interesse por esta atividade.
A brincadeira é considerada uma linguagem, pois também tem a função de
elaborar sentimentos e vivências. A criança se comunica com seu corpo, com outras
pessoas e com a sua realidade ( MELO, 1997). As brincadeiras divertem as crianças
e as preparam para a realidade. Desconsiderar os benefícios dos jogos e das
brincadeiras, vislumbrando somente o aspecto físico, é confirmar que o paradigma
da aptidão física e a esportivação está fortemente inserida no ambiente escolar.
Muitas vezes, os jogos e brincadeiras são usados apenas como meio utilitarista no
conteúdo de esportes, tornando-os fragmentados sem qualquer chance de promover
um resgate cultural.
Conteúdos complexos podem ser ensinados por meio de um jogo simples
como o pega-pega e que a criança levaria tempo para assimilar, como a agilidade, a
mudança de direção, a velocidade, a destreza, a parada brusca, a saída rápida e
tantas outras. Desenvolvendo também, aspectos importantes para a formação
integral da criança como aspectos sociais, afetivos, cognitivos e motores.
É um engano assegurar que as brincadeiras e os jogos só se aplicam às
crianças da educação infantil. Em adolescentes, adultos e em grupos de terceira
idade as brincadeiras são bem aceitas pela sua ludicidade e informalidade. Rangel e
Darido (2005, p. 157) afirmam que “é impossível pensar em uma criança que não
brinque ou jogue. Por essa razão, os jogos e as brincadeiras são, muitas vezes,
associados à criança, embora saibamos que seu uso não se restringe a esta idade”.
Porém, é preciso que se tenham alguns cuidados, os jogos e as brincadeiras, devem
ser adaptados de acordo com a faixa etária, para que haja desafios. Caso isso não
aconteça, corre-se o risco de tornar uma brincadeira ou um jogo desestimulante e
sem graça. Ainda conforme argumentação de Rangel e Darido (2005, p. 159), “[...]
podemos afirmar que todos podem e devem jogar, mas, o nível de complexidade e
exigência de cada brincadeira e jogo deve ser adaptado ao nível de compreensão e
habilidade dos executantes.”
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Os brinquedos são também meios para brincar, certas brincadeiras exigem a
utilização de um brinquedo. A construção de seus próprios brinquedos, com
materiais recicláveis ou sucata, possibilita à criança usar suas habilidades manuais e
sua criatividade. Além disso, para ela o brinquedo se torna mais significativo e
também a atividade lúdica acontece. De acordo com as Diretrizes curriculares da
rede pública da educação básica do estado do Paraná:
Várias situações que podem emergir durante a construção de brinquedos ou na participação em brincadeiras, sejam elas, estimuladas pelo professor ou, então, geradas de forma espontânea pelas próprias crianças:
- a construção individual ou coletiva de brincadeiras;
- os materiais – lembremos que o corpo é o primeiro brinquedo das crianças;
- o caráter tradicional ou contemporâneo dos brinquedos e brincadeiras, etc.. (PARANÁ, 2006, p.11).
Na Educação Física, de acordo com Freire e Scaglia (2003, p. 32):
Deve-se levar a criança a aprender a ser cidadã de um novo mundo: em que o coletivo não seja sobrepujado pelo individual; em que a ganância não supere a solidariedade; em que a compaixão não seja esmagada pela crueldade; em que a corrupção não seja referencia de vida; em que a liberdade seja um bem superior; em que a consciência crítica seja patrimônio de toda pessoa [...].
O brincar, como atividade social, possibilita também às crianças refletirem
sobre suas ações e atitudes na sociedade em que estão inseridas.
2.2 HISTÓRIAS E CURIOSIDADES – LINHA DO TEMPO
Os jogos e as brincadeiras estão ligados ao homem desde o início da
formação da sua cultura. Na Antiguidade o homem já jogava e brincava, alguns
registraram suas brincadeiras em forma de desenho nas cavernas, daí em diante, o
jogo acompanhou o homem na sua evolução histórica, estando presente em todas
as civilizações.
Para Kishimoto (1993), os jogos e brincadeiras são aliados ao folclore da
cultura de um povo em certo período histórico com características de anonimato por
não se saber quem foram seus criadores. O que se sabe é que em algumas
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brincadeiras é possível rastrear através do tempo a origem de qual povo a
brincadeira provém.
Muitas práticas que eram utilizadas por adultos em suas atividades de
trabalho ou em atividades de guerra foram abandonadas. Mais tarde, estas práticas
vieram a ser transformadas em brinquedos ou brincadeiras nas mãos das crianças.
Pode-se tomar como exemplo a pipa, que é de origem oriental e foi utilizada pelos
adultos de diversas formas. Nas aldeias chinesas é portadora de mensagens aos
deuses, em 196 a.C. em tempos de guerra, foi instrumento de comunicação nas
mãos do General chinês Han-Sin. A cor da pipa e os movimentos no ar eram
executados para comunicar códigos de mensagens entre os campos. Da China as
pipas viajaram para o Japão, para a Índia e depois para a Europa e em cada nova
terra que chegava sua primeira aplicação era militar. Em 1752, Benjamin Franklin
em uma experiência pendurou uma chave de metal à linha de uma pipa durante uma
tempestade, atraindo uma faísca elétrica, demonstrou a natureza elétrica do raio. A
pipa chegou ao Brasil com os portugueses e há notícias que também foi usada por
sentinelas, no Quilombo dos Palmares, como sinalizadora de perigos (SANTOS,
1997).
A origem dos jogos e brincadeiras brasileiras está na cultura dos povos que
colonizaram o país. Estudos indicam a influência de três raças nos primeiros séculos
de colonização, a raça branca, a raça vermelha e a raça negra, representadas pelos
portugueses, índios e africanos (KISHIMOTO, 1993).
De influência portuguesa vieram para o Brasil os versos, adivinhas, parlendas
e grande parte dos jogos tradicionais populares do mundo como o jogo de saquinhos
(cinco Marias), amarelinha, bolinha de gude, pião e outros.
A respeito do jogo de saquinhos também chamado no Brasil de jogo de
pedrinhas, cinco Marias, três Marias, jogo do osso, onente, bato, arriós, telhos,
chocos e nécara, sua origem é pré-histórica. Nas antigas civilizações, na Grécia
principalmente, os jogos de ossinhos ou de pedrinhas eram praticados tanto por
rapazes como pelas moças, mas eram as crianças que eram presenteadas com
ossinhos quando tinham um bom desempenho escolar. Na Grécia eram chamados
de pentha litha e em Roma de astragulus.
Os reis também praticavam este jogo com pepitas de ouro, pedras preciosas,
marfim ou âmbar. Popular até hoje no Brasil, o jogo de cinco Marias costuma ser
jogado com pedrinhas, saquinhos cheio de areia, sementes ou caroço de frutas.
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Pode ser praticado de diversas maneiras. Com uma mão uma pedra é lançada para
o alto e, antes que ela caia no chão, procura pegar outra que está no chão. Depois
tentar pegar duas, três ou mais, ficando com todas as peças na mão.
O jogo de bolinha de gude também trazido pelos portugueses no Brasil teve
sua origem na Grécia antiga, onde as crianças jogavam com castanhas e azeitonas
e, em Roma, com nozes e avelãs. Provavelmente, esse jogo foi difundido no mundo
pelo Império Romano na época de conquistas territoriais. O jogo era tão popular
entre as crianças de Roma que o imperador César Augusto chegava a parar na rua
para assistir alguns desafios. Gude era o nome dado as pedrinhas redondas e lisas
retiradas do leito dos rios. A partir do século XVIII as bolinhas tornaram-se
perfeitamente redondas feitas de vidro.
No Brasil é chamado de jogo de bolitas, jogo de bolinhas de gude e inhaque.
Ao longo do tempo, sofreu modificações e adaptações de acordo com o contexto
cultural de cada região, mas conserva a sua estrutura básica de jogo de rua,
apreciado muito pelos meninos, embora meninas também participem desse jogo.
Esta brincadeira tem regras próprias estabelecidas pelos participantes, onde uma
delas consiste em desenhar no chão um triangulo ou círculo e cada jogador deverá
“matar”, ou seja, tirar do lugar a bolinha de seus oponentes colocando-os fora ou
dentro da figura conforme o combinado. O perdedor pode perder a partida
simplesmente ou perder junto as suas bolinhas.
Da influência indígena temos as brincadeiras de imitar animais, as
brincadeiras de arco e flecha e a peteca. Para a construção da peteca, os índios
utilizavam uma trouxa de folha cheia de pedras que eram amarradas numa espiga
de milho. Brincavam de jogar esta trouxa de um lado para outro, davam o nome de
Pe’teka, que em tupi significa “bater”.
Esse jogo é muito prazeroso e divertido, praticado no Brasil tanto por crianças
quanto por adultos, como simples brincadeira, porém ele ganhou regras e tem certa
semelhança com o Voleibol e o Badminton por se jogado em um terreno dividido por
uma rede. O elemento principal do jogo é a peteca, que se golpeia com a mão.
A peteca foi difundida no mundo por atletas brasileiros nas Olimpíadas de
Antuérpia em 1920, que brincavam nas horas vagas em que não estavam
competindo, não havia regras. Em 1985, o jogo da peteca virou esporte no Brasil,
com o reconhecimento do Conselho Nacional de Desporto. Porém, é na Alemanha
que a Peteca foi muito bem aceita e, em 2000, em Berlim foi criada a Federação
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Internacional de Indiaca, nome internacional da peteca. O objetivo da Federação era
regulamentar e unificar as regras do jogo.
Da origem africana foram introduzidas aqui as lendas do papão, o boitatá, os
negros velhos, o Saci-Pererê, entre outros. Algumas das brincadeiras como o jogo
de caça ao tesouro, pegador, cavalo-de-pau, são brincadeiras tradicionalmente
africanas. As crianças africanas também sofreram influências de Paris e Londres
pelo seu contato com o europeu.
No Brasil, as crianças negras na época da escravidão brincavam livremente,
caçavam passarinhos com bodoque (estilingues), nadavam nos rios, brincavam de
pega-pega com os outros. Algumas dessas crianças (filhos de escravos) eram
levadas para a Casa-Grande e colocadas à disposição dos meninos brancos, às
vezes como companheiro para as brincadeiras e às vezes eram maltratados pelos
meninos brancos que os faziam passar por animal para ser montado.
3 PROPOSTA DO MATERIAL DIDÁTICO: DA CONSTRUÇÃO À SUA APLICABILIDADE
Fundamentando-se nas ideias dos autores citados e tendo como referência as
Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, optou-se como material didático
pedagógico uma Unidade Didática com o tema: Brincadeiras: é preciso eternizar. Esta Unidade Didática situa-se no contexto da perspectiva da metodologia
crítico-superadora e, por meio do conteúdo estruturante Jogos e Brincadeiras, tem
como conteúdo específico Jogos e Brincadeiras Tradicionais na disciplina de
Educação Física. O objetivo deste estudo é o resgate através da cultura popular e
propõe-se a discutir e vivenciar tais brincadeiras no âmbito escolar, possibilitando
uma ampla percepção e interpretação da realidade. Respeitando o próximo e as
diferenças, intensificando a curiosidade, o interesse e a intervenção dos alunos nas
diferentes brincadeiras.
Escrito em linguagem direcionada para alunos de quinta série do Ensino
Fundamental, do Colégio Marilis Faria Pirotelli - ano letivo 2009, a Unidade Didática:
Brincadeiras: é preciso eternizar foi elaborada com o intuito de elencar os jogos e
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as brincadeiras tradicionais conhecidas pelos alunos e por seus pais, as
modificações que sofreram de uma geração para a outra, a identificação de sua
origem cultural, a construção de brinquedos, a vivência e a recriação de algumas
brincadeiras.
Após a apresentação do projeto para a referida turma, o material
didático-pedagógico foi distribuído para os alunos. Nele, há a disponibilidade teórica
de toda a história, as regras, algumas curiosidades, como construir certos
brinquedos e os direcionamentos de algumas brincadeiras. Contém também
desenhos atraentes das referidas brincadeiras para posterior pintura, visto que os
alunos desta faixa etária apreciam muito este tipo de atividade e oportunizando o
manuseio do material antes de iniciar as atividades.
A aula teve início com uma situação-problema, com o intuito de despertar o
interesse, motivando-os assim para a pesquisa e estudo para a resposta da
pergunta: Mas afinal, de onde vêm os jogos e brincadeiras? Quando elas surgiram?
No momento da aplicação, houve várias respostas e, dentre elas, que o surgimento
era nas ruas, nas aulas de Educação Física, porém, notou-se certa inquietação e
desconfiança por parte dos alunos de que aquelas respostas talvez não fossem
suficientes ou completas. Nesse sentido, orientou-se o grupo que a resposta seria
encontrada no decorrer do projeto.
Na aula seguinte foi perguntado aos alunos quais os jogos e as brincadeiras
que conheciam ou que costumam brincar. As brincadeiras que apareceram com
maior destaque foram as de pega-pega, pular corda, queimada, bets, pular elástico,
alerta e futebol. Quando indagados: Com quem vocês aprenderam tais
brincadeiras? Várias foram às respostas, dentre as elas algumas a considerar: foi
com os amigos, aprendi no recreio, nas aulas de Educação Física.
Após este momento de discussão e reflexão os alunos entrevistaram seus
pais para saber e conhecer quais as brincadeiras de sua época de infância. O
resultado da pesquisa com os pais foi exposto no quadro para que todos tivessem
uma visão generalizada das brincadeiras dos pais de todos os alunos. Em seguida,
cada aluno construiu em seu caderno um quadro comparativo contendo as suas
brincadeiras e as brincadeiras de seus pais com o propósito de relacionar e verificar
se eles e seus pais conheciam as mesmas brincadeiras. Algumas observações e
conclusões surgiram dentro deste quadro com destaques para aquelas que
mantinham a mesma estrutura, porém, recebiam outro nome, outras eram
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exatamente iguais e em algumas havia mudanças de certas regras da maneira do
brincar.
Partindo desta “descoberta” dos alunos, uma nova investigação foi
necessária: procurar quais brincadeiras recebiam outros nomes, nas diversas
regiões brasileiras. Dentre elas, destacou-se a amarelinha que recebe o nome de
macaca na Bahia, maré em Minas Gerais, sapata no Rio Grande do Sul e de avião
no Rio Grande do Norte. O jogo de queimada recebe este nome em São Paulo,
baleado em Salvador, carimba no Ceará, caçador ou queimada no Paraná. Outra
brincadeira é conhecida como o rouba bandeira em São Paulo, salva bandeira em
Florianópolis - SC, conquista bandeira ou pique bandeira no Paraná, bandeirinha em
Belém do Pará e vitória em Diamantina - MG. Foi lançado para os alunos o seguinte
questionamento: Qual a importância de conhecermos os jogos e brincadeiras de
outras regiões do Brasil? A pergunta se justifica por levá-los a reflexão e a
perceberem que também pelas das brincadeiras pode-se conhecer as diferentes
culturas de outras regiões brasileiras.
Retomando o quadro comparativo das brincadeiras conhecidas por eles, e já
com os grupos definidos, foi sugerido que cada grupo selecionasse três brincadeiras
para vivenciar na quadra, porém, antes de iniciar as brincadeiras, teriam que
combinar as regras que iriam ser aplicadas. Esta atividade exigiu do grupo respeito
ao combinado e consenso na escolha de regras para que a brincadeira pudesse se
efetivar de fato.
As brincadeiras propostas pela professora foram: o jogo de cinco-marias,
peteca, bolinha de gude, amarelinha, pular corda, jogo de futebol de botão,
queimada e bets. Antes de iniciar o jogo de cinco-marias, os alunos junto com
professora, confeccionaram os saquinhos de areia. Foi estudada a história e
algumas curiosidades sobre o jogo de cinco-marias. A escolha deste brinquedo se
deve ao fato de ter uma técnica bastante simples para a construção e por requerer
material de fácil aquisição. Indagados se conheciam este jogo, apenas 40% dos
alunos a conheciam. Foi pedido então para que o demonstrassem aos colegas.
Após vivenciarem o jogo na quadra era o momento dos relatos sobre a experiência
obtida nesta atividade. Foram questionados sobre: se gostaram da brincadeira, se
houve dificuldades em aprender o jogo para aqueles que não conheciam e se os
colegas ajudaram para ajudar a superar tal dificuldade.
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Na confecção da peteca, três alunos trouxeram o material (palha de milho e
penas de galinha) por residirem na zona rural. Depois de ensinada a técnica para a
confecção da peteca, notou-se que houve empolgação e prazer em fazer este
brinquedo, pois 99% nunca tinham feito uma peteca daquela maneira. Alguns alunos
relataram que já a tinham feito com jornal. Foi informada a eles a origem da peteca e
o seu significado. Em seguida, iniciou-se a vivência na quadra e os alunos foram
orientados que teriam três atividades com a peteca. A primeira atividade era
somente para brincar em grupo com a peteca; Na segunda atividade o grupo deveria
criar um jogo com regras e que poderia utilizar a rede de voleibol ou não; Na terceira
atividade, com a intervenção da professora, foram ensinadas as principais regras
oficiais do jogo da peteca e as técnicas de rebater. Os alunos apresentaram grandes
dificuldades para realizar esta atividade, principalmente por terem que jogar com a
rede de voleibol, o que se justifica pela falta de vivência com esta atividade. Quando
perguntados sobre o que acharam da brincadeira, todos apontaram para o jogo com
as regras criadas por eles como a atividade mais prazerosa. Informados que uma
brincadeira pode ser transformada em um jogo e um jogo pode ser transformado em
um esporte como foi o caso da peteca, passou-se à atividade seguinte.
Por ser uma brincadeira tipicamente para meninos, o jogo de bolinha de gude
foi muito bem aceito pelas meninas, pelo fato de ser uma novidade para elas. Alguns
meninos também nunca tinham experimentado. As regras foram socializadas e, em
seguida, deu-se início à vivência desta brincadeira com a decisão sobre qual a
maneira a bolinha de gude seria jogada: bulica, lóca e mata-mata. O chão de terra
para brincadeira é o ideal, pois em algumas das maneiras de jogar há a necessidade
de se fazer pequenos buracos no chão. Adaptações podem ser feitas quando o chão
for de pisos e de concreto marcando com giz as fases que envolvem buracos que
são substituídos por círculos. Relatos após o término da brincadeira indicaram a
insatisfação por alguns, por ter de fazer tais adaptações, visto que o espaço para
jogar no chão de terra não comportaria toda a turma.
Ao contrário do jogo de bolinha de gude, no jogo da amarelinha houve um
pouco de resistência dos meninos perante esta brincadeira. Após conversas e
incentivos acabaram por vivenciar a brincadeira. Deixando claro que a diferença de
gênero, em algumas brincadeiras, também carrega o preconceito e o estigma
presente na cultura social da criança, porém é preciso considerar também o fator
preferência entre uma brincadeira e outra. Socializando as regras, cada grupo
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desenhou a sua amarelinha escolhendo o formato. A forma tradicional e a de caracol
foram as que mais se destacaram.
A brincadeira cantada foi com o pular corda após demonstrar a brincadeira foi
solicitado que os alunos apontassem outras brincadeiras cantadas que envolvesse o
pular corda. Através desta atividade pode-se perceber que alguns apresentavam
grandes dificuldades de coordenação, demonstrando a pouca vivência em pular
corda no decorrer da sua infância.
A dificuldade encontrada para a realização do jogo de futebol de botão com
os alunos foi a aquisição do material. Havia apenas três jogos “oficiais”, foi
necessário o improviso e a criatividade utilizando o chão da quadra, desenhando o
campo de futebol de botão. Alguns alunos socializaram as regras para os demais.
Com a formação dos grupos feitos e acordados que se utilizaria o sistema de rodízio
para que todos pudessem jogar com a mesa “oficial” do jogo de futebol de botão. Ao
término destas brincadeiras, foram feitos alguns relatos para o grupo, O mais
significativo foi sobre a improvisação do material que retirou um pouco o entusiasmo
da brincadeira.
No jogo de queimada foi perguntado aos alunos se conheciam outras formas
de jogar que não fosse a tradicional. As mais citadas foram: abelha rainha, a volta
dos mortos vivos e queimada dos quatro cantos. Após a vivência destas variações
da queimada paramos para o momento de questionamentos com o intuito de refletir
sobre o jogo e sobre as ações. Qual das variações das queimadas você mais
gostou? Por quê? O que muda quando você coopera com os outros como no caso
da abelha rainha onde todos tinham que protegê-la? As respostas mais significativas
foram que na queimada tradicional quando se é “queimado” a participação da
brincadeira se torna pequena e nas outras “queimadas” isto não ocorre porque não
há exclusão de nenhum participante, tornando a brincadeira envolvente do início até
o final do jogo.
O jogo de bets foi muito apreciado pelas crianças. Tornou-se bastante atrativo
e prazeroso, havia disponibilidade de material e todas sabiam jogar. Ao final da
atividade e questionados sobre o local de onde jogavam bets, alguns relataram que
jogavam na rua, outros no quintal e poucos citaram a escola.
Na atividade seguinte, os grupos deveriam escolher um jogo ou uma
brincadeira modificando suas regras e desenhando-os para posterior vivência na
quadra com a orientação da professora, quando solicitada. Reflexões e discussão ao
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término da atividade foram realizadas, a situação mais apontada foi sobre as
dificuldades de pôr em prática algumas regras dos novos jogos e brincadeiras e
foram necessários alguns ajustes para que a brincadeira pudesse acontecer.
Além de construir o jogo de cinco-marias e a peteca foi confeccionado o
vai-e-vem com materiais alternativos. Houve também a colaboração da professora
de ciência da turma para a elaboração de boneca de pano. O apoio de professores
de outras disciplinas e da equipe pedagógica escolar é indispensável para que todas
as fases da implementação do projeto ocorram de maneira satisfatória e tranquila.
Ao término destas atividades foi perguntado aos alunos se já haviam confeccionado
algum brinquedo e o que achavam em brincar com o brinquedo confeccionado por
eles. A resposta foi que a brincadeira fica mais prazerosa e divertida. Em casa os
alunos deveriam confeccionar um brinquedo e trazer para a exposição.
Para melhor organização da exposição, os alunos, em dupla, deveriam
escolher uma brincadeira e pesquisar a sua origem, a sua história, os nomes que
eram conhecidos em outras regiões ou países, a forma de jogar e elaborar um
cartaz contendo todas essas informações. Também era necessário trazer os
elementos das brincadeiras. As brincadeiras escolhidas pelos alunos foram: cinco-
marias, peteca, jogo de bets, jogo de futebol de botão, bonecas de pano, bolinha de
gude, amarelinha, pião, bilboquê, jogo de varetas e jogo da velha, vai-e-vem, bola,
estilingue, pular corda, pular elástico, cama de gato e queimada.
A exposição foi realizada para a comunidade escolar com o objetivo de
reconhecer e recordar os jogos e as brincadeiras tradicionais, oportunizando-os,
nem que seja por alguns instantes, a vivenciarem tais brincadeiras. Foi um momento
bastante positivo superando as expectativas, pois os alunos visitantes não resistiram
aos encantos dos brinquedos e passaram a brincar e a vivenciar naquele ambiente.
Esta atitude dos alunos visitantes reafirma que o brincar é inerente ao ser humano e
que faz parte de sua existência.
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3. 1 AS AULAS NA METODOLOGIA CRÍTICO-SUPERADORA
A Educação Física como prática social e pedagógica deve remeter à
organização e sistematização dos conteúdos, não devendo ser fragmentada,
desenvolvendo a noção de historicidade para que o aluno se perceba como sujeito
histórico e crítico, promovendo-o, assim, como ser humano na sua totalidade e
possibilitando a formação de uma visão crítica e dialética do mundo.
A metodologia crítico-superadora tem como objetivo a apropriação crítica da
cultura corporal historicamente produzida pela humanidade. “Os temas da cultura
corporal expressam um sentimento/significado onde se interpreta dialeticamente a
intencionalidade/objetivo do homem e as intenções/ objetivo da sociedade”
(COLETIVO DE AUTORES, 1993, p. 32).
Nesta perspectiva, a metodologia crítico-superadora faz com que o aluno
aproprie através da cultura corporal criticamente os conteúdos estruturantes de
jogos e brincadeiras. Refletir, interpretar e promover a compreensão da prática
social, ou seja, a realidade do aluno através desta abordagem em qualquer
conteúdo da Educação Física, o professor como grande mediador na aquisição do
conhecimento, contribuirá na formação tornando seu aluno em um cidadão crítico.
Através dos jogos e brincadeiras tradicionais as aulas foram realizadas de
acordo com a metodologia crítico-superadora, sugerida pelas Diretrizes Curriculares
de Educação Física do Estado do Paraná e procurou-se seguir os cinco passos.
A prática social é o primeiro passo desta metodologia e traz o conhecimento
que o aluno já possui. O segundo passo é a problematização em forma de desafio
mobilizando o aluno para a pesquisa. A instrumentalização é o terceiro passo e
corresponde ao conteúdo sistematizado pelo professor e disponibilizado para o
aluno, este conteúdo auxilia na solução para o problema. A catarse é o quarto passo
em que o aluno sistematiza o conteúdo transmitido passando por um processo de
assimilação e de reflexão por meio de vivências, discussões ou pesquisas
constituindo uma nova visão da realidade do conteúdo aprendido. O retorno da
prática social é o quinto passo, nela há a confirmação que o aluno já consegue
realizar sozinho as atividades com o novo conhecimento, ele expressa o que
aprendeu e o conteúdo de que se apropriou.
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A metodologia crítico-superadora se deu através da aplicabilidade da unidade
didática em que, na prática social, a professora se valeu de questões norteadoras
sobre os conhecimentos que eles já possuíam, ou seja, as brincadeiras que já
conheciam. A problematização se deu através de um questionamento: Mas, afinal,
de onde vêm os jogos e brincadeiras? Quando elas surgiram? Com o objetivo de
levá-los à reflexão sobre o conhecimento das diferentes culturas e das diferentes
gerações. Na instrumentalização ocorreu com as vivências práticas realizadas na
quadra. A catarse se deu pelos diálogos sobre a vivência das brincadeiras e da
construção de brinquedos. No retorno à prática social, os alunos em dupla
apresentaram uma exposição sobre os jogos e brincadeiras tradicionais
expressando e reconhecendo a brincadeira tradicional como uma cultura popular.
3.2 AS EXPERIÊNCIAS NO GRUPO DE TRABALHO EM REDE
A atividade com o Grupo de Trabalho em Rede (GTR) possibilitou
compartilhar o projeto de intervenção pedagógica, o material didático e a sua
aplicação com um grupo de treze professores da Rede Pública do Estado do Paraná
em encontros virtuais.
Estes encontros constituíam seis unidades de trabalho, estabelecendo
relações teórico-práticas no ensino da Educação Física e visando o enriquecimento
didático-pedagógico por meio de leituras, reflexões, trocas de ideias e de
experiência. A participação dos professores foi bastante significativa para a
construção e o direcionamento desta proposta de estudo por meio de análise,
críticas e sugestões sobre o tema abordado.
Os professores são da disciplina de Educação Física de diversas cidades do
Paraná, da Rede Pública, através deste grupo de estudos via on-line puderam
opinar e refletir os temas abordados contidos nas seis unidades. Alguns relatos
foram selecionados para demonstrar esta experiência e são aqui identificados como
a letra “A”, “B”, “C” e “D” .
Sobre a questão: Como devem ser as aulas na perspectiva da Cultura
Corporal?
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A Professora A relatou que através das aulas, na perspectiva da Cultura
Corporal,
[...] busca a realidade do aluno, ampliando a sua cultura historicamente produzida, através do jogo, dança, esporte, ginástica e luta. O professor deve ser um agente educador e a escola deve mediar o acesso aos bens culturais, sistematizando e transmitindo diferentes saberes. As aulas devem ser bem planejadas e avaliadas por professor e aluno, refletindo sobre todos os pontos de vista, já que a Educação Física é entendida como uma área de intervenção social.
O Professor B comentou:
Antes de tudo, para trabalharmos dentro dessa nova perspectiva, temos que fugir do paradigma da aptidão física e esportiva tão fortemente presentes nas aulas de Educação Física. Além disso, devemos ter em mente, qual é o objetivo que queremos alcançar com nossos alunos, trabalhando com a Cultura Corporal. Sendo necessário um aprofundamento teórico desta nova prática pedagógica.
Perguntou-se a respeito da possibilidade da aplicação da Unidade Didática:
Brincadeiras: é preciso eternizar nas aulas de Educação Física para alunos de 5a.
série. Neste caso, a professora C comentou que:
A sua Produção Didática Pedagógica vem contribuir para o melhor entendimento do professor quanto o encaminhamento metodológico de suas aulas ao trabalhar com o conteúdo Jogos e Brincadeiras, visto que muitos professores apresentam dificuldades de trabalhar como um conteúdo estruturante, na maioria das vezes o que se nota são o ‘fazer pelo fazer’ somente para passar o tempo sem despertá-los para a importância dos mesmos.
O professor D analisa a fundamentação teórica e a metodologia aplicada na
proposta desta Unidade Didática, do seguinte modo:
Considero esta proposta didática de suma importância para a nossa disciplina como forma de balizar, orientar e fomentar a discussão sobre os conteúdos abordados. Percebi que a sequencia metodológica e a fundamentação teórica são perfeitamente organizadas e distribuídas, provocando a cada tarefa um novo desafio e principalmente coerente com a proposta da cultura corporal na Educação Física. Fiquei feliz ao ler a proposta, pois pude encontrar um referencial teórico-prático que realmente posso aplicar em minhas aulas dando assim embasamento para desenvolver o conteúdo.
Estas experiências, através do grupo de trabalho em rede, proporcionaram
momentos de reflexão sobre o fazer pedagógico no conteúdo de jogos e
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brincadeiras. Estudos e pesquisas são necessários para que se efetive e se valorize
de fato o brincar nas aulas de Educação Física.
CONCLUSÃO
Se é verdade que há uma criança em cada adulto, é necessário que as
crianças levem para a sua vida adulta imagens enriquecidas da infância. Jogar e
brincar não serão fórmulas mágicas para solucionar seus problemas futuros, porém,
ajudarão no seu desenvolvimento como ser total, obtendo uma visão crítica e
dialética do mundo, auxiliando-os na descoberta de ser sujeito dentro das suas
singularidades, que respeita que coopera que é solidário e que supera suas próprias
frustrações.
A metodologia crítico-superadora, utilizada na prática pedagógica, oferece um
significado mais amplo sobre o conteúdo, valoriza o aluno como um sujeito capaz de
compreender a sua realidade e oportuniza a possibilidade de alterá-la.
Resgatar jogos e brincadeiras tradicionais é possível e viável, basta que o
professor, uma das peças fundamentais nesse trabalho, promova em suas aulas
jogos e brincadeiras, construa brinquedos com suas crianças, valorize os
conhecimentos que estas já possuem, despertando, em cada uma delas, a
criatividade, o lúdico e o mais importante: o prazer de brincar.
A Educação Física Escolar deve oferecer às crianças essa vivência, ao
mesmo tempo em que assegura a sobrevivência de tais brincadeiras, visto que,
cada vez mais o espaço fora do ambiente escolar está se reduzindo, devido à falta
de segurança e ao crescimento urbano.
Deve-se respeitar o mundo em que a criança vive o seu “aqui e agora”. Às
vezes, nos esquecemos que brincar é uma ação espontânea e que crianças são
crianças, elas gostam e necessitam brincar, e o fazem com prazer. Brincando,
também se aprende a respeitar e conviver com outro, com o diferente, aprende-se a
perpetuar o jogo da cultura popular e de se posicionar frente ao mundo.
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REFERÊNCIAS
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DARIDO, Suraya Cristina; RANGEL, Irene Conceição Andrade. Educação física na escola. Implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
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PARANÁ. Secretaria do Estado de Educação - SEED. Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná. Diretrizes curriculares da rede pública da educação básica do estado do Paraná. Educação Física. Curitiba: Secretaria do Estado de Educação – SEED, 2006.
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SOLER, Reinaldo. Educação física escolar. Rio de Janeiro: Sprint, 2003.
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