Post on 19-Oct-2015
Braslia, 50 anos:
do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
Juliane Albuquerque Abe Sabbag
Braslia, 2012
Fich
a ca
talo
grf
ica
e
labo
rada
pe
la Bi
blio
teca
Ce
ntra
l da
Un
ive
rsid
ade
de
Bra
slia
. Ac
erv
o 99
8846
.
Sa
bbag
, Ju
lia
ne
A
lbuqu
erq
ue
Ab
e.
S1
14b
B
ras
lia
, 50
an
os
:
do
u
rba
nis
mo
m
ode
rno
a
o pl
ane
jamen
to
e
str
at
gico
/
Juli
ane
A
lbuqu
erq
ue
Ab
e Sa
bba
g. -
- 20
12.
x
vi,
20
5 f.
:
il
.
D
isse
rta
o
(m
es
tra
do)
- Un
ive
rsid
ade
de
B
ras
lia
,
Fa
culd
ade
de
A
rqu
ite
tura
e
U
rba
nis
mo
, P
rogr
ama
de
P
s-G
radu
a
o em
A
rqu
ite
tura
e
U
rban
ism
o,
20
12.
In
clu
i bi
blio
gra
fia
.
O
rie
nta
o
: An
a E
lisa
bete
de
A
lme
ida
Me
deir
os
.
1.
P
lane
jame
nto
u
rba
no
-
B
ras
lia
(D
F).
I.
Me
deir
os
,
An
a E
lisa
bete
de
A
lme
ida
.
II. T
tu
lo.
CD
U 71
1.4(
817
.4)
II
FaculdadedeArquiteturaeUrbanismo
ProgramadePsGraduaoemArquiteturaeUrbanismo
JulianeAlbuquerqueAbeSabbag
Braslia, 50 anos:
do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
DissertaodeMestrado
Braslia,2012
III
JulianeAlbuquerqueAbeSabbag
Braslia,50anos:
doUrbanismoModernoaoPlanejamentoEstratgico
Dissertao deMestrado apresentada ao Programa de PsGraduao da Faculdade deArquitetura eUrbanismodaUniversidadedeBrasliacomorequisitoobrigatrioparaobtenodottulodeMestreemArquiteturaeUrbanismo.LinhadePesquisa:Teoria,HistriaeCrtica.Orientadora:Profa.Dra.AnaElisabetedeAlmeidaMedeiros.
Braslia,2012
IV
JulianeAlbuquerqueAbeSabbag
Braslia,50anos:doUrbanismoModernoaoPlanejamentoEstratgico
DissertaoparaobtenodograudeMestreemArquiteturaeUrbanismopeloProgramadePsGraduaodaFaculdadedeArquiteturaeUrbanismodaUniversidadedeBrasliaFAU/UnB
BANCAEXAMINADORA
Aprovadapor:
Profa.Dra.AnaElisabetedeAlmeidaMedeiros,DepartamentodeTeoriaeHistriaemArquiteturaeUrbanismo,UnB(Orientadora)
Prof.Dr.RodrigoSantosdeFaria,DepartamentodeTeoriaeHistriaemArquiteturaeUrbanismo,UnB
Prof.Dr.NeioLciodeOliveiraCampos,DepartamentodeGeografia,UnB
Braslia,26demarode2012.
V
DEDICATRIA
DedicoestetrabalhoaomeupequenoFernandoqueentrounaminhavida,juntamentecom
omestrado,emetransformou.Razodaminhavida.
VI
AGRADECIMENTOS
Agradeoa todosque,decertamaneira, fizerampartedaminhavidaecontriburamparaqueeuchegasseataqui.Primeiramente,peodesculpasse
esquecialgum,poisnesta longacaminhadavriaspessoaspassaramecontriburamdealgumamaneira.Deusemprimeiro lugar.A fea forapara
continuarmosvemdesteSerinexplicvel.minhaveaomeutioque,infelizmente,noestomaisnesteplanoparaverafinalizaodestetrabalho,mas
quesempremeapoiaramemederamabaseparaoquesouagora.minhame,aomeuirmoeaomeupai,queaindaestocomigoe,assimcomoos
doisltimoscitados,soomeualicercefamiliar.Aomeumarido,Renato,queh11anosparticipaintensamentedaminhavidaeacreditanosmeussonhos.
razodaminhavida,meufilhoFernando,omaisnovomembrodafamliaquesurgiujuntocomomestradoevemmeensinandocomoserumame
pesquisadora(risos).Aosmeusprimosamados,FelipeeGiovana,tiaTerezinhaeespecialmenteminhaafilhadaFernanda,pelaforaecarinho.Aosmeus
gatosamadosque sempreestiveramporperto (em cimado computador,dos livrosedamesa),Shasta,Olga,BriseSamir.minhagrandemestrae
orientadora,AnaElisabete,pessoainteligente,competenteemaravilhosaquetenhooprazerdeconvivernosltimosanos.AosprofessoresNeio,Rodrigo,
eBenny,queaceitaramparticipardaminhabanca,sejaadequalificaosejaafinal,compartilhandoumpoucodosseusconhecimentoscomigo.Aopessoal
dasecretariadapsgraduaodaFAU/UnB,quesempremeajudaramaresolveroscontratempos.sminhasamigasdemestrado,Gizella,AndraeAna
Amlia,grandesmulheres.Aosmeusamigos,sejamosmaisantigossejamosmaisnovos,peloapoioeamizadeverdadeira.
Muitoobrigada!
VII
RESUMO
Braslia se coloca parte noque tange aodesenhourbano ena forma como foi concebida,planejada eocupada.Capital Federaldesde 1960, cidade
planejada aosmoldes do urbanismomoderno da dcada de 1950, Patrimnio Cultural daHumanidade desde 1987 e PatrimnioHistrico e Artstico
Nacionaldesde1990,recorrenosltimosanosaoplanejamentoestratgicocomoformadese inseriremumcontextodecompetitividadeentrecidades
mundiais.Apartirdoentendimentoqueourbanismomodernoeoplanejamentoestratgicosoosdoisprincipaisplanejamentosurbanosaplicadosno
ordenamento territorial de Braslia e que o plano diretor de ordenamento fsico e espacial o instrumento bsico voltado a orientar a poltica de
desenvolvimentoedeordenamentodaexpansourbana,umdocumentoorientadordosinvestimentospblicoseprivados(apartirdadcadade1990),a
presentedissertaobusca identificar,atravsdaanlisedosseisplanosdiretoresedodocumentoBrasliaRevisitada,deLucioCosta,oselementosde
atuao,decontinuidadeederupturaentreosplanejamentosempregadosnousoeocupaoterritorialdacidade.Paratanto,otrabalhoseestruturaem
trspartes.AParteI,divididaemdoiscaptulos,abordadoisperodos,chamadosaquideModernoePsModerno,tratandodourbanismomodernoedo
planejamentoestratgico,almdetrazertonaodebateacercadoplanodiretornestesdoisperodos.AParteIIcontextualizaBrasliaemtrsmomentos
distintos:aModerna,aPatrimnioeaPsModerna.AParteIIIdlugaranlisepropriamenteditadosseisplanosdiretoresdeordenamentoespacialedo
BrasliaRevisitada,de1987,visandoidentificar,apsapreciao,ascaractersticascapazesderevelaraatuao,acontinuidadeearupturadourbanismo
modernoedoplanejamentoestratgicono territriodaCapitalFederal,metrpoleem formao, segundooltimoplanodiretorda cidade.Afinalde
contas,acidadeseorganiza(esedesorganiza)apartirdasaesconstantesnosseusplanosdiretores.
PALAVRASCHAVES:Planejamentourbano,PlanoDiretor,Braslia.
VIII
ABSTRACT
Brasiliastandsapartwhenitcomestourbandesignandhowitwasconceived,plannedandoccupied.FederalCapitalsince1960,thecityplannedalongthe
linesofmodernurbanismof the 1950s,WorldHeritage since 1987and theNationalHistoricalandArtisticHeritagesince 1990,draws in recentyears in
strategicplanningasawaytoenter inacontextofcompetitionbetweenworldcities.Basedontheunderstandingthatthemodernurbanplanningand
strategicplanningarethetwomainurbanplanningappliedinlandofBrasiliaandthemasterplanforphysicalandspatialplanningisthebasictoolaimedto
guidepolicydevelopmentandplanningofurbanexpansion,aguidingdocumentforpublicandprivateinvestment(from1990),thisworkseekstoidentify,
throughanalysisofsixmasterplansanddocumentBrasiliaRevisitada,LucioCosta,theelementsofacting,continuityandbreakbetweentheemployeesin
planninglanduseandoccupationofthecity.Tothisend,theworkisstructuredinthreeparts.PartI,dividedintotwochapters,coverstwoperiods,called
heretheModernandPostmodern,dealingwithmodernurbanplanningandstrategicplanning,andbringingupthedebateonthemasterplanforthesetwo
periods.PartIIcontextualizesBrasiliainthreedistinctstages:theModern,HeritageandthePostmodern.PartIIIgivesrisetotheactualexaminationofthe
sixmasterplansofspatialplanningandBrasiliaRevisitada,1987,toidentify,afterexaminingthecharacteristicsthatrevealtheacting,continuityandrupture
ofmodernurbanplanningandstrategicplanninginterritoryoftheFederalCapital,themetropolisinthemaking,accordingtothelatestcity'smasterplan.
Afterall,thecityisorganized(anddisorganized)fromtheactionscontainedintheirmasterplans.
KEYWORDS:UrbanPlanning,MasterPlan,Braslia.
IX
LISTADEFIGURASETABELAS
Figura1MapaaxialabstradodaszonasurbanasdeBraslia 21 Figura2IntervencespropostasporLeCorbusierparaacidadedoRiodeJaneiro 33 Figura3ImagemdaEsplanadadosMinistrios:amonumentalidadedosedifcioseseusvaziosurbanos 37 Figura4PalauSantJordieatorredecomunicaesdeMontjuic:OlimpdasdeBarcelona,1992 43 Figura5PortodeBarcelonarevitalizado:FrumdaCulturade2004 50 Figura6Cruzamentodosdoiseixos,1957 63 Figura7CroquidoprojetodoPlanoPilotodeBraslia,1957. 64 Figura8PoligonaldeTombamentodoPlanoPilotodeBraslia 76 Figura9readepreservaopropostapeloGTBraslia 80 Figura10ImagemdoDistritoFederalrealizadapelaNASAem08jan.2011. 94 Figura11EvoluoPopulacionaldoDistritoFederal,TaxaMdiaGeomtricadeCrescimentoAnualeDensidadeDemogrfica 105 Figura12ZoneamentodoPEOT 113 Figura13PropostaFinalPEOT 115 Figura14ZoneamentodoPOT 123 Figura15CroquidasreasEconmicas 134 Figura16ZoneamentodoBrasliaRevisitada 135 Figura17ZoneamentodoPOUSO 139 Figura18ZoneamentodoPDOT/92 147 Figura19ZoneamentodoPDOT/97 159 Figura20ZoneamentodoPDOT/2009 173 Figura21LinhadotempodoplanejamentourbanodeBraslianosprimeiros50anos 188 Figura22e23TorreDigitaldeBraslia,2012.TorredasComunicaesMontjuicdeBarcelona,1992. 194 Figura24e25EstdioManGarrincha.MaqueteeletrnicadoNovoEstdioNacionaldeBraslia. 195
X
Tabela1TabelasntesedeanlisedosPlanosDiretores 100 Tabela2TabeladeanlisedoPEOT/78 116 Tabela3TabeladeanlisedoPOT/85 125 Tabela4TabeladeanlisedoBrasliaRevisitada1987 136 Tabela5TabeladeanlisedoPOUSO/90 142 Tabela6TabeladeanlisedoPDOT/92 151 Tabela7TabeladeanlisedoPDOT/97 163 Tabela8TabeladeanlisedoPDOT/2009 179 Tabela9Tabelasntesedaatuao,dacontinuidadeedarupturadosatributosprincipaisdoUrbanismoModernoedoPlanejamentoEstratgico 184
XI
SIGLRIO
APA readeProteoAmbientalAPP readeProteoPermanenteARIE readeRelevanteInteresseEcolgicoBNH BancoNacionaldaHabitao
CAESB CompanhiadeguaseEsgotosdeBrasliaCAUMA ConselhodeArquitetura,UrbanismoeMeioAmbienteCIAM CongressoInternacionaldeArquiteturaModerna
CIPLAN CimentosPlanaltoCNDU ConselhoNacionaldeDesenvolvimentoUrbanoCNPU ComissoNacionaldeRegiesMetropolitanasePolticaUrbana
CODEPLAN CompanhiadePlanejamentodoDistritoFederalDAU DepartamentodeArquiteturaeUrbanismo
DePHA DepartamentodePatrimnioHistricoeArtsticodoDistritoFederalDPHAN DepartamentodoPatrimnioHistricoeArtsticoNacional
EIA/RIMA EstudodeImpactoAmbiental/RelatriodeImpactoAmbientalEM ExposiodeMotivo
EPCT EstradaParqueContornoEPIA EstradaParquedeIndstriaeAbastecimento
FNPM FundaoNacionalPrMemriaGDF GovernodoDistritoFederal
GEIPOT EmpresaBrasileiradePlanejamentodeTransportesGTBraslia GrupodeTrabalhoparaaPreservaodoPatrimnioHistrico,CulturaleNaturaldeBraslia
IBPC InstitutoBrasileirodoPatrimnioCulturalIBRAM InstitutodoMeioAmbienteedosRecursosHdricosdoDistritoFederalBrasliaAmbientalIBGE InstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatstica
ICOMOS ConselhoInternacionaldosMonumentoseStiosIPHAN InstitutodoPatrimnioHistricoeArtsticoNacionalIPDF InstitutodePlanejamentoTerritorialeUrbanodoDistritoFederalJK JuscelinoKubitschek
XII
LODF LeiOrgnicadoDistritoFederalMP MedidaProvisria
MPU MinistrioPblicodaUnioNASA NationalAeronauticsandSpaceAdministrationIIPND PlanoNacionaldeDesenvolvimento
PA PlanodeAoPAL PlanodeAoLocalPAS PlanodeAoSetorial
PERGEB ProgramaEspecialdaRegioGeoeconmicadeBrasliaPDOT PlanoDiretordeOrdenamentoTerritorialPEOT PlanoEstruturaldeOrganizaoTerritorialdoDistritoFederal
PLANIDRO PlanoDiretordeguas,EsgotoeControledePoluiodoDistritoFederalPNDR PolticaNacionaldeDesenvolvimentoRegional
POLOCENTRO ProgramadeDesenvolvimentodosCerradosparaaRegioCentroOestePOT PlanodeOrdenamentoTerritorial
POUSO PlanodeOcupaoeUsodoSoloPPCUB PlanodePreservaodoConjuntoUrbansticodeBraslia
PT PartidodosTrabalhadoresNOVACAP CompanhiaUrbanizadoradaNovaCapitaldoBrasil
RA RegioAdministrativaRIDE/DF RegioIntegradadeDesenvolvimentodoDistritoFederal
RIVI RelatriodeImpactodeVizinhanaSEDUH SecretariadeDesenvolvimentoUrbanoeHabitao
SEDUMA SecretariadeDesenvolvimentoUrbanoeMeioAmbienteSEPLAN SecretariadeEstadodePlanejamentoeOramentodoDistritoFederal
SERFHAU ServioFederaldeHabitaoeUrbanismoSFU SocietFranaisedesUrbanistesSHIS SetorHabitacionalIndividualSulSHIN SetorHabitacionalIndividualNorteSIA SetordeIndstriaeAbastecimentoSIG SetordeIndstriaGrficas
XIII
SISPLAN SistemadePlanejamentoTerritorialeUrbanodoDistritoFederalSITURB SistemadeInformaesTerritoriaiseUrbanasdoDistritoFederalSMDB SetordeMansesDomBoscoSMPW SetordeMansesParkWaySPHAN SecretariadePatrimnioHistricoeArtsticoNacional(19791990)SPHAN ServiodoPatrimnioHistricoeArtsticoNacional(19371946)
SVO SecretariadeViaoeObrasTERRACAP CompanhiaImobiliriadeBraslia
TI TecnologiadeInformaoUNESCO OrganizaodasNaesUnidasparaaEducao,aCinciaeaCultura
UnB UniversidadedeBrasliaUV UnidadedeVizinhana
XIV
SUMRIO
DEDICATRIA V AGRADECIMENTOS VI RESUMO VII ABSTRACT VIII LISTADEFIGURASETABELAS IX SIGLRIO XI SUMRIO XIV INTRODUO XVI PARTEI 24 MODERNOPSMODERNO 24 I.1. OPLANEJAMENTOURBANOMODERNOEOPSMODERNO 25 I.1.1. OUrbanismoModerno 28 I.1.2. OPlanejamentoEstratgico 40 I.2. AQUESTODOSPLANOSDIRETORES:OVELHOEONOVO 51 PARTEII 58 BRASLIA,50ANOS 58 II.1. BRASLIAMODERNA 59 II.2. BRASLIAPATRIMNIO 72 II.3. BRASLIAPSMODERNA 86 PARTEIII 98 PLANEJAMENTOURBANOPLANOSDIRETORES 98 III.1. OSPLANOSDIRETORESDEBRASLIAEM50ANOS 99 III.1.1 PEOTPlanoEstruturaldeOrganizaoTerritorialdoDistritoFederal 103 III.1.2 POTPlanodeOcupaoTerritorialdoDistritoFederal 118 III.1.3 BrasliaRevisitada1987 126 III.1.4 POUSOPlanodeOcupaoeUsodoSolo 137
XV
III.1.5 PDOT/92PlanoDiretordeOrdenamentoTerritorialde1992 144 III.1.6 PDOT/97PlanoDiretordeOrdenamentoTerritorialde1997 154 III.1.7 PDOT/2009PlanoDiretordeOrdenamentoTerritorialde2009 166 III.2. ATUAES,CONTINUIDADES,RUPTURAS 181 CONCLUSO 189 BRASLIA,50ANOS:DOURBANISMOMODERNOAOPLANEJAMENTOESTRATGICO 190 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 197
XVI
INTRODUOINTRODUO
DiziaeleestouindopraBraslia
Nestepasmelhorlugarnoh
Tprecisandovisitaraminhafilha
EuficoaquievocvainomeuLugar
EJooaceitousuaproposta
EnumnibusentrounoPlanaltoCentral
Eleficoubestificadocomacidade
SaindodarodoviriaviuasluzesdeNatal
MeuDeus,maisquecidadelinda,
NoAnoNovoeucomeoaTrabalhar
Cortarmadeira,aprendizdecarpinteiro
GanhavacemmilpormsemTaguatinga
FaroesteCaboclo- LegioUrbana
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSO
17
NoinciodosculoXX,LeCorbusierafirmaqueascidadesdevemseadaptarsuapoca,devolvendosuaeficcia,transformandoafundamentalmente.
Para taltransformao,elesugerequesejaaplicadooUrbanismoModernocomomodelodeplanejamentourbano,emumatentativadesalvaras
cidadesdotrnsitocatico,dasmoradiasprecrias,dainsalubridadeedemazelasqueasestavamameaandonaquelemomento.Apartirdadcadade
1960,acrticaarespeitodoplanejamentourbanorealizadosobosprincpiosmodernostraztonaumoutrotipodediscursoparasalvarascidades:o
do Planejamento Estratgico. Podese afirmar, assim, que o sculo XX marcado por dois perodos no que se refere ao planejamento urbano: o
moderno,aoqualestassociadooUrbanismodefendidoporLeCorbusierepelaCartadeAtenasde1933,eoperodopsmoderno,oqualseencontra
ligadoaoPlanejamentoEstratgico.
Compreendidoscomooestudodofenmenourbanonoquetangedimensourbana,ostermosurbanismoeplanejamentourbanodiferemnas
formasdeatuao.Seourbanismoatuabasicamentecomodesenhourbanoeplanosdiretores,muitasvezesdesconsiderandoacidadecomoagente
deprocessosocialemconstantedesenvolvimento,noqualoarquitetourbanistafiguracomoograndeespecialista,oplanejamentourbano,porsua
vez,umaatividademultidisciplinarqueextrapolaoordenamentofsicodacidadenabuscapeloentendimentodadimensosocialqueaconstriea
(re)constriaolongodotempo,dandovozcadavezmaisaocidadocomumnosprocessosdecisrios.
No contextododesenvolvimentodapresentedissertao,o termo UrbanismoModernoadotadoparadesignaro tipodeplanejamentourbano
predominantenoBrasilatosanos19701980.AliceradonozoneamentodasquatrofunesurbanasfundamentaisestabelecidaspelaCartadeAtenas
de 1933 habitar, trabalhar, recrear e circular enosplanosdiretoresdeuso eocupaodo solo,baseadonodiscurso competentedo arquiteto
urbanista,destitudodeumapreocupaode legitimaopopular,ourbanismomodernodecarter racionalistae funcionalistacaracterizase,ainda,
pelopapelcentralizadordoEstadoepelaprticadatabularasaedarenovaocomoformasdeintervenesurbanas.
OplanejamentourbanodoinciodosculoXXguiadoporumnmerosignificativodeiniciativasedeinstituiesquedebatemosproblemasurbanos,
como questes de higienepblica edehabitao1. Engenheiros emdicos so os principais agentes,oumelhor,planejadores, pois os temasmais
polmicosemtornodacidade industrialestorelacionadoshabitaoesade.Intervenessignificativas,principalmentenasmoradiaspopulares,
1Osproblemassociaissoconfundidostambmcomosproblemasurbanos,sendonecessriotransformaroambiente,oespao fsicoondeapopulaovive,assimcomoseushbitosevaloresculturais.VerRIBEIRO&CARDOSOInDEGRAZIA,1990,p.7088
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSO
18
sopropostaserealizadasemdiversascidades,comonoRiodeJaneiro.Apartirdadcadade1920,entramemcenaosarquitetosurbanistascomoos
principaisprotagonistasdoplanejamentourbano,apoiadosnosprincpiosdourbanismomodernodefendidosporLeCorbusiere,maistarde,difundidos
pelaCartadeAtenasde1933.OurbanismomodernoaoqualserefereLeCorbusiercomomedidaparasalvarascidadespossuicarterreflexivocrtico,
compretensescientficas.Surge,dentreoutrosmotivos,comaintenoderesolverosproblemasdeplanejamentoedehigienedascidadesindustriais.
Cabeenfatizarqueourbanismomodernopretendesuperarodualismoentreacidadeeocampo.Osarquitetosmodernoscriticamacombinaoentre
interessepblicoepropriedadeprivadabasedacidadeburguesa2.Ointeresseprivado,nourbanismomoderno,passaasersubordinadoaopblico.O
solo,apartirdeento,liberadoetratadocomopblico.
Findaadcadade1950,acrticaaourbanismomodernoiniciaseepeemxequeotipodeplanejamentoqueatentopredominante,odecarter
funcionalistaede setorizaoextrema.Podesedizer,assim,quese iniciauma reaopsmoderna.Oqueocorreapartirdeentoa rejeioao
discursouniversal,razomanipuladora,totalizante3.Oplanejamentourbanocomeaaperderseucarterracionalista,funcionalista4.Ozoneamento
rgidotambmdepreciadoeaapropriaodousodosolovoltaaterparticipaodeincentivosprivados.
De acordo com David Harvey, com o fim do perodo moderno e incio da era psmoderna, h uma ruptura com a idia modernista de que o
planejamentoeodesenvolvimentodevemconcentrarseemplanosurbanosdelargaescala,dealcancemetropolitano(...)5.Opsmodernocultiva,em
vezdisso,umconceitodetecidourbanocomoalgo fragmentado,comose fosseumacolagemdeprojetospelacidadedesconsiderando,nagrande
maioriadassolues,otodo.
Assim,onovoplanejamentourbanoobservadoprincipalmenteentreascidadescentraismundiaisapartirdadcadade1970,queatendepelonomede
PlanejamentoEstratgicopassaaincentivaroadensamentourbano,ocupandoosseusvazios,asreasdegradadasouintersticiais.Acidadeencarada
2BENEVOLO,2005,p.6313HARVEY,2010,p.194ARANTESetal.,2009,p.21
5HARVEY,2010,p.69
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSO
19
agoracomoumamquinadecrescimento.Nestecontexto,ourbanistaouplanejadorvistocomoumempreendedorqueseapropriadaRevitalizaoe
daRequalificao,ambasintervenesurbanas,paravenderseusplanoseprojetosainvestidoresecoloclosemprtica.
Entretanto, findooprimeirodecniodo sculoXXI, possvel verificarque somuitas as crticas aomodelodePlanejamento Estratgico,deuma
maneirageral.Deumlado,acrticaseembasanahomogeneizaodascidadesempresaculturalque,nansiaemidentificarepotencializarseuspontos
fortesnosentidode fazer frenteconcorrnciaregionalenacionalpor investimentos,concentramesforosnaespeculaodecertasreasurbanas,
muitasvezesnoscentroshistricos,contribuindoparaasuagentrificao.Deoutro lado,alertaparaasrestriesdosprojetossetorizados,pontuais,
quequasesempreignoramacidadecomoumtodo.
Diante desta conjuntura, o presente trabalho propese a compreender a relao dos dois tipos de planejamento urbanos, aqui tratados como
urbanismomoderno e planejamento estratgico, no tecido urbano de uma cidade, a partir da leitura dos seus planos diretores de ordenamento
territorial.Assim,aindasobosefeitosdascomemoraesdosseus50anosediantedomomentode reflexesacercadapreservaodopatrimnio
recente,elegeseacidadedeBrasliacomoestudodecaso,exemplomaiordourbanismomodernonoBrasilenomundo.
Naverdade,emcomparaosdemaiscidadesbrasileiras,Brasliasecolocapartenoquetangeaodesenhourbanoenaformacomofoiconcebida,
planejadaeocupada.Capital Federal inauguradaem21de abrilde 1960, cidadeplanejada aosmoldesdourbanismomodernodadcadade 1950,
recorre nos ltimos anos ao planejamento estratgico como forma de insero em uma rede internacional de cidadesmundiais e de atrao de
investimentos.Patrimniorecente,BrasliaamaiorreaurbanainscritanalistadaUNESCO(OrganizaodasNaesUnidasparaaEducao,aCincia
eaCultura)aqumealmdasfronteirasnacionais6.
CabeenfatizarqueseadotanestetrabalhootermoBrasliacomoametrpoleem formao,queextrapolaos limitesdoPlanoPiloto,abrangendoo
DistritoFederaleasuaregiometropolitana(cidadesgoianasemineiras).Emumprimeiromomento,BrasliaareadoPlanoPiloto,produtofinaldo
projetomodernodeLucioCosta.Mascomoaparecimentodascidadessatlitesnocenriourbano,apartirdaadoodomodelopolinucleado,ainda
duranteaconstruodoPlanoPiloto,anoodoterritrioBrasliaextrapolaeste limite,sendoconsideradaagoraumconjuntoheterogneoformado
6VerMEDEIROSInRIBAS,2005,p.111
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSO
20
peloPlanoPiloto,seucentroprincipal,pelassuascidadessatlitesepelascidadesperifricasgoianasemineiras,chamadastambmdeentorno.Esta
metrpoleaindaespacialmentedispersaapesardeseobservarumprocessointensodeconurbaoentrediversosncleosurbanosnaltimadcada.
SegundooArt. 1o e seu 1odoDecretono 10.829,de 14deoutubrode 1987, entendeseporPlano Piloto a concepourbanaoriginaldeBraslia,
conformeoseuRelatrio,ouMemorialDescritivo,erespectivosdesenhosquecompemoprojetodeautoriadoarquitetoeurbanistaLucioCosta.Suas
complementaes, preservao e eventual expanso devem obedecer s recomendaes expressas no documento Braslia Revisitada, tambm de
mesmaautoria,elaborado30anosapsoresultadodoConcursoNacionaldoPlanoPilotodaNovaCapitaldoBrasileinciodasobrasdeconstruode
Braslia.
Adotase tambma terminologiacidade satliteparaosncleosurbanosquesurgemdesdeaconstruodoPlanoPiloto,mesmosabendoqueeste
termono maisutilizadopelos gestoresurbanos locais,que consideram a expresso cidade satlitepejorativa edepreciativa7.As cidades,que
podem ser interpretadas tambm comobairrosdeBraslia, so chamadas agoradeRegiesAdministrativas (RA).No inciode2012,o territriode
Braslia jcontabiliza31RAs8.SegundoaSecretariadeViaoeObrasdoGovernodoDistritoFederal(SVO/GDF)9,rgoresponsvelporalgunsanos
pelo desenvolvimento e superviso dos planos urbansticos, as cidades satlites, sedes das Regies Administrativas10, so essencialmente ncleos
perifricosformadosdesdeaconstruodanovaCapitaldopasdevidoanecessidadedefixarapopulao.
7Otermosatlite,quesereferescidadessituadasnoterritriodeBraslia,foiproibidoatravsdodecretono19.040de18defevereirode1998.8OsetorhabitacionaldaFercaltornasea31oRAem29deJaneirode2012,deacordocomaLeino4.745.
9DF/SVO,1987.Captulo2Urbanismonombitogovernamental.
10Apenasparaevitardvidasquepoderosurgirnodecorrerdodesenvolvimentodo trabalho,nos tempos remotosprimeiradivisodo territrioemRegiesAdministrativas,quando
surgiramoitoRAs,oPlanoPilotodefinidocomoaRAIBraslia.ComoesteestudoentendeBrasliacomoumterritriodeabrangnciametropolitana,aosereferirscidadesdesteterritrioadotaseoPlanoPilotocomosendooncleourbanoprincipalcircundadoporcidadessatlites,ouseja,asdemaisRegiesAdministrativas.
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSO
21
Figura1MapaaxialabstradodaszonasurbanasdeBrasliaFonte:HOLANDA,2010,p.36
Recm completados50anos,aCapitalplanejadadoBrasil,Braslia, conta com seisplanosdiretoresdeordenamento territorialPEOT/78,POT/85,
POUSO/90,PDOT/92,PDOT/97ePDOT/200911ecomumdocumentodadcadade1980relevanteparaacomplementao,preservaoeexpanso
doPlanoPilotodeBraslia,oBrasliaRevisitada87,deLucioCosta,arquitetourbanistaquevenceuoConcursoNacionaldoPlanoPilotodaNovaCapital
doBrasil.
11
Asaber:PEOTPlanoEstruturaldeOrganizaoTerritorialdoDistritoFederal,realizadoem1977ehomologadoem1978;POTPlanodeOrdenamentoTerritorial, realizadoem1985;POUSOPlanodeOcupaoeUsodoSolo,elaboradoem1986ehomologadoem1990;PDOTPlanoDiretordeOrdenamentoTerritorialdoDistritoFederal,dosanosde1992,1997e2009.AdotaseoanoemquecadaumdosplanostransformadoemLeiouDecreto.
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSO
22
Consideradocomoaexpressomaiordoplanejamentourbano,oPlanoDiretor,emumprimeiromomento,influenciadopelosdogmasdaurbanstica
moderna(funcionalismoesetorizaorgida)edepois,peloplanejamentoestratgico,queencaraacidadecomoumtecidourbanofragmentado,com
projetospontuais,cujaimagemsefortalece,entreoutrosfatores,pelavalorizaodoseuPatrimnio.
Assimsendo,apartirdeumavaliaoanalticadosseisplanosdiretoresdeBrasliaedodocumentoBrasliaRevisitada87deautoriadeLucioCosta,
buscasecompreendercomoosdoistiposdeplanejamentoomodernoeoestratgicoatuameseapropriamdacidadeque,nocaso,umacidade
Patrimnio.Portanto,serqueosPlanosDiretores fornecemelementos/atributosdeatuao,decontinuidadeede rupturaentreosplanejamentos
adotadosemBraslia?Afinaldecontas,Brasliaseorganiza(esedesorganiza)apartirdasaespropostasnosseusplanosdiretores.
Pararesponderaestequestionamentocentral,apresentedissertaosedesenvolvedaseguintemaneira,asaber:
ParteIModernoePsModerno; ParteIIBraslia50anos;e ParteIIIPlanejamentosUrbanosePlanosDiretores.
A Parte I, estruturada em dois captulos, concentrase no levantamento bibliogrfico para a devida conceituao e aprofundamento do referencial
tericodosdoistiposdeplanejamentosaquiestudadosoUrbanismoModernoeoPlanejamentoEstratgicoedosPlanosDiretoresmarcadopor
doisperodos,sendooprimeiromomentoassociadoaoUrbanismoModerno,chamadodevelhoplanodiretor,eosegundopsConstituioFederalde
1988,agoraonovoplano.
JaParteIItrataespecificamentedacidadedeBraslia.Divididaemtrscaptulos,mostratrsmomentosdistintosdacidade,sejamestes:omoderno,
perodoquevaidesdeasuaconcepoatofinaldadcadade1970;odecniode1980,ocasioqueBrasliainscritaereconhecidacomoPatrimnio
CulturaldaHumanidade,em1987,etombadanacionalmente,em1990;eopsmoderno,aquiconsideradoapartirdadcadade1990atoanode
2010,marcandoocinqentenriodacidade.CaberessaltarqueapresentedissertaotrabalhacomahiptesedequeoPlanejamentoEstratgicoentra
nocenriodagestourbanabrasilienseapartirdestadcada,umavezqueoPDOT/92daberturaparaainiciativaprivada,reforadanoPDOT/97,alm
de seobservar aparticipaoprivadanaocupaodo solodaCapital, criandonovosparcelamentosprivados.Almdisto,o governode Cristovam
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSO
23
Buarque(19951999)recebeavisitadeJordiBorja12elanaoprimeiroplanoestratgicoparacidade,intituladodeUmPlanoparaReinaugurarBraslia,
aproveitandoacomemoraodosseus35anos.
AParteIIItrazaanlisedosseisplanosdiretoresvoltadosaoordenamentoterritorialedodocumentoBrasliaRevisitadaemumatentativadeidentificar
elementos/atributosdeatuao,decontinuidadeederupturaentreoUrbanismoModernoeoPlanejamentoEstratgico,anliseestacompiladaem
umatabelasntesequeilustraopanoramadoplanejamentourbanodosprimeiros50anosdeBraslia.Porfim,aConclusoretomaotrabalho,ouseja,
fazumasntesedodesenvolvimento,colocando,tambm,cenriosdeprospeconoquetangeaoplanejamentourbanodeBrasliaparaosprximos50
anos.
12
JordiBorjaumgegrafourbanista,nascidoemBarcelonaque,dentreoutrostemas,seinteressapelaconcepodacidadaniaeoespaopblico.AtualmentecodiretordoProgramadePsgraduaoGestodaCidadenaUniversidadedeCatalunia.responsvel,juntocomoutrosplanejadores,pelasintervenesqueBarcelonasofreparareceberOsJogosOlmpicosde1992,setransformandonacidademodelodoplanejamentoestratgico.http://jordiborja.blogspot.com/Datadeacesso:01/02/2012.
24
PARTEPARTE II
MODERNOMODERNO PS-MODERNOPS-MODERNO
Cabe perguntar se no se est substituindo a ideologia doPlano
a ideologia da diversidade, das identidades locais, em que os conflitos so
por uma outra,
escamoteados por uma espcie de estetizao do heterogneo, recoberto pela
transformao da superfcie desencantada (...) das cidades em cenrios fascinantes
de uma sociabilidade viva que h muito tempo deixou de existir, em virtude
justamente desse trao desertificante da modernizao.
OtliaArantes, 1998.
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
25
I.1. OPLANEJAMENTOURBANOMODERNOEOPSMODERNO
Antesde tratarmos,de fato,doplanejamentourbanomodernoepsmoderno, fazsenecessriodiferenciarcidadedeurbano,planejamentode
urbanismo,planodeprojeto.Deumlado,cidadeoespaofsico,geogrfico,concreto,amaterializaodourbano;este,porsuavez,oabstrato,
oprocessodemigraoentreocampoeacidade,revelandoodeclniodaruralizaoeoincrementodaurbanizao.
SegundoJordiBorja13,osculoXXosculodascidadeseosculoXXIserdourbano.Verificasenofinaldaprimeiradcadadestesculoqueapopulao
mundialurbanaultrapassa emuito a rural.Borjadiz tambmque as cidades constroemno s aorganizaodemocrtica,mas tambm a economia
competitiva atual.Completa afirmando que a cidade hoje plurimunicipal oumetropolitana, com tendncia a estruturar funcionalmente um espao
regionaldescontnuoeassimtrico14.MonteMrcomentaqueaurbanizaopassaaservistacomoumanecessidadedatransformaodassociedades
embuscadeumfuturomoderno,comalibertaodavidaruraleintegraovidacitadina15.Apartirdacrescenteurbanizao,ascidadesnecessitamcada
vezmaisdeplanejamentosurbanoseficazes.
SeascidadescrescemnosculoXX,necessriolanarmodoplanejamentourbanoparaorganizlas.NoBrasil,deummodoequivocadoereducionista,
Souza comenta que muitas vezes planejamento urbano tomado como sinnimo de urbanismo, sendo que este de fato apenas um sub
conjunto/modalidade ligadaprofissoe formaodearquiteto16.FlvioVillaa17 tambm fazcomentriosa respeitodestasalteraes idiomticas,
onde urbanismo trocado por planejamento urbano. Como comenta Otlia Arantes apud Flvio Villaa18, a expresso planejamento urbano
substituda por desenho/projeto urbano a partir da dcada de 1980. J Ermnia Maricato19 entende o urbanismo brasileiro como planejamento e
regulamentaourbanstica.
13
BORJA,1996,p.799914
BORJA,1996,p.799915
MONTEMR,2006.16
SOUZA,2006,p.26017
VILLAA,1993a18
VILLAA,1993a19
ARANTES,VAINER&MARICATO,2009,p122
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
26
Assim,deumlado,compartilhandodopontodevistadeMaricato,paraodesenvolvimentodapresentedissertaoadotaseotermoUrbanismoModerno
comootipodeplanejamentourbano[moderno]predominantenoBrasilatofinaldadcadade1970,quetemnoarquitetoseuprincipalagenteeatua
basicamentecomodesenhourbano,muitasvezesdesconsiderandoacidadecomoagentedoprocessosocialemconstantedesenvolvimento.Lembrase
que,comFranoiseChoay20,ourbanismodeixadeinserirsenumavisoglobaldasociedade.
Deoutro lado,planejamentourbano,comooplanejamentourbano (psmoderno)quese instauranoBrasilentreo finaldadcadade 1970e inciode
1980,tratasedeumaatividademultidisciplinarquetrabalhaoordenamentofsicodacidadeemconjuntocomaanlisedosprocessossociaisqueaajudam
a construir. O planejamento urbano lida com os processos de produo, estruturao e apropriao do espao. De acordo com Marcelo Souza21, o
planejamentourbanodeveserencaradocomoumapesquisa socialaplicada, situadadentrodeumcampo interdisciplinar. Istoporque se tratadeuma
atividadeinteremultidisciplinar,ondesocilogos,gelogos,gegrafos,bilogosdentreoutrosespecialistasatuamnareadeplanejamentoemconjunto
comosarquitetoseurbanistas.
Apesar do planejamento urbano e do urbanismo serem compreendidos como estudo do fenmeno urbano no que tange dimenso urbana,
diferenciamsequantosformasdeatuaonoterritrio.
Dentrodouniversodoplanejamento,sejaeleoplanejamentourbanoouourbanismomoderno,existemtambmosplanoseosprojetos.Planoum
conjunto de propostas resultantes de um processo, seja este de planejamento econmico, urbano, regional, nacional etc., visando sempre a um
determinado objetivo. Deste modo, um plano apenas um elemento dentro do planejamento, assim como um projeto, entendido como o objeto
materializadodeumplano.DeacordocomoGuiaPMBOK,projetoumesforotemporrioempreendidoparacriarumproduto,servioouresultado
exclusivo22.
20
CHOAY,2007,p.1821
SOUZA,2006,p.26022
OGuiaPMBOK(ProjectManagementBodyofKnowledge)identificaumsubconjuntodeconjuntodeconhecimentoemgerenciamentodeprojetos.Fornecetambmumvocbulocomumpara se discutir, escrever e aplicar o gerenciamento de projetos entre profissionais de gerncia de projetos. O PMBOK um conjunto de prticas em gesto de projetos.http://www.pmkb.com.br/padrdegerenciamentomainmenu59/pmbokmainmenu58.htmlDatadeacesso:10/10/2011.
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
27
DeacordocomRiccardoMarianiapudCarlosMadsonReis23,oplanourbanoconcebidocomoumacomplexidadedeintervenes,deinteligncias,de
cultura,desaberes,equepossuiumaprojeoduradourano tempo.Oprojetourbano,aocontrrio,uma formaquepropostaeaplicada sobre
qualquerrealidadesemnenhumaconsideraopelahistria.
MadsoncomentaqueapartirdaapresentaodoprojetodeintervenodeLeCorbusiersobreareaurbanadeParis,em1923,duranteoCongressode
Estrasburgo (Alemanha),dseacompreensodadiferenaentreplanourbanoea idiadeprojetourbano. Istoporqueesteprojetoparaareas
margensdorioSenasebaseavanatabularasa,queconsistianocompletoarrasamentodetodaapartevelhaparadarlugaraedifciosqueabrigariam
trsmilhesdehabitantes.Estaproposta,quenolevaemconsideraoahistriadeParis,apresentadasemnenhumajustificativadeordemsocial,
tcnicaoueconmica,etambmnomostracomootrfegoresolvido.Mesmosemjustificativasplausveisparatalintervenoradical,esteprojeto
urbanorepresentaarupturafundamentalnopensamentourbanstico,queinfluenciadaquipordianteahistriadascidades.
ApesardaconceituaodeMariani,entendesenestetrabalhoqueplanoalgomaior,apresentandodiretrizesquenorteiamosprojetosurbanos.Cabe
aquicitaroplanodiretordeordenamentoterritorial,umdos instrumentosviabilizadoresdoplanejamentourbanocapazdeorientarosplanejadores,
sejamestespblicosouprivados,nosprojetosurbanos.
Podeseafirmarque,comooprocessourbano intensificadonaprimeirametadedosculoXX,oplanejamentourbanoalgorecentenahistriado
Brasil.Opresentetrabalhoabordaoplanejamentodascidadesbrasileirasemdoismomentosdistintos:umplanejamentourbanoassociadoaoperodo
Moderno, sendo o Urbanismo Moderno o seu principal representante, e o PsModerno, associado ao Planejamento Estratgico, temas a serem
abordadosaseguir,nostpicosI.1.1eI.1.2.
23
REIS,2001,p.48
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
28
I.1.1. OUrbanismoModernoCronologicamente,apalavraurbanismorecente24.Esteneologismoapareceapartirdacriaodeumadisciplinaquesurgediantedaexpansoda
sociedadeindustrial,nofinaldosculoXIX.Ourbanismo,segundoFranoiseChoay,ajunodateoriaedaprtica,aondeoarquitetooseugrande
especialista, se diferenciando do prurbanismo25, sendo este objeto de estudo de historiadores, economistas e polticos. MonteMr26 define
urbanismo(opostoderuralismo)comoummododevida.
LeCorbusierapudChoay27dizqueourbanismonooutracoisasenoumarquiteto.
(...) tratasedeuma cincia [oUrbanismo]dignanesteperododedesassossego;umapreocupao assim,quesuscitaumacinciaassim,revelaumaevoluodosistemasocial.Elaanuncia,deumlado,avidaeimbecilcorridaindividualistaparacobiasegostas;essascorridasfizeramasgrandescidades.28
Comadisciplina urbanismoemvogadesdeo finaldo sculoXIX,diversas correntes/linhasdepensamento surgem, recebendodestaqueas linhas
culturalistaeracionalista/progressista,conhecidatambmcomofuncionalista/modernista29.Todasascorrentesdourbanismo,deummodo,possuem
diferentesenfoques,mastodaspartemdoprincpiodequea indstriagerouumadesordemsocialeurbana,necessitandoassimdeumanovaordem
espacial.
24
Choay faz refernciaao livrodeG.Bardet, Lurbanisme,Paris, 1959,ondeeledizqueaexpressourbanismoparece ter surgidopelaprimeiravezem 1910,noBulletinde laSocietgographiquedeNeufchatel.VerCHOAY,2007,p.225
FranoiseChoaydelimitadoisperodosimportantes:oprurbanismoeourbanismopropriamentedito,levadofrentepelosarquitetosdoinciodosculoXX.VerCHOAY,2007,p.1826
MONTEMRInDINIZ,2006.27
CHOAY,2007,p.1828
LECORBUSIER,2000,p.5529
Franoise Choay identifica outras correntes de pensamentos, como a antiurbanismo americano ou naturalista alm de outras que enfatizam vises tecnicistas, humanistas eorganicistasdacidade.CHOAY,2007,p.717
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
29
Acorrenteracionalista30,segundoChoay,partedopressupostoqueexisteum indivduotipo, independentedetodasascontingnciasediferenasde
lugar e cultura. Assim para o indivduotipo, atemporal e ahistrico h uma ordemtipo, uma necessidadetipo31. Portanto, para seus adeptos, o
urbanismoda linhaprogressista/racionalista/funcionalista,ou seja,ourbanismomodernopode ser aplicado emqualquer lugar,poispossui carter
universal32. Enquanto os partidrios da corrente culturalista defendem um crescimento espontneo, natural, orgnico da cidade, os
racionalistas/progressistas buscam um crescimento controlado, uma lgica racionalformalarquitetnica para o traado urbano. Lanando mo de
crticas acerca do adensamento dos centros das cidades industriais, a corrente racionalista/progressista prope cidades abertas, sob um rgido
zoneamentoesetorizaoextrema33.
At1910,osarquitetosprocurammuitoscaminhosparachegaraumnovoentendimentocomrelaoaoespaoabaseeoimpulsomaisforteparaa
criao arquitetnica original, de acordo com estes profissionais34. O urbanismo moderno permite que seus tcnicos, em destaque os arquitetos
urbanistas,coloquemsuasidiasemprtica.
Entretanto,osprimeirosurbanistasenfrentamalgumaslimitaesnasuaprtica,tendooproblemaeconmicodoinciodosculoXXcomooprincipal
obstculo.Com isto,ourbanismo,nasprimeirasduasdcadasdo sculoXX, ficapraticamentenadimensodo imaginrio,ou seja,osplanoseos
projetosurbanosserestringemaopapelumavezqueospasesenfrentamnesteperodorecessoeconmica.
Contudo, as aes urbanasmodernas se tornam viveis aps a Primeira Guerra Mundial (19141918)35.Nos primeiros anos psprimeira guerra, a
pesquisaarquitetnicaeurbansticaultrapassaopontodecompatibilidadecomos interessesconstitudosanteriormente,elaborandoumaalternativa
30
DeacordocomCHOAY,oconceitoracionalistafoiutilizadoporhistoriadoresdaarquitetura,emespecialporBunoZevi,paradesignaromovimentofirmadoapsaPrimeiraGuerraMundial(19141918)emfavordeformaspuras,racionais,geomtricas.FormasestascontraaArtNouveauesobainflunciadoCubismo.Parasabermais,verCHOAY,2007,p.1931
CHOAY,2007,p.832
Compartilhamdo ideriodestacorrentenomescomoLeCorbusier,WalterGropius,TonyGarnier,MiesVanderRohedentreoutrospartidrios.Essespensadorestmemcomumumamesmaconceposobreohomemearazo,fundamentandosuaspropostasparaascidades.Caberassaltarque,porvoltade1900,TonyGarnier,emCiteIndustrielle,prope,pelaprimeiravez,umsolodecidadededomniopblicoondeseusdispositivoscomunitriosbeneficiamatodososseushabitantes.Parasabermais,verLECORBUSIER,2008.33
CHOAYfalaqueoconceitoclssicodecidadecaiporterra,estimulandoodecidadecampo.CHOAY,2007,p.1234
GIEDION,2004,p.5235
Algumaspartesdotextosoprovenientesdamonografiadocursodeespecializaodapresentemestranda(SABBAG,2008).
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
30
paraaantigacidade36:acidademoderna37.Portanto,oplanejamentourbanoditomodernopdeserplenamenteaplicadosomenteapartirdosanos20
dosculoXX.
Apartirdainserodasquatrofunesurbanasfundamentaisohabitar,otrabalhar,orecrear/lazereocircularexplicitadasnaCartadeAtenas,de
193338,oconjuntourbanomarcadoagoraporumasimplificaofuncional.EnfatizasequeestaCarta,publicadaapenasem1943,10anosapso IV
CIAM (Congresso InternacionaldeArquiteturaModerna)39,odocumentoquerege,nosprximos30anos,todaaprticamoderna,arquitetnicae
urbanstica,definindonosasquatrofunesurbanas,mastambmoestudodoselementosfuncionaiscabveisacadaumadelas40.
Sendoodocumentoconedaprticamoderna,aCartadeAtenasde193341trazemnotaoconceitodeurbanismo:aadministraodoslugaresedos
locaisdiversosquedevemabrigarodesenvolvimentodavidamaterial,sentimentaleespiritualemtodasassuasmanifestaes,individuaisecoletivas.
Suaessnciadeordem funcional,devendovelar,paraasuarealizao,astrs funes fundamentaishabitar,trabalharerecrear.Oproblemada
circulaoeodadensidadedeveserreconsiderado42.
ParaogrupodearquitetosqueserenenoIVCIAM,ourbanismomodernoabarcatantoasaglomeraesurbanasquantoosagrupamentosrurais.Seus
principaisobjetivosso:ocuparosolodemodomaisracional,organizaracirculaourbanaeproporcionarmeiosparaarealizaode instrumentos
legaisparaatuarnacidadeenocampo.Assim,paraourbanismoconceituadopelaCartadeAtenasde1933,oparcelamentodosolo,atentofrutode
partilhas,devendasedeespeculao,deve ser substitudoporumaeconomia territorialde reagupamento,estebasede todourbanismo capazde
36
Tomadacomoantigatodosostiposmorfolgicosadotadosanteriormenteaourbanismomoderno.37
GIEDION,2004,p.5338
Em1933,osCIAMencerramseuIVCongressoemAtenas,ondeanalisa33cidadeseelaboraLaChartedAthnes(ACartadeAtenasouACartadoUrbanismo).EsteIVCongressochegaaoseguintepostulado:osol,avegetaoeoespaosoastrsmatriasprimasdourbanismomoderno.VerLECORBUSIER,2008,p.42eIPHAN,2004,p.6839
OsprimeirosdebatesdosCIAMgiramemtornodequeacidadedevefuncionarparatodososseuscidadosequedeverepartirentreestesosbenefciosdospossveismelhoramentos.Portanto,umjogoentrearacionalidadedatcnicaearacionalidadedasrelaeshumanas.40
BENEVOLO,2005,p.63041
IPHAN,2004,p.6742
Parececaberparaosdiasatuaisestaobservao,poisascidadescontemporneasapresentamcadavezmaisumtrnsitocatico,comcongestionamentosquilomtricosdiariamenteesuperadensadas,acarretandoemumaqualidadedevidaruimparaosseushabitantes.
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
31
respondersnecessidadesdascidadesdoinciodosculoXX.Pensavasequeestereagrupamentoassegurariaaosproprietriosecomunidadeajusta
distribuiodosolo.
ValeressaltarqueaCartadeAtenasde1933 j introduzemseucontedoaprticapreservacionista, inserindoaquestodoPatrimniohistricodas
cidades,ondeos valoresarquitetnicosdevem ser salvaguardados (edifcios isolados,de carterexcepcional,que representamaexpressodeuma
culturaanteriorequecorrespondamauminteressegeral),ouseja,opatrimniodepedraecal.
Avidadeumacidadeumacontecimentocontnuo,quesemanifestaao longodossculosporobrasmateriais,traadosouconstruesquelheconferemsuapersonalidadeprpria(...).Sotestemunhospreciososdopassadoqueserorespeitados,aprincpioporseuvalorhistricoousentimental,depoisporquealgunstrazemumavirtudeplsticanaqualse incorporouomaisaltograudeintensidadedogniohumano.Elesfazempartedopatrimniohumano(...).43
Anovaestruturadesenvolvidapelourbanismomodernopretende superaroantigodualismoentrea cidadeeo campoea apropriaoprivadado
territriourbanocomoumafontederenda.Agora,acidademodernatrazocampoparaacidade,comumapaisagemmaisbuclicapermeandotodaa
zonaurbana.Desdeoincio,osarquitetosmodernoscriticamacombinaoentreinteressepblicoepropriedadeparticularbasedacidadeburguesa
indicandoaalternativa:areconquistadocontrolepblicosobretodooespaodacidade44.O interesseprivado,nourbanismomoderno,passaaser
subordinadoaopblico.Osoloagoraliberadoetratadocomopblico,incorporandooconceitodepilotisnosedifcios.Portanto,aapropriaodosolo
mudanoplanejamentourbanomoderno.
Na concepo das novas cidades, os espaos livres, geralmente verdes, compem a cidade juntamente com os edifcios. Com a incorporao dos
princpiosdascidadesjardimoucidadesparque,humainversonafigurafundo,ondeoplanoprincipalagoraovaziopodendoserverdeounoe
nomaisosedifcios,estesdispostoslivrementepelosespaos.
43IPHAN,2004,p.52
44BENEVOLO,2005,p.631
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
32
Sobopontodevistamoderno,emarquiteturaeurbanismo,oessencialnomaisoedifcio,massimarelaoentreosartefatosurbanoseapaisagem,
ovazio,oespaocircundantenoqualelese insere.Otraadomodernotentapermitiraohomemmoderno45respirar,vivercomqualidadedevidana
cidade.Paratanto,ourbanismomodernopropeovaziocomouminstrumentoparainseriranaturezanotecidourbano.Oespaoaberto,vazio,natural
ouartificial,aparececomoocenrioperfeitoparaavidadoscidados.Osvaziosurbanosagorafazempartedapaisagemdacidade,danovaconcepo
urbana.Oqueexisteumaidiauniversalsobreapercepodoespao.Oobjetivodavisomodernaaorganizaodasformasnostio.
De um modo geral, o planejamento urbano moderno, mais voltado a representar uma viso arquitetural da cidade grande, no faz uma anlise
aprofundada de seu complexo organismo.Osmodernos defendem o progresso industrial e a eficincia capitalista. Isto se reflete nas intervenes
propostasparaascidadesqueadotamestepensamentourbanstico.Acidadeagoraencaradacomoum instrumentodetrabalho,refletidonosseus
espaos,visandomaioreficinciaeriquezaformal.LeCorbusierdizqueageometriaopontodeencontroentreobeloeoverdadeiro.
Emumcontextogeral,aprimeirametadedosculoXXcaracterizadaporumacmulodeacervoconsiderveldeplanosurbansticosbaseadosno
paradigmadourbanismomoderno.AlgumascidadessoprojetadaseconstrudascomoBrasliaePalmas(Brasil),LeHavre(Frana),CidadeBrancade
TelAviv(Israel)masagrandepartedosprojetosurbanosseconfrontacomacidadeexistente,comumaintervenomaisoumenosagressiva,comum
dilogomaisoumenosamigvel,comopropostadeumacidademodernasobreacidadetradicional/antiga(umamudanaaoladodacidadeexistente),
comopropostasparaSoPauloeRiodeJaneiro46.
45
Fazsenecessriolembrarquehomemmodernonestasentenarefereseaohomemquevivianaquelemomento,ouseja,nasprimeirasdcadasdosculoXX.46
LeCorbusier fezprojetosde intervenespara as cidadesdoRiode Janeiro ede So Pauloque,praticamente,destruamos espaosurbanos existentesparapoder implantar suaspropostas.Defato,compatibilizarosconceitosracionalistascomosespaosdascidadesreaiseraquaseimpossvel.LeCorbusier,2004,p.227238
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
33
Figura2IntervencespropostasporLeCorbusierparaacidadedoRiodeJaneiroFonte:LeCorbusier,2004,p.237
Observase que em alguns planos urbanos47 elaborados no decorrer do sculo XX, mais especificamente aps 1930, trabalhase o conceito de
zoneamentourbanoeobrasvirias comoprincipais instrumentosdeplanejamentourbano.Essesplanos,deacordo comalgunsautores,nodizem
respeitoaoplanejamentourbano,esimaourbanismo,poisesteapenasumapeadoplanejamentourbano,cujaprincipalcaractersticatrabalhar
comaformadacidade.
Osplanosurbanosdaprimeirametadedo sculoXX,geralmente,esto fundamentadosnosconceitoseprincpiosmodernos,ondea tecnologiaea
racionalidadeestoemprimeirolugar.Estocalcadosnasintervenesmaisdrsticas,comoaRenovaoUrbanaouTabulaRasa,quedesconsiderama
47
ComooPlanoDoxiadis,1961,paraacidadedoRiodeJaneiro.VerDF/SEDUH,2004.
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
34
histriadacidadeemnomedanovamodernidade.Oprojetourbanomoderno,frutodeumplanourbansticodecarterracionalista,seguealinhadas
construessoltasnoespao,lugarestelimpoecientificamenteeracionalmenteproduzido.
Antagnicapreservaoatabularasatermolatinoutilizadoparadefinirodesejodedestruioouabandonoedeaberturasdeespaosparanovas
inseresurbanas,segundoClarisseMoreira48,aplicadapelosmodernoscomoumarecusadasexperinciasconsideradasnomodernas,sobretudo
dacidadecomoexistiapoca,aqueLeCorbusiereoutrospartidriosjulgampertenceraopassado.
Ourbanismomodernodespreza,arrasacomaculturaencontradaemumadeterminadacidadepara,assim,implantarseumodeloautoritrio,rgido,
racional. Segundo Choay49, at a dcada de 1960, h um iderio demodernizao e de destruio construtiva onde o patrimnio no contexto do
urbanismomoderno,pormaisapreoquetivesseporpartedapopulao,extintoemnomedestanovaconcepodefazeracidade.SegundoaCarta
deAtenasde193350:
Amorte,quenopoupanenhumservivo,atingetambmasobrasdoshomens.necessriosaberreconhecerediscriminarnos testemunhosdopassado aquelesque ainda estobem vivas. (...).Nos casos emque se estejadiantedeconstruesrepetidasemnumerososexemplares,algumasseroconservadasattulodedocumentrio,asoutrasdemolidas;emoutroscasospoderser isoladaaumanicapartequeconstituauma lembranaouumvalorreal;orestosermodificadodemaneiratil.
ARenovaoUrbanaoua tabula rasa,principais intervenesaplicadaspelosmodernos,chegamaseuaugenosanosde 1950e 1960,mostrandoo
espritode arrasamento,demodernizaopara as cidades.DavidHarvey comentaque a renovaourbana, intervenoprincipaldoplanejamento
moderno,noscentroscriamumacidadefuncional,trazendocomistodistrbiosqueameaamavitalidadedolugar51.
48
MOREIRA,2004,p.1749
CHOAY,2006,p.121350
IPHAN,2004,p.525351
HARVEY,2010,p.8992
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
35
CabeenfatizarqueolanamentodaCartadeAtenas(1933)dsealgunsanosantesdaSegundaGuerraMundial(19391945).Assim,atabularasa,pr
condioparaa implementaodas idias racionalistas/progressistas,muitasvezespossibilitadapelaprpriaguerra, comadestruiodegrandes
reasnascidades,liberandoespaosparaaplicaraurbansticamodernacomo,porexemplo,asintervenesemLeHavre,Frana.
Osdiversosprojetoserealizaesmodernasdasnovascidadescompreendem:asutopiasdosprimeirosanosdosculoXX(ascidadesjardim,acidade
industrialdeGarnier)osmodelosrussos(praticamentetericos),asnovascidadesinglesasdosprimeirosanospsguerra,asnovascidadesfrancesase
asnovas capitaisplanejadas (BrasliaeChandigarh)52.E,algunsanosapsaSegundaGuerra (19391945),osestudosdosmodelosdeagrupamentos
levamadefiniroconceitodaUnidadedeHabitao53,aplicadotambmemBraslia.
DentretodasascorrentesdourbanismodaprimeirametadedosculoXX,aquemelhorrespondesdemandaspolticaeeconmicadoBrasilneste
perodo a linhaprogressista/racionalista/funcionalista,ou seja,ourbanismomoderno. Isto sedeve ao fatodeste tipodeurbanismoencarar seus
projetoscomoacabados,comoobrasaseremerguidasemsuatotalidade.MonteMr54dizque,nomomentoemquearacionalidadedoplanejamento
atinge o Governo brasileiro, os conceitos de ordem e progresso do positivismo, implcitos no racionalismo europeu, casam perfeitamente com as
diretrizespolticastraadasnopas.OBrasilvive,nestecontexto,umclimadefuturo,demodernidade,deidentificaoporpartedapopulaocomo
EstadoNacional,quepretendeconduziropascondiodepotnciaindustrialmoderna55.
MonteMrdizqueourbanismodacorrenteracionalista/progressista/funcionalistaestmaisvoltadoarepresentarumavisoarquitetural,muitasvezes
alegrica,dacidadegrandecontempornea(aquiestetermosereferescidadesdaquelemomentoqueadotaramestetipodecorrente)doquefazer
uma anliseprofunda sobreo complexoorganismo.Para tal visoarquitetural,a corrente racionalistaadotaem seudesenhoespaos amplamente
abertos,tomandoosvaziosurbanoscomopartedoprojetomoderno.Estaopodeabrirespaosentreasreasedificadassomedidas,dentreoutras,
decarterhigienista,adotadaspelosurbanistasdalinharacionalista.Istoumaidiaprogressista. 52
Parasabermaissobreosassuntos,verBENEVOLO,2006.53
Aidiadeunidadedehabitao,quederivadacidadejardim,foidesenvolvidaporClarenceSteinnasegundadcadadosculoXXeapropriadaporLeCorbusierentreosanos194753parafazerasuaunidadedehabitaoemMarselha,Frana.Parasabermais,verCARPINTERO,1998,p.130137eGIEDION,2004,p.57157654
MONTEMRInCOSTA&MENDONA,2008,p.3955
MONTEMRInCOSTA&MENDONA,2008,p.40
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
36
Sobuma visogenricae reducionista, assistesenoBrasil implantaodomodelodeplanejamentourbanomoderno,mais adequadoaospases
industrializados,conformecomentaRmuloOliveira56.Aexperinciabrasileiraquantoaoinciodoplanejamentourbanoditofuncionalista/racionalista,
oumelhor,dourbanismomodernosedatravsdoPlanoAgache,elaboradonoRiodeJaneiroentre1928e1930,almdaincorporaodasidiasdeLe
Corbusieremvriosprojetosurbansticosearquitetnicosemdiversascidadesbrasileiras57.DeacordocomFernandoMoreira58,oPlanoAgacheum
marcodourbanismobrasileiroeumdosexemplosmximosdourbanismodefendidopelaSocietFranaisedesUrbanistes(SFU).
Neste contextopolticohistricoeconmicobrasileiro,ondeos recursosparaa implantaodosprojetosmodernos so conseguidos com facilidade
proporcionaldimensopolticoeconmicadosmesmos,omodelodourbanismomodernoconsegueespaonoplanejamentourbanobrasileiro,tendo
seucoroamentonadcadade 1950aconstruodaCapitalFederal:Braslia.Aconstruode cidadesplanejadas torna realaadoodourbanismo
moderno59. A edificao de cidadescapitais planejadas tornase referncia do urbanismo brasileiro emundial, como Braslia, segundo LciaMaria
Moraes60.
AvisoarquiteturaldourbanismomodernoverificadaemBraslia.Amonumentalidadedosedifcios,seusvaziostratadoscomoelementosurbanoseo
seu traado funcionalista impulsionama sua concretizao, sendo construdaem tempo recorde (19571960).A cidade surge,assim, comoogrande
empreendimentogovernamental.
56
OLIVEIRA,2008.57
ParaoRiodeJaneiro,caberessaltarapropostadereestruturaourbanaelaboraporLeCorbusiereoPlanodeAvenidasdePresteMaia,1930,paraSoPaulo.RIBEIRO&CARDOSOInDEGRAZIA,1990,p.7258
MOREIRA,2005.59
BeloHorizonteeGoiniaso frutosdedesenhosurbanosparanovascapitaisdosseusrespectivosEstados;entretanto,so influenciadosaindapelopadrodetraadourbanodotipotabuleirodexadrez,caractersticodoperodobarrocodeinflunciaibrica(EspanhaePortugal).60
MORAES,2003,p.152
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
37
Figura3ImagemdaEsplanadadosMinistrios:amonumentalidadedosedifcioseseusvaziosurbanosFonte:ArquivoPessoal,2011.
Osprincpiosdaurbansticamoderna, traduzida/identificadano traadodoplanopilotode LucioCostapara a cidadedeBraslia, trazem asquatro
funesurbanasdaCartadeAtenas (1933).Estasquatro funesohabitar,otrabalhar,orecrear/lazereocircularsotratadas isoladamenteno
desenhourbanodanovaCapitaldoBrasil,demodoaevitar,navisodourbanistamoderno,osconflitosfuncionaisquepodemprejudicaraeficinciada
cidade.Osconceitosdezoneamentorgidoedesetorizaoextremasoosprincipais instrumentosdoplanejamentourbanomoderno,oumelhor,do
urbanismomoderno,ondecadaespaoespecializadocorrespondeaumafuno61.
61
MONTEMRInCOSTA&MENDONA,2008,p.3165
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
38
OsconceitosdaCartadeAtenasde1933encontramnoBrasilumambientepropcioparasuaproliferao,deacordocomRibeiro&Cardoso62;contudo,
atradiohistricaeculturaldopastambmlevadaemconsiderao.Comolembradopelosautores,osprimeirosurbanistasmodernosbrasileiros,
comoLucioCosta,tentamconciliarasnecessidadesdemodernizaocomasrazesculturaisdopas.
Contudo,aeuforiamodernanocenriomundialdiminuinadcadade1960, fatoverificadonosencontrosdosCIAMenaCartadeVeneza,de1964.
Comeamascrticas sobreourbanismomodernoeo inciodeumpensamento,deuma reaopsmoderna.Nestemomento,noBrasil, iniciasea
DitaduraMilitar e, com isto, verificase a institucionalizaodoplanejamentourbano com a criaodo SERFHAU Servio FederaldeHabitao e
Urbanismo (19641974) e, posteriormente, com o CNDU ConselhoNacional de DesenvolvimentoUrbano (1976/1979)63. SegundoMonteMr64, a
institucionalizaodoplanejamentourbanonoBrasil,apartirde1964,sedcombaseemquestesapontadassobaproblemticatraadanascidades
geradas pelo urbanismo, tendo como centro das polticas a habitao. Da a centralizao da questo da habitao ao planejamento urbano,
subordinado,emtese,aoBancoNacionaldaHabitao(BNH)aosistemadeplanejamentomontadopeloSERFHAU.
O planejamento urbano adquire, assim, uma estrutura razoavelmente organizada em mbito nacional. Agora, h um entendimento de que o
planejamentourbanoestvinculadoaodesenvolvimentourbano,sendoosdoistermosconfundidospordiversasvezes.DeacordocomFrancisconi&
Souza apud DF/SEDUH65, o conceito de desenvolvimento urbano indica uma diferena entre uma poltica urbanstica tradicional, onde apenas
determinados aspectos de natureza fsica so manipulados e uma verdadeira poltica urbana onde aspectos scioeconmicos e fsicos so
manipuladosdeformacorrelacionada.
CaberessaltarqueoSERFHAUtempapelnotveltambmnaformaodeequipetcnicanareadeplanejamentourbano,poisantesdasuaexistncia
hapenasaatuaodeprofissionaisformadosnareadeurbanismo,disciplinaoferecidadentrodocursodeArquitetura.Semeia,assim, juntamente
comoCNDU,aidiadequeoplanejamentourbanoumareamultidisciplinar,envolvendonoapenasosurbanistas,esimengenheiros,economistas,
62
RIBEIRO&CARDOSOInDeGRAZIA,1990.63
OCNDUsucedeoCNPUComissoNacionaldeRegiesMetropolitanasePolticaUrbana.64
MONTEMR,2008.65
DF/SEDUH,2004.
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
39
gegrafos, socilogos,antroplogos,dentreoutrosprofissionaisnasmaisdiversasreas.Mesmoassim,oprincipalvisnitidamente territorialista,
talvezpelaprimazianosetorurbanopelosarquitetos.
Aofinaldadcadade1960,aindaemmbitonacional,aparecemosproblemasurbanos,provavelmenteimpulsionadoscomamigraocampocidade,
ondeo cenriourbanopassaa serdominanteem relaoao rural.Ressaltasequenestadcada,apopulaourbanadoBrasilatingeamarcados
45,08%dapopulao total66.OmodelodeplanejamentourbanomodernodesenvolvidonoBrasil,oumelhor,ourbanismomodernocujabaseest
fundamentadanatentativadeorganizaroterritrioedarumaformafsicascidades,entraemcolapsonofinaldadcadade1970,sejapelacrisedo
pensamento desenvolvimentista, seja pela crise econmica e declnio da DitaduraMilitar. Cabe ressaltar que em Braslia o colapso do urbanismo
modernotardio,sendoobservadoumadcadadepois,ouseja,fimdosanos80.
Ofatoque,comofimdaEradoCrescimento,deacordocomOtliaArantes,oplanejamentourbanoperdeseucarterderacionalidademoderna,de
universalidade67.O zoneamento rgido criticadoeaapropriaodousodo solo voltaa terparticipaode incentivosprivados.Humaprofunda
mudana na estrutura do sentimento moderno. O que ocorre a partir deste perodo a rejeio ao discurso universal, razo manipuladora,
totalizante68.Giedion69dizqueoplanejamentourbanosemprealtimainstnciadaarquiteturaaalcanarplenodesenvolvimento.Esteautorobserva,
atravsdasanlisesdosdiversosperodos,queamaturidadedeumapocaatingidaquandoestaseaproximadasuadecadncia.
Portanto,podeseafirmar,sobumavisogeral,queopaspassaporummomentodetransionoqueserefereaoplanejamentourbanoentreosanos
70e80dosculoXX,quandosedaredemocratizaodopas,aaberturapolticaecomercial,aparticipaopopularmaisefetivaeo incentivos
parceriaspblicoprivadas,ensejandooplanejamentoestratgico.
66
DadosobtidosemMONTEMR,2008,P.316567
ARANTES,VAINER&MARICATO,2009,p.21.GrifodaautoraOtliaArantes.68
HARVEY,2010,p.1969
GIEDION,2004,p.182
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
40
I.1.2. OPlanejamentoEstratgicoDeacordocomDavidHarvey,comacrticaaourbanismomodernohoinciodaerapsmoderna,verificandose:
Umarupturacomaidiamodernistadequeoplanejamentoeodesenvolvimentodevemconcentrarseemplanosurbanos de larga escala (...).O psmoderno cultiva, em vez disso, um conceito do tecido urbano como algonecessariamentefragmentado,umpalimpsestodeformaspassadassuperpostasumassoutraseumacolagemdeusoscorrentes,(...)70.
Surge,nopsmoderno,umoutrotipodeurbanismo:ourbanismodemercado,ondeascidadespassamasergeridaseconsumidascomomercadorias,
tornandosecidadesmercado.Acidade,apartirdestemomento,umamquinadecrescimento.Nadcadade 1970,onovoplanejamentourbano
deixadecontrolarocrescimentodascidades,passandoaincentivlo71,diferentementedourbanismomoderno,quebuscacontrolaraexpansourbana
de formaplanejada,ordenada,sobuma lgica racionalformalarquitetnica.Agora,naconjunturapsmoderna,huma tendnciaaoadensamento
urbano,ocupaodosseusvazios,asreasdegradadasouintersticiaisdotecidourbano.Aqui,seobservaacontinuidadenoprocessodequalidadedo
urbano,comojpercebidanosltimosCIAM,arespeitodaperdadeespontaneidadenavidaurbanamoderna,dosespaosurbanos,doencontro,da
coexistncia.
Este novo modelo de planejamento urbano, visto tambm como um novo tipo de urbanismo de mercado, atende pelo nome de planejamento
estratgico.Estetipodeplanejamentoestmuitasvezesassociadoaespaos/paisagensurbanosespetaculares,arquiteturadeespetculo.Ourbanista
passa a fazer o espetculo em um contexto global. Criase, por diversas vezes, paisagens banais a partir dos processos de
internacionalizao/globalizaourbana.
Oconceitodeplanejamentoestratgicomigradomeiomilitarparaocivil,apartirdasidiasdeVonClausewit72.Empregadoinicialmentepelasempresas
norteamericanasnadcadade1950,posteriormentesoabsorvidaspelasescolasdeadministrao.Originalmente,apalavraEstratgia,tambmde
70
HARVEY,2010,p.6971
ARANTES,VAINER&MARICATO,2009,p.2072
GDF/SEDUH,2004,p.31
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
41
origemmilitar,umavisogeraldoconjuntodeaescoordenadas,visandodominarumdeterminado territrio. Jempregadanametodologiade
planejamentourbano,determinaosprincpiosbsicosparaaobtenodosobjetivosaserematingidospelosgovernos.Ento,paraumaempresaou
cidade empregar o planejamento estratgico, necessita antes definir o objetivo geral colocado nos seus planos. A esfera semntica da guerra
econmica incorporada por este novo tipo de planejamento urbano que necessita de adversrios, justificando esta postura de competio, seja
econmica,social,turstica,etc.
Expresso originalmente empregada nomeiomilitar, no ambiente empresarial, sistematizado principalmente naHarvard Business School, que o
planejamento estratgico utilizado como um instrumento de planejamento empresarial.Disseminado para outras reas, dentre elas a urbana, o
planejamentoestratgicoadotadopelosgovernosemrazodeentenderemqueascidadesestosubmetidassmesmascondiesedesafiosqueas
empresas,ouseja,emcrescentecompetitividade,deacordocomCarlosVainer73.
RoseCompansdizqueasgrandescidadesapresentamtraosemcomumcomasgrandesempresas,poisdependemdosmesmosfatoreseconmicos,
enfrentamaconcorrnciainternacionalegerenciamservios,atividadesprodutivaserecursoshumanos74.Destemodo,anoodecidadeempresase
justifica,nomarcodaeconmiaglobal,apartirdomomentoemqueofuturodascidadesdependerdacompetitividadedasempresasnelasinstaladas.
A cidadedaeradaglobalizaoest voltadaparao comrcio;agoraa cidadeempresa,diferentementeda cidadefbricadaeramaquinista.Esta
cidadequeadotaoplanejamentoestratgicovivenciaumoutrofenmeno:odametropolizao.Esteefeitopromoveereforaosurgimentodenovas
centralidades.
Fenmenoquesurgecomaglobalizaosobreaspolticasdeocupaodoterritriourbano,OtliaArantes75pontuaoplanejamentoestratgicocomo
um empreendimento de comunicao e promoo, usando imagem e marketing (imagemaking) como ferramentas essenciais para se vender um
produtoque,nocaso,soascidades.Arantes76citaqueacidadeempresacultural,umdosvocbuloscaractersticosdoplanejamentoestratgico,a
73
ARANTES,VAINER&MARICATO,2009,p.7674
COMPANS,1999,p.10775
ARANTES,VAINER&MARICATO,2009,p.1776
ARANTES,VAINER&MARICATO,2009,p.34
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
42
simbiosede imagemeproduto.Aexperinciaculturaldacidadeformadaporumtecidohumanoemqueavivnciaatravsdotempodosignificado
doslugaresnopodesermenosprezada.Podeseidentificar,almdourbanismodemercado,ourbanismocultural,ambossecontrapemaourbanismo
funcionalista.
SobavisodeRoseCompans77,adaptarseaosmercadosinternacionaisanicaalternativapossvelparaodesenvolvimentoeconmicodascidades.
Assim,osgestoresurbanosdevemelaborarestratgiasqueantecipemosnovosrequerimentosdaeconomiaglobaledacompetitividadeinternacional,
causandomudanasna infraestruturaenaqualidadedevida.Estas transformaesdevemestarassociadasaumaestratgiademarketingurbano,
promovendoacidadeaoexterior.
Oplanejamentoestratgico seancora,muitasvezes,emumevento,umaocasioparaocupar,preencherosvaziosurbanos,visando reconstruiro
sentidodacidade78.Nocontextopsmoderno,modernizarevalorizarnosignificamaisinovarsocialmentecomequidade,esimencheracidadecom
obrasqueafaamparecercontempornea,atrativa,sejaparaturistas,sejaporinvestidores79.
Noperodopsmoderno,relacionadodiretamenteparceriapblicoprivada inseridaemumcontextomundialdeglobalizaoededescentralizao
econmicaepoltica,observaseosurgimentodeoutrotipodeplanourbanoe,consequentemente,umdiferenteprojetourbano.
OtliaArantes dizquedesde o colapso da idia deplanificao global da cidade, expresso da organizao racionaldo espao habitado, trunfo da
modernizaocapitalistaeprefiguraoda socializao,vm surgindo intervenesurbanaspontuais, restritas,modestasouarrojadas,visandouma
requalificaodoespaourbano80.
Assim,osplanosurbanosestratgicospassam a ser abaseparaoplanejamentoeesto indissociavelmente ligados aosprojetosdeRevitalizaoe
RequalificaoUrbanas.Produzemquasesempreprojetospontuais,demenorescalaemrelaos intervenesmodernas,fragmentandoacidadee
77
COMPANS,1999,p.9111478
ARANTES,VAINER&MARICATO,2009,p.6379
Observase,comisto,umaarquiteturademateriaishightech(vidroespelhado,alumnio),deacordocomOtliaARANTESetal,2009,p.6380
ARANTES,1998.
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
43
intervindo,geralmente,emreasobsoletasedegradadas.NocasodoBrasil,osprojetosurbanosestratgicossurgemapsaexperinciaespanhola,ou
seja,apsaintervenoqueacidadedeBarcelonasofreparareceberosJogosOlmpicosde1992.
Figura4PalauSantJordieatorredecomunicaesdeMontjuic:OlimpdasdeBarcelona,1992Fonte:wikpedia.org
OsplanosurbanosbrasileirosrefletemadesestruturaourbanaderivadadacrisedomodelodesenvolvimentistaeainserodoBrasilaonovomodelo
deprodutividadedifundidopelaglobalizao.Essesplanosvisamreceber investimentospblicoseprivadosparafinanciarosfuturosprojetosurbanos
estratgicos.
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
44
SegundoCastellseBorjaapudGDF/SEDUH81,
(...)adefiniodeumprojetodefuturoseeficazsemobilizar,desdeseumomentoinicial,osatorespblicoseprivadoseconcretizaremaesemedidasquepossamserimplementadasdeimediato.Somenteassimverificarse a viabilidadedoplano, gerarse confiana entreos agentesqueopromovemepoderse construirumconsensopblicoquederivenumaculturacvicaenumpatriotismodecidade.Estaseraprincipal foradeumplanoestratgico.
SegundoHarvey,avisopsmodernacontrriaaosgrandesprojetosreformistasmodernos,ondeoprincipalnosomaisosgrandesplanosbaseados
nozoneamentofuncionalmoderno,naRenovaoUrbanaounatabularasa.Nopsmoderno,normaprocurarestratgiaspluralistaseorgnicas
emcontraposiosestratgiasracionalistaseprogressistasdefendidaspelosurbanistasmodernosparaabordarodesenvolvimentourbanocomouma
colagemdeespaos.Comestaidia,acidadecolagemtornaseofocodesteperodo82.
Paraatenderaestenovotipodeplanejamentourbanoqueseinstalanamaioriadascidadesocidentaise,principalmente,nascentrais,observamse,a
partir da dcada de 1990, novas expresses no vocbulo dos urbanistasplanejadores, associados aos planos e projetos urbanos estratgicos:
RequalificaoeRevitalizaoUrbanas.Agoraourbanista,oumelhor,oplanejadorurbanovistocomoumempreendedor.Oplanejadorempreendedor
utilizaaterminologiaRevitalizaoUrbanaparavenderseusprojetos,enomaisaRenovaoUrbana,intervenocaractersticadoperodomoderno.
Agora,osantigoscentrospassamaseropontofocaldeinteressedasintervenesurbanasenomaisoalvodosprocedimentosdatabularasa.
Surgemplanoseprojetosestratgicos,ondeaquestodapreservaodacidade,pormeiodarequalificaourbanaganhafundamentaesecolgicase
socioeconmicas.EricHobsbawnapudLima83dizquerequalificarreascentraisouperifricasnodevesignificarareinvenodetradies,(...),porm
devebuscarreaproveitaroureciclarumcapitaldeformasaindaremanescentesparaaprpriacomunidadequealiescreveusuahistria.
81
GDF/SEDUH,2004,p.3382
HARVEY,2010,p.4683
LIMAInLIMA,2007,p.1112.
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
45
De acordo comMedeiros84,oprocesso e a consolidaodopatrimniomundial, culturalenatural,encontramsenasbasesda requalificao eda
revitalizao.Sobumpontodevista reducionista,aprticapreservacionistanoque tangeaopatrimniourbanocoincidecomacrisedourbanismo
moderno. A partir da dcada de 1970, a renovao cede lugar preservao (como ao transformadora do espao) e s diversas prticas
intervencionistasarroladasaestaexpresso,comoasapropriadaspelosplanejadoresempreendedores.
Medeirosconceituarevitalizaocomoummododeinterviremumespaourbanoconsideradosocial,culturaleeconomicamentefalido,buscandouma
qualidadeespacialparaasuareinserourbana.Nestaprticapreservacionista,ovalorculturalsomaseaovaloreconmico85.Arequalificao,segundo
amesmaautora,tambmumaao intervencionistacaractersticadasduasltimasdcadasquesomaovismercadolgicodarevitalizaoviso
socialdareabilitao,outrotipodeinterveno.
Otlia Arantes comenta que a requalificao acompanhada quase sempre pelo discurso preservacionista dos valores locais, visando respeitar o
contexto, amorfologiaou tipologia arquitetnicado local.DavidHarveydizque a requalificaourbana um tipode interveno indissocivelda
condiopsmoderna,umaformadepromovero(re)desenvolvimentourbano86.Umaarquiteturadoespetculosetornaessencialparaosucessode
umprojetode requalificaourbana87.Assim,Harveyconcluiqueproporcionardeterminada imagemcidadeatravsda (re)organizaodeespaos
urbanosespetacularessetornaumaformadeatraodecapitaledepessoas,principalmentenasreascentraisdascidades,locaisestescaracterizados
muitavezespeloabandono.
84
MEDEIROS,2002.85
Medeiros diz que a atividade turstica desempenha papel fundamental na prtica da revitalizao, sendo o turismo agente agregador do valor econmico ao bem patrimonial. VerMEDEIROS,2009.p.24386
HARVEY,2010,p.9087
AarquiteturadeespetculodaqualHarveyserefereestmaisassociadaRevitalizao,deacordocomadefinioapresentada.Entretanto,estetipodearquiteturatambmpodeseinserirnocontextodaRequalificaoUrbana,assimcomoHarveycoloca.
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
46
DeacordocomRoseCompans,aimagemquesetentaconstruiradeumacidadeempreendedora,socialmenteintegrada,queoferecequalidadede
vida e um clima favorvel aos negcios 88. Ainda de acordo com Compans, a lgica simbitica da cidadeempresa ambivalente da cidade
mercadoria,quedevepromoversuaimagemnoexteriorcomvistasaexerceraatraodeinvestidores89.
Diantedacrescentecompetitividadeurbana,oPatrimnioCulturalmoedadevalorparaaconstruoefortalecimentodaimagemdacidade.Harvey
dizquea imagemumchamariz inicialqueatraiocapitaleaspessoas,maisdoquea razoparamantlosnaqueleespao.Umadas tarefasdo
planejamentourbanoconstruiruma imagemurbanaem termos tangveis90.Oautorcomentaque tudoque rotuladohistrico,sejauma fbrica
antiga,casasdosculoanteriordentreoutrasedificaes,possuemgrandepotencialparasetornaremmuseusdahistria local, integrandoavasta
indstriadaculturahereditria.
Otlia Arantes91 comenta que, no processo de valorizao urbana, rentabilidade e Patrimnio Cultural so indissociveis. Usar a imagem de um
patrimnio,sejaestereconhecidoemmbitolocal,estadual,nacionale/oumundial,deumacidadeatraiinvestimentos.Ospatrimniosurbanosagora
sovistoscomoinstrumentosdedesenvolvimentolocal,podendoinseriracidadeemumcontextotantoeconmicoquantopolticoecultural,nacionale
internacionalmente92.Portanto,nasltimasquatrodcadasdosculoXX,aproposiocorbusianadetabularasatornasemenosfactvel.
Apesar de j ser adotado nos EstadosUnidos desde os anos 1970198093, com programas de intervenes urbanas, a partir da experincia com
Barcelona94,dcadade1990,queoplanejamentoestratgicoaplicadoaocontextodoplanejamentourbanonospasescentraisetambmnoBrasil.
88
COMPANS,1999,p.10989
COMPANS,1999,p.10890
HARVEY,1994,p.891ARANTES,VAINER&MARICATO,2009,p.31
92MEDEIROS,2002.
93Oconceitodeplanejamentoestratgicoadotadopelosgovernos, japartirdadcadade 1950nosEstadoUnidose,posteriormente,pelasempresas, tambmnosEstadosUnidos,
absorvidopelasescolasdeadministrao.DadoobtidoemGDF/SEDUH,2004.
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
47
Tendo vrias vertentes, Escola do Design, Escola do Planejamento, Escola Empreendedora, no Brasil o planejamento estratgico est diretamente
relacionadosobrevivnciadascidadesemumcontextodecompetioselvagem,querequer investimentospblicoseprivadosparatentarresolver
diversosproblemasurbanosprovenientes,dentreoutrasrazes,dacrisedomodelocentralizadoredesenvolvimentista.
Na conjunturanacional, final dos anos 70 e inciode 1980, a decadncia do planejamentourbanomoderno, centralizador, tecnocrtico, permite a
aberturadeoutrotipodeplanejamentourbano,maisadequadoaomomentohistricoqueoBrasilpassanesteperodo;momentodoneoliberalismo,ou
seja,daaberturapolticaeeconmica,edaredemocracia,assegurandoaparticipaopopularnosmaisdiversosassuntos.
Nestecontexto,oplanejamentourbanocomeaaperderseucarterracionalista,moderno.Asetorizaoextremaeozoneamentorgidosoalvosde
crticas.DeacordocomMaricato95,amatrizdeplanejamentourbanomodernistaqueorientouocrescimentodascidadesdospasescentraisdomundo
capitalistapassouaserdesmontadapelaspropostasneoliberaisqueacompanhamareestruturaoprodutivadofinaldosculoXX.
OtliaArantesexemplificabemessaatmosferapsmodernadeapropriaodosoloeinvestimentosnotraadourbano:
Ascidadesmodernassempreestiveramassociadasproduosocialdotrabalhoeacumulaocapitalista,queaexploraodousodosolonoumfatonovoehumarelaodiretaentreaconfiguraoespacialurbanaeaproduo/reproduodocapital.Contudo,nestafasedocapitalismoasprpriascidadespassaramelasmesmasasergeridaseconsumidascomomercadorias.Osolopassaaserumapseudomercadoria,ondeacidademercadoest ancorada. Contradio entre o valor de uso do lugar pelos seus habitantes e o valor de troca com osinvestidores,tentandoextrairdosoloumbenefcioeconmicoqualquer.Aformadacidadedeterminadapelasdiferentesconfiguraesdesteconflito.96
94
Asaber,aexperinciacomBarcelonavemcomoplanourbanoestratgicoaplicadonacidadeparasediarasOlimpadasde1992.Acidadetornaseexemplodoplanejamentoestratgicoempregadonamalhaurbana.Naocasio,nomes como JordiBorjaeManuelCastellsaparecem comoos mentoresdestenovo tipodeplanejamentourbano,onde a cidadedeve serencaradacomoumaempresa,capazdesercompetitivanonovocenriomundialglobalizado.95
ARANTES,VAINER&MARICATO,2009,p.12396
ARANTES,VAINER&MARICATO,2009,p.26
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
48
OBrasil,entreasdcadasde1980e1990,atravessaacrisedoseumilagreeconmico,omovimentopolticodeaversoDitaduraMilitarDiretas
Jeo fracassodosaudaciososmodelosdeplanificaodesenvolvidospelogoverno federal,deacordocomRibeiro&Cardoso97.Ascrticassobo
tecnocratismoabremespaoparaaslutassociaisque,segundoosautores,socapazesdeproduzirpolticaseficazesparaatendersnecessidadesdas
camadaspopularesdascidades.Semaparticipaopopular,oplanejamentourbanoficafadadoaumaaolimitadapelasnecessidadesdaacumulao
docapital.Osplanejadorespassamadefenderoplanejamentoparticipativo.
OdiscursopolticoneoliberalmenosEstadoemmaismercadotraztona,noinciodadcadade1990,odebatearespeitodoplanejamentourbano,
assumindoumpapelimportantenopas.Apartirdessanovaconjunturapoltica,econmicaesocial,deummodogeral,ascidadesbrasileirascomeam
aincorporaroplanejamentourbanoditoestratgicoemumatentativadesepromoveremnoexterior,deseinserireminternacionalmentecomocidades
empreendedoras,emumcontextodecompetiointereintraurbanaimpulsionadapelaglobalizao.
Entreasdcadasde1980e1990,existeumsentimentodereformaurbanaporpartedapopulaobrasileira,ondeascidadesnecessitammelhoraras
condiesofertadas,sejamestasdehabitao,deemprego,deeducao,desade,deinfraestrutura,dentreoutras.SegundoDeGrazia,oretratoda
atualestruturaurbanadetodasascidadesbrasileirasdefinidocomoumgrandecaos98.
Emergem neste contexto nacional, novas e articuladas formas de associativismo empresarial (incorporadas demodelos internacionais ainda pouco
esclarecidos na poca) resultante da frmula turismomais indstriamenos poluentemais instituies de conhecimento tcnico e cientficomais
promoo cultural, de acordo com Ana Clara Torres Ribeiro99. Nesta frmula, segundo esta mesma autora, encontrase um novo tipo de
homogeneizao modernizante da sociedade e do territrio e, principalmente, do espao intraurbano, viabilizado pelas foras autnomas do
mercado,soluoeficazemodernaparaasuperaodacriseurbanaencontradanadcadade1990.
97
Osautores comentamqueasprticaseas instituiesdeplanejamento soapontadas,no finaldadcadade 1970, como instrumentos legtimosdo regimepolticoautoritrio,quepretende passar a imagem de um governo orientado pelos princpios da racionalidade e da competncia tcnica. Com isto, iniciase um intenso combate ao tecnocratismo.RIBEIRO&CARDOSOInDEGRAZIA,1990.98
DEGRAZIA,1990,p.999
RIBEIRO,1995.p.566
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
49
Agora, finda a primeira dcada do sculo XXI, notase que o prprio planejamento estratgico tem sido alvo de crticas.Autores como Joo Sette
WhitakerFerreira,CarlosVainereGilmarMascarenhas javaliamoresultadonestesltimosanosdestetipodeplanejamentourbanoempregadonas
cidades brasileiras. Criticam o fato destemodelo se restringir ao projeto urbano pontual, setorizado, desconsiderando a cidade como um todo. A
competitividadeentrecidadestambmquestionada,principalmenteempasesemdesenvolvimento,perifricos,comoocasodoBrasil.Observase
quegrandepartedosinvestimentosquepoderiamseraplicadosemsetoresurbanosdesprovidosdeserviossoempregadosemprojetosculturaisede
lazer,muitasvezesgrandiosos,voltadosquasesempreumaminoriapopulacional.Oplanejamentoestratgicoobjetivafazercidadescompetitivas.
CaberesgataraquiaCartadeAtenasde1933.Nasuaconcluso(TerceiraPartedodocumento),ascidadesindustriais,oudaeradomaquinismo,soa
imagemdocaos, tendocomobasedestelastimvelestadoapreeminnciada iniciativaprivada inspiradapelo interessepessoalepeloatrativodo
ganho.O crescimento incessante das cidadesdomaquinismo age com uma pressa e violncia tal que gera cidades desumanas.As construes de
habitaes,defbricas,derodovias,dehidroviaseferrovias,semultiplicamsemqualquerplanopreconcebidosemqualquerreflexoprvia.
Estadescriodascidades industriaisecomoocaosse instalouparecemdescreverascidadescontemporneas,principalmenteascidadesperifricas,
quenodetmdosmesmosrecursosfinanceirosqueascentrais,masmesmoassimadotamoplanejamentourbanoditoestratgico,caractersticopor
seumodoagressivo,competitivode intervirnotraadourbano.A iniciativaprivada,diversasvezesferoz, intervmnacidadecompetitivaemparceria
comopoderpblicoparacriarespaosdeespetculos,muitasvezesvoltadosagrandeseventos(CopadoMundodeFutebol,Olimpadas,Feiras,etc.)
quebeneficiamumaparcelapequenadapopulao.
Humatendnciaemrequalificarespaosurbanosobsoletos,comparceriaspblicoprivadas,parareintegrlosmalhaurbana,comapropostade
devolverestesespaospopulao.Masoqueseobservaaprivatizaodosespaospblicos,emumatentativadetornaresteslugaresrentveis;
humaumentodareaprivadaeumadiminuiodareapblica.
Apsquaseduasdcadasdeempregodestenovotipodeplanejamentourbano,observaseumapadronizaodosplanosestratgicos,comosefosse
umafrmaprontaaseraplicadaemqualquer local.Oplanejamentoestratgicoapresentaumafrmula/agendaprontaparaseraplicadanascidades
queoadotam:requalificarerevitalizarespaosvaziosouemdesuso,ouseja,reasporturiaseferrovirias,praas,centrosurbanoseconstruiruma
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
50
megaestrutura quase sempre desnecessria, como estdios, museus, etc. Podese dizer que o planejamento das grandes empreiteiras com o
consentimentodosgovernos locaisenacionais.Assim,fazseacidadedeconsumo:consomemseasestradas,osestdios,osmuseus,osaeroportos;
enfim,quasetodososespaospblicossoprivatizados.
Figura5PortodeBarcelonarevitalizado:FrumdaCulturade2004Fonte:Muoz,2010,p.163
Esta gesto privatizadora, onde os servios pblicos so entregues s empresas privadas para gerlos, resulta, quase sempre, em uma cidade de
excluso;cadavezmaisosespaosurbanossoprivatizados,sendoutilizadosapenasporumapequenaparceladapopulao.Excluso tambmpor
causadosprocessosdegentrificaoqueacidadepassaparaceder lugaraessesnovosempreendimentos,destinadosparapoucos.Arantesdizque
gentrificaoumarespostaespecficadamquinaurbanadecrescimentoaumaconjunturahistricamarcadapeladesindustrializaoeconseqente
desinvestimentodereasurbanassignificativas,aterceirizaocrescentedascidades,aprecarizaodeforadetrabalhoremanescentese,sobretudo,
Braslia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratgico
INTRODUOPARTEIPARTEIIPARTEIIICONCLUSOMODERNOEPSMODERNO
51
a presena desestabilizadora de uma underclass fora do mercado100. Na era do planejamento estratgico, podese dizer que se trata de uma
gentrificaoestratgica101.
Senadcadade 1960 feitaacrticaa respeitodosplanosurbanosmodernos,propostosparaum indivduotipo,um localtipo,desconsiderandoa
culturalocal,atualmente,osplanoseprojetosurbanosestratgicostambmsorealizadosparaumasociedadetipo,acultural.Portanto,podesedizer
queosplanoseprojetosestratgicosnadamaissoqueumareleituradosplanoseprojetosmodernos,diferenciandoseapenasnaescalaurbana;osdo
tipomodernos so aplicadosemumaescalamais ampla,macro, sendo a renovaoe a tabula rasa as intervenesmaisutilizadas; josplanose
projetosestratgicossoempregadosemumaescalamaispontual,menor,ondeselanamodarequalificaoedarevitalizaourbanacomoforma
de (re)inserirumareadecadentenamalhadacidadecompetitiva.Observase, tambm,queeste tipodeplanejamentoestmargemdosplanos
diretoresdascidades,caminhandoquasesempreemsentidosopostos.Assimseconstroemascrticasacercadoplanejamentoestratgico.
ApscontextualizarosplanejamentosurbanosaquiconsideradoscomoosmaissignificantesdosculoXXourbanismomodernoeoplanejamento
estratgico,buscase,aseguir,compreenderaquestodosplanosdiretoresdeordenamentofsicoeespacial,emmbitonacional,duranteomomento
modernoeopsmoderno,umavezquesotomadoscomoosinstrumentosbsicosdoplanejamentoedapolticaurbanavoltadosaorientarapoltica
dedesenvolvimentoedeordenamentodaexpansourbana.
I.2. AQUESTODOSPLANOSDIRETORES:OVELHOEONOVO
OBrasilassisteno inciodosculoXX,paralelamenteaocomeodourbanismomoderno,osurgimentodeum instrumento relevantequeorientaas
cidadesemrelaoaoseuordenamentoterritorial:oPlanoDiretor102.Primeiramente,estaferramentadoplanejamentourbanoutilizadacomouma
100
ARANTES,VAINER&MARICATO,2009,p.31101
OtliaArantesachaque sedeve incluirnaCidadeRevanchista,descritaporNeilSmithagentrificaoestratgica.Smithentendecidade revanchistacomoa retomadaagressivadagentrificaoapsasgrandesfalnciasdofimdosanos1980.ARANTES,VAINER&MARICATO,2009,p.3637102
RessaltasequeosplanosdiretoressurgiramnosEstadosUnidosnoinciodosculoXXdevidoaosproblemasqueaurbanizaoaceleradaimpunhascidades.NoBrasil,oprimeiroplanorealizadoodoRiodeJaneiro,aindaCapitalFederaldopas,intituladoIPlanoDiretordacidadedoRiodeJaneiro,nofinaldadcadade1920.Apartirde1940,ogrupolideradopeloPadreLebretdesenvolveumasriedeestudoseplanosparadiversascidadesimportantesSoPaulo,BeloHorizonteeRecifeintroduzindot