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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA
Bem-Estar Psicológico e Estratégias de Coping em Adolescentes
com e sem Obesidade
Marta Filipa Cardoso Rosa
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA
Secção de Psicologia Clínica e da Saúde
Núcleo de Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa
2016
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA
Bem-Estar Psicológico e Estratégias de Coping em Adolescentes
com e sem Obesidade
Marta Filipa Cardoso Rosa
Dissertação Orientada pela Professora Doutora Luísa Bizarro
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA
Secção de Psicologia Clínica e da Saúde
Núcleo de Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa
2016
I
Agradecimentos
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à professora Luísa Bizarro pela sua
disponibilidade, compreensão e apoio em todo este trabalho de investigação. Os seus
conhecimentos e conselhos foram essenciais para a realização desta tese.
A todos os adolescentes que participaram e contribuíram para que este estudo fosse mais
rico, o meu mais sincero obrigada.
A toda a minha família por me terem dado forças e motivação durante estes longos meses,
um obrigada não chega. À minha mãe, por ser a minha pessoa. Ao meu papi, por me incutir,
com carinho, que “se fosse fácil já estava feito”. À minha irmã, por lutar tanto por mim e ser
incansável - és a melhor. Ao meu irmão e ao meu cunhado, pelas tentativas infrutíferas de me
acalmarem nos piores momentos. À minha cunhada, por me ouvir pacientemente e me dar
sempre um ombro amigo.
À minha sobrinha, por me fazeres lutar por um mundo melhor para ti.
Ao Mateus e ao Sebastião, por todo o amor e carinho que me deram, e principalmente por
me acalmarem quando mais precisava.
Às minhas maravilhosas colegas de casa, pelas frigideiras (Cé), pelos jantares de família,
pelas conversas pela noite dentro e por acreditarem em mim e me darem força para continuar.
Aos meus colegas de curso, por todos os momentos bons que partilhámos e por todas as
experiências que vivenciámos. À minha Sue, que me acompanhou desde sempre e foi o meu
grande apoio durante estes cinco anos. À Bea, que apesar de ter sido só um ano, contou por
uma vida – obrigada por me acalmares e acreditares em mim, és top. A todas as outras amigas
que ouviram os meus desabafos e me deram força – principalmente à Patrícia, à Catarina, à
Raqui e à Nadine.
Aos meus amigos do coração, porque mesmo não se podendo fazer planos, estão sempre
lá. À Eve e à Sara, por terem sempre uma palavra amiga. Ao Edu, pela paciência e por ter
sempre algo positivo para me dizer. À Sara, por animar a minha vida.
À Dra. Elsa, por acreditar em mim e por me ter dado o apoio que eu precisava há muito.
À Bruna, pela paciência que teve comigo e por todo o apoio, acho que já conhece tão bem
esta tese quanto eu.
À avó Brisa, ao avô Chico e à Flávia, por serem os meus anjinhos.
II
Resumo
A obesidade tem sido considerada como um dos grandes problemas da saúde pública em todo o
mundo, cuja prevalência tem vindo a aumentar nas crianças e adolescentes, nas quais as
consequências a curto e longo prazo não são simplesmente físicas, mas também psicossociais. Em
Portugal, estima-se que 15% dos jovens apresentam obesidade e 21% estão no nível de pré-
obesidade (Viveiro, Brito, & Moleiro, 2015). A relação deste conceito com o bem-estar
psicológico e com as estratégias de coping ainda não foi suficientemente estudada, pelo que o
objetivo principal desta investigação é o de se compreender a influência da obesidade no bem-
estar psicológico e nas estratégias de coping numa população de adolescentes dos 12 aos 18
anos. A amostra foi assim constituída por 154 adolescentes, sendo que destes, 40 apresentavam
excesso de peso. Os instrumentos utilizados para a recolha de dados nesta investigação foram
a Escala de Bem-Estar Psicológico para Adolescentes (Bizarro, 1999) e o brief COPE (Carver,
Scheier, & Weintraub, 1989; Pais-Ribeiro & Rodrigues, 2004). Os resultados obtidos permitem
concluir que houve diferenças em algumas dimensões do bem-estar psicológico entre jovens
com excesso de peso e jovens com peso normal. Verificou-se também que não existem
diferenças significativas entre os jovens com peso normal e os com excesso de peso ao nível
das estratégias de coping utilizadas.
Palavras-Chave: Obesidade; Bem-Estar Psicológico; Coping; Adolescência
III
Abstract
Obesity has been considered as one of the big health problems in all of the world, whose
prevalence has been increasing in children and adolescents, in which the short and long term
consequences are not simply physical but also psychosocial. In Portugal, it is estimated that
15% of the youngers present obesity and 21% are overweight (Viveiro, Brito, & Moleiro,
2015). The relationship between this concept with psychological well-being and coping
strategies has not been sufficiently studied, whereby the main objective of this investigation is
to comprehend the influence of obesity on psychological well-being and on coping strategies
in a population of adolescents from 12 to 18 years. The sample was constituted by 154
adolescents, and of these, 40 were overweight. The instruments used to collect the data in this
investigation were the Escala de Bem-Estar Psicológico para Adolescentes (Bizarro, 1999) and
the Brief COPE (Pais-Ribeiro & Rodrigues, 2004). The results obtained conclude that there
were some differences in some of the dimensions of the psychological well-being between
overweight and normal weight adolescents. It was found, as well, that there were no significant
differences in the used strategies of coping between adolescents with normal weight and
overweight.
Key-Words: Obesity; Psychological Well-Being; Coping; Adolescence
IV
Índice Geral
1. Introdução……………………………………………………………………………….…1
2. Revisão de Literatura………………………………………………………………....……3
2.1. Obesidade……………………………………………………………………………..3
2.1.1. Definição de obesidade e prevalência………………………………………....3
2.1.2. Etiologia da Obesidade………………………………………………………...4
2.1.3. A Obesidade na infância e na adolescência………………………….………..8
2.1.3.1.Definição e Prevalência…………………………………….……......….....8
2.1.3.2.Métodos de Avaliação da Composição Corporal………………………….9
2.1.3.3.Fatores de risco…………………………………………………………...10
2.1.3.4.Consequências……………………………………………………………12
2.1.3.5. A imagem corporal e o excesso de peso…………………………………15
2.2.Bem-Estar…………………………………………………………………………….17
2.2.1. Constructo de Bem-Estar…………………………………………………..17
2.2.2. Bem-Estar subjetivo……………...…………………………………………..18
2.2.3. Bem-Estar Psicológico……………………………………………………….19
2.2.4. Modelo Cognitivo-Comportamental-Desenvolvimentista…………………...22
2.2.5. Bem-estar psicológico na infância e na adolescência………………………..24
2.2.6. Bem-Estar e Obesidade………………………………………………………24
2.3.Coping………………………………………………………………………………………….27
2.3.1. Conceptualização do coping……………………………………………………….27
2.3.2. Evolução do conceito………………………………………………………...29
2.3.3. Estratégias de Coping versus Estilos de Coping…………………………………32
2.3.4. Coping e Obesidade………...………………………………………………..35
3. Metodologia…………………………………………………………………………...…38
3.1. Tipo de Investigação………………………………………………………………...38
3.2.Objetivos Gerais e Questões de Investigação………………………………………..38
3.3.Instrumentos………………………………………………………………………….39
3.3.1. Escala de Bem-Estar Psicológico para Adolescentes (EBEPA)……………..39
3.3.2. Brief COPE…………………………………………………………………..40
3.4. Amostra……………………………………………………………………………...42
3.5. Procedimentos……………………………………………………………………….43
V
4. Resultados…………………………………………………………………………..……44
4.1. Estudo dos instrumentos utilizados…………………………………………………..44
4.1.1. Análise Fatorial, Análise de Consistência Interna, Análise Descritiva e Análise
de Intercorrelações da Escala de Bem-Estar Psicológico para Adolescentes
(EBEPA)…………………...............................................................................44
4.1.2. Análise Fatorial, Análise de Consistência Interna, Análise Descritiva e Análise
de Intercorrelações do instrumento Brief COPE……………………………...48
4.2.Análise do bem-estar psicológico………………………………………………….....52
4.3.Análise das estratégias de coping……………………………………………………..53
4.4. Análise das correlações………………………………………………………………55
5. Discussão…………………………………………………………………………………58
5.1. Objetivo 1: Analisar a estrutura fatorial e consistência interna dos instrumentos
utilizados no presente estudo…………………………………………………………58
5.2.Objetivo 2: Avaliar e comparar o bem-estar psicológico de adolescentes com e sem
obesidade……………………………………………………………………………..60
5.3.Objetivo 3: Avaliar e comparar as estratégias de coping de adolescentes com e sem
obesidade……………………………………………………………………………..62
5.4.Objetivo 4: Compreender de que forma as diferentes variáveis dependentes no estudo
se relacionam…………………………………………………………………………63
6. Conclusão………………………………………………………………………………...67
7. Implicações Clínicas……………………………………………………………………..68
8. Limitações e investigações futuras………………………………………………………69
9. Referências Bibliográficas……………………………………………………………….71
10. Anexos……………………………………………………………………………………77
VI
Índice de Tabelas
Tabela 1. Padrão fatorial do EBEPA (Rotação Varimaz normalizada)………..…………...…45
Tabela 2. Média, desvio-padrão e Correlações das Dimensões do EBEPA e do Índice Total de
Bem-Estar Psicológico…………………………………………………………….…………47
Tabela 3. Padrão fatorial do Brief COPE (Rotação Varimaz normalizada)…………..…..…48
Tabela 4. Média, desvio-padrão e Correlações das Dimensões do Brief COPE ……….…….51
Tabela 5. Análise descritiva das dimensões de Bem-Estar Psicológico da EBEPA……..……52
Tabela 6. Teste T para as médias do índice de Bem-Estar Psicológico total para os grupos com
peso normal e com excesso de peso…….……………………………………………….……53
Tabela 7. Teste T para as dimensões de bem-estar psicológico para os grupos com peso normal
e com excesso de peso…………………………………………….…………………….…….53
Tabela 8. Análise descritiva das dimensões de Coping do Brief COPE…………….….……54
Tabela 9. Análise descritiva das dimensões de Coping do Brief COPE para jovens com peso
normal……………………………………………………………………………………...…54
Tabela 10. Análise descritiva das dimensões de Coping do Brief COPE para jovens com
excesso de peso………………………………………………………………………………54
Tabela 11. Teste de Mann-Whitney das dimensões de Coping relativamente ao peso………55
Tabela 12. Correlação de Spearman entre o índice de bem-estar psicológico total e as
dimensões de Coping…………………………………………………………………………56
Tabela 13. Correlação de Spearman entre as dimensões de bem-estar psicológico e as
dimensões de Coping………………………………………………………………………....57
VII
Índice de Figuras
Figura 1. Curvas de Crescimento dos 2 aos 20 anos…………………………………………10
Figura 2. Frequência das idades da amostra………………………………………...……….43
VIII
Anexos
Anexo A - Folha de rosto dos questionários
Anexo B - Escala de Bem-Estar Psicológico para Adolescentes (EBEPA)
Anexo C - Brief COPE
Anexo D - Folha de consentimento informado para os Encarregados de Educação
IX
Abreviaturas
APN Associação Portuguesa de Nutricionistas
IMC Índice de Massa Corporal
EBEPA Escala de Bem-Estar Psicológico
WHO World Health Organization
1
1. Introdução
A obesidade é um conceito que tem vindo a emergir ao longo das duas últimas décadas,
sendo considerada como uma nova doença crónica e constituindo um grave problema de saúde
pública. Esta doença pode ser definida como uma doença crónica, multifatorial e
multissistémica (Fonseca, 2008).
Estima-se que 95% das situações de excesso de peso tenham uma causa exógena ou
nutricional, sendo os restantes 5% devido a causas endócrinas, hereditárias ou genéticas (Kosti,
2006; Wardle, 2005; citado por Sousa, 2011). Assim, pode ser descrito que para a maioria dos
casos, a obesidade é o resultado de um desequilíbrio entre a ingestão energética e a atividade
física (Viana, Santos, & Guimarães, 2008a).
Em Portugal, a prevalência da obesidade tem vindo a aumentar a um ritmo alarmante e em
todas as idades, sendo que os valores para as crianças e adolescentes se situam nos 21% para a
pré-obesidade e de 15% para a obesidade (Viveiro, Brito, & Moleiro, 2015).
A adolescência é um período crítico para o desenvolvimento da obesidade ou para
comportamentos que predispõem para a obesidade, possivelmente devido ao fator psicossocial
e às mudanças de comportamento que acontecem neste período (Dietz, 1994 cit. por Gomes,
2009). O impacto psicológico da obesidade nesta altura depende sempre da interação de
competências psicológicas, variáveis biológicas e sociodemográficas (Andrade, 2014).
Para além disso, a obesidade nesta fase da vida é particularmente complexa dado que esta
é um fator de risco para a saúde, estando associada a consequências físicas, económicas e
psicossociais (Mourão-Carvalhal, 2008; cit. por Gomes, 2009), como também a uma série de
comorbilidades que se tornam particularmente preocupantes quando encontradas em crianças
e adolescentes, devido às implicações para a sua saúde a longo prazo (Pereira, 2014).
A par da obesidade, os outros conceitos que serão também abordados nesta dissertação são
o bem-estar e o coping. O bem-estar pode ser definido por um funcionamento e uma
experiência psicológica ideal (Ryan & Deci, 2001). Este constructo pode ser enquadrado tendo
em vista inúmeras teorias, modelos e correntes filosóficas, contudo, de acordo com Ryan e
Deci (2001), existem essencialmente duas perspetivas teóricas de base do bem-estar, o bem-
estar subjetivo e o bem-estar psicológico.
O bem-estar subjetivo pode ser definido pela compreensão da dimensão afetiva (felicidade)
e da dimensão cognitiva (satisfação com a vida) da avaliação subjetiva que cada indivíduo faz
das suas experiências de vida (Diener, 1984). Por outro lado, o bem-estar psicológico também
pode apresentar várias dimensões consoante as perspetivas dos autores. Por exemplo, de acordo
2
com Ryff (1989), este pode ser definido por um modelo multidimensional, que apresenta seis
dimensões que constituem o bem-estar, sendo estas a aceitação de si, os objetivos de vida, o
domínio do meio, o crescimento pessoal, as relações positivas com os outros e a autonomia.
Por outro lado, para Bizarro (1999, 2001) o modelo de bem-estar comporta diversas dimensões,
tal como a cognitivo-emocional positiva, a perceção de competências, o apoio social, a
ansiedade e a dimensão cognitivo-emocional negativa.
Na presente investigação iremos focar-nos na segunda visão de bem-estar, o bem-estar
psicológico, analisando como é que a obesidade pode ter influência nos diferentes fatores que
compõem o bem-estar psicológico.
O terceiro conceito que será abordado é o coping. Este pode ser definido como um conjunto
de esforços cognitivos e comportamentais, utilizados por um indivíduo, com o objetivo de lidar
com exigências específicas internas ou externas, numa situação de stress e que são
percecionadas como sobrecarregando ou excedendo os seus recursos pessoais (Lazarus &
Folkman, 1984).
Segundo Lazarus e Folkman (1984), o coping pode dividir-se segundo a sua orientação, ou
seja, o coping pode ser focado no problema ou o coping pode ser focado na emoção. No que
diz respeito ao coping focado no problema, haverá um esforço por parte do indivíduo no sentido
de agir sobre a fonte de stress, procurando aumentar os seus recursos para lidar com a situação
percebida. Por outro lado, o coping focado na emoção é direcionado no sentido de regular o
estado emocional do indivíduo, de forma a controlar a resposta emocional que resulta do evento
stressor.
Deste modo, poderemos entender o coping como um processo multidimensional, que é
sensível às exigências e recursos do meio ambiente, assim como às características individuais
de cada sujeito e que influenciam a avaliação do stressor e dos recursos disponíveis (Folkman
& Moskovitz, 2004).
A investigação que relaciona o bem-estar psicológico e as estratégias de coping com a
obesidade é escassa, por isso este estudo será do tipo exploratório. Desta forma, a presente
investigação pretende explorar uma amostra de adolescentes com e sem obesidade e tem como
objetivo compreender as relações entre o bem-estar psicológico, as estratégias de coping e a
obesidade, tentando assim compreender se há alguma influência entre estes três fatores.
3
2. Revisão de Literatura
2.1. Obesidade
2.1.1. Definição de obesidade e prevalência.
O excesso de peso e a obesidade podem ser definidos como uma acumulação de gordura
anormal ou excessiva que poderá apresentar um risco para a saúde (World Health Organization,
2015). Contudo, a quantidade de excesso de gordura, a sua distribuição no corpo e as suas
consequências para a saúde variam consideravelmente entre cada indivíduo com obesidade
(World Health Organization, 2000).
Segundo Gleitman, Fridlund e Reisberg (2009), a obesidade pode ser explicada como um
peso do corpo que excede o valor médio, para uma determinada altura, em mais de 20 por
cento. Segundo este critério, cerca de 35% das mulheres e 31% dos homens americanos com
cerca de vinte anos são obesos. Em relação às crianças e adolescentes dentro deste critério para
a obesidade, cerca de 25% dos mesmos encontra-se dentro desta condição.
A classificação da obesidade e do excesso de peso por categorias é importante por diversas
razões, tais como: permitir que haja comparações com significado entre o estado do peso intra
e inter populações; possibilitar a identificação dos indivíduos e grupos em risco de morbilidade
e mortalidade; facilitar as prioridades de intervenção a níveis individuais e comunitários; e
garantir uma base firme para avaliar as intervenções (WHO, 2000).
Uma medida que permite verificar se o sujeito apresenta esta condição é o Índice de Massa
Corporal (IMC) (WHO, 2015). Este índice é usado para a classificação do peso corporal em
adultos, que relaciona o peso com a altura. A fórmula deste índice é definida pelo peso do
indivíduo (em quilogramas) dividido pelo quadrado da sua altura (em metros). Ou seja, o IMC
é igual ao peso (kg) /altura (m)×altura (m). Aqui, o sujeito que apresentar um resultado entre
25 e 29,9 terá excesso de peso; de 30 a 34,9 terá obesidade de grau 1; de 35 a 39,9 deterá
obesidade de grau 2 e com valores iguais ou superiores a 40,0 o indivíduo possuirá obesidade
de grau 3 (Associação Portuguesa de Nutricionistas, s.d.).
Esta medida é útil para avaliar o excesso de peso e a obesidade, uma vez que é utilizada
para ambos os sexos e para todas as idades nos adultos (APN, s.d.). Contudo, uma das
limitações deste índice prende-se com o facto de este não nos indicar a percentagem de gordura
corporal, o que o torna inviável para certas populações, tal como atletas de alta competição
(APN, s.d.).
4
Existem outras medidas adicionais que permitem caracterizar mais detalhadamente o
estado do indivíduo com obesidade, tais como métodos de medição da composição do corpo,
determinação da distribuição anatómica da gordura do corpo e medição da ingestão de energia
e do gasto energético. Contudo, o custo de tais técnicas e as dificuldades práticas envolvidas
na aplicação destas limitam a sua utilidade para a investigação (WHO, 2000).
2.1.2. Etiologia da Obesidade.
Existem diversas razões para uma pessoa se tornar obesa. Em alguns casos, a causa é uma
condição somática, por vezes relacionada com fatores genéticos; noutros casos, é apenas uma
questão comportamental. Perante isto, pode afirmar-se que, para algumas pessoas, a obesidade
é claramente uma condição constitucional, contudo, para muitas outras, a sua causa provém
apenas do seu comportamento (Gleitman et al., 2009). Estima-se que apenas 1 a 5% dos casos
de obesidade sejam motivados por causas endógenas (causas genéticas ou endócrinas), sendo
que os restantes 95 a 99% são motivados por uma causa primária ou exógena, justificada
essencialmente por ingestão excessiva, quando comparada com o gasto energético do indivíduo
(Sousa, 2011).
Uma hipótese que defende que a obesidade é modelada geneticamente é a hipótese do ponto
fixo, segundo a qual há a possibilidade de haver uma pré-disposição do corpo para um
determinado peso, ditada pela observação de que as pessoas obesas após cumprirem dietas
rigorosas acabam por voltar ao seu peso anterior, imediatamente após o término da dieta
(Gleitman et al., 2009).
Por outro lado, existem diversas hipóteses que apontam para o facto de a obesidade estar
ligada a comportamentos, mormente o comer em excesso. Uma delas é a teoria da
externalidade, que defende que as pessoas obesas não reagem tanto ao seu próprio estado
interno de fome, sendo muito mais influenciadas por sinais provenientes do exterior. Ou seja,
segundo esta teoria, as pessoas com obesidade tendem a estar mais atentas a sinais sensoriais
da comida, como o cheiro e a aparência, comendo em maiores quantidades em função das
características que mais lhes agradam, não necessariamente porque estão com fome (Schachter
& Rodin, 1974, citado por Gleitman et al., 2009). Assim, ao contrário dos indivíduos com peso
normal que comem em resposta a indícios internos, as pessoas com obesidade tendem a ser
pouco sensíveis aos seus indícios internos e demasiado sensíveis aos externos (Ogden, 2004).
Rodin e Slochower (1976) explicitam também que as pessoas com obesidade estão
geralmente menos responsivas a sinais internos de fome, estando mais atentas a sinais
elicitados pela comida, que venham do exterior, tais como o cheiro e o gosto da mesma. Num
5
estudo conduzido por estes autores, os resultados indicaram que as crianças que exibiam maior
responsividade a tais sinais ganhavam mais peso do que aquelas que tinham baixos níveis de
externalidade.
Estudos recentes apontam para que esta resposta a estímulos externos relativos à comida
possa ser considerada uma resposta aprendida. As pistas que acompanham a comida, bem como
os estados afectivos e as cognições, podem ser condicionadas em indivíduos por
condicionamento clássico para elicitar uma resposta fisiológica (Bouton, 2011; Jansen, 1994,
1998, cit. por Boutelle et al., 2014). Perante isto, Boutelle e os seus colaboradores (2014)
proposeram um tratamento com crianças obesas em que tentavam extinguir a reactividade
fisiológica e psicológica para com os estímulos alimentares através da exposição (Wardle,
1990, cit. por Boutelle et al., 2014). Após o estudo, os pais consideraram que o programa
permitiu que os seus filhos conseguissem controlar mais facilmente o que comiam (Boutelle,
et al., 2014).
Para além disso, outros trabalhos indicaram que esta resposta externa não está limitada a
estímulos relacionados com a comida ou com o apetite, mas extende-se a diversos domínios do
funcionamento, como a emotividade (Pliner, 1974; Rodin, Elman, & Schachter, 1974, cit. por
Rodin & Slochower, 1976), o processamento da informação (Rodin & Slochower, 1976), a
distratibilidade (Rodin, 1973, cit. por Rodin & Slochower, 1976) e a perceção do tempo (Rodin,
1975, cit. por Rodin & Slochower, 1976).
Em relação à emotividade, tem vindo a ser demonstrado que o estado emocional da pessoa
afeta os seus comportamentos alimentares, sendo que as pessoas comem para que os
sentimentos desagradáveis não estejam tão presentes, ou seja, as pessoas comem para que os
sentimentos desagradáveis desapareçam e se sintam melhor (Christensen, 1993; Macht, Haupt,
& Ellgring, 2005; Macht & Simons, 2000, cit. por Barthomeuf, Droit-Volet, & Rousset, 2008).
Assim, segundo Barthomeuf e colegas (2008), os participantes obesos sentiriam mais emoções
positivas (porque são mais sensíveis a estímulos externos) e mais emoções negativas (devido a
restrições alimentares, depressão, medo de ganhar peso) para com a comida do que os
participantes com excesso de peso ou com um peso normal.
No processamento da informação, Rodin, Herman e Schachter (1974) (cit. por Rodin &
Slochower, 1974) perceberam que as pessoas com obesidade eram mais rápidas do que os
sujeitos com um peso normal no tempo de reação a respostas múltiplas e que tinham uma
memória melhor aquando da exposição de itens num slide. Isto deve-se ao facto de o sujeito
com obesidade ser mais focado nos estímulos e por isso compreende mais facilmente estímulos
6
externos, o que leva a que as performances destes sejam superiores às dos indivíduos com um
peso normal (Rodin, 1973, cit. por Rodin & Slochower, 1974).
Em termos de distratibilidade, os indivíduos com maior externalidade tendem a responder
em maiores níveis a distrações auditivas, aquando de uma tarefa visual (Rodin, 1973, cit. por
Ossher, 2014). Para além disso, diversos estudos demonstram que esta distratibilidade existe
mais frequentemente em indivíduos com excesso de peso e obesidade, porque está relacionada
com a externalidade que os obesos apresentam (Rodin, 1973, Schachter, 1971, cit. por Ossher,
2014).
Por último, a percepção do tempo é uma tarefa maioritaramente interna, estando associada
a ritmos biológicos internos como o metabolismo (Francois, 1927; Hoagland, 1933, cit por
Rodin, 1975). Assim, como as pessoas com obesidade não estão tão atentas a estímulos
internos, no caso de não haver estímulos externos que registem a passagem do tempo, estas
pessoas acabam por ser bastante imprecisas aquando das suas perceções da passagem do tempo
(Rodin, 1975).
Posto isto, Rodin e Slochower (1976) afirmam que será de esperar que, quando um
indivíduo que responde imenso a estímulos externos é exposto a um contexto alimentar novo
ou diferente por algum tempo, o seu peso deverá ser afetado. Contudo, as pessoas
externalizantes que irão aumentar de peso durante um longo periodo de tempo serão aquelas
nas quais os seus mecanismos regulatórios não lhes permitem controlar o seu peso, não os
inibindo de continuar a ganhar peso a longo prazo que resultou da prévia alteração do seu
contexto.
Contudo, estudos mais recentes levantam dúvidas acerca desta hipótese, explicitando que
a hipersensibilidade em relação à comida pode não ser uma causa da obesidade mas sim um
efeito da mesma (Nisbett, 1972; Rodin, 1980, 1981, cit. por Gleitman et al., 2009). De acordo
com Herman e Polivy (1980) (cit. por Gleitman et al., 2009), na nossa sociedade, as pessoas
com excesso de peso tentam voluntariamente restringir a sua alimentação, e os estímulos
exteriores, como os vários tipos de comida que se encontram à vista, podem pôr em causa essa
decisão. Assim, a dieta será fácil de manter se a comida não for chamativa, mas se as pessoas
forem expostas a comidas saborosas, já não ficarão indiferentes. Pode dizer-se assim que o que
parece ser selectividade pode ser a forma como os participantes lidam com a “tentação” e não
uma sensibilidade excessiva aos indicadores externos (Gleitman et al., 2009).
Outra hipótese explicativa da ingestão em excesso passa pela teoria psicossomática, que
valoriza o contributo dos fatores emocionais e a confusão que pode existir entre estados como
fome e ansiedade (Viana et al., 2008a). Segundo esta teoria, o stress altera os padrões
7
alimentares. Quando é experienciada uma situação aguda de stress, como uma ameaça à
segurança pessoal, é ativada a resposta fisiológica de “fight or flight” (Sherwood, 2001, cit.
por Torres & Nowson, 2007) na qual as pessoas tendem a perder o apetite (Charmandari,
Tsigos. & Chrousos, 2005, cit. por Torres & Nowson, 2007). Por outro lado, a resposta à
exposição a situações de stress crónicas é a de procurarem e consumirem comidas com muitas
calorias (Oliver, Wardle & Gibson, 2000; Schiffman, Graham, Sattely-Miller & Peterson-
Dancy, 2000, cit. por Torres & Nowson, 2007). Segundo esta teoria, os indivíduos não
conseguem tanto reconhecer se estão com fome, se estão saciados, ou se há outro desconforto
que os perturba e acabam por comer em excesso em resposta a qualquer estado de excitação.
Assim, se este comer emocional ocorrer frequentemente, isso pode levar a que a pessoa ganhe
peso e fique obesa (Bruch, 1961, 1964, cit. por van Strien & Ouwens, 2003).
Por último, a teoria da restrição defende que os indivíduos restritivos, pressionados por
fatores sociais e psicológicos, tendem a percecionarem-se como tendo peso excessivo ou uma
forma de corpo indesejada, pelo que se envolvem em dietas restritivas (Ogden, 2004; Viana et
al., 2008a). Num estudo de Ruderman e Wilson (1979) (cit. por Ogden, 2004) os sujeitos que
tentavam comer menos consumiam uma quantidade significativamente superior do que os que
comiam sem restrições. Uma característica da alimentação destes primeiros indivíduos será
que, ao tentarem comer menos, se desinibem de comer e acabam por comer em excesso
(Herman & Mack, 1975; Spencer & Fremouw, 1979; Herman et al., 1978, cit. por Ogden,
2004).
Segundo este ponto de vista, fazer dieta, no caso dos sujeitos restritivos, será assim parte
do problema e não da solução (Neumark-Sztainer et al., 2006; Ackard, Neumark-Sztainer,
Story, & Perry, 2003, cit. por Viana et al., 2008a). Contudo, a relação entre restrição e
obesidade ainda não foi completamente esclarecida dado que a maioria dos estudos não são
longitudinais, não permitindo responder de modo inequívoco às questões sobre as relações
entre restrição, sobreingestão e obesidade (Faith, Scanlon, Birch, Francis, & Sherry, 2004; cit.
por Viana et al., 2008a). Será a restrição uma parte da solução em indivíduos com excesso de
peso e obesidade ou será parte do problema?
Confirmando estas teorias, em estudos com crianças e jovens portugueses foi encontrada
uma correlação positiva entre as escalas de um questionário do comportamento alimentar
(Child Eating Behaviour Questionnnaire) (Wardle, Guthrie, Sanderson, & Rapoport, 2001) que
se referem à restrição e à “externalidade” e o IMC destes sujeitos (Viana & Sinde, 2008; Viana,
Sinde, & Saxton, 2008, cit. por Viana et al., 2008a). Num desses estudos, de Viana e
colaboradores (2008b), que avaliou crianças com e sem obesidade, a escala de “atração pela
8
comida” aumentava à medida que o IMC aumentava também, ao passo que Roemmich, Wright
e Epstein (2002) (cit. por Viana et al., 2008b) verificaram que crianças mais responsivas ao
stress e muito restritivas demonstravam uma maior ingestão energética, induzida por stress,
comparativamente com as crianças com menos reatividade e com o grupo de controlo.
Em relação às diferenças no tipo e na quantidade de comida ingerida por pessoas obesas e
pessoas com peso normal, uma das teorias desenvolvidas é aquela que afirma que embora os
obesos possam não comer globalmente mais do que os não obesos, eles poderão comer
proporcionalmente mais em gordura (Ogden, 2004).
2.1.3. A Obesidade na infância e na adolescência.
2.1.3.1. Definição e Prevalência.
A obesidade na infância é um dos problemas de saúde mais sérios do século XXI. O
problema é global e tem vindo a crescer a ritmos alarmantes, afetando agora também países
com rendimentos médios e baixos, estando presente principalmente em famílias de contextos
urbanos (WHO, 2015). A obesidade representa uma das patologias mais difíceis de tratar,
sendo apontada como o distúrbio nutricional mais frequente em crianças e adolescentes
(Dehgham, 2005; Barlow, 1998, cit. por Sousa, 2011)
Globalmente, em 2013, estimava-se que o número de crianças com excesso de peso antes
dos cinco anos de idade era de 42 milhões (WHO, 2015). A prevalência da pré-obesidade e da
obesidade em crianças e adolescentes tem vindo a aumentar a nível mundial a um ritmo
alarmante, sobretudo nos países desenvolvidos e em alguns segmentos de países em
desenvolvimento (WHO, 2000; Kosti, 2006; Wang, 2006, cit. por Sousa, 2011).
Num estudo realizado com crianças entre os dois e dezassete anos, a prevalência de pré-
obesidade na população de crianças e adolescentes é de 21%, e de 15% para a obesidade, de
acordo com as referências da OMS para a definição de obesidade (Viveiro et al., 2015).
Segundo Sousa (2011), a prevalência de pré-obesidade Infanto-juvenil em Portugal é de
22,6% e de obesidade é de 7,8%, pelo que se pode afirmar que 30,4% dos adolescentes em
Portugal apresentam excesso de peso. Ao associar-se a distribuição por sexo constatou-se que
quer na prevalência de pré-obesidade quer de obesidade os indicadores eram superiores nos
rapazes, sendo que as raparigas apresentavam pré-obesidade e obesidade em 29,3% dos casos
e os rapazes em 31,7% dos casos. Num estudo nacional com estudantes do ensino secundário,
encontrou-se uma prevalência de 3,55% de estudantes com obesidade e de 10,15% de
estudantes com excesso de peso (Brites, Cruz, Lopes & Martins, 2007).
9
Noutros estudos realizados em Portugal com crianças e adolescentes os indicadores são
próximos dos já referidos, tal como no estudo de Ribeiro e colaboradores (2003) (cit. por Sousa,
2011) realizado no Porto, em que 27,4% dos jovens questionados apresentava excesso de peso.
Noutro estudo de Sousa e colegas (2004) (cit. por Sousa, 2011) realizado em Lisboa, os
resultados indicavam que 34,2% dos participantes do estudo apresentavam excesso de peso.
2.1.3.2. Métodos de Avaliação da Composição Corporal.
Classificar a obesidade durante a infância e adolescência é mais complicado do que num
sujeito adulto dado que o jovem se encontra em crescimento e a composição do corpo está
continuamente a mudar (WHO, 2000). Para além disso, existe uma enorme variabilidade inter
e intra-individual (APN, s.d.).
Verifica-se assim que o IMC nas crianças se altera substancialmente com a idade,
aumentando durante a primeira infância, caindo no período pré-escolar e subindo novamente
com a adolescência e os primeiros anos de vida adulta. Por esta razão, para calcular o IMC nas
crianças e adolescentes, para além ser feito o cálculo referido anteriormente, todos os dados
devem também ser analisados através de curvas de referência relacionadas com a idade (Sousa,
2011).
Neste trabalho, será considerado que o jovem apresenta excesso de peso se se apresentar
um desvio padrão acima da média para o IMC correspondente à sua idade e ao sexo e será
considerado com obesidade se se encontrar dois desvios padrões acima da média de IMC para
a sua idade e sexo (WHO, 2015). Nestas curvas, os percentis 85 (p85) e 95 (p95) de uma
amostra também são usados frequentemente para definir, respetivamente, pré-obesidade e
obesidade em crianças e adolescentes (Himes, 1994, cit. por Sousa, 2011).
10
Figura 1. Curvas de Crescimento dos 2 aos 20 anos
Fonte: (Ministério da Saúde, 2006)
2.1.3.3. Fatores de risco.
A organização mundial de saúde aponta para a existência de pelo menos três períodos
críticos na criança para o desenvolvimento da obesidade: período pré-natal, período entre os 5
e os 7 anos e o período da adolescência (WHO, 2000). Identificar fatores de risco para o
desenvolvimento da obesidade em crianças e adolescente torna-se assim essencial para se
conseguir intervir precocemente e eficazmente.
Dentro dos comportamentos exercidos pelas crianças e adolescentes, os hábitos alimentares
e o sedentarismo são os principais responsáveis pelo número crescente desta patologia (Coelho
et al., 2008).
Atualmente a alimentação mediterrânea tradicional está a ser substituída por alimentos pré-
confecionados, de consumo rápido e com elevado teor calórico, ricos em ácidos gordos
saturados e pobres em hidratos de carbono complexos, estando estes alimentos largamente
disponíveis. Esta alimentação liga assim o gosto dos alimentos a uma imagem tentadora,
frequentemente publicitada nos meios de comunicação social (Coelho et al., 2008). Para além
disso, segundo Chapman e MacLean (1993) (cit. por Viana et al., 2008a), os adolescentes
tendem a associar a comida a um conjunto de situações com diferentes significados emocionais.
Por um lado, os vegetais cozidos, saladas e alimentos, por eles classificados como saudáveis,
são associados às refeições com os pais, a “ficar em casa” e a um maior autocontrolo. Por outro
lado, a “junk food”, a comida de baixo valor nutricional definida por este grupo como não-
11
saudável, é associada a refeições com os amigos, às “refeições fora”, à falta de controlo e ao
“estar à vontade”.
Tem vindo a ser demonstrado que existe uma associação inversa entre o nível de atividade
física em crianças e adolescentes e o desenvolvimento da obesidade (Brambilla, Pozzobon &
Pietrobelli, 2011; Guinhouya, 2012; Guinhouya & Hubert, 2011; Kim & Park, 2013, cit. por
Paes, Marins, & Andreazzi, 2015). De facto, a prática de exercício tem vindo a ser cada vez
menor e o estilo de vida sedentário, no qual os jovens raramente vão a pé para a escola e passam
grande parte do dia sentados a estudar, a ver televisão, no computador ou a jogar videojogos,
pode ser responsável por um aumento no peso, especialmente em crianças mais jovens. Estes
comportamentos sedentários apresentam-se então como um fator propício ao desenvolvimento
do excesso de peso, estando diretamente relacionados com o percentil de IMC (Coelho et al.,
2008; Sousa, 2011).
Para além dos comportamentos exercidos pelos jovens, os principais fatores que
predispõem uma criança à obesidade são a obesidade parental, fatores genéticos, ambientais e
metabólicos (Sousa, 2011).
A criança que tem pais com excesso de peso está em maior risco para ela própria ficar com
sobrepeso, devido não só à herança genética, mas também aos fatores do meio ambiente, como
as comidas que os pais escolhem dar, o tamanho das refeições, a altura em que ingerem
alimentos ao longo do dia e os contextos sociais em que comem (Fairburn & Brownell, 2002).
O risco de obesidade na criança é quatro vezes superior quando um dos pais é obeso,
aumentando o risco para oito vezes quando ambos o são (Rhee, 2005; Strauss, 1999, cit. por
Sousa, 2011).
É sugerido, a um nível global, que as preocupações dos pais com a aparência física, com a
magreza e o peso corporal dos filhos, bem como a manifestação de perturbações alimentares
parentais, estão relacionadas com os problemas alimentares dos filhos, desde muito cedo, na
infância, mas sobretudo, na pré-adolescência e na adolescência (Soares, 2011). Esta relação é
ainda mais destacada aquando da presença de um distúrbio alimentar nas mães, estando as suas
atitudes e comportamentos relativos à aparência física e à alimentação relacionados com
problemas do comportamento alimentar dos filhos (Soares, 2011). Para além disso, as atitudes
restritivas dos pais e a pressão para ingerir alimentos “saudáveis” parecem estar associados a
uma sobreingestão emocional em raparigas, traduzindo-se depois na externalidade aquando da
escolha dos alimentos ingeridos e numa falta de controlo de paragem aquando da saciedade
(Birch, Fisher, & Davison, 2003; Carper, Fisher, & Birch, 2000, cit. por Viana et al, 2008a).
12
Existem também diversos fatores de risco ambientais relacionados com a obesidade, tais
como o baixo nível-sócio económico, a proveniência de meios rurais, o tipo de estrutura
familiar (filho único/adotado; famílias mono parentais, famílias numerosas), alterações na
dinâmica familiar e sobrealimentação (Arthur, 2001; Rising, 2005, cit. por Sousa, 2011).
De acordo com Rasmussen e colegas (2006) (cit. por Gomes, 2009), as crianças de estatutos
socioeconómicos mais baixos têm mais tendência a consumir mais açúcar e gordura e menos
frutas e vegetais. O contexto familiar exerce também uma forte influência no desenvolvimento
de comportamentos que influenciam o modo de vida saudável dos jovens (Guedes, Guedes,
Barbosa, Oliveira & Stanganelli, 2006, cit. por Gomes, 2009). Quantas mais pessoas viverem
numa casa, mais calorias cada um consome, o que sugere que existe uma relação direta entre o
número de pessoas presentes à refeição e energia consumida (Sobal, 2001, cit. por Gomes,
2009).
Dentro da escolaridade, percebeu-se que havia fortes correlações entre a escolaridade e a
obesidade (Correia, 2004, cit. por Gomes, 2009). Uma maior formação académica fornece
conhecimento sobre alimentação, nutrição, atividade, saúde e peso que é usado para avaliar as
escolhas alimentares e de atividades e na gestão do peso corporal (Sobal, 2001, cit. por Gomes,
2009). Assim, os indivíduos que possuem maior formação académica têm mais tendência para
terem menores prevalências de obesidade (Crespo & Smit, 2003, cit. por Gomes, 2009). Estes
valores são tão relevantes que se os pais detiverem uma maior escolaridade isto afeta também
a probabilidade de os filhos virem a sofrer de obesidade. Em estudos realizados por Gnavi,
Spagnoli, Galotto, Pugliese, Carta e Cesan (cit. por Gomes, 2009), perceberam que um nível
elevado de escolaridade dos pais estava associado a baixos níveis de obesidade nas crianças.
Inversamente, os indivíduos que possuem menos formação escolar têm mais probabilidade de
consumir mais quantidade de comidas com gorduras e são menos suscetíveis a consumir frutas
e vegetais (Sobal, 2001, cit. por Gomes, 2009).
2.1.3.4.Consequências.
Existe uma preocupação cada vez maior com o facto de os padrões de comportamento das
crianças e adolescentes com obesidade poderem acelerar o processo de doenças relacionadas
com certas características do estilo de vida destes, arriscando assim uma prematura morbilidade
e mortalidade (Sousa, 2011).
Um dos fatores que leva a que esta condição seja tão preocupante é o facto de as crianças
que têm excesso de peso ou obesidade serem suscetíveis de ficar obesos na idade adulta,
havendo assim uma maior tendência para desenvolver doenças “silenciosas”, tais como a
13
diabetes e as doenças cardiovasculares, em idades precoces (Paes, et al., 2015; WHO, 2015).
Para além disso, também se tem documentado acerca do risco de desenvolver tensão arterial
alta, colesterol alto, asma, síndrome metabólico, apneia do sono, diabetes do tipo 2, problemas
ortopédicos, doenças de fígado, bem como cáries dentárias (Pulgarón, 2013). Segundo Fairburn
e Brownell (2002), vários estudos demonstram que a probabilidade de um adolescente com
excesso de peso ficar um adulto com obesidade é de cerca de 70%.
De acordo com Buttitta, Iliescu, Rousseau e Guerrien (2014), o excesso de peso não tem
como consequência apenas complicações relacionadas com a saúde mas também tem um
grande impacto psicológico. As crianças e os adolescentes com excesso de peso sofrem
frequentemente de sintomas de depressão e ansiedade (Britz, Siegfried, Ziegler, Lamertz,
Herpertz-Dahlmann, Remschmidt et al., 2000; Vila et al., 2004; Erermis, Cetin, Tamar,
Bukusoglu, Akdeniz & Goksen, 2004, cit. por Buttitta et al., 2014), baixa autoestima (Griffiths,
Parsons & Hill, 2010; Franklin, Denyer, Steinbeck; Caterson & Hill, 2006; Nowicka, Höglund,
Birgerstam, Lissau, Pietrobelli & Flodmark, 2009, cit. por Buttitta et al., 2014) e estigma social
(Cramer & Steinwert, 1998; Gray, Kahhan & Janicke, 2004, cit. por Buttitta et al., 2014). Estes
aspetos psicológicos influênciam a forma como a pessoa se cuida e afetam a sua qualidade de
vida (Griffiths et al., 2010; Tsiros, Olds, Buckley, Grimshaw, Brennan, Walkey et al., 2009;
Ottova, Erhart, Dettenborn-Betz & Ravenssieberer, 2012; Pratt, Lamson, Swanson, Lazorick
& Collier, 2012, cit. por Buttitta et al., 2014). Para as crianças e os adolescentes, a baixa
qualidade de vida associada à obesidade é comparável ao “fardo” de ter uma doença crónica,
como diabetes, doenças gastrointestinais ou cancro (Pratt et al., 2012; Schwimmer, Burwinkle
& Varni, 2003, cit. por Buttitta et al., 2014).
Também Yin (2005) e Viner (2005) (cit. por Sousa, 2011) referem que a importância da
obesidade e da pré-obesidade na saúde infantil e juvenil se deve à sua elevada repercussão no
desenvolvimento psicossocial das crianças, estando frequentemente associada a distúrbios
psicológicos nas crianças e nos adolescentes, como a diminuição da autoestima, o isolamento
social e a diminuição da participação em atividades coletivas.
Em países industrializados, as consequências mais comuns são as perturbações
psicossociais. As crianças e adolescentes associam a forma de um corpo com excesso de peso
a alguém com pouca interação social, fraco sucesso académico e pouca saúde, bem como tendo
defeitos de carácter (Viner, 2005; Rossner, 1998, cit. por Sousa, 2011).
Segundo Fonseca (2008) os adolescentes portugueses definidos como obesos, quando
comparados com os seus pares não obesos, revelaram-se menos ativos do ponto de vista físico,
referiram mais vezes estar em dieta com o objetivo de perder peso (sobretudo os indivíduos do
14
sexo feminino), consideraram mais frequentemente ter pior aparência, ser menos saudáveis e
ter mais dificuldade em fazer amigos. Para além disso, muitos adolescentes com excesso de
peso são marginalizados do ponto de vista social e este isolamento pode agravar as
consequências emocionais e sociais do excesso de peso na adolescência (Latner & Stunkard,
2003; Strauss & Pollack, 2003; Teachman & Brownell, 2001, cit. por Fonseca, 2008).
Assim, ao nível dos problemas psicossociais, estes determinam-se por: isolamento social,
bullying, baixa autoestima que causa fracos rendimentos escolares (Blair et al., 2003; Haines
& Neumark-Sztainer, 2009, cit. por Gomes, 2009), fraca imagem corporal, estigmatização e
descriminação da obesidade e distúrbios alimentares (Faith, Matz & Allison, 2003; Denney-
Wilson & Baur, 2007; Byrne & La Pluma, 2007, cit. por Gomes, 2009).
É sugerido que a obesidade infantil também está associada à Perturbação de Hiperatividade
com Défice de Atenção (PHDA) (Agranat-Meged et al., 2005) assim como alguns dos sintomas
que lhe estão associados: impulsividade, dificuldade no adiamento da gratificação e maior
reatividade às recompensas (Bonato & Boland, 1983; Davis, 2009; Nederkoorn, Braet, Van
Eijs, Tanghe & Jansen, 2006, cit. por Andrade, 2014). Um número significativo de estudos
avaliou esta relação e sugere-se que a desregulação que estas crianças experienciam se estende
aos seus hábitos alimentares. Assim, os diagnósticos de PHDA têm sido descritos como mais
prevalentes em crianças obesas do que em crianças com um peso normal (Agranat-Meged, et
al., 2005; Kim, Mutyala, Agiovlasitis & Fernhall, 2011, cit. por Pulgarón, 2013). De acordo
com Erhart e colaboradores (2012) depois de se controlar por sexo, idade e estatuto económico,
as crianças com excesso de peso e obesas eram consideradas com duas vezes maior
probabilidade de ter um diagnóstico de PHDA. Por outro lado, existem diversos estudos que
não confirmam essa associação (PitrouI, Shojaei, Wazana, Gilbert, Kovess-Masfety, 2010;
Rojo, Ruiz, Dominguez, Calaf, Livianos, 2006; Waring & Lapane, 2008 cit. por Andrade,
2014), o que sugere que a relação entre estes dois fatores ainda não é suficientemente clara.
Também tem vindo a ser demonstrado que a obesidade está relacionada com as
perturbações do comportamento alimentar, nomeadamente a ingestão alimentar compulsiva
(binge eating disorder) e o síndrome de alimentação noturna (night eating syndrome) (Fairburn
& Brownell, 2002). Os resultados do estudo de Ackard, Neumark-Sztainer, Story e Perry
(2003) mostraram que os adolescentes, maioritariamente com excesso de peso e obesos, que
satisfaziam os critérios de diagnóstico para o síndrome de ingestão alimentar compulsiva,
apresentavam também maior insatisfação corporal, maiores níveis de humor depressivo e
menor autoestima.
15
Socialmente, a obesidade tem diversas consequências, sofrendo discriminação em diversas
áreas, como no contexto de trabalho, nos cuidados de saúde e na educação (Fairburn &
Brownell, 2002). Um estudo prospetivo realizado nos EUA demonstrou que mulheres com
excesso de peso durante a adolescência e os primeiros anos de vida adulta têm maior
probabilidade de não constituir família, vivem com maiores taxas de pobreza e taxas mais
baixas de casamento do que mulheres com várias outras formas de deficiência física crónica
durante a adolescência (WHO, 2000).
No estudo de Wardle e colaboradores (1997) (cit. por Viana et al., 2008a), estes realçaram
a distinção entre os efeitos negativos do peso excessivo, como uma imagem corporal negativa,
e efeitos positivos, como uma maior sensibilidade para as possibilidades de melhorar a saúde
através da dieta. Os autores verificaram assim que a utilização por jovens europeus de
procedimentos saudáveis para controlar a dieta e o peso estava associada a crenças sobre a
importância da alimentação para a saúde.
2.1.3.5. A imagem corporal e o excesso de peso.
Segundo Coslin (2002), o efeito da imagem durante a adolescência é considerável, tanto
mais que ela pode confundir-se com a representação que o jovem tem de si mesmo.
Durante este período é dada uma elevada importância à forma e à aparência física, pelo que
os adolescentes vão formando mensagens sociais negativas associadas à obesidade (Sousa,
2011). Os estereótipos culturais em relação à aparência física consistem nas crenças de que a
aparência física atraente está relacionada com características de personalidade desejáveis, com
um nível intelectual elevado, com sucesso profissional, com a aceitação social e com uma vida
mais feliz. Estes estereótipos, para além de estarem particularmente relacionados com o risco
de desenvolver bulimia nervosa, condicionam não só a forma como o indivíduo se perceciona,
como ainda a perceção que tem do outro (Soares, 2011).
Segundo Neumark-Sztainer (2005) (cit. por Viana et al., 2008b) os fatores familiares,
sócio-culturais, de marketing e políticos, interagindo a vários níveis, contribuem para modelar
as relações entre a imagem do corpo, o peso, o exercício físico e a alimentação dos jovens.
Sousa (2011) nos seus estudos concluiu que a interiorização de um modelo cultural corporal
magro e a insatisfação com o corpo desempenham um papel determinante na génese das
perturbações do comportamento alimentar e nas possíveis flutuações de peso do adolescente.
Comprovando isso, estudos demonstram uma relação inversa consistente entre o peso e a auto-
estima e a imagem corporal (Braga, 2007, cit. por Sousa, 2011).
16
Para além disso, numa investigação sobre as relações entre imagem do corpo e
comportamento alimentar em raparigas dos 12 aos 23 anos, conclui-se que 67% estavam
desagradadas com o seu peso e 54% estavam insatisfeitas com as formas do corpo. Destas
adolescentes 30% eram bulímicas e 38 % faziam dieta restritiva. Uma percentagem elevada
das raparigas usava diversos métodos para controlar o peso ou a ingestão que iam desde
provocar o vómito até ao uso de inibidores do apetite e laxantes. Quanto mais excessivo era o
peso maior era o desagrado com o corpo e maior a probabilidade de serem usadas medidas
radicais de controlo do peso (Moore, 1988, cit. por Viana et al., 2008a).
O desejo de perder peso é, geralmente, maior na rapariga do que no rapaz e depende,
naturalmente, da insatisfação com o peso ou com o aspeto do corpo (Viana et al, 2008b). Em
estudos feitos sobre esta temática tem-se demonstrado sistematicamente que a maioria das
crianças e mulheres gostariam de ser mais magras e que a maioria dos indivíduos do sexo
masculino gostariam de ser do mesmo tamanho ou mais altos (Ogden, 2004). Para além disso,
também tem vindo a ser apontado que as raparigas fazem mais tentativas para perder peso
comparativamente ao sexo masculino (Pereira, 2014). Este tipo de preocupações é estimulado
pela observação dos modelos e corpos-padrão veiculados através da comunicação social, na
televisão em especial (Guillen & Barr, 1994; Taylor et al., 1998; cit. por Viana et al, 2008b), e
relaciona-se com fatores psicológicos como baixa autoestima e exposição, ou reatividade, ao
stress. Segundo Thombs, Mahoney e McLaughlin (1998) (cit. por Viana et al, 2008a) este
desejo por parte das raparigas parece ainda determinado pela necessidade de aceitação social e
pelo desejo de agradar a outras raparigas, aos rapazes e aos adultos.
Vários estudos realizados no contexto da obesidade infantil revelam uma tendência dos
indivíduos obesos para se percepcionarem de forma negativa em relação à sua aparência física
(Bosch et al., 2003; Israel & Ivanova, 2002; Kimm et al., 1997, cit. por Simões & Meneses,
2007). De facto, num estudo realizado por Fonseca, Matos, Guerra e Gomes-Pedro (2009) os
jovens que se percecionavam como com “um bocado de gordura a mais” e com “demasiada
gordura” eram na maioria os jovens com excesso de peso e obesidade, relatando maior
descontentamento com o corpo em relação aos seus pares sem excesso de peso. Para além
disso, também se apurou que os jovens com excesso de peso têm uma maior tendência a
acreditar que as outras pessoas costumam fazer comentários negativos sobre eles.
Têm-se vindo a demonstrar também que as crianças com obesidade se sentem menos
competentes ao nível das atividades físicas, sendo que estes resultados baixos nas componentes
de competência atlética e a aparência física poderão estar relacionados com sentimentos de
insatisfação e de depreciação, causados pelas imposições de uma sociedade que cultiva um
17
ideal de magreza, acabando por estigmatizar a criança, fazendo-a acreditar que ela é diferente
e inferior às outras crianças (Barlow, 1993,1999; Campos et al., 1996; Ricciardelli & McCabe,
2001; Schwatz & Brownell, 2004, cit. por Simões & Meneses, 2007).
Em suma, percebeu-se ao longo deste capítulo que a obesidade é uma doença que tem
tomado um especial relevo ao longo do século XXI, sendo atualmente muito pertinente a
compreensão das suas causas, dos seus factores de risco e das consequências associadas. Em
crianças e adolescentes, este estudo é particularmente importante dado que ter obesidade nesta
fase da vida pode levar a repercurssões graves, como uma prematura morbilidade e
mortalidade. A par disso, as crianças e adolescentes também têm associadas complicações ao
nível psicológico, como depressão e ansiedade, baixa autoestima e isolamento social.
2.2. Bem-Estar
2.2.1. Constructo de Bem-Estar.
O conceito de bem-estar pode ser definido como um funcionamento e experiência
psicológica ideal. Contudo, ao longo da história, tem havido inúmeros debates acerca de como
se define uma experiência ideal e do que constitui uma “vida boa” (Ryan & Deci, 2001). Estes
debates têm levado a que se defina o bem-estar de inúmeras formas, originando bastantes
discussões relacionadas com uma forma mais adequada de operacionalizar o constructo de
bem-estar (McMahan & Estes, 2011).
Segundo Bornstein, Davidson, Keyes e Moore (2003), o bem-estar é um estado de bom
desempenho ao longo da vida, que integra as funções físicas, cognitivas e socioemocionais e
que resulta em atividades produtivas consideradas importantes pelo contexto cultural em que
o sujeito se encontra, em relações sociais satisfatórias e na habilidade de ultrapassar problemas
psicossociais e do meio ambiente.
Também tem sido proposto que os diferentes aspetos do bem-estar incluem experimentar a
felicidade, sentir que se tem um propósito, possuir uma filosofia de vida coerente, sentir-se
realizado, alcançar o prazer e ter amor (Allport, 1961; Becker, 1992; Coan, 1977; Rogers, 1961;
Russell, 1958; Ryff, 1989, cit. por McMahan & Estes, 2011).
Apesar de existirem muitas conceções de bem-estar, estas parecem encontrar-se à volta de
duas filosofias relativamente distintas que tentam explicá-lo. A primeira poderá ser
denominada de Hedoísmo (Kahneman et al., 1999, cit. por Ryan & Deci, 2001) que mostra a
visão em que o bem-estar psicológico consiste em felicidade e satisfação. Por outro lado, a
segunda filosofia, o Eudaimonismo (Waterman 1993, cit. por Ryan & Deci, 2001), define o
18
bem-estar como mais do que apenas felicidade, baseando-se na crença de que o bem-estar
consiste em perceber a verdadeira natureza da pessoa.
Estas duas filosofias, o hedoísmo e o eudaimonismo, têm diferentes visões da vida humana
e do que constitui uma boa sociedade, direcionando-se de formas distintas quanto aos processos
desenvolvimentistas e sociais do bem-estar. Assim, apesar de haver partes em que se
intersetam, o hedoísmo e o eudaimonismo também divergem em pontos cruciais (Ryan & Deci,
2001).
De acordo com a orientação seguida, o bem-estar é operacionalizado de forma diferente.
Por um lado, Cacioppo e Berntson (1999) (cit. por Ryan & Deci, 2001) referem que bem-estar
não significa que não existe doença psicológica, tal como emoções positivas não são o oposto
de emoções negativas. Por outro lado, existem autores que entendem o bem-estar como a
ausência de sintomas de perturbação (Langer, Gersten, & McCarthy, 1986, cit. por Bizarro,
2001), sendo também definido por outros como somente a presença de sintomas positivos do
funcionamento (Ryff & Keyes, 1995, cit. por Bizarro, 2001).
Uma visão mais integrativa refere que o bem-estar não significa apenas a ausência de
problemas ou perturbações psicológicas, mas refere-se também aos momentos em que há um
foco na presença de recursos pessoais que promovam e facilitem o funcionamento psicológico
da pessoa (Diener, 1994; Kazdin, 1993, cit. por Bizarro, 2001).
2.2.2. Bem-Estar subjetivo.
Segundo a filosofia do bem-estar subjetivo, o hedoísmo, o significado da vida é de
experienciar o máximo de satisfação possível, e a felicidade é a totalidade dos momentos
hedónicos da pessoa. Esta visão tem sido expressada de muitas formas e tem variado desde um
foco estreito nos prazeres corporais da pessoa até um foco mais amplo nos apetites e nos
interesses da pessoa (Ryan & Deci, 2001).
As primeiras conceções do hedoísmo tinham tendência a focarem-se nos prazeres
corporais, contudo os psicólogos contemporâneos que adotam esta abordagem tendem a focar-
se numa conceção mais geral do hedoísmo que inclui os prazeres da mente e do corpo (Kubovy,
1999). Assim, os psicólogos que adotam esta visão costumam focar-se numa conceção extensa
acerca do hedoísmo que inclui não só as preferências e o prazer do corpo, mas também os da
mente (Kubovy, 1999).
O termo de bem-estar subjetivo é assim usado para descrever o nível de bem-estar que as
pessoas experienciam, a partir das avaliações subjetivas que fazem da sua própria vida. (Diener
& Ryan, 2009). Consiste em três componentes, que em conjunto definem a felicidade:
19
satisfação com a vida, a presença de um humor positivo e a ausência de um humor negativo
(Ryan & Deci, 2001). De acordo com Diener e Tov (2009) (cit. por cit. por McMahan & Estes,
2011), o primeiro componente é uma avaliação cognitiva e os dois últimos são afectivos. A
soma destes três componentes é indicativa de um nível geral de felicidade do indivíduo (Diener
and Lucas, 1999, cit. por McMahan & Estes, 2011).
Esta filosofia acredita que o bem-estar consiste assim numa felicidade subjetiva e preocupa-
se com a experiência do prazer contrariamente ao disprazer, dando relevância aos elementos
da vida, sejam estes bons ou maus (Ryan & Deci, 2001). Desta forma, as avaliações que a
pessoa faz de si mesma podem ser positivas e negativas, podem incluir julgamentos e
sentimentos relacionados com a satisfação com a própria vida, em domínios como o trabalho,
as relações, a saúde, podendo estar presentes eventos positivos ou negativos (Diener & Ryan,
2009).
Existem atualmente diversos modelos explicativos do bem-estar subjetivo, como a teoria
de Top-Down versus a teoria de Bottom-Up. Por um lado, o modelo Top-Down explica que
existe uma propensão interna para experienciar o mundo de uma determinada forma, e isso irá
afetar a forma como o indivíduo perceciona o mundo e interage com ele. Ou seja, se uma pessoa
vivenciar um evento com uma perspetiva positiva, é mais provável que experiencie ou
interprete esse evento como positivo do que uma pessoa que tenha uma perspetiva mais
negativa. Desta forma, pode concluir-se que uma atitude positiva perante os objetivos e eventos
seja um fator causal do bem-estar (Diener & Ryan, 2009). Por outro lado, existe o modelo de
Bottom-Up, que considera que a experiência de momentos positivos e negativos irá influenciar
a perceção da pessoa em relação ao seu bem-estar subjetivo. Assim, pode afirmar-se que,
segundo esta perspetiva, um momento positivo irá fazer com que a pessoa experiencie um
maior bem-estar (Diener & Ryan, 2009).
De forma a analisar-se o contínuo de prazer/dor na experiência humana, a maioria dos
estudos tem usado a avaliação do bem-estar subjetivo (Diener & Lucas, 1999, cit. por Ryan &
Deci, 2001). Esta avaliação é realizada através de medidas de autorrelato em que o sujeito
avalia e relata a sua satisfação com a vida, a frequência do seu afeto positivo e a frequência do
seu afeto negativo (Diener & Lucas, 2000).
2.2.3. Bem-Estar psicológico.
Apesar da visão hedónica ser corrente, muitos filósofos e visionários não valorizam a ideia
de que a felicidade é um critério principal para o bem-estar. Ao invés, a felicidade verdadeira
é uma expressão da virtude, ou seja, encontra-se felicidade ao fazer o que vale a pena (Ryan &
20
Deci, 2001). A perspetiva eudaimónica, filosofia adaptada ao bem-estar-psicológico, veio
assim demonstrar uma visão mais abrangente do bem-estar, dado que a perspetiva hedónica era
considerada como muito limitada, apresentando os humanos como “escravos” dos seus desejos
(Ryan & Deci, 2001). Assim, esta visão vem contrariar a perspetiva hedónica, abordando
diversas questões, como viver bem, e assenta nas virtudes e no potencial humano (Deci &
Ryan, 2008).
De acordo com o eudaimonismo, o bem-estar é distinto da felicidade por si própria. As
teorias neste campo referem que nem todos os desejos que o sujeito tem podem ser sinónimos
de bem-estar aquando da sua realização. Assim, apesar de haver prazer na sua realização, os
resultados desses podem não ser bons para a pessoa e podem não promover o bem-estar (Ryan
& Deci, 2001).
A premissa das abordagens no eudaimonismo é a de que as pessoas devem encontrar um
significado e um propósito na vida pela identificação e desenvolvimento do que é melhor para
eles mesmos e usar isso para o benefício de um bem melhor (Peterson et al. 2005, cit. por
McMahan & Estes, 2011; Ryan & Deci, 2001). Assim, esta conceção de bem-estar inclui a
experiência de algo com significado e propósito, o desenvolvimento das forças pessoais e a
contribuição para a sociedade (McMahan & Estes, 2011).
Em 1989, Carol Ryff criou um modelo multidimensional que teve como objetivo combater
as limitações do bem-estar subjetivo. Este modelo apresenta seis conceitos que se baseiam em
conceções de autorrealização, de crescimento pessoal e desenvolvimento o humano. Estes
componentes podem ser definidos pela autoaceitação, que pode ser descrita pela forma como
o sujeito se aceita a si próprio, por um funcionamento ótimo e maturidade; pela autonomia, na
qual a pessoa terá um locus interno de avaliação, no qual não procura a aprovação dos outros,
regulando-se internamente; por um controlo sobre o meio, que é gerido pela capacidade do
indivíduo em escolher ou criar ambientes adequados às suas características e controlar os meios
complexos em que se insere, sendo esta uma característica de uma boa saúde mental; pelas
relações positivas que o indivíduo mantém com os outros, nomeadamente pela capacidade de
estabelecer empatia e afeto, bem como de amar e manter amizades próximas; pelo propósito
na vida, que se define pela capacidade de estabelecer objetivos e significados à vida do sujeito;
e por último, pelo desenvolvimento pessoal, que pode ser descrito por uma necessidade de
crescimento pessoal, pela vivência de novas experiências e desafios (Ryff, 1989).
O bem-estar psicológico é assim distinto do bem-estar subjetivo, apresentando uma
abordagem multidimensional que se define em seis aspetos distintos da atualização humana:
autonomia, crescimento pessoal, autoaceitação, propósito da vida, superioridade e relações
21
positivas (Ryff & Keyes, 1995, cit. por Ryan & Deci, 2001). Estes seis construtos definem o
bem-estar psicológico teoricamente e operacionalmente, especificando o que está na promoção
de uma boa saúde fisica e emocional (Ryff & Singer, 1998, cit. por Ryan & Deci, 2001).
Têm vindo a ser analisadas diversas variáveis sociodemográficas relacionadas com o bem-
estar psicológico, particularmente a idade, o sexo e o nível socioeconómico.
Relativamente à idade, é descrito que o bem-estar parece alterar com a idade, contudo esta
alteração parece estar relacionada com a dimensão de bem-estar avaliada (Bizarro, 1999). Em
relação às dimensões do modelo de Ryff anteriormente descritas, Pudrovska et al. (2005) e
Ryff & Keyes (1995) (cit. por Zambianchi, 2015) perceberam que estas variam ao longo da
vida. O controlo sobre o meio e a autonomia são menores durante a infância e a adolescência,
aumentando ao longo da vida. Por outro lado, o propósito na vida e o crescimento pessoal vão
decrescendo ao longo da vida e dimensão de autoaceitação tende a manter-se estável durante a
vida. Em relação ao bem-estar subjetivo, diversos têm sido os estudos que ora referem que este
melhora ao longo da vida, dado que as pessoas se vão tornando melhores a ajustar-se às
condições de vida à medida que vão envelhecendo (Diener, Carol, Gohm & Oishi, 2000, cit.
por Manzoor, Siddique, Asghar, Nazir, & Hassan, 2015), ora que o bem-estar piora, devido à
infância ser o melhor período da vida de uma pessoa (Holder, Coleman & Wallace, 2010, cit.
por Manzoor et al., 2015).
Em relação à variável sexo, tem vindo a ser descrito que a única dimensão em que se têm
demonstrado diferenças entre sexos é a dimensão afetiva (Bizarro, 1999). De acordo com
Wood, Rhodes e Whelon (1989) (cit. por Bizarro, 1999), os estudos referem que as mulheres
têm tendência para relatarem níveis mais elevados de afetos negativos. Em relação aos afetos
positivos, não são descritas diferenças significativas entre sexos.
A variável relativa ao nível socioeconómico tem sido descrita como tendo uma relação
fraca a moderada com o bem-estar psicológico (Bizarro, 1999). Diversos estudos apontam para
que uma desvantagem socioeconómica na infância esteja relacionada com danos imediatos e
persistentes na saúde mental e no bem-estar das crianças (Bradley and Corwyn 2002; Poulton
et al., 2002; Velez et al. 1989, cit. por Boe et al., 2014).
Sintetizando, o modelo de Bem-Estar subjetivo permite verificar o quão satisfeito ou feliz
um indivíduo se sente no geral ou em áreas específicas da sua vida; já o modelo de Bem-Estar
psicológico permite identificar o quão satisfeito um indivíduo se sente em domínios
psicológicos diversos e quais são os recursos que o sujeito apresenta na relação consigo próprio,
com os outros e com o meio envolvente (Novo, 2003). Nesta dissertação, iremos focar-nos no
22
bem-estar psicológico e nos seus componentes, com vista a uma avaliação mais abrangente do
bem-estar dos adolescentes.
2.2.4. Modelo Cognitivo-Comportamental-Desenvolvimentista.
Tendo como objetivo integrar as perspetivas atuais relacionadas com o bem-estar, Bizarro
(1999, 2001) desenvolveu o modelo cognitivo-comportamental-desenvolvimentista. Este
modelo tem como base o conceito de que o bem-estar psicológico possui componentes
subjetivos que incluem aspetos afetivos e cognitivos (Diener, 1994, cit. por Bizarro, 2001),
dando ênfase ao que a pessoa pode fazer (afetivamente, cognitivamente e
comportamentalmente) para conseguir atingir níveis satisfatórios de bem-estar psicológico
(Bizarro, 2001).
Este modelo tem em conta não só o papel dos fatores comportamentais e emocionais, mas
também as cognições no funcionamento da pessoa saudável e no desenvolvimento das
perturbações, sendo estes fatores elementos relevantes na alteração dos sintomas e na
inadaptação e para melhorar o funcionamento adaptativo e o bem-estar psicológico do sujeito
(Hart & Morgan, 1993; Meichenbaum, 1993, 1995, cit. por Bizarro, 2001).
Sendo que este modelo é direcionado para os adolescentes, será importante referir, para
além das cognições e dos comportamentos, a dimensão desenvolvimentista. Este enfatiza as
características únicas do indivíduo em termos do que o define, bem como o seu estatuto
desenvolvimentista e tem em conta o conjunto das influências que podem ser consideradas e
integradas no seu nível de desenvolvimento para a conceptualização do bem-estar psicológico
(Hart & Morgan, 1993; Kendal, 1993, cit. por Bizarro, 2001).
Este modelo inclui cinco dimensões. Dessas cinco, três avaliam a presença de recursos
pessoais que se consideram serem positivas para o bem-estar psicológico dos jovens, sendo
estas a dimensão Cognitiva-Emocional Positiva (CEP), a Perceção de Competências (PC) e o
Apoio Social (AS). Para além disso, este modelo também conta com duas dimensões que
avaliam índices de dificuldades nos adolescentes, sendo estas a dimensão da Ansiedade (ANS)
e a Cognitiva-Emocional Negativa (CEN) (Bizarro, 2001).
A dimensão Cognitiva-Emocional Positiva (CEP) e a Cognitiva-Emocional Negativa
(CEN) partem do pressuposto de que as variáveis cognitivas estão relacionadas com o bem-
estar psicológico, seja para a promoção deste ou das dificuldades psicológicas (Kendall, 1993;
Mahoney, 1991, 1993; Meichenbaum, 1995, cit. por Bizarro, 2001). Das variáveis cognitivas,
as autoverbalizações revelam especial interesse, pois são mais facilmente acessíveis ao fluxo
da consciência da pessoa (Beck, 1976; Ellis, 1962, cit. por Bizarro, 2001). As valências positiva
23
ou negativa destas podem influenciar os estados emocionais e os comportamentos do indivíduo,
constituindo-se assim como mediadores importantes do bem-estar psicológico dos
adolescentes (e.g., Kendall & MacDonald, 1993; Reinecke, Dattilio, & Freeman, 1995, cit. por
Bizarro, 2001).
A dimensão de Perceção de Competências (PC) está diretamente relacionada com as
reações afetivas e com a orientação motivacional para o desempenho, pelo que foi considerada
importante para o bem-estar psicológico dos jovens e para a adaptação dos adolescentes
(Harter, 1990, 1992, cit. por Bizarro, 2001). Para além de ser importante adquirir competências,
torna-se importante também o adolescente estar motivado na aquisição dessas competências
(Bizarro, 2001).
A dimensão do Apoio Social (AS) está também presente neste modelo dado que parece
existir na adolescência uma relação direta e positiva entre o apoio social e o bem-estar
psicológico (Gotlieb, 1991, cit. por Bizarro, 2001). A perceção de apoio social disponível para
o adolescente a partir, por exemplo, dos pais, professores e pares está fortemente associada ao
bem-estar Psicológico dos adolescentes (Gotlieb, 1991; Kalafat, 1997, cit. por Bizarro, 2001).
É assim descrito que o apoio emocional, a partilha de atividades, o companheirismo, a
revelação de pensamentos e emoções promovem a perceção de valor pessoal e de autoeficácia
(Sarason, Sarason, & Pierce, 1990; Wills & Cleary, 1996, cit. por Bizarro, 2001).
Por último, a dimensão Ansiedade (ANS) poderá estar negativamente relacionada com o
bem-estar psicológico, quando os sintomas são frequentes e pervasivos, podendo limitar o
domínio das tarefas desenvolvimentistas e do crescimento adaptativo (Clark et al., 1994;
Kendall, Kortlander, Chansky & Brady, 1992, cit. por Bizarro, 2001).
A Escala de Bem-Estar Psicológico para Adolescentes (EBEPA) permite o conhecimento
do bem-estar psicológico do adolescente, do seu funcionamento nos domínios em causa e uma
definição de possíveis dificuldades. Os resultados desta escala poderão também ajudar no
processo terapêutico, uma vez que permite a identificação de componentes a serem designados
como possíveis alvos de intervenção e na formulação de um plano de intervenção. Para além
disso, poderá ser um ponto de partida para a elaboração de programas de carácter promocional
no sentido de diminuir fatores que contribuem para um menor bem-estar (dimensão Ansiedade
e dimensão Cognitiva-Emocional Negativa) e promover os fatores que contribuem para um
maior bem-estar psicológico (dimensões Apoio Social, Cognitiva-Emocional Positiva e
Perceção de Competências) (Bizarro, 2001).
O instrumento de avaliação de bem-estar psicológico na adolescência (EBEPA) utilizado
neste presente estudo tem como base este modelo.
24
2.2.5. Bem-estar psicológico na infância e na adolescência.
A avaliação do bem-estar na adolescência assume contornos especiais, devido às
características desta fase da vida. Apesar disso, não existem muitos estudos que tratem esta
temática e que sejam especialmente dirigidos ao estudo do bem-estar na adolescência (Bizarro,
2001). Não obstante, a atenção dedicada a esta temática provém da ênfase colocada em três dos
objetivos essenciais da intervenção psicológica: a) reduzir e/ou eliminar problemas ou
dificuldades, b) implementar programas específicos para a prevenção de problemas ou
dificuldades e c) promover competências para um funcionamento adequado do indivíduo
(Kendall, Lerner, & Craighead, 1984).
O bem-estar em crianças reflete-se geralmente pela ausência de problemas de
comportamento e presença de comportamentos positivos que refletem um sucesso académico,
interpessoal, atlético e artístico (Moore, 1997; Sclaes, Benson, Leffert, & Blyth, 2000; cit. por
Bornstein et al., 2003).
De acordo com Bornstein e colegas (2003), o bem-estar social e emocional engloba o
desenvolvimento da compreensão e da regulação da emoção, a habilidade de lidar com os
stressores, o desenvolvimento da autonomia e da confiança, a maturação do autossistema,
incluindo a identidade, o autoconceito e a autoestima, o desenvolvimento da empatia e da
simpatia e a formação de relações sociais positivas com pais, irmãos e colegas.
Para os adolescentes, o significado de bem-estar envolve um estado de plena satisfação e
bem-estar pessoal, social, familiar, escolar/académico e ainda de bem-estar com o estilo de
vida/interesses (Pereira, 2014).
Segundo Pratas (2014), existem diferenças ao nível do bem-estar psicológico durante a
adolescência, sendo que na faixa etária dos 14 aos 15 anos e meio, que representa adolescência
média, apresenta níveis de cognições e emoções negativas muito elevados, assim como níveis
de cognições e emoções positivas, perceção de competências e bem-estar global muito baixos.
De acordo com Bizarro (1999), depois a partir dos 17 anos e meio também se registam valores
de bem-estar psicológico mais baixos.
2.2.6. Bem-estar e obesidade.
Segundo Pereira (2014), para os adolescentes, a saúde está relacionada com o bem-estar e
a qualidade de vida. Este conceito parece ter significados distintos, quando considerada a partir
da perspetiva dos jovens em geral e quando considerada a partir da perspetiva do próprio. Se,
quando considerada a partir da primeira perspetiva, a saúde parece significar a prática de uma
alimentação saudável, a ausência de doenças e a satisfação corporal; quando considerada a
25
partir da perspetiva do próprio, a saúde parece envolver isso e ainda a prática de exercício
físico, o bem-estar psicológico e a sensação de energia.
A perceção de bem-estar dos adolescentes obesos aumenta em consequência do
aprimoramento da competência social e contribui para a manutenção dos resultados na redução
do índice de massa corporal (IMC) por, pelo menos, um ano após o tratamento, principalmente
entre aqueles que mantiveram maior resultado de competência social nesse período
(Gunnarsdottir, Njardvik, Olafsdottir, Craighead, & Bjarnason, 2012; Niet,Timman, Rokx, et
al., 2011, cit. por Sapienza, Schoen, & Fisberg, 2014).
Num estudo realizado por Silva, Pais-Ribeiro e Cardoso (2004) (cit. por Rosa & Gonçalves,
2011) com adolescentes e adultos com obesidade, foi sugerido que, quanto maior a satisfação
com o apoio social, melhor é a qualidade de vida apresentada pelos sujeitos. Neste estudo, os
autores verificaram que a satisfação com a amizade, com a intimidade, com a família e com as
atividades sociais está positivamente correlacionada com a qualidade de vida, nomeadamente
ao nível do funcionamento social, desempenho emocional e saúde mental.
Em relação à felicidade, num estudo de Fonseca e colaboradores (2009), foi descrito que
os jovens classificados com excesso de peso e obesidade tinham significativamente mais
probabilidade de se considerarem como infelizes do que os seus colegas com um peso
considerado “normal”.
Para além disso, a investigação tem vindo a constatar que os níveis de depressão, de baixa
autoestima, de insatisfação corporal e de outras psicopatologias são mais altos nas amostras
clínicas de crianças e jovens com obesidade, em comparação com o mesmo tipo de amostras
não clínicas ou da comunidade (Puhl & Latner, 2007, cit. por Rosa & Gonçalves, 2011).
De acordo com French, Perry, Leon e Fulkerson (1995), citados por Pereira (2014), há uma
relação entre o baixo autoconceito, a insatisfação corporal e as dietas restritivas em
adolescentes. Segundo este estudo, as raparigas com baixo autoconceito tinham uma
insatisfação corporal superior e valores mais elevados de IMC.
A obesidade é também associada a uma autoimagem negativa e a um consequente
isolamento social da criança obesa (Viana, 2002; Vos et al., 2011, cit. por Fernandes, 2011).
Por sua vez, Pesa e colegas (2000) (cit. por Sampaio, 2010) associaram diferenças
psicossociais e peso corporal entre 3197 adolescentes norte-americanas participantes num
estudo nacional, concluindo que as adolescentes que apresentavam peso excessivo sofriam de
baixa autoestima.
Segundo Warschburger (2005) (cit. por Meier, Kohlmann, Eschenbeck, & Gross, 2010), as
crianças e adolescentes obesos não têm automaticamente uma qualidade de vida e um bem-
26
estar menor que os seus pares com um peso normal, estes construtos variam consoante a
percepção que o jovem tem de si mesmo. Esta autoavaliação pode ser operacionalizada por
exemplo por diferentes caracterizações do peso (por exemplo, “considero-me com excesso de
peso, com peso a menos ou com um peso certo”) ou por autorrelatos da altura e do peso. Assim,
os adolescentes que se avaliam como tendo um “peso razoável” relatam ter uma qualidade de
vida superior a crianças e adolescentes que tem um peso normal, mas que consideram que têm
excesso de peso (Kurth & Ellert, 2008, cit. por Meier et al., 2010).
Diversos estudos demonstram que pode haver provocações por parte de outros associadas
ao excesso de peso em adolescentes obesos, sendo descrita em 43% dos adolescentes e estando
correlacionada a estados psicológicos negativos. São assim encontradas correlações entre
provocações relacionadas com o peso, a autoestima e sintomas depressivos (Eisenberg,
Neumark-Sztainer, Haines et al., 2006; Goldfield, Moore, Henderson et al., 2010; Libbey,
Story, Neumark-Sztainer et al., 2008; McCormack, Laska, Gray et al., 2011; Puhl & Luedicke,
2012, cit. por Greenleaf, Petrie, & Martin, 2014).
Em síntese, o bem-estar pode ser classificado como uma experiência psicológica ideal. Este
conceito pode ser distinguido em duas visões distintas, sendo uma primeira denominada de
bem-estar subjetivo, e uma segunda, o bem-estar psicológico. A primeira abordagem pode ser
definida por uma compreensão da dimensão afetiva (felicidade) e da dimensão cognitiva
(satisfação com a vida) da avaliação subjetiva que cada indivíduo faz das suas experiências de
vida. A segunda abordagem veio tentar colmatar as limitações apresentadas na primeira e pode
ser descrita como sendo um modelo multidimensional de bem-estar com base em diversas
conceções de autorrealização e crescimento pessoal do indivíduo, dando relevância também à
adaptação e integração no seu ambiente social. Nesta dissertação, iremos focar-nos nesta
segunda abordagem, dando especial enfase à relação desta com a obesidade. Através dos
estudos citados, pode entender-se que há uma relação entre a baixa autoestima, um reduzido
autoconceito e uma baixa perceção de apoio social nos jovens com excesso de peso e obesidade.
Posto isto, será que a obesidade estará associada a um nível de bem-estar psicológico
inferior, tendo os jovens com excesso de peso níveis superiores nas dimensões de ansiedade e
cognitiva-emocional negativa? E terão estes mesmos jovens níveis inferiores em relação aos
seus pares com peso normal, nas dimensões cognitiva-emocional positiva, perceção de
competências e apoio social?
27
2.3. Coping
2.3.1. Conceptualização do coping.
Uma das definições mais conhecidas acerca do coping define-o como “esforços cognitivos
e comportamentais, que estão constantemente a mudar, para lidar com exigências internas e/ou
externas que são vistas como excedendo as capacidades da pessoa” (Lazarus & Folkman,
1984). A partir deste modelo, de Lazarus & Folkman, muitos modelos posteriores foram
desenvolvidos.
O coping é um processo ou uma interação entre o indivíduo e o ambiente que o envolve,
no qual existe uma avaliação subjetiva inicial da situação. Ou seja, pressupõe-se que há uma
perceção e uma representação cognitiva da situação na mente do indivíduo, que terá como
função ajudar na forma como o sujeito lida com as situações de maior stress. Esta avaliação
consiste numa mobilização dos processos anteriormente referidos, de forma a que o indivíduo
seja capaz de lidar com as exigências que resultam da sua interação com o ambiente, tendo
sempre em vista o impacto destas no seu bem-estar (Lazarus & Folkman, 1984).
A forma como os eventos de vida criam stress parece depender da forma com a qual os
indivíduos percecionam esses eventos, do modo como eles lidam com as exigências e com o
stress, bem como da disponibilidade dos seus suportes sociais (Bornstein et al., 2003).
Na infância, diversas situações de stress podem ocorrer, incluindo aquelas associadas à
dinâmica familiar, como o relacionamento conjugal dos pais, violência doméstica, agressão
verbal e morte na família (Kristensen, Leon, D’Incao & Dell’Aglio, 2004; Romano, 1997;
Ryan-Wenger, Sharrer & Campbell, 2005; Taxis, Rew, Jackson & Kouzekanani, 2004, cit. por
Kristensen, Schaefer, & Busnello, 2010). Ao passo que, na adolescência, o stress pode
manifestar-se tanto a partir das modificações sociais e cognitivas que o indivíduo vivencia
nesse período como a partir da consequência das alterações biológicas que caracterizam a
puberdade (Lipp, 1989, cit. por Kristensen et al., 2010).
Assim, dir-se-á que o coping é adaptado a dada situação quando este conduz a um
ajustamento adequado. Esse ajustamento pode ser evidenciado através de “bem-estar,
funcionamento social, e saúde somática” (Lazarus, DeLongis, Folkman, & Gruen, 1985, cit.
por Pais-Ribeiro & Rodrigues, 2004). Pode-se então avaliar a relação entre coping e saúde pela
forma como as estratégias estão relacionadas ao bem-estar físico e mental da pessoa
(Blumenthal, Babyak, Carney, Keefe, Davis, & LaCaille, 2006; Sorkin & Rook, 2006, cit. por
Tomaz & Zanini, 2009).
O coping inclui tentativas cognitivas, emocionais e comportamentais para gerir as
exigências impostas por fatores de stress (Lazarus, 1998, cit. por Syed & Seiffge-Krenke, 2015)
28
e pode ser dividido segundo a sua orientação, ou seja, o coping pode ser focado no problema
ou focado na emoção (Lazarus & Folkman, 1984). O coping focado no problema envolve
tentativas para diretamente enfrentar o stressor, como, por exemplo, procurando o suporte de
outros (Lazarus, 1998; Seiffge-Krenke, 1995, cit. por Syed & Seiffge-Krenke, 2015). Por outro
lado, o coping focado na emoção pode ser caracterizado por tentativas de regular as emoções
ou diminuir o distress emocional, tais como estratégias de evitamento, minimização,
distanciamento ou afastamento (Lazarus, 1993; Seiffge-Krenke & Klessinger, 2000, cit. por
Syed & Seiffge-Krenke, 2015).
A escolha por um coping focado no problema ou por coping focado na emoção depende de
uma avaliação da situação stressora na qual o indivíduo se encontra envolvido (Dell’Aglio,
2003, cit. por Kristensen, Schaefer, & Busnello, 2010). Também, de acordo com Pais Ribeiro
& Rodrigues (2004), a distinção entre coping focado no problema e coping focado nas emoções
é complexa. Estes autores referem assim que o coping focado no problema tende a predominar
quando as pessoas sentem que pode ser feito algo de construtivo, e que o coping focado nas
emoções tende a predominar quando as pessoas sentem que o stressor tende a persistir.
Para além disso, o coping é um conceito multidimensional e pode ter diversas funções.
Pode servir para: resolver problemas externos ou para lidar com as emoções do próprio
(Lazarus & Folkman, 1984); mudar o ambiente ou para se acomodar a ele (Brandtstadter &
Renner, 1990; Rudolph et al., 1995, cit. por Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007) e/ou para lidar
com interações stressantes ou para se afastar delas (Connor-Smith et al.2000, cit. por Skinner
& Zimmer-Gembeck, 2007).
Na infância e na adolescência, a investigação do coping é importante por dois motivos. Por
um lado, o stress psicológico é um fator de risco significante para a psicopatologia na infância
e na adolescência (Grant, Compas, Thurm, McMahon, & Ey, 2000, cit. por Compas, Connor-
Smith, Saltzman, Thomsen, & Wadsworth, 2001) e os modos com os quais as crianças e os
adolescentes lidam com o stress são mediadores e moderadores potencialmente importantes
para o impacto do stress na regulação psicológica e psicopatológica do jovem no presente e no
futuro. O diferente desenvolvimento dos estilos e estratégias de coping na infância pode colocar
o indivíduo em trajetórias mais ou menos adaptativas e pode ser um percursor de padrões de
coping ao longo da vida adulta (Compas, Connor-Smith, Saltzman, Thomsen, & Wadsworth,
2001). Por outro lado, bastantes intervenções psicológicas para a prevenção e tratamento da
psicopatologia são designadas para aumentar as formas de coping de crianças e adolescentes
(por exemplo, Clarke et al., 1995; Kendall et al., 1997, Compas et al., 2001). O esclarecimento
acerca da natureza e da eficácia do coping na infância e na adolescência deve ajudar a informar
29
estas intervenções (Sandier, Wolchik, MacKinnon, Ayers, & Roosa, 1997, Compas et al., 2001)
e a investigação referente à intervenção deve fornecer dados acerca da maleabilidade do coping
e dos modos com os quais o contexto social pode facilitar o coping efetivo em crianças e
adolescentes (Compas et al., 2001).
A investigação no coping em crianças e adolescentes pode ser distinguida da investigação
do coping em adultos, pelo foco no que as crianças fazem, pelas suas respostas emocionais,
cognitivas e comportamentais, ao lidar com as dificuldades que vão aparecendo nas suas vidas
e em como estas respostas se vão mostrando e acumulando ao longo do tempo (Skinner &
Zimmer-Gembeck, 2007).
2.3.2. Evolução do conceito
O coping é um conceito que tem vindo a evoluir ao longo dos anos, existindo diferentes
modelos pelos quais nos podemos seguir para uma melhor compreensão do mesmo.
Em crianças e adolescentes, a investigação inicial focava-se em modelos de coping em
adultos, não possuindo assim a componente desenvolvimentista (Compas et al., 2001). Devido
às diversas falhas associadas a não haver modelos específicos para crianças e adolescentes,
surgiu a necessidade de serem criados modelos que contemplassem as diferentes especificações
do processo de coping nas crianças e adolescentes, respondendo à complexidade destas faixas
etárias (Compas et al.,2001). Assim, a investigação tem em conta não só as características
biológicas e psicológicas específicas das crianças e adolescentes, mas também a forma como
estes dependem dos adultos para viverem (Antoniazzi, Dell´Aglio & Bandeira, 1998, cit. por
Kristensen et al., 2010).
Não obstante, as definições de coping para crianças e adolescentes não se focam apenas no
desenvolvimento. A investigação é tipicamente separada por idades e foca-se nos stressores
que a criança experiência, como o divórcio, a doença ou os conflitos parentais (Wolchik &
Sandler, 1997, cit. por Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007).
Teorias iniciais acerca do coping definiam-no como um sinónimo de um funcionamento
adaptativo (Sandler, Wolchik, MacKinnon, Ayers, & Roosa, 1997, cit. por Bornstein et al.,
2003). Contudo, conceptualizações mais recentes acerca do coping reconhecem que apesar de
muitos indivíduos adoptarem estratégias cognitivas e comportamentais de redução de stress,
não significa que estas sejam sempre efetivas (Bornstein et al., 2003).
Nos anos seguintes a 1980, compreendeu-se que o coping é um processo complexo e
multidimensional, que é sensível ao ambiente e às suas exigências e recursos, e às formas da
personalidade que influenciam a avaliação do stress e dos recursos de coping. Descobriu-se
30
também que o coping está fortemente associado à regulação das emoções, especialmente o
distress, ao longo do processo de stress (Folkman & Moskowitz, 2004).
Em 1933, Sigmound Freud (cit. por Pais-Ribeiro & Rodrigues, 2004) designou por
mecanismos de defesa os processos inconscientes que os indivíduos utilizavam para lidar com
ameaças internas ou conflitos. Segundo Freud, todos estes mecanismos de defesa eram
patológicos (Parker & Endler, 1992; cit. por Pais-Ribeiro & Rodrigues, 2004).
Mais recentemente Folkman e Moskowitz (2000) (cit. por Pais-Ribeiro & Rodrigues, 2004)
explicam que as abordagens contextuais do coping convergem nos seguintes aspetos: o coping
tem múltiplas funções incluindo, mas não só, a regulação do distress e a gestão dos problemas
que causam o distress; é influenciado pela avaliação das características do contexto de stress,
incluindo a sua controlabilidade; é influenciado pelas características de personalidade,
incluindo o otimismo, o neuroticismo e a extroversão; e é influenciado pelos recursos sociais.
As perspetivas de coping mais focadas na infância e na adolescência foram as descritas por
Weisz e colaboradores (Band & Weisz, 1988; McCarty et al, 1999; Rudolph, Dennig, & Weisz,
1995; Weisz, McCabe, & Dennig, 1994, cit. por Compas et al., 2001), Skinner (1995) (cit. por
Compas et al., 2001), Eisenberg e colaboradores (e.g., Eisenberg, Fabes, & Guthrie, 1997, cit.
por Compaset al., 2001), e Compas e colaboradores (e.g., Compas, 1998; Compas, Connor,
Osowiecki, & Welch, 1997; Compas et al., 1999, cit. por Compas et al., 2001).
O modelo de Weisz e colaboradores (cit. por Compas et al., 2001) é semelhante ao modelo
de Lazarus e Folkman (1984) no sentido em que o coping é visto como direcionado para um
objetivo e tem uma natureza motivacional. Contudo, no modelo de Weisz, os esforços de
coping são direcionados para manter, aumentar ou alterar o controlo sobre o ambiente e sobre
o próprio. Para além disso, Weisz e os seus colaboradores também distinguiram as respostas
de coping, os objetivos que estão subjacentes a essas respostas e os resultados de coping
(Rudolph et al., 1995, cit. por Compas et al., 2001).
O modelo de Compas (1987, cit. por Compas et al., 2001) também foi relevante na
conceptualização do coping. Este é um processo que consiste em esforços conscientes e
voluntários para regular as emoções, comportamentos e cognições, em resposta a eventos ou
circunstâncias stressoras. Este processo será condicionado pelo desenvolvimento biológico,
cognitivo, emocional e social de cada indivíduo. Assim, o nível de desenvolvimento do
indivíduo é determinante no acesso às estratégias de coping a utilizar, assim como na definição
dos limites nos recursos que o indivíduo pode adotar numa situação de stress (Compas et al.,
2001).
31
Em 1994, Skinner e Wellborn (cit. por Compas et al.,2001) apresentaram uma nova forma
de conceptualização do coping. Assim, o coping foi definido como a forma como as pessoas
procuram regular o seu comportamento, as suas emoções e a sua orientação, numa situação que
provoque stress no indivíduo. O coping pode então ser direcionado para a regulação do
comportamento, para a regulação da emoção ou para a regulação da orientação. Este modelo
concetualiza o coping como um processo que abrange respostas intencionais e voluntárias e
respostas automáticas e involuntárias na gestão das diferentes situações de stress, sendo assim
diferente do de Lazarus e Folkman (1984) (Skinner & Wellborn, 1994, cit. por Compas et al.,
2001).
Eisenberg, Fabes e Guthrie (1997; cit. por Compas et al., 2001) apresentam uma abordagem
semelhante à defendida por Skinner e Wellborn. Estes conceptualizam o coping como uma
parte integrante de uma categoria mais abrangente que é a autorregulação, sendo o coping um
processo de regulação em condições de stress para o indivíduo. Esta autorregulação tem três
aspetos principais: a regulação direcionada para as emoções, a tentativa de regular a situação e
a regulação comportamental.
Estas diferentes definições que têm vindo a surgir procuram abranger os diferentes campos
de investigação, com vista a uma melhor compreensão do conceito e uma consequente
evolução no trabalho realizado na área do coping (Compas et al., 2001). Para além disso, estas
definições representam um consenso na definição de coping e partilham diversas características
(Compas et al., 2013).
De acordo com Skinner e Zimmer-Gembeck (2007), as definições de coping são
construídas com base na regulação e os processos emocionais, comportamentais, atencionais,
cognitivos e sociais têm um papel explícito na compreensão deste constructo. O coping foca-
se então na forma como estes subsistemas trabalham juntos para lidar com o stress. E o mais
importante desta abordagem é que abre espaço para conceptualizações que são
desenvolvimentistas.
Em primeiro lugar, semelhante à perspetiva de Lazarus e Folkman (1984), estas definições
focam-se nos processos que ocorrem exclusivamente em resposta a eventos ou circunstâncias
stressantes agudas e/ou crónicas. Ou seja, o coping refere-se a processos que são ativados em
resposta ao stress (Compas et al., 2013).
Em segundo lugar, estas definições focam-se nos processos nos quais as pessoas fazem
esforços em resposta a esse stress. Este foco no esforço implica que o coping seja controlado,
com propósito, consciente e direcionado para um objetivo (Compas et al., 2013).
32
Em terceiro, tem-se verificado uma ênfase crescente no coping como forma de regulação
em resposta ao stress. Esta ênfase tem ampliado a extensão do coping desde o trabalho de
Lazarus e Folkman para incluir mais que apenas a gestão do stress. Assim, o coping integra a
regulação de diversas funções, como a emoção, o comportamento, as cognições, a fisiologia e
o meio ambiente (Compas et al., 2013).
2.3.3. Estratégias de Coping versus Estilos de Coping
Diversos investigadores distinguem “estilos de coping” de “estratégias de coping”. Apesar
de o primeiro poder influenciar o segundo, são fenómenos independentes e têm diferentes
origens teóricas (Antoniazzi et al., 1998; Ryan-Wenger, 1992, cit. por Kristensen et al., 2010).
As estratégias de coping podem ser consideradas como recursos cognitivos, emocionais e
comportamentais que o indivíduo usa na tentativa de lidar com situações percebidas pela
criança como stressantes e avaliadas como sendo uma sobrecarga aos recursos pessoais
(Lazarus & Folkman, 1984; Zeidner & Endler, 1996, cit. por Lisboa et al., 2002).
De acordo com Skinner e Zimmer-Gembeck (2007), as estratégias de coping podem ser
vistas como a forma como o indivíduo responde numa situação de stress quando confrontado
com um problema real. Estas adequam-se à situação apresentada e dependem dos recursos de
cada indivíduo, sendo tão variadas que podem tornar-se infinitas.
De forma a categorizar e compreender o coping, têm sido descritas diversas abordagens,
sendo as mais utilizadas as abordagens dicotómicas, que podem ser descritas como coping
focado no problema e coping focado na emoção, coping primário e coping secundário e, por
fim, coping de aproximação ou coping de evitamento (Compas et al., 2001). Existe uma
sobreposição entre dois: o coping focado no problema e o coping de aproximação envolvem
ambos estratégias diretas para alterar a situação causadora de stress; o coping focado na
emoção e o coping de evitamento são ambos esforços indiretos para o indivíduo se ajustar ao
stressor, através da minoração das emoções ou do evitamento (Eschenbeck, Kohlmann &
Lohaus, 2007).
Uma das limitações do coping diz respeito à dificuldade no desenvolvimento de uma linha
consensual e consistente de organização das estratégias de coping. A categorização destas é
feita de forma diferente consoante o autor, o que levanta alguns obstáculos à progressão da
investigação na área (Compas et al., 2001). De facto, apesar de existir um consenso crescente,
existe ainda um um debate contínuo relacionado com a estrutura do coping e dos subtipos que
melhor descrevem a natureza variada das respostas de coping (Compas et al., 2013).
33
Não obstante, e apesar de haver inúmeras referências a outras estratégias, existem 12
categorias de estratégias de coping mais frequentes: procura de suporte (por procura de
informação ou procura de ajuda); fuga (cognitiva e/ou comportamental); resolução de
problemas e ação instrumental; acomodação; oposição e negação; autoconfiança; agressão;
isolamento social; negociação; desemparo e por último, reavaliação cognitiva positiva (Skinner
& Zimmer-Gembeck, 2007).
Também se tem descrito que as estratégias de coping mais frequentemente consideradas
como dimensões centrais em termos teóricos e empíricos são: resolução de problemas
(incluindo estratégias focadas na abordagem e no problema), procura de suporte (incluindo o
suporte instrumental e emocional por parte de outros), afastamento (incluindo esforços para se
afastar do stressor), distração (incluindo uma grande variedade de atividades alternativas
agradáveis) e de regulação da emoção (Compas et al., 2001; Skinner et al., 2003, cit. por
Eschenbeck et al., 2007).
Segundo Kristensen e colaboradores (2010), as estratégias de coping mais utilizadas pelos
adolescentes são autocontrolo e afastamento e fuga, e as menos utilizadas são as estratégias de
confronto.
Em relação às estratégias de coping, têm-se vindo a verificar diferenças consoante o sexo
e as idades das crianças e adolescentes. De acordo com Dell’Aglio (2003) (cit. por Kristensen
et al., 2010), as diferenças referentes ao sexo podem ser explicadas pelas diferentes formas de
socialização entre meninas e meninos, destacando que os meninos tendem a utilizar estratégias
de coping competitivas e as meninas estratégias mais sociais. As diferenças relativas à procura
de um suporte social por parte das raparigas, têm sido muito descritas pela literatura (e.g. Ebata
&Moos, 1994; Hampel&Petermann, 2005; Seiffge-Krenke & Shulman, 1990, cit. por
Eschenbeck et al., 2007).
Em relação à idade, Compas e colegas (1991) (cit. por Kristensen et al., 2010) afirmam que
as habilidades de coping focalizadas no problema parecem ser adquiridas mais cedo e as
habilidades de coping focalizadas na emoção tendem a aparecer na infância tardia,
desenvolvendo-se durante a adolescência, visto que as crianças muito pequenas não conseguem
ter consciência dos seus processos emocionais e autorregular suas emoções. De acordo com
com Williams & McGillicuddy-DeLisi (1999) (cit. por Al-Bahrani, Aldhafri, Alkharusi,
Kazem & Alzubiadi, 2013) os adolescentes mais velhos tendem a usar estratégias de coping
como a resolução de problemas, a aceitação de responsabilidade, o autocontrolo e o uso de
suporte social ao lidar com os problemas, usando estas estratégias mais frequentemente do que
adolescentes mais novos. Para além disso, também têm mais tendência a alternar a estratégia
34
de coping quando entendem que a estratégia inicial não está a ser efetiva. Também Hampel e
Petermann (2005) perceberam que a estratégia de “distração” diminuia com a idade.
Contrastando com esta noção, outros estudos concluíram que o coping se mantém estável ao
longo do tempo, não havendo assim diferenças em relação à idade (Alumran & Punamaki,
2008; Amirkhan & Auyeung, 2007; De Boo & Wicherts, 2009; Kirchner, Forns, Amador, &
damaris, 2010; Mullis and Chapman, 2000, cit. por Al-Bahrani, Aldhafri, Alkharusi, Kazem,
& Alzubiadi, 2013), o que demonstra que não existe consenso relativamente a esta temática.
Num estudo português de Dias (2014) percebeu-se que o nível de desenvolvimento dos
adolescentes e o género influenciam o tipo de estratégias de coping que estes utilizam.
Percebeu-se assim que as estratégias de coping “Apoio dos Pais” e “Distração/Evitamento” são
mais frequentes na fase inicial da adolescência do que na adolescência média e na adolescência
tardia. Para além disso, os resultados também demonstram que o uso da estratégia de coping
“Expressão Emocional” é mais frequente no género feminino e que o uso da estratégia de
coping “Atividade Social” é mais frequente no género masculino.
As dificuldades sentidas em relação às estratégias de coping estão ligadas à complexidade
do próprio processo, bem como à infinidade de respostas possíveis por parte do indivíduo, visto
que estas apresentam diferenças na sua função, na sua forma de expressão, estando relacionadas
também com os recursos e o desenvolvimento do próprio sujeito (Skinner & Zimmer-
Gembeck, 2007).
De acordo com Pais-Ribeiro e Rodrigues (2004), o uso repetido de determinadas estratégias
de coping constitui-se como estilo de coping.
Os estilos de coping referem-se a características da personalidade do sujeito, ou seja, às
formas habituais que a pessoa utiliza para lidar com o stress percebido (Antoniazzi et al., 1998;
cit. por Kristensen et al., 2010).
Para Folkman e Lazarus (1980) (cit. por Pais-Ribeiro & Rodrigues, 2004), o coping é
entendido como um processo dinâmico que muda em função da situação stressante, e
considera-se que a existência de estilos de coping são contraproducentes na medida em que as
respostas das pessoas ficariam bloqueadas em determinados modos, em vez de lhes permitir a
flexibilidade de ajustar a resposta a situações em mudança.
Carver, Scheier e Weintraub (1989) referem-se a estilos de coping para designar modos
estáveis de coping que as pessoas utilizam em situações stressantes com que se confrontam.
Segundo esta perspetiva as pessoas possuem um conjunto de estratégias de coping que se
mantêm relativamente fixas através do tempo e situações, mais do tipo traço.
35
De acordo com o modelo de coping utilizado nesta tese, o coping é centrado no processo
em vez de no traço, e é distinto dos comportamentos automáticos adaptativos. É assim usado o
termo esforços para salientar o processo em vez do resultado, e o termo gerir para evitar a
ligação coping igual a sucesso. Ou seja, o esforço de coping pode não ser bem-sucedido e,
então, não se pode definir com base no sucesso do processo (Pais-Ribeiro & Rodrigues, 2004).
Segundo Lazarus (1993) (cit. por Pais-Ribeiro & Rodrigues, 2004), a abordagem ao coping,
nesta perspetiva, emerge na década de 70. Esta perspetiva caracteriza-se por ser microanalítica,
contextual e orientada para o processo. Tem quatro características, tais como:
- Salientar a descrição de pensamentos e ações que ocorrem numa dada situação stressante ou
em vários estádios dessa situação;
- Avaliar a situação de coping num contexto particular, assumindo que o que se passou muda
com o tempo ou com a alteração da situação ou contexto, sendo um processo. Desta forma, a
avaliação do coping não questiona o que a pessoa devia ou podia fazer ou pensar, ou o que
costuma fazer numa dada situação, sendo ao invés o resultado de uma interação ativa entre a
pessoa e o meio com base numa relação psicológica pessoa-meio;
- Avaliar o mesmo indivíduo em vários contextos e momentos para identificar a estabilidade e
a mudança nas ações e pensamentos relacionados com o coping;
- Avaliar cada pessoa de forma individual, dado que este processo depende da pessoa, dos seus
objetivos, dos resultados procurados e das suas preocupações, pelo que deve haver prudência
na avaliação do processo de coping.
2.3.4. Coping e Obesidade.
A relação entre a obesidade e o coping é uma relação que tem sido pouco estudada,
existindo uma carência de estudos que se foquem nos estilos e nas estratégias de coping mais
utilizados pelos jovens com excesso de peso e com obesidade. Ao longo do tempo, em Portugal
e no estrangeiro, poucos estudos têm tido em conta os estilos e estratégias de coping em
amostras grandes de crianças e adolescentes obesos que incluíssem também autorrelatos da
altura e do peso (Meier, Kohlmann, Eschenbeck, & Gross, 2010).
Heatherton e Baumeister (1991) (cit. por Zeeck, Stelzer, Linster, Joos & Hartmann, 2011)
sugeriram um modelo no qual as compulsões alimentares seriam o resultado de fugir de um
estado desagradável, representando uma forma mal adaptativa de coping.
Stauber e colegas (2004) (cit. por Rosa & Gonçalves, 2011), realizaram um estudo com
crianças e adolescentes com obesidade, no qual verificaram que a ingestão compulsiva de
alimentos se encontrava relacionada com pobres estratégias de coping. Para além disso,
36
também Eremis e colaboradores (2004) (cit. por Rosa & Gonçalves, 2011), mostraram que os
pais dos adolescentes com obesidade consideravam que os seus filhos tinham uma maior
tendência para exibirem mais problemas de controlo das emoções e dos comportamentos.
De facto, a maioria dos estudos que trabalhou a relação entre estilos de coping e
perturbações alimentares, ora em amostras clínicas ora na população em geral, consideram que
existem uma relação entre estilos de coping mal adaptativos e o risco de desenvolver uma
perturbação alimentar (Mas, Fusté, García-Grau & Bados, 2015).
Num modelo de obesidade proposto por Mann-Luoma, Goldapp, Khaschei, Lamersm e
Milinski (2002) (cit. por Meier et al., 2010), há uma relação interativa entre os problemas de
nutrição, de atividade física e de regulação do stress em crianças e adolescentes. Por um lado,
uma nutrição não saudável conduz a que os indivíduos estejam mais vulneráveis ao stress; por
outro lado, o stress pode levar a uma nutrição não saudável. Também se a pessoa realizar
exercício insuficiente, a redução do stress é difícil, contudo, o stress pode levar a que uma
pessoa fique cansada, deixando assim de praticar atividade física. Esta falta de atividade não
queima calorias suficientes e uma má nutrição não fornece nutrientes suficientes para o tempo
de lazer e para a prática de desportos.
De acordo com Myers e Rosen (1999), num estudo realizado com 394 pessoas obesas, que
tinha como objetivo compreender a estigmatização que estes sofriam enquanto obesos e as
formas de coping que usavam para lidar com essas situações, percebeu-se que as estratégias de
coping que as pessoas mais usavam incluiam: ignorar a situação, não respondendo; evitamento,
saindo da situação; chorar, isolando-se; falar negativamente consigo próprio; comer; procurar
ajuda de outras pessoas com ou sem excesso de peso; dieta; violência física; e/ou respostas
negativas.
Para além disso, outros estudos sugerem que estratégias de coping de evitamento estão
relacionadas com maus hábitos alimentares em adolescentes (Martyn-Nemeth, Penckofer,
Gulanick, Velsor-Friedrich, & Bryant, 2009).
Num estudo realizado por Stauber e colaboradores (2004) (cit. por Meier et al., 2010) em
crianças e adolescentes, obesas e com peso normal, percebeu-se que não havia diferenças entre
as estratégias de coping dos adolescentes obesos dos do grupo de controlo. Por outro lado,
Meier e colegas (2010) perceberam que existem diferenças nas estratégias de coping entre
crianças e adolescentes com excesso de peso e obesidade, em relação aos pares com peso
normal. Estas diferenças não estavam tão relacionadas com o peso em si, mas com a percepção
que o jovem tinha do seu peso. Por exemplo, as crianças e adolescentes obesas que tinham
37
autoavaliações positivas não realistas do seu peso relataram ter estratégias de coping
semelhantes às relatadas pelos jovens com peso normal.
De acordo com Martins (2011), num estudo português com 218 pessoas obesas, as
estratégias de coping que estas pessoas utilizam mostram ser desajustadas e foram associadas
a um aumento do distress, estando também associadas a sintomatologia psicopatológica.
Num estudo de Silva (2009) (cit. por Fernandes, 2011) com 267 crianças Portuguesas entre
os 8 e os 12 anos, foi evidenciado que as crianças com obesidade usam menos estratégias de
coping cognitivo-comportamentais. O mesmo também se verifica relativamente à perceção da
eficiência das estratégias cognitivo-comportamentais, no qual as crianças obesas consideram
as estratégias menos eficientes quando comparadas com os restantes grupos.
Também num estudo português de Fernandes (2011), com 39 participantes entre os 8 e os
12 anos, se analisou as estratégias de coping e a sua relação com a obesidade. O objetivo do
estudo era o de avaliar a eficácia de um programa de intervenção psicológica de grupo na
obesidade infantil ao nível do IMC, padrões e atitudes alimentares da criança, autoconceito,
estratégias de coping e atitudes alimentares dos pais. Em relação às estratégias de coping, a
única diferença significativa que existiu entre grupos foi o facto de o grupo de controlo
considerar que as estratégias de coping utilizadas eram mais eficazes do que as crianças com
obesidade.
Resumindo, o estudo do coping em crianças e adolescentes é uma àrea que tem vindo a
evoluir, permitindo que haja uma melhor compreensão relativamente às estratégias e aos estilos
de coping que as crianças e adolescentes mais utilizam. Não obstante, a relação do coping com
a obesidade ainda não foi muito estudada, o que nos leva à questão: será que em Portugal as
estratégias de coping diferem em adolescentes com obesidade e sem obesidade?
38
3. Metodologia
Este capítulo encontra-se estruturado de forma a dar a compreender a metodologia utilizada
para o presente estudo. Primeiramente descreve-se o tipo de investigação, os objetivos gerais e
respetivas questões de investigação. De seguida, procede-se à descrição geral dos instrumentos
utilizados, com base nos autores que os formularam, traduziram e aferiram para a população
portuguesa. Por último, relata-se em detalhe a amostra, os procedimentos e os aspetos éticos
envolvidos na recolha, bem como o tratamento e análise de dados para o presente estudo.
3.1. Tipo de Investigação
O presente estudo é constituído por uma metodologia quantitativa de natureza exploratória.
A opção por este tipo de metodologia deveu-se ao fato de este tema ainda não ter sido
aprofundado em Portugal, sendo que os objetivos presentes no estudo foram os de compreender
e analisar o bem-estar psicológico e as estratégias de coping numa população de adolescentes
com e sem obesidade.
3.2.Objetivos Gerais e Questões de Investigação
Os objetivos gerais da presente investigação prendem-se com a avaliação do bem-estar
psicológico dos adolescentes, bem como de perceber quais são as formas mais utilizadas por
estes para lidar com situações adversas. Para além disso, o estudo pretende relacionar as
variáveis de bem-estar psicológico e dos estilos de coping em adolescentes com e sem
obesidade. Mais especificamente, com esta investigação pretende-se: avaliar o bem-estar
psicológico e os estilos de coping dos adolescentes com e sem obesidade; explorar a relação
entre o bem-estar psicológico e os estilos de coping dos adolescentes com e sem obesidade e
fazer um estudo psicométrico dos instrumentos utilizados (EBEPA e Brief COPE) para uma
população de adolescentes com e sem obesidade.
Questão Central: Em que medida é que o excesso de peso é um fator que tem influência no
bem-estar psicológico e nas estratégias de coping em adolescentes?
Após colocar esta primeira questão central e refletir sobre as suas implicações teóricas e
práticas, foram definidos os seguintes objetivos gerais e respetivas questões de investigação:
Objetivo 1: Analisar a estrutura fatorial e consistência interna dos instrumentos utilizados no
presente estudo.
39
Objetivo 2: Avaliar e comparar o bem-estar psicológico de adolescentes com e sem obesidade.
Questão de investigação 2.1. – Qual será o índice de bem-estar psicológico dos jovens com
excesso de peso?
Questão de investigação 2.2. – Será que existem diferenças significativas em relação ao nível
de bem-estar psicológico total entre os jovens com excesso de peso e os jovens com um peso
normal?
Questão de investigação 2.3. – Será que existem diferenças significativas em relação às
dimensões do nível de bem-estar psicológico entre os jovens com excesso de peso e os jovens
com um peso normal?
Objetivo 3: Avaliar e comparar as estratégias de coping de adolescentes com e sem obesidade.
Questão de Investigação 3.1. – Quais são as estratégias de coping mais utilizadas pelos
adolescentes com excesso de peso?
Questão de Investigação 3.2. – Será que existem diferenças significativas nas estratégias de
coping utilizadas entre os adolescentes com excesso de peso e os com peso normal?
Objetivo 4: Compreender de que forma as diferentes variáveis dependentes no estudo se
relacionam.
Questão de investigação 4.1. – Será que existe uma relação entre o índice total de bem-estar
psicológico e as diferentes estratégias de coping?
Questão de investigação 4.2. – Será que existe uma relação entre as dimensões de bem-estar
psicológico e as diferentes estratégias de coping?
3.3.Instrumentos
3.3.1. Escala de Bem-Estar Psicológico para Adolescentes (EBEPA).
A escala de Bem-Estar Psicológico para Adolescentes é um instrumento que tem como
objetivo principal avaliar o Bem-Estar psicológico dos adolescentes. Este instrumento foi
criado por Bizarro (1999) e destina-se a jovens dos 12 aos 18 anos. É constituída por 28 itens,
aos quais os jovens respondem num formato de rating scale com uma escala de 6 pontos (1 -
Nunca, 2 - Raras vezes, 3 - Algumas vezes, 4 - Bastantes vezes, 5 - A maior parte das vezes, 6
- Sempre), e é relativa à autoavaliação da frequência de ocorrência de cada item para a vida do
adolescente.
40
Estes 28 itens são distribuídos por cinco subescalas, a ansiedade (ANS), a Cognitiva-
Emocional Negativa (CEN), a Cognitiva-Emocional Positiva (CEP), o Apoio Social (AS) e
Perceção de Competências (PC).
Na dimensão de ansiedade foram incluídas algumas reações de ansiedade típicas de
adolescentes e que podem afetar o bem-estar psicológico, quando frequentes e intensas e
dimensão cognitivo-emocional negativa avalia os aspetos cognitivos e emocionais do bem-
estar com uma valência mais negativa. Estas duas subescalas avaliam os aspetos mais negativos
do bem-estar psicológico, na qual uma maior frequência de ocorrência corresponde a um menor
nível de bem-estar psicológico.
Dentro das subescalas que avaliam os aspetos mais positivos do bem-estar psicológico, a
dimensão cognitiva-emocional positiva avalia aspetos cognitivos e emocionais do bem-estar
com uma valência mais positiva, a subescala de perceção de competências avalia a perceção
global de competências em geral, no domínio escolar e de resolução de problemas e a subescala
de apoio social avalia a perceção dos adolescentes em relação à existência no espaço
sociorrelacional do jovem de pessoas que lhes possam assegurar um apoio emocional. Uma
maior pontuação nestas três escalas significa que existe um maior nível de bem-estar
psicológico.
As qualidades psicométricas deste instrumento foram avaliadas a partir de estudos de
validação psicométrica, tendo apresentado bons valores de precisão relativamente à
adequabilidade das cinco dimensões propostas como integrantes do constructo de bem-estar
psicológico dos adolescentes, sendo que os valores Alpha de Cronbach de cada sub-escala
oscilam entre .85 e .90, indicando boas consistências internas (Bizarro, 2001).
A cotação da escala é feita através do somatório das respostas dadas a cada um dos itens
que compõem cada uma das subescalas, dividindo depois este valor pelo número de itens dessa
subescala, podendo os resultados variar entre 1 e 6, sendo também possível calcular o Índice
de Bem-estar psicológico total (Bizarro, 2001).
3.3.2. Brief COPE
O questionário brief COPE é um instrumento que avalia estratégias de coping e foi
originalmente criado por Carver, em 1989 (Carver, Scheier, & Weintraub, 1989), sendo
desenvolvido a partir do modelo de coping de Lazarus & Folkman, (1984) e do modelo da
autorregulação comportamental (Carver & Scheier, 1981, 1983, 1985; Scheier & Carver, 1988,
cit. por Carver et al., 1989). A versão inicial do COPE continha 60 questões, distribuídas por
15 escalas. Por ser demasiado demorada, foi feita uma versão reduzida denominada de “brief
41
COPE”, que contém 28 itens divididos por 14 escalas. A versão portuguesa da escala foi
traduzida e adaptada por Pais-Ribeiro e Rodrigues (2004).
Os itens são redigidos em termos da ação que as pessoas implementam, e a resposta é dada
numa escala ordinal com quatro alternativas (de “0” a “3”) desde “nunca faço isto - 0” até “faço
quase sempre isto - 3”. O resultado final é apresentado como um perfil das várias estratégias
utilizadas, não havendo uma soma das diferentes estratégias.
As 14 subescalas deste instrumento podem ser descritas por:
- Coping ativo: Iniciar-se uma ação ou fazer esforços, de forma a remover ou circunscrever o
stressor;
- Planear: Pensar sobre o modo de se confrontar com o stressor, planear os esforços de coping
ativos;
- Utilizar suporte instrumental: Procurar ajuda, informações, ou conselho acerca do que fazer;
- Utilizar suporte social emocional: Conseguir simpatia ou suporte emocional de alguém;
- Religião: Aumento de participação em atividades religiosas;
– Reinterpretação positiva: Fazer o melhor da situação crescendo a partir dela, ou vendo-a de
um modo mais favorável;
– Autoculpabilização: Culpabilizar-se e criticar-se a si próprio pelo que aconteceu;
– Aceitação: Aceitar o facto que o evento stressante ocorreu e é real;
– Expressão de sentimentos: Aumento da consciência do stress emocional pessoal e tendência
para exprimir ou descarregar esses sentimentos;
– Negação: Tentativa de rejeitar a realidade do acontecimento stressante;
– Autodistracção: Desinvestimento mental do objetivo com que o stressor está a interferir,
através do sonho acordado, dormir, ou auto distração;
– Desinvestimento comportamental: Desistir, ou deixar de se esforçar da tentativa para alcançar
o objetivo com o qual o stressor está a interferir;
– Uso de substâncias (medicamentos/ álcool): Virar-se para o uso do álcool ou outras drogas
(medicamentos) como um meio de desinvestir do stressor;
– Humor: Fazer piadas acerca do stressor.
O estudo da consistência interna com recurso ao Alfa de Cronbach mostra valores
adequados e satisfatórios, tomando em consideração que apenas existem dois itens por escala.
Existe apenas uma escala com valor inferior a 0,60, a escala da aceitação (Pais-Ribeiro &
Rodrigues, 2004).
42
3.4. Amostra
A amostra da presente investigação é composta por 154 jovens, com idades compreendidas
entre os 12 e os 18 anos. A aplicação dos questionários foi realizada em diversos locais, sendo
recolhidos 90 questionários numa escola da região de Leiria, 18 numa sede escutista também
desta região, 8 com jovens do projeto AMEA Teens e foram também recolhidos 38
questionários com outros jovens selecionados aleatoriamente da região de Leiria/Fátima.
O projeto AMEA Teens pode ser definido como sendo uma associação que pretende apoiar
famílias de baixo estatuto socioeconómico que tenham adolescentes com e sem obesidade a
partir dos 12 anos. A recolha de questionários foi realizada num dos encontros que estes jovens
têm com nutricionistas.
A amostra contou com uma população de jovens com excesso de peso de 14,3% e de 11,7%
de adolescentes com obesidade, obtendo assim uma população de 74% para jovens com um
peso normal. Estes dados são ligeiramente inferiores a outros estudos da população portuguesa,
como aos dados da OMS, que define a prevalência de pré-obesidade para 21%, e de 15% para
a obesidade (Viveiro et al., 2015), aos dados encontrados por Sousa (2011), nos quais a
prevalência de pré-obesidade é de 22,6% e a de obesidade é de 7,8%. Não obstante, dado que
a amostra da investigação foi limitada, decidiu juntar-se os jovens com excesso de peso e com
obesidade em apenas um grupo, de forma a poder ter uma margem superior de população para
se poder analisar e porque na literatura descrita anteriormente relativa ao bem-estar e às
estratégias de coping não se encontram diferenças significativas entre jovens com excesso de
peso e com obesidade.
Em relação ao género é apresentada uma população do sexo feminino de 102 indivíduos
(66,2%) e de 52 jovens do sexo masculino (33,8%).
Relativamente ao ano de escolaridade, 40% dos jovens encontra-se no 9º ano de
escolaridade, 22% encontra-se no 8º ano, 16,2% encontra-se no 12º ano e 11% encontra-se no
11ºano. No 7º Ano encontram-se 5,2% dos jovens, no 10º ano encontram-se 3,9% dos jovens,
no 6º ano encontra-se apenas 0,6% e também se encontram desistências com uma frequência
de 0,6%.
No que diz respeito à idade, os jovens encontravam-se com idades compreendidas entre os
12 e os 18 anos, sendo que a média de idades foi de 14,73 anos. De seguida encontra-se uma
figura descritiva da frequência das idades dos participantes na investigação.
43
Figura 2 – Frequência das idades da amostra
3.5. Procedimentos
A recolha de dados foi realizada nos locais acima referidos, numa única vez e com uma
duração média de 10 a 15 minutos. Todos os participantes responderam aos questionários de
forma anónima e em locais selecionados para o efeito, de forma a proporcionar boas condições
de resposta aos questionários e a manter a confidencialidade e o anonimato dos mesmos.
Numa fase inicial, foi apresentado a todos os jovens participantes uma folha de
consentimento informado (ver anexo D), sendo que, para os jovens com idades inferiores a 16
anos, foi requerido que estes levassem esta folha para os encarregados de educação assinarem.
Este limite de idade foi assim estabelecido por se considerar que a partir dos 16 anos o jovem
atinge a maioridade penal e como tal passa a estar responsável pelos seus atos.
Após a apresentação do consentimento informado, foram apresentados os dois
instrumentos aos jovens (EBEPA e Brief COPE), bem como uma folha de rosto que lhes pedia
algumas informações sociodemográficas, tais como a idade, o sexo, a altura, o peso e o ano de
escolaridade (ver anexo A). Foi sempre dada instrução aos jovens sobre o correto
preenchimento dos questionários, assim como foi garantida a confidencialidade das suas
respostas. Para além disso, também foi dada aos participantes a possibilidade de desistirem se
assim o desejarem.
Após a aplicação dos questionários, todos os autorrelatos do peso e da altura foram
convertidos para IMC e analisados consoante as curvas de crescimento, sendo que, após se
definir o IMC de cada jovem, este foi classificado como tendo sobrepeso, peso normal, excesso
de peso ou obesidade.
44
4. Resultados
Os dados quantitativos foram analisados através do programa SPSS, versão 22.0.
Inicialmente o tratamento dos dados foi feito pela análise fatorial dos dois instrumentos
utilizados, sendo que posteriormente se procedeu à análise descritiva dos dados obtidos na
amostra. Depois foi realizada uma análise mais profunda dos dados recolhidos.
4.1. Estudo dos instrumentos utilizados
De forma a ir ao encontro do primeiro objetivo desta investigação, na primeira fase deste
estudo, procedeu-se a uma análise fatorial dos instrumentos utilizados no presente trabalho. O
objetivo desta análise será o da adequação das dimensões teóricas às estruturas fatoriais
observadas. De seguida, procedeu-se à avaliação da consistência interna dos instrumentos e das
respetivas dimensões encontradas, através do coeficiente alfa de Cronbach, sendo que, no fim,
se realizou a análise descritiva e a análise das intercorrelações de cada um dos instrumentos.
4.1.1. Análise Fatorial, Análise de Consistência Interna, Análise Descritiva e Análise
de Intercorrelações da Escala de Bem-Estar Psicológico para Adolescentes
(EBEPA)
Com o objetivo de avaliar a estrutura relacional dos itens foi feita uma análise fatorial
exploratória sobre a matriz de correlações, com extração dos fatores pelo método dos
componentes principais seguido de uma rotação Varimax. Foram assim encontrados 4 fatores
que apresentavam um valor próprio superior a 1, estando em consonância com o screenplot e
com a percentagem de variância retida.
Ao analisar os fatores que se obtiveram foi possível verificar que se encontram 4 fatores,
sendo menos um do que o encontrado pela autora (Bizarro, 2001). Estes 4 fatores justificam
61,120% da variância total. A análise da saturação de cada item em cada fator (a um nível de
significância de 0,50) demonstrou que todos os itens tinham uma significância estatística
relevante, não tendo sido eliminado nenhum fator.
Na tabela 1 são apresentados os quatro fatores que agrupam as dimensões do bem-estar
psicológico, os seus valores próprios, a percentagem de variância explicada por fator e o peso
fatorial de cada item nos 4 fatores.
45
Tabela 1.
Padrão fatorial do EBEPA (Rotação Varimax normalizada)
Fatores
Valor próprio
% da Variância Explicada
I 5.13
18,32
II 4,33
15,46
III 3,96
14,13
IIII 3,69
13,20
3. Achei que era capaz de ser suficientemente bom no
trabalho escolar
,752
5. Gostei de mim próprio ,738 7. Consegui ver o lado positivo das coisas ,733 1. Achei que era capaz de fazer as coisas tão bem como os
outros
,689
10. Gostei das coisas que fazia ,685 13. Estive empenhado nas coisas que fazia ,665 12. Senti-me uma pessoa feliz ,646 18. Achei que era capaz de resolver os meus problemas do
dia-a-dia
,623
24. Aconteceram na minha vida coisas que gostei ,549 27. Achei que era capaz de resolver os problemas que tive
com amigos
,508
21. Achei que não tinha nada a esperar no futuro ,844
22. Achei que não era capaz de fazer nada bem feito ,789
16. Achei que nada aconteceu como esperava ,656
8. Achei a minha vida sem qualquer interesse ,641
26. Senti-me tão em baixo que nada me conseguiu animar ,633
4. Senti-me triste e desencorajado a ponto de achar que já
nada valia a pena
,582
19. Achei que tinha alguém com quem desabafar ,865
2. Tive um/a amigo/a intimo/a a quem pude contar os meus
problemas
,850
25. Achei que tinha alguém verdadeiramente meu amigo ,787
2. Tive um/a amigo/a intimo/a que me compreendeu mesmo ,783
15. Tive colegas ou amigos com quem pude passar os meus
tempos livres
,643
28. Tive colegas ou amigos com quem gostei de estar ,563
11. Senti-me nervoso, tenso ,770
6. Andei Irritado ,722
20. Senti-me ansioso, preocupado ,712
17. Tive dores de cabeça ,710
14. Senti-me ao ponto de explodir ,537 ,622
23. Senti dificuldade em me acalmar ,614 ,578
O primeiro fator agrupa os itens das dimensões de “Perceção de competências” e
“Cognitiva-emocional positiva”. O segundo fator engloba os itens da dimensão cognitivo-
emocional negativa e o terceiro agrupa os itens da dimensão de “Apoio social”. O último fator
agrupa os itens da dimensão de “Ansiedade”. Optou-se por se juntar o item “senti dificuldade
em me acalmar” a este último fator, não só porque havia uma diferença mínima entre este fator
e o segundo, mas principalmente para ir ao encontro do enquadramento teórico da dimensão.
46
Para aferir a qualidade da análise fatorial exploratória, verificou-se os valores do teste de
Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), observando-se um valor de 0.894, que nos indica que a análise
fatorial é boa. Para além deste teste, também se verificou o nível de significância do teste de
esfericidade de Barlett, que nos indicou um valor de p=,00, inferior a 0,05, e que nos indica
que as variáveis são correlacionáveis (Pereira & Patrício, 2013).
O Alfa de Cronbach do instrumento apresenta um resultado de (α=.93), o que significa que
a consistência interna do instrumento é muito boa (Pereira & Patrício, 2013). Ao analisar a
consistência interna de cada fator, conclui-se que todas as dimensões têm valores de α elevados.
O Fator 1, que contém 10 itens, corresponde à dimensão “Cognitiva-Emocional positiva”.
Os itens pertencentes a esta nova dimensão pertenciam às dimensões “Perceção de
Competências” e “Cognitiva Emocional Positiva”, mas emergiram como um fator comum. Esta
dimensão avalia aspetos cognitivos e emocionais do bem-estar psicológico com uma valência
mais positiva, para além de também avaliar a perceção global de competências em geral, a
resolução de problemas e o domínio escolar. Esta dimensão apresentou um valor de
consistência interna satisfatório (α=.89).
O Fator 2, que contém 6 itens, corresponde à dimensão “Cognitiva-emocional negativa”.
Esta dimensão avalia aspetos cognitivos e emocionais do bem-estar psicológico com uma
valência mais negativa. Esta dimensão apresentou um valor de consistência interna satisfatório
(α=.88).
O Fator 3, que contém 4 itens, corresponde à dimensão “Apoio Social”. Esta dimensão
avalia a perceção dos adolescentes em relação à existência, no espaço sócio relacional do jovem
de pessoas que lhes possam assegurar um apoio emocional. Esta dimensão apresentou um valor
de consistência interna satisfatório (α=.87).
O Fator 4, que engloba 6 itens, corresponde à dimensão “Ansiedade”. Esta dimensão avalia
algumas reações de ansiedade típicas. Esta dimensão apresentou um valor de consistência
interna satisfatório na base de dados comum (α=.88).
A análise descritiva (média e desvio-padrão) e as intercorrelações das dimensões da
EBEPA encontram-se representadas na Tabela 2.
47
Tabela 2.
Média, Desvio-padrão e Correlações das Dimensões do EBEPA e do Índice Total de Bem-
estar Psicológico
M Dp
Cognitiva-
Emocional
Positiva
Cognitiva-
Emocional
Negativa
Apoio
Social Ansiedade
Bem-Estar
Psicológico
Total
Cognitiva-
Emocional
Positiva
4,31 ,868 -,50** ,43** -,40** ,75**
Cognitiva-
Emocional
Negativa
2.14 ,920 -,26** ,75** -,86**
Apoio
Social
4,98 ,983 -,16* ,59**
Ansiedade
3.04 1,11 -,78**
Bem-Estar
Psicológico
Total
4,42 ,767
** A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades)
* A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades)
Para analisar as intercorrelações das dimensões do EBEPA, foi utilizado o coeficiente
de correlação de Pearson dado que a amostra segue uma normalidade. Apesar de, em algumas
dimensões, o nível de significância no teste de Kolmogorov-Smirnov-Liliefors ser inferior a (p
< 0,05), após analisar as assimetrias e as curtoses de cada uma das dimensões e verificar que
os valores eram inferiores a <2.58 e <3.29, respetivamente, pôde perceber-se que não havia
transgressões graves à normalidade e que se poderia prosseguir com testes paramétricos.
Os valores médios obtidos nesta população para o índice de bem-estar psicológico total são
de 4,42 (dp=,767).
Ao analisar-se a tabela, verifica-se a existência de uma correlação moderada e positiva entre
a dimensão “Cognitiva-emocional positiva” e a dimensão “Apoio social” e uma correlação alta
e positiva com o índice total de bem-estar psicológico. Para além disso, esta dimensão também
tem uma correlação moderada e negativa com as dimensões “Cognitiva-emocional negativa” e
“Ansiedade”.
Encontra-se uma correlação forte e negativa entre a dimensão “Cognitiva-Emocional
Negativa” e o índice total de Bem-Estar Psicológico. Esta escala tem também uma correlação
forte e positiva com a dimensão “Ansiedade”. A correlação entre esta escala e a dimensão de
“Apoio social” é moderada e positiva.
48
A dimensão de “Apoio social” apresenta uma correlação moderada e positiva com o índice
total de bem-estar psicológico. Por fim, a dimensão “Ansiedade” tem uma correlação forte e
negativa com o índice de bem-estar psicológico.
4.1.2. Análise Fatorial, Análise de Consistência Interna, Análise Descritiva e Análise
de Intercorrelações do instrumento Brief COPE
De forma a avaliar a estrutura relacional dos itens foi feita uma análise fatorial exploratória
sobre a matriz de correlações, com extração dos fatores pelo método dos componentes
principais seguido de uma rotação Varimax. Foram assim encontrados 8 fatores que
apresentavam um valor próprio superior a 1, estando em consonância com o screenplot e com
a percentagem de variância retida.
Ao analisar os fatores que se obtiveram, foi possível verificar que se encontram 8 fatores,
sendo menos um do que o encontrado pelos autores (Pais-Ribeiro & Rodrigues, 2004). Estes
fatores justificam 62,45% da variância total. A análise da saturação de cada item em cada fator
(a um nível de significância de 0,40) demonstrou que todos os itens tinham uma significância
estatística relevante, não tendo sido eliminado nenhum fator. A decisão de reconhecer
saturações superiores a 0,40 deve-se ao facto de este ter sido o critério utilizado pelos autores
(Pais-Ribeiro & Rodrigues, 2004).
Na tabela 3 são apresentados os oito fatores que agrupam as dimensões do instrumento, os
seus valores próprios, a percentagem de variância explicada por fator e o peso fatorial de cada
item nos 8 fatores.
Tabela 3.
Padrão fatorial do Brief COPE (Rotação Varimax normalizada)
Fatores
Valor próprio
% da Variância Explicada
I
3,79
13,52
II
2.53
9.05
III
2.34
8.35
IV
2.08
7.42
V
1.86
6.65
VI
1.85
6.60
VII
1.71
6.14
VIII
1.62
5.80
25. Penso muito sobre a melhor forma de
lidar com a situação
,678
7.Tomo medidas para tentar melhorar a
minha situação
,659
24. Tento aprender a viver com a
situação
,638
14. Tento encontrar uma estratégia que
me ajude no que tenho de fazer
,633
2. Concentro os meus esforços para fazer
alguma coisa que me permita enfrentar a
situação
,629
12. Tento analisar a situação de maneira
diferente, de forma a torna-la mais
positiva
,594
49
17. Procuro algo positivo em tudo o que
está a acontecer
,568
20. Tento aceitar as coisas tal como elas
estão a acontecer
,551
10. Peço conselhos e ajuda a outras
pessoas para enfrentar melhor a situação
,797
15. Procuro o conforto e a compreensão
de alguém
,713
23. Peço conselhos e ajuda a pessoas que
passaram pelo mesmo
,656
5. Procuro o apoio emocional de alguém ,644 3. Tenho dito a mim próprio(a): "isto não
é verdade”
,780
8. Recuso-me a acreditar que isto esteja a
acontecer comigo
,751
6. Simplesmente desisto de tentar lidar
com isso
,580
26. Culpo-me pelo que está a acontecer ,504 16. Desisto de me esforçar para lidar
com a situação
,474
4. Refugio-me no álcool ou noutras
drogas para me sentir melhor
,908
11. Uso Álcool ou outras drogas para me
ajudar a ultrapassar a situação
,902
18. Enfrento a situação levando-a para a
brincadeira ,810
28. Enfrento a situação com sentido de
humor ,769
22. Tento encontrar conforto na minha
religião ou crença espiritual ,849
27. Tenho rezado ou meditado ,849 21. Sinto e expresso os meus sentimentos
de aborrecimento ,828
9. Fico aborrecido e expresso os meus
sentimentos ,693
19. Faço outras coisas para pensar menos
na situação, tal como ir ao cinema, ver
tv, ler, sonhar ou ir às compras
,674
1. Refugio noutras atividades para me
abstrair da situação ,531
13. Faço críticas a mim próprio ,441
Para aferir a qualidade da análise fatorial exploratória, verificaram-se os valores do teste
de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), observando-se um valor de 0.713, que nos indica que a análise
fatorial é apropriada. Para além deste teste, também se verificou o nível de significância do
teste de esfericidade de Barlett, que nos indicou um valor de p=,00, inferior a 0,05, e que nos
indica que as variáveis são correlacionáveis (Pereira & Patrício, 2013).
O Alfa de Cronbach do instrumento apresenta um resultado de (α=.77), o que significa que
a consistência interna do instrumento tem valores aceitáveis (Pereira & Patrício, 2013). Ao
50
analisar a consistência interna de cada fator, conclui-se que todas as dimensões têm valores de
α elevados, exceto o fator 8, que apresenta um valor de α inaceitável.
O fator 1, que contém 8 itens, agrupa as dimensões propostas pelo autor “Planear”, “Coping
ativo”, “Aceitação” e “Reinterpretação positiva”. Assim, será denominado de “Coping
positivo” porque engloba estratégias de iniciar a ação para remover ou circunscrever o stressor,
pensar sobre o modo de se confrontar com este, aceitar que o evento stressante é real e fazer o
melhor da situação a partir dela. Esta dimensão apresentou um valor de consistência interna
satisfatório (α=.82).
O fator 2, que contém 4 itens, agrupa as dimensões definidas pelo autor como “Utilizar um
suporte instrumental” e “Utilizar um suporte social e emocional”. Nesta investigação, este fator
terá o nome de “Utilizar um suporte” e pode ser descrito pela utilização de estratégias de
procura de ajuda acerca do que fazer e de procura de um suporte emocional de alguém. Esta
dimensão apresentou um valor de consistência interna satisfatório (α=.77).
O fator 3, que contém 5 itens, agrupa itens das dimensões “Negação”, “Desinvestimento
comportamental” e “Autoculpabilização”. Será assim denominado de “Coping negativo” dado
que se descreve por itens que relatam estratégias de rejeitar a realidade do acontecimento
stressante, de desistir e de se culpabilizar a si próprio pelo que aconteceu. Esta dimensão
apresentou um valor de consistência interna satisfatório (α=.72).
O fator 4, com dois itens, agrupa os itens da subescala “Uso de substâncias” definida pelo
autor. Pode ser descrita por se usar o álcool ou outras drogas como meio de desinvestir do
stressor. Esta dimensão apresentou um valor de consistência interna satisfatório (α=.91).
O fator 5, com dois itens, agrupa os itens da subescala “Humor” e pode ser descrita como
lidar com a situação e com o stressor com humor. Esta dimensão apresentou um valor de
consistência interna satisfatório (α=.71).
O fator 6, também com 2 itens, agrupa os itens da subescala “Religião”. Pode ser descrita
pela participação em atividades religiosas. Esta dimensão apresentou um valor de consistência
interna satisfatório (α=.79).
O fator 7, também com 2 itens, agrupa os itens da subescala “Expressão de sentimentos”
que se descreve pela tendência em exprimir os sentimentos. Esta dimensão apresentou um valor
de consistência interna satisfatório (α=.71).
Por último, o fator 8, com 3 itens, agrupa os itens da subescala “Autodistração” e de
“Autoculpabilização” pode ser descrito como um desinvestimento mental do objetivo com o
qual o stressor está a intervir e a culpar-se e criticar-se pelo que está a acontecer. Esta escala
será denominada de “Ruminação”. Esta dimensão apresentou um valor de consistência interna
51
insatisfatório (α=.41). Como este valor é insatisfatório, optou-se por se remover a escala e
trabalhar apenas com 7 fatores.
A análise descritiva (média e desvio-padrão) e as intercorrelações das dimensões do Brief
COPE encontram-se representadas na Tabela 4.
Tabela 4.
Média, Desvio-padrão e Correlações das Dimensões do Brief COPE
M Dp Coping
positivo
Utilizar
um
suporte
Coping
Negativo
Uso de
substâncias Humor Religião
Expressão de
sentimentos
Coping
Positivo 1,76
,57
,41** -,22** -,20* ,28** ,16* ,09
Utilizar um
suporte
1,60
,77
-,09 -,17* ,13 ,31** ,27**
Coping
Negativo
,93
,61
,17* -,04 ,03 ,17*
Uso de
substâncias ,16
,45
,12 -,07 -,09
Humor 1,37
,80
,14 -,06
Religião ,87
,86
,13
Expressão de
sentimentos
1,24
,76
** A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades)
* A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades)
Para analisar as intercorrelações das dimensões do Brief COPE foi utilizado o coeficiente
de correlação de Spearman dado que a amostra não segue uma normalidade. Este teste irá assim
avaliar a forma com as quais as variáveis contínuas se correlacionam e analisar a força e a
direção da relação existente entre estas, sendo uma alternativa não-paramétrica ao teste de
Pearson.
A média mais alta de todas as dimensões é a do “Coping positivo” e a média que se encontra
mais baixa é a da dimensão “Uso de substâncias”.
Relativamente às correlações entre as dimensões, percebeu-se que a dimensão “Coping
positivo” tem uma correlação moderada e positiva com a dimensão “Utilizar um suporte”, uma
relação baixa e positiva com a dimensão de “Humor” e uma correlação fraca e negativa com a
dimensão “Coping negativo”.
A dimensão “Utilizar um suporte” tem uma correlação baixa e positiva com as dimensões
“Religião” e “Expressão de sentimentos”.
52
4.2. Análise do bem-estar psicológico
De acordo com Bizarro (1999), a média para o índice de bem-estar psicológico é de 4,51.
Segundo a análise descritiva feita pela amostra encontrada, obteve-se um índice de bem-estar
psicológico médio de 4,42 (dp=0,77), estando ligeiramente abaixo dos valores encontrados pela
autora.
Na tabela 5 podem verificar-se os resultados da análise descritiva das dimensões de bem-
estar psicológico que se obtiveram nesta amostra.
Tabela 5.
Análise descritiva das dimensões de Bem-estar psicológico da EBEPA
Dimensões Média Desvio-Padrão Mínimo Máximo
Cognitivo-
emocional positiva
4,31 ,868 2 6
Cognitivo-
emocional negativa
2,14 ,920 1 5
Apoio Social 4,98 ,983 1 6
Ansiedade 3,05 1,112 1 6
A partir da análise das médias na tabela é possível verificar que os valores são algo dispares,
sendo que a dimensão de bem-estar psicológico que é mais elevada na amostra é a dimensão
de “Apoio social” (M=4.98), sendo que a mais baixa é a “Cognitiva-emocional negativa”
(M=2.14).
Após verificar a normalidade da amostra, utilizando o teste de Kolmogorov-Smirnov para
a população normal e o Shapiro-Wilk para a população com excesso de peso, constatou-se que
se poderiam usar testes paramétricos, pois existe uma normalidade da amostra. Em relação aos
jovens com peso normal, foi necessário recorrer à assimetria e à curtose, sendo que ambas
apresentaram valores inferiores a <2.58 e <3.29, respetivamente, não havendo transgressões
graves à normalidade, significando que se podia prosseguir com testes paramétricos. Para além
disso, foi realizada a igualdade de variâncias com o teste de Levene, que assumiu que existe
igualdade.
Desta forma, utilizando o Teste T, foi possível comparar a média do índice de bem-estar
psicológico total para os jovens quer com peso normal e quer com excesso de peso. Como se
pode verificar na tabela 6, a média de bem-estar psicológico total é superior no grupo de jovens
com peso normal, contudo esta diferença não é significativa (sig. >,05).
53
Tabela 6.
Teste T para as médias do índice bem-estar psicológico total para os grupos com peso normal
e com excesso de peso
Índice de bem-estar Psicológico Média Desvio-Padrão Diferença Sig. (2
extremidades)
Peso Normal 4,46 ,681 ,142 ,315
Excesso de Peso 4,31 ,975
Utilizando o mesmo teste, podem comparar-se as dimensões da EBEPA para adolescentes
com peso normal e excesso de peso, como se pode verificar na tabela 7.
Tabela 7.
Teste T para as dimensões de bem-estar psicológico para os grupos com peso normal e com
excesso de peso
Média Diferença Sig. (2
extremidades)
Normal Excesso de peso
Cognitiva-Emocional Positiva 4,33 4,24 ,094 ,56
Cognitiva-Emocional
Negativa 2,13 2,18 -,053 ,75
Apoio Social 5,08 4,71 ,372 ,04
Ansiedade 3,04 3,07 -,024 ,91
De acordo com os valores apresentados, pode perceber-se que as médias das dimensões
entre os grupos não variam muito, havendo apenas uma diferença significativa (sig. <0,05) para
a dimensão “Apoio social”, na qual os jovens com peso normal apresentam uma média mais
alta.
4.3. Análise das Estratégias de Coping
Fazendo a análise estatística das estratégias de coping utilizadas para a amostra completa,
percebe-se, pela tabela 8, que a dimensão “Coping positivo” é a que tem uma média superior,
sendo a mais utilizada pelos jovens, e que a dimensão “Uso de substâncias” é a que tem uma
média inferior, sendo assim a menos utilizada.
54
Tabela 8.
Análise descritiva das dimensões de Coping do Brief COPE
Dimensões Média Desvio-Padrão Mínimo Máximo
Coping Positivo 1,76 ,572 0 3
Utilizar um Suporte 1,60 ,767 0 3
Coping Negativo ,93 ,611 0 3
Uso Substâncias ,16 ,452 0 3
Humor 1,37 ,795 0 3
Religião ,87 ,863 0 3
Expressão de
Sentimentos 1,24 ,759 0 3
A análise descritiva das estratégias divididas por jovens com peso normal e com excesso
de peso encontra-se na tabela 9 e 10, respetivamente. Como se pode verificar, a dimensão com
valores mais altos é a do “Coping positivo”, sendo por isso a mais utilizada pelos jovens,
independentemente do peso. A estratégia menos utilizada é a do “Uso de substâncias”, tendo
uma média muito reduzida para ambos os grupos.
Tabela 9.
Análise descritiva das dimensões de coping do Brief COPE para jovens com peso normal
Dimensões Média Desvio-Padrão Mínimo Máximo
Coping Positivo 1,77 ,560 0 3
Utilizar um Suporte 1,61 ,781 0 3
Coping Negativo ,93 ,603 0 3
Uso Substâncias ,15 ,466 0 3
Humor 1,35 ,798 0 3
Religião ,91 ,855 0 3
Expressão de
Sentimentos 1,24 ,771 0 3
Tabela 10.
Análise descritiva das dimensões de Coping do Brief COPE para jovens com excesso de peso
Dimensões Média Desvio-Padrão Mínimo Máximo
Coping Positivo 1,74 ,610 0 3
Utilizar um Suporte 1,57 ,736 0 3
Coping Negativo ,94 ,641 0 3
Uso Substâncias ,16 ,414 0 3
Humor 1,44 ,794 0 3
Religião ,75 ,884 0 3
Expressão de
Sentimentos 1,25 ,734 0 3
55
Relativamente às diferenças entre dimensões do coping para os dois grupos, de jovens com
peso normal e com excesso de peso, foi feito o teste não-paramétrico de Mann-Whitney para
amostras independentes, como alternativa ao teste t, dado que a amostra não é normal.
Tabela 11.
Teste de Mann-Whitney das dimensões de Coping relativamente ao peso
Coping
Positivo
Utilizar
suporte
Coping
Negativo
Uso de
Substâncias Humor Religião
Expressão
sentimentos
U de Mann-Whitney 2115 2214 2256,5 2176 2182 1982,5 2268,5
Z -,682 -,273 -,097 -,719 -,411 -1,261 -,049
Significância Sig. (2
extremidades) ,495 ,785 ,922 ,472 ,681 ,207 ,961
a. Variável de Agrupamento: Classificação do peso
Como se pode verificar na tabela 9, não existem diferenças significativas nas dimensões de
coping para os grupos de adolescentes com peso normal e excesso de peso, o que significa que
não existem diferenças quanto à utilização de cada estratégia em função do peso. Apesar disso,
verifica-se uma ligeira tendência para que os jovens com excesso de peso usem mais a
dimensão de “Humor” e menos as dimensões “Utilizar um suporte” e “Religião” do que os seus
pares com peso normal.
4.4. Análise das Correlações
A relação entre o índice de bem-estar psicológico total e as dimensões do coping foi
verificada com o teste de correlação de Spearman, devido às dimensões do coping não
seguirem uma normalidade da amostra. Os resultados serão apresentados de seguida na tabela
12.
56
Tabela 12.
Correlação de Spearman entre o índice de bem-estar psicológico total e as dimensões de Coping
Índice de bem-estar psicológico total
Coping positivo ,37** Coeficiente de Correlação
,000 Sig. (2 extremidades)
Utilizar um Suporte ,17* Coeficiente de Correlação
,036 Sig. (2 extremidades)
Coping Negativo -,55** Coeficiente de Correlação
,000 Sig. (2 extremidades)
Uso Substâncias -,23** Coeficiente de Correlação
,003 Sig. (2 extremidades)
Humor ,18* Coeficiente de Correlação
,025 Sig. (2 extremidades)
Religião ,05 Coeficiente de Correlação
,528 Sig. (2 extremidades)
Expressão de Sentimentos -,11 Coeficiente de Correlação
,190 Sig. (2 extremidades)
** A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades)
* A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades)
Ao analisar as diferentes dimensões pode perceber-se que o índice de bem-estar psicológico
tem uma correlação fraca e positiva com a dimensão “Coping positivo”. Para além disso este
índice também tem uma correlação fraca e negativa com a dimensão “Uso de substâncias”.
Relativamente à dimensão “Coping Negativo”, o índice de bem-estar psicológico total tem uma
correlação moderada e negativa com este. Também será importante realçar que não existe uma
correlação significativa entre as dimensões “Religião” e “Expressão de sentimentos” e o índice
de bem-estar psicológico.
Nesta investigação também se relacionaram as dimensões de bem-estar psicológico com as
dimensões de coping, tendo usado de novo o teste de correlação de Spearman. Os resultados
deste teste encontram-se na tabela 13.
57
Tabela 13.
Correlação de Spearman entre as dimensões de bem-estar psicológico e as dimensões de Coping
Cognitivo-
Emocional
Positiva
Cognitivo-
Emocional
Negativa
Apoio
Social Ansiedade
Coping
positivo
,40** -,32** ,22** -,24** Coeficiente de Correlação
,000 ,000 ,007 ,003 Sig. (2 extremidades)
Utilizar um
Suporte
,08 -,11 ,44** ,06 Coeficiente de Correlação
,308 ,194 ,000 ,439 Sig. (2 extremidades)
Coping
Negativo
-,40** ,57** -,09 ,48** Coeficiente de Correlação
,000 ,000 ,264 ,000 Sig. (2 extremidades)
Uso
Substâncias
-,08 ,28** -,01 ,31** Coeficiente de Correlação
,305 ,000 ,942 ,000 Sig. (2 extremidades)
Humor ,16 -,15 ,05 -,16 Coeficiente de Correlação
,055 ,063 ,530 ,054 Sig. (2 extremidades)
Religião ,05 -,05 ,05 -,00 Coeficiente de Correlação
,556 ,540 ,530 ,960 Sig. (2 extremidades)
Expressão de
Sentimentos
-,09 ,17* ,11 ,19* Coeficiente de Correlação
,285 ,041 ,191 ,016 Sig. (2 extremidades)
** A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades)
* A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades)
De acordo com a análise da tabela 13, compreende-se que a Dimensão “Coping positivo”
está correlacionada com todas as escalas da EBEPA, tendo uma correlação baixa e positiva
com as dimensões “Cognitivo-emocional positiva” e “Apoio social” e uma correlação baixa e
negativa com as dimensões “Cognitivo-emocional negativa” e “Ansiedade”.
A dimensão “Utilizar um suporte emocional” está correlacionada de forma moderada e
positiva com a dimensão “Apoio Social”.
Por outro lado, a dimensão “Coping negativo” está correlacionada positiva e
moderadamente com as dimensões “Cognitivo-emocional negativa” e “Ansiedade”, para além
disso, também tem uma correlação fraca e negativa com a escala “Cognitivo-emocional
positiva”.
A dimensão “Uso de substâncias” tem uma correlação baixa e positiva com as escalas
“Cognitivo-emocional negativa” e “Ansiedade”.
Será também de realçar que as dimensões “Humor”, “Religião” e “Expressão de
sentimentos” não têm correlações significativas com nenhuma das dimensões do bem-estar
psicológico.
58
5. Discussão
Nesta investigação foram utilizados dois instrumentos de forma a avaliar o bem-estar
psicológico e as estratégias de coping dos adolescentes com e sem obesidade. Para avaliar o
bem-estar psicológico, foi utilizada a Escala de Bem-Estar Psicológico para Adolescentes
(EBEPA) e, para avaliar as estratégias de coping, foi utilizado o Brief COPE.
Estes instrumentos foram aplicados a uma amostra de 154 jovens, sendo que 40 desses
jovens têm excesso de peso. As idades destes estão compreendidas entre os 12 e os 18 anos.
De forma a melhor compreender a discussão dos resultados obtidos, esta vai ser apresentada
de acordo com os objetivos específicos propostos anteriormente.
Deve-se ter em conta que todas as análises realizadas com o instrumento Brief COPE foram
feitas com testes não-paramétricos, e ao não serem tão “potentes” quanto os testes
paramétricos, as interpretações dadas podem não transmitir a realidade (Pereira & Patrício,
2013).
5.1. Objetivo 1: Analisar a estrutura fatorial e consistência interna dos instrumentos
utilizados no presente estudo.
Aquando da análise da Escala de Bem-Estar Psicológico para Adolescentes (EBEPA),
percebeu-se que existiam algumas diferenças relativamente aos dados encontrados pela autora
(Bizarro, 2001). Ao realizar a análise fatorial exploratória, foi possível encontrar quatro fatores
que compõem este instrumento, a dimensão “Cognitiva-emocional positiva”, a dimensão
“Cognitiva-Emocional negativa”, a dimensão “Apoio social” e a dimensão “Ansiedade”. Ao
verificar a consistência interna, foi possível entender que o instrumento e as subescalas tinham
todas valores elevados de confiabilidade, o que mostrou que era possível a sua utilização para
a análise dos dados recolhidos.
Pode constatar-se que a única diferença encontrada destas escalas para as de Bizarro (2001)
é o facto de a dimensão “Cognitiva-emocional positiva” se ter agrupado à dimensão “Percepção
de competências”, levando a que estes dois fatores se tenham juntado num só. Uma das
justificações para esta mudança pode ser devida à faixa etária presente no estudo, sendo que a
parte mais significativa da amostra corresponde a adolescentes mais jovens, levando a que se
questione se os adolescentes não fizeram uma distinção entre itens mais relacionados com os
estados emocionais e cognições e os itens mais relacionados com a perceção de competências
que os jovens têm de si mesmos. Isto pode dever-se ao facto de todos os itens pontuarem no
sentido de uma visão positiva do self, sendo assim dificil para os jovens distinguirem as
59
questões abordadas nos itens como pertencendo a dimensões diferentes, devido a ainda não
terem a maturação cognitiva necessária para tal.
Relativamente ao segundo instrumento, o Brief COPE, a análise realizada com esta amostra
encontrou fatores diferentes dos que o autor do estudo português (Pais-Ribeiro & Rodrigues,
2004) e o autor original (Carver et al., 1989) encontraram. Os fatores encontrados com a análise
fatorial foram “Coping positivo”, “Utilizar um suporte”, “Coping negativo”, “Uso de
substâncias”, “Humor”, “Religião”, “Expressão de sentimentos” e “Ruminação”. No que diz
respeito à escala completa, esta apresentou um nível de consistência interna satisfatório,
apresentando valores aceitáveis e podendo ser assim utilizada para a análise dos dados desta
amostra. Ao nível das subescalas, todas apresentam uma consistência interna aceitável, exceto
a dimensão “Ruminação”, que tem valores inaceitáveis.. Perante isso, esta escala foi retirada
de forma a que a análise dos dados seja mais viável. Não obstante, considero que seria
importante posteriormente explorar a razão pela qual a consistência interna deste fator está tão
baixa.
Nesta investigação, o primeiro fator, “Coping positivo”, agrupou as propostas pelos autores
Pais-Ribeiro e Rodrigues (2004) “Planear”, “Coping ativo”, “Aceitação” e “Reinterpretação
positiva”. No estudo de Pais-Ribeiro e Rodrigues (2004), as duas primeiras escalas foram
agrupadas num fator e agregadas também à dimensão “Desinvestimento comportamental” -
que neste trabalho está dentro do fator de “Coping negativo”. A terceira dimensão,
“Aceitação”, foi encontrada como um fator, e a última escala, “Reinterpretação positiva”, não
aparece agrupada a nenhum fator. Uma razão explicativa pode ser a de que, como a população
neste estudo é mais jovem do que a da adaptação portuguesa (que continha jovens adultos dos
17 aos 22 anos), os adolescentes podem ainda não ter maturação cognitiva para compreender a
distinção entre estas escalas, associando a uma única dimensão estratégias de iniciar a ação
para remover ou circunscrever o stressor, pensar sobre o modo de se confrontar com este,
aceitar que o evento stressante é real e fazer o melhor da situação a partir dela. Estes resultados
poderiam assim ser diferentes se esta população fosse composta de adolescentes mais velhos,
que poderiam mais facilmente interpretar os itens de uma forma mais precisa e rigorosa,
semelhante ao que acontece no estudo da adaptação portuguesa (Pais-Ribeiro & Rodrigues,
2004).
O terceiro fator encontrado nesta investigação, o “Coping negativo”, agrupa as escalas
“Negação”, “Desinvestimento comportamental” e um item da escala de “autoculpabilização”.
No estudo de Pais-Ribeiro e Rodrigues (2004) e no de Carver e colegas (1989), este fator
também agrupou a primeira e a terceira dimensão, sendo que o “Desinvestimento
60
comportamental” não estava associado a esta escala. Uma razão explicativa de tal poderá ser a
de que os jovens deste estudo associam a negação do evento stressor e a culpabilização deste
a desistirem dos objetivos com os quais o stressor está a interferir. A explicação desta relação
poderá residir no facto de os jovens não entenderem a “Negação”, a “Autoculpabilização” e o
“Desinvestimento comportamental” como tópicos distintos que são. Esta relação deve ser
confirmada através de mais investigações com populações de adolescentes, de forma a
compreender e explorar a razão que leva a que estas dimensões se tenham agrupado desta
forma.
Os segundo, quarto, quinto, sexto e sétimo fatores foram agrupados de forma semelhante
ao estudo da adaptação portuguesa de Pais-Ribeiro e Rodrigues (2004) e ao estudo original
(Carver et al., 1989).
5.2. Objetivo 2: Avaliar e comparar o bem-estar psicológico de adolescentes com e sem
obesidade.
O bem-estar psicológico e a sua relação com a obesidade é um dos objetivos a que esta
investigação pretende responder.
De forma a responder à questão de investigação 2.1., que tenta compreender o índice de
bem-estar psicológico dos jovens com excesso de peso, percebeu-se que a média de bem-estar
psicológico total dos jovens com excesso de peso é de 4,31. Este valor é mais baixo do que o
encontrado por Bizarro (1999), em que a média de bem-estar psicológico dos jovens foi de
4,51.
Relativamente à questão de investigação 2.2., que investiga as diferenças em relação ao nível
de bem-estar psicológico total entre os jovens com excesso de peso e os jovens com um peso
normal, percebeu-se que a média do índice de bem-estar psicológico total para os jovens com
peso normal é de 4,46. Após se realizar o teste t, em que se analisaram as diferenças entre as
médias dos dois grupos, compreende-se que existe uma tendência para que a média de bem-
estar psicológico dos jovens com excesso de peso seja inferior. Contudo, esta diferença não é
significativa, o que significa que não se pode inferir que a população com excesso de peso tem
um valor mais baixo no que respeita ao bem-estar psicológico. Os estudos realizados até agora
relacionam a obesidade com maiores níveis de depressão e ansiedade (Britz, Siegfried, Ziegler,
Lamertz, Herpertz-Dahlmann, Remschmidt et al., 2000; Vila et al., 2004, cit. por Buttitta et al.,
2014) e menores níveis de felicidade (Fonseca et al, 2009), autoestima e autoconceito (French,
Perry, Leon & Fulkerson, 1995, cit. por Pereira, 2014), estando todos estes conceitos
associados ao bem-estar psicológico. Não obstante, ainda não existem em Portugal estudos
61
suficientes que relacionem o bem-estar psicológico com a obesidade, pelo que neste ponto
deveriam ser realizadas investigações com amostras superiores de forma a verificar se estes
valores se mantêm.
Analisando as quatro dimensões do bem-estar psicológico (Cognitivo-emocional positiva,
Cognitiva-emocional negativa, Apoio social e Ansiedade) compreendeu-se que a dimensão
mais elevada para a amostra total é a do “Apoio social” e a dimensão mais baixa é a “Cognitivo-
emocional negativa”, o que sugere que nesta amostra os jovens têm uma muito boa perceção
da sua rede social e não têm uma valência negativa alta no que diz respeito às suas emoções e
a comportamentos negativos. Estes resultados são coerentes com os apresentados pela autora
na versão final deste instrumento (Bizarro, 2001).
De forma a responder à questão de investigação 2.3., que tenta compreender se existem
diferenças significativas em relação às dimensões do nível de bem-estar psicológico entre os
jovens com excesso de peso e os jovens com um peso normal, percebeu-se pela análise dos
dados que as dimensões “Cognitiva-emocional positiva” e “Apoio social” são mais elevadas
no grupo com peso normal e as dimensões “Cognitiva-emocional negativa” e “Ansiedade” são
mais elevadas no grupo com excesso de peso, o que significa que existe uma tendência para os
jovens com excesso de peso terem níveis mais baixos no que respeita às dimensões de bem-
estar psicológico e uma tendência para terem níveis mais elevados nas dimensões negativas.
Apesar disso, apenas uma destas dimensões teve valores de diferença significativos, sendo esta
dimensão o “Apoio social”, no qual os jovens com excesso de peso têm um valor inferior aos
pares com peso normal.
Este resultado está de acordo com a literatura, que refere que os jovens com excesso de
peso são vistos como pessoas com menos interações sociais que os pares com peso normal
(Viner, 2005; Rossner, 1998, cit. por Sousa, 2011). Esta diferença pode dever-se ao facto de os
jovens com excesso de peso terem tendência para se se isolarem (Viana, 2002; Vos et al., 2011;
cit. por Fernandes, 2011; Yin, 2005; Viner 2005, cit. por Sousa, 2011), levando assim a que
não tenham tanta noção do apoio social que os rodeia e acabem por não usufruir deste como os
seus pares com peso normal.
De acordo com Rosa e Gonçalves (2011), o apoio social e familiar percecionado assume
um papel importante no desenvolvimento da psicopatologia na população de jovens com
obesidade. Assim, seria importante explorar melhor este ponto, de forma a compreender na
totalidade as consequências deste resultado.
Uma razão explicativa do fato de não haver mais diferenças entre as dimensões do bem-
estar entre jovens com peso normal e com excesso de peso pode ser devido à perceção que
62
estes têm de si mesmos. Ou seja, as crianças e adolescentes obesos não têm automaticamente
uma qualidade de vida e um bem-estar menor que os seus pares com um peso normal, isso varia
consoante o jovem se perceciona a si próprio como com excesso de peso ou não (Warschburger,
2005, cit. por Meier et al., 2010). Assim, se os jovens da população estudada considerarem que
até têm um peso normal (mesmo que fisicamente se apresentem com obesidade), as suas
construções sobre si próprios e sobre o mundo que os rodeia vão ser semelhantes às dos seus
pares que têm um peso normal. Seria assim muito relevante, em investigações futuras que
avaliem o peso, analisar também a perceção que os jovens têm do seu peso.
5.3. Objetivo 3: Avaliar e comparar as estratégias de coping de adolescentes com e sem
obesidade.
Outro objetivo desta investigação foi analisar a relação entre as estratégias de coping em
adolescentes com excesso de peso. Os resultados discutidos nesta parte devem ser interpretados
com alguma prudência devido à não-normalidade da amostra e à consequente utilização de
testes não paramétricos.
Assim, de forma a dar resposta à questão de investigação 3.1., que questiona quais são as
estratégias de coping mais utilizadas pelos adolescentes com excesso de peso, foi possível
entender pela análise dos resultados que a dimensão de estratégias de coping mais utilizada por
ambos os grupos foi a do “Coping positivo”. Esta dimensão engloba estratégias que promovem
o iniciar a ação para remover ou circunscrever o stressor, pensar sobre o modo de se confrontar
com este, aceitar que o evento stressante é real e fazer o melhor da situação a partir dela, o que
sugere que estes jovens optam por utilizar estratégias de coping consideradas mais adaptativas.
Em termos gerais, estes resultados vão contra estudos já realizados que descrevem que as
estratégias de coping mais utilizadas pelos adolescentes são autocontrolo e afastamento e fuga
(Kristensen et al., 2010), e relacionando com pessoas com excesso de peso, estes resultados
também não vão ao encontro do que foi estudado com adultos obesos (Myers e Rosen, 1999;
Martins, 2011). Contudo, pouca investigação foi realizada relativamente às estratégias de
coping com adolescentes com obesidade, pelo que seria relevante investigar este resultado
numa amostra maior de jovens com obesidade.
Em relação à questão de investigação 3.2., relativa às diferenças nas estratégias de coping
utilizadas entre os adolescentes com excesso de peso e com peso normal, percebeu-se que não
existem diferenças significativas nas estratégias de coping entre grupos, sendo que estes
resultados são semelhantes aos encontrados em alguma literatura sobre o tema (Stauber et al.,
63
2004, cit. por Meier et al., 2010; Fernandes, 2011). Estes resultados podem dever-se à perceção
que os jovens com excesso de peso têm de si mesmos, não se percecionado como tendo excesso
de peso e, por isso, as suas estratégias de coping são semelhantes às dos jovens com peso
normal (Meier et al., 2010). Outra razão pode ser que, apesar das estratégias que usam serem
semelhantes entre jovens com peso normal e com excesso de peso, a perceção que os jovens
têm sobre a eficácia das estratégias não era a mesma, como se comprovou ser o caso em alguns
estudos portugueses (Silva, 2009, cit. por Fernandes, 2011; Fernandes, 2011), nas quais os
jovens com excesso de peso consideravam que as estratégias utilizadas eram menos eficazes
das que os seus pares com peso normal. Desta forma, estudos mais aprofundados sobre a
perceção dos jovens quanto à utilização das estratégias de coping seriam necessários.
Apesar de se verificar que não existem diferenças significativas entre os jovens com
excesso de peso e com peso normal em relação às estratégias de coping, será importante realçar
que existe uma ligeira tendência para os jovens com excesso de peso usarem mais a dimensão
de “Humor” e menos as dimensões “Utilizar um suporte” e “Religião” do que os seus pares
com peso normal. Seria assim interessante verificar em estudos com amostras superiores se
estes valores continuam semelhantes.
5.4. Objetivo 4: Compreender de que forma as diferentes variáveis dependentes no estudo
se relacionam.
Outro objetivo que esta investigação abrange é o da compreensão da relação entre o bem-
estar psicológico e as estratégias de coping.
Relativamente à questão de investigação 4.1., que pretende avaliar se existe uma relação
entre o índice total de bem-estar psicológico e as diferentes estratégias de coping, pode
compreender-se pela análise das correlações, que o índice de bem-estar psicológico tem uma
correlação fraca e positiva com a dimensão “Coping positivo”. Relativamente à dimensão
“Coping negativo”, o índice de bem-estar psicológico total tem uma correlação moderada e
negativa com este. Para além disso, este índice também tem uma correlação fraca e negativa
com a dimensão “Uso de substâncias”.
A correlação entre o índice de bem-estar psicológico e a dimensão “Coping positivo”
sugere que à medida que uma destas variáveis aumenta, a outra também aumenta. Esta
correlação está de acordo com a literatura existente, na qual se refere que o bem-estar social e
emocional engloba desenvolvimento da compreensão e regulação da emoção e a habilidade de
lidar com os stressores, estando estas duas noções incluidas na dimensão “Coping positivo”
(Bornstein et al., 2003).
64
Outra correlação abordada é a relação entre o índice de bem-estar psicológico total e a
dimensão de “Coping negativo”, o que sugere que, à medida que uma destas variáveis aumenta,
a outra diminui. Esta correlação também faz sentido dado que o “Coping negativo” pode ser
descrito por negação, autoculpabilização e desistência dos objetivos, o que demonstra que não
existe uma habilidade de lidar com os stressores de uma forma ajustada e adaptativa, o que por
seu lado leva a que o nível de bem-estar psicológico seja mais reduzido (Câmara & Sarriera,
2003).
Com uma correlação mais fraca, o índice de bem-estar psicológico total também está
correlacionado negativamente com a dimensão “Uso de substâncias”. Esta correlação encontra-
se de acordo com a literatura existente, que demonstra que os sintomas de mal-estar psicológico
constituem um dos fatores determinantes do consumo de substâncias (Reiff, Simantov, Schlen,
& Klein, 2000; Whalen, Jamner, Henker, & Delfino, 2001, cit. por Simões, Matos & Batista-
Foguet, 2006).
De salientar é o facto de não haver uma correlação significativa entre as dimensões
“Religião” e “Expressão de sentimentos” e o índice de bem-estar psicológico. Isto significa
que se as primeiras duas dimensões aumentarem ou diminuírem isso não terá influência no
aumento ou no decréscimo do bem-estar psicológico. Em relação à primeira dimensão,
“Religião”, a literatura existente refere que existe uma forte relação entre a religião e o bem-
estar (Ferreira, Pinto & Neto, 2012; Silva, et al., 2007), o que leva a questionar as razões pelas
quais nesta amostra isso não acontece. Relativamente à dimensão “Expressão de sentimentos”,
percebe-se pela literatura que há uma relação entre a dificuldade em identificar os sentimentos
e emoções e a depressão, ansiedade, deliquência e amizades enfraquecidas (Honkalampi et al.,
2009, cit. por Masrat, Wani, & Alam, 2015), contudo não se encontrou estudos especifícos para
a população de adolescentes portuguesa que relacionassem estas duas variáveis. Posto isto,
seria interessante verificar se existe mesmo uma relação entre a expressão de sentimentos e um
superior ou inferior bem-estar psicológico, de forma a compreender se é benéfico ou não
incentivar os jovens a expressarem os seus sentimentos com vista a um melhor bem-estar.
Será importante realçar que os níveis de bem-estar psicológico, em relação às estratégias
de coping, estão fortemente determinados pela forma como o indivíduo interpreta ou processa
as informações e a maneira como se organiza para reajustar os estados emocionais que se
originam dessa avaliação (Câmara & Sarriera, 2003), ou seja, as estratégias de coping e a sua
relação com o bem-estar psicológico estão muito relacionadas com a forma como o adolescente
as perceciona e lida com elas, o que demonstra aqui que as estratégias “Coping positivo”,
“Coping Negativo” e “Uso de substâncias” estão relacionadas com o bem-estar psicológico
65
porque os jovens as interpretam como sendo fatores positivos ou negativos para o seu bem-
estar psicológico.
Em relação à questão de investigação 4.2., que questiona a relação entre as dimensões de
bem-estar psicológico e as diferentes estratégias de coping, conseguiu perceber-se pela análise
dos dados que havia algumas correlações entre estas.
Primeiramente, compreende-se que a dimensão “Coping positivo” está correlacionada com
todas as escalas da EBEPA, tendo uma correlação baixa e positiva com as dimensões
“Cognitivo-emocional positiva” e “Apoio social”, significando que, quando uma destas
dimensões aumenta as outras também irão aumentar; e uma correlação baixa e negativa com
as dimensões “Cognitivo-emocional negativa” e “Ansiedade”, o que significa que quando a
dimensão de “Coping positivo” aumenta, as outras duas dimensões vão diminuir, e vice-versa.
Estas correlações têm fundamento dado que, segundo Compas e colaboradores (2001), as ações
diretas de coping estão associadas a um funcionamento mais positivo e saudável, e esse
funcionamento é descrito pelas duas dimensões de bem-estar psicológico descritas como
positivas (Cognitivo-emocional positiva e Apoio social). Esta explicação pode estender-se às
duas últimas correlações (Cognitivo-emocional negativa e Ansiedade), dado que estas duas
conduzem a um menor bem-estar psicológico.
A dimensão “Utilizar um suporte emocional” está correlacionada de forma moderada e
positiva com a dimensão “Apoio Social”, o que significa que quando uma destas variáveis
aumenta a outra também. A correlação entre estas duas escalas faz sentido porque ambas se
baseiam na relação do sujeito com o outro e na procura de ajuda para melhorar o bem-estar da
pessoa e ultrapassar as situações stressantes.
Por outro lado, a dimensão “Coping negativo” está correlacionada positiva e
moderadamente com as dimensões “Cognitivo-emocional Negativa” e “Ansiedade”, o que
significa que, se a primeira dimensão aumentar, as outras também o irão fazer. Para além disso
também tem uma correlação fraca e negativa com a escala “Cognitivo-emocional Positiva”, o
que significa que, se uma aumentar, a outra irá descer. Estes resultados vão ao encontro do que
já foi referido anteriormente, no qual a dimensão “Coping negativo” está associada a um nível
baixo de bem-estar psicológico, estando esta forma associada positivamente às dimensões que
se relacionam com um menor bem-estar psicológico, “Cognitivo-emocional negativa” e
“Ansiedade”. Também está negativamente correlacionada com a escala que se relaciona com
o bem-estar, a dimensão “Cognitivo-emocional positiva”.
A dimensão “Uso de substâncias” tem uma correlação baixa e positiva com as escalas
“Cognitivo-emocional Negativa” e “Ansiedade”, o que significa que, se a primeira dimensão
66
aumentar, as outras também o irão fazer. Esta correlação vai ao encontro do referido acima
acerca da relação entre o consumo de substâncias e o bem-estar psicológico, voltando assim a
reforçar uma ligação entre o consumo de substâncias e níveis inferiores de bem-estar
psicológico, que se traduzem por valores mais elevados ao nível das escalas “Cognitivo-
emocional negativa” e “Ansiedade”.
Os resultados destas correlações mostram que a forma de coping que se utiliza está de facto
relacionada com o bem-estar psicológico e que, ao usar estratégias como o “Coping positivo”,
estas irão ter uma influência positiva no bem-estar do sujeito, ao passo que, se se usar
estratégias mais negativas como o “Coping negativo”, que passa pela negação, desistência e
culpabilização, o bem-estar psicológico irá ser inferior.
Será também de realçar que as dimensões “Humor”, “Religião” e “Expressão de
sentimentos” não têm correlações significativas com nenhuma das dimensões do bem-estar
psicológico, o que significa que o aumento ou o decréscimo das dimensões das estratégias de
coping não têm influência nas dimensões do bem-estar psicológico. Seria importante analisar
as razões pelas quais não existem correlações entre estas dimensões.
67
6. Conclusão
A obesidade na infância e na adolescência é uma doença complexa que não afeta as pessoas
apenas fisicamente, mas também psicologicamente e socialmente, sendo que para além de esta
doença ter consequências físicas, também pode trazer consequências psicológicas, como
depressão e ansiedade, o que pode diminuir o bem-estar psicológico do jovem. Para além disso,
na literatura em adultos é referido que existe relação entre estratégias de coping e obesidade.
Desta forma, nesta investigação, o objetivo principal foi o de compreender a relação entre o
bem-estar psicológico e as estratégias de coping em adolescentes com e sem obesidade.
Ao nível do bem-estar psicológico, será importante referir que os resultados obtidos nos
permitiram concluir que, apesar de existir uma tendência para que os jovens com excesso de
peso tenham piores níveis de bem-estar psicológico, apenas se encontram diferenças
significativas entre os dois grupos na dimensão “Apoio social”, demonstrando que os jovens
com excesso de peso se percecionam como não tendo uma rede de apoio social tão boa quanto
os jovens com peso normal.
Relativamente às estratégias de coping utilizadas nos jovens com excesso de peso e nos
jovens com peso normal, os resultados demonstraram que a estratégia mais utilizada por ambos
os grupos foi a estratégia de “Coping positivo”, que engloba estratégias que promovem o iniciar
a ação para remover ou circunscrever o stressor, pensar sobre o modo de se confrontar com
este, aceitar que o evento stressante é real e fazer o melhor da situação a partir dela. Para além
disso, embora se tenha concluído que não existem diferenças significativas entre os jovens com
peso normal e com excesso de peso ao nível das estratégias de coping utilizadas, há uma
tendência para que os jovens com excesso de peso utilizem mais a estratégia “Humor” e menos
as dimensões “Utilizar um suporte” e “Religião”.
Estes resultados devem ter em conta o número reduzido de jovens com excesso de peso da
amostra (N=40), pelo que uma investigação com uma amostra superior deverá ser realizada
com o objetivo de explorar estas relações mais profundamente.
Para concluir, segundo o que se conseguiu apurar pelos resultados obtidos, percebeu-se que
o excesso de peso é um fator que influencia o bem-estar psicológico ao nível da perceção do
apoio social. Relativamente às estratégias de coping, não se conseguiu mostrar que existia
alguma correlação significativa entre estas e a obesidade na adolescência.
68
7. Implicações Clínicas
Relativamente às implicações clínicas, é importante referir que esta investigação pretende
explorar novos caminhos no que diz respeito ao processo de avaliação e intervenção em
adolescentes com excesso de peso. Apesar de não se terem encontrado muitos resultados com
diferenças significativas entre os dois grupos, será relevante mencionar que se demonstrou
existir uma tendência para o bem-estar psicológico nos adolescentes com excesso de peso ser
inferior e que existiram de facto diferenças significativas ao nível da perceção do apoio social
dos jovens com excesso de peso.
Assim, de acordo com estes resultados e através da compreensão do bem-estar psicológico
desta população, este estudo poderá ser um auxílio na forma como se lida com os adolescentes
com excesso de peso na consulta clínica, trabalhando com eles não só ao nível da promoção de
um bem-estar psicológico superior, mas também poderá ser possível auxiliar estes adolescentes
a conseguir construir melhores relações com os outros e consigo próprios, aumentando assim
os níveis de perceção de apoio social experienciados.
Apesar de não se terem encontrado diferenças significativas ao nível das estratégias de
coping utilizadas pelo grupo com peso normal e o com excesso de peso, seria importante
clinicamente observar cada jovem específico relativamente às estratégias de coping que estes
utilizam, de forma a compreender se estas são as mais adaptativas de acordo com as situações
que vão experienciando. Isto será relevante não só para uma utilização mais adequada das
estratégias de coping, mas também porque ao se utilizarem estratégias de coping mais
adaptativas, o bem-estar psicológico poderá melhorar, assim como a perceção de apoio social.
Para além disso, também se poderá trabalhar com os jovens com excesso de peso ao nível
da promoção de competências sócio emocionais, e com os resultados encontrados poder-se-á
focar principalmente ao nível do apoio social, ajudando os jovens a ter relações adequadas com
os outros, de forma a que possam usufruir de uma rede social em que se sintam seguros e
apoiados.
69
8. Limitações e Investigações Futuras
A principal limitação desta tese prende-se com o facto de a amostra de adolescentes com
excesso de peso ser reduzida, sendo composta por apenas 40 jovens. Obtendo uma maior
amostra poderia tornar os resultados mais precisos e generalizáveis. Dessa forma, para uma
investigação futura, seria importante obter um número de adolescentes com excesso de peso
mais elevado. Seria também interessante perceber se existem diferenças entre os jovens
portugueses com pré-obesidade e com obesidade ao nível do bem-estar psicológico e das
estratégias de coping.
Outra limitação do estudo, ao nível da amostra, é o facto de haver uma grande discrepância
entre o número de raparigas que participaram no estudo (66,2%) e o número de rapazes
participantes (33,8%). Num estudo futuro, seria importante obter um número semelhante de
rapazes e raparigas de forma a que o estudo possa ser generalizável à população.
Ao nível do questionário Brief COPE, trouxe algumas limitações, nomeadamente pelo
facto de a escala de “Ruminação” não ter um valor de alfa de Cronbach aceitável. Isto levou a
que esta escala tivesse de ser excluída. Desta forma, seria importante voltar a fazer uma análise
fatorial com uma amostra superior, de forma a compreender se estes resultados se mantém.
Dado que os resultados apresentados nesta investigação não apresentam muitas alterações
significativas entre grupos, seria importante compreender como é que os jovens se percecionam
a eles próprios em termos de peso, de forma a perceber se estes resultados se devem ao facto
de não haver mesmo diferenças entre grupos ou se estes poderão estar relacionados com o facto
de os jovens se percecionarem mesmo de forma diferente da que apresentam fisicamente, como
por exemplo por acharem que têm um peso normal quando o IMC deles os apresenta como
tendo obesidade.
Na sequência das limitações encontradas é importante referir as investigações futuras,
procurando colmatar algumas destas falhas e desenvolver o campo da investigação no coping
e a sua ligação com outras variáveis.
Uma possível investigação a realizar no futuro seria a de aplicar estes questionários em
várias zonas do país, com vista a uma generalização dos resultados obtidos. Esta linha de
investigação iria permitir, em simultâneo, uma visão abrangente da obesidade na infância e na
adolescência em Portugal, das implicações desta no bem-estar e nas estratégias de coping e
visão compreensiva das diferenças específicas que pudessem ocorrer em cada zona do país.
Seria também importante fazer uma comparação entre os jovens com peso normal e os
jovens com excesso de peso em contexto clínico, de forma a entender se o bem-estar
70
psicológico e as estratégias de coping poderão variar em função do excesso de peso. Esta
comparação abria assim espaço para que houvesse uma exploração e compreensão mais
profunda e abrangente das diferentes características e especificidades dos adolescentes com
excesso de peso, abrindo o caminho para novas investigações e avanços neste campo.
Para além disso, seria relevante juntar outros métodos de recolha de dados, que permitissem
complementar os resultados obtidos e fornecer dados mais profundos. A realização de uma
metodologia qualitativa, com entrevistas poderia ser interessante dado que a metodologia
quantitativa, apesar de ser muito útil a correlacionar as diferentes variáveis, demonstra algumas
limitações relativamente ao significado de cada item para o jovem. Assim, replicar o estudo
com uma amostra superior e utilizando métodos quantitativos e qualitativos seria importante
para compreender na totalidade as implicações da obesidade para os jovens.
71
9. Referências Bibliográficas
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77
10. ANEXOS
Anexo A
Folha de rosto dos questionários
Instruções
Estamos interessados em saber o que pensas e como te sentes em relação a alguns aspetos
da tua vida. As tuas respostas ajudar-nos-ão a compreender os jovens da tua idade. Para isso,
lê atentamente todas as questões e responde aos questionários que se seguem.
Não há respostas certas ou erradas. Deverás escolher a resposta que mais se identifica
contigo. A participação no estudo é voluntária, pelo que podes desistir a qualquer momento
e não serás, de forma alguma, prejudicado(a). As respostas que irás dar são anónimas e
confidenciais e servem apenas para este estudo.
Qualquer dúvida que tenhas, não hesites em pedir esclarecimentos.
Anexo B
Escala de Bem-Estar Psicológico para Adolescentes (EBEPA)
Apresenta-se a seguir uma lista de frases que representam sentimentos, pensamentos e opiniões que
possas ter tido, em relação a ti próprio, durante as últimas semanas (3 a 4 semanas). Assinala, no
quadrado respetivo, a frequência com que os tiveste, durante esse período de tempo.
Não há respostas certas nem erradas. Responde com sinceridade, pensando apenas em ti.
Durante as últimas
semanas… Sempre
A maior
parte das
vezes
Bastantes
vezes
Algumas
vezes
Raras
vezes Nunca
1.Achei que era capaz
de fazer as coisas tão
bem como os outros
2. Tive um/a amigo/a
íntimo/a que me
compreendeu mesmo
3. Achei que era capaz
de ser suficientemente
bom no trabalho escolar
4. Senti-me triste e
desencorajado a ponto
de achar que já nada
valia a pena
5. Gostei de mim
próprio
6. Andei irritado
7. Consegui ver o lado
positivo das coisas
8. Achei que a minha
vida sem qualquer
interesse
9. Tive um/a amigo/a a
quem pude contar os
meus problemas
10. Gostei das coisas
que fazia
11. Senti-me nervoso,
tenso
12. Senti-me uma
pessoa feliz
13. Estive empenhado
nas coisas que fazia
14. Senti-me ao ponto
de explodir
Durante as últimas
semanas… Sempre
A maior
parte das
vezes
Bastantes
vezes
Algumas
vezes
Raras
vezes Nunca
15. Tive colegas ou
amigos com quem pude
passar os meus tempos
livres
16. Achei que nada
aconteceu como
esperava
17. Tive dores de
cabeça
18. Achei que era capaz
de resolver os meus
problemas do dia-a-dia
19.Achei que tinha
alguém com quem
desabafar
20.Senti-me ansioso,
preocupado
21. Achei que não tinha
nada a esperar no futuro
22. Achei que não era
capaz de fazer nada bem
feito
23. Senti dificuldade em
me acalmar
24.Aconteceram na
minha vida coisas que
gostei
25.Achei que tinha
alguém
verdadeiramente meu
amigo
26. Senti-me tão em
baixo que nada me
conseguiu animar
27. Achei que era capaz
de resolver os
problemas que tive com
amigos
28. Tive colegas ou
amigos com quem
gostei de estar
Anexo C
Brief COPE
As questões seguintes focam-se no modo como as pessoas lidam com os problemas da vida. Há muitas
maneiras para tentar lidar com os problemas. Estes itens questionam o que fizeste para lidar com este
problema. Obviamente, diferentes pessoas lidam com as coisas de modo diferente, mas estamos
interessados no modo como tu tentaste lidar com este problema. Cada item expressa um modo
particular de lidar com o problema. Queremos saber em que extensão fizeste aquilo que o item diz.
Não respondas com base no que te pareceu ter sido eficaz ou não - mas se fizeste ou não isso. Tenta,
em pensamento, classificar cada item separadamente dos outros. Responde como foi para ti com o
máximo de verdade.
Não há respostas certas nem erradas. Responde com sinceridade, pensando em ti.
Nunca
faço isto
Faço isto por vezes
Em média é isto que
faço
Faço quase
sempre isto
1. Refugio-me noutras atividades para me abstrair da situação
2. Concentro os meus esforços para fazer alguma coisa que me permita enfrentar a
situação
3. Tenho dito para mim próprio(a): “isto não é verdade”
4. Refugio-me no álcool ou noutras drogas (comprimidos, etc.) para me sentir melhor
5. Procuro apoio emocional de alguém (família, amigos)
6. Simplesmente desisto de tentar lidar com isso
7. Tomo medidas para tentar melhorar a minha situação
8. Recuso-me a acreditar que isto esteja a acontecer comigo.
9. Fico aborrecido e expresso os meus sentimentos
10. Peço conselhos e ajuda a outras pessoas para enfrentar melhor a situação.
11.Uso álcool ou outras drogas (comprimidos) para me ajudar a ultrapassar os problemas
12. Tento analisar a situação de maneira diferente, de forma a torná-la mais positiva
13. Faço críticas a mim próprio
Nunca
faço isto
Faço isto por vezes
Em média é isto que
faço
Faço quase
sempre isto
14. Tento encontrar uma estratégia que me ajude no que tenho que fazer
15. Procuro o conforto e compreensão de alguém
16. Desisto de me esforçar para lidar com a situação
17. Procuro algo positivo em tudo o que está a acontecer
18. Enfrento a situação levando-a para a brincadeira
19. Faço outras coisas para pensar menos na situação, tal como ir ao cinema, ver TV, ler,
sonhar ou ir às compras
20. Tento aceitar as coisas tal como elas estão a acontecer
21. Sinto e expresso os meus sentimentos de aborrecimento
22. Tento encontrar conforto na minha religião ou crença espiritual
23. Peço conselhos e ajuda a pessoas que passaram pelo mesmo
24. Tento aprender a viver com a situação
25. Penso muito sobre a melhor forma de lidar com a situação
26. Culpo-me pelo que está a acontecer
27. Tenho rezado ou meditado
28. Enfrento a situação com sentido de humor
Anexo D
Folha de consentimento informado para os Encarregados de
Educação
Pedido de Participação em Investigação
Caro Exmo(a) Sr(a) Encarregado de Educação,
Vimos por este meio solicitar a participação do seu educando(a) num projeto de investigação
no âmbito do mestrado integrado em psicologia, da Faculdade de Psicologia da Universidade
de Lisboa, realizado por Marta Rosa com a coordenação da Professora Doutora Luísa Bizarro.
A dissertação de mestrado tem como tema “Bem-estar Psicológico e Estilos de Coping em
adolescentes com e sem Obesidade”, sendo que o objetivo desta investigação será o de
compreender o bem-estar psicológico dos jovens, bem como perceber quais são os estilos de
lidar com situações stressantes que os adolescentes mais utilizam, e se haverá alguma
discrepância destes valores entre os adolescentes com um peso considerado normal e os que
têm obesidade. Neste sentido, gostaria de pedir a colaboração do seu educando, no
preenchimento de 2 questionários com duração aproximada de 10 a 15 min, numa única sessão.
A participação no estudo é voluntária, pelo que o seu educando(a) poderá sair do estudo a
qualquer momento e não será, de forma alguma, prejudicado(a). A informação facultada no
questionário destina-se apenas a fins de investigação académica, sendo completamente
confidencial. Para qualquer esclarecimento adicional ou se desejar conhecer os resultados da
presente investigação, que será realizada em linguagem não técnica, poderá contactar a
investigadora através do seguinte endereço de e-mail: martafc_rosa@hotmail.com.
Desde já agradeço a vossa atenção e preciosa colaboração.
A aluna de mestrado, A orientadora,
________________ _____________________ Marta Rosa Professora Doutora Luísa Bizarro
Eu, encarregado de educação de ___________________________________ (nome do aluno)
declaro que tomei conhecimento do objetivo do estudo e compreendo que participação do meu
educando é estritamente voluntária, anónima e confidencial. Li e compreendi o conteúdo
presente neste consentimento, fui esclarecido (a) em todos os aspetos que considero
importantes e autorizo a participação nesta investigação.
______________________________
Data:__/__/____ (Assinatura do Encarregado de Educação)