Post on 22-Jul-2016
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"Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando pordinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível."
AZUL(um livro sobre a felicidade)
de Geraldo Tinôco
Prefácil
Neste livro Azul gostaria de fazer uma homenagem a todos que já deixaram este mundo, quenão puderam continuar a vida. Nesse mistério, em que todos nós estamos mergulhados,acredito que a maior homenagem é proporcionar aos vivos mais uma fonte para sentirem maisvivos. Gostaria de pedir um favor: se algo neste livro foi de proveito, por favor compartilhe.
Seja bem-vindo,Geraldo Tinôco.
Mergulho neste azulDe sentimentosAfogo-meNeste oceanoBravo
Com o pouco ar que me restaMergulho mais fundoBem no fundoDe um lugar que ainda desconheço
Não sei o por quêPara onde ir?MergulhoMergulhoMergulho
Não tem chãoTampouco fundoPor todos os ladosUma linha infinitaQue não alcança a visão
Por ser bom jogadorContrariar as possíveis regras da física é um bom movimentoNão tem nenhum lugar, qual rumo?O combustível é só de ida (não tem volta)Melhor é adiante
Rangem os dentesOs músculos viram pedrasO rosto toma uma só expressãoMais fundo e mais fundoDemasiada é a pressãoÉ preciso continuar
Mais fundo
Mais fundoMais fundo
Já não preciso do arFico bemOs pensamentos são desnecessáriosO Azul toma conta de todo meu corpoAquele mar bravo que me falava grosseiramenteAgora é mansoChegamos!?§
João e o Oceano
Nasci com o sorriso do meu paiE nos braços da minha mãe.Ela teve que ir embora cedo,Disseram que foi cuidar de uns anjos lá no céu.
Quando criança, aprendi a trabáia,Aprendi a ser forte até quando o corpo não aguenta o peso do esforço.Parei de contar as gotas do meu suorQuando toda aquela água represô e virô um rio.
Meu pai não se demorô pra ir emboraFiquei triste, mas aliviado em saber que minha mãe tinha uma companhia.Não aprendi a ler porque não tive tempo,E o pouco que me restava mal dava pra descansar à noite.
Ai, quando tudo pareceu ficar sem sentidoApareceu uma companheira, trabalhadeira igual eu.Não tinha medo de pegar pesadoE o rio dela se encontro com o meu.
A gente era jovem quando arrumamos um empregoNa fazenda de um sinhô.Tínha casa e trabaio não faltava.A pele da cara tava tão grossa que nem o sol a gente sentia mais.Eu fui feliz e sabia.
A dignidade me deu filhosE ao contrário dos pais, eles foram para escola,Depois para a universidade.Nuunca tiveram que trabaiá até então.Eu acostumei a dormir pouco e fazer o dinheiro render.
Nas férias dos estudos, eles nem vinham nos visitarColocavam a culpa no tédio
Dizem que roça num tem festaFicô eu e minha muié, de novo, sozinhos.
Tenho medo do tempo passarE às vezes penso que meu pai e minha mãeEstão em algum lugar a me esperar.
Mas sabe de uma coisa?Nessa altura, juntando todo o meu suor com o da minha muiéJá dá pra fazer um oceanoQue deixo pros meus filhosE o azul é tão bonitoQue dá até vontade chorar.§
A memóriaÉ a coisa mais lindaQuando guardada e relidaPelo coração
Sobre o passadoÉ depositado um sentimento
Quando olho para os olhos da memóriaVejo um amor que já foi vivo,Fisicamente,E hoje é vivo eternamente.
Quando olho novamente para seus olhosSinto saudade e gratidão,Qual é o preço para recompor um segundo?O que a memória faz de graça,O universo não faz gastando mil estrelas.§
Meu casamento veio com as águas de MarçoEscondido dos ventos de AbrilProtegeu-me do frio de MaioVelou-me pelo solstício de JunhoMeu casamento se desfez na secura de Julho
Sofri pelo azar de AgostoEnsaiei meu primeiro sorriso com os brotos de SetembroDancei com as primeiras gotas de chuva de OutubroRenovei minhas esperanças em NovembroRezei todo DezembroEm Janeiro renasciEm Fevereiro encontrei um novo amorMeu casamento veio com as águas de Março.§
O infinitoÉ mais que finitoPara quem sabe sonhar
As estrelas são contáveisPara quem tem tempoPara imaginar
É de cegar os olhosTanta massa e concretoE velocidade
Da uma felicidadeIr para o meio do matoE saber que elas estão sempre aliE sempre estiveram
Ganha-se tempoPara perdê-lo
Que prazer enormeParar para recontarQuantas estrelas tem no céu.§
NasciNu da razãoTenho muito para agradecerA tantas pessoas.
Vestiram-me com amorCom a arte da paciênciaEnsinaram-meSobre a luz e as trevasEnsinaram-me a caminhar
Gastaram seu tempoTempo é vidaE a cada gastoUm pouquinho a mais que se morre.
Tenho tanto para agradecerA tantas pessoasQue sou o que souGraças a boa intençãoDe muitos.§
Queria continuar um poema de GullarA Adélia falou que não,Deixou claro que no trem não cabia,Era sentimento demais.
Drummond concordou,Falou que José era um chato e não gostava de passeio.
Pessoa chegou com ErosE mostrou para Camões, que estava cansado do amor.Neruda tentou ajudar,Mas Wilde, com toda rebeldia,Fez o poema correr.
Blake, com sabedoria,Capturou tudo num pincelE me deu de graça e sem explicação.
E eu flertei com a tinta,Por causa de um sorriso. §
O meio fioQue divide em dúvida a lembrançaFaz do homem um romeiro
O azedumeFê-lo sério em brincadeiraCrente no in-crível
Ele acredita na vida velhaDeseja que sua tigelaApague da barriga a ideia da fome
Na última estaçãoO passageiro esperaQue passe tremChamado esperança.§
Você que faz do ponto de ônibusA sua sala de estarDos pedestresEstranhos dentro de sua casa
Você que desejaE não pode terVocê que não tem idade para contrapor aos instintos corporais
Você, sem tempo para semear sabedoriaVocê que teme por sua saúdeNão tem em quem confiar e para onde ir
Você de sorriso banguelaDe esperança cansadaVocê de olhos sem brilhoVocê medroso do assalto
Você que é parte do futuroVocê a quem o tempo não pertenceVocê que vive só do presenteVocê que não sonha
Você que deseja morar numa próxima estaçãoQue machuca sem saberVocê que é só pedraPra quem não quer te ver.§
Achei tudo muito infantilPorém em um mundo onde os dados são jogados as escurasO ato pôde ser tolerável§
A vida novamente bateu a minha portaPara mostrar quem era.Levou toda a minha tranquilidadeQue pensei ter conquistado para sempre.
Ela bateu a minha portaTomou conta da minha energiaPara mostrar de perto o meu drama.Eu, homem formado,Deitei na cama como um menino.
Porém, naquele momento,O tempo tinha me levado muitas pessoasNem colo eu tinhaOlhei para a única coisa que me restava:Uma janela.
Através dela eu vi o lixeiro,Vi o vendedor e uma pessoa que atravessava a rua.Num primeiro momento, tive pena da minha fragilidade.
Mas, a força da fé e da honra me fez levantar.Com a humildade apreendida,Pude fazer como homem:Que mesmo sem saber o que fazerEscuta seu coraçãoSem perguntar por que bate.§
Não vou forçar,O que flui como água.§
Se eu estivesse perdidoGostaria que me achasseMesmo que eu estivesse escondidoDentro do meu serEu gostaria que me achasse.
A ilusão de que se está perdidoVive no discurso de quem nunca se procurou.Quem procura e não se encontraQuer ser achado.Mesmo que se pague com a esperançaO peso da ilusão.§
Olho para o ladoE vejo um monte de gente bacanaTentando organizar a vidaSem trabalho,Flertando no amorSe arriscando em coisas não duradouras.
Muitos assim.Andar é importanteO que não pode é ficar parado.§
Se um dia perguntarem o que é um sorriso,Diga que além de tanto osso,É algo que sorri atrás do dente,É algo que vai além da boca e da gargantaÉ algo além dos músculos
E diga que metade é seuE a outra metade,Da pessoa para quem você sorriu.§
É muito fácil achar motivos para ficar triste,Encontrar motivos para ser feliz é para poucos.
O que as pessoas tristes tem que aprender sobre a vida,É que as pessoas guerreiras e alegres são uma lição de vida.§
Não quero amar pelo resto da vida,jogar a responsabilidade do presente para o futuro.§
Meu filho,Perdoe a minha ausênciaSeu pai queima o tempoPara te trazer a comida
Perdoe o meu cansaçoPerdoe a minha impaciência,Fruto do fel de cada dia
Perdoe a minha ignorância,Não tive tempo.Perdoe meus amigos,Que perderam a esperançaDe me ensinar sobre o amor.
Perdoe a minha dúvida em relação a sua mãePerdoe o flerte das minhas palavrasQue só dão voltas quando querem atingir o alvo
Perdoe meu olhar pesadoPerdoe o meu abraço duroPerdoe o meu sorriso guardadoPerdoe aquele a quem a vida só deu trabalho§
No dia que você estiver fora do jogo,Vai se arrepender da violência que praticou.§
Se nada mais me restasseE eu estivesse no fundo do poçoEu iria atrás de um sonhadorQualquer um que fosse
E ficava ao seu ladoPerguntando a todo momento de seus sonhosEu fingiria que também sonhavaPegava emprestado o sonho que eu não tinha
Faria isso repetidas vezesAté que sem perceber, algum eu já teria:Talvez lembrado dos antigos,Talvez criado novos.
Não desistiriaPorque os sonhos são os alicerces do mundoO motivo da sobrevivênciaA causa da felicidade.§
Se eu estivesse erradoPor reverenciarAquele que passou e não deixou um sorriso.Aceitaria o erro.
Não posso negarQue fico gratoPor cada um que passouApesar do que deixou.§
Mãe
Algumas por acasoOutras por escolhaAlgumas sorrindoOutras chorandoAlgumas acompanhadasOutras sozinhas
A mesma barrigaA mesma raçaO mesmo períodoA mesma trajetória
Onde através da dorFaz-se o partoOnde das assasFaz proteção
Cresce nu o filhoNum mundo já em movimentoSem escola faz-se professoraDe uma matéria hostil
Passa o tempoVão os filhosE a maternidade fica
Como tatuagemEstampa no rostoSer mãe:Que coragem.§
Quando falaram que o mundo estava feito,Eu pensei: O que vou construir?Chorei.
Quando falaram que o mundo estava descoberto.Eu pensei: O que vou descobrir?Desesperei.
Enquanto caminhei,Minhas convicções confirmaramO mundo está cru, nu e cegoE estou no lugar certo.
Pensei:Invente uma nova dançaComo se não soubesse do passadoInvente uma nova dançaComo se o tempo não fosse passar
Invente uma nova dançaE enquanto estiver em movimentoEnsine uma nova dançaPara os laços da memóriaPara os fios dos sonhos
Invente uma nova dançaQue o outro possa dançarDance, dance muito
Dance esta nova dançaEnquanto puderPara que possam aprender a dançar
Para que possam te ensinarQuando você esquecer,Como um sonhadorQue ensina a seu filho que nuvem pisar.
Assim, por mais que o cenário exija linearidade,Prefira o movimentoPois, onde há dançaHá vida.§
Patrimônio
Quando seu amorChegou a minha portaSó a moldura haviaO meu dicionário perdeu a tradução de: individual, grade e solidão.
Dei-me ao luxo de acreditar no destinoDepois de tanta transformaçãoPousei em certa estabilidadeQue só pode ser criada a dois.
Não pensei duas vezesEm abrir mão de coisas do mundoQue só alimentam uma juventude famintaE aprendiz.
A palavra requinteEu carrego em minha agendaProcuro pelos cantosAs coisas belas que podem ser compartilhadasNa intimidade de dois.
Verei o tempo passar sobre nossas retinas fatigadas,Imagino as nossas rugasMas peço a Deus para que eu possa sempre ver no fundo de seus olhosA vitalidade que protege a metade do meu coração.Que cada dia possa ser celebrado como o último.
Agradeço a vocêPela confiança em mim depositada neste matrimônioQue me fala sobre essa coisa lindaQue é sonhar sobre o nosso futuro,E porque não seria,O futuro do mundo.§
Isso não é só uma palavra,não é só um poema,é um universo.§
Há um tempoFiquei tristePorque me faltavaUm pouco de conhecimento
Isso fez com que eu fosse atrás do que não sabia
E firme com o que encontreiA tormenta se amenizouAtivo jogadorTornei-me novamente euAutor do meu destino,Dividindo solidariamenteAs cartasCom o universo§
Minas
Se eu pudesseCongelar o sol por detrás da semente de capimNum momento de cor laranjaSubindo a montanhaCheia de orvalho
Se eu pudesseGuardar o cheiro de terra molhadaSe eu pudesseGuardar a umidade nos meus dedos que tocam as plantas
Se eu pudesseGuardar tudo isso num poemaTalvez não caberiaPois se guardo isso tudoTenho que adicionar a saudadeQue é grande demais.§
Na minha juventudeEu tinha vaidadeUsava chapéu de lebreMinha esposaVestidos bordados
Quando vieram meus filhosDeixei de importar comigoE com as coisas de luxo
Fiquei simplesPobreTodo investimentoSe escoou para os primogênitos
Com o desapegoAprendi a ser rico.§
Já que nos encontramosVamos fazer da nossa felicidade discretaPara que não venha nos bater na porta os curiososPara que não venham medir o nosso amorO nosso amor é sem medida
Vamos ser discretosPara que nossos amigos não venham nos aconselharPara que as filosofias não nos alcancem
Vamos ser discretos como o silêncioQue está em todos os lugaresPara que possamos ir no nosso ritmoSem que alguma máquina nos acelere
Vamos esconder tudo em nossos sorrisosVamos andar pelas ruas de mãos dadasPresentear todo mundoPara que saibam da felicidade
Vamos guardar no olhar a nossa gratidãoPara que ao olhar-nosSaibam de nossa serenidade
Vamos sósPorém em comunhãoVamos discretosPara que possamos ter o máximoDo nosso amorQue é só de nós dois.§
Não importa o que façaProcure por um amor
Se está tristeDeprimidoProcure um amor
Posso garantir que ele existeO amor a doisCom alma e coraçãoSei porque vivi
Procure o amorSe for precisoRefaça a féAcredite em outros santosNoutros deusesEm outras orações
ProcurePara viverPara que ao acordar fique mais levePara poder compartilhar o café da tardePara ter com quem conversar fiado antes de dormirPara poder acreditar em mais alguém
Eu que estava dormindoQuando veio a poesiaAcordei, liguei a luzFui buscar a caneta que estava longeNum quarto estava frio
Fiz tudo isso,Porque acredito.§
Aquele que vaiNão sabe o por quêSai do jogo sem poder olhar para trás.
O que ficaJá não sabeMas finge que não vaiPois, se fingisse saberJamais viveria.§
Que a gente faça da vidaUma homenagemPara aqueles que não puderam continuar.§
copyright © 2013 Geraldo TinôcoTodos os direitos reservados do autor
RevisãoAlexandre MagalhãesISBN:Edição digital: Setembro 2013Arquivo ePub: Simplíssimo Livros