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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO
Curso de Fisioterapia
AVALIAÇÃO DAS INCAPACIDADES FÍSICAS EM
PACIENTES COM HANSENÍASE EM TRATEMENTO COM
POLIQUIMIOTERAPIA NO MUNICÍPIO DE EXTREMA - MG
Bragança Paulista
2011
TACIANA JERELUCY DE LIMA ZINGARI - R. A.: 001200500476
TÁSSIA DE LIMA CARVALHO - R. A : 001200800764
AVALIAÇÃO DAS INCAPACIDADES FÍSICAS EM
PACIENTES COM HANSENÍASE EM TRATAMENTO COM
POLIQUIMIOTERAPIA NO MUNICÍPIO DE EXTREMA - MG
Monografia apresentada ao Curso de Fisioterapia da Universidade São Francisco, sob a orientação temática do Prof. Ms. Sergio Jorge e orientação metodológica da Profa. Dra. Rosimeire Simprini Padula, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Fisioterapia.
Bragança Paulista
2011
ZINGARI, T. J. L.; CARVALHO, T. L. Avaliação das incapacidades físicas em pacientes
com Hanseníase em tratamento com Poliquimioterapia no município de Extrema – MG.
Trabalho de Conclusão de Curso defendido e aprovado na Universidade São Francisco.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________
Prof.º Ms. Sergio Jorge (Orientador)
Universidade São Francisco
___________________________________
Professora Especialista Nathalia Andreatti Aiello (Examinadora)
Universidade São Francisco
____________________________________
Prof.ª Dra. Rosimeire Simpini Padula (Examinadora)
Universidade São Francisco
A minha família, minha mãe e minha irmã por ter me proporcionado esses anos de estudo,
que esteve comigo o tempo todo da minha caminhada, incentivando, rindo e chorando ,
comemorando a cada conquista.
Aos meus colegas, pelos quais compartilhei experiências impagáveis.
A Universidade São Francisco por promover, através de seus educadores, o conhecimento
prático-teórico e principalmente humano através das convivências que selamos.
Tássia de Lima Carvalho
Primeiramente agradeço a Deus por permitir que eu tenha uma vida maravilhosa e
força para lutar em prol dos meus sonhos.
Aos meus irmãos, meus melhores amigos, presentes divinos.
Ao meu pai querido e minha mãe que apesar de todas as dificuldades que passamos,
sempre estiveram comigo estendendo a mão e me confortando.
Aos meus avós Cida e Nicola que construíram uma família baseada no amor, na união
e com valores humanos indescritíveis.
A toda minha família, meus colegas de trabalho, minhas amigas e a todos aqueles que
passaram pela minha vida me apoiando e incentivando nessa luta.
Taciana J. Lima Zingari
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, que guia nossos caminhos e ilumina nossos pensamentos, onde
mostrou-nos a direção e não nos deixou fraquejar diante das dificuldades, alimentando nossa
fé e perseverança durante toda essa caminhada.
Às nossas famílias a quem devemos nossa eterna gratidão por nos amparar em seu ventre
sempre nas horas difíceis de cansaço e decepções, mas que com paciência soube olhar com
amor e bons olhos toda a nossa dedicação.
Professor orientador Ms. Sérgio Jorge, que com o pouco tempo conseguiu completar com sua
experiência e conhecimento nosso trabalho, apesar da pouca comunicação, conseguimos
atingir em parceria nossos objetivos.
Ao Sr. André Ap. Borges, diretor do departamento de saúde do município de Extrema, que
possibilitou a realização deste trabalho e toda sua equipe, em especial a enfermeira Ana Lucia
Olivotti Eto que colaborou de maneira efetiva com o trabalho, por contribuir com a coleta de
dados, parte fundamental para realização do nosso trabalho e a todos por confiar na nossa
proposta.
À professora Doutora Rosimeire Simprini Padula por nos proporcionar durante esse semestre
conhecimento técnico do trabalho e ajudar-nos no desenrolar a parte técnica, por pegar no
nosso pé e por fazer reconhecer-nos a importância da persistência.
Taciana J. Lima Zingari e Tássia de Lima Carvalho
“ No Egito, as bibliotecas eram chamadas de
tesouro dos remédios da alma. De fato é nelas
que se cura a ignorância, a mais perigosa das
enfermidades e a origem de todas as outras”
Jacques Bossuet
RESUMO
Introdução: A Hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo M. leprae. A
predileção pela pele e nervos periféricos confere características peculiares a esta moléstia,
tornando o seu diagnóstico simples na maioria dos casos. As seqüelas decorrentes desta
patologia podem levar a incapacidade física do indivíduo, portanto a prevenção de
incapacidades e a minimização de seus efeitos quando já instalada é de suma importância para
qualidade de vida. Objetivo: avaliar e estimar a prevalência de incapacidades em pacientes
com hanseníase que estão em tratamento com poliquimioterapia. Método: O estudo incluiu 19
pacientes com diagnóstico de Hanseníase da cidade de Extrema, que encontravam em
tratamento e sob supervisão com PQT. Foi utilizado formulário da avaliação neurológica
simplificada, estesiômetro, canetas esferográficas. Foram excluídos da avaliação os testes de
acuidade visual e catarata. Os dados finais foram analisados através de estática descritiva,
freqüências relativas e absolutas, usando o programa Excel Windows 7. Resultados: No
exame físico, 31,5% dos pacientes apresentaram ressecamento de nariz, acompanhados ou
não de ferida e perfuração de septo. Foram encontrados uma pequena porcentagem com
diminuição de sensibilidade córnea, ardor em olhos e formigamento distal de membros
superiores, triquíase e ectrópio. Espessamento de nervos foi apresentado 78,9% do total de
pacientes em membros superiores ulnar, mediano e membros inferiores fibular e tibial
posterior. Somente 10,5% queixaram-se de dor em extremidade superior acompanhada ou não
de choque. Ao teste de força muscular, a maioria dos pacientes apresentaram diminuição de
força em membros superiores e inferiores. De acordo com a classificação operacional 47,36%
era da forma multibacilar e 10,5% da forma paucibacilar para sexo masculino. No sexo
feminino, 87,5% na forma multibacilar e 12,5% . Quanto à localização da Hanseníase foi
encontrado que pacientes masculinos com grau 0, 10,5% portavam incapacidades. No grau I
foi mostrado que 31,5% apresentavam incapacidades. No grau II, 15,78% (n=3) com
incapacidades. Nos olhos, para grau 0, I e II foi encontrado 0. Já no sexo feminino, 15,78%
(n=3) para grau 0 de incapacidades. No grau I 26,3% (n=5) apresentavam incapacidades e
5,2% (n=1) incapacidade em olhos. No grau II o estudo não mostrou incapacidade para o
sexo feminino. Conclusão: Os pacientes, no momento da avaliação, em sua maioria
apresentaram algum grau de incapacidade, sendo encontradas alterações oftalmológicas, em
estruturas nasais e neuromotoras afetando extremidades de membros superiores e inferiores.
Palavras-chave: Hanseníase, avaliação, diagnóstico precoce, prevenção e controle.
ABSTRACT
Introduction: Leprosy is a chronic infectious disease caused by M. leprae. The predilection
for skin and peripheral nerves confers peculiar characteristics of this disease, making the
diagnosis easy in most cases. The consequences of this pathology can lead to physical
disability, however, so the prevention of disabilities and to minimize their effects when they
installed is very important for quality of life. Objective: To evaluate and estimate the
prevalence of disability in patients with leprosy who are treated with multidrug therapy.
Method: The study included 19 patients diagnosed with leprosy in the city Extreme, which
were treated with MDT and under supervision. We used simplified form of the neurological
assessment, esthesiometer, ballpoint pens. Were excluded from the evaluation tests of visual
acuity and cataract. The final data were analyzed using descriptive static, absolute and relative
frequencies, using Excel Windows 7. Results: On physical examination, 31.5% of patients
had dryness of the nose, with or without wound and septum. We found a small percentage
with decreased corneal sensitivity, burning eyes and tingling in the distal upper limb,
ectropion and trichiasis. Thickening of the nerves was presented 78.9% of patients in the
upper ulnar, median and lower limbs peroneal and posterior tibial. Only 10.5% complained of
pain in upper extremity with or without shock. When muscle strength testing, most patients
showed a decrease of strength in upper and lower limbs. According to the operational
classification was 47.36% of multibacillary and paucibacillary of 10.5% for males. Among
females, 87.5% in multibacillary and 12.5%. As for the location of leprosy was found that
male patients with grade 0, 10.5% carried disabilities. In grade I was shown that 31.5% had
disabilities. In grade II, 15.78% (n = 3) with disabilities. In the eyes, to grade 0, I and II was
found 0. In the females, 15.78% (n = 3) for 0 degree of disability. In grade I 26.3% (n = 5)
had disabilities and 5.2% (n = 1) inability to eyes. In grade II the study showed no disability
for females. Conclusion: Patients at the time of assessment, most of them had some degree of
impairment, ocular found in nasal structures and neuromotor affecting the extremities of the
upper and lower.
Keywords: Leprosy, evaluation, early diagnosis, prevention and control.
LISTA DE ABREVIATURAS
M. leprae- mycobacterium leprae
MB- Multibacilar
MMII- membros inferiores
MMSS- membros superiores
OMS- Organização Mundial de Saúde
PB- Paucibacilar
PQT- Poliquimioterapia
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Classificação operacional em relação a idade e sexo.
TABELA 2-Quantidade de paciente por acometimento e sexo.
TABELA 3- Espessamento neural, por nervos e número de pacientes.
TABELA 4-Grau de incidências das lesões de acordo com o grau e o sexo.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................13
2. JUSTIFICATIVA......................................................................................................20
3. OBJETIVO.................................................................................................................21
3.1 OBJETIVOS GERAIS................................................................................................21
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS......................................................................................21
4. MÉTODO....................................................................................................................22
4.1 CASUÍSTICA............................................................................................................. 22
4.2 MATERIAIS UTILIZADOS.......................................................................................22
4.3 PROCEDIMENTOS....................................................................................................23
4.4 ANÁLISE DE DADOS................................................................................................23
5. RESULTADOS............................................................................................................24
6. DISCUSSÃO................................................................................................................28
7. CONCLUSÃO.............................................................................................................31
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................32
REFERÊNCIAS................................................................................................................33
ANEXOS............................................................................................................................36
ANEXO 1 AVALIAÇÃO NEUROLOGICA SIMPLIFICADA..................................37
ANEXO 2 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO....................40
ANEXO 3 AUTORIZAÇÃO PARA PESQUISA........................................................42
1- INTRODUÇÃO
A Hanseníase tem afligido a humanidade desde tempos passados. Afetou todos os
continentes e deixou para trás uma imagem terrível na história e na memória humana - de
rejeição, mutilação e exclusão da sociedade. A Hanseníase colocava medo nos seres humanos
há milhares de anos, e foi bem reconhecido nas mais antigas civilizações da China, Egito e
Índia. Um total acumulado do número de indivíduos que, ao longo dos milênios, sofreu seu
curso crônico da desfiguração incurável e deficiências físicas não podem ser calculados
(OMS, 2011).
Lepra, palavra hebraica tsara’ath, como foi citada no Antigo Testamento, tinha forte
ligação entre a doença e impureza física espiritual e moral, iniciava-se aí o estigma da doença,
porém o termo englobava diversas manifestações clínicas que não somente o que conhecemos
hoje como Hanseníase (MELLAGI, MONTEIRO, 2008).
Desde de 500 a.C., existe registro da doença, com origem na Índia e em seguida
relatados casos no sudeste asiático, China e África. 200 anos depois foram registrados casos
na Europa, os quais possivelmente foram trazidos pelas tropas de Alexandre, o Grande,
durante as cruzadas, onde a doença atingiu altos níveis. Em meados do século XVI, a
Hanseníase foi trazida para o continente americano pelos imigrantes europeus e, mais tarde,
também pelos escravos africanos (OPROMOLLA, LAURENTI, 2011).
Em 4 de dezembro de 1697, foi emitido um pedido da Câmara do Rio de Janeiro,
pedindo a Portugal a instalação de um lazareto na igreja da Conceição, sendo este o primeiro
documento que comprova a doença no país (OPROMOLLA, LAURENTI, 2011).
A trajetória dessa moléstia permite verificar que parte da visão medieval acerca da
doença e seu de seu portador conseguiu chegar até nosso século e que, malgrado o avanço da
ciência, medidas de exclusão continuaram a ser praticadas em nome da defesa do bem estar da
coletividade. Mesmo após a descoberta de uma terapêutica eficaz contra a doença, medidas de
exceção, segregação e violência continuaram a ser praticadas contra o doente, e estas também
alcançaram seus familiares (MONTEIRO, 1998).
Mesmo com relatos desde a Antiguidade, somente em 1873, o bacilo causador foi
descrito, o Mycobacterium leprae, norueguês Gerhard Amauer Hansen. É bacilo álcool-ácido
resistente, parasita intracelular com predileção pela célula de Schwann e pele, identificada
como causadora de doença no homem (ARAÚJO, 2005).
Com o objetivo de eliminar a doença, no Brasil, em 1924 foi determinada a internação
compulsória dos doentes e suspeitos, de forma violenta, eram capturados e internados nos
hospitais-colônias, também chamados de leprosários, suas casas e pertences eram queimados.
Eram então tratados com fitoterápicos, até que em 1945 iniciou o tratamento com sulfona
(ALVES et al., 2011). A sulfona passou a ser em 1943, o tratamento básico da doença, após
os resultados apresentados por Faget (OPROMOLLA, LAURENTI, 2011).
Em abril de 1948, no 5º Congresso Internacional de Lepra de Havana, Cuba,
iniciavam-se discussões sobre internações compulsórias, alta de doentes e transferência para
tratamento em dispensários, devido aos resultados promissores do tratamento com a sulfona.
No entanto, até janeiro de 1950, com a edição da Lei Federal 1.045, de 02/01/1950, que
dispunha sobre a concessão de alta aos doentes de lepra, e a Portaria nº 11, de 08/03/1950, do
Serviço Nacional de Lepra - SNL, que regulamentava essa lei, o SNL não havia mudado sua
orientação, mantendo, como política pública de saúde, o isolamento dos hansenianos
(OPROMOLLA, LAURENTI, 2011).
No Brasil, a revelia das recomendações internacionais que desde a década de vinte já
desaconselhavam o isolamento do doente, a prática profilática adotada foi a do isolamento
compulsório, o que contribuiu para alicerçar na população conceitos errôneos já existentes
sobre a doença, Emílio Ribas, diretor do serviço sanitário, em 1916, estabeleceu as bases para
esse novo modo de controle e acompanhamento da doença, porém somente em 1970 a
Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, aboliu o termo “lepra” e seus derivados, o que
vinha para fortalecer a conceituação correta sobre a doença (LOMBARDI, 1979;
MONTEIRO, 1998).
A PQT (poliquimioterapia), introduzida como tratamento padrão para a Hanseníase
em 1981, foi responsável pela redução significativa da carga global dessa enfermidade nas
últimas duas décadas. Entretanto, novos casos continuam a surgir em países endêmicos e a
Hanseníase ainda é a principal causa de incapacidade física permanente entre as doenças
infectocontagiosas. Dessa forma, há necessidade de prevenção e vigilância constantes para
monitorar e lidar com as recidivas, a possível resistência aos medicamentos e mesmo o
ressurgimento de novos casos (OPROMOLLA, LAURENTI, 2011).
A fonte de infecção é o homem, e o seu contágio se dá através do contato entre
indivíduos sadios e casos contagiantes da doença (multibacilares) sem tratamento
(RESENDE, 2009).
A transmissão do M. leprae se faz pelo contagio direto, embora haja a possibilidade de
se processar por método indireto (objetos contaminados, vetores). Admite-se que a inoculação
ocorra pela mucosa nasal e, ocasionalmente, pela pele (soluções de continuidade) (SAUAIA,
2010).
Os fatores genéticos, ambientais, o estado nutricional, a vacinação contra o Bacillus
Calmete Guérin (BCG) e a imunidade estão envolvidos na susceptibilidade em adquirir a
doença (MELÃO et. al., 2011). A vacina BCG deverá sem aplicada somente nos contatos
saudáveis (SALES et al., 2011).
As principais características de susceptibilidade de transmissão da doença são contato
familiar e consanguinidade, porém a carga bacilar é o fator mais relevante quanto ao contágio
(SALES et al., 2011).
A literatura nos traz que cerca de 80% da população em geral é naturalmente resistente
à doença. O sistema imunológico, integrado pela existência da imunidade inata adaptativa
protege contra infecções de várias etiologias, incluindo bactérias. Diversos fatores são
relatados como resposta imune a essa bactéria, porém como não há possibilidade de cultivar a
mesma em laboratório e o único hospedeiro é o homem, as pesquisas não têm resultados
validados (RADA. et al., 2009).
A disseminação da Hanseníase no mundo está associada tanto a condições
socioeconômicas, de higiene e sanitária precárias, bem como a fatores biológicos. A
epidemiologia da doença tem lacunas, porém sabe-se que sua endemia encontra-se
principalmente em clima tropical com elevadas temperaturas e precipitações pluviométricas,
porém em regiões de clima temperado e frio, a Hanseníase também já apresentou incidências
altas, não obstante fosse eliminada sem uma explicação definitiva. Atualmente, 80% dos
casos novos concentram-se em países localizados na faixa intertropical, como Brasil, Congo,
Moçambique e Nepal. Ficando o Brasil com o país mais endêmico nas Américas e o segundo
no mundo, atrás da Índia. Sendo que no Brasil a maior incidência nas regiões norte com 54,25
casos/100.000 habitantes e nordeste com 31,53 casos/100.000 habitantes (PEREIRA et al.,
2011).
A predileção pela pele e nervos periféricos confere características peculiares a esta
moléstia, tornando o seu diagnóstico simples na maioria dos casos. Em contrapartida, o dano
neurológico responsabiliza-se pelas seqüelas que podem surgir. O diagnóstico precoce da
doença e o reconhecimento imediato dos quadros reacionais garantem a interrupção da cadeia
de transmissão e a prevenção das incapacidades físicas (ARAÚJO, 2005).
A doença afeta principalmente a pele, os nervos periféricos, a mucosa do trato
respiratório superior e também os olhos, além de algumas outras estruturas (OMS, 2011).
A neuropatia hanseniana tem uma evolução crônica, com situações agudas e
subagudas de maior gravidade, caracterizadas por processos inflamatórios relacionados com a
extensão da infecção, com as diferentes formas clínicas e com a quimioterapia, sendo,
portanto, uma neuropatia de manejo complexo. A monitorização adequada é o melhor método
auxiliar na decisão terapêutica, que pode envolver medidas medicamentosas, como o uso de
corticoesteróides ou a intensificação de seu uso, técnicas de Medicina Física e até cirurgias
descompressivas. A rotina de avaliação do sistema nervoso periférico compreende pesquisas
de sensibilidade, teste de força motora, testes de função autonômica e eletrofisiológicos
(MARCIANO, GARBINO, 1994).
O Ministério da Saúde, Brasil, 2002, classifica a doença de acordo com a apresentação
clínica, de quatro formas:
- Indeterminada: forma inicial, geralmente encontra-se apenas uma lesão e não há
comprometimento dos troncos nervosos, é mais comum em crianças;
- Tuberculóide: ocorre em pessoas com alta resistência ao bacilo, as lesões são poucas
e há distúrbios de sensibilidade associado, representada por granulomas bem organizados com
poucas microbactérias, podem causar perda de força muscular na região afetada;
- Dimorfa ou Borderline: é uma forma de transição número de lesões é maior,
formando manchas que podem atingir grandes áreas da pele, envolvendo partes da pele sadia,
o acometimento dos nervos é mais extenso.
- Virchowiana: caracterizada por lesões menos organizadas e com maior número de
bacilos. A apresentação clínica é polimórfica, variando desde alterações da pele com áreas de
dessensibilização e hipopigmentação, até lesões neurais mais graves ou acometimento de
outros órgãos, incluindo ossos e articulações.
Algumas pessoas podem ser resistentes ao bacilo de Hansen, constituindo os casos
paucibacilares (PB). As que não apresentam resistência ao bacilo são os casos multibacilares
(MB), sendo os principais transmissores da doença (PUCCI et al., 2011).
Há também uma classificação operacional, visto que o tratamento com
poliquimioterapia se dá a partir dessa classificação. Para diferenciação dos tipos devemos
contar o número de lesões enquanto os MB têm seis ou mais e resposta geralmente positiva
para bacilos ácido-resistentes, os pacientes PB normalmente têm menos de seis lesões de pele
(OFOSU, BONSU, 2010).
Casos MB que iniciam o tratamento com numerosas lesões ou extensas áreas de
infiltração cutânea podem ter um risco maior de desenvolver reações e dano neural após
completar as 12 doses. Esses casos poderão apresentar uma regressão mais lenta das lesões de
pele. A maioria desses doentes continuará a melhorar após a conclusão do tratamento com 12
doses. É possível, no entanto, que alguns desses casos não demonstrem qualquer melhora
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, BRASIL, 2010).
Os estados reacionais ou reações hansênicas são reações do sistema imunológico do
doente ao M. leprae. Podem ocorrer em casos PB como os MB. Os estados reacionais
ocorrem, principalmente, durante os primeiros meses do tratamento quimioterápico da
Hanseníase, mas também podem ocorrer antes ou mesmo após a cura do paciente. Os estados
reacionais são a principal causa de lesões dos nervos e de incapacidades provocadas pela
Hanseníase (SOUZA, 2010).
Existem dois principais tipos de reação hansênica:
- tipo 1: reação reversa também chamada ocorre apenas em pacientes com doença de
fronteira e está associada com edema, aumento eritema, ulceração potencial lesões de pele e
danos aos nervos,
- tipo 2: também chamada de eritema nodoso, é uma resposta inflamatória sistêmica que pode
se manifestar com febre, artralgias, mialgias, anorexia, nódulos eritematosos esparsos nas
superfícies das extremidades. Conjuntivite, neurite, ceratite, irite, sinovite, nefrite,
hepatoesplenomegalia, orquite e linfadenopatia também podem ocorrer (MASTRANGELO et
al., 2011).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Hanseníase é confirmada quando
o paciente apresenta baciloscopia positiva, lesão de pele com alteração de sensibilidade ou
espessamento neural. O comprometimento dos nervos periféricos é uma característica
marcante da doença, dando-lhe potencial para causar incapacidade física e deformidade no
paciente, atingindo principalmente a faixa etária economicamente ativa (PUCCI, 2011).
Esta doença representa, ainda hoje, um grave problema de saúde pública no Brasil.
Além dos agravantes inerentes a qualquer doença de origem sócio-econômica, ressalta-se a
repercussão psicológica ocasionada pelas seqüelas físicas da doença, contribuindo para a
diminuição da auto-estima e para a auto-segregação do hanseniano (EIDT, 2004).
A PQT inativa o M. leprae, porém não recupera nem reverte as deformidades físicas já
instaladas. Concomitante ao tratamento farmacológico, medidas de avaliação e prevenção das
incapacidades físicas e atividades de educação para a saúde, incluindo o autocuidado, devem
ser desenvolvidas (EIDT, 2004).
No que diz respeito ao Programa de Controle da Hanseníase, embora o Ministério da
Saúde realize avaliações anuais do programa aplicando seu instrumento de avaliação
composto por um conjunto de indicadores epidemiológicos e operacionais, este não subsidia a
análise do processo e dos resultados das intervenções empregadas nacionalmente para uma
redução da endemia, análise a influência da autonomia em suas quatro dimensões, política,
financeira, administrativo/gerencial e técnica sobre a intervenção que vem sendo assumida
pelos municípios brasileiros, a universalização do acesso da população ao diagnóstico e
tratamento da Hanseníase na rede básica de saúde (MOREIRA, 2009).
As análises sobre incapacidades em doentes de Hanseníase têm sido tradicionalmente
escassas nas atividades dos programas de controle. Embora a Ficha de Registro de Casos
Novos padronizada pelo Sistema de Vigilância Epidemiológica contenha itens para registro
das incapacidades físicas no momento do diagnóstico, tais informações não eram
consolidadas rotineiramente pelo sistema de informações (TRINDADE et al., 1987).
Estudos mostram ainda, que cerca de 20% dos pacientes com Hanseníase ou tratados
para Hanseníase podem apresentar incapacidades físicas e restrições psicossociais, chegando a
necessitar de algum tipo de intervenção na reabilitação e/ou continuidade dos cuidados
médicos. No Brasil, aproximadamente 23% dos pacientes com Hanseníase apresentam algum
tipo de incapacidade após a alta (FIGUEIREDO, 2009).
O monitoramento por meio do exame neurológico sistemático possibilita diagnóstico e
intervenção precoce em quadro de acometimento neural, reduzindo-se, assim, as chances de
se desenvolverem incapacidades (AGRAWAL et al., 1988).
O acometimento nervoso é responsável por conduzir a um dano neural, tanto com
alteração sensitiva como motora, os episódios de neurite considerados o fator determinante na
ocorrência de incapacidades, sendo considerada neurite a presença de dor espontânea ou a
palpação, num tronco nervoso periférico, acompanhada ou não de comprometimento da
função (PIMENTEL et al., 2003).
Os novos e efetivos esquemas de PQT da Organização Mundial de Saúde, adotados
pelo Brasil, não necessariamente evitam o dano neural. Na realidade, as melhorias
introduzidas na atenção ao paciente por causa da implementação da PQT, aliadas à sua
eficácia terapêutica, é que podem ser causa de uma diminuição da ocorrência do dano neural e
do desenvolvimento de incapacidades. A prevenção de incapacidades tem sido relegada a um
segundo plano, dentre as ações de controle, estando estas centradas no diagnóstico precoce e
tratamento adequado dos pacientes. Urge reconduzir as ações de prevenção ao nível de sua
indissociabilidade do diagnóstico e tratamento (VIRMOND, VIETH,1997). O termo
prevenção, em Hanseníase, tem sido utilizado, em larga escala, relacionado com medidas que
evitem o surgimento de incapacidades ou, se estas se fizerem presentes, com medidas que
previnam seu deterioramento. O paradoxo está no fato de que esta doença está inclusa
naquelas de interesse da saúde pública, exatamente devido ao seu alto potencial incapacitante.
Entretanto, os esforços das políticas de saúde concentraram- se quase que exclusivamente no
diagnóstico precoce e no seu tratamento.
De fato, esta estratégia visava a interrupção da cadeia de transmissão, o que, do ponto
de vista epidemiológico, é correto. Mas, como a incapacidade se encontra muito próxima do
diagnóstico, a possibilidade de sua instalação é mais ligada ao tempo do que às ações médicas
de controle (VIRMOND, VIETH, 1997).
Alguns conceitos são de suma importância quando refere se ao tema prevenção,
reabilitação o qual deve ser papel de todos profissionais da saúde, dentro deste conceito serão
abordados alguns deles. Prevenção de incapacidades em Hanseníase são medidas que visam
evitar a ocorrência de danos físicos, emocionais, espirituais e sócio-econômicos. No caso de
danos já existentes, a prevenção significa medidas visando evitar as complicações, enquanto
Reabilitação em Hanseníase é um processo que visa corrigir e/ou compensar danos físicos,
emocionais, espirituais e sócio-econômicos, considerando a capacidade e necessidade de cada
indivíduo, adaptando-o à sua realidade, ambas visam proporcionar ao paciente em todos os
estágios de doença e após alta, a manutenção e melhora de sua condição (VIRMOND,
VIETH, 1997).
2- JUSTIFICATIVA
Tendo em vista as repercussões nos indivíduos acometidos pela Hanseníase, a demora
para procura da unidade especializada e a incidência e prevalência da doença no Brasil e nos
diversos países do mundo, a avaliação neurológica apesar de obrigatória, muitas vezes não é
realizada por falta de um profissional preparado para isto. Este trabalho buscou mostrar a
importância da avaliação como peça chave na detecção precoce e na minimização das
incapacidades, uma vez que diagnosticadas precocemente podem ser revertidas.
3- OBJETIVO
3.1-Objetivos gerais
Este estudo teve como objetivo avaliar e estimar a prevalência de incapacidades em
pacientes com Hanseníase que estão em tratamento com PQT.
3.2-Objetivos específicos
Identificar o grau de incapacidades físicas através da avaliação da sensibilidade e do
teste de força muscular para pés e mãos, dos pacientes que já se encontravam em
tratamento de PQT;
Identificar as queixas dos pacientes em tratamento e
Fazer um levantamento dos dados e uma análise dos dados obtidos comparando com
os dados disponíveis na literatura de referência.
4- MÉTODO
Foi realizado um estudo do tipo transversal, incluindo 19 pacientes com diagnóstico de
Hanseníase em tratamento com PQT.
4.1 Casuística
O critério de inclusão foi determinado selecionando-se os pacientes que já se
encontravam em tratamento e acompanhamento com PQT, independente da forma clínica
(classificação operacional, sexo, idade) e estavam sob orientação e supervisão no setor de
epidemiologia da Cidade de Extrema.
4.2 Materiais
Foi utilizado formulário da avaliação neurológica simplificada preconizada pelo
Ministério da Saúde (ANEXO I), sendo aplicado:
Para avaliação da sensibilidade um estesiômetro, as áreas testadas foram aquelas
relacionadas aos dermátomos dos nervos ulnar, mediano, radial, fibular comum e tibial
posterior. Optou-se por esta técnica por ser um dos testes mais confiáveis e válidos para ser
utilizado no trabalho de campo, por ser um teste consistente e que possui cerca de 84% de
confiabilidade, 90%de sensibilidade e 80%de especificidade (CARVALHO et al., 2000).
Para preenchimento da mesma, canetas esferográficas verde, azul, lilás, vermelha e
preta da marca Maripel.
Para avaliação da força motora, preconiza-se o teste manual da exploração da força
muscular, a partir da unidade musculotendinosa durante o movimento e da capacidade de
oposição à força da gravidade e à resistência manual, em cada grupo muscular referente a um
nervo específico. A força encontrada foi graduada em uma escala de zero a cinco de acordo
com o grau de eficiência do músculo, segundo escala de Oxford (HOPPENFELD, 1999).
4.3 Procedimentos
Primeiramente o Projeto foi aceito pelo Comitê de Ética da Universidade São
Francisco pelo parecer CAAE 0093.0.142.000-11.
Os pacientes foram contatados através do Departamento de Saúde, com o qual os
mesmos têm vínculo terapêutico e os de referência. Foram orientados sobre a importância da
pesquisa e o método de avaliação, estando estes de acordo.
Depois de orientados e de acordo, assinaram um termo de consentimento livre e
esclarecido (ANEXO II) . A avaliação foi feita no Posto de Saúde da Cidade de Extrema, em
uma sala cedida pela equipe. A coleta de dados foi realizada no período do mês de agosto e
setembro de 2011, sendo um dia durante a semana, no turno da tarde.
O tempo de avaliação de cada paciente foi em média de 40 minutos.
Foram excluídos da avaliação os testes de acuidade visual e catarata, devido a
dificuldade de coleta desses dados, portanto para fins de resultados foram analisados os
fatores que indicam incapacidade em mãos e pés.
4.4 Análises de dados
Os dados finais foram analisados através de estática descritiva, freqüências relativas e
absolutas, usando o programa Excel Windows 7.
5- RESULTADOS
A amostra foi composta por um grupo contendo 19 pacientes, sendo 11 do sexo
masculino e 8 do sexo feminino.
No presente estudo foi visto que a média de idade do sexo masculino foi de
41,75±7,18, sendo que de acordo com a classificação operacional 47,36%(n=9) era da forma
MB e 10,5%(n=2) da forma PB. (Tabela 1)
Já no sexo feminino a media de idade foi de 53,5±15,10 mostrando 87,5%(n=7) na
forma MB e 12,5%(n=1) na forma PB. (Tabela 1)
TABELA 1 Classificação operacional em relação a idade e sexo
Sexo
Idade ( anos) Classificação
operacional
%sexo/N
Masculino 41,75 ± 7,18 MB 47,36(9)
PB 10,5(2)
Feminino 53,5 ± 15,10 MB 87,5(7)
PB 12,5(1) MB – Multibacilar PB – Paucibacilar
Na tabela 2, os acometimentos referem-se às queixas relatadas pelos pacientes e alterações
encontradas no momento da avaliação.
TABELA 2 Quantidade de pacientes por acometimento e sexo
Acometimento
Quantidade de pacientes
%(N)
Separação por
sexo F/M
Alterações nasais
Ressecamento de mucosa 31,58 (6) 2/4
Ferida 10,53 (2) 0/2
Perfuração de septo 5,26 (1) 1/0
Alterações visuais
Triquíase/ ectrópio 10,53 (2) 1/1
Diminuição da sensibilidade corneana 5,26 (1) 0/1
Ardor/ressecamento 5,26 (1) 0/1
Alterações neuromotoras em
MMII/MMSS
Formigamento 31,58 (6) 1/5
Dor 15,79 (3) 1/2
Choque 10,53 (2) 1/1
Hipoestesia 31,58 (6) 2/4
Anestesia 5,26 (1) 0/1
Garra 15,79 (3) 0/3
Reabsorção 5,26 (1) 0/1
Diminuição da força muscular 47, 37 (9) 5/4
Espessamento neural 57,86 (11) 4/7
F – feminino M – masculino
MMSS – membros superiores MMII – membros inferiores
O espessamento de nervos tanto em MMSS quanto em MMII, esteve presente em
57,86%(n=11) do total de pacientes. Vale ressaltar que os pacientes apresentam no exame
físico espessamento de MMSS e MMII, porém a amostra vai mostrar separadamente, MMSS
e MMII.
TABELA 3 Espessamento neural, por nervos e número de pacientes
Nervo %/N de pacientes
Fibular 57,89% (n= 11)
Tibial posterior 57,89% (n=11)
Ulnar 31,58% (n=6)
Mediano 36,84% (n=7)
Radial 36,84% (n=7)
Para MMSS foram avaliados nervo mediano, radial e ulnar e para MMII fibular e
tibial, dos 57,8%(n=11) que apresentaram espessamento: 31,5%(n=6) com espessamento de
nervos ulnar, mediano e radial a direita e a esquerda, dentre esses pacientes duas eram do sexo
feminino e três do sexo masculino; 5,2%(n=1) apresentou espessamento em ulnar esquerdo e
radial direito sendo do sexo feminino; 15,7%(n=3) em ulnar direito e esquerdo sendo dois do
sexo masculino e uma do sexo feminino; 5,2%(n=1) ulnar e mediano direito e esquerdo sendo
do sexo masculino.
Para MMII, foi encontrado 57,89%%(n=11) sendo que os dois nervos avaliados, tibial
posterior e fibular foram acometidos na mesma proporção, porém 40%(n=5) deles apresentou
acometimento bilateral, 18,18%(2) somente à esquerda e 41,82%(4 )à direita.
Do total de pacientes avaliados, 36,8(n=7) apresentaram diminuição da força muscular
em MMSS sendo: 31,5%(n=6) grau 4 de força muscular a direita e a esquerda para abdução
do quinto dedo, adução do polegar e extensão do punho, sendo quatro do sexo feminino e dois
do sexo masculino; 5,2% (n=1) apresentou força muscular diminuída para abdução do quinto
dedo direito e esquerdo sendo do sexo masculino. Em MMII 26,3%(n=5) apresentaram força
muscular grau quatro para extensão de hálux e dorsiflexão de pés à direita e a esquerda,
somando-se três do sexo feminino e dois do sexo masculino; 5,2%(n=1) apresentou apenas
força muscular diminuída para dorsiflexão à direita e esquerda sendo do sexo feminino e
5,2%(n=1) apresentou força muscular diminuída para extensão do hálux à direita e esquerda
sendo do sexo masculino.
Quanto à distribuição das incapacidades no sexo masculino, apenas 10,5% (n=2) não
apresentaram alterações, sendo que estes apresentaram grau 0 de acordo com a avaliação
neurológica, grau I de 31,5% (n=6), grau II de 15,78% (n=3). Já no sexo feminino foram
observadas incapacidades para grau 0 de 15,78% (n=3), no grau I de 26,3% (n=5) e com grau
II o estudo mostrou que não houve incapacidades para o sexo feminino. (Tabela 5)
TABELA 4 Grau de incidências das lesões de acordo com o grau e o sexo
MMSS - membros superiores; MMII - membros inferiores.
Masculino Feminino
%N %N
Grau 0 MMSS e MMII 10,5(2) 15,72(3)
Grau 1 MMSS e MMII 31,5(6) 26,3(5)
Grau 2 MMSS e MMII 15,78(3) 0
6- DISCUSSÃO
Em relação às queixas dos pacientes e achados do exame físico, o estudo mostrou que
um número importante de pacientes com alterações nasais 31,58%(n=6) sendo ressecamento
de mucosa nasal seguido ou não de ferida e perfuração de septo. Julio et al. (2010) concluiu
que 69,8% dos pacientes com Hanseníase apresentaram alterações nasais, sendo ressecamento
da mucosa nasal a mais freqüente em 38,2% dos casos.
Uma pequena porcentagem relatou diminuição de sensibilidade córnea, Cohen (2009),
em seu estudo relata que as alterações oftalmológicas em pacientes hansenianos são
influenciadas por condições multifatoriais e determinadas por outros processos que não da
Hanseníase.
Foi um achado importante na avaliação a presença de triquíase e ectrópio, salvo o
número de pacientes que foi pequeno. No estudo de Trindade et al. ( 1987) os olhos tiveram
menor registro de incapacidades, sendo na sua maioria conjuntivite e diminuição da acuidade
visual referida. Pedrazzanie et al. (1985) verificaram que o comprometimento mais freqüente
foi a alteração da sensibilidade da córnea (52,4%) seguido da madarose (40,7%).
Grande parte dos pacientes do estudo realizado 78,9% (n=15) apresentou algum tipo
de espessamento de nervos sendo eles radial, ulnar, mediano, fibular e tibial anterior com
mais de um nervo acometido podendo ser unilateral ou bilateralmente, dentre esses pacientes
73,6%(n=14) apresentaram algum grau de incapacidade. Com relação aos nervos afetados à
época do diagnóstico, Pimentel et al. (2003) mostrou que 34 pacientes (33%) não
apresentavam alteração de troncos nervosos periféricos e sessenta e nove pacientes (67%)
apresentavam acometimento nervoso, na primeira avaliação, entre os 69 indivíduos que
apresentavam nervos periféricos espessados e/ou dolorosos no momento do diagnóstico, 46
(66,7%) apresentavam também alguma incapacidade (GIAT maior do que zero). Houve
correlação estatisticamente significativa entre a presença de nervos periféricos acometidos no
exame inicial e a presença de incapacidades físicas no momento do diagnóstico.
Dos pacientes avaliados no presente estudo, uma pequena parcela queixou-se de dor
acompanhada ou não de choque na avaliação de MMSS, sendo relatadas em nervos ulnar e ou
mediano e ou radial. Já na avaliação de MMII, um paciente relatou dor em nervo tibial
posterior.
Pucci et al. (2011) relatam que em seu estudo 4,31% dos indivíduos queixaram se de
dor sendo o nervo mais acometido o tibial em 50% dos casos.
Os pacientes que apresentaram diminuição de força muscular 47,39%(n=9),
apresentaram grau 4 para extensão de hálux e dorsiflexão de pés a direita e a esquerda e grau
4 para abdução do quinto dedo, adução de polegar e extensão de punho sendo que entre eles
havia um número grande de pacientes com déficit para extensão de hálux e dorsiflexão de pés,
com grau quatro de força muscular e prevalecendo o sexo feminino. O que confirma a
descrição da literatura quando refere-se ao dano neural e sua capacidade de resultar em
alterações da função sensitiva e motora, causando estesiopatias e diminuição da força
muscular (BERNARDES, et al., 2009).
No estudo de Alves et al.(2010) foi encontrado predomínio de pacientes do sexo
masculino que faziam parte da classe economicamente ativa , 60% dos pacientes já haviam
apresentado algum grau de comprometimento funcional, no momento do diagnóstico sendo a
maioria desses pacientes grau I, 73% foram classificados como MB e 45 pacientes foram
classificados como Hanseníase PB. A média de idade encontrada neste estudo para os sexos
foi de 41,75 para sexo masculino e 53,5 para o sexo feminino, mostrando que a população
feminina era de mulheres com mais idade do que os homens, em 73,68%(n=14) havia
comprometimento funcional no momento da avaliação, a maioria com grau I, o que evidencia
que a população estudada tinha um número menor de índice de incapacidades mas com o
mesmo grau, sendo 84,21% dos pacientes com a forma MB e 15,78% da forma PB. Oliveira
et al. (1996) encontraram que cerca de 65,4% dos pacientes eram formas MB, e 34,6%, PB, já
no estudo realizado foram encontrados 47,36(n=9) do sexo masculino da forma MB e
10,5(n=2) PB, já nas mulheres os resultados foram de 87,5(n=7) com forma MB e 12,5(n=1)
PB, mostrando que a incidência de pacientes com a forma MB tanto no sexo masculino
quanto no feminino no estudo realizado. No estudo de Ramos e Souto (2010) eram: 93
(55,4%) de formas PB e 75 (44,5%) de formas MB. Houve predomínio das formas MB no
sexo masculino (54,8%) e das PB no feminino (74,7%; p= 0,001).
A grande porcentagem de pacientes com grau de incapacidade instalada no momento
do diagnóstico reforça a hipótese de que existe uma grande prevalência oculta que, além da
questão das deformidades e estigmatização dos pacientes, influi na manutenção da cadeia de
transmissão.
A média de idade do grupo de indivíduos que participou desse estudo foi de 46 ±
12,43 com idade entre 31 a 72 anos e houve predomínio do sexo masculino sendo
57,89%(n=11) . No estudo de Ramos e Souto (2010) a idade média foi 48,3 (18 a 85) anos e
houve predomínio do sexo masculino: 94 (55,6%).
7- CONCLUSÃO
Os pacientes, no momento da avaliação, em sua maioria apresentaram algum grau de
incapacidade, sendo encontradas alterações oftalmológicas, em estruturas nasais e
neuromotoras afetando extremidades de MMII e MMSS.
8 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os pacientes que apresentaram algum grau de incapacidade na avaliação inicial
evidenciam ter havido retardo para o diagnóstico, visto que esse se realizado precocemente e
realizada intervenção pode minimizar e evitar a ocorrência de acometimentos.
Ressalta-se também a importância da conscientização dos profissionais de saúde e
população em geral, treinamento e qualificação das equipes de saúde, quanto a esse contexto,
a fim de que haja controle e redução dos casos, principalmente pelo município encontrar-se
em uma região hiper-endêmica da doença.
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ANEXO II
TERMO DE CONSENTIMENTO ESCLARECIDO
Avaliação das Incapacidades Físicas em pacientes com Hanseníase em pacientes em
tratamento com poliquimioterapia no município de Extrema – MG.
Eu,................................... ................................ ........................ ......................................,
RG........................., abaixo assinado, dou meu consentimento livre e esclarecido para
participar como voluntário do projeto de pesquisa supra-citado, sob a responsabilidade
do(s) pesquisador(es) Sergio Jorge e de Tassia de L. Carvalho e Taciana de J. L. Zingari do
Curso de Fisioterapia da Universidade São Francisco.
Assinando este Termo de Consentimento estou ciente de que:
1 - O objetivo da pesquisa é verificar o grau de incapacidade física em paciente com
Hanseníase em tratamento com PQT.
2- Durante o estudo será usado para avaliação: avaliação das incapacidades físicas
simplificada, estesiômetro, escala de acuidade visual, fio dental sem sabor e canetas
esferográficas coloridas, a duração da avaliação será em media de 50 minutos;
3 - Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a
minha participação na referida pesquisa;
4- A resposta a este (s) instrumento(s)/ procedimento(s) não causam riscos conhecidos à
minha saúde física e mental, não sendo provável, também, que causem desconforto
emocional .
5 - Estou livre para interromper a qualquer momento minha participação na pesquisa, o que
não me causará nenhum prejuízo;
6 – Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos na
pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, expostos acima,
incluída sua publicação na literatura científica especializada;
7 - Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco para
apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa pelo telefone: 11 - 24548981;
8 - Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Sergio Jorge, sempre
que julgar necessário pelo telefone 011 2454 8000;
9- Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em meu
poder e outra com o pesquisador responsável.
Extrema, ______ de ____________ de 2011
_____________________________
ASSINATURA
_____________________ _____________________
Tassia de Lima Carvalho Taciana J. L. Zingari
________________________
Professor Sergio Jorge
Orientador responsável
Tel: 11 2454 8000
Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade São Francisco
tel: (0xx11) 2454-8981/ (0xx11) 2454-8028 e-mail comite.etica@saofrancisco.edu.br
ANEXO III
À Secretaria de Saúde da Cidade de Extrema
Eu Taciana J. Lima Zingari, RA. 001200500476 e Tássia Lima Carvalho RA.
001200800764, alunas do 7º semestre do Curso de Fisioterapia da Universidade São
Francisco, solicitamos a autorização da Secretaria Municipal de Saúde da Cidade de Extrema
para a realização da avaliação das incapacidades físicas em Hanseníase dos pacientes
cadastrados no setor de Epidemiologia do município. Este trabalho terá a orientação do
Professor Sergio Jorge e será submetido ao Comitê de Ética de citada universidade. Os
participantes deverão assinar termo de consentimento livre e escl arecido, concordando com a
participação no presente estudo. Após a conclusão do mesmo as acadêmicas se comprometem
a disponibilizar os dados coletados para a Secretaria.
Aguardamos deferimento.
Extrema, 10 de março de 2011.
______________________________________
Assinatura do Orientador
Sérgio Jorge
_____________________________________
Secretaria Municipal de Saúde