Post on 30-Oct-2020
Aulas Multimídias – Santa Cecília
Professor André Araújo
Disciplina: Literatura
Série: 2º ano EM
VIDAS SECASG R A C I L I A N O R A M O S – 2 º A N O –
P R O F. A N D R É A R A Ú J O
Graciliano Ramos
CARACTERÍSTICAS DO AUTOR
• Principal romancista da geração de 1930;
• engajamento social;
• ultrapassa tendências regionalistas – atinge o universal;
• PARTICULAR UNIVERSAL;
• atinge dimensão universal a partir de um exemplo individual.
Retirantes (1944), Cândido Portinari
CARACTERÍSTICAS DO ROMANCE
• Primeiro livro do autor em terceira pessoa – maior objetividade;
• capítulos relativamente independentes – cada um apresenta um ritmo próprio;
• o romance surge a partir de um conto que se transformaria no capítulo “Baleia”;
• característica circular e sem fim da “odisséia” dos retirantes – começa em “Mudança” e termina em “Fuga”.
“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos.”
“Mudança”
ESPAÇO FÍSICO
• O espaço é indeterminado – caráter universal da experiência da
seca no sertão;
• simbiose entre paisagem hostil e vida humana miserável;
• determinismo (Neonaturalismo) - influência do meio sobre o
homem que o habita;
• espaço hostil = homem animalizado.
TEMPO
• Indeterminado – confere caráter universal à narrativa;
• história em ciclo, espiral – inicia-se com a fuga de uma seca e termina com a fuga de outra;
• caráter incessante dos tormentos da seca sobre a vida do sertanejo, como se ela (a seca) fosse eterna;
• o tempo predominante não é cronológico, os fatos não ocorrem na ordem em que são narrados;
• tempo psicológico – os fatos se desenrolam a partir da memória e da interioridade das personagens.
LINGUAGEM
• Linguagem enxuta e seca, como a realidade retratada;
• vocabulário pobre e mirrado como a realidade morta do sertão;
• economia de linguagem, dizer o mínimo necessário –
dificuldade de comunicação das próprias personagens.
CAPACIDADE COMUNICATIVA
• Personagens carentes de linguagem, quase mudos –aproximam-se dos bichos;
• desprovidos de linguagem e pensamento – deixam de ser seres racionais;
• busca pela linguagem – meio de compreender a realidade que os cerca (a natureza hostil e a autoridade injusta);
• conflitos de linguagem das personagens – busca do próprio escritor por uma via de expressão dessa realidade;
• seres de linguagem – tão poderosos como a seca;• a exploração e a dominação são exercidas por aqueles que
detêm o poder da comunicação.
PERSONAGENS• Duplamente vitimados – pela seca e pela exploração
econômica;• ignorância, incapacidade verbal e falta de autoconsciência
– animalização;• carência total – não têm direito nem à terra nem à
linguagem;• desumanização – tornam-se seres brutos, coisificados,
reificados (do latim res, coisa);• perambulam por um mundo incompreensível, em busca
unicamente da sobrevivência;• suas trajetórias oscilam do nada ao nada – ao invés de do
nada ao ser;• indivíduos fechados, semimudos, presos à ignorância e
ao analfabetismo.
“—Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho.
Sim senhor, um bicho,
capaz de vencer dificuldades.
Chegara naquela situação medonha
— e ali estava, forte, até
gordo, fumando o seu cigarro de
palha.
— Um bicho, Fabiano.
Era. Apossara-se da casa porque não
tinha onde cair morto,
passara uns dias mastigando raiz de
imbu e sementes de
mucunã. Viera a trovoada.”
“Fabiano”
FABIANO• Significado do nome – indivíduo qualquer, desconhecido,
sem importância;• tipo – representa o sertanejo ignorante, sofredor e
explorado;• identifica-se com os animais – bicho;• coisa, escravo – não possui terra e é obrigado a trabalhar
para os outros;• sente-se mal perante outras pessoas – vive isolado do
mundo, acostumado à incomunicabilidade dos animais (choque de civilizações);
• interage com o mundo por meio da experiência sensitiva;• incapaz de se comunicar verbalmente – utiliza uma
linguagem gestual e onomatopéica.
“Não possuíam nada: se se retirassem, levariam a roupa, a espingarda, o baú de folha e troços miúdos. Mas iam vivendo, na graça de Deus, o patrão confia neles — e eram quase felizes. Só faltava uma cama. Era o que aperreava Sinhá Vitória.”
“Sinha Vitória”
SINHA VITÓRIA
• Ironia do nome – “vitória” aponta para uma existência feliz;
• Sinha Vitória – vencida pelo meio natural e pelo meio humano;
• ambições pequenas e limites estreitos – sua aspiração maior era ter uma cama;
• apega-se a sonhos mesquinhos como válvula de escape para sua realidade miserável.
Criança morta (1944), Cândido Portinari
OS MENINOS
• Os meninos não têm nome – são chamados apenas de “menino
mais velho” e “menino mais novo”;
• desumanização total – são coisas, não precisam de nomes;
• por serem meninos, ainda não “produzem”;
• por não produzirem, nada significam.
BALEIA
• Função de guia, companheira e responsável pela sobrevivência do grupo ao caçar;
• seu nome é o contrário de si mesma – franzina e habitante de um local árido e seco;
• mais capaz de se comunicar que os seres humanos;
• apresenta sentimentos e pensamento;
• animal humanizado – seres humanos animalizados (zoomorfismo).
“Olhou-se de novo, aflita. Que lhe estaria acontecendo? O nevoeiro engrossava e aproximava-se.Sentiu o cheiro bom dos preás que desciam do morro, mas o cheiro vinha fraco e havia nele partículas de outros viventes. Parecia que o morro se tinha distanciado muito.”
“Baleia”
DISCURSO INDIRETO LIVRE
• Narrador revela o interior das personagens;
• meio-termo – objetividade do narrador em terceira pessoa e subjetividade do narrador em primeira pessoa;
• atmosfera de imobilidade – pouca ação, predomínio da análise psicológica;
• revelação do universo mental fragmentado das personagens.
DISCURSO INDIRETO LIVRE
Fabiano também não sabia falar. Às vezes largava nomesarrevesados, por embromação. Via perfeitamente que tudo erabesteira. Não podia arrumar o que tinha no interior. Sepudesse... Ah! Se pudesse, atacaria os soldados amarelos queespancam as criaturas inofensivas. Bateu na cabeça,apertou-a. Que faziam aqueles sujeitos acocorados em tornodo fogo? Que dizia aquele bêbado que se esgoelava comoum doido, gastando fôlego à toa?
Sentiu vontade de gritar, de anunciar muito alto que elesnão prestavam para nada. Ouviu uma voz fina. Alguém noxadrez das mulheres chorava e arrenegava as pulgas.Rapariga da vida, certamente, de porta aberta. Essa tambémnão prestava para nada. Fabiano queria berrar para a cidadeinteira, afirmar ao doutor juiz de direito, ao delegado, a seuvigário e aos cobradores da prefeitura que ali dentro ninguémprestava para nada. Ele, os homens acocorados, o bêbado, amulher das pulgas, tudo era uma lástima, só servia paraagüentar facão. Era o que ele queria dizer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Em Vidas secas, Graciliano denuncia não só os problemas brasileiros, mas de todos os homens explorados pelo sistema capitalista excludente;
• no âmbito brasileiro, há a denúncia do sistema de concentração de terras nas mãos de poucos, lançando milhares na indigência;
• há também a denúncia do atraso do Nordeste e da miséria dessa região, em contraposição ao progresso do Sul.