As Sete Cidades do Arco íris

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As Sete Cidades do Arco-Íris

Written on Dezembro 17th, 2011 at 11:09 am by Historias Infantis

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1. “A caminho do arco íris”

Era o primeiro dia de férias. Chovera a manhã inteira, mas depoiso céu foi clareando e o sol de dezembro brilhou com animação.Ricardo morava num bairro afastado, e perto de sua casa havia umbosque muito bonito. Logo que a chuva cessou, o garoto seencaminhou para lá.Como estava agradável! O ar muito puro, um cheiro bom de terramolhada, um silêncio delicioso.O bosque estava silencioso demais… Nenhum passarinho cantava,nenhuma cigarra fazia música na tarde calma.O arco-íris apareceu, uma bela ponte de sete cores.Ricardo viu, numa clareira, uma pedra redonda. Era o único lugarseco depois da chuvarada, um banco perfeito. Sentando-se,encolheu as pernas, ficando um minuto imóvel pensativo.Quando quis mudar de posição, não conseguiu. Estava grudado noassento de pedra!< 8>

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Ouviu um zumbido estranho, sentiu uma tontura… Foi tudo muitorápido, e ao abrir os olhos admirou-se de não ver mais o solbrilhando nas árvores do bosque.Achava-se num compartimento de forma hexagonal, revestido deum material parecido com aço. Não havia portas nem janelas, mas oar era puro e uma luz difusa deixava tudo bem claro.Nisso, abriu-se na parede um retângulo, como uma tela detelevisão, e nele apareceu um homem de meia-idade.Tinha uma expressão ao mesmo tempo serena e enérgica; seuscabelos eram grisalhos, os olhos cheios de bondade. Os lábios nãose moveram, não se ouviu um som, mas seu cérebro transmitia umacorrente de pensamento:“Não tenha medo, estará entre amigos. Esta nave o levará ao nossoplaneta, que é muito parecido com o seu, embora pertença a outrosistema solar.< 9>

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Você foi especialmente escolhido para essa visita, saberá o motivoquando estiver entre nós. Use a caixinha que está a seu lado. É umreversor que o ajudará a comunicar-se com qualquer pessoa queencontrar”.

A imagem desapareceu e a tela se tornou invisível. Seria umsonho? Não, porque perto de Ricardo estava um objeto do tamanhode uma caixa de fósforos. De cada ponta saía um fio, e os dois sejuntavam num pequeno tubo de metal. Ricardo colocou no pescoçoaquele estranho “colar”.Estava numa nave espacial! A pedra na clareira do bosque deviaser um veículo intermediário que o transportara até as alturas, ondea nave estava escondida.Os cientistas do planeta desconhecido já deviam ter resolvidotodos os problemas de gravidade, temperatura, pressão e outros, poisRicardo se sentia tão à vontade como se estivesse numa sala de suacasa.Não vestia roupas especiais-espaciais! - mas nada o incomodava.Nem a imponderabilidade, ou falta de peso, nem a velocidade, quedevia ser muito maior que a do som ou da luz…Abriu-se outra vez o retângulo na parede. Pelas imagens quesurgiam, Ricardo podia acompanhar a rota da nave pelo Espaço.Via a Terra e os outros planetas em volta do Sol.Depois, outros planetas em volta de outro Sol! O terceiro planetadesse sistema solar estava em destaque, todo iluminado.A primeira vista, Ricardo pensou que fosse a Terra, mas reparou nadisposição diferente dos continentes. Além disso, ele tinha três luas.Ricardo não sabia se tinha perdido a noção do tempo, se o novoplaneta não ficava tão distante da Terra, ou se a velocidade da naveera do tipo além-da-imaginação… Percebeu que estava chegando.Os maiores empecilhos para as viagens espaciais são as distâncias,tão espantosas que são medidas em anos-luz.No entanto, aquela viagem pareceu curta!< 10>

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Ricardo se lembrou de um artigo sobre viagens pelas estrelas.Dizia que talvez existam outras dimensões no Espaço que tornariampossível a gente tomar “atalhos” para ir mais depressa de um ponto aoutro do Universo.A luz se acendeu e a nave pousou suavemente num solo firme.Abriu-se uma porta - até então invisível - e Ricardo saiu, um poucoatordoado pela emoção da aventura.Quando levantou os olhos, o estranho veículo já estava muitolonge no céu avermelhado. Não conseguiu vê-lo direito. O solo, océu, a vegetação, tudo era vermelho. Seria o planeta Marte? Não. Ohomem da nave tinha falado em outro sistema solar.Ricardo tomou a direção de uma cidade cujos altos edifíciosfaiscavam à luz do sol como se fossem rubis.Como seriam os habitantes desse planeta? Robôs, monstros ougente como a gente?A resposta veio mais depressa do que Ricardo esperava.< P>

2. “Rubi”

- Olá! - disse alguém.“Deve ser um sonho” - pensou Ricardo. “É impossível alguém falarportuguês por aqui.”A voz continuou:- Como vai? Fez boa viagem? Você está num planeta parecido coma Terra. Não vai estranhar nada.Agora na frente de Ricardo estava um garoto forte e bonito,aparentando uns doze anos.< 11>

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Ricardo ficou contente por encontrar um companheiro de suaidade. E ele falava português mesmo!- Não se admire - disse o garoto, vendo a cara espantada deRicardo. - Você se esqueceu do reversor? Posso falar a minha línguae você a sua. Ele traduz tão depressa que é como se a gente falasseigual.Ricardo, que tinha ficado mudo de espanto, recuperou a voz:- Oi! - saudou, de maneira amigável e bem brasileira.- Que é “oi”?- A gente diz “oi” para uma pessoa quando simpatiza com ela.- Obrigado, menino da Terra.- Meu nome é Ricardo. E o seu?- Sol - MiSoava como duas notas musicais!Não era possível traduzi-lo, e o reversor não o fez. E agora?Ricardo não achava delicado assobiar para chamar o novo amigo.Cantarolar a todo instante parecia esquisito. Daí, resolveu o caso deoutra maneira.- Olhe, vou chamar você de Rubi porque está todo de vermelho:Pode me dizer o que vim fazer no seu planeta?- Não sei… Fui escolhido para receber você e hospedá-lo em minhacasa. O Amigo disse que se tratava de uma visita muito importante.- Que amigo é esse?- O Amigo é o nosso governador.- Que modo estranho de chamar uma autoridade!- Ele não gosta de ser chamado de chefe ou de governador.Esse costume vem de longe, e em todas as cidades do nossoplaneta, meu pai disse, os governantes são chamados de Amigo.< 12>

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O primeiro de todos tinha um neto que não o tratava de avô, nempelo prenome. Só de Amigo. Ele gostava e queria que o povotambém o considerasse um amigo. Como nossos chefes são mesmo

os maiores amigos e protetores do povo, ganharam para sempre otítulo de Amigo.

- Agora eu entendi.- Vamos indo? Meu flutuador está aqui perto.- Que é isso? Um barco ou uma bicicleta espacial? Barco…bicicleta… Desta vez foi Rubi que não entendeu.Quando Ricardo explicou o significado dessas palavras na Terra, ogaroto deu risada.- Desculpe, mas essas coisas não existem mais por aqui. São muitoantigas. Venha ver o flutuador.Era uma espécie de cadeira voadora onde cabiam duas pessoas.Uma combinação muito prática de avião com automóvel.Não alcançava grande velocidade ou altura, mas era muito popularpor causa de seu manejo simples.Ricardo receava a acolhida da família de Rubi, mas todos oreceberam como a um amigo.Os pais do garoto eram jovens e amáveis. Rubi tinha umairmãzinha cujo nome parecia o som de um sininho de prata. Ricardocomeçou a chamá-la de Sininho, lembrando-se da fada da históriade Peter Pan.Havia também um rapaz mais velho que Rubi e muito calado. Eraatencioso com os pais e com o hóspede, ria das graças de Sininho,mas tinha um ar distante, uns olhos estranhos e tristes.A casa era maravilhosa, clara e ensolarada. Ricardo se espantou aodescobrir que fora construída de tal maneira que dava uma voltacompleta sobre si mesma a cada três horas. Assim, todos osaposentos recebiam sol à vontade.Depois de mil perguntas de parte a parte, a mãe de Rubi convidou:- Vamos almoçar, Ricardo, você deve estar com fome.O menino se levantou, um pouco indeciso. Não havia sinal demesa, pratos ou talheres…<13>

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A dona da casa apertou um botão. O chão se abriu e uma mesa, jápreparada, foi subindo devagarinho.Ricardo ficou tão admirado que todos acharam graça.A refeição foi cheia de surpresas.Primeira: os pratos musicais. Quando se colocava comida deles,ouvia-se uma melodia agradável. O melhor era que a gente podiaescolher a música que quisesse. Eles tinham uma etiqueta embaixocom o nome da música, como o selo dos discos.Segunda surpresa: frango sintético. Era servido em pequenospedaços, quadrados, iguaizinhos. E vermelhos, como tudo por ali.Terceira: panquecas de . . . petróleo! Deliciosas!Ricardo ia pedir a receita, mas, quando descobriu de que eramfeitas, desistiu.O frango também era bom, mas Ricardo sentiu saudade do frango

assado que sua mãe fazia. Perguntou a Sininho de que pedaço elagostava mais; a garota não entendeu e Ricardo percebeu que elanunca tinha visto um frango inteiro, nem vivo nem morto.< 14>

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Sininho estava curiosa, mas Ricardo achava difícil explicar comoera uma galinha.- O mentalizador pode ajudar - lembrou Rubi.- Está bem - disse a mãe de Rubi. - Mas só depois da sobremesa.Quero que Ricardo experimente os morangos, que estão ótimos.“Morango não é novidade” - pensou Ricardo. Mas aqueles eram,porque tinham o tamanho de maçãs, das grandes.Depois foram ver o mentalizador.Dois fios do pequeno aparelho eram colocados na fronte da pessoaque ia mentalizar, um de cada lado. Eles terminavam numa caixinhacheia de botões que parecia um rádio. Uma tela, embutida naparede, foi abaixada. Ligado o aparelho, era só a pessoa pensar numdeterminado objeto; animal ou pessoa e tudo aparecia, muito nítido,na tela vermelha.Ricardo pensou numa galinha rodeada de pintinhos irrequietos, eessa imagem deixou Sininho encantada.Para alegria da garotinha, Ricardo mentalizou um galo, patos emarrecos, perus, pombos, galinhas-d’angola, papagaios epassarinhos. Depois, para satisfação da mãe de Rubi, o frangoassado com batatas, grelhado, à milanesa. E mais um peru de Natalbem enfeitado e muitos outros pratos saborosos.E para que os amigos não pensassem que na Terra só haviacomida, ou que os terrestres são muito gulosos, Ricardo mostrou-lhes sua casa, seus pais, seus livros e brinquedos, a escola, oscolegas, suas distrações e esportes prediletos.Como o auditório estava muito entusiasmado, Ricardo disse, sempensar:- Seria tudo mais bonito se aparecesse colorido do jeito que é.< 15>

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Os amigos mudaram de assunto, muito perturbados.Sininho continuava animadíssima. Não parava de pedir ao pai quelhe comprasse uma galinha com uma porção de pintinhos.A roupa de Ricardo causava muita admiração. Não por causa dotecido, pois os da Cidade Vermelha eram muito superiores, à provade fogo, de água, de calor e de frio. O que interessava a todos era acor branca, ali desconhecida e muito apreciada.Ricardo nunca poderia imaginar que de agasalho branco deginástica e de tênis - traje de correr todos os dias no bosque - iafazer tanto sucesso.Para conhecer a cidade, tomaram o elevado: um tubo gigantesco

que corria sobre colchões de ar, a 900 quilômetros por hora.Os automóveis eram elétricos e só circulavam nos bairros. O centroda cidade ficava livre, um paraíso para os pedestres, queaproveitavam tranqüilamente a beleza das ruas e praças, cheias defontes, flores e crianças alegres. Tudo vermelho. Menos as crianças,é claro…- Ha outras cidades , além desta? - perguntou Ricardo, encantadocom tudo o que via.- Sim, e não ficam longe, mas pertencem aos inimigos.- Como? Vocês, tão adiantados, também têm guerras?- Não é bem uma guerra…Não lutamos, mas não temos amizadecom os habitantes de outras regiões. É uma história antiga. Veja, acidade mais próxima fica naquela direção.Os garotos estavam no topo de um edifício de sessenta andares.Via-se ao longe o contorno embaçado de alguns edifícios.- Vamos até lá? - convidou Ricardo.- Impossível. Aqui ninguém passa dos limites da cidade. Seriamorte certa, diz o povo. Meu irmão tinha a mania de conheceroutros lugares, mas meus pais ficaram tão desesperados que eledesistiu.< 16>

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- Que pena! Então tenho que ir sozinho…Até a volta, Rubi.- Você não vai voltar. Será preso ou…ou…Ricardo não queria pensar no que podia acontecer. Sua curiosidadeera muito forte. Partiu.Já fazia meia hora que ele caminhava pela estrada, de um vermelhocada vez mais claro, quando ouviu seu nome.- Ricardo, Ricardo, espere…Era Rubi que chegava no flutuador.- Não posso deixar você ir sozinho para uma região desconhecida.- Mas é desconhecida para você também.- Pelo menos, seremos dois.No flutuador, chegaram depressa à entrada da Cidade Alaranjada.Descendo do veículo encontraram um garoto vestido de douradoque brilhava num campo dourado.- Quer trocar de roupas comigo? Pode ficar com o flutuador.O garotinho, que não mostrara o menor receio, concordou. Tinhaentendido perfeitamente o que Rubi dissera e respondeu no mesmoidioma. As diferenças eram muito pequenas: como o modo de falardos paulistas e dos cariocas.Rubi vestiu a roupa ouro-alaranjada.As roupas de Ricardo se destacavam, muito alvas, naquelaimensidão alaranjada. Ele preferia apresentar-se comotinha vindo da Terra.- Esta cidade também parece uma pedra preciosa. Como eramesmo o nome da pedra amarelada? Topázio. Seu nome vai serTopázio.

Mal acabou de falar, uma cúpula transparente caiu sobre eles.Estavam presos numa gaiola de vidro!< P>< 17>

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3. “Topázio”

- Eu não disse? - queixou-se Rubi, vendo que não era possívelescapar.A cúpula de vidro começou a girar vertiginosamente. Ao mesmotempo foi se elevando e se dirigiu para o lado oposto ao da cidade.Como não tinha fundo, os meninos sentiam tonturas quandoolhavam para baixo. Não havia perigo de caírem. Com a velocidadeda rotação, eles estavam praticamente pregados nas paredes. Mas,acima das nuvens, não é brincadeira. E que maneira maisdesconfortável de viajar!Depois de alguns minutos, que pareceram horas, a gaiola começoua descer, sempre girando sem parar. Ainda bem, porque se parasseos meninos cairiam.Quando tocou o solo, ela começou a girar mais lentamente, atéparar por completo. Os garotos se desprenderam das paredes e comgrande alívio sentiram de novo o chão firme, coberto de relvaalaranjada.Do lado de fora, um garoto muito simpático olhava para eles.Quando a cúpula se levantou, o menino foi ao encontro dos recém-chegados.- Desculpem este vôo meio louco. Vocês estavam engraçados aídentro. Pareciam dois doces numa compoteira.Ele riu com tanto gosto que os outros o acompanharam.- Só se fosse gelatina - respondeu Ricardo. - Euestava tremendo.- E eu mais parecia um sorvete. Estava gelado - confessou Rubi.< 18>

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- Você, o de roupa esquisita, deve ser o visitante do Espaço. Evocê, com certeza; é dos nossos, embora fale de modo engraçado.Rubi não confirmou, nem desmentiu.O garoto continuou:- Meu nome é- Do - Ré - Mi- O meu é Ricardo, da Terra, e meu amigo se chama Rubi. Possochamar você de Topázio? É o nome que dei à sua cidade.- Está bem. Sabe, Ricardo, você só era esperado daqui a dois dias.Hoje não há ninguém na cidade por ser fim-de-semana. Eu, que fuiencarregado de recebê-lo, também estava no parque de descanso.Quando me avisaram de sua chegada, mandei a única condução

disponível…- Que horror! - disse Rubi. - Era melhor ser lançadopor um foguete.- Eu até fiquei com saudade dos ônibus da Terra na hora de maiormovimento.Rubi e Topázio não sabiam o que era ônibus.Ricardo explicou e eles acharam graça. Ali, a coisaera tão antiquada como são para nós atualmente os carrosde boi ou as diligências dos filmes de faroeste.Em Topázio, a cidade, os fins-de-semana duravam três dias e meio.Quase todo o trabalho era feito por máquinas, e assim o povo podiater um descanso mais prolongado.Iam todos para os parques, e ninguém perdia jogos ou passeios porcausa do mau tempo. O clima era controlado, e a temperaturasempre a mesma, muito agradável.No parque principal havia piscinas de todos os tipos: de águaquente, fria, doce, salgada, com perfume de flores ou de pinho. Sónão variava a cor, que, mais clara ou mais escura, era semprealaranjada.Enquanto os companheiros trocavam de roupa para nadar, Ricardo,já pronto, olhava pela janela do vestiário.< 19>

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Era a primeira vez que parava para observar a paisagem do parque.Via uma fileira de chalés cor de ouro.Desviou os olhos por um instante para falar com Rubi e, quandoolhou de novo para fora, a cena tinha mudado: viu um castelobrilhando ao sol.- Minha vista não anda boa. Estou vendo coisas…- Que coisas, Ricardo? Monstros ou fantasmas? - brincou Topázio.Não temos nada disso por aqui. Os fantasmas não se acostumaramporque preferem casas velhas. E monstros, só nas cidadesinimigas…Rubi disfarçou uma risada. Se Topázio soubesse…De repente, Ricardo deu um grito.- Não é minha vista, não! E sei que não estou louco! Venham ver!Depressa! Agora é um bosque, mas eu vi antes um castelo e umafileira de casas. Será que é mágica, é miragem, é ilusão?Topázio riu.- Calma. Você está certo. Esqueci de contar que o parque éflutuante. Estamos numa ilha que sobe e desce o rio conforme umroteiro planejado por nós. Você está vendo as coisas das margens.As roupas de Ricardo chamavam a atenção. Por causa delas, todossabiam que o garoto tinha vindo de um planeta distante. Tanta gentequeria conversar com ele que foi marcada uma reunião no clube dailha flutuante.Fazia calor naquela hora: No céu, de um alaranjado escuro, trêsluas de uma luminosa cor de laranja tinham um brilho suave. Com o

auxílio de um mentalizador, Ricardo projetou todas as cidades doBrasil que conhecia. Queria mostrar as cataratas do Iguaçu, o rioAmazonas, as belas praias de norte a sul e Brasília, cujamodernidade haveria de surpreender os topazianos. Mas ele nãoconhecia todos esses lugares:Estava pensando num colega que viajava muito, quando apareceuna tela a reprodução exata de uma praia de Ubatuba. Ricardo tinharecebido naquela semana um cartão-postal desse amigo que estavapassando as férias na praia.< 20>

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Foi assim que Ricardo descobriu: aquele mentalizador era muitoaperfeiçoado. O garoto conseguia projetar imagens de lugares queconhecia apenas pelos livros, cinema ou cartões-postais. Bastavaque se lembrasse bem.Assim, mostrou tudo de bom e de belo que tinha na mente e nocoração. Os amigos pediam mais. Ricardo mostrou as festas quemais apreciava: de aniversário, de casamento, de Natal e de SãoJoão. Aí apareceram os doces, os salgadinhos, os refrigerantes…Outra novidade do mentalizador: ele transmitia também o cheirodas coisas vistas - perfume das flores, aroma das comidas…As crianças ficaram doidas para provar os doces da Terra. Isso eradifícil… Mas Ricardo teve uma idéia. No verão sua mãe costumavafazer uma sobremesa gostosa, e tão simples que até ele sabia areceita. Se conseguisse os ingredientes…Consultou Topázio. O quê? Gelatina e leite condensado? Não seriadifícil encontrar um produto sintético muito semelhante.- Para um pudim de tamanho regular, aí para oito pessoas, nãomuito gulosas, preciso de uma lata de leite condensado e duascaixinhas de gelatina.- Vamos multiplicar por dez - disse Topázio, que saiu à procurados ingredientes.Voltou logo com o material necessário e num instante estavamcom nove doceiros voluntários que seguiam cuidadosamenteas instruções do doceiro-chefe, Ricardo: Para uma quantidadecorrespondente a duas caixinhas de gelatina, despejar duas xícarasde água quente e mais duas de água gelada. Deixar esfriar.Acrescentar depois uma lata de leite condensado e bater tudo numliqüidificador.- Agora é só colocar numa fôrma ou tigela e deixar gelar. Em casaa gente deixa na geladeira a noite inteira - completou Ricardo.- Nãããããoooo! - reclamaram as crianças. - É muito demorado.< 21>

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- Não é preciso esperar tanto - disse Topázio.Ele foi buscar recipientes especiais onde o doce foi despejado. Um

minuto depois ele estava firme, geladinho. Desenformados sobrepratos de vidro, ficaram perfeitos: a gelatina por cima, coroando ocreme de leite espumoso. Tudo alaranjado, embora a gelatina fossede morango. Mas ninguém estava se preocupando com as coresnaquele momento. Trataram de comer e comeram tudo. Gostarammuito da sobremesa terrestre, que ficou conhecida pelo nome deCreme Ricardo.Terminado o fim-de-semana, os três amigos queriam ir para acidade.- De compoteira, não - avisou Ricardo. - Prefiro ir a pé, por maislonge que seja.- E eu, prefiro a morte - declarou Rubi, que era muito exagerado.- Está bem… - disse Topázio. - Darei um jeito.Arranjou voadores individuais que pareciam mochilas com doispequenos foguetes nas extremidades.A Cidade Alaranjada era tão bela e cheia de novidades como aCidade Vermelha. Do que Ricardo mais gostou foi do automóvelelétrico. Interessado em levar um para a Terra, perguntou comofuncionava.- É simples - disse Topázio. - Mas só serve para estradas especiaiscom sistema de teleguiagem.Ricardo fez cara de quem não entendeu e o amigo explicou:- É uma estrada especial por onde passa uma corrente elétrica. Ocarro corre sobre ela a mais de duzentos quilômetros por hora. Écomandado por radar e pára, diminui a marcha, avança ou recuasozinho. O motorista pode ler, conversar, ver televisão, ficainteiramente livre.- Que maravilha! É o carro que eu sempre desejei.Topázio mostrava com prazer a sua cidade e só perdeu a alegriaquando Ricardo disse que pretendia continuar a viagem.- Então não gostou daqui?< 22>

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- Gostei muito, mas quero conhecer todos os lugares que puder.- Aí está, não pode. É muito perigoso.- Não vi perigo nenhum até agora. Até estou estranhando porquenão encontrei nenhum monstro ou bandido. Você já viu algum?- Eu também não, mas todo mundo diz que os moradores dasoutras cidades são maus.- Acha que Rubi é um inimigo?- Claro que não! Ele é “legal”, como você costuma dizer.- Pois Rubi veio da Cidade Vermelha. Trocou de roupa para entraraqui e ficou igualzinho a você.- Impossível!- É verdade - confirmou Rubi. - Eu também pensava que vocêsfossem monstros…Topázio pensou um pouco e decidiu:- Pois então vamos embora.

- Não vai avisar ninguém? - perguntou Ricardo. - Seus pais podemficar preocupados.- Vou dizer que ficarei fora alguns dias, a serviço do Amigo. Éverdade porque continuo à disposição do visitante, como ele pediu.Fez uma rápida ligação no seu relógio-telefone de pulso. Depoisdisse:- Vamos, vamos logo.Saíram voando. Lá adiante, onde o caminho se tornava de umamarelo pálido, desceram. A cidade estava à vista.Havia um pequeno problema a resolver: Rubi e Topázio, de roupasalaranjadas, logo seriam notados.A cidade parecia silenciosa, mas, ali no campo, gritos e risadasalegres soavam no ar de uma pureza incomparável.Os três amigos viram uma turma de garotos nadando numa lagoaamarela. Suas roupas estavam jogadas nas margens. Topázioperguntou se queriam trocar de vestuário, ganhando de quebra osvoadores. Concordaram entusiasmados.< 23>

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Rubi e Topázio vestiram-se depressa, mas Ricardo continuou comseu traje branco. Assim seria reconhecido facilmente como umgaroto da Terra.Para alcançar de novo a estrada, começaram a andar em fila, umpouco longe uns dos outros.De repente, Ricardo desapareceu.- Ricardo, Ricardo - chamaram os amigos, repetidas vezes.- Que brincadeira é essa? - perguntou Topázio a Rubi.- Não sei…que será que…começou Rubi.E de repente se apagou, como uma vela que alguém de muitofôlego tivesse soprado.- Eu tinha razão - disse Topázio, tão assustado que começava afalar sozinho. - Este lugar é peri…Não terminou a frase pois nesse instante ele também desapareceu…<P>< 24>

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4.”Heliodoro”

- Aí está ele - disse um rapazinho alto, afastando-se de um painelcheio de botões. - Olá, vejo que arranjou companhia.Tinha girado um daqueles botões, e, como uma luz que se acendequando apertamos um interruptor, três meninos surgiram de repentena sala clara.- Parece que andamos num tapete voador - disse Ricardo.O garoto da Cidade Amarela achou graça.- É mesmo. Um tapete voador, sem o tapete…Logo que vocês

entraram no campo magnético da cidade, eu os transferi pelotransportador. Fui encarregado de mostrar ao Visitante uma parte denossa cidade, o setor de estudos. Meu nome é- Fá - Lá - Sol - Mi< 25>

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- Eu sou Ricardo, da Terra. Sua cidade me faz lembrar do beriloamarelo, o heliodoro. Gostaria de chamar você por esse nome que émais fácil para mim. Heli será ainda melhor.- Está bem. Você parece entendido em gemologia.- Um pouco. Meu pai é que gosta de estudar as pedras preciosas,acabei me interessando.Quando perceberam que Heli era muito esperto, Rubi e Topázioficaram caladinhos. Não diziam uma palavra, de medo que o rapazpercebesse a diferença entre seus idiomas.As salas e os pátios do belo edifício de vidro amarelo estavamquase vazios.- Os alunos estão em férias? - perguntou Ricardo.- Não, mas você vai ver poucos estudantes. Eles só aparecem parapegar o programa semanal.- Ninguém assiste às aulas?- Não é preciso. Tem o professor eletrônico. É um aparelho comoeste aqui: uma combinação de televisor com discos de longaduração. Os alunos estudam em casa e podem interrogar o professorà vontade. Fazem perguntas por meio de um teclado de escritaautomática e o professor responde no vídeo.- Nós também… - começou Topázio, mas desistiu de contar o quedesejava.- Heli, acho que um garoto não estuda direito quando fica sozinhoo tempo todo. Ele se aborrece e larga os livros.- Isso não acontece aqui. Quem não estudar fica atrasado, não podeacompanhar a turma que vai para um estágio superior.- E o curso é demorado?- Não. Os garotos aprendem três vezes mais depressa depois quefoi descoberta a pílula da memória.Ricardo não disse nada. Deu um prolongado assobio de admiraçãoque valia por muitas palavras. Heli achou graça em tantoentusiasmo.< 26>

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Rubi e Topázio riram muito, sem comentários. Podiam rir àvontade porque risada não tem sotaque…Nesse momento, passou por eles um rapaz um pouco mais velhoque Heli.- Vai ser engenheiro do Espaço - disse Heli. - Estuda quatro oucinco horas por dia. Seu curso é muito difícil.

- Que bela profissão! - disse Ricardo, com uma pontinha de inveja.Depois gritou para o jovem que se afastava:- Quando você começar a voar, apareça lá na Terra.O moço sorriu, fez um gesto amável, mas não disse nada.Heli explicou:- Ele já gastou sua cota de palavras hoje. Não repare.- Como? As palavras são racionadas?- Isso mesmo. Nosso Amigo, muito sábio, diz que só devemos falarpara fazer o bem. Temos um número certo de palavras para usarcada dia. A gente procura empregá-las com juízo. Notei que seusamigos são muito quietos. Será que também gastaram sua cotadiária?Ricardo ficou atrapalhado. Não queria mentir para Heli, mas nãopodia trair os amigos, que não apresentara de propósito. Se dissesseseus nomes, Heli desconfiaria imediatamente. Mudou de assunto.- E aquele estudante, coitado! Vai ter que ficar mudo até amanhã?- Sim, mas ninguém repara. É difícil usarmos todas as palavras,sabe? Acho que ele se encontrou com a namorada e gastou todas deuma vez.Heli mostrou dois edifícios a pouca distância.- Vamos visitar o departamento de esportes e de artes.Ricardo estava disposto a ir a pé porque nas ruas douradas nãohavia sinal de automóveis.Não foi preciso andar. Tomaram as calçadas rolantes.< 27>

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De cada lado da rua, uma chapa de borracha reforçada por outra deaço deslizada sobre roletes com a velocidade de um metro porsegundo. De duzentos em duzentos metros a calçada parava e ostranseuntes podiam subir ou descer.O edifício das artes e o dos esportes também encantaram Ricardo,sempre atento para poder contar as novidades aos seus amigos daTerra.Ele disse a Heliodoro que pretendia visitar todas as cidadessituadas além da Cidade Amarela.Heli concordou.- Sempre achei que os moradores das outras cidades são como nós.Talvez melhores, mais inteligentes.“Mais inteligente que Heli seria difícil” - pensou Ricardo. Masdisse apenas:- Tenho provas de que os outros não são monstros. Você notouque…- Sim - interrompeu Heli com uma risadinha, - Esses dois aí nãosão dos nossos. Desconfiei logo.Que alívio poder dizer a verdade! Era ruim ter segredos com umrapaz simpático como Heli. E, pior ainda, ficar em silêncio forçadocomo Rubi e Topázio estavam desde o começo da visita.Fizeram planos de seguir juntos daí em diante.

- Falarei com o Amigo - decidiu Heli.Foi procurá-lo sozinho. Ele os aconselhou a usar o transportadoraté a Cidade Verde. Chegando lá, deviam resolver qual a melhormaneira de entrar.Voltando ao primeiro edifício, os meninos se colocaram no meiode quatro círculos - muito parecidos com aquela “pedra” da clareira- que havia na sala de eletrônica.Um estudante mantinha-se junto da mesa de comando.- Acionar! - ordenou Heli.Como se um vento forte soprasse sobre eles, os quatro garotosdesapareceram…<P>< 28>

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5.”Esmeralda”

Alguma coisa saiu errada. Talvez o estudante não tivesse calculadobem a distância. Os meninos apareceram em pleno campo, a três ouquatro quilômetros da Cidade Verde.Logo viram uma criança que dirigia um pequeno veículo, misturade automóvel e bicicleta.Quando surgiram inesperadamente perto dela, a menina ficou tãoadmirada que perdeu o controle do carro.Ele esbarrou num paredão à margem da estrada e parou.A garota não se mexeu.Os viajantes correram para o carro.A pequena era lindíssima! Devia ter uns doze anos, cabelos longose escuros, rostinho delicado e uns olhos verdes, verdinhos e meigos,parecendo um pouco assustados.Felizmente não estava machucada. Sorriu para os meninosestendeu os bracinhos para que a tirassem do veículo.- Que faz aqui sozinha? Está ferida? - perguntou Heli.- Estou muito bem. Vim a um piquenique com minhas colegas eprofessores. Meu trilex falhou um pouco e me atrasei. Ia para casaquando vocês apareceram.Rubi e Topázio se apresentaram, assim como Heli. Ela nãomostrou um pingo de medo.- E eu sou Ricardo, vim de muito longe. Como é seu nome?< 29>

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Ela disse, ou melhor, cantou:- Mi - Fá - Lá- Dó- Posso chamá-la de Esmeralda?A garota sorriu para Ricardo, concordando. Explicou:- A gente podia ir junto para a cidade, mas no trilex não dá.Os meninos examinaram com curiosidade o carrinho de

Esmeralda. Era um veículo aberto, com duas rodas na frente e umaatrás; tinha guidão igual ao das bicicletas. Movido por baterias,podia carregar uns cinqüenta quilos, além do motorista.- Lá na Terra um engenheiro projetou um carrinho como este paraas pessoas irem fazer compras. Achei genial. Até o nome é omesmo: trilex. Mas ainda não está à venda.- Este modelo é muito antigo. Só é usado pelas crianças porque nãoé perigoso.- Como vamos chegar até a cidade? - perguntou Heli.- Preciso avisar que estou sem condução - respondeu Esmeralda.Tirou do bolso um objeto de metal parecido com uma caneta.Apertou um botão, ouviu-se um zumbido e ela falou:- Venha imediatamente com o maxicarro na direção do bosque.Entendido? Desligando.- Também temos um aparelho assim… - começou Ricardo.Rubi e Topázio trocaram olhares caçoístas. Depois queconheceram Esmeralda, Ricardo dera para contar vantagens.Sem jeito, o garoto calou-se. Foi bom porque ele ia honestamentecontar que o tal aparelhinho não era de uso comum na Terra.Enquanto Esmeralda esperava a condução, os meninos tinham umproblema: como seriam recebidos pela pessoa que ia buscar agarota?< 30>

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Esmeralda percebeu e acabou com aquela preocupação.- É apenas um criado que cumpre ordens.Não demorou muito, um empregado impecável, como osmordomos dos filmes, parou com um carro grande pertinho deles.- Queremos ir para casa - disse Esmeralda.- Imediatamente - respondeu o empregado, com voz respeitosa.O maxicarro não apresentava novidades. Andava sobre um colchãode ar e tinha lugar para oito pessoas.- Parece uma perua lá da Terra - disse Ricardo, pensando notamanho do carro.Rubi deu uma cotovelada em Topázio e os dois começarama rir.Heli estava pensativo. O criado parecia não ter notado a diferençade seus trajes. Estaria fingindo?- Que é que você tem? Acabou seu estoque de palavras?-Perguntou Ricardo.- Não é isso… Estou observando esse homem. Acho que é um robô.- Impossível!Esmeralda ouviu os cochichos e achou graça.- Ele é mesmo perfeito, não?Esse robô era muito diferente dos que Ricardo conhecia (dosfilmes, naturalmente). A parte mecânica ficava escondida por umrevestimento de borracha que imitava pele.Ele vestia um macacão inteiriço que disfarçava o corpo, um pouco

grosso. Andava com naturalidade e sua voz não tinha diferença davoz humana.- Na Terra estão projetando um robô muito especial, igualzinho auma pessoa. Até vai ter nome de gente: Augusto - contou Ricardo,sem se importar com as risadinhas de Rubi e Topázio.Esmeralda sorriu para o garoto de um modo tão encantador que osoutros, enciumados, tentaram também chamar a atenção dela.

Rubi começou a fazer uma porção de perguntas bobas, só para amenina falar com ele. Topázio contou uma história completamentesem graça, tentando fazer Esmeralda rir.Até Heli entrou no jogo. Quando ela se mostrou interessada econtente, ele achou que valia a pena ficar mudo o resto do dia.Gastou as últimas palavras de sua cota diária conversando com agarota.Todas as cidades anteriores eram bonitas, mas, para os meninos, aCidade Verde parecia a mais bela de todas.O apartamento de Esmeralda era lindo, todo de vidro verde.Na rua estava um pouco frio, mas lá dentro a temperatura erasempre igual e agradável. Heli descobriu logo o sistema deaquecimento. Era o papel de parede. Entre duas folhas finas de ummaterial parecido com vinil, havia resistências elétricas queespalhavam um calor uniforme.A família de Esmeralda não estava em casa. A mãe tinha ido fazercompras, os irmãos à escola, o pai ao trabalho.A menina ordenou ao robô que preparasse um lanche. Numinstante ficou pronta uma refeição deliciosa que os garotosadoraram.- Isso não é nada - disse Esmeralda. - Quando há festas, ele preparamais de vinte pratos diferentes, além de arrumar e enfeitar a casa.“Que bom se minha mãe tivesse um criado assim” - pensouRicardo. E logo perguntou ao robô se ele tinha um irmão disposto atrabalhar na Terra.O criado perfeito afirmou que era filho único.Esmeralda queria que os amigos conhecessem sua mãe. Foi comeles ao centro de compras na esperança de encontrá-la. Os meninosvestiam roupas verdes dos irmãos da garota.Um robô-recepcionista os conduziu a um salão cheio de plantas epoltronas verdes macias.Muitas senhoras faziam compras; confortavelmente instaladasdiante de uma mesa, viam passar em relevo numa grande tela todosos artigos à venda.< 32>

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Era só escolher o que desejavam e marcar num cartão que, emseguida, era colocado num ordenador. Uma hora depois aencomenda seria entregue em suas casas sem qualquer engano ouatraso.

A mãe de Esmeralda não estava lá. O robô descobriu rapidamenteque a freguesa procurada tinha saído há dez minutos.Tinha chegado a hora de partir.- Nosso plano é seguir para a próxima cidade - disse Ricardo.- A gente gostaria de levar um habitante daqui - disse Rubi.- Uma criança de cada lugar, todas amigas, mostraria que ainimizade é uma bobagem - concluiu Topázio.Heli não dizia nada. Apenas acenava afirmativamente, porquetinha esgotado as palavras do dia.- Náo serve uma habitante? - perguntou Esmeralda, que não queriaseparar-se dos amigos.- Seria maravilhoso! - gritou Rubi.- Vamos procurar papel e lápis para você deixar um recado-sugeriuRicardo.- Papel? Lápis? - estranhou a menina.Rubi e Topázio caçoaram.- Ricardo esqueceu que não está na sua preciosa Terra - disse um.- Aqui ninguém usa essas coisas antiquadas - afirmou o outro.O próprio Ricardo achou graça do seu esquecimento.Esmeralda deixou para os pais um recado gravado numa fita:estava tudo bem, ia sair com amigos.A gravação, feita numa loja, seria enviada imediatamente para suacasa.- Vamos alugar um maxicarro? - sugeriu Topázio.Heli abanou a cabeça. Não aprovava a idéia.- Ele tem razão - disse Ricardo. - Um carro grande, cheio de gente,chamaria muito a atenção ao chegar a Água-marinha. Os voadoresseriam mais práticos.< 33>

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Heli fez que sim.Cada um se dirigiu a uma loja diferente e alugou um voador.Depois se reuniram num jardim. Partiram.Ricardo ia na frente. Depois vinham Rubi, Topázio e Esmeralda.Heli fechava a pequena caravana aérea.O coração de Esmeralda batia forte. Era a primeira vez que seafastava de sua cidade. Confiava nos amigos mas tinha medo dodesconhecido. De agora em diante estavam nas mãos dos inimigos.Talvez fosse uma viagem sem volta…<P>

6. “Berilo”

O solo e o céu já tomavam uma delicada tonalidade azul-clara. Ascrianças estavam gostando muito daquele vôo maravilhoso etranqüilo.De repente apareceu uma esquadrilha de pequenos aviões. Ospilotos faziam sinais para que os meninos os seguissem.

Mas como eles voavam em direção oposta à da cidade, as criançasse recusaram a obedecer.Então, os aviadores fizeram uma formação cerrada em torno deles:quatro voavam em cima, quatro embaixo, quatro na frente e maisalguns atrás dos voadores.Completamente cercados, foram levados para o lado do mar, ondeum navio esquisito, que lembrava uma baleia, descansava, longe dacosta. Quando chegaram perto dele, uma parte do casco se levantou,como se a baleia abrisse a boca. As crianças foram engolidas comoum cardume de peixinhos.< 34>

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Os aviadores se afastaram, a “boca” se fechou e o estranho barcocomeçou a submergir. Era um submarino que desceu uns duzentosmetros e parou suavemente.Com um leve estalo, abriu-se uma portinha na parte interior docasco e as crianças saíram assustadas.Estavam presas no fundo do mar! Sem saída, sem esperanças. Osgarotos não diziam nada para não preocupar Esmeralda, que nãodava demonstração de estar com medo.A porta do navio se comunicava com um corredor envidraçadoonde as crianças pararam, hesitantes. O vidro era límpido que davaa impressão de não existir nada entre elas e a água.O corredor terminava num edifício circular, de vidro azulado, quese comunicava com outro. Este era ligado a um terceiro por umagaleria de vidro e assim sucessivamente, formando uma série debelas e estranhas construções submarinas.Peixes das mais variadas espécies circulavam por cima, por baixo edos lados do corredor, cujo piso também era transparente.Em certo momento, um enorme peixe-espada nadou com arameaçador na direção das crianças, que se comprimiram na paredeoposta. Quando sentiu o vidro resistente, o espadarte se desviou,desapontado.Assim que as crianças se aproximaram do primeiro edifício, agrande porta de vidro abriu-se automaticamente.Relutantes, eles entraram numa sala, muito grande. Imediatamentetodo medo desapareceu.Um grupo de crianças estava ali, conversando, rindo e observando,através dos vidros, a paisagem marinha.Sorriram amistosamente para os estranhos, mas ninguém falou. Sóum rapazinho, muito simpático, foi ao encontro dos visitantes.- Tudo bem? Vocês não se assustaram com nossos aviadores, nãoé? Não deu para explicar mas nosso governador tinha ordenado queacompanhassem vocês até aqui.< 35>

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Usava um reversor para Ricardo entender o que dizia.- Sou Ricardo, da Terra. Posso apresentar meus amigos?- Já sabemos seus nomes. O meu é- Si - Lá - Fá.- Vou chamar você de Berilo. Sua cidade será Água-marinha.- Muito bem. Vocês estão aqui para conhecer o nosso Amigo.Era a primeira vez que Ricardo ia falar com um governador.Estava um pouco nervoso.Com seu simpático hospedeiro passaram por inúmeras salas, todasclaras e azuladas. Cada parede transparente era como um grandequadro onde à paisagem mudava constantemente com o vaivém doshabitantes do mar.- Agora sei como se sentem os peixes num aquário - disse Ricardo.< 36>

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Ele queria dizer que naquelas salas de vidro quem estava numaquário eram eles, observados - muitas vezes cobiçados - pelospeixes.- Olhe, Esmeralda, que lindos peixes listrados! - disse Rubi.Ao virar-se para a menina, viu que ela não estava mais ali.Uma sombra de desconfiança tomou conta dos garotos. O amávelBerilo seria mesmo um amigo? Teriam raptado Esmeralda paracontrolar à vontade os visitantes?Heliodoro já podia falar novamente. Foi direto ao assunto.- Onde está nossa companheirinha? Não queremos que ela seafaste. Esmeralda não conhece o edifício e pode correr perigo,aproximando-se do que não deve.Berilo entendeu a preocupação dele. Também estava estranhando aausência de Esmeralda. Parecia sincero quando disse:- Não sei o que aconteceu. Vamos procurá-la imediatamente.De uma sala próxima vinha uma algazarra incrível.Berilo correu para lá seguido pelos visitantes.Abriu a porta de repente. Os gritos cessaram, depois recomeçaram,mais fortes.Esmeralda estava presa!Presa numa grande roda formada por crianças pequenas quegritavam batendo palmas cadenciadamente:- Canta. Canta. Canta.Muito tranqüila e risonha, Esmeralda hesitava, procurandolembrar-se de uma canção que falasse de mar. Depois começou:

Conheces um cavalinhoque aprendeu a navegar?Ele se chama hipocampo,é um cavalo do mar.< 37>

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Assim, nunca viu as flores,nem crianças a cantar.Só vê peixes de mil cores,marinheiros do seu mar.

Tem um comprido focinho,uma cauda de enrolar.Mede um palmo o cavalinho,o cavalinho-do-mar.

Como corre este cavalo,a subir, descer, nadar!Você deve procurá-lono dia em que for ao mar.

Se ele ficar maiorzinho- ou se você encurtar -dê um passeio a cavalono cavalinho-do-mar.

Por insistência de Berilo, Esmeralda foi libertada depois de pagarum resgate: um beijo em cada criança, afetuosamente retribuído.Continuaram a visita, aliviados e mais confiantes.Berilo explicou que aqueles edifícios constituíam uma escolasubmarina onde as crianças se familiarizavam com todos ossegredos do mar. Os mais velhos seguiam um curso especializadodescendo num batiscafo até as grandes profundidades. Ali reina aescuridão, e é a morada de seres estranhos, como os peixesluminosos.- Que palavra esquisita! - estranhou Esmeralda. - O que ébatiscafo?Ricardo gostou da pergunta porque já ouvira falar muito dobatiscafo do professor Piccard. Estava na hora de mostrar o quesabia.Não se incomodando com as olhadelas e piscadelas de Rubi eTopázio, ele explicou:< 38>

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- Batiscafo é uma esfera de aço que pode descer até o fundo domar. Tem janelinhas redondas, chamadas vigias, por onde a gentepode espiar tudo porque existem faróis do lado de fora que lançamum feixe de luz para cima e para baixo. Um batiscafo da Terradesceu onze mil metros. Tinha até telefone, que funcionoudireitinho lá no fundo.Berilo ficou impressionado.- Telefone também! Vocês estão adiantados.- Era telefone de ultra-sons.Rubi, não querendo passar por ignorante diante de Esmeralda,

entrou na conversa.- A batisfera não é um aparelho parecido?Heli esclareceu:- É sim, mas depende de um cabo. O batiscafo tem mais liberdadede ação.- Que maravilha! - disse Esmeralda.- O quê? A batisfera? - perguntou Rubi. - Também acho.- A batisfera, o batiscafo e vocês, que são tão inteligentes,supermaravilhosos.Era exagero dela, mas os meninos ficaram rindo à toa de tãocontentes.Uma das coisas mais interessantes que eles viram foi um quartoonde os estudantes dormiam em camas mergulhadas, até certaaltura, em água salgada.- As experiências provaram que um sono de três horas nessascamas corresponde a um sono de oito horas numa cama comum -explicou Berilo.Ricardo, que ficava dorminhoco nas férias, gostou da história.- Vou ensinar isso a minha mãe. Se eu tiver uma cama assim, elanão vai demorar tanto para me acordar de manhã cedo.Finalmente, na última sala, encontraram o governador de Água-marinha.< 39>

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Surpresa! Ricardo já o conhecia. Era aquele personagem decabelos grisalhos que tinha aparecido na tela da aeronave.- Então, Ricardo, está gostando de nosso planeta?- Muito, mas ainda não sei por que estou aqui. Parece que haviauma razão especial, o senhor disse. Mas não fiz nada a não serarranjar amigos e descobrir maravilhas.- Você fez exatamente o que devia ser feito: amizades. Trouxe essejovem que chama de Rubi e os outros até aqui, criando um laço deafeição entre crianças de diferentes cidades. Assim, poderemosmostrar a todos os habitantes do planeta que somos irmãos. E comoirmãos, como amigos, devemos viver. Parabéns.- Eu não fiz nada sozinho.- Ninguém faz, Ricardo!- Os meus amigos são muito legais. Se não fossem não meseguiriam por cidades desconhecidas.< 40>

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- Merecem muitos elogios, mas se acompanharam você é porqueviram que era merecedor de confiança. Outros vieram antes, nadaconseguiram e voltaram logo.- Quer dizer que não sou o primeiro a chegar aqui?- Não - disse o Amigo, rindo do espanto de Ricardo.

Ainda conversaram um bom tempo. O governador gostou muitodos garotos, de Esmeralda e ficou impressionado com a inteligênciaexcepcional de Heliodoro.Na despedida, ele disse:- Meu neto - Berilo, como Ricardo o chama - fará companhia avocês daqui para a frente. Boa viagem.O submarino-baleia os levou até a enseada de Água-marinha.A cidade era linda. Toda azul-clara, seus edifícios pareciam pedraspreciosas formando um colar de brilho incomparável.O ar era puríssimo. Não se viam automóveis, nem chaminéspoluidoras.Berilo chamou a atenção dos amigos para as estradas luminosas.Cobertas por um asfalto especial que absorvia as radiaçõesultravioleta do sol, à noite elas ficavam iluminadas.Chegou a hora da partida. Um transportador os deixou nos limitesda cidade, numa praia belíssima, cercada de palmeiras azuis.Na praia azul, a areia ia se tornando cada vez mais escura à medidaque, caminhando por ela, as crianças se afastavam de Água-marinha.- Estamos perto das últimas cidades - disse Berilo. - Vamos tentaruma entrada sem disfarces.- Isso mesmo - aprovou Heli.Topázio foi contra.- Não. O povo sempre tem medo do que não conhece. Podemos serpresos.- E aí não vamos conhecer nenhuma criança. Adeus, missão de paz- concluiu Ricardo.< 41>

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- Não tenho medo de nada, nem de ninguém - disse Rubi, olhandopara Esmeralda.- Nem eu - disse ela.Ouvindo isso, os garotos perderam toda prudência. Começaram aandar mais depressa. Diziam: - Vamos em frente. Nada pode nosimpedir. Não temos receio de nada.Sentiam tanta coragem que poderiam enfrentar um dragão lança-chamasou um gigante comedor de gente. Mas não estavampreparados para o que aconteceu.< P>

7. “Safira”

De repente, uma sombra estranha projetou-se sobre eles. Umacoisa roliça e coleante surgiu na areia e os sugou rapidamente.Desta vez o perigo era real. As crianças se viram envolvidas numredemoinho.Um vento forte arrastou-as aos trambolhões para um lugar ondehavia areia, algas, lodo e mariscos. Depois, foram levadas para outro

recinto onde tomaram, num chuveiro gigante, uma inesperadaducha. Foram lavadas e relevadas como grãos de arroz que umazelosa dona-de-casa limpa antes de cozinhar.Finalmente um raio de luz penetrou naquela escuridão agitada. Umhomem apareceu na abertura do tubo onde agora estavam e de látirou cuidadosamente as crianças. Cobriu-as com mantas quentes efez com que bebessem um líquido azul.< 42>

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Uma sensação agradável se espalhou pelo corpo e mente dosgarotos, que perderam a consciência.Quando acordou, Ricardo sentiu-se muito bem. Estava deitadonuma cama alta e macia, num quarto mergulhado numa penumbrarepousante.Tudo em silêncio. Ouvia-se apenas um murmúrio brando como sefosse o vento nas folhas das árvores. Parecia música …Havia uma árvore no quarto! Era um gracioso arbusto de galhospendentes, como o salgueiro terrestre. Esses galhos moviam-seproduzindo uma música suave como a de uma harpa.Ricardo pensou que estava sonhando.Ouviu um leve rumor de passos, e a impressão de sonho foi maisforte. Uma mocinha encantadora aproximou-se de sua cama. Seusolhos cor de anil mostravam preocupação e ela procurava um sinalde vida no rosto do garoto, que tinha fechado os olhos depressa.Quando seus cabelos, compridos e sedosos, tocaram a face deRicardo, ele sentiu cócegas e começou a rir.A menina deu um grito de alegria.- Ele está vivo! Está vivo!Na cama ao lado, Heli tentava levantar-se. Rubi e Topázio; nooutro lado do quarto, estavam acordando.Vendo a mocinha, Topázio arregalou os olhos dourados.- Menina ou fada, seja você quem for, onde estou?Rubi teve uma reação semelhante.- Você é uma miragem? Não desapareça, por favor!Ela ria. Berilo, que acabava de acordar, nada dizia. Olhava para agarota, fascinado.Nesse momento entrou um médico, que examinou os meninos.Ficou satisfeito.- Tudo ótimo, rapazes. Vocês são fortes. Já podem sair. - Evoltando-se para a mocinha:- Vou avisar seu pai. Venha comigo enquanto os garotos seaprontam.< 43>

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“Onde estará Esmeralda?” - pensavam eles. Estavam com pressa desair dali para procurá-la. Rubi era o mais impaciente de todos.

Cada garoto encontrou perto de sua cama uma roupa de seutamanho exato. Era de um tecido elástico azul-anil. Sua temperaturaera regulada automaticamente. Dentro de casa o traje era muitofresco porque os cômodos tinham aquecimento. Logo que saíram aoar livre, ele ficou mais quentinho.Que agradável surpresa! Esmeralda, vestindo um traje semelhanteao deles, porém mais gracioso, estava com a fada de olhos azuisnum jardim de plantas azuis.- Arranjei uma amiga - foi ela dizendo. - Chama-se- Fá - Sol - Lá- Para mim, você vai ser Safira. Meu nome é Ricardo, da Terra.Todos se apresentaram e Heli acrescentou:- Estamos em missão de paz.- Não precisam ter medo de nada. Vocês quase se feriram pornossa culpa. Vão ser nossos hóspedes pelo tempo que quiserem.A casa de Safira estava em festa para recebê-los. Os pais damenina trataram com carinho os novos amigos.Então ficaram sabendo: o pai de Safira era oceanógrafo, umestudioso do oceano.Estava na praia vendo o funcionamento da máquina de sucção. Eramuito antiquada, e o cientista fazia testes, pensando em melhorá-la.Planejada para tirar amostras de água do mar em grandesprofundidades, e como limpadora do oceano, ela precisava de váriosmelhoramentos.Tudo ia bem até que o filhinho do operador apareceu na praia.Aproveitando um momento de distração da turma, mexeu em váriosbotões, desregulando a máquina.< 44>

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O tubo - semelhante a uma tromba de elefante gigantesca - saiu daágua, correu doidamente pela praia e aspirou as crianças.Por sorte, a máquina foi desligada a tempo e ninguém se feriu, maso pai de Safira não se conformava com o acontecido:Os meninos diziam que tudo estava bem e procuravam mudar deassunto.Heli chamou a atenção. dos garotos para a iluminação da casa. Emlugar de lâmpadas, eram usadas fitas luminosas de luz fria, muitoflexíveis.Cada pessoa podia fazer o seu lustre ou abajur como bementendesse: em forma de flores, laços, triângulos, quadrados ouesferas. Com a vantagem de mudar o modelo quando desejasse. Erasó desenrolar a fita e fazer outro.Safira perguntou:- Querem ouvir música?- Você toca algum instrumento? Perguntou Heli.Ela riu, misteriosa.- Que instrumento vocês preferem?As respostas foram desencontradas. Os garotos desafiavam Safira

para ver como ela se arranjava para agradar a todos.- Quero ouvir piano.- Prefiro violino.- Flauta.- Eu gosto de saxofone.- Gosto mais de violão.- Eu adoro harpa.Safira, sem se perturbar, perguntou de novo:- Querem ouvir todos ao mesmo tempo ou um por um?Rindo do espanto geral, ela sentou-se diante de um instrumentoparecido com piano. Sob o tampo, em vez de cordas e martelinhos,havia um complicado sistema de reproduçãode sons que Ricardo não entendeu. Mas se maravilhou com oresultado.< 45>

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Safira começou a tocar piano; depois, apertando os botões seletivos,ela produzia sons de violino, flauta, saxofone, violão e harpa.Depois, ouviram-se todos os instrumentos juntos. O resultado eraempolgante e novidade mesmo para as crianças do planeta.Ricardo falou sem pensar:- Lá na Terra temos uma espécie de órgão-orquestra parecido comesse instrumento. Mas não é tão perfeito como o seu.Outra vez Rubi e Topázio começaram a rir achando que Ricardoestava contando vantagem para impressionar as garotas.Heli, que não gostava que caçoassem de seu amigo da Terra,começou a falar dos planos de viagem.O pai de Safira estava disposto a ajudá-los em tudo.Começou deixando a filha participar da turma.Os mesmos problemas se apresentavam de novo. O primeiro era:como entrar na Cidade Roxa?Ricardo teve uma idéia audaciosa:- Por que não usamos a sugadora?- Não! - disse Rubi. - Ela é horrível! Até fiquei com saudade da“compoteira”…Topázio deu uma gargalhada. Então, contaram o caso da gaiola devidro, o pior meio de transporte de todos os mundos.Ricardo continuou:- Pensei que a sugadora pudesse funcionar ao contrário, soprando agente para longe.O cientista explicou que em terra firme a máquina não tinha longoalcance. Mas havia o canhão de ar … Ele podia servir, se algumasalterações fossem feitas.Ricardo já tinha visto coisa parecida com o canhão em desenhosanimados. Em lugar de bala, ia pelos ares um bichinho azarado. Eramuito engraçado… para quem assistia.< 46>

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Tudo foi preparado com o maior cuidado. As crianças sedespediram da Cidade Anil. Foram colocadas em cápsulas forradascom material macio. Em seguida o canhão foi carregado com as sete“balas” preciosas.Medida a distância até o centro da Cidade Roxa, terminadostodos os preparativos, foi dada a ordem: Fogo!Buummm! A primeira bala partiu. Um tiro perfeito que levouHeliodoro.Buuummm! Outra bala, levando Ricardo, fez uma bela curva esumiu de vista.Buummm…buuummm…buuummm…Lá se foram Topázio, Rubi eBerilo.Agora Safira: buuummm! E Esmeralda: buuummm!Ninguém notou que sete satélites estranhos passaram por cima daCidade Roxa?Parece que não . . .Quem não viu, não verá mais, porque de repente eles começaram acair.< P>

8. “Ametista”

Num recanto tranqüilo de um jardim, uma menina conversava comseu avô.De repente: ploc, ploc, ploc, ploc, ploc, ploc, ploc. Sete cápsulasestranhas caíram no chão e logo se abriram com um estalo.- Que ovos mais esquisitos! - disse o avô, de brincadeira.< 47>

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- Veja, vovô. São crianças!A pequena correu para os recém-chegados que, um poucoatordoados, começam a deixar a “casca”.- Olá - disse a menina. - Não estão machucados? Que modoestranho de viajar!- Olá - respondeu Heli.Perdeu a fala quando olhou para a garota. Lindíssima, comoesmeralda e Safira, tinha longos cabelos escuros. Seus olhosbrilhantes pareciam violetas roxas.Depois de admirá-la, Heli continuou:- Viemos de longe para visitar sua cidade e falar como governador.A menina ficou contente. Disse:- Fá - Sol - Lá - Sol- E eu, Ricardo, da Terra - apresentou-se o garoto.- Você me faz lembrar de uma pedra preciosa. Posso dar o nome deAmetista a você e à sua cidade?- Boa idéia - disse o velho, cumprimentando alegremente as

crianças. - Eu sou o avô.Não parecia nem um pouco admirado com a presença deles, nemcom aquela chegada fora do comum.- Venham tomar lanche - disse Ametista com simplicidade, comose já se conhecessem há muito tempo.Dirigiram-se para uma casa roxa, meio escondida entre altasárvores roxas.O chá de Ametista era muito especial. Ela mergulhou uma colhernuma jarra de água quente. Num segundo a água se transformou emchá.- É chá preto - disse ela.Era mesmo, embora fosse roxo.Depois, mexeu com outra colher numa tigela de leite roxo.- É gemada para quem quiser.E assim fez suco de tomate, de uva, de abacaxi, de caju.< 48>

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As crianças experimentavam tudo. E só acreditavam provandoporque tudo era roxinho.Seria mágica ou ilusão? Ametista riu.- É mais simples do que vocês imaginam. O segredo está nascolheres.Heli examinou as diversas colherinhas e entendeu imediatamente:todas elas, diferentes na cor e no tamanho, eram porosas e tinhamno interior um pó que se dissolvia em contato com um líquido.Usando a colher com o pó apropriado, obtinha-se a bebida desejada.Ricardo pensou em comprar uma dúzia daquelas colheres mágicaspara sua mãe.Rubi não tirava os olhos de Ametista. Ricardo deu-lhe umacotovelada, disfarçadamente.- Que é isso? A garota vai ficar aborrecida.- Não posso evitar. Ela se parece muito com alguém que conheço:o modo de rir, de olhar…Mas não sei com quem.- Pois eu acho que ela não se parece com ninguém. Não existeoutra igual.Foi o avô de Ametista que contou a Ricardo o mistério das setecidades. O garoto tinha feito várias perguntas:- Porque todos ficam aborrecidos quando se fala em cores? Por quecada cidade é de uma cor? Aqui não é o arco-íris, como cheguei apensar, porque ele não é sólido como este planeta.- Compreendo sua confusão, Ricardo. Sobre as cores, tambémnada sabemos. Quanto ao nosso planeta, ele fica a uma distância daTerra que você nem pode imaginar.O avô começou a contar o desastre que acontecera a seu planeta,de uma civilização muito mais antiga que a da Terra.- Há muito tempo, todas as cidades eram como uma só. Unidas, opovo vivia em paz e muito feliz porque todas as doenças tinhamsido eliminadas. Você reparou que nossas capitais estão próximas

umas das outras, embora o planeta seja grande como a Terra? Elasforam construídas assim para simbolizar a amizade entre todos.< 49>

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Cada uma tinha o seu governador, carinhosamente chamado pelopovo de Amigo. Era escolhido entre os homens mais experientes.- Entre os mais sábios e bondosos, entre os melhores - completouAmetista.O avô continuou:- Naquela época tínhamos todas as cores e a luz natural do nossosol. Certa vez, aviadores nossos, numa missão a longa distância doplaneta, recolheram alguns homens perdidos no Espaço numa naveavariada. Eram de uma raça muito atrasada em relação a nós,tinham costumes bárbaros, viviam em guerra. Quando serestabeleceram dos ferimentos, ficaram com inveja de nossa vida.Mas em vez de aprender conosco e de tentar fazer o seu planetasemelhante ao nosso, resolveram nos destruir. Quase conseguiramisso criando inimizade entre nossos povos. Esquecidos dosconselhos dosgovernadores, os habitantes de cada cidade começaram a desconfiardos moradores das outras. Perdemos a antiga união e, por umfenômeno que ninguém soube explicar, começamos a ter o que nãose esperava nem queria: uma cor única e diferente para cada região.- E os homens maus?- Cansaram-se daqui. O planeta mudara tanto que não era mais tãodesejável. Certo dia eles se apossaram de uma aeronave e fugiram.Mas não sabiam manobrá-la e ela foi destruída com todos ospassageiros.- Isso explica muita coisa. Como é que um povo tão adiantadoainda tem inimizades e problemas iguais aos da Terra? Eu pensavaque, vivendo numa civilização diferente, o modo de viver seriadiferente.- E era mesmo. Mas regredimos, dando vários passos para trás, porinfluência daqueles bárbaros. Foi como passar da luz para aescuridão.- Por que não fazem as pazes agora? - perguntou Esmeralda.- Não é tão simples, filha.< 50>

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Nossa esperança está na nova geração. Se as crianças seaproximarem, os pais seguirão seu exemplo. Faz muito tempo queninguém transpõe os limites de sua cidade. Então os governantesresolveram trazer uma criança da Terra até nós. Sendo de fora,talvez ela conseguisse reunir os nossos jovens. O escolhido vocês jásabem quem foi.- Ricardo - disseram todos.

- Foi uma alegria e também uma grande honra - disse ele. Era essaa missão de que o Amigo da nave, o avô de Berilo, tinha falado.- Sim, e você fez tudo o que esperávamos sem precisar deinstruções.- Ele foi muito bem escolhido - disse Heli. - É bom, corajoso, é umamigo de verdade.- Chega, chega - interrompeu Ricardo, encabulado.- Assim você acaba com sua cota de hoje.- Há uma coisa importante que ainda não sei: o nome desteplaneta.O avô respondeu:- Isso eu não posso dizer porque também não sei. Meu pai era vivoquando tudo aconteceu. Ele me contou que o nome tinha para nósum significado de alegria e de paz, de felicidade sem sombras.Quando perdemos a luz natural, aquele nome desapareceu de nossasmentes, das gravações, dos arquivos, dos computadores. Ficamoscom a recordação de um passado brilhante e pacífico, num planetasem nome…Vendo que o avô estava triste, Ametista, para distraí-lo, falou emmostrar a Reserva aos amigos.- É uma reserva de alimentos? - perguntou Topázio, aindaimpressionado com o lanche da garota.- Não. É de animais, pássaros e flores de todas as espéciesexistentes no planeta.Topázio seguia os passos de Ametista, rindo quando ela ria,ficando sério ao mesmo tempo que ela. Era um verdadeiro espelhoda garota. Berilo, esse estava muito, muito silencioso.< 51>

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- Que será que ele tem? - perguntou Ricardo a Rubi. - Foi o últimoa se reunir a nós, acho que não está acostumado com a gente. Seráque anda triste?- Não é nada disso. Ele está feliz. Repare naquele ar sonhador.Deve estar apaixonado também…Mal acabou de falar, Rubi já estava arrependido. Aquelapalavrinha também traía seu próprio segredo. Ricardo fingiu quenão tinha percebido.Ele disse ao avô:- Agora me lembro de que nunca vi animais nas outras cidades.- Eles vivem em reservas como a nossa. Assim podem ficar emcompleta liberdade. As crianças que gostam de animais vãovisitá-los e brincar com eles. Mas não têm licença de levá-los parasuas casas. Não queremos que os animais fiquem presos ouabandonados, alimentados em excesso, ou mal nutridos. Aqui, elestêm espaço, liberdade e todo o amor de que precisam.- E não há brigas? Os mais fortes não atacam os mais fracos?- Nunca. Vigiamos para que não haja motivo nem oportunidadepara isso.

Depois de apreciarem os animais, Safira e Esmeralda queriam veras flores.Em vasos, canteiros, caramanchões e cercas vivas, havia flores detodos os tamanhos, de todos os tipos. Mas não de todas as cores.Eram todas roxinhas.Rubi continuava olhando intrigado para Ametista.Querendo dar um presente para as amigas, ela perguntou:- Esmeralda, que flor você prefere?Ela escolheu uma vistosa dália lilás.Ametista falou por um fone que trazia no cinto. Daí a cincominutos, abriu uma caixa metálica presa a um pequeno poste e de láretirou uma dália que parecia ter sido colhida naquele momento.< 52>

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Safira preferiu um vaso de violetas. Só tinha da roxa, naturalmente.Feito o pedido, o vasinho apareceu, numa embalagem especial paraviagem, como a dália.- Eu queria uma flor de maracujá - disse Ricardo para brincar comAmetista. Ele tinha certeza de que essa flor brasileira a menina nãoia conseguir.Ametista fez o pedido. Passaram-se dez, quinze, vinte minutos e aflor não vinha.Ricardo ficou aborrecido por ter colocado a garota numa situaçãodifícil, mas ela estava tranqüila.Finalmente, ouviu-se a campainha do telefoninho. O encarregadoda remessa avisava que a flor estava a caminho. Pedia desculpaspela demora. Como não havia flor aberta, só botões muito pequenos,ele fizera um deles se abrir por meios artificiais.Depois de ver tantas maravilhas, sem querer Ricardo dissebaixinho:- Que pena tudo ser só roxo…Ametista ouviu, mas não ficou aborrecida. Foi com muitaanimação que ela disse:- Vovô tem esperanças de que as cores voltem um dia…- Que faremos agora? - perguntou Heli. - Precisamos conversarcom o Amigo e organizar um plano. Tem que haver paz, é agora oununca.Ametista riu:- Vovô, será possível? Você ainda não lhes contou?- Não, eu queria deixá-los bem à vontade. Bem, meus amigos, sequeriam falar com o governador, já falaram.Sou eu.Os garotos ficaram perturbados. Tinham falado e agido com todaliberdade diante da maior autoridade daquela região.O bom velho sorria e eles compreenderam que antes de mais nadaele era o avô de Ametista, já adotado por Safira e Esmeralda, era umamigo deles.< 53>

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- Que faremos agora? - perguntaram, rodeando-o com todaconfiança e afeição.- Já foi feito tudo o que era necessário. Agora só nos resta esperar.Esperaremos.< P>

9. “Grandes surpresas”

Na Cidade Vermelha, quando os pais de Rubi perceberam que eledemorava muito para voltar com Ricardo, ficaram preocupados.Sininho começou a chorar, e o pai, depois de esperar bastante,pediu conselho ao governador. Este respondeu que o mais sensatoseria procurar os meninos nas cidades vizinhas.Esquecendo a antipatia em relação aos moradores das outrascidades, o pai e o irmão mais velho de Rubi se puseram a caminho.Duas pessoas estranhas se aproximavam da Cidade alaranjada.Logo foram detidas.< 54>

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Encontraram um casal fazendo queixa do desaparecimento dofilho. Naquele momento de tristeza, esqueceram que eram inimigose combinaram continuar juntos a busca. O governador aprovou eofereceu toda a ajuda necessária.Além dos pais de Topázio, mais dois amigos se ofereceram paraacompanhá-los. Agora, eram seis.Seis pessoas estranhas se aproximavam da Cidade Amarela. Foramdetidas, mas ninguém se interessou, porque estavam todos abaladoscom o desaparecimento de um jovem estudante de brilhante futuro.O governador sugeriu que procurassem na Cidade Verde.O grupo aumentava cada vez mais. Contando com os pais deHeliodoro, mais colegas e amigos do rapaz, eram agora quinzepessoas.Quinze pessoas estranhas se aproximavam da Cidade Verde, ondetodos lamentavam o desaparecimento de uma menina. Sumira,deixando um recado gravado para os pais.Não havia ninguém nas ruas. O povo permanecia diante dostelevisores, esperando notícias da criança desaparecida.Assim que ficaram sabendo da história dos vizinhos das cidadesVermelha, Alaranjada e Amarela, os pais da garota foram aoencontro deles.Cada família procurava consolar a outra, fazendo planos paraencontrar os filhos. Descobriram que, além dos mesmos problemas,tinham os mesmos gostos, sentimentos, até passatempossemelhantes.Com os pais e os três irmãos de Esmeralda, agora eram vinte.Vinte pessoas estranhas se aproximavam de Água-marinha. O

governador deu ordens para que fossem auxiliadas em tudo. Trintapessoas se apresentaram para ajudar. Agora eram cinqüenta!< 55>

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Cinqüenta pessoas estranhas se aproximavam da Cidade Anil. Alitambém uma menina desaparecera. O pai dela juntou-se ao grupo.Ninguém sabia que ele próprio tinha atirado as crianças como balasde canhão para a cidade vizinha.Entre amigos, colegas e parentes de Safira, contavam mais dezpessoas. Agora eram sessenta!Sessenta pessoas estranhas se aproximavam da Cidade Roxa. Umacomitiva de apenas três homens foi ao seu encontro.O mais idoso levantou a mão direita num gesto de amizade e disse:- Bem-vindos. Que desejam em nossa cidade?- Devolvam nossos filhos. Caso contrário, todas as outras cidadesentrarão em luta com a sua.Ignorando a ameaça, o homem disse, simplesmente:- Nosso governador tem algo a dizer. Venham conosco em paz.Saberão de tudo.Todos se encaminharam em silêncio e em ordem para a CidadeRoxa, sua última esperança.Na entrada do parque, esperava-os o avô, muito sereno em suasvestes solenes de governador.Ele não disse nada. Apenas fez um sinal para que oacompanhassem. Entraram.Misturados aos cantos dos pássaros, ouviam-se risos e vozesjuvenis. E, numa curva da alameda, depararam com uma cena tãoalegre que pararam, surpreendidos.Numa quadra improvisada, quatro rapazes jogavam um jogoestranho. Era um arremedo de tênis que Ricardo ensinara aosamigos e animava do lado de fora.Ninguém sabia jogar direito.Heli se preocupava mais em calcular a trajetória da bola do que emrebatê-la. Daí as gargalhadas, porque ele se distraía e errava sempre.< 56>

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Um pouco adiante, três meninas maravilhosas, em volta de umamesa, mexiam em copos e talheres, tagarelando no maiorcontentamento. Preparavam o lanche e tentavam adivinhar o que ascolherinhas mágicas iam produzir.Pais e mães, não podendo mais conter-se, correram para os filhos.Foi uma cena comovente e alegre, fácil de imaginar, difícil dedescrever.Mais tarde, tudo foi explicado: o plano dos governadores parapromover a paz entre todas as cidades, a presença e a missão -cumprida com tanto êxito - de Ricardo.

A mãe de Rubi chegou acompanhada de Sininho, que, muitocontente, não parava de bimbalhar, isto é, de tagarelar com osamigos de Rubi.Fazia tempo que o avô de Ametista estava olhando com insistênciapara o irmão de Rubi e de Sininho.Em certo momento, ele chamou o pai do garoto para uma conversaparticular.Em seguida, chamou o rapaz e, por último, Ametista.Vendo os dois juntos, ninguém deixava de notar que eramparecidíssimos. Era essa semelhança que tinha impressionadoRubi desde que vira a mocinha.O avô tinha descoberto tudo: o rapaz de olhos tristes - agora maisalegrinhos - não era mesmo irmão de Rubi.Fora adotado antes de Rubi nascer. Certa vez, um avião quesobrevoava a Cidade Vermelha, conduzindo um casal com ofilhinho, sofreu um desastre. Os pais de Rubi tomaram conta dacriança, único sobrevivente.Nunca revelaram o segredo com receio de que seus conterrâneosnão aceitassem a criança, vinda de uma cidade inimiga.E não contaram nada ao filho adotivo quando cresceu, de medoque quisesse partir em busca dos parentes distantes.E ninguém reclamou a criança, que o avô julgava morta.O rapaz, muito observador, notara que não havia nenhumasemelhança entre ele, Rubi e Sininho.< 57>

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Também se lembrava de outras pessoas que nunca mais vira. Porisso vivia tristonho, querendo saber a verdade e receando magoar os“pais”.Mas o avô, seu avô também, mal olhou para ele, viu a imagemperfeita da mãe de Ametista.A alegria desse encontro trouxe tristeza para a mãe de Rubi. Mashavia uma solução. O avô não podia deixar seu posto degovernador, mas a família de Rubi poderia ficar morando na CidadeRoxa. Assim ficou resolvido e ninguém se arrependeu.Sininho também gostou muito porque ganhou uma linda irmã e umbondoso avô contador de histórias.Pela afeição evidente de Topázio por Ametista, de Rubi porEsmeralda e de Berilo por Safira, certamente no futuro outrasfamílias trocariam de cidade…Os governadores de todas as cidades se reuniram final mente naCidade Roxa como sempre tinham desejado. A alegria era geral.Ali - e em todas as cidades onde a notícia do encontro das criançashavia chegado, todos tinham o mesmo pensamento: Paz e Uniãopara sempre.De repente, o avô se levantou, muito emocionado:- Vejam, vejam o que aconteceu!Era aquilo que ele esperava a vida inteira, aquilo que os mais

jovens nunca tinham visto.Como por mágica a cor roxa estava desaparecendo devagarinho,dando lugar à luz natural do sol.Lentamente, tudo foi readquirindo suas cores, tudo ficou colorido.Cores! Cores!Era tão maravilhoso que muitas pessoas não suportaram a emoçãoe choravam sem o menor constrangimento.De repente um homem idoso começou a cantar. Para Ricardoparecia o começo de uma canção ao mesmo tempo vibrante e suave.< 58>

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Outras vozes se reuniram à dele, hesitantes a princípio, depoismais decididas. As notas eram sempre as mesmas, mas cantadas emcoro, pelas vozes das crianças, só pelos homens, só pelas mulheres,depois pelas vozes emocionadas do povo inteiro, nunca se tornavammonótonas.A canção era tão alegre que fazia Ricardo se lembrar de férias, domar, do Natal, de festas de aniversário, de viagens, da volta paracasa, dos pais, dos amigos…Agora todos cantavam juntos repetindo sempre aquelas seis ou setenotas musicais que transmitiam alegria e paz.- Que música é essa? - perguntou Ricardo aos amigos, que nãoparavam de cantar. - É muito curta para ser um hino, mas parece sermuito importante para todos, como o hino nacional do nosso país.Heliodoro parou o canto por um momento e respondeu:- Não é música, Ricardo. É o nome do nosso planeta que os maisvelhos recordaram subitamente e nós aprendemos agora. Não élindo?- É sim, é lindo. Acho que compreendi. Como o nome das pessoas,o nome de seu planeta também soa como música.Como seria ele na minha língua?- É difícil dizer. Ele significa tanta coisa: beleza, felicidade,harmonia…tudo o que amamos, tudo o que desejamos.Ricardo desistiu de inventar a palavra exata para denominar oplaneta amigo. Então cantou com os companheiros, com o mesmoentusiasmo, o nome que não podia traduzir.Como teriam acontecido tantas maravilhas? A volta das cores, alembrança do nome do planeta?Nem os governadores, que eram sábios, podiam explicarexatamente.Tinham uma idéia do fato causador da mudança: o desejogeral de união e de paz.Mas como a transformação aconteceu, ninguém sabia dizer.Heliodoro diz que vai descobrir. Com certeza consegue.< P>< 59>

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10. “A volta”

Terminara a missão de Ricardo e a razão de sua permanência noplaneta das sete cidades. Agora todas tinham as cores do arco-íris. Eo branco, símbolo da paz reconquistada.Ninguém desejava o regresso do garoto, mas ele não podia ficar lápara sempre.- Não devemos ser ingratos - disse um dos Amigos.- Ricardo ajudou nosso povo e estamos afastando-o de seus pais.- É pena, mas ele precisa voltar - concordaram os governadores emreunião.- Ele não pode lembrar-se de que nos conheceu, disse um dosgovernadores com tristeza. - Se contasse suas aventuras na Terra, iapassar por mentiroso. Ou por louco…- Tem razão - disse o primeiro Amigo de Ricardo, o governadorque falou com ele na aeronave. - Mas em compensação vamos darao nosso amiguinho a pílula da memória, com efeito só para os fatosda Terra. Ele será sempre um aluno brilhante.< 60>

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- Alguma coisa desta experiência ficará em seu coração.Sempre terá facilidade para fazer amigos - disse outro.- E de promover a paz onde estiver. Espero que a Terra consigatambém a paz de que precisa tanto - disse mais um.- Assim seja - terminou o avô. - Ricardo não se recordará de nóspara não sofrer, mas sempre que olhar para o arco-íris se sentiráalegre mesmo sem saber o motivo.Ficou resolvido: Ricardo partiria repentinamente para evitar atristeza da despedida.

Um dia, de repente, o menino da Terra não estavamais lá…Seus amigos ficaram tristes, mas depois se consolaram, pensando:“Qualquer dia ele volta. Do mesmo modo como apareceu na CidadeVermelha poderá voltar para nos visitar. Vamos pedir isso aosgovernadores”.Porém, de Ametista e Heliodoro o avô não podia esconder quenunca mais iriam buscar Ricardo. Não seria conveniente transportaro garoto pela nave todas as vezes que tivessem saudade dele.Poderiam prejudicá-lo e, também, chamar a atençãodesnecessariamente para o planeta das sete cidades irmãs.- Mas no futuro o povo da Terra não pode chegar até aqui, vovô?- Seria preciso uma grande revolução no seu sistema de transporteespacial. Vai levar muito tempo.- E nós, não podemos ir até lá?- Ainda é cedo para isso. Eles não estão preparados para nosreceber pacificamente.- Mas - disse Heli, que não desistia facilmente - soubemos que um

radio astrônomo da Terra recebeu e interpretou nossos sinais. Talveznão estejam tão atrasados como imaginamos.< 61>

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- É verdade. Tendo conhecido Ricardo, podemos concluir que seupovo é muito inteligente. Isso nos dá certa esperança…- Então é possível, vovô? - possível? - insistia Ametistacom uma vozinha ansiosa. - Podemos tornar a ver Ricardo?O avô abraçou a garota e disse:- Sim…é possível .

Lá na clareira do bosque, Ricardo se levantou da pedra redondapensando em voltar para casa.Estava um pouco atordoado. “Acho que tomei muito sol”,imaginava.Não estava fora há muitas horas. Nas sete cidades, a contagem dotempo era diferente. Tudo o que lá se passara correspondia aoperíodo de uma tarde na Terra.Assim, ninguém estranhou sua ausência. Ele costumava irdiariamente ao bosque. De sua viagem pelo Espaço, Ricardonão se lembrava.< 62>

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Um arco-íris brilhava no céu lavado. Tinha chovido outra vez efeito sol. E lá estava de novo o arco festivo, como uma ponte de setecores.Tinha um colorido tão bonito que, sem perceber o que fazia, ogaroto levantou o braço numa saudação alegre.Voltou para casa animado, com o coração cheio de uma estranhafelicidade.< P>

AUTOR E OBRA

Nasci em Jaú, morei em Campinas, em várias cidades do interior e,por vinte anos, em São Paulo.Antigamente, eu dizia: “Esta (não vou dizer qual…) é a minhacidade predileta”.Hoje, gosto de todas aquelas em que tenho amigos. Gosto do Riode Janeiro e de Surubim (PE), de Salvador e de São José dos Pinhais(PR), de Maceió e de Santo Antônio da Patrulha(RS), de BeloHorizonte e de Birigüi (SP). Nessas, nunca morei de fato, mas quemsabe no coração e na mente de meus leitores!Leitora assídua, sempre gostei de escrever. Sem pensar em publicarlivros. Parecia tão difícil! Mais tarde, animada com alguns prêmiosde literatura infantil, ofereci meus textos a uma editora. Os livros

foram surgindo a partir de 1973. E não parei mais.Quando comecei, escrevia mais para quinta e sexta séries.Históriasde aventuras e de mistérios. Os leitores gostam, eu também.Depois, chegou a vez das histórias de amor. Para sétima. E oitavaséries. Os jovens são românticos. Eu também.Durante uma palestra, na região de Araçatuba, algumas criançaspediram: “Teresa, escreve um livro pra gente!”Adorei o pedido e escrevi. Não um, mas dez ou doze. Sei que elasgostam de histórias fantásticas e engraçadas. Eu também.Nas escolas, quando se fala em contos de terror, a turma fica namaior animação. Por isso, nós - Ganymédes José e eu - escrevemosO príncipe fantasma, uma história de arrepiar… Gostei daexperiência, mas houve um problema: alguns leitores ficaram commedo. Eu também…Tenho 34 livros publicados, entre eles As sete cidades do arco-íris,O ministério do Paço das Hortências, A porta da aventura , Meunome é Matilde, Aconteceu em Surupanga, O vermelho virou verde,O cuco Maluco etc.

Final do livro