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RENATA MARIA VIEIRA CALDAS E FERNANDO DINIZ MOREIRA
Arquitetura Industrial: tcnica, detalhe e significncia1Industrial Architecture: technique, detail and significance1
1. Este artigo sintetiza os resultados da dissertao de mestrado intitulada Ar-quitetura Industrial em Recife: uma face da modernidade, de autoria de Renata Maria Vieira Caldas e orientada por Fernando Diniz Moreira. Ele tambm fruto da pesquisa Valores da Arquitetura em Pernambuco, 1970-2000, coordenada pelo referido professor e financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e pela Fundao de Amparo Cincia e Tecnolo-gia do Estado de Pernambuco (FACEPE). Os autores agradecem a estas instituies pelo apoio financeiro essencial para a concluso da pesquisa.
1. This paper summarizes the results presented in the master thesis entitled Industrial Architecture in Recife: the face of modernity, by Renata Maria Vieira Caldas, supervi-sed by Fernando Diniz Moreira. It results also from the research Architecture Values in Pernambuco, 1970-2000, coordinated by Prof. Moreira and funded by National Council for Scientific and Technological Development (CNPq) e by the Foundation for Research Support of the State of Pernambuco (FACEPE). The authors are thankful to these institutions for the financial support essential for the conclusion of this research.
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Renata Maria Vieira Caldas Arquiteta, Mestre em De-senvolvimento Urbano pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), professora do Curso de Arquitetura
e Urbanismo da Faculdade de Cincias Humanas (ESU-
DA), Recife-PE, e arquiteta com escritrio prprio em Re-
cife. renatavcaldas@terra.com.br
Fernando Diniz Moreira Arquiteto, Ph.D. em Arquitetu-ra pela University of Pennsylvania (EUA), professor do
Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Univer-
sidade Federal de Pernambuco (UFPE) e diretor-geral do
Centro de Estudos Avanados da Conservao Integrada
(CECI). fmoreira@hotlink.com.br
Renata Maria Vieira Caldas Architect, Masters Degree in Urban Development by Federal University of Pernambuco
(UFPE), Professor of the Architecture and Urbanism course at
School of Human Sciences (ESUDA), Recife, PE, and practitioner
Architect with her own office in Recife, PE.
renatavcaldas@terra.com.br
Fernando Diniz Moreira Architect, Ph.D. in Architecture, University of Pennsylvania (EUA), Professor of Department of
Architecture and Urbanism at Federal University of Pernam-
buco (UFPE) and General Director of the Center for Advanced
Studies in Integrated Conservation (CECI).
fmoreira@hotlink.com.br
Arquitetura Industrial: tcnica, detalhe e significnciaIndustrial Architecture: technique, detail and significance
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RESUMO
As construes destinadas a acomodar processos produtivos e industriais esto estrei-
tamente ligadas a dois processos ou fenmenos caractersticos da era moderna: a me-
canizao e a industrializao, o que qualifica estas construes como uma expresso
ou face da modernidade. Arquitetos pensaram esses edifcios de forma a solucionar
impasses de ordem tcnica. Essas solues resultaram em significativas conquistas
na engenharia civil, tais como o clculo estrutural, tcnicas avanadas com materiais
como o ferro e o concreto e a racionalizao e padronizao dos processos de constru-
o, os quais foram aplicados tambm a outros edifcios. Por outro lado, pode-se dizer
que tais conquistas afetaram a qualidade arquitetnica em termos artsticos, visto
que, na maioria das vezes, a forma do edifcio foi negligenciada em detrimento das tc-
nicas ou do atendimento de determinados fluxos produtivos. Entretanto, h edifcios
singulares em que foram usados princpios e tcnicas modernas de construo, parti-
cularmente sistemas pr-fabricados. Procuramos mostrar que esses princpios so ca-
pazes, a depender de seu manejo, de conferir identidade e significado aos edifcios. Este
artigo objetiva analisar edifcios industriais por meio de uma abordagem das tcnicas
e dos sistemas construtivos neles aplicados, tendo como objeto de estudo trs edifcios
construdos na Regio Metropolitana do Recife, entre 1960 e 1980.
Palavras-chave: Arquitetura Industrial. Arquitetura Moderna. Tcnicas Construtivas. Teoria da Arquitetura. Detalhe de Arquitetura.
ABSTRACT
Buildings designed to accommodate production processes (production, storage, distribution and
marketing) are closely related to two phenomena of modern era: mechanization and industria-
lization, which made them an expression of modernity. Architects thought these buildings as
a way of solving design deadlocks of technical order. These solutions resulted in remarkable
engineering achievements, such as technical calculations, advanced techniques using iron, steel
or concrete and the rationalization and standardization of building processes, which were also
used in buildings other than factories. On the other hand, it can be said that such achievements
affected architectural quality in artistic terms, since most of the building form was neglected in
favor of techniques or attendance of fluxes or other internal demands. However, there are singu-
lar buildings in which principles and techniques of modern construction were used, particularly
the prefabricated ones. We attempt to show how these principles are able, depending on the way
they are managed, to provide identity and meaning to buildings. This article aims to analyze
industrial buildings through their techniques and building systems, having a case-study three
buildings in the metropolitan area of Recife, built between 1960 and 1980.
Keywords: Industrial Architecture. Modern Architecture. Building Techniques. Architectural The-ory. Architectural Detail
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A Arquitetura uma arte porque se ocupa no s da necessidade primordial do abrigo, mas tambm da unio de espaos e materiais de uma maneira significativa. E isso se realiza por meio de junes formais e reais. na juno, isto , no detalhe frtil, que tm lugar tanto a construo fsica (constructing) como a construo do significado (construing). (FRASCARI, [1983] 2008, p.552).
Introduo
Comumente, o edifcio industrial1 demonstra o uso de princpios como a racionalizao e a verdade construtiva independentemente do seu local de implantao. As fbricas se desenvolveram como parte dos fenmenos da
industrializao e da subsequente mecanizao. Com a sua disseminao, fo-
ram observadas alteraes significativas nos modos de construir, ao se explo-
rarem os recursos e tecnologias apropriados para as suas necessidades. No
apenas as mquinas contidas em seu interior sofreram modificaes, como
tambm a construo foi assumindo cada vez mais o seu pragmatismo e as-
sim expressando a sua condio de artefato moderno. Em um movimento de
reduo de suas formas ao estritamente necessrio, o edifcio industrial pas-
sou, ele prprio, a servir de referncia para a Arquitetura Moderna. Esses edif-
cios tornaram-se fundamentais para as concepes arquitetnicas modernas,
chegando ao ponto de mquinas e equipamentos industriais inspirarem ar-
quitetos como Walter Gropius e Le Corbusier, que enalteceram, em pleno do
sculo XX, os edifcios fabris norte-americanos e demonstraram o seu entu-
siasmo pela era da mquina.2
O avano nas tcnicas de construo, desde o sculo XIX, envolveu no ape-
nas a aplicao dos materiais como tambm os processos de execuo, que
consistiram tanto na pr-fabricao do elemento construtivo quanto nos seus
esquemas de montagem. A construo passou a ser um grande sistema articu-
lador de outros subsistemas. Partes dos edifcios passaram a ser gradualmente
produzidas fora do canteiro de obras e l mesmo montadas. Essa dinmica ca-
racterizou a mecanizao da construo ao preparar seus principais elementos
de modo industrializado, levando em conta as questes de sequncia, padro
e escala.
Entretanto, essa nova dinmica acarreta uma srie de questionamentos para
um ofcio como a arquitetura, historicamente marcado pela busca da criativi-
dade em obras que no seriam supostamente reproduzveis em larga escala.
Como um edifcio pode ter significado para uma determinada sociedade e mos-
trar-se adequado s condies especficas de uma regio, se ele o resultado
da montagem de partes supostamente produzidas em outros lugares? Como
1. Fazem parte deste grupo fbricas, oficinas, galpes, usinas, e montadoras, entre outros.
2. Le Corbusier em inmeras passagens de Por uma Arquitetura (1923), anteriormente publicados na revista LEsprit Nouveau, e Walter Gropius, j em 1913, no se artigo Die Entwicklung Moderner Industriebaukunst (O de-senvolvimento da construo industrial moderna) (GIEDEON, [1928] 1995, p. 51; GIEDEON, 1954, 1992, p.25-26).
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questiona David Leatherbarrow, como um edifcio pode ser original se suas
partes j existiam antes mesmo do incio do projeto? (LEATHERBARROW, 2000,
p.119). O uso de solues pr-fabricadas implica uma perda do status da arqui-
tetura enquanto arte? Tais questionamentos motivaram este trabalho, uma vez
que o interesse da pesquisa foi revelar os pontos que poderiam qualificar os
edifcios de natureza industrial como obras arquitetnicas.
Este artigo objetiva analisar edifcios industriais por meio de uma abordagem
das tcnicas e dos sistemas construtivos neles aplicados, tendo como objeto de
estudo trs edifcios construdos na Regio Metropolitana do Recife, entre 1960
e 1980, escolhidos dentro de um universo maior de edifcios industriais locais.
Esse foi um perodo de grande otimismo para o Brasil e para o Nordeste, quan-
do muitas indstrias se instalaram na regio, fato que demandou uma grande
quantidade de projetos aos arquitetos locais.3
Apesar da abrangncia do tema, a anlise desses edifcios foi aqui realizada a
partir de reflexes a respeito de dois temas: a tcnica e os detalhes construti-
vos. O ponto de partida da investigao consistiu na seleo de alguns autores
que tratam do tema das tcnicas construtivas como indutoras do processo de
criao de um projeto arquitetnico, alm das reflexes acerca do papel dos
detalhes construtivos como fatores de formao de identidade das obras. Fo-
ram escolhidos textos de Gevork Hartoonian, Vittorio Gregotti e Marco Frascari.
Para uma compreenso mais abrangente do tema, foi feita uma breve reviso
sobre o surgimento e evoluo dos edifcios destinados a propsitos de pro-
duo e comercializao, entre eles os armazns, as manufaturas, as fbricas,
entre outros. Nessa reviso, as transformaes relevantes nos processos produ-
tivos e consequentemente construtivos, a dinmica das construes com seus
novos mtodos e principalmente as decorrentes alteraes de ordem esttica
se tornaram foco das especulaes que se seguem.
O processo de secularizao e racionalizao que se abateu na arquitetura a
partir das ltimas dcadas do sculo XVIII provocou uma ruptura no sistema
de composio clssico. Ao longo do sculo XIX, os adventos da engenharia,
como a estrutura metlica e o concreto armado, juntamente com a especiali-
zao das funes na cadeia produtiva e a industrializao, fizeram com que
os elementos constituintes da arquitetura clssica se tornassem obsoletos. A
linguagem clssica perdeu seu sentido tectnico e sua funo passou a ser o
disfarce da suposta precariedade e pobreza das estruturas modernas. Segundo
Gevork Hartoonian, o antigo conceito do fazer/ construir, ou seja, uma dupla
atribuio, composta tanto por valores estticos como pelos aspectos empri-
cos da construo, denominado pelos gregos pela palavra techn, foi perdido,
3 Os escritrios de Maurcio Castro & Reginaldo Esteves, Accio Gil Borsoi, Delfim Amorim & Heitor Maia Neto, Armando de Holanda, Glauco Campello & Vital Pessoa de Melo, Marcos Domingues e Sena Caldas & Polito, dentre outros, com a maioria dos seus integrantes formados no curso de Arquitetura da Escola de Belas Artes em Recife, ou na transio desta para a Faculdade de Arquitetura, receberam, nesse perodo, muitas encomendas para a realizao de projetos para indstrias. Em seus projetos, possvel observar a presena de tais princpios de construo industrial, associados a experimentaes plsticas e de adequao climtica.
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num primeiro momento, com a introduo da racionalizao e do uso de tc-
nicas e materiais modernos nas construes. Assim, a tecnologia substituiu a
techn (HARTOONIAN, 1994, p.6).
Entretanto, esta constatao, que conhecida e aceita no campo da teoria da
arquitetura, no significa para Hartoonian um mal absoluto. Ele admite que
possvel vislumbrar na arquitetura moderna uma reconciliao entre o fazer
e o significar. Assim, procuramos mostrar que mesmo quando so utilizados
princpios e tcnicas modernas de construo, particularmente os sistemas
pr-fabricados, possvel, a depender do seu manejo, conferir identidade e sig-
nificado aos edifcios.
Em relao ao papel da tcnica na concepo de um projeto arquitetnico, Vit-
torio Gregotti argumenta que essa participao acontece em trs nveis: na de-
terminao da estrutura, ou esqueleto do edifcio, na ateno aos seus fluxos
e no exerccio do detalhe (GREGOTTI, 1995, p.51). Essas trs possibilidades de
atuao da tcnica como princpio norteador do projeto foram identificadas
como diferentes estratgias de projeto e consideradas um critrio para a sele-
o dos trs edifcios a serem aqui estudados, cada um correspondendo a uma
estratgia. Esses recursos esto relacionados com as vrias tcnicas, como as
de desenho, de montagem, de construo, de adequao climtica e de com-
posio arquitetnica, e essas, por sua vez, responderiam ao mesmo tempo s
questes funcionais e estticas.
Escolhidos os exemplos a partir das consideraes de Gregotti, a anlise das
obras baseou-se na ideia de que todo detalhe arquitetnico sempre uma jun-
o, ou seja, o lugar em que se d a interface entre os elementos, em que
necessrio recorrer a um manejo ou tcnica que reconhea as propriedades in-
trnsecas de cada uma das partes envolvidas. A ideia de juno como definio
de detalhe na Arquitetura tambm foi anunciada por Marco Frascari:
Pode-se afirmar, porm, que todo elemento arquitetnico definido como deta-
lhe sempre uma juno. Os detalhes s vezes so juntas materiais, como no
caso de um capitel, que a ligao entre o fuste de uma coluna e a arquitrave,
s vezes so juntas formais, como no prtico que a ligao entre um espao
interno e um espao externo. Assim, os detalhes so um resultado direto da di-
versidade de funes que existe na arquitetura (FRASCARI, [1983] 2008, p.541).
Mais adiante, no mesmo texto, Frascari refere-se a uma junta negativa, que
seria o intervalo entre os espaos, um tipo de junta (imaginria) que, ao invs
de distanci-los, os integra. Essas trs juntas conceituais so parte de uma
prtica de revelar o edifcio do ponto de vista construtivo e ainda prov-lo
de significao, uma vez que esclarecem cada elemento. Portanto, as articu-
laes entre espaos e materiais foram eleitas como o foco da anlise dos
edifcios escolhidos.
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O primeiro edifcio, a TCA, antiga montadora Willys (1962-66), teve no esquema
estrutural seu princpio norteador. Com projeto de Maurcio Castro e Reginaldo
Esteves, est localizado s margens da BR-101-Sul, km 19. O segundo edifcio,
a AGTEC (1974-76), de autoria de Glauco Campello e Vital Pessoa de Melo, est
inserido na malha urbana da cidade do Recife (Av. Professor Morais Rego, Cida-
de Universitria) e teve sua forma determinada pelos fluxos necessrios ao seu
funcionamento. . O terceiro, a fbrica da Bombril (1979-83), tambm localizado
na BR-101- km 52 norte, na Regio Metropolitana do Recife, no municpio de
Abreu e Lima, foi baseado no detalhamento de um sistema construtivo prprio
e reproduzido em todo o corpo da obra, cujo projeto de Accio Gil Borsoi, Ja-
nete Costa e Rosa Aroucha.
TCA: a forma a partir do sistema estrutural
Na primeira estratgia a forma definida a partir do sistema estrutural. Habitu-
almente, a partir da escolha desse sistema so estabelecidos o arranjo principal
do edifcio, as modulaes, as articulaes entre os espaos e as solues de
coberta. Entretanto, tal estratgia pode ser dividida em duas alternativas, sen-
do a primeira aquela em que a volumetria do edifcio definida pelo desenho
e pela sequncia de seus elementos de maneira explcita, a exemplo de dois
famosos edifcios industriais brasileiros: a Duchen (Rodovia Presidente Dutra,
divisa de So Paulo e Guarulhos, sentido Rio de Janeiro, 1950-51) e a Sotreq (Av.
Brasil, 7200 - RJ, 1949) com projetos de Hlio Uchoa e Oscar Niemeyer e dos Ir-
mos Roberto, respectivamente. Na segunda alternativa, o sistema estrutural,
apesar de nortear a concepo, envolvido pela vedao, que esconde ou revela
sutilmente a conformao da estrutura principal.
FIGURA 1 Localizao dos edifcios
estudados na regio Metropolitana do Recife.
Imagem capturada do Google Earth, 2009.
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Em ambos os casos, esse mecanismo geralmente utilizado para a concepo
de espaos livres, o que favorece a sua flexibilidade e tem sido um requeri-
mento recorrente para edifcios industriais, que necessitam de opes para a
modificao do leiaute da maquinaria e da linha de produo.
FIGURA 2
Imagem area da TCA capturada do Google
Earth, 2009. Contorno em vermelho, unidade
de produo, em verde, administrao, em azul, refeitrio e em amarelo
setor de controle de acesso.
A segunda alternativa ou verso dessa estratgia (a sutil revelao da estru-
tura) foi associada atual fbrica de componentes eltricos e eletrnicos para
automveis, a TCA, antiga montadora dos Jipes Willys, projeto dos arquitetos
Maurcio do Passo Castro e Reginaldo Esteves.
Localizada no 19/20 km da BR-101- Sul, em Prazeres, municpio de Jaboato
dos Guararapes (PE), essa grande unidade montadora de veculos foi inaugu-
rada em 1966 e teve sua execuo a cargo da Construtora Norberto Odebre-
cht. Inicialmente, essa unidade era destinada montagem dos veculos para
a Ford do Brasil, mas atualmente, produz componentes eltricos e eletrnicos
para montadoras de automveis, sob a administrao da TCA (Tecnologia em
Componentes Automotivos S.A.).Distribudo num terreno de 191.232,10 m2, o
FIGURA 3 TCA. Foto panormica da fbrica na poca de
sua inaugurao
Fonte: Acervo da TCA
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conjunto consiste em um grande galpo, destinado linha de produo, um
bloco de administrao, um bloco para o restaurante e outro, menor, perto da
entrada, no qual funcionam os setores de controle e gerncia. Os blocos esto
espalhados no stio e conectam-se por passarelas cobertas e abertas ou sim-
plesmente pelo agenciamento do jardim.
O galpo de produo liga-se ao bloco da administrao por uma pequena
passarela, coberta por uma laje suspensa por pilares unilaterais em concreto.
O conjunto apresenta uma ambincia amena e incomum para a maioria dos
exemplos existentes na regio, devido aos seus grandes afastamentos, trans-
formados em jardins.
FIGURA 4
Foto de uma das Plantas
originais
Fonte: Acervo da TCA
Destinado a acomodar a linha de produo, o galpo maior possui pilares de
grandes propores, em concreto, os quais obedecem a uma rgida modulao
(24x12m) para apoiar o vigamento, tambm em concreto, numa distribuio
destinada a vencer os grandes vos e a suportar a estrutura da coberta (auxi-
liada por uma armao e tirantes metlicos), com telhas em fibrocimento e de
material translcido em sistema de sheds, sua principal fonte de luz natural.
A vedao perifrica possui um sistema estrutural secundrio, tambm com
pilares e vigas em concreto, bem como intervalos preenchidos com tijolos apa-
Figura 5
TCA. Trecho da fachada do edifcio
principal
Desenho: Renata Caldas
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rentes na parte inferior, elementos vazados na parte intermediria e coroados
por uma platibanda opaca e contnua. Essa superfcie de vedao obedece tam-
bm a um esquema de modulao que se articula estrutura principal, deixan-
do para a fachada a referncia da modulao interna.
A vedao ou superfcie que envolve o imenso galpo prismtico tem sua
leveza acentuada pela porosidade e translucidez, j que o trecho central de
sua fachada composto de elementos vazados, que so, ao mesmo tempo,
auxiliares da ventilao e da iluminao e provedores da textura que compe
essa superfcie.4
Esse projeto apresenta um extensivo uso do concreto (pilares e vigas princi-
pais). Nota-se a inteno do uso de esquemas de pr-fabricao e montagem,
apesar de a maioria das formas ter sido confeccionada no prprio canteiro de
obras. Devido s suas dimenses e reproduo de seus elementos constituin-
tes, ao permanecer no espao, observa-se uma sensao de infinidade, talvez
semelhante quela experimentada pelos visitantes do Palcio de Cristal.
Observa-se, tambm, uma simplificao das formas, transformando as cons-
trues em grandes prismas inseridos no extenso terreno. Trata-se de um con-
junto de edifcios soltos, que podem ser observados por vrios ngulos. Os ma-
teriais foram, em sua maioria, utilizados de forma aparente e suas texturas
foram combinadas entre si.
Quanto ateno adequao climtica, trs medidas principais foram to-
madas: o uso de elementos vazados, as aberturas na coberta para a tiragem
de ar e a insero das edificaes em uma extensa rea verde. Essas medidas,
sugeridas por Armando de Holanda no seu Roteiro para construir no Nordes-
te (1976), j faziam parte das preocupaes de Castro e Esteves nesse projeto.
Segundo Esteves,5 foram realizados experimentos na tentativa de melhorar o
desempenho da capacidade de ventilao e exausto e de proteo s chuvas
dos elementos vazados e dos sheds. Tais experimentos consistiam em uma si-
mulao de chuva por meio de jatos de gua associados a ventiladores, em um
dos lados de um septo de elementos vazados, para verificar o alcance da gua
impulsionada pelo vento. Entretanto, fica claro que o interesse pelo uso de tais
recursos (elementos vazados e sheds) estava vinculado tambm a uma inten-
o plstica. A preferncia por alguns materiais, como o tijolo aparente, possui
tanto atributos estticos como vantagens do ponto de vista de amenizao cli-
mtica, uma vez que um bom isolante trmico.
Tanto o conjunto como o galpo de produo no apresentam um nmero ex-
pressivo do que foi definido por Frascari como junta formal, ou seja, um ele-
4. Houve tambm, no projeto, o cuidado na insero de um grande painel de concreto em relevo, de autoria do artista plstico Caryb, uma proposio corrente nos edifcios industriais projetados por Castro e Esteves. Infor-mao fornecida por Reginaldo Esteves, em entrevista autora em novembro/2009.
5. Informao concedida em entrevista realizada com o arquiteto em novembro de 2009, em seu escritrio, em Casa Forte.
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mento que realiza uma articulao entre os espaos de maneira contnua. Essa
junta acontece na TCA apenas na circulao externa, sob a laje com apoios uni-
laterais. Essa passagem conecta dois blocos e tambm pode servir de lugar de
pouso, um terrao. Sua diferenciao estrutural, com os pilares que suspendem
a laje, evidencia esse papel de modo suave e ao mesmo tempo marcante, por
causa do desenho dos apoios.
Como o conjunto composto de blocos prismticos bastante definidos e sem
recortes ou reentrncias, esse tipo de articulao pouco se apresenta. As aber-
turas, por sua vez, so diretas e no envolvem pontos de intermdio, o que
poderia ser interpretado como esse tipo de conexo.
No galpo principal, as interfaces entre os elementos e os materiais se do
em trs pontos: no desenho dos pilares e vigas, na estrutura dos sheds e na
mudana de material no plano da fachada. Entretanto, tais juntas materiais se
apresentam de modo mais objetivo do que significativo, e sua participao na
composio discreta.
A lgica de um sistema estrutural independente do seu invlucro foi utilizada
nesse edifcio, porm, nesse caso, houve uma inverso nas densidades dos sis-
temas, se comparado com edifcios precursores do Movimento Moderno, como
a Biblioteca de Saint Genevive, de Henri Labrouste (1838-1850), e a Bolsa de
Amsterd, de Hendrik Petrus Berlage (1897-1903). Neles, os sistemas de vedao
perifricos foram feitos em alvenaria, conferindo-lhes uma acentuada densida-
de externa, enquanto seus interiores apresentavam leves estruturas metlicas
em claro contraste com o exterior (FRAMPTON, 1995, p.46-48). A inverso de
densidade aplicada na montadora Willys foi obtida por meio de uma estrutura
interna robusta, composta por grandes pilares e vigas em concreto e por uma
superfcie de vedao leve e translcida.
O contraste encontrado na TCA entre o silencioso exterior do edifcio e seu
interior monumental fruto do mesmo princpio da Biblioteca e da Bolsa de
Figura 6
TCA, viso interna: elementos vazados em
todo o permetro do bloco de produo
Foto: Fernanda Mafra
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Amsterd, apesar da inverso das densidades, pois ambas no possuem exte-
riores silenciosos. A estrutura reclusa no interior de um envelope consiste
num recurso bastante utilizado em edifcios industriais de grande porte no s-
culo XX, como a Glass Plant, no complexo industrial de River Rouge, Dearborn,
1922 e o edifcio da Chrysler Corporation Tank Arsenal, Detroit, 1940, ambos
com projeto de Albert Kahn e que revelam com clareza a interlocuo entre
diferentes tcnicas e materiais.6
Essa separao entre os dois sistemas estruturadores do edifcio significou um
importante avano e influenciou fortemente as futuras manifestaes da ar-
quitetura moderna. Aproximadamente um sculo depois, Castro e Esteves, no
projeto da montadora Willys, parecem ter reinterpretado a estratgia de La-
brouste e Berlage, invertendo as densidades por razes de adequao climtica
(com os elementos vazados nas paredes e os sheds na coberta), o que caracteri-
za a permanncia de valores importantes, como a racionalidade, absolutamen-
te pertinente aos edifcios industriais.
Agtec: a singularidade
A segunda estratgia considera o papel da tcnica na construo do projeto,
mediante o atendimento aos fluxos necessrios dentro de um edifcio, como na
renomada Fbrica Van Nelle, em Rotterdam. Tal estratgia foi capaz de conferir
singularidade ao projeto da Agtec Indstria e Comrcio Ltda.
Neste edifcio de uso misto, a soluo adotada privilegiou o atendimento aos
movimentos e fluxos dos seus produtos e equipamentos. Nota-se que essa es-
tratgia tambm possui duas opes bsicas: a primeira opo utilizada em
espaos flexveis e adaptveis s suas variaes, como as plantas de grandes
vos livres, e geralmente em apenas um pavimento. A segunda opo surge
quando a ateno aos fluxos precisa ser adequada, ora em relao s limitaes
do terreno, ora quando eles necessitam ser realizados no apenas em um pla-
no, mas entre diferentes pavimentos, ou ainda quando o esquema de produo
envolve requerimentos muito particulares, realizveis apenas por meio de um
desenho especfico. Essa segunda opo foi identificada na Agtec, que precisou
articular diferentes planos e direes de fluxos, condio que influenciou dire-
tamente na soluo de seu projeto.
A questo estrutural tambm foi muito importante nesse caso, pois o desenvol-
vimento do edifcio obedece a uma disposio regular da estrutura, que recebe
um desenho prprio para desempenhar a sua funo. Entretanto, os planos das
vedaes e as articulaes entre os pavimentos por meio de escadas, vazios e
recortes nas lajes, de modo a formar mezaninos, dinamizam os espaos e cor-
respondem s necessidades dos movimentos internos do edifcio.
6. Mesmo em pocas diferentes, esta tem sido uma opo bastante utilizada. possvel encontrar exemplos similares, antes, durante e aps a construo da montadora Willys em 1964, em diversos lugares.
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A Agtec Indstria e Comrcio Ltda foi projetada por Glauco Campello e Vital
Pessoa de Melo, em 1974, para abrigar uma oficina e uma fundio de equipa-
mentos agrcolas, escritrios de projeto de sistemas de irrigao e ponto de
revenda e representao. Sua localizao em uma via expressa, Av. Professor
Moraes Rego (BR-101), dentro do tecido urbano, favorece seu propsito comer-
cial e de prestao de servio. Ocupando inicialmente um terreno de 50 m x 50
m, teve seu lote reduzido em 35 m na sua face oeste pela abertura da BR-101.
De acordo com o depoimento do proprietrio da empresa,7 o engenheiro agr-
nomo Crinauro Vellozo, um dos principais requerimentos do projeto foi en-
contrar uma soluo de proteo para enfrentar as frequentes inundaes que
ocorriam naquela regio da cidade. A resposta foi verticalizar o edifcio para
garantir uma forma de escapar das enchentes.
Com essa verticalizao em trs nveis, necessariamente haveria que se esta-
belecer pelo menos uma circulao vertical. Ainda relacionada possibilidade
de alagamento, outra solicitao surgiu: tambm deveria haver a possibilidade
de deslocamento dos equipamentos e produtos do trreo para o piso superior.
Partindo-se dessa exigncia, foi criada ento uma segunda circulao vertical,
exclusiva para as mquinas e produtos, que receberia um elevador tipo monta-
-cargas para realizar tal deslocamento. Sua estrutura foi calculada para supor-
tar, no segundo pavimento, a maquinaria, exposta no trreo e que eventual-
mente poderia ser iada no caso de inundaes.
7. Depoimento em entrevista realizada em 16/02/2009.
Figura 7
Agetec: imagem area, capturada do Google Earth.
O edifcio est assinalado em amarelo
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Figura 8
Agtec : fachada principal
Foto: Fernanda Mafra
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Assim, no edifcio foram estabelecidos dois eixos verticais de circulao: o de
pessoas, pela escada, e um para mquinas, pelo elevador monta-cargas (jamais
instalado). Esse fator de determinao de dois eixos verticais e principais de
circulao indicou que a ateno principal para a concepo do edifcio foi
dada a seus fluxos, o que determinou suas formas.
Os movimentos horizontais so mais intensos no pavimento trreo, por causa
da loja e da oficina. No primeiro piso, h um escritrio localizado entre a oficina
e a loja (mezanino) e algumas pequenas salas. A localizao do escritrio da
administrao da empresa permite a visualizao de ambos os lados do trreo
(loja e oficina). Esse piso tem uma menor superfcie ocupada. No segundo piso,
h uma diviso por setor, um destinado a escritrios, voltado para o sul, e a
outro que serve como depsito e recebe as mquinas na eventualidade de uma
inundao, voltado para norte.
Apesar de a ateno aos fluxos ter sido escolhida como estratgia da concepo
do edifcio, o seu sistema estrutural bastante significativo e pode tambm ser
considerado como norteador do projeto. Uma sucesso de pares de colunas
em concreto forma uma sequncia envolvida por septos de vedao, ora em
alvenaria, ora em elemento vazado ou em vidro, o que deixa a estrutura livre.
Sobre essa sequncia de pilares com p-direito duplo (requerimento em funo
das enchentes na regio), h uma massa compacta, o segundo piso que acentua
a horizontalidade do edifcio. A estrutura toda em concreto aparente e suas
formas foram realizadas na obra. No foram utilizados elementos estruturais
pr-fabricados e o prdio foi inteiramente modelado in loco.
O edifcio apresenta uma composio longitudinal distribuda em trs faixas
horizontais correspondentes ao nmero de pavimentos (trreo, sobreloja e pri-
meiro piso). Os dois teros inferiores diferem do tero superior tanto nas suas
propores como no tratamento das superfcies.
A rigidez da disposio da estrutura foi suavizada pelos septos de vedao que,
de forma independente, envolvem os pilares sem tocar na laje nem na estrutu-
ra em quase todo o permetro. Alm da delicadeza de no vedar completamen-
te o pavimento trreo, esse fechamento inclui uma variao de densidade e de
textura ao utilizar alvenaria rebocada, elementos vazados, vidro na parte infe-
rior (vitrine). Tal variao acentua o jogo de luz no interior do edifcio e tambm
tenta proteg-lo da incidncia do sol poente que atinge a fachada principal.
O desenho da seo das vigas sofre uma declinao nas suas extremidades.
Esse afinamento ocorre tambm no recorte do volume superior em suas faces
menores, voltadas para o norte e o sul, formando um trapzio, e a inclinao
que se dirige para a parte interna do volume acomoda as telhas e oferece faci-
lidade para o escoamento das guas pluviais.
O papel da tcnica, aqui, tambm pode ser atribudo busca de uma adequa-
o climtica com o emprego de algumas das recomendaes de Armando de
Holanda, em seu Roteiro para Construir no Nordeste (1976), como tambm ao de-
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senho, cujas propores inusitadas fazem dessa obra um exemplo incomum.
Algumas das recomendaes de Holanda so bastante evidentes no edifcio,
tais como a liberao do encontro das paredes e das lajes, o balano voltado
para o oeste, o que cria uma sombra, o recuo das paredes inferiores, o uso de
elementos vazados, a proteo de algumas janelas e a austeridade com rela-
o escolha dos materiais. Entretanto, o volume prismtico do primeiro piso
contraria esses princpios, pois expe francamente as fachadas s intempries,
alm de sua prpria orientao desfavorvel por se voltar em sentido longitu-
dinal para o oeste.
FIGURA 9
Agtec: plantas do trreo e da sobreloja mostram a
independncia da estrutura
e das vedaes e diferenas de materiais e textura
Desenho: Marlia Alheiros.
Figura 10
Agtec: planta baixa do primeiro pavimento
Desenho: Marlia Alheiros
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Pela sua natureza fragmentada, as articulaes ocorrem em profuso nesse
edifcio. As consideraes de Marco Frascari sobre os diferentes tipos de jun-
es (material, formal e negativa ou virtual) oferecem uma chave para a leitura
do edifcio (FRASCARI, [1983] 2008, p.538). No edifcio da Agtec, podem ser en-
contradas todas elas. Em vrios momentos se encontram junes que, muitas
vezes, se mostram de tipo ou definio dupla. Isso significa que uma mesma
conexo pode ser de dois tipos (formal e material, por exemplo).
A juno dos espaos ocorre, nesse caso, nas circulaes verticais, principal-
mente na escada. Ao atravessar os pisos, a escada naturalmente um elemen-
to de ligao e especialmente interessante por ser solta e voltar-se para um
espao com um p-direito duplo. Outro exemplo de junta formal nesse edifcio
Figura 13
Agtec: fachada frontral
Desenho: Marlia Alheiros
Figura 11
Agtec: corte longitudinal
Desenho: Marlia Alheiro
Figura 12
Agtec: cortes transversais e fachada lateral
Desenho: Marlia Alheiros
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a vitrine da loja, uma abertura horizontal que comea na cota zero do piso tr-
reo e tem uma altura bastante reduzida. Esse artifcio permite uma integrao
do exterior com o interior, devido necessidade de visualizao dos produtos
expostos no interior da loja e, ao mesmo tempo, tentam resguard-la do sol.
A cruzeta no topo do pilar que o une laje, mesmo sendo do mesmo material,
faz com que seus elementos constituintes (pilar, viga e laje) sejam perfeita-
mente diferenciados. Os frisos entre as superfcies diferentes tambm so um
exemplo de junta material, alm de todos os encontros de planos com diferen-
as de texturas, cores e materiais (concreto, alvenaria com reboco, madeira,
ferro e elemento vazado). As juntas negativas aqui se mostram principalmente
por meio dos recortes nos pisos, tanto do mezanino (sobreloja) quanto no rasgo
da laje de piso reservado para a instalao do elevador monta-cargas.
Tambm significativa a fresta entre os septos do trreo e do primeiro piso em
relao laje do segundo piso. Esse intervalo importante tanto para a volume-
Figura 14
Agtec: acesso principal no qual observa-se o recuo
de parte da fachada que, por sua vez, composta de
elementos vazados e no toca na laje, atendendo,
assim, simultaneamente s trs recomendaes de
Armando de Holanda
Foto: Fernanda Mafra
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tria como para o espao, uma vez que declara a separao entre o tero superior
e os dois teros inferiores do edifcio, alm de fazer entender separadamente
cada elemento. O vo da escada tambm pode ser considerado como uma junta
negativa ou virtual, uma vez que a escada est disposta solta no vazio contnuo
entre os pisos.
Tantos so os detalhes dessa obra quanto as experincias possveis ao percor-
r-la. Entre seus recortes e junes se forma um edifcio repleto de surpresas.
Uma curiosa e inusitada composio acerca do rido tema de um edifcio de
natureza industrial.
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FIGURA 15
AGTEC. Cruzeta no topo do pilar
FIGURA 16
AGTEC: frisos entre distintas superfcies.
Foto: Fernanda Mafra
15 16
A fbrica Bombril (NE): o detalhe norteando o projeto
A terceira estratgia trata do papel da tcnica na construo do projeto arquite-
tnico mediante o exerccio do detalhe. Nesse exerccio, o detalhe construtivo
ao mesmo tempo norteia a materializao do edifcio e lhe atribui significado,
uma qualidade prevista j por Karl Btticher, em meados do sculo XIX. Btti-
cher distingiu entre a Kernform, o ncleo ou a parte funcional e estrutural, e a
Kunstform, o revestimento artstico que tem a finalidade de representar e sim-
bolizar a condio institucional da obra (BTTICHER, [1846] 1992, p.159-165).
Essa propriedade, que tem o elemento constituinte da arquitetura de conter os
aspectos operativos ou funcionais associados aos aspectos estticos, foi reto-
mada por autores como Frampton, Gregotti e Frascari, e diz respeito aos valores
tectnicos, que no se limitam a revelar a verdade construtiva do edifcio, mas a
identificar os atributos estticos provenientes dos recursos tcnicos utilizados.
A obra selecionada para ser examinada nesse mbito foi a fbrica da Bombril
(NE). Esse edifcio assume os princpios da reprodutibilidade e da montagem
(prprios do paradigma modernista) de modo integral e particular. De modo
integral, porque os principais sistemas (estrutura, vedao, coberta e instala-
es) so compostos de unidades mnimas que se repetem no edifcio e, de
modo particular, porque tanto o desenho, como a montagem dos componentes
foram desenvolvidos de acordo com a especificidade da obra. Na singularidade
do desenho dos componentes deste projeto (unidades mnimas) reside um for-
te senso de valor funcional e esttico, o que restabelece a atribuio antiga da
tcnica enquanto mecanismo para solucionar um problema construtivo e, ao
mesmo tempo, atribuir significado ao objeto arquitetnico.
Na BR-101 Norte, no municpio de Abreu e Lima, Regio Metropolitana do Reci-
fe, encontra-se a fbrica da Bombril, um complexo fabril com 20.295 m2 de rea
construda, composto por trs edifcios principais destinados inicialmente
produo de palha de ao. O projeto foi realizado por Accio Gil Borsoi, Janete
Costa e Rosa Aroucha, em 1979, com sua construo concluda em 1983.
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A implantao dos edifcios foi feita com os volumes separados, que se acomo-
dam ao terreno com um pequeno declive, ao mesmo tempo em que atendem
lgica de produo. Os trs volumes atendem a funes diferenciadas: o primei-
ro acomoda a administrao, o segundo foi destinado produo e o terceiro ao
armazenamento, estoque e centro de distribuio.
Segundo Aroucha e Amorim,8 houve uma primeira soluo que consistia num
simples galpo. Porm, os representantes da empresa rejeitaram a proposta
inicial e solicitaram algo diferenciado. Assim, uma nova e definitiva alternativa
foi desenhada.
Duas caractersticas principais desse projeto foram os argumentos defendidos
por seu autor. A primeira foi o seu sistema de vedao com placas pr-fabricadas
em concreto, desenhadas exclusivamente para o edifcio, e a segunda foi a co-
berta em trelia metlica espacial.
A vedao das fachadas com placas modulares completamente independentes
da estrutura que suporta a coberta demonstra a autonomia de seus elementos
e reafirma a construo como uma montagem. Essas placas foram dispostas
medida de suas necessidades em grandes superfcies e formam um jogo percep-
tvel em todas as suas faces. O desenho dessas placas de vedao foi elaborado
considerando-se as medidas/modulaes dos demais sistemas (coberta e estru-
tura), numa clara inteno em coorden-los entre si.
A coberta foi dividida em duas partes: a primeira repousa sobre os dois primei-
ros blocos e possui grandes aberturas sobre a rua interna que os separa; e a
segunda coberta encontra-se sobre o bloco de armazenagem.
Pelo fato de ser plana e de distribuir uniformemente as cargas, essa retcula ou
trama tridimensional foi apoiada em um grande recuo em relao ao perme-
tro do edifcio e se projetou alm dessa vedao, criando assim grandes beirais.
Com tais projees, pretendia-se proteger as paredes da insolao e das chuvas,
no sentido de promover uma amenizao climtica para o edifcio. A estrutura
de suporte da coberta com o travejamento espacial cria um interstcio ou col-
cho de ar na sua espessura, o que tambm auxilia na disperso do calor. Alm
da proteo, esse sistema de coberta serviu tambm de elemento de conexo
entre os blocos e participa do edifcio de maneira a equilibrar seus volumes, a
conferir ao conjunto um arremate contnuo e ao mesmo tempo leve, em funo
de seus grandes balanos.
Alguns componentes secundrios da fbrica, como os tubos de exausto, tam-
bm participam da composio do edifcio. A exposio de todos os seus ele-
mentos, opo prpria das construes industriais, foi aqui adotada e acrescen-
tada a um desenho exclusivo. No edifcio tambm foi destinado um lugar para
um mural artstico, com placas em concreto formando um relevo. Nesse mural
foi aplicado a um septo de ligao entre dois blocos do conjunto.
8 Depoimento da arquiteta Rosa Aroucha e do professor Luiz Amorim, ento estagirio do escritrio do projeto.
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A fbrica da Bombril parece ser a continuao de um princpio anteriormente
explorado por seu autor, Borsoi, quando projetou as casas para o conjunto de
Cajueiro Seco, em 1962 (CAJUEIRO, 1984). So painis estruturados a partir de
elementos verticais, com os montantes ligados por placas, em taipa, no caso das
casas de Cajueiro Seco, e na fbrica, com placas pr-moldadas em concreto. Os
materiais, as propores e as finalidades funcionais so naturalmente diferen-
tes, mas o princpio ou estratgia a mesma: mediante sistemas modulados,
com sua unidade mnima (painel e aberturas), o edifcio adquire sua identidade.
O sentido de trama encontra-se presente em todo o edifcio. Uma noo que se
manifesta em duas dimenses, quando foi lanada a grelha ou quadrcula que
coordena os mdulos, e em trs dimenses, quando tanto as vedaes como a
coberta foram pensadas conjuntamente, com suas medidas coordenadas e, por
fim, com as articulaes formais entre os blocos ou volumes, entre as cobertas
e seus intervalos. A coordenao modular permitia a compatibilizao de ma-
teriais, em um ponto que encontra as escalas p-polegadas e o sistema mtri-
co, a modulao em 1,25 m (AMARAL, 2001). Tal medida, aplicada na Bombril,
corresponde a meio mdulo mnimo do padro universal de modulao para
edifcios industriais.
A harmonia e a identidade so, nesse edifcio, proporcionadas por suas clu-
las que contm as informaes geradoras do projeto. A estrutura que recebe as
pirmides da trelia espacial, as placas de vedao e suas aberturas pertinen-
tes, todos os elementos que trabalham em conjunto do a impresso de uma
obra completa, que no permite acrscimos ou subtraes. Todos os ns ou
conexes propostos nesse projeto lhe atribuem significado. Por meio da coor-
denao geomtrica, dos encaixes, dos vnculos entre as partes, o edifcio se
apresenta e se faz compreensvel.
Esse conjunto de grandes propores um exemplo que apresenta uma justa
coordenao entre os elementos de vedao, iluminao, ventilao e estru-
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Figura 17
Fbrica da Bombril (NE): croquis de
Accio Gil Borsoi
Fonte: Acervo do escritrio
Borsoi Arquitetos Associados
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tura, parte deles igualmente pr-fabricados e com modulaes prprias. Apre-
senta-se como um grande complexo de junes, por isso o exerccio do detalhe
nele seu maior aliado produo de significado. O prprio sistema de trelia
espacial estruturado nos pontos de conexo, chamados de ns, e funciona
mediante os esforos axiais de compresso ou trao.
A vedao estruturada por encaixe e tambm requer um desenho que favore-
a esse mecanismo. Foi definido um nmero de peas (7) a serem reproduzidas
e combinadas entre si e com os demais sistemas, em particular a estrutura e a
coberta. Esse nmero engloba as peas verticais, as peas horizontais fechadas
e abertas, bem como os arremates superiores e inferiores.
Quanto s articulaes entre os edifcios do conjunto, elas ocorrem nesse caso
por meio de grandes recortes ou intervalos e pelo septo de ligao entre dois
blocos com um mural artstico.
As ligaes entre os espaos por meio de elementos de continuidade ou marca-
o so, segundo Frascari, as juntas formais to bem representadas pelo prti-
co. Na Bombril, o trecho de coberta que fica entre os dois blocos (administrao
Figura 18
Fbrica da Bombril (NE): planta baixa do
pavimento trreo
Desenho: Renata Caldas
e produo) no um prtico, mas opera como uma grande marcao que in-
tegra trs espaos: os dois blocos e a rua entre eles. A prpria rua tambm pode
ser considerada uma junta formal.
As conexes entre as placas e os montantes, entre os pilares e os apoios prin-
cipais da trelia, podem ser consideradas como ns ou juntas; so todos de-
talhes. Unindo diferentes materiais e sistemas, esses ns demonstram clara-
mente as suas funes e atribuies estticas, o que acentuado pelo fato de
os materiais terem sido utilizados em sua forma aparente.
Os intervalos que respondem pela integrao do edifcio se fazem presentes na
Bombril em duas aberturas tipo zenital sobre a rua situada entre os blocos de
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administrao e de produo, no prprio vazio ou afastamento entre esses blo-
cos, vazio necessrio passagem da rua, e tambm nos recortes, como os dos
grandes portes de abastecimento de matria-prima. Esse edifcio exemplifica
a proposta de concepo a partir da unio de fragmentos afins, cujo arranjo
ganha fora e significado. igualmente um exemplo da positiva interao entre
sistemas diferentes, apresentando uma ideia de completude e de harmonia.
Concluses
As trs obras aqui estudadas sintetizam trs possibilidades de aplicao da
tcnica na concepo de projeto, de acordo com Gregotti (1996), aqui tomadas
como marco para nortear as anlises. Em seu argumento, o autor coloca que h
trs possibilidades de a tecnologia servir de ponto de partida para a construo
de um projeto arquitetnico: na sua estrutura substancial (esqueleto), na sua fi-
siologia (fluxos) e no exerccio do detalhe. Contudo, refora que, esses trs pon-
tos acontecem simultaneamente, apenas havendo a prevalncia de um deles.
A primeira possibilidade pode ser identificada na fbrica da TCA, antiga mon-
tadora de carros Willys, na qual a fundamentao do projeto reside na sua es-
trutura, ou esqueleto. Todavia, o tratamento desta estrutura se deu por uma
espcie de dissimulao, ou seja, seu aspecto exterior revela sutilmente o seu
interior.
A segunda possibilidade pode ser encontrada no edifcio da Agtec, cuja natu-
reza mista (indstria e comrcio) induziu a uma soluo bastante especfica: o
atendimento aos fluxos de pessoas, produtos e equipamentos. Essa estratgia
tambm possui desdobramentos; por um lado o atendimento aos fluxos de um
edifcio industrial pode ser obtido atravs de um espao absolutamente flexvel
e adaptvel s suas possveis variaes. Por outro, esta condio torna-se mais
complexa quando h limitaes de terreno e quando tais fluxos necessitam ser
realizados em diferentes pavimentos.
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Figura 19
Fbrica da Bombril (NE): vista da coberta, mostrando a coordenao dos sistemas
de vedao e coberta
Foto: Fernanda Mafra
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Figura 20
Fbrica da Bombril (NE): trecho da coberta que liga dois blocos e marca o seu
acesso, funcionando como um prtico
Foto: Fernanda Mafra
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Figura 21
Fbrica da Bombril (NE), dois intervalos: abertura
para o recinto de produo (porto) e abertura na
coberta
Foto: Fernanda Mafra
FIGURA 22
Fbrica da Bombril (NE): abertura da coberta sobre
a rua interna e entre os blocos, administrativo e de
produo
Foto: Fernanda Mafra
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A terceira possibilidade est representada pelo caso da fbrica da Bombril,
no qual o detalhamento aparece como o gerador do projeto. Neste caso os
elementos que formam o sistema de vedao, so os geradores do projeto.
O exerccio do detalhe na Bombril, no uma consequncia de um princpio
maior, ele o prprio princpio. Alm do sistema de vedao, o projeto coor-
dena outros sistemas, a partir de um traado regulador de planta, que articula
diversas modulaes (estrutura de suporte da coberta, a prpria coberta em
trelia tridimensional).
Conclumos, em primeiro lugar, que, num universo aparentemente rido como
o dos edifcios industriais, as variaes criativas so possveis. Mesmo quando
estes so concebidos a partir de valores como economia e rapidez de cons-
truo, algumas obras mostram-se consistentes e significativas. Tais edifcios
so fruto da capacidade de reflexo, tanto nas opes construtivas como nos
arranjos de composio o que, claramente, os diferencia da maioria de seus
similares. Em segundo lugar, podemos enxergar que essas possibilidades cria-
tivas e os princpios norteadores dos projetos aqui apresentados extrapolam o
universo dos edifcios industriais. A investigao formal e tcnica (dentro de
padres racionalistas e herdeira da industrializao) podem ser encontradas
em programas diversos, assim como a permanncia de valores como o prag-
matismo construtivo, independentemente da natureza do edifcio. Por fim, a
qualificao de uma construo como arquitetura tem como um dos caminhos
a observao e aplicao de princpios e estratgias que atravessam o tempo e
que, a despeito de formalismos, se mantm pertinentes.
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