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revista nº10
E D I Ç Ã O E S P E C I A L
revista nº10dezembro 2009
E D I Ç Ã O E S P E C I A L
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revista bimestral nº10 - edição especial
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Redacção Patrícia Alves Tavares - ptavares@comunicare.ptMónica Mendes - mmendes@comunicare.pt
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Departamento Jurídico Nicolau Vieira
Impressão Multitema
DistribuiçãoAfricana Distribuidora ExpressoLuanda - Angola
Tiragem10.000 exemplares—ISSN 1647-3574
DEPÓSITO LEGAL Nº 297695/09
3 IN LOCO · ANGOLA’IN |
in loco
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1 ANO 17,55 EUROS (10% DESCONTO)2 ANOS 31,20 EUROS (20% DESCONTO)
O ano de 2009 está a chegar ao fi m e é tempo
de analisar os acontecimentos mais importan-
tes dos últimos 12 meses, tirando as devidas
lições e usar a experiência adquirida para conti-
nuar a aposta no crescimento económico que,
apesar das previsões menos optimistas, con-
tinuará a ser um período de desenvolvimento
acima da média mundial. O próximo ano será
certamente o da solidifi cação e diversifi cação
da economia, onde o investimento privado e
as obras públicas prometem estar novamente
na ordem do dia. Mas as boas notícias não fi -
cam por aí. Além da retrospectiva do ano tran-
sacto, a Angola’in apresenta-lhe nesta edição
muito especial algumas das principais expec-
tativas para o novo ano: a abertura da Bolsa
de Valores e Derivados, a elaboração da Cons-
tituição e as eleições presidenciais vão agitar
a vida social, em que a participação de todos
é crucial.
2010 será certamente o ano de concretização
de todos os sonhos. O CAN concentra todas as
expectativas e é a prova de fogo à capacida-
de de organização nacional. O evento do ano
augura tornar-se um sucesso. As entidades
estão empenhadas e a população vibra com a
recepção dos 16 candidatos ao título. Será um
arranque de ano em cheio, com o país a fervi-
lhar de vida. Os olhos vão estar concentrados
em Angola, que terá, através deste torneio, a
grande oportunidade para se projectar ainda
mais, tanto no contexto africano, como mun-
dial. A selecção nacional também tem respon-
sabilidades acrescidas. Como refere Manuel
José, em entrevista exclusiva à Angola’in, esta A Direcção
NO ‘PALCO’ DO MUNDOformação tem “um compromisso para com o
povo”. Os adeptos prometem dar apoio incon-
dicional e os Palancas Negras estão dispostos
a lutar ao máximo e a suar a camisola para
honrar as cores do seu país. Por isso, não pode
perder o nosso suplemento sobre o CAN, que
elaboramos especifi camente para si, para que
fi que a par de tudo o que importa saber sobre
a maior competição continental.
Para fechar o ano em beleza, convidamos um
dos maiores ícones das artes nacionais para
pintar a nossa capa, tudo para que este exem-
plar seja um coleccionável inesquecível. Eleu-
tério Sanches aceitou o desafi o e presenteia
os nossos leitores com um belíssimo quadro e
uma entrevista, que é um autêntico testemu-
nho sobre a sua constante aprendizagem e os
múltiplos ensinamentos que esta fi gura ainda
tem para dar às novas gerações.
Natal é sinónimo de convívio em família, re-
cheado de belas iguarias e muitas prendas. A
pensar nesta época festiva, a Angola’in prepa-
rou-lhe uma edição, repleta de sugestões para
ofertas para si e para os seus entes queridos,
onde não faltam os melhores gadjets. Tudo
acompanhado pelas receitas de Wilson Aguiar
e a nossa selecção de vinhos!
A todos desejamos um óptimo Natal,
um excelente 2010 e um magnífi co CAN!
6 | ANGOLA’IN · SUMÁRIO
IN FOCOCom o fi nal de 2009 a aproximar-se, é tempo de fazer o balanço do ano transac-
to. A economia está em destaque e neste número apresentamos a antevisão
dos pontos fortes para 2010: a abertura da Bolsa de Valores, as eleições presi-
denciais e as apostas na diversifi cação da economia, nomeadamente ao nível
do investimento privado, são as principais novidades. A fechar, fi que a saber tu-
do sobre as comemorações do 34ª aniversário da Independência (em Portugal)
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DESPORTO
O país ultima os pormenores para o evento do ano. A população está em contagem crescente e deposita todas as expectativas no desempenho da sua selecção, que tem responsabilidades acrescidas. Manuel José, em entrevista exclusiva à Angola’in, fala dos objectivos para este Campeonato Africano das Nações e do trabalho desenvolvido nos últimos meses com os Palancas Negras. Conheça os estádios, as equipas e todos os pormenores das cerimónias ofi ciais. Tudo num suplemento sobre a competição preparado a pensar em si!
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FOTO REPORTAGEM ESTILOS22 68
PERSONALIDADESÉ o cantor do momento. A jovem revelação termina este
mês a tournée pela Europa, onde fez a primeira parte do
concerto de Eros Ramazotti. Yuri da Cunha é a esperança
da música angolana. De passagem por Portugal, para actu-
ar na comemoração do 34º aniversário da Independência, o
artista revelou-nos os seus projectos
GRANDE ENTREVISTAÉ o ícone dos artistas mais completos. Eleutério Sanches é
um dos símbolos da cultura nacional. Multifacetado, tem
provas dadas na pintura, música e poesia. Enquanto pintor,
já expôs nos ‘quatro’ cantos do mundo e cede uma das suas
pinturas para a nossa capa. Em entrevista à Angola’in, o an-
tigo professor faz a análise do seu país e do estado das artes,
revelando que tem projectos na calha para o próximo ano
LUXOSO Natal está próximo e cheio de novidades. Nesta edição es-
pecial, preparamos um dossier com as últimas novidades em
alta tecnologia. Conheça os melhores gadjets e os produtos
mais inovadores. Não deixe de consultar os relógios exclu-
sivos que propomos, bem como os carros mais desejados.
Uma oportunidade única! Aproveite as nossas sugestões e
comece a escolher as prendas para a família e amigos
VINHOS & COMPANHIAEm período de festividades, a escolha da ementa e dos
vinhos é essencial para impressionar a sua família e con-
vidados. Wilson Aguiar prepara o menu para a noite de Na-
tal e de Passagem de Ano. A nossa equipa faz a selecção
dos melhores vinhos para a ocasião. São 40 opções a não
perder! Se pretende viajar, apresentamos os restaurantes
mais in do momento
7 SUMÁRIO · ANGOLA’IN | 7 SUMÁRIO · ANGOLA’IN |
8 | ANGOLA’IN · EDITORIAL
mbartolo@comunicare.pt
editorial
muito mais angola!Com o pensamento na penumbra de emoções que en-
toam à média luz, penso num coração angolano que
não bombeia sangue, mas sim sentimento. É tal a in-
tensidade, que a sensação que melhor defi ne o fi nal
de mais um ano é nada mais do que um momento de
catarse. Aquela impressão que todos nós vivemos de
libertação de uma emoção há muito contida. A mes-
ma que Aristóteles, fi lósofo grego, designa de “puri-
fi cação sentida”.
Na última edição de 2009, trago à consciência o que
denomino ‘estrada do sucesso’, um caminho difícil, em
que se sente o sangue ‘dar a volta’ e a vida a andar
à solta, mas nem por isso sem rédea. 2010 será para
todos os angolanos o desdobrar de um mapa, a des-
coberta de um espaço num tempo em movimento. Lá
fora há lugar, à espera de todos e essa é talvez a men-
sagem mais importante a transmitir.
Aprendizes fomos, construtores somos, inventores
e aventureiros sempre. Sonhadores inatos, sobrevi-
ventes natos, nem sempre conseguimos ser exactos,
nem sempre conseguimos evitar maus actos. Temos
alianças, muitas desconfi anças, mas também as nos-
sas esperanças. Podem falar, mas para quem ama a
liberdade o importante é nunca parar. Esse é o grande
desígnio do novo ano: saber que a distância que existe
entre o não ser e o ser é uma questão de não ter medo
de ir longe demais.
Os Angolanos sãoo mais valioso ‘capital’de sempre
Esta é talvez a primeira vez que me dirijo na primeira
pessoa aos leitores da revista, num assomo de sen-
timento (confesso), para por palavras próprias lhes
desejar votos sinceros de prosperidade e sucesso.
Adivinham-se meses de luta, assentes em pilares de
cidadania, maturidade, mudança e consenso, impor-
tantes para a ‘maioridade’ de um país que sabe honrar
o seu passado e procura projectar um futuro sustentá-
vel para as suas gerações. Importa criar espaço e um
papel para a Assembleia Nacional, os partidos políti-
cos, as universidades, a Comunicação Social e outros
actores que se assumam como motores de dinamiza-
ção do progresso.
Tudo isto passa por divulgar insistentemente a “ban-
deira”, que serve para comunicar o sonho de um país
que se propõe operacionalizar as suas ideias mais ar-
rojadas. Avante com a empresarialização da economia
nacional para que esta possa defi nitivamente integrar
os actores da globalização e com isso trazer desenvol-
vimento ao povo. Sejamos formadores de novas ati-
tudes, numa perspectiva de oportunidade para todos,
elevando assim o nível de vida da população. Apresen-
temos liderança ao Mundo na criação de um merca-
do alargado, uma das bases para a construção de uma
sustentabilidade competitiva. Desenhe-se um espaço
nacional onde a sociedade civil comece a construir os
novos desígnios para o país, de forma a que Angola se
torne cada vez mais uma marca de orgulho.
Estes são sinais de respeito e reconhecimento, sede-
ados em palavras de esperança e crença num advir
melhor. Se todos trabalharmos e juntarmos os nos-
sos esforços para a concretização destes objectivos
prestamos um contributo inestimável ao processo de
desenvolvimento económico, social, cultural e de re-
conciliação nacional. Nesse dia, deixaremos de sofrer
em consequência das condições materiais, reafi rman-
do a nossa determinação em remover todos os obstá-
culos que se erguem diariamente na vida de cada um
de nós!
Feliz 2010!
9 EDITORIAL · ANGOLA’IN |
10 | ANGOLA’IN · IN FOCO
| manuela bártolo*
O MERCADO DE CAPITAIS E A BOLSAAo terminarmos mais um ano, várias são as
refl exões e pontos de vista que se entrecru-
zam nos bastidores. Por um lado, os ango-
lanos vão enaltecendo as metas alcançadas
nas mais diversas áreas, sobretudo no sector
económico. Por outro, precisam de ter cora-
gem de identifi car e assumir as falhas come-
tidas para melhor direccionarem o futuro. No
que se refere à melhoria das condições so-
ciais básicas, foram construídos vários em-
preendimentos no domínio energético e da
construção civil, designadamente ao nível
das estradas, hospitais e mercados munici-
pais, que são de enaltecer. No entanto, um
dos grandes desafi os que se impõe passa
pela melhoria do sentido de responsabilida-
de e consolidação da Comissão de Mercados
de Capitais (CMC), cuja missão é promover
um importante instrumento de desenvol-
vimento, dada a sua capacidade de acelerar
o crescimento económico. Uma das maiores
propostas deste organismo prende-se com
a criação da Bolsa de Valores e Derivados de
Angola, que vai certamente permitir a regula-
mentação, supervisão e fi scalização do mer-
cado e dos seus agentes. De acordo com as
informações tornadas públicas, a mesma já
conta com um montante de USD 7 milhões e
710 mil para a sua criação, o que justifi ca uma
infra-estrutura e condições de trabalho muito
sólidas em todas as suas esferas, para se evi-
tar possíveis atrasos no seu funcionamento.
Numa primeira fase, este importante instru-
mento de desenvolvimento vai contar com 27
subscritores, com destaque para a Sonangol,
Endiama, Ensa, FDES, BFA, BIC, BAI, grupo
António Mosquito, Sistec e Chicoil, cujas pre-
senças no mercado estão devidamente con-
solidadas, o que por si só se pode considerar
uma grande mais-valia. Uma vez que a bolsa
de valores vai acelerar a privatização das em-
presas angolanas, seria bom que as oportuni-
dades nesta grande praça económica fossem
iguais para todos. A bolsa deverá conhecer e
obedecer a uma legislação transparente para
permitir que todos tenham acesso aos negó-
cios que irá proporcionar, sem destinação da
cor partidária ou religiosa, evitando assim fa-
cilidades para uns e difi culdades para outros.
A coerência no seu funcionamento vai permi-
tir a valorização da economia do país ao mais
alto nível, pelo que a modernização do siste-
ma fi nanceiro irá também transformar Ango-
la numa praça fi nanceira forte.
ARTIGO DE OPINIÃO
(Ante)Visãodo Futuro
IN FOCO
11 IN FOCO · ANGOLA’IN |
A NOVA CONSTITUIÇÃO Outro dos desafi os será sem dúvida a realiza-
ção das eleições presidenciais. Dezasseis anos
depois das primeiras eleições legislativas, os
angolanos voltaram às urnas em 2008 para
eleger o Parlamento. Um ano depois, seria a
vez do Presidente da República. Infelizmen-
te, não foi o que aconteceu. A realização das
eleições presidenciais no país está a depender
de um conjunto de factores, entre as quais a
aprovação da Nova Constituição. A normaliza-
ção constitucional em curso é um passo fun-
damental para a consolidação da democracia
rumo ao desenvolvimento sustentável. Para
tal, os angolanos precisam defi nir o futuro
sem depender dos interesses deste ou daque-
le, uma vez que se trata de um diploma legal
que vai defi nir as políticas para as presentes
e futuras gerações. Para 2010, é intenção de
todo o angolano que o país tenha uma situ-
ação de constitucionalidade, completamente
normalizada para garantir a realização perió-
dica das eleições legislativas e presidenciais.
A Nova Constituição cuja aprovação está a
condicionar as “eleições” deverá ser um docu-
mento aprovado por consenso da maioria. Um
diploma onde cada um de nós se possa rever.
O crescimento económico, político e social de
um país depende de vários factores, entre eles
a constituição, que não deve ser considerado
um triunfo de manipulação política. É desejo
também de todos nós que o poder judicial seja
completamente liberalizado para se garantir a
serenidade dos tribunais, isto porque os mes-
mos devem ser instituições independentes.
Democracia sem liberdade é como um edifício
sem pilares.
PLANO NACIONAL 2010/2011Falar de 2010 é também falar de desporto em
Angola. O CAN dá o pontapé de saída para
um ano que promete ser de forte desenvol-
vimento nesta área. No entanto, sendo este
um evento desportivo de grande envergadu-
ra, esperamos que se repensem estratégias
para o aproveitamento dos estádios de fu-
tebol sob pena de virem a ser subaproveita-
dos. Para que o desenvolvimento chegue aos
mais recônditos cantos de Angola basta a
vontade política, pois o crescimento depende
da atenção que se dá aos recursos humanos.
Um desejo de mudança igualmente presente
na aprovação do Plano Nacional para o novo
ano. Prioridades: “promover a unidade e coe-
são nacional e a consolidação da democracia
e das suas instituições”. Os dados estão lan-
çados resta cumpri-los, ou seja, garantir um
ritmo elevado e sustentado do crescimento
económico, com estabilidade macroeconómi-
ca, transformação e diversifi cação das estru-
turas económicas. Melhorar a qualidade de
vida e de desenvolvimento humano, bem co-
mo estimular o progresso do sector privado,
apoiar o empresariado nacional e reforçar a in-
serção competitiva no contexto internacional
são outras das metas que se impõem. O Plano
Nacional 2010/2011 prevê ainda a implemen-
tação de uma política de desenvolvimento ru-
ral e peri-urbano, que mitigue o desiquilíbrio
na qualidade de vida entre os meios rural e ur-
bano, através da promoção de um desenvol-
vimento industrial que permita substituir as
importações e reabilitar as infra-estruturas
necessárias à reconstrução do país. Em cau-
sa está também a necessidade de assegurar
a rápida urbanização dos musseques e a mo-
dernização das comunidades urbanas. Tudo
isto faz com que importe, cada vez mais, de-
fi nir uma política de proteccção social e de so-
lidariedade nacional adequada, que priorizem
em simultâneo o sector social, particularmen-
te ao nível da educação e saúde. Neste últi-
mo capítulo, interessa (em particular) fazer
uma resenha na melhoria das condições sa-
nitárias dos mercados municipais da capital.
Em Luanda, foram melhoradas as condições
de saneamento básico, em algumas artérias
da cidade, com destaque para estes espaços,
nomeadamente os mercados dos congolen-
ses no Município do Rangel, o mercado do Asa
Branca no Município do Cazenga, o mercado
do Kikolo no Município Cacuaco e por último
o mercado do Roque Santeiro, igualmente no
Cacuaco. Em comparação com o passado, es-
tes locais de comercialização de bens de con-
sumo de primeira necessidade, conheceram
uma melhoria signifi cativa na higiene. Duran-
te muito tempo, os produtos eram expostos
ao ar livre, as bancadas onde se vendiam apre-
sentavam condições péssimas, não existia
iluminação, tão pouco a água potável para o
consumo. Sabemos todos que a comercializa-
ção de produtos de consumo alimentar ao ar
livre acarreta uma série de problemas à saúde
pública das populações. Assim, a ausência de
infra-estruturas logísticas para a comerciali-
zação destes bens alimentares fazia com que
boa parte da população tivesse os mercados
informais como alternativa. Durante décadas,
o Governo perdeu avultadas somas de dinhei-
ro devido à fuga ao fi sco. Esta evasão devia-
se à falta de uma estrutura administrativa
adequada nos mercados municipais. Com a
melhoria das condições destes mercados, do-
ravante vai aumentar o volume das receitas a
serem arrecadadas. A melhoria das condições
vai limitar o espaço de manobra aos infracto-
res. O que irá permitir uma satisfação total de
todos agentes envolvidos neste processo. Por
hoje, a higiene, consumo de água potável, a
melhoria das condições nas bancadas de ven-
da tendem a melhorar a cada dia que passa.
Para melhor respondermos às necessidades
dos munícipes da capital, dada a sua divisão
administrativa que compreende nove municí-
pios, deveríamos ter no mínimo 18 supermer-
cados, dito por outras palavras dois em cada
municipalidade. Estes locais de venda de pro-
dutos de vária ordem, gerariam um número
considerável de postos de trabalho, melhoria
das condições de trabalho e consumo de pro-
dutos devidamente conservados. Uma ideia a
reter e a aplicar neste novo ano!
* em colaboração com André Sibi
A Nova Constituição deverá ser um documento aprovado por consenso da maioria; um diploma onde cada um de nós se possa rever
A bolsa deverá permitir que todos tenham acesso aos negócios que irá proporcionar, sem destina-ção da cor partidária ou religiosa
12 | ANGOLA’IN · IN FOCO
IN FOCO | manuela bártolo
A maior parte de nós não decora datas, ape-
sar de alguns (poucos) terem todos os dias
importantes (ou não) memorizados de uma
forma impressionante. Há, no entanto, um
momento que marca particularmente todos
os angolanos, mais patriotas, menos patrio-
tas, pouco importa. O 11 de Novembro é e será
sempre uma data a festejar por todos. Seja
qual for o canto do mundo, onde há um ango-
lano, há o sentimento de felicidade por essa
independência conquistada. Partilham uma
história de dor e sofrimento, mas também de
conquistas e vitórias, de respeito pelos seus
heróis que lutaram e venceram. Faz 34 anos
que Angola se “libertou” do jugo colonialis-
ta. Não foi uma luta fácil e desencadeou ou-
tra que viu o seu fi m há menos de dez anos.
Contudo, como todos sabemos o importante
é começar-se por algum lado. A 11 de Novem-
bro de 1975 proclamou-se a República Popu-
lar de Angola, hoje República de Angola, mas
tudo começou com o fi m da ditadura em Por-
tugal, a 25 de Abril de 1974. Para recordar a
sua História, o Consulado Geral de Angola no
Porto (Portugal) organizou, no passado mês,
em dois espaços distintos da cidade, uma
enorme festa. Foi num clima de elevada es-
perança e sentido orgulho, que se comemo-
rou o 34º Aniversário da Independência. Em
memória de todos os guerrilheiros e cidadãos
anónimos, que lutaram pela autonomia do
país, tornando o combate pela libertação na-
cional um marco árduo e glorioso, que permi-
tiu aos angolanos passarem a decidir o seu
Memória colectivadestino, os altos dignitários angolanos em
terras lusas honraram o seu passado e ce-
lebraram com toda a comunidade. O evento
serviu, sobretudo, para marcar a assumpção
da dignidade e orgulho presente em todos
que, longe da sua terra natal, se esforçam
para tornar a pátria-mãe uma nação cada
vez mais soberana. A batalha contra o colo-
nialismo português possibilitou aos políticos
nacionais passar a comandar os desígnios
do país. Sacrifícios patrióticos de homens e
mulheres, que “devem sempre ser homena-
geados”, proporcionando um futuro digno às
novas gerações, que no exterior defendem a
oportunidade de usufruírem de um país rico
e abundante em recursos. A proclamação da
independência permitiu o seu reconhecimen-
to como nação, tornando-o um exemplo para
os restantes países africanos ao demonstrar
ser possível a pacifi cação e a estabilidade po-
lítica por via do diálogo. A estratégia adopta-
da na resolução do confl ito interno é hoje um
modelo a ser transmitido, de forma profunda
e contínua aos jovens, para que estes possam
compreender a sua história não só academi-
camente, mas também entender a sua im-
portância e repercussão no presente e futuro
do seu país. Angola soube ser, ao longo das
últimas décadas, um impulsionador das re-
voluções raciais no continente africano, uma
enorme evolução baseada num trabalho ár-
duo de gerações, que lutaram com convicção
pelo direito dos negros à igualdade e dignida-
de como seres humanos. A instauração defi -
nitiva da paz possibilitou ao país destacar-se
quer em África, quer no mundo, pois tem-se
revelado capaz de consolidar, cada vez mais,
o seu sistema democrático, espelhado na re-
alização de eleições livres e pacífi cas, a última
das quais realizada em Setembro de 2008.
Todos crêem estar no bom caminho, confi an-
tes na melhoria social e num amplo progresso
económico, muito, também, devido à estabi-
lidade política alcançada.
13 IN FOCO · ANGOLA’IN |
Amélia Silva, presidente da OMA com o fi lho e alguns amigos
Amélia Silva∏residente da Organização da Mulher Angolana (OMA) no Porto
“Penso que para todos os angolanos, estarmos
aqui hoje representados, é um enorme prazer
e uma grande honra. O nosso consulado sem-
pre fez questão de manter a comunidade unida
nestas datas. Mais uma vez, é com distinção
que digo que tanto o consulado, como a nossa
embaixada, nos fazem sentir nestes dias como
se estivéssemos em solo pátrio. Para mim, es-
te é um dos momentos mais importantes da
história do meu país. Vivo em Portugal há dez
anos, mas para mim este é um dia que me re-
presenta na totalidade. Sinto-o como um dia
de refl exão. Já que actualmente Angola vive
tempos de paz devemos, cada vez mais, pensar
no nosso desenvolvimento. Não adianta neste
momento falarmos em guerra, é passado, im-
porta dizer que temos de arregaçar as mangas
e levar a nossa nação ao progresso que ela me-
rece, tentando elevar o seu crescimento a to-
dos os níveis. Um dos aspectos fundamentais
que Angola deve ter em consideração é a impe-
riosa necessidade de uma mudança de atitude
e consciência. Durante anos, por causa da guer-
ra, tivemos um outro tipo de cultura, agora é o
momento de mudar para melhor. Refl ectir so-
bre as camadas mais jovens; prepará-las para
que consigam enaltecer o nome do país e con-
tinuar com o legado dos nossos antepassados.
Acho que os jovens que vivem em Angola sem-
pre sentiram isso, mas os que vivem em Por-
tugal penso que nem tanto. Como emigrante,
acho muito sinceramente que, principalmente
os que nasceram cá, precisam de se sentir mais
integrados. Importa fazer um grande trabalho
no sentido de os enraizar; ensiná-los em rela-
ção à nossa cultura, gastronomia, hino nacio-
nal, etc. É necessário passar essa informação,
pelo que devemos começar a fazer isso nas
nossas próprias casas e a nível global, através
do consulado/embaixada, organizando mais
actividades com o apoio das diferentes asso-
ciações. São pontes que temos de criar, até pa-
ra ensinar a nossa língua, um dos aspectos que
considero mais importante.
UM POUCO DE HISTÓRIA – PARTE IAngola foi povoada pelos portugueses no sé-
culo XV e permaneceu como sua colónia até
à independência em 1975. O primeiro euro-
peu a alcançar o país foi o explorador por-
tuguês Diogo Cão, que desembarcou na foz
do Rio Congo, em 1483. Em 1490, os portu-
gueses enviaram uma pequena frota de na-
vios com padres e trabalhadores, bem como
ferramentas para o Rei do Congo. Em breve,
contudo, o comércio de escravos levou à de-
terioração das relações de Portugal com o Rei
Afonso e os seus sucessores, criando revol-
tas internas que conduziram ao declínio do
Reino do Congo. Entretanto, os portugueses
expandiram os seus contactos para Sul ao
longo da costa, fundando Luanda, em 1576. O
comércio de escravos continuou até meio do
século XIX. Descontentes com a governação
portuguesa, os angolanos começaram a lutar
pela independência iniciando a guerra con-
tra Portugal, em 1961. Em Janeiro de 1975, foi
estabelecido um governo de transição, com
representantes do Movimento de Libertação
de Angola (MPLA), a Frente Nacional para a
Libertação de Angola (FNLA), A União Na-
cional para a Independência Total de Angola
(UNITA) e o governo português. No entanto,
os violentos combates entre o MPLA e FNLA
em Março de 1975 tornaram patente o resul-
tado das várias diferenças políticas, que se es-
tenderam através do país. Na segunda metade
de 1975, o controlo de Angola estava dividido
pelos três maiores grupos nacionalistas, cada
um dos quais ajudado por potências estran-
geiras. O MPLA , que tinha tomado o controlo
da capital, era apoiado pela União Soviética e
Cuba, a FNLA pelo Zaire e potências ociden-
tais (incluíndo os Estados Unidos), enquanto
a UNITA era apoiada pelas forças sul-africa-
nas. A FNLA e a UNITA formaram uma frente
unida para combater o MPLA
discurso directo
‘Durante anos, por causa da guerra, tivemos um outro tipo de cultura, agora é o momento de mudar para melhor’
Maria de Jesus dos Reis Ferreira, Cônsul-Geral de Angola no Porto (ao centro) com Rui Xavier, Ministro Conselheiro e restante comitiva
14 | ANGOLA’IN · IN FOCO
IN FOCO
Evy MartinsPresidente da Casa de Angola na Figueira da Foz
Este é para mim um dia de enorme alegria.
Enquanto presidente da Casa de Angola na
Figueira da Foz, sinto-me orgulhosa por as-
sinalar esta data junto da nossa comunidade.
Procuramos através desta e de outras acções
integrar, cada vez mais, os angolanos no país.
Razão pela qual, a associação tem vindo a ofe-
recer um conjunto alargado de serviços, como
consultas de clínica geral gratuitas ou de ad-
vocacia. Temos uma equipa multidisciplinar
em acção e recorremos também à Segurança
Social portuguesa quando temos necessidade
de auxiliar os nossos compatriotas em outras
áreas. Quero salientar que o nosso maior ob-
jectivo é divulgar a cultura angolana no seio
deste concelho. É uma cidade que adoro, onde
estão instalados alguns angolanos e que já re-
cebe algum investimento empresarial de An-
gola ao nível dos apartamentos e compra de
casas de praia. Cada vez mais, a comunidade
angolana se está a espalhar por todo Portugal.
No entanto, uma questão que me preocupa é
que, por vezes, é difícil chegar à nossa comu-
nidade, principalmente àqueles que vieram de
Angola porque resistem em aceitar a ideia de
que está tudo bem. Percebo, contudo, uma
identidade forte e reforçada, que nos dá san-
gue novo e que às vezes quando estamos a ir
a baixo pensamos “vale a pena ir em frente”.
A população actual é mais jovem, habituada a
fazer intercâmbios de comércio, negócios, cul-
tura e ensino. Um dos maiores objectivos da
Casa Angolana na Figueira da Foz é, por isso,
promover a lusofonia. A começar pela língua,
algo muito forte que nos une. Somos todos
irmãos, somos todos lusófonos e temos de
lutar por isto, pela língua-mãe que nos identi-
‘Tenho um desejo: recuperar os códigos ético-civilizacionaise a moral, fundamentos da nossa Nação’
fi ca. Temos de estar unidos porque é aí que re-
side a nossa riqueza. Se nos unirmos de facto,
tenho a certeza que nos tornaremos menos
dependentes de nações que pouco ou quase
nada têm a ver connosco. Esse é o nosso te-
souro - o factor humano -, até para que não
haja alienação cultural. Aos jovens deixo ape-
nas uma mensagem “nunca percam a identi-
dade cultural angolana”.
Pétio Juarez Penelas de Barros e namorada
José Marcos Barrica, Embaixador de Angola em Lisboa, Portugal e Cecília Baptista, Cônsul-Geral de Angola em Lisboa
Evy Martins, presidente da Casa de Angola na Figueira da Foz
15 IN FOCO · ANGOLA’IN |
Miguel SimõesPartner da empresa NBB (National Business Brokers)
“A grande mensagem que gostaria de transmi-
tir num dia como este é que todas as pesso-
as percebam que Angola já tem profi ssionais
altamente qualifi cados e dispõe de empresá-
rios que dignifi cam o nome do país no exte-
rior. Logo, quem pensar ir para este território
deve fazê-lo com um espírito de investimento
e com o objectivo de se radicar lá. Quem não
pensar assim não tem interesse para Angola,
pois haverá outros empresários de outras par-
te do mundo que irão fazer o mesmo. Não é o
que o país pretende e precisa. O maior gosto
que teria neste próximo ano, era que todos os
jovens angolanos que estão a estudar um pou-
co por toda a parte do mundo voltassem para o
seu país e que juntos façam mais por Angola,
no sentido de consolidar a imagem de grande
potência e obter, cada vez mais, o respeito de
toda a comunidade internacional”.
Carlos GourgelAngolano a viver em Portugal
“Sinto um júbilo muito grande. Angola é um
país muito sofredor, fruto de uma guerra de
40 anos, e estas comemorações fazem com
que nunca esqueçamos o quanto nos custou
alcançar a paz. Reavivam nas nossas men-
tes os nossos entes queridos que pereceram.
Neste momento, temos progresso e ao feste-
jarmos não podemos esquecer esse passado
tão longo e duro. No entanto, chegou a vez do
futuro. 2010 será um ano de muito desenvol-
vimento. Espero, por isso, que os angolanos
tenham uma nova corrente de pensamento e
possam evoluir baseados em ideais de demo-
cracia, liberdade, pão para todos e dignidade.
Tenho apenas um desejo – que muitos dos os
meus “irmãos” recuperem os códigos ético-
civilizacionais e a moral que foram perdendo
ao longo dos últimos anos”.
Nota: Este evento teve o patrocínio de algumas das maiores empresas portuguesas e angolanas, entre elas a Mota-Engil, FIL, Unicer, Monte Adriano, Conduril, Saftur, Soares da Costa, Grupo Visabeira, Taminvest Angola, Mufuma e Refriango
UM POUCO DE HISTÓRIA – PARTE IINa sequência do derrube da ditadura em
Portugal (25 de Abril de 1974), abriram-se
perspectivas imediatas para a independên-
cia de Angola. O novo governo revolucio-
nário português encetou negociações com
os três principais movimentos de libertação
- MPLA, FNLA e UNITA -, para iniciar o pe-
ríodo de transição e o processo de implan-
tação de um regime democrático no país
(Acordos de Alvor, Janeiro de 1975). No dia
10 de Novembro de 1975, o Alto Comissário
e Governador-Geral de Angola, almirante Le-
onel Cardoso, em nome do Governo portu-
guês, proclamou a independência de Angola,
transferindo a soberania de Portugal, não pa-
ra um determinado movimento político mas
sim para o “Povo Angolano”, de forma efecti-
va a partir de 11 de Novembro de 1975. Parte
do discurso dizia: “E assim Portugal entrega
Angola aos angolanos, depois de quase 500
anos de presença, durante os quais se foram
cimentando amizades e caldeando culturas,
com ingredientes que nada poderá destruir.
Os homens desaparecem, mas a obra fi ca.
Portugal parte sem sentimentos de culpa
e sem ter de que se envergonhar. Deixa um
país que está na vanguarda dos estados afri-
canos, deixa um país de que se orgulha e de
que todos os angolanos podem orgulhar-se”.
Agostinho Neto, foi o primeiro presidente de
Angola. A decisão de reconhecer como legíti-
mo o governo de Agostinho Neto foi tomada
pelo então presidente Ernesto Geisel ainda a
6 de Novembro, antes da data ofi cial de inde-
pendência. A 11 de Novembro Agostinho Ne-
to proclamou em Luanda este dia histórico
Miguel Simões, partner da empresa NBB (National Business Brokers)
Colaboradores do Consulado de Angola no Porto
| patrícia alves tavares GRANDE ENTREVISTA
| ANGOLA’IN · GRANDE ENTREVISTA18
Eleutério Sanches
“nós somos do mundo”
Nasceu em Luanda, mas foi em Portugal que solidifi cou a sua brilhante carreira. Eleutério Sanches é o ícone das artes angolanas. Pintor, músico e poeta, acredita que a vida é uma aprendizagem constante e não se incomoda com a defi nição de místico. O ‘senhor dos sete ofícios’ recebeu a Angola’in e numa conversa intimista falou dos momentos que o país atravessa, do desejo de leccionar em Luanda e dos seus projectos. Nesta edição especial, um dos principais artistas de Angola aceitou o desafi o e pintou a nossa capa. A sua entrevista constitui um verdadeiro passar de testemunho às novas gerações
VISÃO DA TERRA NATALDesloca-se a Angola com frequên-cia. Como foi assistir à distância a todas as situações que se desenro-laram no país?O período da guerra foi por um lado desmoti-
vador e, por outro, terá motivado coisas, que
não são propriamente terapêuticas. A guer-
ra é sempre má. Claro que se colhem tam-
bém muitos ensinamentos. Neste momento,
penso que, ainda que as memórias devam ser
sempre guardadas e daí tirar-se muitas ila-
ções, há ainda muitas lições a tirar. Agora, o
ambiente é muito mais propício para o país
progredir em todos os aspectos, não só no la-
do criativo propriamente e na aprendizagem
técnica, mas também no sossego que é pre-
ciso para criar.
No último mês assinalaram-se os 34 anos de Independência. O que mudou em termos económicos e sociais?Angola tem progredido em aspectos que têm
a ver com o seu desenvolvimento material.
Tem-se preocupado com isso. Na última vez,
fui a Malange e gostei imenso. Acho que está
a andar para a frente. Luanda tem muitos pro-
blemas. É uma terra hiper-povoada. A guerra
também contribuiu para muitos contrastes do
ponto de vista urbano e isso tem de ser e já
está a ser corrigido. Muito tem que ser feito e
com muita orientação, hierarquizando as coi-
sas mais importantes. Há que tirar as pessoas
da pobreza e de aspectos que são degradan-
tes. A guerra trouxe vícios e drogas. Portanto,
há ainda muita coisa a corrigir. Está-se a fazer
por isso. Há escolas que estão a fazer traba-
lhos pedagógicos, que têm contribuído já para
um certo desenvolvimento e recuperar muita
gente desviada. A distribuição populacional de
Luanda tem que ser pensada, a ordenação do
território tem que se adaptar ao espaço exis-
tente e as pessoas só têm a ganhar com isso.
Há que fazer uma reintegração.
O próximo ano é decisivo em termos políticos: constituição e eleições presidenciais. Isso pode contribuir para essa mudança positiva?Penso que sim. Acho que Angola precisava dis-
so. Já há um clima de paz e esse aspecto pode ser
feito com mais adequação. Agora, o país tem a
capacidade de poder ser governado de uma pon-
ta à outra e naturalmente tem que se criar um
aparelho político, que realmente governe, um
poder político com outras ambições, com mais
ambição de chegar a todos os lados. Tem que se
proteger mais, não pode desistir de insistir na-
quela parte que está desviada da cidadania.
A elevada presença de investidores estrangeiros é benéfi ca para o país?A maior parte de Angola está abandonada,
mas é preciso fazer esse trabalho de povoa-
mento, privilegiando os de língua portuguesa.
Tem todas as vantagens, não só na língua co-
mo na cultura e história, que são indissociá-
veis. Para se compreender o futuro é preciso
estudar o passado. Por outro lado, descentra-
lizar Luanda só tem benefícios. Hoje, Angola
importa muita coisa que, com o desenvolvi-
mento local, da indústria e do empreendedo-
rismo como deve ser, poderia ser produzida
dentro do país. Se todos derem um contribu-
to honesto dá para valorizar não só os verda-
deiramente interessados nessas empresas
como os angolanos. Agora vão-se fazer par-
cerias, os dois lados só ganham com isso.
GRANDE ENTREVISTA · ANGOLA’IN | 19
É exequível combater a corrupção?É possível e eu penso que tudo isso existe
precisamente ainda como consequência das
guerras. Elas são muito más para estas coi-
sas, tal como contribuíram para separar as
famílias, que estão desagregadas, sem estru-
tura nenhuma e sem capacidade de respon-
der às necessidades que têm. Portanto, isso
tem que ser revisto pelos serviços sociais e de
inserção, que vão ter muito que fazer.
Estão reunidas as condições para que os jovens que estão fora do país regressem?Há muita gente fora, que está a estudar e
sabemos que alguns não regressam, o que
é mau, pois eram necessários. As coisas não
são fáceis. Tem havido regressos frustrados
por causa de aspectos de colocações dentro
das áreas que estudam, mas isto tem que se
fazer com tempo. Não podemos querer já tu-
do de uma vez. Considero que se está no bom
caminho e a intenção é essa. Angola tem ca-
pacidade para absorver tudo, mas isso depen-
de sempre dos vários lados, dos que estudam
e dos que colocam as pessoas nos lugares em
que são necessários. Há-de haver certamente
muitos aspectos em que é preciso colocar as
pessoas em situações que podem ser muito
úteis àquele país.
NOVA GERAÇÃO DE TALENTOSNo caso concreto das artes, um jo-vem para se formar tem condições para o fazer dentro do país?Tenho um amigo que começou a trabalhar em
pedra e tem uma boa mão para a escultura,
que é o António Magina. Esteve nas pedrei-
ras do Mussulo, por iniciativa própria, a fazer
a sua pesquisa e estudos. Isso é positivo. Não
sei se terá formação académica, mas isso não
é totalmente necessário. Há grandes artistas
que foram autodidactas e chegaram ao topo.
Angola precisa sempre dos seus jovens, mes-
mo dos que saem para estudar e esses preci-
sam de um estímulo para poder voltar ao país,
assim como os que lá estão. É preciso criar nú-
cleos afectivos para que possam desenvolver
essas diversas intervenções das artes.
Nas novas gerações, existe talento?Há, com certeza. Eu creio, e não é chauvinis-
mo da minha parte, que o angolano geral-
mente tem uma tendência e uma apetência
natural para as artes, seja a música, a pintura
ou o desenho. Mas claro que é preciso uma
iniciação para tudo. Há algumas coisas em
que é necessário um impulso. É preciso ir bus-
car recursos humanos adequados seja lá onde
for e não deve haver preconceitos. Tem que
se procurar os bons onde os houver, para dar
o seu contributo. Angola só ganha com isso.
Aliás já estão a fazê-lo em muitos domínios,
mais ligados às fi nanças e às economias, o
que também não é mau.
É necessário mais empenho?Noto que sim, porque as artes voltam a es-
tar numa fase de grande experimentação. O
aparecimento de materiais novos obriga a ser
dinamizador para novas intervenções. Por-
tanto, estamos também de novo numa fa-
se de grande importância para esse tipo de
pesquisa, que tem que ser feita. Não é fácil,
é preciso primeiro preparar pessoas para que
possam interessar-se a sério e com humilda-
de ir aprender.
Existe público para a arte nacional?Há público, mas é preciso formar as pessoas.
Agora há uma nova ministra da educação, es-
peramos que ela, que é uma pessoa sensível,
dê um impulso às artes e às coisas relativas
às suas diversas manifestações (pintura, ce-
râmica, etc).
O ARTISTAComo descreveria o seu percurso profi ssional?O meu avô dizia que eu desenhava em qual-
quer suporte, por exemplo na areia. Eu lem-
bro-me realmente do percurso de iniciação
normal. Os miúdos têm uma inquietação pe-
lo riscar, pela linha e às vezes essas coisas
manifestam-se muito cedo. Há crianças mui-
to precoces e eu comecei com poucos anos
a fazer os meus riscos e rabiscos. Depois fui
desenvolvendo e houve alguém no liceu Sal-
vador Correia, o meu professor de geografi a,
André Simbrone, que reconheceu o meu ta-
lento. Houve várias pessoas a incentivar-me.
Vim formar-me em Lisboa, onde estudei Be-
las Artes e consegui, ainda antes de ser aluno,
fazer uma exposição. Fiz um certo sucesso no
Palácio Foz.
Em Lisboa, trabalhou durante 10 anos no departamento de Ergotera-pia do hospital Júlio de Matos…Foi talvez dos sítios onde colhi mais no acto
de ensinar, se é que ensinei alguma coisa. Ali
a arte funcionava como terapia para criar os
ambientes propícios a que as pessoas se liber-
“O angolano geralmente tem uma tendência e uma apetência natural para as artes, seja a música, a pintura ou o desenho”
| ANGOLA’IN · GRANDE ENTREVISTA20
GRANDE ENTREVISTA
tassem, porque são doentes de vária ordem
(esquizofrénicos, maníacos depressivos, atra-
sados mentais, etc.). E os que tive como alu-
nos eram de uma diversidade muito grande.
Foi uma experiência muito interessante para
mim, por ter oportunidade de poder conviver
com os tais que dizem que são anormais.
Foi professor por muitos anos. Nunca sentiu vontade de leccionar em Luanda?Senti e já o manifestei várias vezes. Sinto es-
sa vontade e falei nisso ainda no tempo do
governador Aníbal Roça, um homem sensível,
mas não sei em que estado de desenvolvi-
mento está esse anseio. Gostei sempre mui-
to de dar aulas, porque se aprende bastante.
É uma actividade que compensa.
Que conselho gostaria de dar aos futuros artistas?Procurava dar-lhes uma visão geral dos as-
pectos que são mais desconfortáveis e incó-
modos e da parte gratifi cante, que é boa e
que traz depois o resultado fi nal. Até lá é ne-
cessário esforço, sacrifício e gostar muito. Se
não gosta não vá por aí, procure outra coisa.
Deve-se gostar sempre, seja lá o que for.
A ARTEO que signifi ca a arte para si?É uma defi nição que é quase impossível. A arte
é tudo o que é vida, o que me motiva, que me
revela a beleza, que tem múltiplas aparências.
A beleza contém um mistério que é indescrití-
vel, que não desmontamos. Eu penso que se a
peça se for uma obra de arte, esta transcende
o próprio artista. Ele não deve ter a pretensão
de querer ler tudo o que faz. Às vezes até pode
ser ultrapassado. Arte é a criatividade, é tudo
o que nos toca profundamente.
O que faz mais o artista? A parte técnica ou o talento?Eu penso que trabalhar é fundamental. Tra-
balhar deve ser um acto constante. E nesse
acto penso que está também implícita a con-
templação. Eu dou muito valor a isso. Sou ca-
paz de no silêncio da meditação estar a ver
uma obra durante umas horas, pegar nesse
trabalho e virá-lo de costas para depois re-
tomar noutro tempo. Nós temos uma parte
emocional, estados de alma e esse retomar
já não é o mesmo. Pode enriquecer aquilo que
antes foi iniciado. Há uma parte que de fac-
to é a continuidade, que nos abre para ou-
tros universos ainda que estejam no mesmo
universo. Mas há em nós a capacidade para
penetrar em outros compartimentos desse
mesmo universo.
Vai buscar inspiração às suas raízes?Sempre. É natural, não é forçado. Sou um
pintor que não tem preconceitos de motiva-
ções. Gosto de qualquer tema. Claro que há os
temas afectivos, a que estamos ligados pela
raiz e que sem querer já lá estamos. O pintor
hoje é como toda a arte. Nós somos do mun-
do e a arte é planetária em todos os aspectos,
porque há cada vez uma maior interacção. Es-
te mundo está cheio de inquietação, em que
há aberturas que são louváveis, em que as
pessoas aceitam as outras naturalmente e é
já um espírito planetário, cósmico.
A arte pode ser um veículo para esse entendimento?Sem dúvida. A arte é a única coisa que sendo
deste mundo já não é deste mundo. Com isto
quero dizer que eu não separo os mundos.
Existe alguma obra que o marcou particularmente?Há muitas. O livro Universo-Transverso res-
ponde a isso, pois é uma parte expressiva da
minha obra, que está sempre ligada aos ele-
mentos, à água, ao fogo, à terra… Estou sem-
pre unido ao universo, ao cosmos. Acredito
que todos nós temos essa ligação do espírito
profundo. Essa parte para mim é importan-
te e eu acho que isso acontece naturalmente.
Não preciso de me inspirar, eu vou buscar a
inspiração. Nós somos capazes de a ir buscar.
Sente-se orgulhoso por ver as suas obras publicadas nos diversos cantos do mundo?Naturalmente que sim. Agora convidaram-
me para uma exposição que querem fazer
com a Unesco, na Suíça. Deve ser para o ano.
Espero que se materialize.
É pintor, músico e poeta. O que lhe falta fazer?Tanta coisa. Eu cultivo estas coisas, também
como terapia, no sentido de mi longo, como
se diz na terra, de remédio para a alma. Gos-
to pessoalmente da dimensão terapêutica
da arte, de algo que pode ser feito para fazer
bem aos outros. Não sei se é possível conse-
guir sempre isso, nem eu tenho essa preten-
são. A verdade é que penso que o mundo
precisa disso.
“É necessário esforço, sacrifício e gostar muito [da sua arte]. Se não gosta não vá por aí, procure outra coisa”
“A arte é a única coisa que sendo deste mundo já não é deste mundo”
GRANDE ENTREVISTA · ANGOLA’IN | 21
22 | ANGOLA’IN · FOTO REPORTAGEM
FOTO REPORTAGEM
A doçura de um beijo infantil será a melhor ilustração de votos de muito amor para o novo ano.Angola vive um notável crescimento e progresso e o mundo está de olhos postos em nós. Cada novo dia somos uma Angola mais bonita, mais alegre e ambiciosa.
Neste mês de Dezembro, aproveitamos para refl ectir sobre o que deixámos para trás e renovamos os nossos votos para o futuro. São sempre os mesmos... amor, saúde, paz, trabalho. Não importa o Hemisfério. Importa a condição humana, igual em todas as partes.
Num momento em que o angolano nunca sentiu tanto orgulho de o ser, teremos que receber este novo ano unidos e responder a cada novo desafi o com a garra e a confi ança de que somos do melhor que há no mundo. O milindro, a fuba, a kizomba e o CAN estao aí!
Haja força e felicidade, bem haja 2010!
texto + fotografi as - Ana Rita Rodrigues
De braços abertos a 2010
| ana rita rodrigues
23 FOTO REPORTAGEM · ANGOLA’IN |
24 | ANGOLA’IN · FOTO REPORTAGEM
FOTO REPORTAGEM
25 FOTO REPORTAGEM · ANGOLA’IN |
26 | ANGOLA’IN · DESPORTO
| patrícia alves tavares DESPORTO ESPECIAL CAN 2010
CORRIDAPARA A VITÓRIA
27 DESPORTO · ANGOLA’IN |
O país está em contagem decrescente
para o maior evento de futebol alguma
vez organizado em território nacional.
Ultimam-se os pormenores e os adep-
tos assistem com entusiasmo à prepa-
ração da equipa que vai representar as
cores da nação.
A Angola’in acompanhou os Palancas
Negras durante o seu estágio em Por-
tugal, na região do Algarve, e revela-lhe
em exclusivo todos os pormenores acer-
ca dos desafi os e emoções que o grupo
viveu. As palavras de ordem foram con-
centração total e empenho máximo.
A nossa equipa de reportagem conver-
sou com o treinador Manuel José e acom-
panhou a chegada do presidente da
Federação Angolana de Futebol, Justino
Fernandes, que se deslocou àquele país
para assistir a um dos jogos de prepara-
ção da equipa e para motivar a selecção.
A aguardar pela chegada dos restantes
elementos da comitiva e a poucos dias
de ser conhecido o lote dos atletas parti-
cipantes, o responsável pela organização
do evento demonstrou, em declarações
à Angola’in, uma forte confi ança no su-
cesso desta formação.
Descubra neste especial, inteiramente
dedicado ao acontecimento do ano, o
dia-a-dia do grupo, cuja união e coesão é
evidente. Os principais rostos da equipa
aceitaram o desafi o e responderam às
questões da nossa publicação, revelando
maturidade, vontade de vencer e desejo
de chegar mais longe.
Neste especial do CAN levamos até si
toda a informação que deve reter sobre
esta matéria. Os estádios e as infra-es-
truturas não foram esquecidos e apre-
sentamos um dossier completo sobre as
especifi cidades de cada recinto, bem co-
mo todos os pormenores das cerimónias
ofi ciais, que decorrem em Luanda.
Tecnologia e simbioses com o passado
cultural estão em destaque nos actos
de abertura e encerramento do evento
desportivo. Por outro lado, porque con-
sideramos que conhecer os adversários é
fundamental para explorar as suas fra-
quezas, elaboramos um ‘raio x’ das se-
lecções que, de 10 a 31 de Janeiro, vão
disputar o título do Campeonato Africa-
no das Nações de 2010.
Dez de Janeiro de 2010 é sinónimo de ‘olhos
postos’ no país, que acolhe mais uma edição
da maior competição continental de futebol.
Os pormenores estão ultimados e o arranque
começa dez dias antes do ponto de partida da
cerimónia ofi cial, que antecede o jogo inaugu-
ral, onde Angola, a equipa anfi triã tem a hon-
ra de dar o pontapé de saída. Assim sendo, no
primeiro dia do ano realiza-se, como é já ha-
bitual, o congresso da Confederação Africana
de Futebol (CAF), com a fi nalidade de fazer o
balanço e estruturar os serviços e actividades
da entidade, enquanto órgão reitor do despor-
to rei em África. Recorde-se que o país orga-
niza o primeiro de dois eventos de futebol, de
extrema importância, que decorrem no conti-
nente em 2010.
“Angola e o Futuro” é o tema da festa de abertura, que terá uma simbiose entre a cultura nacional e as novas tecnologias
ATENÇÕES CONCENTRADAS EM ANGOLAA organização acredita que o arranque do CAN
em solo nacional é o início de uma nova era,
tendo por isso trabalhado para que a cerimó-
Tecnologiae Culturana aberturaofi cialO dia mais esperado pelos angolanos, desde que tiveram conhecimento da sua nomeação para a organização da 27ª edição do Campeonato Africano das Nações (CAN), está a chegar. O arranque e encerramento do torneio estão há muito planeados e nada foi esquecido. A segurança é uma das principais preocupações e as medidas foram devidamente tomadas. Está tudo preparado para o acontecimento do ano, que irá decerto fi car na memória colectiva de Angola
nia de abertura signifi que a estreia de uma
competição de referência a todos os níveis. A
abertura do Campeonato Africano das Nações
“Orange Angola 2010” pretende ser um suces-
so. Nada foi deixado ao acaso, desde a elabo-
ração do “layout” dos bilhetes e convites, ao
material de “merchandising”, que está dispo-
nível desde Novembro. A empresa de teleco-
municações francesa “Orange” apadrinha o
evento, sendo desde Julho o patrocinador ofi -
cial da maior competição da CAF. Quanto à ce-
rimónia, o lema escolhido não podia ser mais
apropriado, tendo em conta o momento que o
país vive, em termos de desenvolvimento eco-
nómico e social. “Angola e o Futuro” é o tema
da festa de abertura, que terá uma simbiose
entre a cultura nacional e as novas tecnolo-
gias. O projecto cultural, que terá a duração de
45 minutos, conta com a contribuição de his-
toriadores e antropólogos angolanos, de for-
ma a garantir a tradução fi el da história nos
três eventos. A organização do espectáculo
está a cargo da empresa portuguesa Cunha
Vaz e Associados. No total, os eventos (sor-
teio, abertura e encerramento) contarão com
1500 fi gurantes, que envergarão as indumen-
tárias de estilistas nacionais. Os conteúdos
temáticos estão a ser supervisionados pelo
Ministério da Cultura e pelo Comité Organiza-
dor do Campeonato Africano das Nações em
Futebol (COCAN). A empresa responsável pe-
los momentos mais marcantes desta compe-
tição garante que está tudo preparado para se
conseguir um espectáculo de grandeza com-
parável às cerimónias de abertura e encerra-
mento do Campeonato do Mundo de Futebol
de 2006, que teve lugar na Alemanha. A orga-
nização garante ainda que dispõe de material
tecnológico de controlo remoto e com recurso
a combustíveis não poluentes, projecção au-
diovisual, luzes e fogo-de-artifício.
ENCERRAMENTO EM GRANDEOs últimos minutos de Angola enquanto na-
ção anfi triã da maior competição continental
estão a ser planeados com todo o rigor, para
que o derradeiro acto ofi cial dignifi que o pa-
ís, o certame e os participantes, não obstante
o destaque para os visitantes, que se espera
que deixem o território nacional com saudade
e orgulho, quanto à qualidade da recepção. A
adaptação dos serviços tecnológicos aos as-
pectos culturais angolanos será o mote para o
encerramento da prova desportiva. A abertu-
ra e fi nalização do CAN estão agendados para
o estádio de Luanda (Camama) e os jornalis-
tas fi carão albergados no Complexo Futungo
II. Não esquecendo o hino ofi cial da prova, a
Angola’in apurou que a música escolhida é da
autoria da dupla Filipe Mukenga e Filipe Zau.
O tema intitula-se “Angola, País de Futuro”. A
31 de Janeiro será conhecido o nome do novo
campeão africano, que envergará o título du-
rante os próximos dois anos.
28 | ANGOLA’IN · DESPORTO
| patrícia alves tavares DESPORTO ESPECIAL CAN 2010
29 DESPORTO · ANGOLA’IN |
o gigante
de luanda
30 | ANGOLA’IN · DESPORTO
Palco de todos os sonhos
Luanda, Cabinda, Benguela e Lubango vão receber as 16 selecções, que
a partir de 10 de Janeiro disputam o troféu do Campeonato das Nações
Africanas. Cada cidade viu nascer um novo estádio, com as infra-es-
truturas (internas e subjacentes) necessárias para responder às exigên-
cias de atletas, dirigentes, equipas técnicas, adeptos e profi ssionais
da comunicação social. Orçados em 600 milhões de dólares, os novos
espaços são uma mais-valia para as entidades desportivas locais, que
poderão usufruir das novas funcionalidades, após o término da compe-
tição continental. A garantia é assegurada pelos organizadores da prova
e pelo Ministério da Juventude e dos Desportos. As quatro infra-estru-
É o maior de Angola e o local escolhido pa-
ra a abertura do evento do ano. Com capa-
cidade para 50 mil espectadores, o estádio
de Luanda situa-se no Bairro da Camama. O
palco, que albergará as cerimónias ofi ciais
de abertura e encerramento do CAN “Oran-
ge” Angola 2010 (10 e 31 de Janeiro), foi edi-
fi cado pela empresa asiática Shanghai Urban
Constrution Group Corporation. A capacidade
do principal palco do CAN é de 50 mil pesso-
as contra os 60 mil inicialmente previstos. A
empreitada esteve ao cargo do consórcio for-
mado pelas empresas Urbinvest, Arup Sport-
Ar, Mario Sua Kay Arquitecto, China National
Impor e Export Corporation (CEIEC), Cogedir,
Somague, Engenharia Angola e Mota Engil.
A organização está confi ante de que o es-
tádio de Luanda vai fomentar o desenvolvi-
mento urbano de toda a região de Luanda e
respeita todos os requisitos de funcionalida-
de, segurança e modernidade, impostos pela
FIFA. O design, daquele que é actualmente o
maior recinto desportivo do país, é moderno
e arrojado, contendo três anéis, elevadores
panorâmicos, áreas VIP, camarote presiden-
cial e tribuna para a imprensa. O estádio es-
tá inserido numa zona privilegiada, uma vez
que está situado em Viana, próximo do Cam-
pus Universitário Agostinho Neto (a 10 qui-
lómetros), uma área composta por diversos
serviços e acessibilidades. A arquitectura do
espaço é funcional e teve especial cuidado pa-
ra com as necessidades dos adeptos. Os por-
tadores de defi ciência não foram esquecidos e
possuem locais de acesso especiais. O recin-
to, que vai acolher a série A do torneio, foi do-
tado de vários restaurantes, parte deles com
vista para o rectângulo de jogo. O espaço al-
berga ainda uma pista de atletismo com oito
faixas, escritórios e um camarote presidencial
com 120 lugares. As condições para o trabalho
dos meios de comunicação social, nacionais e
internacionais, foram pensadas ao pormenor.
O estádio integra duas salas de imprensa, es-
paço para conferências, dois pontos para en-
trevistas rápidas e uma zona mista. A obra
envolveu 2.300 trabalhadores, tendo dado
emprego a 1.500 angolanos e 800 chineses.
Além do estádio principal, a capital cede dois
dos seus antigos estádios para os jogos de
treino das selecções apuradas. O Estádio dos
Coqueiros, o da Cidadela e o 22 de Junho foram
remodelados e assumem durante o período
da competição a função de campos de treino.
O primeiro tem capacidade para cerca de cinco
mil espectadores, relva natural e instalações
de qualidade, uma vez que foi recentemen-
te restaurado. As restantes infra-estruturas
podem receber até 9.500 pessoas e possuem
igualmente relva natural.
à lupa...• 50.000 lugares no total
• 2080 lugares VIPS
• 400 lugares para defi cientes
• 120 lugares no camarote presidencial
• 200 lugares na tribuna de imprensa
• 3 mil lugares de estacionamento
para viaturas ligeiras
• 800 lugares de estacionamento
para autocarros
• 35 km de bancadas pré-fabricadas
• 100.000 m3 de betão utilizados
• 5 MVA é a potência energética necessária
curiosidadesO Estádio dos Coqueiros foi reinaugurado
em Setembro de 2005, após uma interven-
ção de fundo, que permitiu criar instala-
ções de excelente qualidade. Sem dúvida, o
melhor equipado para receber as sessões de
treino. Do “velhinho” estádio resta apenas a
estrutura arquitectónica da fachada princi-
pal. O sistema de irrigação do relvado é au-
tomático e tem espaço para 12 mil adeptos.
Possui seis portas de acesso para os adeptos,
duas para os jogadores e uma VIP.
| patrícia alves tavares DESPORTO ESPECIAL CAN 2010
cabinda aposta
na formação
31 DESPORTO · ANGOLA’IN |
turas têm relva natural e pista de tartan. O recinto de Luanda pode albergar
até 50 mil espectadores e o de Benguela 35 mil, enquanto Huíla e Cabinda
dispõem de uma capacidade para 20 mil pessoas cada. A sua gestão está
a cargo do Ministério das Obras Públicas e a manutenção foi entregue a
técnicos nacionais. Para apoio ao certame, foram ainda recuperados 12 es-
tádios, para a realização dos treinos das selecções participantes. A organi-
zação procedeu igualmente a um investimento de 200 milhões de euros em
novos hotéis e pousadas. A formação dos profi ssionais também não foi es-
quecida. Em contagem decrescente para a cerimónia de abertura, as infra-
estruturas materiais e humanas serão postas à prova no início do ano.
CAN SOLIDÁRIOAs quatro cidades que vão acolher o CAN dispõem de um parque de campismo, criado especifi camente para responder às necessidades de procura neste período. Assim, cada província possui um espaço, com capacidade para acolher 200 cidadãos de baixa renda, que não possuam capacidade fi nanceira para pagar estadia num hotel
O novo complexo desportivo não esqueceu
os futuros atletas nacionais e tem como
principal particularidade o facto de possuir
um recinto relvado adjacente, que será usa-
do para treinos ou jogos das escolas de for-
mação. Moderno e dotado de equipamentos
sofi sticados, o estádio de Cabinda está in-
serido no Bairro Tchiazi. A arquitectura arro-
jada e a respectiva cobertura ondulada, que
lembra as ondas do mar da província (banha-
da pelo oceano Atlântico), fazem deste es-
paço um dos mais belos do CAN 2010. Além
desta classifi cação, a obra merece o aplau-
so da população, uma vez que a estrutura
apresenta 65 lugares de destaque para os
adeptos com defi ciências. A beleza e origi-
nalidade do recinto, com capacidade para 20
mil pessoas, devem-se à empresa respon-
sável pela empreitada, a construtora China
Jiangsu International. Relativamente às es-
truturas externas de apoio, o governo local
procedeu à criação de mais uma unidade ho-
teleira e reabilitou o Hotel Congresso, com
o intuito de criar as condições necessárias
para que não haja carência de alojamentos.
Para melhorar o visual da província, bastan-
te desgastada pela passagem do tempo, os
responsáveis procederam ao arranjo dos es-
paços verdes e dedicaram especial atenção
às carências de saneamento básico. O está-
dio do Tafe é a infra-estrutura designada pa-
ra os treinos das equipas. Os equipamentos
de apoio foram reestruturados para assegu-
rar as condições necessárias para as selec-
ções. O piso relvado tem capacidade para
cerca de cinco mil espectadores. Entretanto,
foi igualmente construído um campo de jo-
gos no Tchi, para completar as estruturas já
existentes.
à lupa...• 20.000 cadeiras é a capacidade total
do estádio
• 204 lugares VIP
• 65 lugares para defi cientes
• 100 lugares para profi ssionais
da comunicação social
• 500 lugares de estacionamento
• 1 campo de treino anexo ao estádio
(para jogos das equipas das camadas
jovens)
curiosidadesA última reabilitação do Estádio do Tafe
ocorreu em 2004. O CAN serviu de mote
para a reabilitação de uma série de infra-
estruturas, que já se encontravam des-
gastadas.
32 | ANGOLA’IN · DESPORTO
A cidade de Cabinda acolheu no último mês um curso de
formação para assistentes de recintos desportivos. Os 550
participantes mostraram-se empenhados na aprendizagem
dos conteúdos, elaborados a pensar na capacitação dos
candidatos para a tarefa de servir e auxiliar os utilizadores
dos estádios. O curso de aprendizagem foi um sucesso e
a direcção espera que após a conclusão do evento o país
esteja posicionado em altos patamares da organização de
actividades desportivas e logística envolvente. “A magnitude
Comparado por muitos aos grandes estádios
da Europa, o recinto que nasceu em Benguela
para acolher o CAN tem capacidade para 35
mil pessoas. A empreitada esteve ao cargo da
empresa Sinohydro Corporation. Localizado
estrategicamente no bairro da Nossa Senhora
da Graça, o estádio de Benguela obedece rigo-
rosamente a todas as especifi cações da FIFA.
O complexo, à semelhança de Cabinda, criou
lugares para 60 adeptos com mobilidade re-
duzida e possui o maior parque de estaciona-
mento, com espaço para mais de mil viaturas.
A principal porta de entrada na província, Lo-
bito, sofreu profundas obras de reabilitação
das vias rodoviárias, que duraram meses. A
cidade assume especial importância devido
ao seu porto comercial, sendo, por isso, um
dos principais pontos de referência durante o
CAN. Já a capital foi alvo de uma reestrutu-
ração mais profunda. As estradas, passeios,
jardins e infra-estruturas de apoio foram re-
modeladas ou construídas de raiz, facultan-
do uma nova imagem da cidade. No entanto,
foi ao nível da hotelaria que a província mais
cresceu. Aos oito hotéis em funcionamento,
juntaram-se mais doze (alguns reabilitados),
disponibilizando um total de 1.140 quartos e
1.483 camas, que até ao arranque da compe-
tição deverão estar lotados. O Estádio Muni-
cipal de Benguela não foi esquecido e vai ter
uma função importante na concretização da
competição africana ao acolher os treinos das
respectivas selecções. Reabilitado em 2003,
no âmbito do projecto Goal II, desencadeado
pela FIFA, o espaço é provavelmente o mais
adequado, ao nível provincial, para a função
de campo de treino. A relva é natural e os bal-
neários para as equipas e árbitros estão com
nova roupagem, totalmente remodelados.
A estruturação de há seis anos contemplou
ainda a instalação de água e electricidade
em todo o espaço. Com uma capacidade pa-
ra quatro mil espectadores, foi recentemente
adaptado, em termos de iluminação, criação
de sala de imprensa e outras funcionalidades.
O estádio do Buraco também sofreu obras de
restauração, nomeadamente nos balneários,
acessos, bancadas, iluminação e substituição
da relva.
benguela,
ao nível
dos melhores
assistentes de recinto recebem formaçãoSABIA QUE…
A comissão organizadora do CAN optou por empresas
chinesas para a construção dos quatro estádios, que
vão albergar as provas. A escolha recaiu nos asiáticos,
pois, segundo o porta-voz, em declaração ao jornal
português Diário Económico, nenhuma empresa
europeia “conseguiria fazer os estádios em um ano
e pouco”. Quanto ao arrelvamento dos estádios, a
missão foi atribuída à empresa inglesa SIS - Support In
Sport, que foi responsável pela implantação da relva
nos estádios da Alemanha, para o Mundial de 2006
à lupa...• 35 mil lugares no total
• 308 lugares VIP
• 60 lugares para defi cientes
• 154 lugares para a imprensa
• 1300 lugares de estacionamento
curiosidadesO Estádio Municipal de Benguela, com
capacidade para quatro mil pessoas, con-
seguiu concluir as obras de reabilitação,
pois determinadas infra-estruturas não fo-
ram benefi ciadas pelo projecto da FIFA. O
Estádio do Buraco ganhou novos balneá-
rios, bancadas, acessos e procedeu-se a uma
reinstalação da relva.
DESPORTO ESPECIAL CAN 2010
33 DESPORTO · ANGOLA’IN |
do evento impunha a ordem de defesa e segurança e ordem
interna à sociedade civil, a responsabilidade de garantir
a realização de um CAN exemplar e campeão em termo
de segurança nas suas múltiplas vertentes. Constitui
preocupação número um a preparação antecipada e
acautelada de todos os agentes intervenientes”, apontou
António Pedro Kandela, coordenador da subcomissão
provincial de segurança e protecção do COCAN. A formação
foi dirigida pelo superintendente Sebastião Adão. Trinta
Edifi cado num dos cenários mais belos da pro-
víncia da Huíla, o novo estádio do Lubango é
provavelmente o mais cobiçado, esperando-se
que dentro de alguns meses seja muito pro-
curado pelas selecções mundiais, com vista à
preparação para o Mundial da África do Sul. A
Sinohydro Corporation Limited construiu um
dos estádios mais pequenos deste CAN, mas
igualmente o mais apelativo, em termos de
paisagem envolvente. Situado no bairro Chio-
co, o recinto tem uma vista de rara beleza, a
partir do qual é possível apreciar a imagem do
Cristo Rei. A altitude da Huíla (1.761 metros) e
o clima temperado, mais mediterrâneo, trans-
formam esta infra-estrutura desportiva numa
das mais apetecíveis para as equipas (espe-
cialmente europeias) apuradas para o Cam-
peonato do Mundo, que decorrerá na vizinha
África do Sul, já no próximo Verão. Assim, a or-
ganização do CAN está confi ante de que este
estádio, logo após o término do torneio conti-
nental, será procurado para a preparação das
selecções internacionais. Prevendo a enorme
afl uência de adeptos e comitivas, o troço rodo-
viário de acesso ao estádio foi asfaltado, desde
o entroncamento com a avenida que parte do
Aeroporto da Mukanka até ao principal cam-
po de futebol, inserido na ladeira da cordilheira
do símbolo da província, o Cristo Rei. Esta obra
foi muito importante para a população daque-
la região, que conta agora com melhores aces-
sos, que facilitam a deslocação dos visitantes
entre os principais pontos da cidade. A referida
estrada e o recinto estão agora ligados atra-
vés da ponte, que foi erguida especifi camente
para melhorar as acessibilidades da localida-
de. A passagem inferior da estrutura alberga
a linha do comboio, que diariamente interliga
a vila de Malata a outros pontos da Huíla e do
Namibe. Ainda relativamente ao exterior, o es-
paço envolvente do estádio do Lubango, que
vai receber os jogos do grupo D, foi requalifi ca-
da, através de uma acção de arborização, cuja
mais valia reside na oxigenação do local, que
se encontra cerca de dois mil metros acima do
mar. A capital da Huíla apresenta-se na com-
petição com três excelentes campos de trei-
no. Os estádios Nossa Senhora do Monte, do
Ferrovia e do Benfi ca do Lubango são muito
convidativos. As recentes modernizações dos
acessos, bancadas, balneários, iluminação e
relvados, aliados às condições meteorológicas
fazem destes espaços as pérolas da província.
No âmbito do CAN, a província ganhou mais
dois hotéis, para fazer face à elevada procura
de alojamentos. O Chick-Chick (cinco andares)
e o Hotel Lubango (com uma área de 3600 m2)
abrem portas esse mês, num período em que
se verifi ca uma forte corrida aos locais de aco-
modação.
cristo rei
é atractivo
no lubango
e cinco formadores leccionaram 13 unidades didácticas,
durante 19 dias. O plano curricular dividiu-se em três
cadeiras: segurança e ordem pública, segurança nos
estádios e teoria geral do planeamento, informações e
gestão de multidões. O director destacou as vantagens do
curso, que dotou os assistentes de recintos desportivos de
conhecimentos técnicos, assumindo-se como profi ssionais
efi cientes, dispostos a participar activamente e com
maior atenção às questões de segurança dos espaços.
à lupa...• 20.000 lugares no total
• 208 lugares VIP
• 60 lugares para defi cientes
• 104 lugares para os jornalistas
• 780 lugares de estacionamento
curiosidadesO histórico Estádio Nossa Senhora do Mon-
te tem capacidade para 10 mil espectado-
res e foi proposto pelo país para integrar o
Projecto Goal-África da FIFA. O Estádio do
Ferrovia tem capacidade para nove mil pes-
soas, piso em relva e sofreu uma renovação
geral, especialmente ao nível dos balneá-
rios e da Sala de Imprensa
34 | ANGOLA’IN · DESPORTO
Mestres de Cerimónia
Se o Campeonato Africano das Nações fosse disputado na categoria de apoio do público, os
Palancas Negras tinham o título garantido. A Selecção Nacional de Angola joga em casa e como
organizadora do evento tem exigências acrescidas. Os adeptos estão eufóricos e a formação
conta com a mais-valia de um ambiente conhecido e motivador. Manuel José é o mais recente
técnico e garante que a sua equipa vai demonstrar empenho e determinação, revelando estar à
altura do desafi o de honrar as cores do país
RESPONSABILIDADE DE ANFITRIÃOPedro Mantorras e Fabrice Akwá são os ícones
desta selecção, que no último Mundial impres-
sionou pela força de vontade, que superou al-
guma falta de técnica. Entretanto, Akwá, o
jogador que bateu os recordes das convocató-
rias e marcou mais golos ao serviço da selec-
ção, abandonou os relvados. O último ano não
foi fácil para esta equipa, que aposta tudo nes-
te CAN, que pode ser decisivo para a afi rma-
ção internacional do país, em todos os níveis.
As exibições fracas, o afastamento do Mundial
de África do Sul e a mudança de treinador aba-
laram inevitavelmente o esqueleto da equipa.
Porém, a entrada do técnico português Manuel
José, conhecido pelos êxitos à frente do Al Ahly
e pela experiência nos campeonatos africanos,
trouxe um novo fôlego a este grupo, que dis-
põe de uma enorme garra, humildade e de vá-
rios talentos, oriundos dos palcos nacionais e
internacionais. As expectativas são muito al-
tas. Afi nal, a selecção de Angola, enquanto
equipa anfi triã, tem obrigação de impressionar
e alcançar um lugar de destaque na 27ª edição
do Campeonato das Nações. O apoio do público
é uma mais-valia. Os adeptos estão entusias-
mados e prometem ‘puxar’ pela equipa dentro
e fora de campo. A estrutura da formação ain-
da não está defi nida e os jogadores tentam dar
o seu melhor para conseguir um lugar no onze
inicial, honrando assim a sua nação. Contudo,
Manuel José mantém guardado a sete chaves o
lote de escolhidos para enfrentar a Argélia, Ma-
lawi e Mali, na primeira fase da competição. Os
eleitos serão divulgados nas vésperas do tor-
neio, bem como a táctica de jogo (ver caixa). Os
adeptos mais ansiosos terão ainda que esperar
algumas semanas.
EQUIPA RESPEITADAO futebol nacional tem crescido e amadure-
cido ao longo dos últimos anos. Os Palancas
Negras já não são conhecidos pelo jogo irre-
gular, tendo-se livrado da má fama após a
exibição na qualifi cação para a fase fi nal do
Campeonato do Mundo, na Alemanha, em
2006. O incrível golo de Akwá frente ao Ru-
anda permitiu que a equipa se apurasse, em
detrimento da Nigéria, para a maior competi-
ção organizada pela FIFA. Analisando a pres-
tação da equipa em 2008, os especialistas
acreditam que esta deu um salto qualitativo
e tudo indica que o seu bom desempenho se
tornará uma constante. Os êxitos da selecção
signifi cam muito para a população, uma vez
que o desempenho da formação de Manuel
José tem mostrado ao mundo uma imagem
diferente do país. Recorde-se as afi rmações
de Akwá, durante o Mundial de 2006, que rei-
terava que fi cou “provado que Angola não é
só petróleo, guerra e pobreza”. De facto, es-
ta imagem positiva contribuiu para a atribui-
ção da responsabilidade de organizar a maior
competição africana.
VIRAR A PÁGINAA Selecção Nacional de Angola mostrou-se
ao mundo em 2005, data em que se classifi -
cou para o Campeonato Mundial, pela primei-
ra vez na sua história. Todavia, é nos Jogos
da Lusofonia que os Palancas se eviden-
ciam. Após uma medalha de prata em 2006,
a formação subiu este ano ao terceiro lugar
do pódio. A mudança de treinador fez cres-
cer a fasquia. O longo currículo e experiência
de Manuel José são reconhecidos em todo o
continente, pelo que se espera que o grupo
currículo dos palancas negras• Campeonato das Nações AfricanasCAN 1996, 1998, 2006, 2008• Qualifi cação Mundial (CAF) Participa-ção nos apuramentos para o WC 1986, 1990, 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010• Campeonato do MundoFase de grupos do Alemanha 2006
números• 10 jogos para o CAN• 53 jogos para a qualifi cação do Mundial• 1 participação no Campeonato do Mundo• 84 jogos amigáveis• 2008 foi o ano da melhor classifi cação no CAN (quartos-de-fi nal)
fi cha técnica• Primeira participação no CAN: 1996• Treinador: Manuel José• Preparador físico: Fidalgo Antunes• Equipamento: Puma• Ranking FIFA: 98• Capitão: André Makanga• Craques: Job, Manucho, Flávio
Palancas Negras,
| patrícia alves tavares DESPORTO ESPECIAL CAN 2010
35 DESPORTO · ANGOLA’IN |
BIC OFERECE UM MILHÃO DE DÓLARESO Banco BIC lançou um desafi o invulgar
à selecção nacional. A entidade, de capi-
tais portugueses e angolanos, oferece um
milhão de dólares à formação, caso esta
conquiste o título no Campeonato das Na-
ções Africanas. Fernando Teles, presidente
do organismo bancário, anunciou ainda
que caso os Palancas Negras obtenham o
segundo lugar, o montante oferecido é de
250 mil dólares. Da mesma forma, o de-
sempenho da equipa durante o campeo-
nato será premiado. Por cada jogo ganho, o
grupo arrecada 50 mil dólares e o goleador
receberá 25 mil dólares. O objectivo desta
recompensa monetária visa incentivar os
atletas a empenhar-se ao máximo pela ca-
misola do seu país
escolhido pelo técnico se apresente com
mais técnica e com um futebol de qualida-
de, assumindo-se como sérios candidatos
ao título. Até ao momento, as prestações
da formação têm sido consideradas positi-
vas e o trabalho do técnico foi elogiado, in-
clusive pelo Presidente da República, José
Eduardo dos Santos. O dirigente máximo
da nação louvou a capacidade do treinador
luso ao conseguir implementar um siste-
ma de jogo e rigor táctico entre jogadores.
A opinião é partilhada pelos adeptos, que
enaltecem o seu rigor e visão estratégica.
Os apoiantes dos Palancas Negras, bem
como os dirigentes desportivos e antigos
atletas, destacam a forma como os joga-
dores têm actuado, mostrando-se equi-
librados, com atitude e desinibidos. As
exibições fazem prever uma prestação
equilibrada durante o CAN, com um grupo
a revelar bons níveis de evolução. Recen-
temente, a má exibição da equipa no pri-
meiro amigável, disputado em ‘casa’ foi
apontado como o calcanhar de Aquiles dos
Palancas. O seleccionador, que também
não se mostrou satisfeito com a presta-
ção da equipa, explicou na ocasião que o
facto de jogar em Angola pela primeira vez
infl uenciou negativamente os atletas, que
se deixaram dominar pela pressão. “Não
podemos ter medo de vencer uma selec-
ção com menos nome, nem encarar a res-
ponsabilidade de jogar em casa como algo
mau. Jogar diante do nosso público é uma
boa responsabilidade e devemos ter força
mental para aproveitar isso”, sustentou,
falando à imprensa no fi nal do encontro
com o Congo.
andré makanga Posição: Médio
Clube: Kuwait FC
Data nascimento: 14/05/1978
Altura: 175 cm
Peso: 72 kg
Internacionalizações pela selecção:
Alemanha 2006, CAN 2008,
WC2010 CAF
gilberto Posição: Avançado
Clube: Al-Ahly
Data nascimento: 21/09/1982
Altura: 176 cm
Peso: 70 kg
Internacionalizações pela selecção:
CAN 2008, WC U20 2001,
WC2010 CAF
fl ávioPosição: Avançado
Clube: El Shabad (Arábia Saudita)
Data nascimento: 30/12/1979
Altura: 173 cm
Peso: 73 kg
Internacionalizações pela selecção:
Alemanha 2006, CAN2006,
CAN 2008, WC2010 CAF
carlos fernandesPosição: Guarda-redes
Clube: Rio Ave (Portugal)
Data nascimento: 08/12/1979
Altura: 188 cm
Peso: 85kg
Internacionalizações pela selecção:
-
djalmaPosição: Médio
Clube: Marítimo (Portugal)
Data nascimento: 25/04/1987
Altura: 175 cm
Peso: 72kg
Internacionalizações pela selecção:
-
manuchoPosição: Avançado
Clube: Valladollid (Espanha)
Data nascimento: 07/03/1083
Altura: 187 cm
Peso: 83kg
Internacionalizações pela selecção:
CAN 2008, WC2010 CAF
Corrida à conquista do sonhoManuel José ainda não adiantou dados acerca de quem vai
escolher para encabeçar a equipa, que vai disputar o CAN,
que decorre de 10 a 31 de Janeiro em Angola. Os jogado-
res dão ao máximo nas exibições, mostrando muito empe-
nho, dedicação e determinação em honrar a camisola e o
nome do país. Até lá, o técnico português vai analisando
o potencial de cada um. A Angola’in revela-lhe alguns dos
talentos que compõem este grupo de grandes valores:
mantorrasPosição: Avançado
Clube: SL Benfi ca (Portugal)
Data nascimento: 18/03/1982
Altura: 180 cm
Peso: 77kg
Internacionalizações pela selecção:
Alemanha 2006, WC U20 2001,
WC2010 CAF
zé kalangaPosição: Médio
Clube: Dínamo Bucareste
Data nascimento: 12/10/1983
Altura: 175 cm
Peso: 72kg
Internacionalizações pela selecção:
Alemanha 2006, CAN 2008,
WC2010 CAF
stélvioPosição: Médio
Clube: União de Leiria (Portugal)
Data nascimento: 24/01/1989
Altura: 189 cm
Peso: 84 kg
Internacionalizações pela selecção:
-
36 | ANGOLA’IN · DESPORTO
‘Os atletas têm de ser gigantes’
‘Incuto nos jogadores uma fi losofi a competitiva agressiva, de pressing constante sobre o adversário’
Como descreve a equipa que encontrou?
Encontrei uma equipa desmoralizada, desmo-
tivada e com índices de confi ança baixíssimos
porque vinha de quatro jogos em que não ti-
nha ganho nenhum, tendo inclusive sofrido
sete golos. Procurei desde logo difundir ideias
diferentes. Comecei a introduzir mudanças,
uma delas ao nível do modelo de jogo. Ango-
la jogava com a táctica de 4x3x3 e 4x4x2, na
maior parte das vezes, 4x5x1, muitas vezes,
e quis que a equipa começasse a jogar num
3x5x2 ou num 3x4x3. Passei de uma defesa
clássica de quatro homens, para uma defesa
de três, jogando com dois jogadores de mar-
cação e um livre. Depois disso, tenho vindo a
incutir nos jogadores uma fi losofi a competi-
tiva agressiva, de pressing constante sobre o
adversário e de circulação de bola. A base do
futebol africano e angolano é a técnica e por
isso tem-se de jogar de acordo com as carac-
terísticas dos jogadores. Dessa forma, passa-
mos a jogar um futebol de pé para pé, curto,
de apoio, de passe e de devolução do passe.
Jogamos em situações de dois contra um per-
manentemente, mas sempre em espaço cur-
to, fazendo-o sem medo e para ganhar contra
todas as equipas. Essa é a nossa fi losofi a e a
que vamos levar para o CAN.
‘Importante é fazer sentir que este evento é um momento único na vida dos jogadores e do país...Trabalhamos por uma matriz psicológica forte, para que todos os atletas percebam que têm de ser gigantes’
Essas mudanças foram conseguidas?
Para se ter sucesso, é importante que treina-
dor, equipa técnica e jogadores tenham uma
relação profi ssional e pessoal boa, assente em
valores de respeito e amizade. Penso que isso
foi conseguido. O grupo está formado e pron-
to para jogar. Faltava-nos ultrapassar o pro-
blema da ansiedade. Essa tem sido a nossa
maior difi culdade. Para a transpor tratamos
Manuel José, seleccionador de Angola, é bem conhecido no contexto africano
devido aos sucessos alcançados como técnico do Al Ahly, equipa egípcia.
Em vésperas do maior evento angolano, o treinador português revela em
exclusivo à Angola’in tudo o que precisa saber acerca da sua selecção.
Entrevista a Manuel José
| patrícia alves tavares DESPORTO ESPECIAL CAN 2010
Como surgiu o convite para treinar a selecção?
O convite surgiu quando já tinha transmitido
ao meu clube no Egipto que não iria cumprir
o último ano de contrato, ou seja, a época que
está a decorrer 2009/2010. Queria descansar,
mas de repente apareceu a selecção. A princí-
pio não estava muito entusiasmado, pois ti-
nha a ideia de parar quatro ou cinco meses.
O que me convenceu foi o desafi o de treinar
uma selecção que no ranking africano está
numa posição bastante baixa. Hoje é 20ª, mas
há uns meses atrás estava no 26º lugar. Além
disso, é a selecção de um país que organiza o
CAN, o que por si só é motivador, uma vez que
me abre mercado ao nível de futuras selec-
ções, podendo desta forma ajudar a prolongar
a minha carreira. Sem dúvida que é um acon-
tecimento que cria uma grande expectativa
em Angola. Todos querem ganhar. Ninguém
acredita no Mundo e muito menos em África
que possamos vencer o desafi o, por isso acei-
tei e não me arrependo.
37 DESPORTO · ANGOLA’IN |
palmarés invejávelA primeira experiência de Manuel José no continente africano foi na época de
2001/2002. Depois de ter conseguido a melhor classifi cação de sempre para o União
de Leiria, clube do campeonato português, aventurou-se em África, onde treinou,
durante os últimos seis anos, o Al-Ahly, do Egipto. O que o motivou a aceitar o
desafi o foi o facto deste ter sido considerado o clube do século XX em África, assim
como o Real Madrid o tinha sido na Europa. Manuel José fez 20 fi nais, tendo ganho
18. Ajudou ainda o clube a conquistar 19 títulos, oito deles continentais, quatro
Ligas dos Campeões e quatro Supertaças Africanas. Vitórias que levaram ao delírio
os cerca de 40 milhões de adeptos do Al-Ahly
de ter profi ssionais de outras áreas, psicólogo,
nutricionista, entre outros, que ajudassem a
educar a mente dos jogadores. O importante
é fazer-lhes sentir e perceber que este evento
é um momento único na vida deles e do país,
visto Angola ser a anfi triã. Esse é o peso his-
tórico que irá perdurar. Uma responsabilidade
de todos, que deve ser encarada com optimis-
mo e funcionar como um factor de supera-
ção e não de inibição. O que peço aos meus
jogadores é que a personalidade competiti-
va se revele verdadeiramente. Foi sobre essa
matriz psicológica que trabalhamos, no sen-
tido de termos um perfi l forte, em que todos
os atletas percebam que têm de ser gigantes.
Jogamos em casa, temos um público fantás-
tico para um estádio lindo, dos melhores e
mais modernos do mundo, que comporta 50
mil pessoas e isso tem de ser um orgulho, um
prazer e um estímulo para que os jogadores
sintam uma vontade tremenda de superação.
‘Com um público deste até a mim me apetecia jogar. Acho que esta é uma oportunidade tremenda para serem felizes’
É uma equipa de constelações
ou a estrela é o grupo?
A estrela é a equipa até porque Angola não
tem estrelas. Temos jogadores médios em
equipas pequenas e outros atletas a jogar
em equipas grandes, mas com um futebol
não tão profi ssional, como é o caso dos pa-
íses árabes. Estão em equipas de topo, mas
que praticam um futebol sem a dimensão da
Europa. Por esse motivo, o mais importante
é o conjunto. Os jogadores têm de jogar para
a equipa, com uma humildade grande e uma
intensidade alta em cada jogo. Acima de tudo,
temos de estar muito concentrados e ser uma
selecção compacta e organizada. Queremos
jogar sempre para ganhar. Não temos as es-
trelas que outras selecções têm e que podem
decidir o jogo de um momento para o outro
e por isso temos de nos valer acima de tudo
do colectivo. Não há outra decisão a tomar,
temos de nos superar recorrendo a um espí-
rito guerreiro, com uma entrega total ao jogo.
Com um público deste até a mim me apetecia
jogar. Acho que esta é uma oportunidade tre-
menda para serem felizes.
Como classifi ca o grupo da primeira fase?
Difícil, mas equilibrado. A Argélia é o 4º quali-
fi cado no ranking africano, o Mali é o 7º e tem
jogadores em clubes como a Juventus, o Real
Madrid ou o Barcelona, o que faz deles joga-
dores de topo do futebol europeu e mundial.
Angola é a mais modesta. A equipa da Argélia
é uma selecção que está em alta. Conseguiu,
ao fi m de 17 anos suponho, o apuramento pa-
ra um Campeonato do Mundo. São, por isso,
equipas sempre difíceis, muito experientes e
que jogam no erro do adversário. O importan-
te é qualifi car-nos, depois como são jogos a
eliminar tudo pode acontecer.
‘Não tenho dúvidas que dentro de uma década irão surgir grandes jogadores’
Independentemente da classifi cação, organizar
um CAN é sempre importante para um país?
Não foram apenas os estádios modernos que
se construíram, mas também outras infra-es-
truturas importantes para o desenvolvimento
do Desporto. Os espaços devem ser rentabi-
lizados a favor das novas gerações. Angola
tem de apostar num projecto de formação e
arranjar infra-estruturas desportivas onde os
jovens possam aprender. Para formar joga-
dores, o país dispõe de um leque alargado de
escolhas, importa criar um plano. Agora que
as vias de comunicação começam a oferecer
condições de deslocação por todo o país estru-
ture-se um Campeonato Nacional de Juniores,
um Campeonato Nacional de Juvenis, campe-
onatos distritais, selecções distritais, escolas
de jogadores, centros de formação... Primeiro
têm de criar uma organização, depois mais e
melhores infra-estruturas porque a matéria-
prima existe para ser desenvolvida. Se for fei-
to já, não tenho dúvidas, que dentro de uma
década começarão a surgir grandes jogado-
res. É um investimento a longo prazo.
Como caracteriza os seus jogadores?
Tenho jogadores que são humildes e boas pes-
soas. Principalmente os que jogam no Girabo-
la, são acima de tudo muito ingénuos. De uma
ingenuidade que qualquer atleta de 20 anos
a jogar na Europa já não tem. Infelizmente, o
nível profi ssional entre o ‘velho continente’ e
Angola tem uma diferença muito signifi cati-
va, daí a razão desta pureza do jogador ango-
lano. Há falta de cultura táctica e os índices de
profi ssionalismo não são elevados. Nos que
jogam fora de Angola, nota-se essa diferença
porque entretanto já absorveram uma outra
cultura, com outros valores, outra intensida-
de de jogo e outra organização. São diferenças
que no jogo se tornam gritantes.
38 | ANGOLA’IN ·
39 · ANGOLA’IN |
40 | ANGOLA’IN · DESPORTO
| patrícia alves tavares DESPORTO ESPECIAL CAN 2010
‘Uniãodas nações’LUÍS JOÃO, CONHECIDO POR LAMÁ, CONFIDENCIA QUE A ESCOLHA DO NOME É UM TRIBUTO AO SEU ÍDOLO, O LENDÁRIO GUARDA-REDES FRANCÊS BERNARD LAMA. O GUARDIÃO DA BALIZA NACIONAL É JOGADOR DOS CAMPEÕES DO PETRO DE LUANDA. AOS 28 ANOS, O ATLETA REVELA-NOS O SEU SONHO: FORMAR OS MAIS NOVOS.
Estão em contagem decrescente para o
CAN. Como decorrem os trabalhos de pre-
paração?
Corre tudo bem. Saímos do nosso país para
Portugal, que tem sido a nossa sede. Estamos
bem em termos de trabalho, de alimentação
e de hospitalidade. Em relação ao novo trei-
nador, tentamos acatar todas as orientações,
pois é para o bem não só da selecção, mas do
nosso país.
Sente uma crescente adaptação ao novo es-
tilo de jogo?
Tecnicamente estamos a evoluir e a tendên-
cia é essa. Todos os dias melhoramos. O nosso
trabalho e os nossos índices vão progredindo
a cada dia que passa.
Que qualidades destaca na equipa e que são
determinantes para sobressair perante os
adversários?
Hoje em dia não há resultados nem equipas
fáceis. O futebol está a evoluir e a ser estu-
dado. Na minha opinião, o que faz com que a
equipa saia vencedora é a atitude, a inteligên-
cia, a disposição e a motivação.
Abordou a conjugação da inteligência e da
paixão pelo futebol. É esse o equilíbrio que
o grupo procura?
Sim, por isso a FAF contratou um psicólogo.
A emoção e o futebol estão relacionados. Não
podemos ter picos de emoção, que levam mui-
tos jogadores a falhar nos momentos decisi-
vos. Como estamos a organizar pela primeira
vez um evento deste género, temos que es-
tar bem preparados, não só psicologicamente,
mas com o melhor treinador, equipa técnica,
nutricionista, entre outros componentes. É o
que está a acontecer.
Qual é o seu sonho e o da equipa para este
africano?
No meu caso, como sou guarda-redes, primei-
ro falo pela equipa e só depois abordo os as-
suntos pessoais. Neste momento, devemos
pensar só no grupo, na união e na coesão. No
CAN passado ultrapassamos a primeira fase
e, se fora do país fomos até aos quartos-de-
fi nal, estando na nossa casa queremos ir mais
longe. Esse é o nosso grande objectivo.
Para si será uma oportunidade para se cata-
pultar internacionalmente?
A minha meta é conseguir através desta mon-
tra uma equipa de renome, com novos desa-
fi os, nova mentalidade, outros ambientes e
tipos de trabalho. Sinto falta de sair do país. Jo-
go na equipa de Angola desde que comecei, ou
seja, o destino é sempre o mesmo. Todos so-
nhamos experimentar o campeonato europeu,
é outra experiência profi ssional, em que cresce-
mos não só como atletas, mas como homens.
Comparo a mentalidade dos meus colegas que
estão fora e dos que jogam no campeonato na-
cional e é muito diferente.
Por outro lado, no futuro, gostava de criar uma
escola de formação, sem me associar a equipas
técnicas, apenas para ensinar e transmitir a mi-
nha experiência. Isso é o que eu mais quero.
A formação é cada vez mais urgente?
A formação é muito importante, não só a fí-
sica, mas também a mental e a académica.
Quando nos referimos ao ensino escolar fala-
mos de inteligência, algo exigido pelo futebol
actual. Muitos treinadores focam este aspec-
to, porque temos que estar concentrados e
saber aquilo que estamos a fazer para desem-
penhar a nossa tarefa com maior maturidade.
Posso estar apto fi sicamente, mas se não es-
tiver bem psicologicamente não tenho o ren-
dimento ideal. Temos que saber controlar as
emoções.
Aconselha os jovens em início de carreira a
não desistir dos estudos?
A escola é muito importante, porque é o ensi-
no que nos orienta, nos ajuda a saber decidir e
a ter massa crítica. Muitos jovens querem ser
como o Mantorras ou até como eu e acredito
que eles ouvem aquilo que dizemos.
Esse factor é muito importante. Os atletas de
alta competição funcionam como exemplos?
Exactamente, não só como jogadores, mas co-
mo Homens. Se um jovem vê que falamos de
ensino, ele vai concentrar-se igualmente nes-
se aspecto e certamente considerar que se nós
chegamos aqui é porque também estudamos.
Que mensagem gostaria de deixar aos
apoiantes da selecção?
Desejo que todo o povo esteja connosco desde
o princípio até ao fi m, tendo em consideração
que não há matéria fácil. A selecção promete
trabalhar para corresponder às expectativas
de todos, pelo que vamos procurar estar pre-
sentes em mais fases fi nais de torneios afri-
canos e mundiais, porque o futebol é a união
das nações.
‘A formação é muito importante, não só a física, mas também a mental e a académica’
41 DESPORTO · ANGOLA’IN |
‘Geraçãodo sucesso’
Como encara a participação num CAN orga-
nizado pelo seu próprio país?
Com grande expectativa porque todos sabe-
mos que o país investiu muito para realizar
esta prova em casa, o que faz aumentar as
nossas responsabilidades. O mais importan-
te é representar condignamente Angola e dar
uma alegria a todas as pessoas que acreditam
em nós. Temos sorte, pois o nosso povo ama
e vive o futebol, são adeptos exigentes, que
gostam de bons espectáculos. Isso cria uma
ansiedade. Valemo-nos para combatê-la da
nossa união e amizade, factores que têm per-
mitido à selecção alcançar algum sucesso, fru-
to sempre da vontade de vencer.
Quais as vossas principais mais-valias?
A equipa já mostra uma boa solidez defensiva,
trabalhamos muito o meio campo, só fi cam a
faltar os golos. Temos vindo a afi nar o ataque,
por intermédio de jogadores com qualidade
sufi ciente para olear uma máquina vencedora.
Em África é muito complicado dizer quais são
as selecções melhores ou os grupos mais for-
tes porque hoje em dia no mundo do futebol já
não há equipas fáceis. Actualmente, não exis-
tem equipas pequenas porque mesmo essas
se agigantam, trabalham da melhor maneira e
têm profi ssionais em bons campeonatos.
O grupo de Angola é um dos mais difíceis?
É equilibrado. A Argélia, é uma equipa super
motivada. Esperemos que estejam com a ca-
beça no mundial e não no CAN, pois vai ser
melhor para nós (risos). O Mali tem jogadores
que jogam nas melhores equipas do mundo,
logo com muita experiência e qualidade. Do
Malawi, todas as pessoas dizem que é “o pa-
rente mais pobre” do grupo porque tem pou-
ca expressão, mas nós, que já jogamos contra
equipas deste país, sabemos que têm mui-
to bons jogadores. Fize-
ram uma boa qualifi cação
e por isso merecem estar
nos 16 melhores de Áfri-
ca. Resta salientar, que
estamos em casa e essa
vai ser uma força muito
grande, pois acredito que
o público vá ajudar mui-
to. Este vai ser de facto
o nosso 12º jogador e te-
mos de mostrar logo à
entrada que vamos fazer
coisas bonitas para nós e
para eles.
O CAN vai funcionar como uma montra?
Acho que se Angola depois do CAN conseguir
exportar mais jogadores vai ser muito bom
para o país. Depois do mundial e do europeu,
esta é a competição mais vista do mundo.
No CAN vão estar dos melhores jogadores
africanos a jogar na Europa. Grandes clubes
europeus vão perder dois ou três jogadores e
isso é simbólico, fazendo com que as pesso-
as estejam de olho neles e nesta competição.
No entanto, é importante salientar que ainda
conseguimos ter muitos jogadores na selec-
ção que jogam no nosso campeonato e isso
é bom, pois vemos selecções africanas que
têm 20 jogadores fora. O Girabola é cada vez
mais exigente, pelo que também se começa
a investir bastante. Esse investimento é im-
portante para o desenvolvimento das cama-
das mais jovens ao nível da formação. Somos
a geração da guerra, mas já conseguimos al-
cançar coisas que se calhar muitas pessoas
não acreditavam como uma ida ao mundial,
como estes CAN’s consecutivos num país que
se está a organizar. Tenho a certeza que den-
tro em breve iremos ter muitos mais valo-
res fora de Angola porque é uma geração da
paz, com acesso a mais e melhores condições
desportivas. Já estive em vários CAN’s e pen-
so que este vai ser exemplar nesse aspecto.
Damo-nos ao luxo de ter um hotel para ca-
da selecção, em cada província um campo de
treino para cada equipa com boas condições,
dados que vêm mostrar o grande investi-
mento que o nosso Governo fez. Um esfor-
ço que só terá sucesso se a selecção também
tiver porque somos o ponto fulcral de tudo.
Estamos a falar de um retorno inquantifi cá-
vel a vários níveis.
CARLOS MANUEL GONÇALVES ALONSO, DE SEU NOME, KALI, DE APELIDO, É O ROSTO DA MOTIVAÇÃO ANGOLANA. FERVEROSO ADEPTO DO SEU PAÍS, REVELA O INSTINTO DIGNO DE QUEM QUER IR MAIS ALÉM. NUM DISCURSO EMOCIONADO, FALA DE ASPIRAÇÕES E DE UMA OPORTUNIDADE ÚNICA COM TRANSMISSÃO DIRECTA PARA O MUNDO.
‘Somos a geração da guerra, mas conseguimos alcançar mais do que se calhar muitas pessoas acreditavam’
42 | ANGOLA’IN · DESPORTO
| patrícia alves tavares DESPORTO ESPECIAL CAN 2010
Que análise faz à selecção?
A equipa está em boas condições para atingir
os seus objectivos, sendo que o mais impor-
tante é formar um colectivo coeso e compacto.
Para realizar bons jogos no CAN, todo o joga-
dor tem de se sentir mentalmente tranquilo,
sem pensar na pressão que irá ter no torneio
porque esta existe em todo lado e em todos
os jogos. Temos acima de tudo de pensar em
nós, naquilo porque temos vindo a trabalhar
diariamente, para que o resto saia com natu-
ralidade. Todas as selecções têm a sua quali-
dade e todos os grupos estão representados
por boas equipas. Nós, queremos ganhar jogo
a jogo para passar à próxima fase. Essa é a fi -
losofi a que defendemos.
recebem mais formação e deixam de ter tanta
vontade de ir para o exterior. Começam a sen-
tir mais orgulho e mais vontade de aprender
no próprio pais. Nós, os mais velhos, estamos
a abrir caminho para que os mais jovens pos-
sam ter um futuro brilhante, dando-lhes as
oportunidades que não tivemos. No fundo, é
bom para Angola e para o próprio campeonato
angolano, que sobressai mais e ganha ainda
mais nome.
‘Nós, os mais velhos, estamos a abrir caminho para que os mais jovens possam ter um futuro brilhante, dando-lhes as oportunidades que não tivemos’
Que mensagem quer deixar aos adeptos?
Acreditem mais na selecção e na nossa capa-
cidade, pois só em grupo podemos conseguir
alcançar os nossos objectivos. Não só a selec-
ção ou os jogadores, mas o povo tem de estar
unido para alcançar a meta, ou seja, a vitória.
‘Durante a guerra não havia condições para jogar e muitos jovens emigravam. Agora esse cenário pode mudar e a vontade de ir para o exterior diminuir’ Os novos estádios contribuem para elevar a
vontade de ganhar?
As infra-estruturas são importantes porque
dão mais motivação aos jogadores, mas tam-
bém são cruciais para o desenvolvimento des-
portivo do país, sobretudo das camadas mais
jovens. Como se sabe Angola viveu muitos
anos de guerra e não tinha as condições ne-
cessárias para os jogadores trabalharem no
próprio país e por isso muitos deles emigra-
vam, quando o sonho era jogar no estrangeiro,
principalmente na Europa. Actualmente com
a realização do CAN e com as infra-estruturas
que estão a ser criadas para as futuras gera-
ções esse cenário pode mudar. Acredito que é
possível entrar numa nova era do futebol an-
golano, com novos estádios e novos centros de
estágio. Tudo isto é bom para os jovens, pois
DEDÉ, UMA DAS GRANDES REVELAÇÕES ANGOLANAS, CONSERVA AINDA O NOME QUE CONQUISTOU A JOGAR FUTEBOL NO LOBITO, A SUA CIDADE-NATAL. COM TA-LENTO MAIS DO QUE SUFICIENTE PARA PARTIR RUMO A OUTROS CAMPEONATOS, TEM-SE DESTACADO NO ESTRANGEIRO POR SER UM JOGADOR BASTANTE FOR-TE, TANTO A NÍVEL FÍSICO, COMO DE TÉCNICA DE JOGO. CONCENTRADO, TEM A CONVICÇÃO QUE PODE CONTRI-BUIR PARA AJUDAR A ELEVAR BEM ALTO O NOME DA SELECÇÃO ANGOLANA. PEDE QUE ACREDITEM NELE E QUE AS OPORTUNIDADES SURJAM.
‘De Lobito para o Mundo’
43 DESPORTO · ANGOLA’IN |
factor positivo jogar em Angola, com o incen-
tivo do nosso público. Pode ser o empurrão que
precisamos para conquistar mais vitórias. Te-
mos uma meta - como o último CAN nos cor-
reu bem -, queremos que este corra melhor e
para isso temos de tentar ultrapassar o que já
conseguimos. Essa é a nossa obrigação, uma
vez que jogamos perante o nosso povo. Nes-
se sentido, quero deixar uma mensagem para
todos os angolanos - que eles acreditem e nos
apoiem como têm feito até aqui, pois vamos
precisar dessa força. Esperamos acima de tu-
do contribuir com o nosso desempenho para
a mesma felicidade que será a nossa se tiver-
mos sucesso no torneio.
Como encara pessoalmente este campeonato?
É uma competição que é acompanhada pelo
mundo inteiro e por isso uma oportunidade
que qualquer jogador gosta de ter. Quanto a
mim, espero estar e representar condignamen-
te a nossa camisola. Neste momento, estou a
jogar em Inglaterra, mas tenciono experimen-
tar outros países. É, contudo, um pouco com-
plicado porque estar no CAN não é fácil para
nós, principalmente para os jogadores africa-
nos que têm de abandonar o seu clube durante
um mês e por vezes é difícil regressar porque
as condições tornam-se mais difíceis. Senti no
meu caso que o treinador já sabia que a par-
tir do mês de Dezembro não poderia contar
comigo e começou a procurar soluções antes.
Isso acaba por ser difícil porque quando aca-
bar o CAN, se a nossa equipa estiver bem, tal-
vez não tenhamos a oportunidade de voltar a
jogar. Esse é um dos factores negativos, que
não acontecem só comigo, penso que também
suceda com os meus colegas, pois há sempre
um confl ito entre o clube e a selecção, que às
vezes acaba por nos prejudicar a nós.
‘Selecçãoé do povo’
O que é para si mais importante na véspera
de um jogo?
Realizar um trabalho que honre o povo ango-
lano é o nosso principal objectivo. Para isso
estamos unidos e temos vindo a dar passos
positivos. Garantimos uma entrega e concen-
tração redobrada, de forma a termos um bom
desempenho. Noto que existe uma grande
preocupação ao nível da federação, dos polí-
ticos e de todo o povo angolano para que isso
aconteça e penso que o CAN não é só impor-
tante a nível desportivo, mas também a ní-
vel económico, pois vai ajudar Angola a tirar
benefício das coisas boas que está a organi-
zar. Penso que o CAN poderá ser um empur-
rão muito grande para o desenvolvimento do
país. Tem-se vindo a construir muitas infra-
estruturas, algumas delas em tempo recor-
de, que irão fi car para o futuro e isso é sem
dúvida o mais importante. As condições que
os jovens irão ter serão óptimas e qualquer
angolano se irá sentir orgulhoso por saber
que tem bons estádios. O povo angolano es-
tá contente por todo este esforço que tem
sido feito e tornará este CAN um dos melho-
res de sempre.
Qual é o seu prognóstico para este torneio?
Creio que é difícil adiantar. Um dos favoritos é a
Costa do Marfi m porque tem jogadores muito
fortes, mas há outros favoritos. Normalmente
qualquer jogador gosta de jogar em casa pe-
rante os seus adeptos, mas é uma responsabi-
lidade grande. Não sei como alguns dos meus
colegas irão reagir, no entanto penso que é um
MANOEL RUI MARQUES, JOGADOR DO LEE-DS UNITED, CLUBE INGLÊS, PROMETE DAR O SEU MELHOR PELA SELECÇÃO. EM ‘DEFESA’ DAS CORES DA BANDEIRA, FALA DA IMPOR-TÂNCIA DO APOIO DO PÚBLICO E DESABAFA SOBRE O CONFLITO DE INTERESSES EXIS-TENTE, POR VEZES, ENTRE AS SELECÇÕES E OS CLUBES, QUE ACABA POR PREJUDICAR AS ESTRELAS DO JOGO – OS ATLETAS.
44 | ANGOLA’IN · DESPORTO
| patrícia alves tavares DESPORTO ESPECIAL CAN 2010
Novo treinador, novas tácticas e nova equipa
técnica. Como é que a selecção está a reagir?
A adaptação tem corrido com toda a normali-
dade. Somos profi ssionais de futebol e esta-
mos habituados a situações do género. Nos
nossos clubes temos vivido episódios seme-
lhantes. Os atletas têm feito tudo de forma
a assimilar os ensinamentos da nova equipa
técnica. Estamos a trabalhar juntos há seis/
sete meses e felizmente temos interiorizado
muito daquilo que o treinador tem exigido.
Como se encontra o espírito da equipa?
É muitíssimo bom, uma vez que o CAN vai re-
alizar-se em Angola. Temos algumas obriga-
ções, porque a nação está atenta à prestação
que a equipa poderá desempenhar durante o
africano. Fizeram-se muitos investimentos,
criaram-se novas infra-estruturas para o nos-
so futebol e acho que devemos retribuir todo
este carinho, esforço e atenção que o Governo
e a população têm feito em prol do Campeona-
to Africano das Nações.
Sente que o grupo tem evoluído ao longo dos
últimos meses?
Acredito que sim. Temos conseguido bons re-
sultados. Tivemos recentemente uma derrota,
o que é normal, pois estamos na fase de pre-
paração. O treinador é rigoroso, algo necessá-
rio dado o nível de competição e das exigências
que a selecção acarreta consigo. Temos esse
privilégio e vamos aproveitar ao máximo, pois
com esta equipa técnica vamos adquirindo no-
vas experiências, o que tem sido muito bom.
O factor casa tem sido inibidor. Como estão
a superar a situação?
Temos o exemplo do CAN anterior, que decorreu
no Gana. Nessa altura, conseguimos alcançar
os quartos-de-fi nal, apesar de jogarmos sem o
nosso público. Tivemos alguns apoiantes, mas
não em tão grande número como se espera em
Luanda. Em Janeiro, jogamos em casa e, por is-
so, temos obrigação de fazer melhor.
São essas as vossas aspirações?
Exactamente. Queremos atingir os mesmos
níveis e até ir à fi nal, se for possível.
Falou há pouco na equipa técnica, que trouxe
maior diversidade. Considera importante, en-
quanto atleta de alta competição, que se apos-
te na formação mais especializada dos jovens?
Os escalões de formações em Angola sofrem
de algumas debilidades de atenção. Os senio-
res são alvo de maiores cuidados e, por vezes,
essa juventude passa por alguns sacrifícios,
já que habitualmente têm falta de apoios. Os
dirigentes estão mais atentos às equipas se-
niores, uma vez que estas geram rendimen-
tos fi nanceiros. No caso das camadas jovens,
os jogadores, os treinadores e os massagistas
devem ter uma mentalidade forte. É preciso
muita força de vontade e muita humildade.
As novas infra-estruturas contribuem para a
melhoria dessa formação?
Com esses equipamentos, o nosso futebol só
tem a ganhar e é mais uma oportunidade para
os escalões inferiores poderem evoluir e fazer
jogos em campos relvados.
Em termos pessoais, o CAN pode ser uma
ajuda para a projecção da sua carreira?
O CAN é uma grande montra. Todos os joga-
dores estão a trabalhar no sentido de poder
ajudar o colectivo. Tenho os meus sonhos, que
prefi ro não exteriorizar agora. Neste momen-
to, quero apenas dar o meu melhor.
Que mensagem gostaria de deixar aos adeptos?
Primeiro devo dizer que em momento algum
devem sentir-se mal com a selecção. No fute-
bol, todos vão com o propósito de conquistar
os três pontos e Angola não é excepção. Vamos
passar períodos em que as equipas adversárias
poderão estar em vantagem numérica, pelo que
é preciso paciência. Peço que apoiem todos os
instantes do jogo. Os atletas em campo vão fa-
zer tudo para dignifi car a organização do CAN, a
nação e o povo. É preciso o estímulo de todos.
Temos a responsabilidade de elevar o nome de
Angola ao nível do futebol africano, porque no
ranking da CAF não estamos bem posicionados
e uma boa prestação permitirá que a classifi ca-
ção melhore. Há vários ganhos, a organização
deu emprego a muitos, dinamizou o turismo e a
nossa cultura vai ser redescoberta.
‘Os dirigentes estão mais atentos às equipas seniores, uma vez que estas geram rendimentos fi nanceiros’
PARA LOVE ESTE PODERÁ SER O ÚLTIMO CAN. AOS 30 ANOS, O AVANÇADO DOS PALANCAS NEGRAS CONTOU À ANGOLA’IN OS MOMENTOS QUE VIVEU AO SERVIÇO DA SELECÇÃO, NOMEADAMENTE A PARTICIPAÇÃO NO MUNDIAL DA ALEMANHA. O ATLETA É DOS MAIS EXPERIENTES DO GRUPO E MOSTRA QUE AINDA TEM MUITO PARA DAR.
‘Mais Angola’
45 DESPORTO · ANGOLA’IN |
‘Superação pessoal’
Foi um ano de mudanças.
Que alterações considera
mais positivas?
Sem dúvida o rigor táctico, a
marcação e a pressão sobre
quem tem a bola. Em Ango-
la, não estamos habituados a
esse estilo de jogo e isso exi-
ge a transformação que está
a acontecer na selecção na-
cional.
Como está a decorrer a pre-
paração?
Inicialmente foi complicado,
porque estávamos familiari-
zados com o sistema do an-
tigo treinador. Mas agora já
nos habituamos e os traba-
lhos no Algarve têm corrido
bem. No dia-a-dia estamos
a conseguir aprender os en-
sinamentos do professor Ma-
nuel José. Este é o técnico de
que a nossa selecção estava
a precisar. O campeonato na-
cional parou há algum tempo
e os primeiros dias de estágio
foram um bocado difíceis. Ac-
tualmente sinto que há uma
evolução crescente, estamos
a ganhar mais ritmo competi-
tivo e temos conseguido acer-
tar algumas coisas.
É a primeira vez que participa
no CAN. Quais são as aspirações para o torneio?
Este ano vamos organizar o campeonato na
nossa casa, o nosso povo está orgulhoso e acho
que é uma grande responsabilidade que temos.
O professor tem conversado connosco e o im-
portante é passar a primeira fase. Depois, com
a ajuda de Deus e a dedicação que o grupo tem,
o objectivo será ganhar a competição.
Como aguarda a sua estreia no CAN?
Sou o jogador mais novo da selecção e nor-
malmente quando estamos a jogar com atle-
tas mais experientes as responsabilidades
também são mais acrescidas. O professor
ainda não escolheu o grupo que vai participar
no campeonato africano. Se for seleccionado,
prometo fazer o que sei melhor, que é jogar
futebol e dar alegrias a este povo angolano
que tanto merece.
É o melhor marcador do Girabola. O desem-
penho na competição pode ser uma mais-va-
lia para a sua carreira?
Desde pequeno que sonho jogar futebol e a
minha meta principal sempre foi alcançar a
selecção. Todos os atletas sonham partici-
par no CAN. Actualmente sou considerado
o melhor jogador do campeonato do Girabo-
la de 2009. Acho que isso me faz ter maior
responsabilidade e jogar mais. De momento
sou um jogador livre, pois já não tenho con-
trato com o Petro. Se tiver a oportunidade
de jogar fora não vou esquecer as minhas
origens. Já tenho muitos convites para vir
para a Europa.
Pode adiantar quais são essas propostas?
Em Portugal tenho equipas interessadas, mas
isso está no segredo dos deuses. Agora quero
concentrar-me na selecção nacional.
Sente que tem que dar o
exemplo enquanto jogador
e pessoa?
Sou o ídolo dos jovens e te-
nho feito muita publicidade
sobre delinquência juvenil.
O que o nosso país tem que
fazer é apostar nos campos
de futebol e nas infra-estru-
turas. Os jovens agora têm
imensas condições e podem
seguir esta carreira ou outras
modalidades. Quem sabe se
não aparecem mais craques
como eu, apesar de ainda não
me defi nir dessa forma…
O que é que lhe falta?
Não me acho um craque por-
que ainda tenho alguns de-
feitos. Às vezes tenho pouca
responsabilidade no campo,
talvez porque subi ao escalão
de sénior muito cedo, com
apenas 16 anos. Entrei no
futebol aos 12 anos. Foi di-
fícil conciliar o desporto com
a escola, mas prometi aos
meus pais que quando atin-
gisse a minha meta, que era
chegar aos seniores, ia voltar
a estudar e é o que estou a
fazer neste momento.
Considera importante conci-
liar o futebol e a escola?
O professor diz-nos constantemente que a
nossa carreira é muito curta, por isso temos
que pensar no futuro. O conselho que dou é
que se quiserem jogar futebol devem abraçar
a escola, pois é importante e no nosso campe-
onato há poucos atletas com estudos. É preci-
so ter muita força de vontade.
Que mensagem gostaria de deixar aos ango-
lanos?
A selecção é do povo e deixo o apelo para que
apareçam, encham o estádio e nos apoiem. A
única oferta que podemos dar depois de 30
anos de guerra é esta competição. Vamos fa-
zer tudo para conseguir passar a primeira fase,
que é o objectivo principal e voltar a dar ale-
grias a este povo que está agora a renascer.
NATURAL DO MOXICO, A JOVEM REVELAÇÃO DO FUTEBOL NACIONAL PREPARA-SE PARA A ESTREIA NO CAN. JOB, MELHOR MARCADOR DO GIRABOLA, É O ÍDOLO DOS MAIS NOVOS, EMBORA AINDA NÃO SE CONSIDERE UM CRAQUE. O AVANÇADO PROMETE EMPENHAR-SE AO MÁXIMO NUM CAMPEONATO QUE LHE PODE ABRIR AS PORTAS PARA A EUROPA.
‘Há uma evolução crescente,estamos a ganhar mais ritmo competitivo’
46 | ANGOLA’IN · DESPORTO
A história do CAN começa em 1957. O Sudão foi o país que teve a honra de dar o pontapé ini-
cial à maior manifestação futebolística do continente berço. Na prova que não contou com
eliminatórias de acesso, apenas três selecções estiveram presentes. O Sudão, na condição
de anfi trião, o Egipto e a Etiópia. A África do Sul era a quarta, mas foi excluída devido ao
apartheid. Nos anos seguintes, o CAN não teve uma defi nição quanto à sua periodicidade.
Só em 1968, na 6ª edição, ocorrida na Etiópia, é que o torneio passou a realizar-se a cada
dois anos. Ao nível dos títulos, o Egipto tem a hegemonia, com seis campeonatos vencidos,
seguindo-se o Gana, com quatro taças, os Camarões, com três, e a Nigéria, com dois.
can 2010
Fogueira das Vaidades
| patrícia alves tavares DESPORTO ESPECIAL CAN 2010
ARGÉLIAAs Raposas do Deserto competiram nos
palcos mundiais pela primeira vez em
1982. Rabah Madjer e Lakhdar Belloumi
destacaram o “talento” de uma forma-
ção, que na época brilhava nos palcos con-
tinentais. No entanto, após a vitória do
torneio africano em 1990, esta selecção,
que formava um dos melhores grupos,
acabou afastada das lides mundiais. A
constante mudança de treinador (34 téc-
nicos, desde 1962) levou a equipa a falhar
a qualifi cação para as duas últimas edi-
ções do CAN
fi cha técnica 1ª participação no CAN: 1968
Títulos continentais: CAN 1990
Ranking da FIFA: 29º lugar
MALAWIO percurso do Malawi não tem sido fácil.
Após as tentativas frustradas de apu-
ramento para os Mundiais da FIFA, as
Chamas procuram melhorar o seu de-
sempenho no CAN. Este é o regresso há
muito aguardado, após uma única par-
ticipação no torneio continental. Con-
fi antes em alcançar um bom resultado,
os adeptos depositam as esperanças no
seu goleador Chiukepo Msowoya
fi cha técnica 1ª participação no CAN: 1984
Títulos continentais: 0Ranking da FIFA: 90º lugar
MALIÉ o desejado regresso da selecção do
Mali às competições africanas. No úl-
timo CAN, a equipa não foi apurada. O
treinador foi substituído pelo reputado
nigeriano Stephen Keshi. A formação
conta agora com as potencialidades de
jogadores como Frederic Kanoute, consi-
derado o atleta africano do ano
fi cha técnica 1ª participação no CAN: 1972
Títulos continentais: 0Ranking da FIFA: 51º lugar
RA
DA
RD
ezas
seis
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ses
à pr
ocu
ra
do t
ítu
lo c
onti
nen
tal
EGIPTOSão os reis dos campeonatos africanos.
Os atletas egípcios são bi-campeões do
CAN e procuram nesta edição o hepta.
Os Faraós são uma das maiores forma-
ções africanas, cujo talento e reconheci-
do palmarés fazem desta selecção uma
das mais temidas pelos adversários
fi cha técnica 1ª participação no CAN: 1957
Títulos continentais: CAN 1957,
1959, 1986, 1998, 2006, 2008
Ranking da FIFA: 28º lugar
BENINA equipa é jovem, mas considerada
competitiva e perigosa. Os Esquilos es-
trearam-se no CAN de 2004, contando
apenas com duas participações. O curto
palmarés inclui uma subida histórica do
ranking mundial (do 99ª para 67ª desde o
início de 2009) e da Confederação Africa-
na de Futebol (de 28ª para 12ª)
fi cha técnica 1ª participação no CAN: 2004
Títulos continentais: 0Ranking da FIFA: 67º lugar
MOÇAMBIQUEA selecção foi considerada em 2007 co-
mo a que mais progrediu nos rankings
da classifi cação mundial FIFA/ Coca-
Cola. O percurso não tem sido fácil e a
equipa continua a batalhar para levar
uma taça para o seu país. A primeira
vitória dos Mambas nesta competição
ocorreu apenas em 2002
fi cha técnica 1ª participação no CAN: 1986
Títulos continentais: 0Ranking da FIFA: 84º lugar
NIGÉRIAAs Super Águias da Nigéria preparam-se
para entrar com o pé direito no CAN. Com
o apuramento para o Mundial garantido,
a equipa está motivada e promete man-
ter as habituais boas prestações no dérbi
africano. A última vez que o país levou o
troféu do CAN foi há 14 anos (1994)
fi cha técnica 1ª participação no CAN: 1963
Títulos continentais: CAN 1980 e 1994
Ranking da FIFA: 32º lugar
GABÃOO Gabão aposta tudo nesta edição. O
percurso dos Panteras Negras tem-se
pautado pela discrição e por muitas di-
fi culdades em alcançar o estrelato conti-
nental e intercontinental
fi cha técnica 1ª participação no CAN: 1994
Títulos continentais: 0Ranking da FIFA: 45º lugar
CAMARÕESSão dos principais candidatos ao títu-
lo. Após um excelente desempenho no
apuramento para a competição, os Leões
Indomáveis contam com as estrelas Sa-
muel Eto’o (tricampeão Futebolista Afri-
cano do Ano) e o veterano Rigobert Song
para a vitória fi nal
fi cha técnica 1ª participação no CAN: 1970
Títulos continentais: CAN
1984, 1988, 2000 e 2002
Ranking da FIFA: 14º lugar
TUNÍSIAEste país tem-se consolidado como uma
das equipas mais fortes do continente.
No contexto africano, a formação é pre-
sença assídua. Após duas derrotas em
fi nais do CAN (1965 e 1996), os atletas
conseguiram quebrar a maldição e em
2004 conquistaram o tão desejado títu-
lo. As Águias do Cartago contam com o
novo técnico para consolidar o grupo
fi cha técnica 1ª participação no CAN: 1962
Títulos continentais: CAN 2004
Ranking da FIFA: 54º lugar
ZÂMBIAA sua reputação é sólida e é das selec-
ções mais respeitadas. O êxito é uma
constante para a equipa, que parece ter
a sorte contra si. Os sul-africanos foram
duas vezes vice-campeões nas fi nais do
CAN. Porém, nunca conseguiram alcan-
çar o lugar mais alto do pódio
fi cha técnica 1ª participação no CAN: 1974
Títulos continentais: 0Ranking da FIFA: 96º lugar
47 DESPORTO · ANGOLA’IN |
CÔTE D’IVOIREConsiderado o gigante do futebol africa-
no, a formação da Costa do Marfi m con-
ta com a participação da nova geração de
atletas, que jogam nas principais ligas
mundiais. Drogba, Kalou e Eboue são
alguns dos seus craques. Foram vice-
campeões no CAN 2006 e chegaram às
semi-fi nais de 2008 no Gana. Em 2006,
participaram pela primeira vez no Mun-
dial FIFA
fi cha técnica 1ª participação no CAN: 1965
Títulos continentais: CAN 1992
Ranking da FIFA: 19º lugar
BURKINA FASOOs Garanhões apostam tudo nesta com-
petição, que conta com muitas caras
novas. A formação está confi ante no re-
gresso às vitórias, procurando alcançar
um resultado melhor que a quarta posi-
ção, conquistada na edição de 1998, por
eles organizada
fi cha técnica 1ª participação no CAN: 1978
Títulos continentais: 0Ranking da FIFA: 55º lugar
GANAAs Estrelas Negras têm por hábito ser
os protagonistas das competições afri-
canas. Venceram 4 vezes o CAN e foram
organizadores do evento em 2008. Actu-
almente, estão também apurados para o
Mundial. No de 2006, chegaram pela pri-
meira vez à fi nal de um campeonato do
mundo e já estiveram em 16 fases fi nais
do CAN
fi cha técnica 1ª participação no CAN: 1963
Títulos continentais: CAN
1963, 1965, 1978 e 1982
Ranking da FIFA: 38º lugar
TOGOO país é jovem, mas a sua selecção in-
gressou há muito nas competições con-
tinentais e inter-continentais. No CAN,
estreou-se em 1972 e dois anos depois
participou pela primeira vez nas elimi-
natórias de um Mundial. Os Gaviões con-
tam cinco apuramentos para a fase fi nal.
As esperanças surgem renovadas graças
ao novo ícone nacional Emmanuel Ade-
bayor, um dos melhores marcadores da
liga inglesa
fi cha técnica 1ª participação no CAN: 1972
Títulos continentais: 0Ranking da FIFA: 80º lugar
Foi o desistir de um sonho?
Não, porque queria fazer uma formação supe-
rior, situação que acabou por acontecer. Aos 26
anos resolvi dedicar-me totalmente à minha
formação. Depois da Independência fui direc-
tor da Cuca, ministro da Indústria, da Juventu-
de e dos Desportos e assim fui evoluindo. Só
mais tarde surgiu o convite para a Federação,
quando me pediram para agarrar o nosso fute-
bol, que é um factor de unidade nacional.
Como analisa o trabalho que tem sido de-
senvolvido pela entidade?
A princípio, tivemos algumas difi culdades,
porque a nossa associação não era muito bem
vista ao nível da Confederação Africana de Fu-
tebol (CAF). Tivemos alguns dissabores com os
meus antecessores. O nosso primeiro trabalho
foi repor a imagem positiva junto da CAF, al-
go que conseguimos através de contactos di-
rectos com o senhor presidente Issa Hayatou.
Entretanto, fui chamado para a comissão or-
ganizadora dos CANs e adquiri uma certa ex-
periência. Depois do Coreia / Japão, em 2003,
fui convidado para ser membro da comissão de
auditoria interna da FIFA, cargo que ocupo até
hoje. Nessa altura pensamos em organizar o
CAN, mas chegamos à conclusão de que ainda
não estávamos sufi cientemente maduros. Re-
centemente apresentamos a candidatura e de
entre oito países fomos escolhidos.
Sempre manteve a esperança de conseguir
trazer este evento para o país?
Se não tivesse esperança, nem sequer teria
concorrido. O caderno de encargos da CAF não
exige que se tenha as condições. Daí o cep-
ticismo de muitos em relação à sua concre-
tização. Estávamos a quatro anos do CAN e
conseguimos mostrar que tínhamos os pres-
supostos todos. E era isso que a CAF queria.
Saímos da guerra há seis anos e somos das
economias que mais crescem no mundo. O pa-
ís tem um desenvolvimento económico muito
grande. Em dois anos, construímos quatro es-
tádios novos, recuperamos 13 recintos e cria-
mos os equipamentos necessários. Segundo
os especialistas, o estádio 11 de Novembro de
Luanda é o mais bonito de África, algo de que
nos orgulhamos. Para materializar o projecto,
foi necessário o apoio do Governo e do senhor
presidente José Eduardo dos Santos, que foi
fundamental em todo o processo.
‘Em dois anos construímos quatro estádios novos, recuperamos 13 recintos e criamos os equipamentos necessários’
‘frutos’ gerados pelo canA nível de desporto, quais os benefícios des-
te evento?
Sem infra-estruturas desportivas não há de-
senvolvimento. O futebol ganhou quatro es-
tádios novos em quatro províncias. Temos
infra-estruturas nas 18 localidades, contudo
nas que vão albergar o CAN demos um salto
qualitativo. Criamos as condições para dar iní-
cio ao desenvolvimento, existindo igualmente
a possibilidade de acolher outros eventos no
nosso país, como é o caso da taça das confe-
derações.
48 | ANGOLA’IN · DESPORTO
‘Competir para ganhar’Antigo atleta e defensor incansável do Desporto, Justino Fernandes tem uma longa experiência. Durante um treino matinal da selecção, o presidente da Federação Angolana de Futebol (FAF) descreveu à Angola’in como está a ser vivida a aventura do CAN. O responsável pelo Comité Organizador da prova está confi ante nos bons resultados
o homem O desporto sofreu uma evolução, mas nunca
tanto foi feito como agora. Como tem vivido
a fase de preparação do CAN?
Neste momento, sinto um certo orgulho em
ser presidente da FAF. Fui desportista durante
muitos anos na selecção de Luanda e de An-
gola e enquanto atleta fui capitão das duas
equipas. Isso deu-me uma certa experiência.
Porém, infelizmente, tive de deixar o fute-
bol, que na altura era amador. Joguei no ASA
e estive a um passo do Sport Lisboa e Ben-
fi ca. Porém, a minha mãe (a minha família é
matriarcal) não encarou muito bem a minha
partida. Éramos uma família bastante unida e
decidi não ir.
‘O futebol é um factor de unidade nacional’
| patrícia alves tavares DESPORTO ESPECIAL CAN 2010
49 DESPORTO · ANGOLA’IN |
O torneio potenciou o desenvolvimento de
uma série de áreas, ao nível da hotelaria, da
construção civil, até na criação de emprego.
O progresso atrai mais investimentos?
Ora nem mais. Os ganhos serão a todos os ní-
veis. Vamos mostrar que Angola não é só um
país de guerra. É um acto de coragem porque
vamos abrir as portas ao mundo, após seis
anos de confl ito e as pessoas não irão apenas
ver o futebol. Vão tentar julgar-nos, avaliar
a nossa hospitalidade, o nosso carácter e de
que forma estamos a progredir. O CAN permi-
tiu a criação de infra-estruturas envolventes,
que provavelmente seriam produzidas daqui
a uns dez anos. O evento já está a ser um ca-
talisador do progresso. Por exemplo, inicia-
mos um pólo de desenvolvimento em torno
do estádio de Luanda, onde começam a sur-
gir projectos imobiliários, fruto das condições
criadas na região.
A nível de recursos humanos acredita que
agora é o começar de uma nova era?
É muito bom em termos de formação. E pa-
ra tal temos que ter formadores. A nossa
principal preocupação será em obter técni-
cos angolanos capacitados, que realmente
possam formar os nossos jovens. Pensa-
se que um bom jogador de futebol será um
bom treinador e não é bem assim. São raros
os casos de sucesso. Estes jovens [selecção
nacional] aprenderam nos seus bairros, com
bolas de trapos. Não tinham os fundamen-
tos técnicos, que foram assimilados aqui, na
idade adulta. Temos esse projecto, que que-
remos colocar em prática depois do CAN. Ao
nível das infra-estruturas está aceitável. A
vertente de criação de escolas é algo que te-
mos que pensar. Temos ainda que questio-
nar outro aspecto. Sou presidente da FAF
em ‘part-time’. Tenho outras responsabili-
dades no país. Poderia fazer muito mais se
estivesse apenas dedicado à federação, pe-
lo que no fi m deste mandato, daqui a dois
anos, terei que ser substituído por um pro-
fi ssional a tempo inteiro.
Está nos desafi os da federação formar equi-
pas capazes de competir com os ‘grandes’
do mundo?
É para aí que devemos caminhar. Queremos
ser cada vez mais fortes e há que apostar
na formação. Porém, há sempre uma utopia
nisso tudo. Por cada jogador congolês que
desperta na Europa, fi ca uma série deles des-
perdiçados. Esses aspectos têm que ser bem
ponderados e conjugados com a educação es-
colar da criança.
o ano de áfricaComo está a motivação da população?
O apoio do povo angolano é total. Só se fala
do CAN, é o centro das conversas de todos. O
Governo também tem dado um apoio incon-
dicional, especialmente nos investimentos,
mostrando-se interessado, pois sabe que o
campeonato é uma mais-valia para desenvol-
ver o nosso país, principalmente no aspecto de
dignidade nacional.
Quais são as suas expectativas quanto à
prestação da selecção?
Este grupo está a trabalhar muito bem. Quan-
do os que jogam fora se juntarem a esta
equipa vamos fazer um bom ‘team’. Não pre-
tendemos participar, queremos competir para
ganhar o CAN. Esse é o espírito incutido nos
atletas. As conversas que têm com o professor
Manuel José têm sido muito úteis. Agora, os
nossos jogadores estão a acabar com a inibi-
ção. Está a ser feito um trabalho nesse âmbito
e estão a ser acompanhados por pessoas es-
pecializadas para vencer esses receios.
A equipa tem evoluído tecnicamente?
Há já algum tempo, essa evolução tem sido
bastante visível. É evidente que estamos a fa-
zer jogos de treino e é um trabalho feito a lon-
go prazo. Com a integração dos que chegam
no dia 26, vão fi car muito mais desinibidos. Te-
mos uma equipa técnica boa.
Apesar não participarem no Mundial de
2010, acredita que o evento pode ser im-
portante para o país, inclusive no aproveita-
mento dos estádios?
Podemos acolher qualquer selecção no nosso
país, principalmente aquelas que vão jogar em
Joanesburgo. Temos condições excelentes na
província da Huíla que, à semelhança de Joa-
nesburgo, se encontra a cerca de dois mil me-
tros de altitude. Temos um clima fantástico,
hotéis excelentes e as equipas estão a procu-
rar esse estádio.
É um ano importante para vocês?
Considero o ano do futebol em África. Em Janeiro
será em Angola e em Julho na África do Sul. Es-
tamos muito unidos e os sul-africanos pedem-
me para fazer um CAN exemplar, pois será o
prelúdio do que vai acontecer na África do Sul.
Que apelo gostaria de fazer à nação?
Deixo um pedido à população para que confi e
em nós. Estamos a trabalhar para dignifi car o
nosso futebol e dar uma alegria a este povo
sofredor. O nosso obrigado por todo o apoio e
prometemos fazer tudo para corresponder às
expectativas.
‘Queremos ser cada vez mais fortes e para isso temos que apostar na formação’
52 | ANGOLA’IN · LUXOS
LUXOS | patrícia alves tavares
LEXUS LFAO seu estilo inspira-se na Fórmula 1 e é visível nas linhas fl uidas e curvas esculpidas. Este coupé de
dois lugares apresenta um visual de luxo e elevada performance, com capacidade para desenvolver
mais de 500 cavalos, produzindo uma velocidade máxima na ordem dos 320 km/h.
53 LUXOS · ANGOLA’IN |
O primeiro super carro dinamarquês demarca-se dos restantes pelo seu design. À aparência agressiva juntam-se os seus 1.104 cavalos. O interior luxuoso combina o seu estilo desportivo
com o conforto, em que os bancos e volante podem ser regulados e o sistema de som permite ligar o iPod, o MP3 ou simplesmente ouvir rádio e os seus CDs preferidos.
53LUXOS · ANGOLA’IN |
54 | ANGOLA’IN · LUXOS
LUXOS
PORSCHE Cayenne GTSO novo utilitário desportivo da Porsche inspira-se na linha S e sofreu um aumento de potência em relação aos modelos anterio-
res. A viatura possui o bodykit, habitualmente usado na versão turbo do Cayenne e é o primeiro dos utilitários a receber o siste-
ma de suspensão activa PASM (Porsche Active Suspension Management), possuindo seis velocidades.
OLOL
56 | ANGOLA’IN · LUXOS
Pedais de alumínio perfurados e equipamento de som da melhor
qualidade que encontrará no mercado (1.100 watts) são os principais
atractivos deste modelo, que atinge os 313 Km/h com a capota
aberta. O interior, totalmente revestido a couro de primeira linha, foi
desenhado a pensar nas necessidades dos seus quatro ocupantes.
Exageradamente confortável e luxuoso, este Bentley de mais de
duas toneladas vai dos 0 a 100 km/h em apenas 4,5 segundos.
56 | ANGOLA’IN · LUXOS
LUXOS
57 LUXOS · ANGOLA’IN | 57 LUXOS · ANGOLA’IN |
A sua capota é totalmente aerodinâmica e é a principal novidade deste modelo, cujo tradicional estilo
do Solstice pouco mudou. O desenho mantém-se e apenas a carroçaria e as componentes das lanternas
sofreram uns retoques, revelando um toque de elegância. Todas as versões deste modelo são bastante potentes, tendo como opção a caixa de cinco velocidades automática ou manual.
58 | ANGOLA’IN · LUXOS
ALPINESTARS
Casaco MotoGP
JEREZEste modelo, totalmente feito em couro
perfurado com uma espessura de 1.2 – 1.4 mm,
possui protecções nos ombros e cotovelos
removíveis, certifi cados pela CE. As mangas são
pré-curvadas para dar-lhe maior conforto na
posição de pilotagem.
Botas SMX-4A nova S-MX 4 mistura as características de uma
bota de alta performance com tecnologias que
conferem uma maior funcionalidade e conforto
máximo. A sua construção em microfi bra protege
o pé de impactos.
IXON Luvas RS KING HPFlexível e muito confortável, esta luva, disponível
em várias cores, foi concebida para facilitar os
movimentos, durante a condução da sua moto,
permitindo uma óptima aderência da mão.
YAMAHAMT-01Única e inovadora, a MT-01 possui um
massivo motor que coloca todo o seu
potencial através de uma aceleração
única, um quadro desportivo de grande
rigidez e sistema de escape único, que
emite um som vibrante.
LUXOS
59 LUXOS · ANGOLA’IN |
60 | ANGOLA’IN · LUXOS
LUXOS
Sony Ericsson AinoEquipe o seu telemóvel Aino com as suas músicas, fi lmes e podcasts favoritos.
Depois pode transferi-los para o PC e vice-versa, através de WiFi. O ecrã táctil de 3
polegadas é a novidade do modelo, que surge com um carregador com suporte de
secretária e a possibilidade de aceder à sua PlayStation3.
Pacemaker Para quem deseja tornar-se num autêntico DJ,
este Pacemaker faz toda a diferença, pois pode
ser usado como mixer. Este aparelho permite
misturar músicas (dois canais independentes)
e guardar tudo no HD de 120 GB.
| patrícia alves tavares
Pacemak
Station3.
Blackberry Storm
É o primeiro Smartphone com ecrã táctil
clicável. O modelo combina a solução wireless
dos dispositivos BlackBerry para email,
messaging, telefone, agenda, Web, multimédia
e acesso a aplicações, contando com a
experiência de uma utilização fácil e intuitiva.
ker se num autêntico DJ
ker
Stormy
É o primeiro Smartphone com ecrã táctil
clicável. O modelo combina a solução wireless
dos dispositivos BlackBerry para email,
messaging, telefone, agenda, Web, multimédia
e acesso a aplicações, contando com a
experiência de uma utilização fácil e intuitiva.
Sony Ericsson MH907 Descubra o áudio de alta qualidade com
o Controlo SensMe. Estes auscultadores
permitem ouvir música ou atender uma
chamada, assim que são colocados no ouvido.
Apple MagicmouseÉ o primeiro mouse Multi-Touch do mundo, disponível na compra do novo Imac de
21,5” e 27”. Também pode adquirir este rato sem fi os separadamente.
61 LUXOS · ANGOLA’IN |
Livio NPR Radio Com este rádio pode ouvir centenas de estações
NPR de todo o mundo, a partir de qualquer sítio,
longe do seu PC. Em minutos o aparelho localiza
e conecta-o a mais de 16.000 emissoras.
Sony RollyO novo leitor permite-lhe viver uma surpreendente
experiência de música. O aparelho funde som e movimento
consoante o ritmo e luzes multicolor, que piscam ao mesmo
tempo. Pode ainda personalizar os seus movimentos e vê-lo
dançar ao ritmo da sua música.
Apple Wireless KeyboardO teclado sem fi os permite-lhe dispor de mais espaço na sua
secretária e transportá-lo facilmente para qualquer lado.
Apple Imac
O novo IMAC
apresenta-se com um
ecrã panorâmico 16:9
com retroiluminação
LED de 21,5 ou 27
polegadas. Ideal para
vídeo HD.
LUXOS
TREKSTOR i.Beat organix GoldO leitor de mp3 mais caro do mundo
é banhado a ouro de 18 quilates
e está revestido com 63 diamantes.
Este objecto raro foi trabalhado à mão
por um joalheiro suíço.
ZUNE HDSuporta vídeos em alta defi nição até 1280x720 pixels de resolução.
Esta é a mais-valia de um aparelho composto por um ecrã de 3,3
polegadas, 16:9 de proporção com 480x272 pixels de resolução e
conectividade wireless.
LACIE LaCinema
Este novo aparelho dá a possibilidade de reproduzir fi lmes,
música e fotografi as em qualquer televisor, possuindo
capacidade para armazenar fi cheiros até 500 GB.
62 | ANGOLA’IN · LUXOS
64 | ANGOLA’IN · LUXOS
LUXOS
Leatherman Freestyle CXEsta ferramenta baseia-se no famoso
Skeletool, herdando o seu estilo, mas
numa versão mais leve. Resistente a
arranhões e à corrosão, está equipado
com uma faca de 154 cm. É perfeito
para incluir nos utensílios a levar nas
suas aventuras. Brunopassoespresso machine
Design moderno e disponíveis em várias cores (para
combinar com os electrodomésticos), as máquinas de café
Brunopasso permitem desfrutar do café com muito estilo.
LEICAM8 WHITE
EDITIONÉ a nova versão da famosa rangefi nder Leica M8,
que surge agora com qualidade renovada. Sinónimo
de luxúria, foram fabricadas poucas unidades desta
máquina digital. É sem dúvida um produto único e com
certifi cado de autenticidade.certifi cado de autenticidade.
NOOKeBOOKO Ebook Reader mais avançado do mundo lê os formatos PDF e ePub,
suportando igualmente fi cheiros MP3 e vários formatos de imagem.
Dispõe de 2GB de memória interna e um ecrã de 3.5 polegadas a cores
e sensível ao toque. Tem ainda conectividade 3G e ligação wireless.
65 LUXOS · ANGOLA’IN | 65 LUXOS · ANGOLA’IN |
REGENRENUO Renu é um painel solar compatível com o
SoundStation. O dock para iPod/ iPhone oferece
8 a 9 horas de reprodução (com a bateria
completa, que leva 8 horas a carregar).
MERCEDES-BENZ FOLDING BIKE
Esta bike da Mercedes é bastante inovadora, pois é totalmente desdobrável, ideal para o uso urbano.
Quando dobrada, ocupa pouco espaço (mede apenas 80X80X35cm), pelo que, além de prática, pode ser
facilmente arrumada em casa e transportada no carro. Leve e compacta, necessita apenas de alguns
segundos para ser montada. Disponível em branco e prateado.
VholdRContourHD
A pensar no Youtube, a empresa vholdR criou uma câmara de
capacete que captura vídeos em HD, desenvolvendo um software
próprio para o upload directo, para que os seus utilizadores possam
poupar tempo. A empresa criou ainda um canal no referido site para
poder partilhar os seus vídeos. Além de captar áudio, cria o efeito
Point of View nas fotografi as e tem 2 GB de memória interna.
66 | ANGOLA’IN · LUXOS
LUXOS
LOUIS VUITTON
TAAMBBOOURR MMYSTTERRIEEUSSE
Esta peça única, que brinca com as leis da
física, é sinónimo de exclusividade. O valor
deste objecto de luxo equivale ao preço de
um carro desportivo ou de uma confortável
casa. Produzido em aço e ouro, as 115 peças
foram montadas manualmente. Pode
ainda optar por personalizá-lo, usando por
exemplo pedras preciosas.
Victorinox Swwisssss Arrmyy
Fundo transparente, bracelete de pele e visor em safi ra
são algumas das particularidades deste relógio, que é
à prova de água e possui índices luminosos. A sua linha
clássica atrai homens inteligentes e de personalidade
forte, que apreciam uma peça que perdure no tempo.
TISSOTCCoutuurier AutooomaticcA Tissot distingue-se por combinar nas suas peças
modernidade e tecnologia inovadora. É o caso deste
exemplar, que se destaca pela elegância, ideal para
quem gosta de estar ‘chic’ todos os dias. O bracelete é
em pele genuína e o relógio é à prova de água até 100m.
| patrícia alves tavares
LUXOS
ESTILOS
68 | ANGOLA’IN · ESTILOS
Mais uma marca trazida pela loja Markas. Des-
ta vez os tecidos de alta qualidade vêm com a
assinatura de Ermenegildo Zegna.
Lisete Pote - lpote@comunicare.ptModelo - Rui Cunha E
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Sapatos Azuis escuros
Fato cinza escuro D&G com gravata da mesma marca em seda, camisa em cambraia branca e sapatos pretos
Fato bege com riscas pretas e gravata da mesma marca e tom, camisa preta e sapatos pretos
As várias propostas em termos de gravatas da marca Zegna
O mesmo fato, mas com a variante de usar uns mocassins, num estilo mais informal sem gravata
70 | ANGOLA’IN · ESTILOS
ESTILOS
Casaco em linho azul escuro, com camisa, jeans e mocassins
As várias propostas em termos de gravatas da marca Zegna
71 ESTILOS · ANGOLA’IN |
Ténis brancos e castanhos
Sapatos de relaxe bege
A versão anterior é refrescadacom um pólo de riscas e ténis.
david beckham
Signature for Him assume-se como a assinatura de beckham,
transportando consigo todos
os elementos que o identifi cam:
glamour, luxo, estilo e sofi sticação.
a pensar no actual homem
guerreiro, a fragrância
oriental amadeirada é fresca
e sedutora, graças às notas
de melão, mandarina, âmbar
branco, musgo, entre outras.
acqua di parma
Magnólia Nobile magnólia nobile é o nome da nova fragrância da reputada
marca de colónias italiana. explorando o fantástico
aroma desta fl or, o perfume conjuga ainda notas de
bergamota, limão, cedro, magnólia, rosa, jasmin, madeira
de sândalo, patchouli, vetiver e baunilha.
ESTILOS
72 | ANGOLA’IN · ESTILOS
| patrícia alves tavares
gucci
Gucci by Gucci a fragrância da gucci destaca-se pelo seu aroma amadeirado.
elegante e sensual, o perfume resulta da combinação
marcante dos elementos da natureza, tornando-o único e
inconfundível.
givenchy
Play a novidade da givenchy oferece-lhe uma fragrância fresca,
detentora de notas de laranja amarga, uva, pimenta e patchouli.
tudo com o selo da conhecida marca de perfumes, que já habituou
os seus clientes à qualidade única dos seus produtos.
porshe
The Essence é o primeiro perfume da
porsche, que refl ecte
a paixão, perfeição,
refi namento e prazer.
assume-se como um novo
conceito de luxo, criado
exclusivamente para
homens espontâneos e
rigorosos.
burberry
The Beat for Men o novo perfume da burberry é
uma projecção única do universo
masculino, criando um estilo
próprio, detentor da elegância
da cultura pós-moderna.
amadeirada refrescante, a
fragrância detém notas de
cedro, madeira de couro, pimenta
negra e folhas de violeta, uma
combinação perfeita para o jovem
contemporâneo, urbano e dinâmico.
dav
Sissu
ra
os e
glam
a pe
gue
orie
e se
de m
bra
d
Sa
tr
Himura de beckham,
odos
fi cam:
fi sticação.
m
esca
tas
ar
ras.
73 LUXOS · ANGOLA’IN |
LICOROSOÉ uma óptima sugestão para usar
como aperitivo ou vinho de sobremesa.
Límpido e com uma tonalidade ruby,
deve servir-se a 16 ou 18ºC.
74 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.
| patrícia alves tavares
ESPUMANTE ESPORÃOAroma fi no, mineral e complexo
com notas de bolacha e avelãs, este
espumante é ideal para refeições tipo
fois-gras e peixe fumado, bem como
para acompanhar frutos secos. Deve
servir-se entre os 7 e 10ºC.
VINHA DA DEFESA(Branco)
De aspecto límpido e cristalino, é
bom para acompanhar desde saladas
compostas até peixes grelhados
e sopas de peixe mediterrânicas,
passando pelas pastas e raclettes.
PRIVATESelection (Branco)É um vinho complexo e encorpado, cheio,
cremoso, com bom equilíbrio e persistência
na boca. Deve servir-se a 10 ou 12ºC.
ESPORÃOReserva (Branco)Este néctar intenso é o ideal para acompanhar
pratos de bacalhau frito até carnes brancas
grelhadas, passando pela elegância do pato com
laranja. Deve consumir-se entre os 10 e 12ºC.
PRSeÉ um
crem
na b
VINHOS & CA.
ESPReseEste néc
pratos d
grelhada
laranja.
ADEGA VELHAAguardente
De cor âmbar e aspecto límpido, esta Adega Velha apresenta um
bouquet complexo e harmonioso, lembrando o aroma de bagas e
fl ores silvestres, envolvido por uma sensação delicada de aroma.
75 VINHOS & CA. · ANGOLA’IN |
QUINTA DO PORTALGrande Reserva
Possui um perfi l aromático muito complexo, onde se apercebem os frutos
maduros, impressões doces e um elegante tostado. É complexo na boca.
MEANDROEste vinho oferece
um muito bom
compromisso de
equilíbrio na boca. Tem
notas de fruto maduro
com leve baunilha, tudo
certo e arrumado com
carácter duriense.
QUINTA DE CIDRÔReserva Cabernet
Sauvignon /Touriga NacionalÉ um vinho muito profundo, vinoso,
cheio de aromas e sabores a fruto preto,
baunilha e chocolate. É perfeito para
pratos de carne, pastas e queijos fortes.
ROYAL OPORTO 10 Anos
Este produto apresenta aromas e sabores
primários, típicos dos vinhos jovens, pelo
que desenvolve um vasto leque de subtis
nuances torrados e complexados. Deve
ser consumido a 16ºC.
EVELGrande Escolha (Tinto)Este vinho apresenta uma cor rubi
intensa. Ideal para carnes e queijos
fortes, este néctar é servido à
temperatura de cave.
QUINTA DE CIDRÔReserva ChardonnayApesar da complexidade, este produto
possui um aroma exuberante a baunilha,
madeira amanteigada e frutos crus.
Quando provado destacam-se os sabores
a pêssego, alperce, madeira torrada e
especiarias.
PORCA DE MURÇAReserva (Tinto)Aroma complexo que integra
harmoniosamente a baunilha da madeira
e frutos vermelhos da uva. Vinho de cor
ruby, límpido e brilhante.
| ANGOLA’IN · VINHOS & CA.76
DONA MARIAReserva
Este vinho de cor rubi retinta e aroma limpo, rico em
frutos silvestres, deve abrir-se de preferência duas
horas antes do consumo, servindo-se entre 18 e 19ºC.
QUINTA DO MONTE D’OIRO
De um rubi/ negro profundo, este vinho
apresenta um majestático bouquet, de
onde sobressaem notas de ameixas pretas
e especiarias exóticas.
QUINTA DE PANCASReserva Touriga NacionalDe cor vermelho cereja e granada opaco, este vinho
apresenta um aroma complexo e profundo com
notas de ameixa, fi go e especiarias.
MARQUÊS DE MARIALVAAguardente Vínica Velha Esta aguardente de cor âmbar
cristalina, é muito complexa,
onde se destacam as notas de
frutos secos, como avelã, noz
e fi go. Deve servir-se como
digestivo e em balão aquecido.
QUINTA DO PORTAL
AuruIdeal para ser desfrutado numa
altura especial, é considerado a
segunda melhor versão deste
ex-líbris. Pode ser incluído na
dieta vegetariana e servir-se
entre 16 e 17ºC.
MDAVEs
cr
on
fr
e
di
Idea
altu
CASA DOS ZAGALOSRico e equilibrado, este
vinho alentejano possui
uma óptima acidez, com
aromas complexos de
frutos vermelhos, integrado
com notas de tostados e
especiarias.
QUINTA DO MOURODe cor granada intensa, este vinho inicia-se no
paladar com uma maciesa e untuosidade, onde
se distingue uma riqueza de fruta madura, que é
conjugada com um equilíbrio perfeito.
VINHOS & CA.
CZRi
vin
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fru
co
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Ono
de
é
o.
77 VINHOS & CA. · ANGOLA’IN |
CEM AMIGOSReservaÉ perfeito para acompanhar pratos elaborados de cozinha
mediterrânica, pastas e queijos. Deve servir-se entre os 16 e 18ºC.
CEM AMIGOSEste néctar destaca-se pelo seu equilíbrio e estrutura suave. É a
escolha ideal para acompanhar refeições de carne branca, pastas
e queijos suaves. Serve-se entre os 16 e 18ºC.
PRIMAVERA BAIRRADA
É a escolha certa para
acompanhar carnes
vermelhas grelhadas
ou com molhos e refeições
de caça e queijos fortes.
Possui um sabor frutado,
robusto e persistência.TAPADA DE COELHEIROSGarrafeiraCheio, boa estrutura, taninos
vigorosos, com um fi nal muito
persistente. É um vinho de cor rubi
intenso. Uma boa sugestão!
CONVENTUALÉ uma boa escolha para pratos de caça e queijos de ovelha.
Equilibrado e aveludado, tem notas de frutos maduros.
VIPElegante e de acidez equilibrada, este néctar apresenta
um aroma rico em frutos vermelhos, destacando-se os
sabores da ameixa e framboesa. Serve-se entre 16 e 18ºC.
IPenta
se os
8ºC.
| ANGOLA’IN · VINHOS & CA.78
FLAMINGOVerde RoséO vinho produzido por esta casta
apresenta-se num rosé límpido, frutado e
de sabor persistente. Possui notas doces
e é detentor de agradável qualidade.
FLAMINGO Verde Branco
Jovem e fresco, este vinho, de
cor citrina, destaca-se pela
elegância, leveza e equilíbrio de
aromas penetrantes.
DÃO MEIA ENCOSTATintoEste néctar de cor rubi, destaca-se pelo
aspecto límpido e acompanha na perfeição
pratos de caça, assados e queijos curados.
MORGADO DE STA. CATHERINA
Vinho branco, de tom amarelo citrino,
destaca-se pela frescura, mineralidade
e persistência aromática. Recomendado
para pratos de marisco, carnes brancas e
queijos de pasta mole.
FLVeO vin
apre
de sa
e é d
aro
DTE
a
p
para prato
VINHOS & CA.
MARQUÊS DE MARIALVAReservaEste espumante branco destaca-se pela
frescura e mineralidade, sendo uma boa
escolha para aperitivo ou para frutas e
saladas. Deve ser servido entre os 6 e 8ºC.
PORTO SOALHEIRA
10 AnosMacio, com frutos
secos e um fi nal doce
e persistente. Oferece
um aroma com um
envelhecimento
prolongado em madeira e
ligeiramente frutado.
LELLOTinto
Óptima combinação com
pratos de carne, caça, enchidos
e queijos, o Lello deve estar a
uma temperatura entre os 16
e 18ºC. É um vinho com aroma
intenso a frutos vermelhos.
79 VINHOS & CA. · ANGOLA’IN |
GATO NEGROCabernet Sauvignon
Este vinho, de cor rubi escura,
apresenta-se cheio de aromas de frutos
vermelhos, tais como aromas, cassis
e cerejas, que se fundem na perfeição
com notas de baunilha e coco.
GATO NEGROSauvignon Blanc
Néctar de cor ligeira verde-amarelado, bastante
refrescante, com aroma a ervas e frutos, como
folhagem de tomate, uva, ananás e manga.
TAPADA DE COELHEIROSÉ uma boa opção para
mariscos e peixes
De sabor amanteigado e
complexo, tem boa acidez e
frescura.
VINA MAIPOCabernet Sauvignon/ MerlotPossui um aroma a frutos cristalizados e
ameixas vermelhas, com notas de chocolate.
Na boca revela toda a sua essência, revelando
bom corpo e taninos harmoniosos.
VINANTIACollectionÉ um vinho profundo e de cor rubi
escura. Apresenta um potencial de
envelhecimento de uma década.
LEOPARD’S LEAPCabernet Sauvignon
Para apreciadores de frutos silvestres, o
Leonard’s Leap possui aromas ricos de
ameixa e amora, com um toque suave de
café e caramelo.
VINA MAIPOReserva Cabernet
SauvignonDe cor vermelho cereja e granada
opaco, este vinho apresenta um aroma
complexo e profundo com notas de
ameixa, fi go e especiarias.
Oon
ura,
tos
ssis
ção
oco.
GOURMET
boeucc,
O histórico restaurante de Milão é muito fá-
cil de descobrir e encanta quem o visita, que
acaba invariavelmente por lá voltar. Situado
no majestoso palácio Belgioioso, o Boeucc
apresenta-se como um local elegante e dig-
no dos clientes mais exigentes, pois neste
restaurante é possível degustar uma cozinha
lombarda e clássica, com uma enorme varie-
dade de carnes e peixes. A lista de vinhos vai
de encontro à qualidade das elaboradas refei-
ções. Tudo pelo preço mínimo de 62 USD por
pessoa.
Com mais de 300 anos de vida, o Boeucc en-
contra-se no ‘top ten’ dos melhores restau-
informações úteis
Morada: Piazza Belgioioso,
2, 20121 Milão.
Site: www.boeucc.it.
Contactos: 02 76 02 02 24 |
02 76 02 28 80.
Parque: possui parque
de estacionamento privado.
Preço médio: 62 USD.
Encerra: aos Sábados
e Domingos ao almoço
rantes do mundo. L’Antico Ristorante Boeucc
é o mais antigo de Milão e originalmente era
uma bodega. Actualmente, foi transforma-
do num espaço moderno e atraente, com a
particularidade de oferecer autêntica comida
milanesa, pelo que não deve perder as espe-
cialidades italianas, como a salada de toma-
tes, a mozarela de Búfala e azeite de oliva e o
presunto de Parma com melão.
No Verão, desfrute a sua refeição na espla-
nada da varanda. No exterior aproveite a lo-
calização deste espaço fantástico e visite os
principais espaços artísticos de Milão, que cir-
cundam o Boeucc.
| patrícia alves tavares VINHOS & CA.
| ANGOLA’IN · VINHOS & CA.80
alain ducasse,
Cinquenta lugares e 55 funcionários com-
põem o melhor restaurante da cidade luz, Pa-
ris (França). Inaugurado em Agosto de 1996, o
espaço tem o nome do seu proprietário, Alain
Ducasse, um reputado chef francês e situa-se
no luxuoso hotel Plaza Athénée. Os visitan-
tes usufruem da tradicional cozinha france-
sa, cujo menu é alterado conforme a estação
do ano. Esta sinfonia parisiense, repleta de
sabores modernos e autênticos, é produto
do experiente chef Christophe Moret. Porém,
se preferir, pode criar a sua própria refeição,
através da escolha de uma enorme variedade
de pratos de diferentes regiões e culturas.
O luxo e os requintados jantares no Alain Du-
casse au Plaza Athénée não são para todas
as bolsas. Não se esqueça que é o segundo
informações úteis
Morada: 25 avenue de
Montaigne, 75 008 Paris
Contactos: +33 (0) 1 53 67 65 00
Site: www.alain-ducasse.com
Horários: Segunda a sexta-feira
para jantar das 19.45h às 22.15h
Quinta e sexta-feira para
almoço, das 12.45h às 14.15h
Encerra: Sábado e Domingo e
feriados franceses ofi ciais
Período de férias: 15 de
Julho a 15 de Agosto |
15 de Dezembro a 31 de
Dezembro (reabre na noite
de Passagem de Ano)
Dress code: Blazer/ smoking é
obrigatório e a gravata recomendada
Outros: Proibido fumar
restaurante mais caro do mundo, que inclusi-
ve recebeu três estrelas no famoso guia Mi-
chelin. As refeições mais acessíveis rondam
os 231 USD por pessoa. A localização na ave-
nida Champs-Élysées e a vista para a Torre
Eiffel dão o toque fi nal a um espaço onde se
reúnem no mesmo universo a arte, o teatro,
o glamour e a gastronomia. O restaurante e
respectivo hotel são símbolos de luxo, mo-
da e arte, ponto de passagem para indivídu-
os de classe e com muito poder de compra.
Elegante e clássica, a equipa comandada pe-
lo maître Denis Courtiade usa uniformes de-
senhados por Georges Feghaly, pelo que é
conveniente vestir roupas formais. O blazer/
smoking é obrigatório e a gravata altamente
recomendada.
81 VINHOS & CA. · ANGOLA’IN |
GOURMET
d.o.m.
O sugestivo nome deste restaurante brasi-
leiro provém do latim Deo Optimo Maximo,
que signifi ca “Deus é óptimo e máximo: óp-
timo na sabedoria e máximo na bondade”.
Neste caso, a palavra “Deo” foi substituída
por “DOM”, que quer dizer “casa”. E é neste
“lar” que encontra uma gastronomia máxima
em sabores, cores, texturas e aromas. Funda-
do em 1999, o local já arrecadou os principais
prémios respeitantes à cozinha contempo-
rânea brasileira. À criatividade das refeições
junte as surpresas do bar e encontrará todos
os ingredientes para um jantar inesquecível.
O chef Alex Atala, responsável pelo espaço,
é muito conhecido no Brasil, nomeadamente
pelo seu talento particular para experimentar
informações úteis
Morada: R. Barão de Capanema,
549 Jardins – São Paulo - Brasil
Site: www.domrestaurante.com.br
Contactos: 55 (11) 3088-
0761 ou 55 (11) 3891-1311
Reservas: Sim, até às 21 horas
(confi rmadas via email ou telefone)
Para grupos superiores a 12
pessoas contacte: (11) 3088-
0761 ou (11) 3891-1311
Reservas online: eventos@
domrestaurante.com.br (de
seg. a sexta das 9h às 17h)
Horários: Almoço: 2ª a 6ª
das 12h às 15 horas
Jantar: 2ª a 5ª das 12h às 24h
6ª e sábado das 19h à 1h
Tome nota: Encerra aos domingos
Dicas: Experimente a enorme
variedade de chás e cafés, que o
D.O.M. tem para lhe oferecer
novas possibilidades gastronómicas, a partir
das bases dos ingredientes brasileiros. De-
fensor acérrimo do que é nacional, neste res-
taurante terá certamente a oportunidade de
fi car perito em culinária brasileira, conhecen-
do o que de melhor se confecciona no país. O
D.O.M. cativa os seus visitantes pelo design,
que relembra o modernismo clássico, onde se
fundem linhos, pratas, madeira de lei e cris-
tais. O requinte deve-se ao arquitecto Ruy
Ohtake e ao trabalho do paisagista Gilberto
Elkis. O artista plástico Ricky Castro encarre-
gou-se de dar cor às paredes. O espaço tem a
particularidade de ser simultaneamente am-
plo e intimista. Sem dúvida, local obrigatório
de passagem para quem visita o Brasil.
VINHOS & CA.
| ANGOLA’IN · VINHOS & CA.82
desmistifi car o vinho
Convidaram-me para escrever uma coluna so-
bre vinho. Desafi o que aceitei com todo o en-
tusiasmo, mais pelo facto de ter experiência na
prova de vinhos, do que na redacção da mes-
ma, o que também me deixou algo nervoso e
sem a certeza dos assuntos que deveria abor-
dar. Nesta minha vida de enólogo, que leva 22
anos, várias vezes, amigos e conhecidos desa-
bafaram comigo a medo, por gostarem muito
de vinho, mas não se sentirem sufi cientemen-
te à vontade com o vocabulário utilizado por
especialistas. Por regra digo, numa perspecti-
va pragmática, que a linguagem não é o mais
importante, mas sim a percepção que têm do
vinho e se efectivamente gostam dele ou não.
Claro que me apercebo que não acreditam de
facto nas minhas palavras e por vezes ques-
tionam porque lhes estarei a fazer uma reco-
mendação de tal ordem. Pois foi exactamente
a pensar nestas questões que resolvi escrever
sobre a desmistifi cação do vinho.
‘A prova de um vinho é sempre um acto pessoal e subjectivo’
Deste modo, espero ajudar alguns iniciados
enófi los num mundo no qual a linguagem téc-
nica se tornou cada vez mais complexa e inibi-
dora e que despoleta receios no momento de
provar e comentar um vinho. Comecemos por
traduzir o signifi cado de alguns termos que,
para muitos naturalmente serão familiares,
mas que para outros são algo estranhos.
Antes de iniciar, questiono – será que sem a
utilização destes termos não se deve provar ou
avançar para um comentário sobre um deter-
minado vinho? Claro que não! A prova de um
vinho é sempre um acto pessoal e subjectivo.
Com a aprendizagem do vocabulário utilizado
para descrever um vinho é possível encontrar
uma linguagem comum, de forma a que todos
se entendam. No entanto, de modo algum o
desconhecimento deste vocabulário poderá
impedir que se prove, se comente e se partilhe
as sensações de prova de um vinho.
Passo então à “tradução” de alguns termos vínicos, utilizados repetida-mente por enólogos e especialistas do vinho em situação de prova:
Adstringente – vinho com tanino, que cau-
sa sensação de boca seca ou como aquela que
é causada por frutas ainda verdes;
Aroma – odor libertado pelo vinho;
Bouquet – aromas terciários do vinho que re-
fl ectem sensações olfactivas que o mesmo de-
senvolve depois de engarrafado e envelhecido;
Curto – Vinho que não tem um sabor prolon-
gado e termina rapidamente;
Boca cheia – vinho com uma grande textura
e com sabores que enchem a boca;
Decantação – passagem lenta de um vinho
da garrafa para um recipiente de vidro – decan-
ter. Serve para separar sedimentos do vinho ou
para arejamento do mesmo;
Encorpado – vinho com um sabor rico, re-
dondo e sem arestas;
Enófi lo – pessoa que aprecia e estuda os vinhos;
Enólogo – especialista da ciência do vinho e
do processo de vinifi cação;
Gosto de rolha – transmitido por um com-
posto denominado TCA (tricloroanisol), que dá
ao vinho uma aroma de mofo;
Monocasta/Vinho Varietal – Vinho feito
a partir de uma só casta, de um só tipo de uva;
Tanino – substância natural encontrada no
vinho, transmitida pelas grainhas, películas
e engaços que transmite uma sensação ads-
tringente.
84 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.
| luís duarte VINHOS & CA.
artigo de opinião ã d b l
A SABER...
Luís Duarte começou a sua actividade profi ssional
na Herdade do Esporão (Portugal) em 1987 com o
arranque do projecto, tendo sido enólogo e director
de produção durante 18 anos. Esteve ligado à cria-
ção e lançamento de grandes marcas de vinhos do
Alentejo, como por exemplo Herdade do Esporão,
Monte Velho e Vinha da Defesa, no projecto Her-
dade do Esporão. Desempenhou também funções
como consultor de enologia em outros projectos
como a Quinta do Mouro, a Herdade Grande, a Her-
dade da Malhadinha, a Herdade São Miguel, a Her-
dade das Servas e a Dona Maria. Esteve ainda ligado
como consultor de enologia à criação do projecto
“Enoforum”, desenhado para o mercado externo e
que reúne a associação de seis adegas cooperativas
do Alentejo, que controlam 70 % da produção na
região. Mais recentemente personalizou a gestão e
enologia da Herdade dos Grous, um dos projectos
de maior referência do Alentejo, com um soma-
tório inigualável de vinhos premiados num curto
prazo de tempo. A partir de 2007, inicia um novo
projecto em parceria com Alexandre Relvas e Fili-
pe de Botton, assente na construção de uma adega
“state of the art” com capacidade para vinifi car 2.5
milhões de garrafas e lança para o mercado vinhos
com as marcas Cem Amigos e VIP que já se encon-
tram a ser comercializados no mercado angolano.
Foi o único enólogo português a ter sido distingui-
do duas vezes (a última das quais em 2007) como
“Enólogo do Ano” pela Revista de Vinhos, a publi-
cação especializada de referência em Portugal
85 VINHOS & CA. · ANGOLA’IN |
VINHOS & CA. | wilson aguiar
Festas com sabores tradicionais
Wilson Aguiar sugere:
Olá meus amigos!
A época das festas de fi nal de ano está a
chegar e as ocasiões convidam a que to-
da a família se junte para celebrar o Na-
tal e a Passagem de Ano. As refeições
são mais elaboradas e preparam-se as
melhores iguarias para presentear os
convidados.
A receita que vos sugiro para este perí-
odo tão especial tem no bacalhau o seu
principal elemento. Aliás, na maioria das
culturas, este é o alimento mais simbó-
lico desta época. Assim preparei para
vocês uma refeição única que recorre
ao peixe para criar um ambiente de re-
quinte e unir a família e amigos através
de um prato saboroso e elaborado co-
mo manda a tradição. Para acompanhar
escolha um bom vinho. E, claro que não
pode faltar a sobremesa, composta pela
doçaria típica da sua região.
A fi nalizar, desejo-vos um Bom Natal e
óptimos cozinhados!
Espero-vos no próximo ano, prometen-
do apresentar os múltiplos sabores afri-
canos, com novas receitas.
VOTOS DE UM EXCELENTE 2010!
IINGRREDIEENTEEES
Bacalhau-1,5kg
Batata-pré frita- 500gs
Gambas-1,5gs
Natas-1pacote
Leite- 1 pacote
Farinha trigo q.b
Queijo parmesão ralado q.b
Ovos - 4 uns
1 frasco de Mostarda
Azeite extra-virgem q.b
Azeitonas pretas
1 Lagosta
2 grandes cebola picada
Pimenta moída fresca
Alho picado q.b
200grs Manteiga
MMODO DDE PREEPARAÇÇÇÃO
Comece por refogar o bacalhau desfi ado com
a cebola e o azeite extra-virgem. Acrescente
o alho e deixe refogar bem o bacalhau. Logo
que esteja tudo refogado, acrescente a batata
já frita e conserve enquanto prepara o molho
bechamel. Junte o molho ao preparado, rectifi que
os temperos e leve ao forno, num tabuleiro
apropriado. O marisco serve para decoração. Use
as gambas e a lagosta para decorar este prato e
leve também ao forno, após cobrir tudo com queijo
ralado para gratinar.
CCOMO PPREPARRAR O O MMOLHOO BECHAAMEL
Se possível reserve a água da cozedura do
bacalhau. Se este não estiver muito salgado,
poderá aproveitar a água para este molho. Noutro
tacho coloque a manteiga e deixe alourar. Em
seguida, deverá adicionar a farinha de trigo
(aproximadamente 200grs) e deixe puxar este
refogado. Pouco a pouco, acrescente a água do
bacalhau e deixe cozer devagar e em lume brando.
Se houver necessidade de se aumentar, acrescente
leite e deixe o molho fi car espesso.
Bom apetite!
“embaixador” da música nacional
86 | ANGOLA’IN · PERSONALIDADES
PERSONALIDADES | manuela bártolo
Filho do célebre guitarrista “Riquito”, Yuri da
Cunha revelou o talento para a música ainda
na infância. Com três discos editados, o artista
angolano mostrou na Europa a qualidade dos
sons nacionais, que atraem fãs de todas as
idades. O cantor, natural do Kwanza Sul, con-
seguiu com 28 anos fazer a abertura do concer-
to de Eros Ramazzotti, estando para breve um
dueto. De passagem por Portugal para apadri-
nhar as comemorações da Independência de
Angola, o músico confi denciou à Angola’in as
alegrias desta nova fase da sua carreira.
Qual o signifi cado de estar em Portugal a celebrar o aniversário da Independência de Angola?Gostaria de fazer isso em todos os países on-
de existe a comunidade angolana porque para
mim tem um signifi cado muito grande: é o en-
contro entre os angolanos que se separaram da
terra por difi culdades. Muitos estão aqui por-
que houve necessidade de emigrar. Hoje, mui-
tos regressam. Eu venho ter com os que não
conseguem voltar. Signifi ca a aproximação, o
amor e o reencontro entre os angolanos.
A sua carreira está a catapultar. Actuou com Eros Ramazzotti...Como tem lidado com este êxito?É tudo novo para mim. É um outro mundo.
O Eros Ramazzotti tem uma dimensão muito
grande e ainda estou a digerir esse encontro
com o público dele.
Como tem sido essa junção cultural de sonoridades tão distintas?Eu faço a abertura do show. Ainda não come-
çamos a fazer os duetos. Temos que ensaiar
bem. Ele tem uma equipa muito profi ssional.
Em breve vamos começar. Mas a minha vinda
a Portugal faz-me sentir mais feliz, pois ana-
lisando o povo para quem eu tenho cantado
ultimamente vejo que eles vibram, dançam,
mas não conhecem as músicas. Encontrar-
me com as pessoas que cantam e conhecem
a minha música foi muito bom para sentir
esse calor, como se vivesse em Angola.
Onde vai buscar a inspiração? No angolano, no dia-a-dia do Mwangolé, que
é de onde venho. Por exemplo, digo que sou
fã número zero do Bonga. Sou angolano e
vou à busca de inspiração nele e no dia-a-dia
de cada cidadão. Procuro trazer isso para o
palco para depois poder mostrar ao mundo.
Considera-se um cantor da nova geração ou intemporal?Quero fazer uma carreira muito longa, cheia
de saúde e para isso é preciso que eu faça
músicas para todas as idades e para todos os
tempos, que permaneçam para todo o sem-
pre. Não me insiro no mundo como um cantor
da juventude, mas sim do tempo que aí vem.
‘Defendo que temos de fazer música global. É importante que tenhamos em atenção a nossa própria identidade’
A produção artística e cultural em Angola tem crescido. Tem sentido que há cada vez mais apoios?Tem crescido muito. Falta ainda bastante para
atingirmos os grandes palcos. Carecem infra-
estruturas, salas para espectáculos, material
profi ssional sofi sticado e moderno para os
shows e principalmente os recursos huma-
nos qualifi cados que vão operar esse material.
Ainda nos falta isso. Mas passo a mensagem
aos meus compatriotas: estamos num mo-
mento de aprendizagem, vamos ser humildes
e aceitar que ainda não sabemos e vamos dei-
xar que os outros nos venham ensinar.
Acredita que as novas gerações vão respeitar a raiz cultural ou a tendência é para globalizar? Defendo que temos de fazer música global.
Mas é importante que tenhamos em atenção
a nossa própria identidade. Devemos explorar
o que é nosso e mostrar ao mundo aquilo que
realmente somos. Defendo o poder da lusofo-
nia. Acho que os angolanos têm uma afi nida-
de com os portugueses.
Quais os seus projectos para 2010?Temos a continuação da tournée com o Eros
Ramazzotti. Estou a fazer um projecto de res-
gates culturais da música angolana. De se-
guida vamos fazer espectáculos e lançar uma
escola com o apoio de vários patrocinadores.
Vou simplesmente arranjar o valor. Com o no-
me e a imagem que tenho cabe-me encontrar
as condições para construir essa escola social,
que visa ajudar as crianças.
Qual a mensagem que gostaria de deixar para o próximo ano?Espero que os angolanos acreditem em An-
gola. As coisas não acontecem de repente.
Vamos ter calma. Em vez de apontar os de-
feitos dos outros, vamos tentar arranjar solu-
ções para juntos erguer o país. No CAN vamos
apoiar a nossa selecção, mas antes de tudo
apoiar todas as equipas, recebendo-as bem,
tratando bem os outros cidadãos, mostrando
que temos uma educação.
Yuri da Cunha
59 LUXOS · ANGOLA’IN |
LUXOS
REV
ISTA N
º10 · DEZ
EMBR
O 2009 · E
DIÇ
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ES
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CIA
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