Post on 12-Mar-2016
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Rio de Janeiro | 2014
TraduçãoAna Resende
IlustraçãoScott M. Fischer
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C 1 c
Um Novo Emprego
-Pelo amor de Deus, acorde, rapaz. Quer perder
o emprego logo no primeiro dia?
Olhei ao redor, confuso, limpando a baba do
queixo. Que horas eram? Parecia que eu tinha
acabado de me deitar para dormir.
— Vamos, Billy — disse a sra. Hendle, de
forma mais gentil dessa vez. — Eles
mandaram você chegar lá
uma hora depois do
pôr do sol, e você
já está atrasado. —
Ela me entregou
o casaco que eu
havia pendurado
na cadeira, e eu
me levantei
da cama ainda
cansado.
Joseph De laney
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Alguns rapazes entraram correndo pelo quarto,
rindo e fazendo brincadeiras, mas logo ela mandou
que se calassem. Mesmo assim, eu ainda podia
ouvi-los dando risadinhas.
— Está com medo de ir lá para cima, Billy? Não
quer ir?!
— Vão embora! — gritei, abrindo caminho até
a porta e dispersando-os em todas as direções.
Pirralhos malditos.
Mas eles tinham razão. Eu estava morrendo de
medo. Não era o tipo de trabalho que eu queria.
“Moleques não têm muita opção”, costumava dizer
minha velha mãezinha, que Deus a tenha. E ela
estava certa. Não há muito trabalho para rapazes de
orfanatos. Tive sorte de arranjar este. Mais algumas
semanas de treinamento, e eu terei dinheiro sufi-
ciente para arrumar um quarto em outro lugar; ir
para bem longe deste ridículo Lar para Meninos
Desafortunados. Valerá a pena, no fim das contas.
A Prisão Mal-Assombrada
Carregando minha lanterna, desci apressado
os degraus e saí para a rua, deixando a aldeia
para trás. Enquanto corria pelas estradas de
terra batida, vi o castelo à minha frente e
me dirigi a ele, tentando ser corajoso.
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Afinal, eu não ficaria
preso lá. Apenas traba-
lharia nele, vigiando os pri-
sioneiros. Os outros rapazes
estavam sendo tolos. Sentiam
inveja de mim. Era apenas um
trabalho, e eu não iria desistir.
Mas eu sabia por que eles achavam que eu
deveria estar com medo; porque eu estava mesmo
apavorado. O problema era quem eu teria que vigiar:
assassinos, criminosos e feiticeiras condenadas. Era
esse o meu trabalho. Ou, pelo menos, seria quando
eu terminasse o treinamento.
Vi a lua, fina e minguante, que logo foi encoberta
por nuvens escuras soprando do oeste. Estremeci,
mas não só de frio. Eu ouvira histórias sobre o que
acontecia no castelo após o anoitecer, sobre criaturas
há muito tempo mortas, que caminhavam por seus
corredores úmidos. E não havia uma única pessoa
na aldeia que não tivesse ouvido os gritos vindos de
lá: resmungos baixos e agonizantes, gargalhadas
histéricas e selvagens, soluços arrependidos e
miseráveis – todos nós já ouvíramos aquilo.
O castelo era uma construção grande e impo-
nente, situado numa montanha alta
a aproximadamente três quilô-
metros da cidade
mais próxima,
cercado por uma
densa floresta de
sicômoros e
freixos.
Joseph De laney
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Fora construído a partir de pedras escuras e
úmidas, com torres, ameias e um fosso fedorento
que, dizia-se, continha os esqueletos de todos que
haviam tentado fugir.
Eu não quis pegar o turno da noite. Mas
meus desejos não tinham importância. Ordens
eram ordens e, após apenas duas semanas de
treinamento preliminar, pediram-me que apare-
cesse uma hora depois do pôr do sol. Como eu
não estava acostumado a dormir à tarde e tivera
dificuldade para pegar no sono com os outros
rapazes andando para cima e para baixo, acabei
dormindo demais. Eu já estava mais de meia
hora atrasado, e guardas da prisão deviam ser
pontuais.
Quando cheguei ao castelo e olhei para cima,
em direção às paredes ameaçadoras, ouvi um som
metálico de algo se arrastando, e então a porta leva-
diça começou a subir. Eles sabiam que eu estava ali.