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Revista de Geopolítica, Natal, v. 6, nº 2, p. 52 -69, jul./dez. 2015.
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A Localização Estratégica de Nova Delhi para a Geopolítica da Índia
Rafael Regiani1
Resumo
Este artigo pretende analisar a importância da localização estratégica da capital Nova Delhi para a integridade territorial da Índia. Nova Delhi foi escolhida para ser a capital da Índia Britânica em 1911, mas sua importância parece ser mais um destino imposto pela geografia do que por uma ação do imperialismo britânico. Pois antes de virar a capital colonial, Delhi também fora a sede do poder de impérios islâmicos, e, após a independência indiana, continuou como capital até os dias atuais. Por tanto tempo mantendo a hegemonia sobre o território da Índia, esta escolhanão pode ser obra do acaso.
Palavras-chave: Nova Delhi; Índia; Geopolítica.
Abstract
This article aims to analyze the importance of New Delhi’s strategic localization as being capital for the territorial integrity of India. New Delhi was chosen to be the capital city of the British Raj in 1911, but its importance seems more a destiny imposed by geography than that an action of British imperialism. For before it become the colonial capital, Delhi also was the power seat of Islamic Empires, and, after the Indian independence, has continued as capital city until today. So much historic time with the hegemony over India’s territory cannot be work by chance.
Keywords: New Delhi; India; Geopolitics.
Introdução
Uma capital cumpre mais do que um papel funcional de tomar as decisões
políticas que afetam o futuro todo de um território. Ela também cumpre um papel
simbólico de ser a materialização no espaço do projeto de sociedade que uma
nação almeja ser, e através desse papel simbólico personificado pelo Príncipe no
imaginário coletivo da nação, a capital faz sua presença ser sentida em todos os
citadinos, e não apenas dentro dos palácios.
1 Mestrando em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP).
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No dizer de Claude Raffestin:
O poder, antes de se difundir e antes de se esgotar, se cristaliza num lugar, em lugares que com freqüência ele marca profundamente, às vezes até de uma forma indelével: “Há por que pensar que a verdade está inscrita na própria estrutura das comunidades, nos lugares centrais, a partir dos quais tudo irradia e que quase sempre constituem locais simbólicos de uma unidade coletiva [...] Esses locais são marcados por uma ação [...]. São o poder instaurador de uma unidade que funda a coletividade: ‘Podemos crer que é a partir desses lugares simbólicos da unidade que nascem todas as formas religiosas, que o culto se estabelece, que o espaço se organiza, que uma temporalidade histórica se instaura, que uma primeira vida social se esboça. (1993, p. 186-167).
Além da revisão histórica sobre a importância de Nova Delhi, este texto lança
um estudo comparativo entre as cidades de Nova Delhi e Roma, ambas com
funções hegemônicas no sistema político de seus países.
A construção da hegemonia de Delhi
Nova Delhi, localizada no território federal homônimo, é a capital da Índia
desde 1911, tendo no ano de 2011 completado seu primeiro centenário como
capital. Delhi foi fundada no ano de 736 pelo rei Anang Pal Tomar, às margens do
rio Yamuna, tributário do rio Ganges, mas com o nome de Lal Kot. Seu sítio,
contudo, acredita-se era habitado há mais tempo, conforme indicam registros
arqueológicos de que a lendária cidade de Indraprastha, a capital dos Pandavas, do
épico hindu Mahābhārata, ficasse no mesmo lugar. A cidade tem hoje mais de 16
milhões de moradores, e junto com a área metropolitana salta para mais de 22
milhões de habitantes.
A cidade de Delhi começou a ganhar importância política a partir do final do
século XII, quando exércitos afegãos liderados por Muhammad Ghuri derrotaram os
príncipes rajputs e estabeleceu-se o Sultanato de Delhi.
Nos primeiros duzentos anos, os sultões de Delhi expandiram seu território
até o sul da península, conseguindo unificar praticamente quase todo o Hindustão
pela primeira vez desde o Império Maurya no século III a.C., feito que só se repetiu
depois com os mongóis e os britânicos no século XIX.
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Giovanni Arrighi (1996) opõe duas lógicas de formação do Estado:
territorialismo e capitalismo. No primeiro o poder é identificado com o domínio
territorial e da população, e o capital, um meio de adquirir novos territórios. No
segundo o poder é identificado com o controle do dinheiro e a aquisição de territórios
como um meio para mais acumulação de capital.
Na elaboração do moderno sistema interestatal, Arrighi distingue três fases
hegemônicas do capitalismo (holandesa, britânica e americana), alternando lógicas
territorialistas e capitalistas na ascensão, auge e declínio de seus impérios.
O Império Britânico inicialmente construiu-se em bases capitalistas, com a
Grã-Bretanha competindo com a França pelo controle das rotas de comércio
marítimo, e seguindo os mesmos passos geoestratégicos da República de Veneza.
Conforme seu império aumentava, a lógica capitalista perdia força para a lógica
territorialista, e a Grã-Bretanha passava a moldar seu império ao estilo do Império
Espanhol. O Império Russo, o outro estado territorialista da época, substituía a
França como novo arquirrival.
A Índia Britânica, como parte desse império, também experimentava as suas
transformações globais, mudando ao longo do tempo o seu status no interior do
Império Britânico. O que começara como uma colônia comercial, administrada pela
Cia das Índias Orientais, numa lógica capitalista, se transformou mais tarde em uma
colônia geopolítica submetida diretamente à Coroa britânica, seguindo a lógica
territorialista do Grande Jogo contra os russos.
O culminar dessa mudança de status da Índia foi a mudança da capital
colonial de Calcutá, sede de uma influente burguesia das fábricas de juta e papel,
para Nova Delhi, uma cidade que os britânicos edificaram vizinha a Delhi. A
mudança de capital é uma expressão da mudança do poder sobre um território:
O nascimento de uma capital não é um fato institucional, não exclusivamente, ou mesmo muito pouco, mas um fato sociopolítico que é a expressão de uma crise que, na maioria das vezes, nasce ao mesmo tempo da subida de um poder e do desaparecimento de um outro. Isso não implica, como se poderia pensar, que se trata de dois poderes concorrentes - o caso mais simples mas não necessariamente o mais frequente -, mas é possível que se trate de um só e mesmo poder que atravessa uma crise e que passa de uma situação de centralidade-marginalidade para uma outra. (RAFFESTIN, 1993, p. 191).
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No caso da Índia, a crise que provocou a mudança do poder foi a Revolta dos
Sipaios, em 1857. A conquista da Índia de fora para dentro causou um cerco e
isolamento cada vez maior do heartland gangético, locus histórico do poder
tradicional das velhas classes dominantes feudais indianas, e que de centralidade
passava a se tornar marginalidade na nova Índia que se desenhava. Políticas
britânicas de tributação da terra atingiram a poderosa classe dos senhores de terras
indianos, criando enorme insatisfação (MUKHERJEE, 2008, p. 22). A população, de
tempo mais lento, também estranhava as rápidas mudanças em seu estilo de vida
tradicional provocado pela introdução do meio técnico-científico trazido pelo
colonizador britânico. O resultado foi uma revolta religiosa, última arma que restava,
contra o conquistador britânico impuro.
A rebelião dos soldados indianos, também chamado de sipaios, iniciou-se na
Bengala e foi se espalhando de modo caótico pelo norte da Índia até atingir Delhi.
Em Delhi, o Rei de Delhi e último imperador mongol Bahadur Shah II, basicamente
já sem poder algum, aceitou a liderança da rebelião para tentar conferir uma certa
coordenação aos rebeldes (MUKHERJEE, 2008, p. 33). A queda de Delhi foi
interpretada pelos rebelados como a quebra da autoridade britânica, imprimindo
mais força ao movimento (MUKHERJEE, 2008, p. 22.). Henry Lawrence,
comandante britânico escreveu ao Governador Geral: “a tranquilidade não pode ser
mantida por muito mais tempo, a menos que Delhi seja rapidamente capturada”.
(MUKHERJEE, 2008, p. 29).
Apesar, então, de ser uma revolta nacionalista e independentista, a
Revolução de 1857 tinha um viés conservador, uma tentativa nativa de reagir às
mudanças modernas, voltando à formação social do Império Mogol.
A revolta foi esmagada por tropas britânicas que haviam acabado de
conquistar o Império Sikh, no Punjab, que, por sua localização estratégica para o
controle do norte da Índia, recuperou sua antiga centralidade, sedimentada com a
transferência da capital. A sabedoria tradicional hindu e indo-islâmica nada puderam
contra as forças da indústria moderna, da ciência moderna e dos exércitos
modernos trazidos pelos britânicos.
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A capitalidade de Calcutá era por motivos funcionais. Era devido ao fato de
ser o lugar de chegada do colonizador britânico, de acordo com a tipologia de
capitais de Fawcett. Pois Calcutá não tinha o mesmo simbolismo político da cidade
de Delhi no imaginário indiano para ser capaz de centralizar em si a vida política da
Índia. E além dessa falta de tradição política de Calcutá, o fato de a maioria dos
sipaios rebelados ser de origem bengalesa inviabilizou a continuidade da capital
colonial numa região que se mostrou pouco leal. Fawcett (1918, n.d.) explica:
Calcutá [...] era um depósito e base da Cia das Índias Orientais; daqui, como de suas outras bases na costa da Índia, os ingleses se espalharam para o interior; e Calcutá naturalmente tornou-se o porto principal por causa de sua situação na beirada marítima da planície do Ganges. Até quando o poder britânico era consciente de sua dependência direta nas comunicações além-mar, sua capital para a Índia permaneceu no porto. A abertura do Canal de Suez e a construção de ferrovias na Índia diminuíram a importância relativa de Calcutá; e isto, junto com prestígio da tradição, estabelecido pelos governantes que vieram do noroeste, que Delhi é a capital imperial, e condições políticas na Bengala, levaram a transferência da capital para esta última cidade.
A geografia urbana da Índia colonial acompanhava essas transformações
políticas e também se modificava. Khilnani (1999) divide a fundação de cidades na
colônia em duas fases: até o século XVIII e após o século XIX. As cidades até o
século XVIII eram construídas como portos mercantis com a finalidade de extração
comercial e exibição de riqueza, como as cidades de Calcutá, Bombaim e Madras,
hoje renomeadas, respectivamente, Kolkata, Mumbai e Chennai. O eixo central
dessas cidades portuárias era o cais e as docas, juntamente do forte e da casa do
governador.
Refletindo a mudança de status da Índia britânica de colônia comercial para
colônia geopolítica, as cidades do século XIX em diante cumpriam uma função de
acampamento militar. Após a proclamação do domínio imperial em 1858, mais de
170 cidades-acantonamento foram fundadas, ligadas entre si por estradas, ferrovias
e telégrafos, numa nova geografia do comando.
O símbolo-mor das cidades dessa segunda fase, com a cara imperial que
ganhava a Índia britânica, era a recém-fundada cidade de Nova Delhi. Verdadeiro
monumento de exibição de poder e ordem, Nova Delhi (KHILNANI, 1999) era um
espaço onde a última ideia imperial de poder poderia ser gravada no solo, era uma
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fantasia sublime de controle imperial sobre as fronteiras, era um núcleo urbano
obcecado em ser mais uma capital do que uma cidade. Em suma, Nova Delhi era o
resumo dos esforços britânicos para levantar a bandeira imperial no território
indiano.
Portanto, desde seu início o propósito fundamental de Nova Delhi era exibir
poder imperial; ela nunca foi uma necessidade administrativa. A grande motivação
para a construção da nova capital era, na verdade, a vaidade pessoal do então vice-
rei em se consagrar com grandes feitos na história. Após isso toda sorte de
justificativas pós-fato foram inventadas para defender a mudança de capital de
Calcutá para Nova Delhi (SENGUPTA, 2007, p. 25). A revolta de 1857 forneceu a
oportunidade política para a mudança.
Geografia Comparada da Índia e Itália
Índia e Itália são dois países que possuem em comum a natureza peninsular
de suas geografias, projetada em mares a partir de uma posição central no interior
das bacias. Tal posição privilegiada em relação ao mar lhes rendem vantagens
geocomerciais e geoestratégicas dentro de suas respectivas bacias marítimas, que,
quando devidamente aproveitadas por um poder político forte na península, foram
capazes de erigir civilizações e impérios notáveis na história mundial, como o
Império Mogol na península hindustânica e o Império Romano na península itálica.
Por outro lado, a natureza peninsular tem seu ponto fraco no fato que uma
grande quantidade de baías e enseadas boas para portos comerciais cria em torno
delas elites regionais que disputarão a hegemonia e, sem um vencedor que se
sobressaia, fragmentarão e enfraquecerão o interior da península. Foi assim que a
Índia e a Itália conheceram em diferentes épocas e lugares reinos de origem costeira
que tentaram com maior ou menor grau de sucesso se expandir para o restante da
península, consumiam seus recursos em guerras com os reinos vizinhos,
declinavam e davam origem a outros reinos que cresciam em detrimento do anterior.
Entre os que tiveram mais sucesso regional, destacam-se os impérios Maurya,
Chola e Marata na Índia, e as repúblicas de Gênova e Veneza, além do Reino das
Duas Sicílias, na Itália.
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Ao norte os dois países se conectam ao continente por uma planície fluvial, a
do rio Ganges na Índia e a do rio Pó na Itália, que, exprimidas por cadeias
montanhosas ao norte (Himalaia e Alpes) e ao sul (Gates e Apeninos), acabam
concentrando a maior parte da população do país bem como a rede urbana e parque
industrial mais desenvolvidos. Sendo essa planície a única saída terrestre da
península para a massa continental, acaba concentrando nela grandes pressões
oriundas dos territórios vizinhos, motivo pelo qual Índia e Itália sofreram na história
inúmeras invasões de povos vizinhos através da fronteira setentrional, como persas,
afegãos e turcos para a primeira, e cartagineses, bárbaros germânicos e austríacos
para a segunda.
Controlando essas planícies surgem verdadeiras fortalezas, bastiões da
resistência contra os invasores da fronteira norte, casos de Delhi e Milão. Terrestres
por natureza acabam sendo inacessíveis às frotas dos reinos costeiros, que perdem
sua maior força na luta pela hegemonia peninsular. Na Índia, todas as vezes que
houve unificação, ou quase-unificação, passou-se pela conquista de Delhi, caso dos
sultões turcos, dos mogóis, e da Índia colonial britânica; na Itália, a unificação do
país teve o caminho aberto quando o Reino de Piemonte-Sardenha tomou Milão dos
austríacos.
A localização de Delhi é estratégica para o controle da Índia porque a cidade
se encontra na saída de um corredor que une as planícies do Indus e do Ganges. Ao
norte da cidade, há as montanhas do Himalaia. E ao sul, há as colinas de Aravalli,
um grupo de montanhas mais antigas e desgastadas, e por isso, com uma altitude
média menor que o Himalaia. Assim, os exércitos invasores tinham que passar por
Delhi para adentrar na Índia. O deserto de Thar forçava os exércitos a subirem a
planície do Indus até a altitude de Delhi, frustrando qualquer tentativa de invasão da
Índia pelo litoral, contornando as colinas de Aravalli pelo seu flanco sul.
A localidade de Delhi se revelou uma fortaleza natural para o controle da
Índia. De um lado, sua posição privilegiada entre as montanhas permitia deter os
eventuais invasores. Do outro, sua proximidade com a planície do Ganges, o
heartland da Índia, permitia à cidade arrecadar da região os recursos que
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necessitava para sustentar seu poder2. Foi assim que após a conquista completa da
planície gangética pelos afegãos no início do século XIII o poder real tornou-se
centralizado em Delhi (FAIRGRIEVE, 1927, p. 262).
O geógrafo britânico Charles Bungay Fawcett (1918, p. 238) classifica as
cidades capitais em cinco tipos, de acordo com a posição que ocupam no território
dos países: 1) “capitais naturais”, aquelas que ocupam o nodo dominante da região
em que o Estado se desenvolve, capitais tais como Paris, Londres, Moscou, etc; 2)
“base fronteiriça principal”, quando um país tem por muito tempo só uma fronteira
exposta, categoria em que ele encaixa Delhi, Pequim e Edimburgo; 3) “lugar
principal de entrada”, local por onde conquistadores ou colonizadores adentraram
em um território, geralmente capitais de colônias, como Calcutá, Rio de Janeiro, e
Buenos Aires, segundo Fawcett; 4) “capitais artificiais”, sítios deliberadamente
escolhidos para servirem de capital, como Washington, Ottawa, Canberra e Madri; e
5) “nodo de grandes rotas, mas sem ser o foco principal da região”, capitais que de
acordo com Fawcett são dotadas de uma nodosidade mais imperial, ou federal, do
que nacional, categoria em que ele classifica Viena e Istambul.
Cada soberano islâmico que passou por Delhi construiu sua cidadela. Então,
se Roma possui sete colinas, Delhi tem sete cidades3, cidades estas que na Teoria
da Saptanga4 de Kautilya correspondem ao elemento ‘Forte’, e desempenham a
mesma função defensiva que as colinas de Roma.
James Fairgrieve, discípulo de Mackinder, comenta sobre a posição de Delhi:
Sind e o Vale do Indus, inclusive o Punjab, apesar de darem seus nomes a toda uma terra, formam só a antecâmara da Índia, para a qual há uma passagem comparativamente estreita, com 150 milhas de largura, entre o deserto indiano e o Himalaia. Ao fim desta passagem fica Delhi. E aqui, também, a real planície é a mais estreita. (FAIRGRIEVE, 1927, p. 262,).
2 “A capital se apóia, em geral, numa ou em várias regiões, controla uma ou várias nações ou,
enfim, se inscreve em grandes espaços. Por quê? Porque nenhuma capital pode possuir nela própria os recursos necessários ao exercício do poder. Ela pode reunir, drenar ou coletar recursos úteis, mas é pouco capaz de gerá-los por si mesma. Se tal fosse o caso, tratar-se-ia de uma centralidade pura, que não pode existir”. (RAFFESTIN, 1993, p. 196). 3 As sete cidades históricas de Delhi são: Lal Kot, Mehrauli, Siri, Tughlaqabad, Ferozabad,
Dinpanah, e Shahjahanabad. 4 Sobre os sete elementos que compõe o Estado Antigo segundo Kautilya, ver R. REGIANI. O
Pensamento Estratégico de Kautilya. In: Anais do VIII ENABED, Brasília/DF, 2014.
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Os passos de Khyber e Bolan são a porta de entrada do subcontinente; Delhi,
a porta de entrada da Índia. Khyber e Bolan são as portas de entrada do quintal;
Delhi, a da casa. Agra, uma cidade que fica na mesma região de Delhi, e portanto,
em situação geográfica similar, foi durante alguns anos a capital escolhida por
alguns imperadores mongol, como Shah Jahan, que ali construiu o Taj Mahal. Mas
no final das contas as vantagens geográficas de Delhi sempre foram maiores e a
sede do poder acabou retornando para ela. Conclui Fairgrieve, sobre a capitalidade
natural de Delhi:
Atrás dela está a terra muçulmana; na frente a terra, nunca inteiramente muçulmana, que tinha que ser governada; para ela rotas de ambos convergem. Aqui está a capital natural da Índia ao norte do cinturão de florestas, de modo que repetidas vezes, da época quando o norte foi pela primeira vez organizado pelos muçulmanos, até nossos dias, algum ponto dentro de um raio de poucas milhas foi escolhido como o centro organizador e chamado de Delhi. (FAIRGRIEVE, 1927, p. 263).
Fawcett é da mesma opinião, e endossa: “Assim Delhi, no portão entre os
Himalaias e o Deserto Indiano, guardando a planície do Ganges contra ataques da
vulnerável fronteira noroeste, tornou-se a capital dos impérios militares da Índia”
(FAWCETT, 1918, p. 239).
Figura 1 – A posição de Delhi (FAIRGRIEVE, 1927, p. 262.)
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Figura 2 – Mapa político-histórico da Índia
Observando-se no mapa os territórios perdidos pela Índia quando da sua
independência, Paquistão e Bangladesh correspondem às sobras, aos excessos do
território indiano que, ficando de fora do quadrilátero dinâmico, escapam ao controle
da economia. Mutatis mutandis, a Itália quando de sua unificação perdeu Nice e não
foi capaz de anexar Fiume, ambas as cidades fora do quadrilátero dinâmico italiano.
Obviamente, a perda de uma cidade, dependendo de seu tamanho, não chega perto
da perda de territórios inteiros capazes de formarem países, mas a ideia deste artigo
é encarar a geografia da Itália como uma minigeografia da Índia, ou a Índia, uma
macrogeografia da Itália, com ambos os países apresentando problemas
geopolíticos semelhantes – em virtude de suas semelhanças geográficas –, e com
as diferenças correspondendo às diferenças de dimensão territorial entre os dois
países, Em outras palavras, fenômenos geopolíticos semelhantes tem efeitos
maximizados na geografia da Índia e minimizados na geografia da Itália.
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Figura 3 – Mapa político-histórico da Itália
Esse ponto de vista também era defendido por Karl Marx (1853, n.d.), que
enxergava a Índia como a geografia da Itália mais as relações sociais da Irlanda:
Hindustão é uma Itália de dimensões asiáticas, o Himalaia está para os Alpes, as Planícies de Bengala para as Planícies da Lombardia, o Decã para os Apeninos, e a ilha de Ceilão para a ilha da Sicília. A mesma rica variedade nos produtos do solo, e o mesmo desmembramento na configuração política. Exatamente como a Itália, de tempos em tempos, foi comprimida pela espada do conquistador em diferentes massas nacionais, o mesmo nós encontramos no Hindustão, quando não sob pressão dos maometanos, ou dos mongóis, ou dos britânicos, dissolvido em tantos estados independentes e conflitantes quanto numerosas cidades, ou mesmo vilarejos. Ainda, num ponto de vista social, Hindustão não é a Itália,
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mas a Irlanda do Oriente. E esta estranha combinação de Itália e Irlanda, de um mundo de voluptuosidade e de um mundo de infortúnio, é previsto nas antigas tradições da religião do Hindustão. Esta religião é a uma só vez a religião da exuberância sensual, e a religião do ascetismo autotorturante; a religião do Lingam e da jamanta; a religião do monge, e da bailadeira.
A província indiana do Assam também encontra-se fora do quadrilátero
dinâmico e poderia ser considerada como sobra territorial da Índia. Contudo, menor
e menos povoada que o Bangladesh, não teve poder político o bastante para
cristalizar sua rebelião armada com a Frente Unida de Libertação do Assam em
independência.
A centralidade de um lugar no sistema territorial deriva, segundo Raffestin
(1993), da tensão exercida por um topos sobre os demais pontos do território5. Isso
significa que a capital não pode ser qualquer cidade escolhida por uma mera
convenção burocrática para despachar ordens, mas deve ocupar um topos favorável
cuja posição em relação aos demais pontos do território a permita exercer uma força
centrípeta que dê coesão ao todo. Essa força centrípeta da capital é respondida com
a força centrífuga das centralidades secundárias do sistema territorial, e o resultado
é uma tensão geopolítica que se traduz em períodos de centralização e
descentralização conforme o jogo de forças no território. Nos casos extremos a
centralização excessiva provoca a expansão territorial com adesão de pontos dos
territórios vizinhos ao da centralidade capital, e a descentralização excessiva resulta
no separatismo e destruição do sistema territorial.
Apesar da semelhança geográfica em alguns aspectos, Índia e Itália optaram
por localizar suas capitais em locais diferentes: a Índia em Nova Delhi, em um dos
vértices de seu quadrilátero dinâmico, enquanto a Itália, em Roma, próximo ao
centro de seu quadrilátero dinâmico. Essas diferenças se devem, sobretudo, às
diferenças de objetivos nacionais entre os dois países. A Itália tem sua fronteira
norte estabilizada e se considera um país mais mediterrâneo do que centro-europeu.
A Índia não tem sua fronteira norte normalizada, e procura sair de seu isolamento
subcontinental justamente por essa fronteira. Roma cumpre no território italiano um 5 “A centralidade é, portanto, na sua essência, uma entidade com duas faces: um "topos" e
uma "tensão". Topos e tensão que persistem, enquanto estiverem ligados, e que dinamicamente se traduzem por movimentos centrípetos ou centrífugos.” (RAFFESTIN, 1993, p. 187).
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papel centrípeto, mantendo junto em torno de si as regiões da Padania e do
Mezzogiorno. Nova Delhi exerce na Índia uma força centrípeta sobre território da
Caxemira, muito mais importante para o Estado indiano do que o Vale D’Aosta é
para a Itália. A reação à atratividade de Nova Delhi se expressa na força centrífuga
desempenhada pelo nacionalismo tâmil de Chennai, capital do estado de Tamil
Nadu, no vértice oposto ao de Nova Delhi no quadrilátero dinâmico, e sua resistência
ao híndi, a língua de Nova Delhi, como língua oficial do país.
Nova Delhi e a Geopolítica da Índia
Samuel Huntington, em sua Teoria do Choque de Civilizações, procura alertar
a civilização Ocidental da ameaça representada por uma aliança entre as
civilizações Confuciana e Islâmica, que através da cooperação militar e o comércio
de armas estariam tentando desafiar a hegemonia global da civilização Ocidental.
Em meio a este conflito, há o grupo de ‘países divididos’, um grupo de países que
não fazem parte de nenhuma das civilizações em litígio, e buscam adaptar seus
valores culturais aos de uma das duas, e tomar uma posição em relação ao choque.
A Índia, integrante da civilização hindu, é um desses países.
Pensando de maneira semelhante a Huntington em termos de ameaça, mas
quase um século antes dele, o nacionalista hindu Bipin Chandra Pal, em seus
ensaios e artigos, usava termos um pouco diferentes dos de Huntington. Em um
ensaio intitulado Nationality and Empire escreve sobre o futuro conflito entre
ocidentais e sino-islâmicos:
Esta combinação pan-europeia [que nós chamamos hoje de Ocidente] será uma ameaça muito séria ao mundo não-europeu. Ele será obrigado a entrar em sério conflito com ambos pan-islamismo e pan-mongolismo. Se a Europa puder resolver seus ressentimentos internos a tempo, ela será capaz de dominar facilmente ambos os mundos islâmico e mongol. Nada irá evitar a divisão nesse caso das terras muçulmanas de um lado, e da China no outro. Mas isto não é muito provável. Levará, pelo menos, um longo tempo para as chancelarias européias esquecerem seus ressentimentos passados e rivalidades atuais, como vai levar para a China, agora que ela se enfraqueceu dos anos de sonolência, para por sua casa em ordem e organizar seu leviatã para controlar ela mesma contra o mundo todo. (PAL apud BANDIMUTT, 2006, p. 5)
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Com relação ao posicionamento da Índia neste confronto, Bipin Chandra Pal,
no ensaio Our Real Danger, diz: “Nossa real ameaça virá não da Europa mas da
Ásia, não do pan-europeismo mas do pan-islamismo e pan-mongolismo”. (PAL apud
BANDIMUTT, 2006, p. 5)
Sendo os chineses e os muçulmanos os maiores inimigos da Índia, ele
defende que a então colônia britânica tome parte do Ocidente, mesmo o país ainda
estando em luta por sua liberação do jugo colonial do Império Britânico, e portanto,
nutrindo forte sentimentos anti-ocidentais. Bipin Chandra Pal era a favor da
independência, mas não achava que os indianos pudessem expulsar os britânicos
de uma só vez do país, pois ele não estava preparado para se defender sozinho dos
vizinhos inimigos, logo a permanência das forças inglesas na Índia garantia a
segurança do país contra uma possível invasão chinesa ou muçulmana. Em Our
True Safety, Pal afirma:
[...] a conexão britânica pode sozinha oferecer esta proteção contra ambas as ameaças pan-islâmicas e pan-mongol. [...] nós temos que pensar na China de um lado, e da nova ameaça pan-islâmica do outro. Os 60 milhões de maometanos na Índia, se inspirados com aspirações pan-islâmicas, juntarem-se com os principados islâmicos e potências que ficam ambos ao nosso oeste e noroeste, poderiam facilmente pôr um fim a todas nossas aspirações nacionalistas, quase a qualquer momento, se a atual conexão britânica for quebrada. (PAL apud BANDIMUTT, 2006, p. 6).
Ainda no mesmo ensaio:
Os quatrocentos milhões do império chinês podem, não somente ganhar uma fácil posição na Índia, mas uma vez que tal posição é ganha, eles são as únicas pessoas sob o sol que podem nos oprimir por pura força física superior. [...] Este despertar da China é, além disso, uma ameaça muito séria – na atual condição de nosso país, sem um exército treinado e organizado e uma poderosa marinha própria – para a manutenção de qualquer independência isolada, porém soberana, do povo indiano. Mesmo se nós fossemos capaz de ganhá-la, nós nunca seríamos capazes de mantê-la, diante desta ameaça pan-islâmica e pan-mongol. (PAL apud
BANDIMUTT, 2006, p. 5).
Nicolau Maquiavel, em sua famosa obra O Príncipe, disserta sobre a maneira
que um rei deve agir para fazer um bom governo e alcançar a virtude. No Capítulo III
– Dos Principados Mistos, conta como um rei deve proceder para dominar uma
província em que língua, leis ou costumes sejam diferentes das da sua, uma
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realidade que se encaixa bem à Caxemira, e de uma maneira geral à Índia Colonial
toda com seus inúmeros principados:
Quando se conquista uma província de língua, costumes e leis diferentes, começam então as dificuldades, sendo necessária uma grande habilidade e boa sorte para conservá-la. Um dos meios mais eficazes é ir o príncipe habitá-la. Se se está presente, vêem-se nascer as desordens, e pode-se remediá-las com presteza; no caso contrário, só se terá notícia delas quando não houver mais remédio. Além disso a província não será espoliada pelos lugar-tenentes. Os súditos ficarão satisfeitos com o mais fácil recurso ao príncipe: assim, terão maiores razões de amá-lo, se é o caso, ou de temê-lo. Os ataques externos serão mais custosos e o príncipe só muito dificilmente perderá essa província. (MAQUIAVEL, 1973, p. 16).
.
Na física de Einstein, a matéria distorce o espaço criando a atração
gravitacional. Na geopolítica de Maquiavel, a capital com todo seu peso político no
território distorce o espaço geopolítico ao seu redor criando um centro de atração
política em volta dela. No conflito indo-paquistanês pelo controle territorial da
Caxemira, as duas capitais exercem um papel fundamental na tentativa de
conquistar o apoio e simpatia dos muçulmanos caxemires.
Após a independência, o governo indiano decidiu continuar com a capital em
Nova Delhi, pois o maior acesso dos caxemires ao Príncipe é uma vantagem na
disputa do território. O Paquistão fez o mesmo e na década de 1960 mudou a
localização de sua capital de Karachi para uma cidade nova chamada de Islamabad.
Com uma capital menor e com menos história que Nova Delhi, compensou a
influência da capital indiana com uma proximidade maior ainda da Caxemira.
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Figura 4 – Portão Caxemiri, em Delhi
Construído em 1835, era o início de uma estrada que conectava Delhi com a Caxemira. foi palco de duros confrontos na rebelião de 1857, donde os seus danos.
Fonte: http://www.indianetzone.com/68/old_delhi.htm. Acesso em 31/04/2015.
O poder ideológico também pesou na manutenção de Nova Delhi como
capital, pois o nome de Delhi faz lembrar na mente de todo indiano muçulmano as
glórias dos sultões de Delhi e dos imperadores mongóis. Então, a capitalidade de
Nova Delhi é uma forma de transmitir aos muçulmanos da Caxemira que a Índia
moderna tem também uma ‘cabeça’ islâmica, e não excludente, como os
muçulmanos temiam se ficassem na Índia. Sua legitimidade era sustentada pelas
referências simbólicas às cidades imperiais anteriores neste sítio, um cenário em
que os britânicos apareciam sendo os maiores e decisivos conquistadores de Delhi,
iluminados pela glória dos conquistadores islâmicos passados, lado a lado com os
Khiljis, Lodis e Mongóis (SENGUPTA, 2007, p. 27). O apelo aos muçulmanos
caxemires que a capital paquistanesa faz é maior e mais direto ainda que o da Índia,
já que Islamabad na língua persa quer dizer ‘cidade do Islã’.
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Considerações Finais
Para romper seu isolamento regional, a Índia tem como saídas naturais a Ásia
Central, o Oriente Médio, a Indochina e o Oceano Índico. Em qualquer uma delas, a
Índia se depara com uma barreira islâmica que restringe a expansão de seu
quadrilátero dinâmico. No vértice sul (Chennai) que se expande na direção do Índico
Oriental, a barreira da Indonésia. No vértice oeste (Mumbai), que se expande rumo
ao Índico Ocidental, a barreira do Oriente Médio, em especial a Arábia Saudita, que
procura organizar os países da Península Arábica e vizinhança em seu favor,
inclusive os países que costeiam o Índico Ocidental, como Omã, Iêmen, e Somália.
No vértice leste (Kolkata), que aponta para a Indochina, a barreira do Bangladesh. E
no vértice norte (Nova Delhi), que se dirige para a Ásia Central, a barreira do
Paquistão na Caxemira.
Assim, na “geopolítica do Mandala”6 a Índia se vê cercada por um cinturão
islâmico ao seu redor como seu círculo primeiro de inimigos naturais, e se voltaria ao
círculo dos países Ocidentais como sendo seus aliados naturais contra os estados
islâmicos. Os escritos do nacionalista hindu Bipin Chandra Pal, e também a teoria do
choque de civilizações de Huntington, vão de encontro com esta geopolítica. E nesta
geopolítica, Nova Delhi cumpre uma tarefa ofensiva sobre a porta de saída da
Caxemira. É como um rei em um jogo da xadrez, que mesmo sendo a peça-capital
do jogo, não quer dizer que tenha de necessariamente ficar protegida de ataques
num canto do tabuleiro, mas também pode participar ativamente do jogo apoiando
outras peças de ataque e ajudando a ocupar espaços.
6 Sobre o Mandala geopolítico ver: R. REGIANI. O Pensamento Estratégico de Kautilya. In:
Anais do VIII ENABED, Brasília, 2014.
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Referências
ARRIGHI, Giovanni. O Longo Século XX: dinheiro, poder e as origens do nosso tempo. São Paulo: UNESP, 1996.
BANDIMUTT, Praker. India and Geopolitics. Strategic Security (09/14/2006). Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/4812906/India-and-Geopolitics - Acesso 05/01/12
FAIRGRIEVE, James. Geography and World Power. London: University of London Press, 1927.
FAWCETT, Charles Bungay. The Position of Some Capital Cities. The Geographical Teacher, vol. 9, nº 6, pp. 238-243, 1918.
HUNTINGTON, Samuel P. Choque das civilizações? Política Externa – Vol.2 – Nº4 – Março, 1994.
KHILNANI, Sunil. The Idea of India. New York: Farrar, Straus and Giroux, 1999.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Série Os Pensadores. São Paulo: Abril, 1973.
MARX, Karl. The British Rule in India. New York Daily Tribune, 25 de junho de 1853. Disponível em: http://www.marxists.org/archive/marx/works/1853/06/25.htm - Acesso 28/11/13.
MUKHERJEE, Rudrangshu. Dateline 1857: revolt against the Raj. New Delhi: Roli Books, 2008.
RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993.
SENGUPTA, Rajana. Delhi Metropolitan: the making of an unlikely city. New Delhi: Penguin Books India, 2007.
Recebido em Maio de 2015.
Publicado em Julho de 2015.