Post on 06-Jul-2018
aula
Franklin Nelson da Cruz
Gilvan Luiz Borba
Luiz Roberto Diz de Abreu
Ciências da Natureza e RealidadeD I S C I P L I N A
Autores
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A Hipótese Gaia
2ª Edição
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Vice-ReitorNilsen Carvalho Fernandes de Oliveira Filho
Secretária de Educação a DistânciaVera Lucia do Amaral
Secretaria de Educação a Distância (SEDIS)
Cruz, Franklin Nelson da.
Ciências da natureza e realidade: interdisciplinar/ Franklin Nelson, Gilvan Luiz Borba, Luiz Roberto Diz de Abreu. – Natal, RN: EDUFRN Editora da UFRN, 2005.
348 p.
ISBN 85-7273-285-3
1. Meio Ambiente. 2. Terra. 3. Universo. 4. Natureza. 5. Seca. I. Borba, Gilvan Luiz. II. Abreu, Luiz Roberto Diz de. III. Título.
CDD 574.5RN/UF/BCZM 2005/45 CDU 504
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2ª Edição Aula 10 Ciências da Natureza e Realidade
Apresentação
Nesta aula, você verá como houve uma modifi cação, ao longo dos séculos, na maneira de entender o mundo. Se no início predominavam visões fantásticas e mitológicas da Terra e do universo e depois passamos para uma descrição de um mundo subordinado
aos nossos desejos e do qual éramos donos, hoje, entendemos nosso planeta como um sistema dinâmico e integrado, com capacidade de responder a modifi cações em suas partes. Essa abordagem retoma uma discussão holística conhecida como Hipótese Gaia, muito parecida em sua abordagem com a do índio Seatle, cuja carta nós já discutimos. As implicações desse novo olhar é um assunto muito interessante que faz parte da história da ciência e do pensamento do homem.
Objetivos
Após estudar esta aula, você deverá ser capaz de:
delinear as diferentes formas com que o homem, através da história, tenta entender nosso planeta;
compreender a hipótese Gaia como uma teoria em que a Terra é um sistema vivo e dinâmico.
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Atividade 1
Aula 10 Ciências da Natureza e Realidade 2ª Edição
Visões de mundo
A maneira como nós, os seres humanos, entendemos o mundo tem mudado incrivelmente através dos tempos. O homem primitivo tinha uma visão limitada de tudo. Seu universo resumia-se às imediações de onde habitava. Com pouco conhecimento sobre os seres
vivos e o meio ambiente que lhe cercava, tinha uma descrição mágica e mítica, como você viu em nossa primeira aula.
No entanto, nossa espécie sempre se destacou por possuir uma grande curiosidade, capacidade de experimentação e aprendizado. Quando analisamos as inscrições rupestres, percebemos um acurado modo de observação e registro da realidade pelos nossos ancestrais, sendo esse processo o início do acúmulo de conhecimentos sobre o mundo em que vivemos.
Figura 1 – Pintura rupestre encontrada em uma caverna na França, mostrando cena de animais em movimento.
Tais pinturas foram produzidas por nossos ancestais que ali habitaram há milhares de anos, durante
o período Paleolítico.
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Faça um desenho simples da Terra, do sistema solar e de uma pessoa situada no nordeste brasileiro, de uma no pólo norte e de outra no pólo sul.
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Figura 2 – As esferas de Empédocles.
Modelo de duas esferas de Empedocles noite e dia
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2ª Edição Aula 10 Ciências da Natureza e Realidade
Com o transcorrer da história, o homem foi formulando prováveis descrições de como o mundo é e de como funciona. Durante a Antigüidade Clássica, cerca de 1000-500 a.C., nossa visão de mundo era muito diferente da atual. Imaginava-se que nosso planeta fosse plano! O pensador grego Anaximandro (c. 610-545 a.C.), considerado o pai da astronomia grega, achava que sobre a terra, que era um cilindro plano, havia um vento que trazia o calor do fogo existente no céu. Por outro lado, acertadamente, ele achava que a vida tinha se iniciado no meio aquático e que o homem descendia de animais de outras espécies.
Posteriormente, Heráclito de Éfeso (c. 510-450 a.C.) formulou o que poderíamos considerar as bases do evolucionismo ao afi rmar que a única coisa constante na vida é a mudança. No entanto, sua visão de mundo ainda deixava a desejar, coincidindo com a de uma terra plana. Empédocles (c. 492-430 a.C.) imaginava o mundo como duas esferas: uma interna, que fazia com que existisse o dia e a noite, e outra externa, onde estavam contidos os astros que se via no céu. (A Figura 2 mostra como Empédocles imaginava o mundo).
Anaxímenes (c. 525 a.C.) afi rmou que a Terra fl utuava no ar e que o Sol se escondia atrás de partes altas da terra, tal como atrás de grandes montanhas. Por isso, tínhamos uma variação de dia e noite. Uma representação dessa idéia está mostrada na Figura 3.
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4 Aula 10 Ciências da Natureza e Realidade 2ª Edição
Figura 3 – O mundo fl utuante no ar de Anaxímines.
Aristóteles (384-322 a.C.), um dos maiores gênios que já existiu, imaginava que o mundo era constituído, na verdade, por três mundos: o terrestre (formado pelos quatro elementos: água, terra, fogo e ar);
o lunar (os astros vistos no céu);
o celestial ou supra-lunar (divino).
E a sua “física” vai explicar os fenômenos naturais levando em conta esses três mundos, cada um com suas próprias leis naturais. Por exemplo, ele dizia que o fogo tinha sua chama sempre subindo porque seu estado natural era o espaço. Uma pedra caía pelo simples fato de que era esse seu estado natural e, por isso, quanto maior sua massa, maior sua tendência a permanecer nesse estado. Em conseqüência, ele acreditava que uma pedra mais pesada caía mais rápido do que uma mais leve (esse engano passou quatrocentos anos para ser corrigido, e o foi por Galileu).
Mesmo durante a Idade Média, ainda pensava-se que existia o mundo dos mortos abaixo de nós, o Hades; o Paraíso ou Éden, acima, residência dos deuses e eleitos; e que a terra era plana e cercada por águas.
Figura 4 – Visão mitológica do mundo onde a Terra era plana e envolvida por uma campândula de cristal na qual
estavam fi xadas as estrelas.
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52ª Edição Aula 10 Ciências da Natureza e Realidade
Mas, já no fi nal desse período, na Europa, ressurgiu uma das teorias astronômicas mais belas e efi cazes: o sistema geocêntrico ptolomaico. Formulado por Cláudio Ptolomeu (c.100-170), astrônomo e geógrafo que viveu em Alexandria (lá, trabalhou na famosa biblioteca, lembra da nossa primeira aula?), esse sistema explica com grande simplicidade e efi ciência a evolução e organização dos astros, tendo sido essa teoria ensinada por mais de dez séculos (mil anos!). No entanto, erroneamente, colocava a Terra como centro do universo, ao redor da qual os outros astros giravam.
Em nossa história, posteriormente, existiram alguns grandes cientistas que mudaram defi nitivamente nossa forma de entender o mundo: Copérnico, Galileu, Darwin, Freud, Marx e Nietzsche.
Nicolau Copérnico (1453-1543), em 1543, demonstrou que a Terra gira em torno do Sol e que não é o centro do universo, derrubando, assim, o geocentrismo e substituindo-o pelo heliocentrismo. Com essa teoria, inicia-se o processo de conduzir o homem ao seu devido lugar no cosmos. Essa mudança de referencial da Terra para o Sol representa o que para muitos foi a primeira grande revolução científi ca na história da humanidade.
Posteriormente, Galileu Galilei (1564-1642) apontou seu rudimentar telescópio para o céu, fez observações do Sol, no qual encontrou manchas e, portanto, indícios de que o mundo supra-lunar de Aristóteles não era tão perfeito (comprando uma grande briga com a Igreja Católica da época); da lua, onde descobriu vales e montanhas; de outros planetas, onde descobriu luas (caso de Júpiter); e até da Via Láctea, que revelou-se um berçário de estrelas muito maior do que o simples céu noturno observado a olho nu. Suas observações e análise crítica o levaram a adotar o sistema heliocêntrico de Copérnico.
Das revoluções nos céus, passamos agora para as terrestres. Charles Darwin (1809-1882) derrubou mais um grande mito que nos colocava como o centro da criação, o antropocentrismo. Com sua teoria da evolução, demonstra a origem animal do homem, a qual descende de seres tidos, até então, como inferiores, derrubando junto a teoria criacionista cristã.
Outra grande revolução deu-se quando deixamos de ver nosso planeta como algo inerte, estático, ou seja, como um planeta onde coexistem organismos vivos e uma porção inanimada e independente formada pelos continentes, montanhas, nuvens e oceanos. Por incrível que pareça, até o início do século XX era assim que pensávamos.
Aquela forma limitada de ver a Terra foi auxiliada pela separação das ciências em suas áreas específi cas. Os geólogos e biólogos (para fi car só com essas duas especialidades), em sua maioria, possuíam visões restritas sobre nosso planeta. Do ponto de vista dos geólogos, a Terra era uma bola de rochas sobre um núcleo líquido, umedecida pelos oceanos e com uma tênue camada de ar nos isolando do espaço sideral. Já para os biólogos, os organismos vivos eram entidades isoladas tão adaptáveis que estavam preparados para quaisquer mudanças materiais que pudessem ocorrer durante a história do planeta.
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6 Aula 10 Ciências da Natureza e Realidade 2ª Edição
Hipótese Gaia
Somente na segunda metade do século XX, após as viagens espaciais, a nossa forma de ver o mundo sofreu uma modifi cação muito grande, graças ao surgimento da hipótese revolucionária chamada de “Hipótese Gaia”. Ela foi formulada por James Lovelock (1919), químico britânico independente, com doutorado em Medicina e Biofísica.
Figura 5 – James Lovelock (1919), químico britânico independente com doutorado em Medicina e Biofísica, é o
formulador da Hipótese Gaia.
O nome da teoria foi sugerido pelo escritor britânico William Golding (1911-1993), amigo de Lovelock, e é o nome da Deusa da mitologia grega Gaia ou Geia, a personifi cação da Terra, que representa o elemento primordial do qual saíram as raças divinas. Nasceu depois do Caos (personifi cação da vida primordial, anterior à criação) e antes de Eros (Deus do amor). Sem o auxílio de nenhum elemento masculino, engendrou o Céu (Urano), as Montanhas e o Mar. Os antigos gregos consideravam que Gaia possuía o segredo dos destinos.
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Apesar de não ter formulado a teoria com James Lovelock, muitos outros cientistas se referiram ao assunto antes de Lovelock. Entre outros, podemos destacar:
James Hutton (1726-1797), geólogo escocês, considerado pai da Geologia, em uma reunião da Royal Society de Edimburgo, afi rmou em 1785 que a Terra era um superorganismo e que a ciência mais adequada a ela era a Fisiologia;
Yevgraf Maximovitch Korolenco, cientista e fi lósofo ucraniano independente, que viveu na Cracóvia, afi rmava que a terra é um organismo vivo.
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Atividade 2
2ª Edição Aula 10 Ciências da Natureza e Realidade
Vladimir Vernadsky (1863-1945 – primo de Korolenco), mais tarde notável cientista soviético, fi cava impressionado com a idéia de se pensar a terra como um superorganismo. Vernadsky é o responsável pela, até então, mais completa teoria sobre a biosfera do nosso planeta. Realizou estudos de cristalografi a, mineralogia e geoquímica, além de trabalhos sobre cosmoquímica, radiologia, biogeoquímica; esta última, traçando uma interação entre os solos, oceanos, lagos, rios e a vida que há neles.
Posteriormente, Lewis Thomas (1913-1993), médico norte-americano, sugeriu ser nosso planeta uma célula, com toda a sua complexidade.
Outro marco no desenvolvimento desse pensamento foi em 1900, com a teoria das placas tectônicas formulada pelo geólogo, meteorologista e explorador alemão, Alfred Wegener (1880-1930), afi rmando que os continentes movem-se envolta do planeta como cubos de gelo em um copo. Dessa forma, foi formulada a teoria da deriva continental, isto é, os continentes não possuíam no passado a conformação como vemos hoje em dia e continuam afastando-se uns dos outros.
Mas e o nosso James Lovelock, quando começou a pensar sobre o assunto?
Foi na primavera de 1961, quando trabalhou na NASA (Agência Espacial Norte-Americana) no projeto das sondas Viking, que pretendiam verifi car a existência de vida em Marte. Nessa época, ele chegou à conclusão de que a melhor maneira de se pesquisar a vida em outros planetas seria estudando a composição química de sua atmosfera, o que se poderia fazer daqui mesmo da Terra, observando os espectros atômicos do Albedo do corpo celeste a ser investigado. Sendo assim, não havia a necessidade do envio de sondas espaciais a Marte, visto que já nessa época se dispunha de telescópios de luz infravermelha, necessários para a análise de gases atmosféricos. As expedições seriam então desnecessárias. Isso desagradou seus pares como um desestímulo aos objetivos do projeto. Uma vez realizada a missão espacial em 1975, não foi comprovada a existência de vida em Marte.
Pesquise na Internet sobre o projeto Viking, tentando descobrir:
a) qual o seu objetivo;
b) que experimentos ele propôs para cumprir seu objetivo;
c) qual o resultado desse projeto.
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Segundo Lovelock, a atmosfera de um planeta onde não existe vida deve estar em equilíbrio, isto é, todas as reações químicas possíveis já ocorreram e os gases da atmosfera estão relativamente inertes. Por outro lado, se existe vida, os gases não estão em equilíbrio e muitas reações acontecem. A exceção seria o início e fi m da existência de organismos vivos, quando poderia haver uma atmosfera em equilíbrio químico mesmo na presença de vida.
Levando isso em consideração, podemos traçar um paralelo entre as atmosferas de Vênus, de Marte, da Terra atual e primitiva (tabela a seguir). Observe que Vênus e Marte possuem atmosferas em equilíbrio químico, ricas em dióxido de carbono, com pouco nitrogênio e praticamente sem oxigênio.
O planeta Terra possui atualmente uma atmosfera rica em nitrogênio, pobre em dióxido de carbono e com bastante oxigênio, mas no passado, quando ainda não existia vida, possuía uma atmosfera muito parecida com as dos outros dois planetas.
Tabela 1 – Composição das Atmosferas Planetárias da Terra, de Vênus e de Marte
Gás Vênus Marte Terra sem vida Terra atual
Dióxido de carbono 96,5 98 95 0,003
Nitrogênio 3,5 1,9 2,7 79
Oxigênio Vestígios 0,0 0,13 21
Argônio 70 0,1 1,6 1
Metano (ppm) 0,0 0,0 0,0 1,7
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92ª Edição Aula 10 Ciências da Natureza e Realidade
De acordo com suas composições, Marte, Vênus e a Terra sem vida possuem uma atmosfera sem reações químicas com um gás caracteristicamente redutor, o dióxido de carbono (CO2).
A Terra atual, rica em vida, possui uma atmosfera altamente oxidante e reativa devido à presença de oxigênio (O2). A atmosfera de hoje é constituída por uma rara e instável mistura de muitos gases, indicando que não está em equilíbrio químico, estando, no entanto, bem adaptada às necessidades da vida. Por essa óptica, espera-se que exista vida na Terra, o que todos nós sabemos ser verdade.
Os níveis atuais de oxigênio e dióxido de carbono em nossa atmosfera são ideais. Menos oxigênio comprometeria a respiração dos seres vivos; mais (por exemplo, 25 ao invés dos 21%), o planeta arderia em chamas espontaneamente. Sem o dióxido de carbono não haveria a fotossíntese e uma quantidade maior levaria a um aquecimento do mar e da atmosfera. Ao consumir e exalar esses gases, os seres vivos ajudam a mantê-los em equilíbrio. Lovelock sugere que a vida em si mantém a composição da atmosfera.
No caso da atmosfera terrestre, foram necessários aproximadamente dois bilhões de anos para que o nível de oxigênio livre imerso nela atingisse valores próximos ao observado hoje em dia. Sendo que somente há cerca de 600 milhões de anos, a quantidade de oxigênio disponível na atmosfera terrestre e nos oceanos tornou-se sufi cientemente alta, possibilitando o surgimento dos animais. Foi o surgimento da vida vegetal que possibilitou a produção de oxigênio em quantidade sufi ciente para permitir a eclosão de vida animal!
Um novo olharAo voltar o olhar do espaço sideral e dos planetas do sistema solar para a Terra, Lovelock
lançou uma nova forma de ver nosso planeta como até então ninguém havia feito.
A primeira vez que Lovelock expôs essa teoria foi em 1972, em uma nota na revista Atmospheric Environment, com o título “Gaia vista através da atmosfera”. Utilizou como embasamento a composição química da atmosfera e seu estado de desequilíbrio químico. Posteriormente, ele publicou artigos juntamente com a bióloga e evolucionista americana Lynn Margulis (1938). Em 1979, publicou o primeiro livro sobre o assunto, Gaia, um novo olhar sobre a vida na Terra. Esse livro começou a ser escrito em 1975, quando o módulo espacial Viking estava para aterrissar em Marte.
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Figura 6 – Foto da sonda Viking envida para marte. Font
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O ponto chave da hipótese Gaia é que esta prevê que o clima e a composição química da Terra são mantidos em equilíbrio. Nosso planeta age como um sistema que se auto-regula, sendo estabilizado por mecanismos físicos, químicos, geológicos e biológicos que interagem para manter o que podemos chamar de homeostasia. Assim, precisamos ver o planeta Terra como uma entidade complexa envolvendo a biosfera terrestre, a atmosfera, a hidrosfera e a litosfera. Através de Gaia, a Terra mantém um equilíbrio com condições relativamente constantes.
Lovelock chamou essa ciência de Geofi siologia, a fi siologia da Terra ou de outro planeta. Gaia pode ser entendida como o estudo da fi siologia de nosso planeta em que os oceanos e rios são o sangue, a atmosfera, os pulmões, a terra, os ossos e os organismos vivos, os sentidos. Podemos imaginar o homem como o sistema nervoso?
Essa teoria deixa de lado a visão de nosso planeta como um monte de rochas resfriadas na superfície e líquidas em seu interior, como até então se considerava, e a descreve como uma espécie de superorganismo, que funciona como um sistema dinâmico capaz de regular a composição atmosférica, o clima e a salinidade dos mares, o que manteria esse sistema sempre adequado para a vida.
A hipótese Gaia pressupõe que nosso planeta esteja vivo, levando-nos ao conceito de vida. Essa é uma tarefa difícil. Todos nós sabemos o que ela é, mas como objeto de investigação científi ca, que exige uma defi nição precisa, fi ca muito difícil de formular.
Segundo o dicionário Aurélio, vida significa: “Conjunto de propriedades e qualidades graças às quais animais e plantas, ao contrário dos organismos mortos ou da matéria bruta, se mantêm em contínua atividade, manifestada em funções orgânicas, tais como o metabolismo, o crescimento, a reação a estímulos, a adaptação ao meio, a reprodução, e outras; existência...”
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Atividade 3
2ª Edição Aula 10 Ciências da Natureza e Realidade
Mas, como defi nir nosso planeta Terra como uma entidade viva? Lovelock acredita que o sistema associado de vida e ambiente em Gaia inclui:
organismos vivos que crescem explorando oportunidades ambientais que apareçam;
organismos sujeitos às regras da seleção natural, sobrevivendo os mais aptos a se reproduzirem;
organismos que afetam o meio ambiente físico e químico. Os animais, através da respiração, quando inspiram o oxigênio e expiram o gás carbônico e as plantas e algas fazendo o inverso. E de outras maneiras específi cas;
a existência de restrições e limites para a vida, tais como os fatores: temperatura, concentração de compostos químicos, entre outros.
A Terra é um planeta muito especial e, ao compararmos com os outros de nosso sistema solar, vemos que ele se destaca por sua diversidade de tons e movimentos. Girando na imensidão do cosmos, ela nos carrega, nos sustenta em seu ventre como “uma mãe”. À luz dos conhecimentos adquiridos até agora, dentro do contexto desta aula, faça uma interpretação do seguinte trecho da música Terra, de Caetano Veloso, que compôs em 1978, após observar fotos de nosso planeta tiradas do espaço.
De onde nem tempo nem espaçoQue a força mande coragem
Pra gente te dar carinhoDurante toda a viagemQue realizas no nada
Através do qual carregasO nome da tua carne
Terra, TerraPor mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
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132ª Edição Aula 10 Ciências da Natureza e Realidade
Uma analogia interessante para se entender Gaia é levarmos em consideração uma grande árvore. Nela, cerca de 97% dos seus tecidos estão mortos, as células vivas resumem-se a uma pequena porção periférica de células ao longo do tronco. Essa situação é similar à litosfera terrestre, que possui uma fina camada de organismos vivos espalhados ao longo de sua superfície. Nossa atmosfera protege os tecidos vivos como as folhas da árvore e permite uma importante troca biológica de gases como dióxido de carbono e o oxigênio. No entanto, as partes não vivas da árvore são imprescindíveis para a manutenção de sua vida. Dessa mesma forma, as partes não vivas do nosso planeta estão envolvidas em muitos processos, sugerindo que toda a Terra é viva como uma grande árvore.
Outro aspecto interessante é em relação à temperatura. Nossos corpos, através de um conjunto complexo de fatores, verifi ca e equilibra nossa temperatura corporal em aproximadamente 37ºC. Por isso, se estamos em um local de baixa temperatura, trememos de frio para aquecer nosso corpo, e se estamos em um local quente, suamos para resfriar a pele. Nosso planeta se aquece com a energia do Sol e, como conseqüência, temos o fenômeno do Albedo. Ele interfere na cor do nosso planeta e em sua capacidade de absorver e refl etir luz, infl uenciando também em sua temperatura.
Note que a temperatura de uma superfície escura é maior do que de uma superfície clara, como acontece quando pisamos descalços sobre o asfalto ou sobre uma calçada branca. Isso ocorre porque superfícies escuras absorvem mais do que refl etem os raios do sol, fato que se dá inversamente nas superfícies claras.
O mundo das margaridasNuma tentativa de exemplifi car como nosso planeta funciona, Lovelock sugere que
imaginemos um mundo em que só existam três formas de vida: margaridas brancas, margaridas pretas e vacas cinzentas.
As margaridas pretas, devido a sua cor, absorvem mais energia solar e se aquecem mais rápido do que as margaridas brancas. Imaginemos que o mundo das margaridas esteja inicialmente muito frio. Nessa condição, as margaridas pretas teriam vantagem biológica sobre as brancas e cresceriam mais rapidamente, aumentando sua população e escurecendo a superfície do planeta.
Com a superfície mais escura, o planeta absorve mais energia solar e começa a se aquecer. O aumento da temperatura faz com que as margaridas brancas comecem a ter vantagem sobre as pretas e cresçam mais depressa, aumentando sua população. Brevemente, haverá mais fl ores brancas do que pretas e a superfície do planeta irá refl etir mais energia solar e voltará a se resfriar. E as vacas? Bem, as vacas estarão sempre comendo as margaridas, sejam elas pretas ou brancas.
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Que fatores controlam a abundância de nuvens?
Quando você estudou o ciclo da água na aula 5, viu a relação existente entre os fenômenos de evaporação e precipitação da água, sendo as nuvens o elemento intermediário entre esses fenômenos. Outros aspectos importantes são as frentes frias e os efeitos das chuvas sobre a camada de nuvens do nosso planeta.
Visto que os oceanos cobrem dois terços da superfície terrestre, eles têm uma importância fundamental na formação das nuvens e são o principal elemento na regulação da temperatura do nosso planeta. Principalmente devido à produção do gás carbônico produzido por organismos marinhos do fi toplâncton, que através do efeito estufa mantém a Terra na temperatura à qual estamos acostumados. Assim, aumentando artifi cialmente a quantidade de CO2, estamos contribuindo para o aumento do efeito estufa e, portanto, para a elevação da temperatura do planeta.
Atualmente, estamos assistindo a um aumento da temperatura na Terra. Você estudou isso na aula 8, sobre clima, e deve se lembrar que esse fenômeno é devido à emissão de gases, principalmente dióxido de carbono, na atmosfera terrestre. Segundo alguns cientistas, esse aquecimento age como uma armadilha para Gaia: o calor proveniente do efeito estufa gera ainda mais calor, num círculo vicioso. No entanto, Gaia tem como dar resposta e se adaptar.
Segundo Lovelock, esse modelo pode ser representado com muito mais espécies de matizes intermediários. Mas, sempre obedecerá aos mecanismos adaptativos postulados por Charles Darwin.
Voltando à Terra, áreas escuras, como montanhas, fl orestas ou o oceano, tendem a absorver energia do Sol. Ao contrário, as áreas claras, tal como desertos, áreas nubladas ou calotas polares, tendem a refl etir a energia solar para fora da Terra. Você já percebeu que o Albedo não é idêntico e constante em todo o planeta? Uma das coisas é que as nuvens auxiliam na regulação da temperatura global. Quanto mais nuvens, mais luz será refl etida pela Terra, a qual resfriará. Menos nuvens, mais energia solar atinge a superfície terrestre, que esquentará.
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152ª Edição Aula 10 Ciências da Natureza e Realidade
O destino da Terra
Muitos povos já tentaram imaginar, ou mesmo prever, como será o destino do planeta Terra. Os astecas achavam que o Sol morreu e ressuscitou quatro vezes e que, caso morra novamente, não mais ressuscitará. Com facas de pedra, os sacerdotes desse povo trinchavam corações humanos em sacrifícios, tentando manter o Sol e o mundo vivos.
Os indus acreditam que não existe fi m, e que a morte é sempre seguida pelo renascer, sendo o Deus Brama o responsável pela destruição e renascimento. Os antigos islandeses acreditavam que Odim, ainda jovem, teve a visão de que o mundo terminaria em uma grande batalha quando homens e deuses sucumbiriam. Uma tribo do gabão, os Fang, imaginam que um dia o Sol caçará as estrelas e a Lua e as comerá.
Os cientistas hoje acreditam que uma estrela média como o Sol, que tem cinco bilhões de anos, vive em média dez bilhões de anos. Como você já estudou na aula sobre o Sol, o processo de extinção de uma estrela ocorre porque, devido à alta pressão e temperatura em seu interior, ocorre a fusão do hidrogênio, que ao se fundir transforma-se em hélio. Nesse processo, a massa inicial é menor que a fi nal e essa diferença é transformada em energia. Por outro lado, o He assim gerado é mais denso e impede que a energia do Sol se dissipe, levando a um aquecimento progressivo da estrela, que culmina com a sua explosão. Nesse momento, a temperatura solar chegaria a 100 milhões de graus centígrados, expandindo-se violentamente. Nesse caso, a Terra será carbonizada pela alta temperatura. Mercúrio e Vênus, por estarem mais próximos, serão os primeiros a sucumbirem à catástrofe.
Mas, não se deprima. Isso provavelmente ocorrerá daqui a cinco bilhões de anos! Até lá, caso nossa espécie ainda exista, provavelmente teremos desenvolvido tecnologia que nos permita colonizar planetas fora de nosso sistema solar.
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A terceira grande extinçãoCenários atuais e não menos fatídicos que a explosão solar podem levar à destruição de
nosso planeta. Isso deve-se ao fato de que a Terra está viva, podendo sofrer alterações.
Mais preocupante são os acontecimentos atuais que dizem respeito a extinções de seres vivos. Na história de nosso planeta, já ocorreram várias extinções. Destas, pelo menos duas foram em grande escala. A primeira ocorreu há 250 milhões de anos, quando cerca de 90% de todos os seres vivos do planeta pereceram (alguns autores se referem a um número entre 92-95%). A segunda grande extinção ocorreu há 65 milhões de anos, quando 50% de todas as espécies morreram, incluindo os últimos dinossauros. Para nosso alívio, e por isso estamos aqui agora, os primeiros ancestrais mamíferos do homem sobreviveram à primeira catástrofe e nossos ancestrais primatas, à segunda.
No entanto, para nosso desespero e preocupação, a terceira grande extinção em massa está em progresso. Tudo começou há 100 mil anos, quando nosso planeta começou a sentir o impacto causado por uma nova espécie, o Homo sapiens. Hoje, estamos sujeitos a mudanças climáticas, devido à exploração dos recursos naturais de forma desordenada, causada pela grande explosão populacional que nossa espécie vem sofrendo.
Dez mil anos atrás a população mundial era de cerca de cinco milhões de habitantes. Em 1850, havia 1 bilhão, em 1950, 2,5 bilhões. Acredita-se que em 2020 haverá pelo menos 8 bilhões de seres humanos no planeta. Nossa espécie alcançou esse sucesso graças ao somatório de alguns aspectos, desde uma forma impressionante de adaptação ao meio ambiente, ao desenvolvimento de um sistema nervoso altamente efi ciente. Aparentemente, somos os únicos seres vivos capazes de olharmos criticamente para nosso passado e presente e sonharmos com nosso futuro.
Encontramo-nos hoje em uma encruzilhada nunca dantes atingida por nenhuma das civilizações que nos precederam. De um lado, temos a ciência e a técnica necessárias para levar nosso planeta adiante, preservando ao mesmo tempo o ambiente, a vida e a sociedade. Por outro lado, temos o poder, a ambição e o fanatismo sufi cientemente aguçados para utilizar essa mesma ciência e técnica para provocar a destruição do meio ambiente e de nossa própria espécie. Desse modo, é pertinente afi rmar que o nosso futuro depende cada vez mais das decisões individuais e coletivas que tomamos hoje.
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ResumoNesta aula, você estudou como, no decorrer dos anos, os seres humanos modifi caram a sua forma de ver o planeta Terra, inicialmente como uma entidade estática até a Teoria Gaia, que o descreve como uma entidade dinâmica e interativa.
Auto-avaliação
Sistematize o pensamento do homem em relação ao nosso planeta no decorrer dos anos, desde a Antigüidade Clássica até os dias de hoje.
Sintetize a forma da Teoria Gaia de ver o mundo.
Explique o “Mundo das Margaridas”, segundo Lovelock.
Relacione as formas através das quais nossa sociedade atual vem interferindo no meio ambiente.
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Referências
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EMENTA
> Franklin Nelson da Cruz
> Gilvan Luiz Borba
> Luiz Roberto Diz de Abreu
A Ciência e seus métodos, levantamento da realidade local, o Universo, o Sistema Solar e a Terra, a atmosfera e o clima, a biosfera, a hidrografi a, a fl ora e a fauna, a interferência humana no meio ambiente, uma primeira identifi cação de problemas ambientais.
CIÊNCIAS DA NATUREZA E REALIDADE – INTERDISCIPLINAR
AUTORES
AULAS
01 Situando a Ciência no Espaço e no Tempo
02 A Terra – litosfera e hidrosfera
03 A Terra – atmosfera
04 Bioma Caatinga – recursos minerais
05 Bioma Caatinga – recursos hídricos
06 Bioma Caatinga – recursos fl orestais e fauna
07 Interação Sol – Terra: fl uxos de Energia
08 Clima e tempo
09 O Homem – origens
10 A Hipótese Gaia
11 Poluição
12 Ciência e ética
13 Ciência, Tecnologia e Sociedade
14 Universo: uma breve apresentação
15 O Nordeste, o Homem e a Seca: natureza de uma realidade
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