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A DIDATIZAÇÃO DA OBRA ADAPTADA “A ODISSEIA” DE RUTH ROCHA COMO FRUIÇÃO À LEITURA
Autora: Sandra Marli Trindade1
Orientadora: Karine Marielly Rocha da Cunha2
Resumo
Este artigo, parte da implementação do projeto PDE, tendo por objetivo apresentar uma intervenção pedagógica realizada no Colégio Estadual Avelino Antonio Vieira – Ensino Fundamental e Médio, colégio da rede pública do Estado do Paraná. Percebendo-se a relevância de trabalhar com a didatização da obra adaptada de Ruth Rocha como fruição à leitura e da apreciação do filme “A Odisseia”, que conta a aventura de Ulisses relatada na obra, deu-se início às demais atividades de contextualização histórica e outros itens trabalhados a partir desta literatura. Os alunos de 6ª séries participaram das atividades no ambiente escolar e também fora dele. Nesse artigo analisaremos o resultado do ponto de vista da reelaboração de significado apreendido depois da leitura da obra de (re)contar o que foi lido por meio de História em Quadrinhos. Os resultados obtidos demonstram que a leitura da obra serviu de incentivo para outras leituras e também percebemos que dessa forma podemos desenvolver o potencial de leitura dos educandos, o potencial de usar outro suporte linguístico para transmitir uma mensagem e melhorar o rendimento da aprendizagem, usufruindo de outras obras literárias sempre tão presentes no cotidiano escolar e no patrimônio cultural da humanidade.
Palavras-chave: leitura; retextualização; história em quadrinhos; literatura
adaptada; Odisseia.
1 Introdução
Este artigo tem por objetivo principal relatar as experiências vivenciadas na
escola durante a implementação do projeto PDE, Programa de Desenvolvimento
Educacional, organizado pela SEED - Secretaria Estadual de Educação.
Escolhemos a leitura desta obra por fazer parte do imaginário dos povos gregos e
também por instigar o imaginário dos educandos dessa faixa etária. O ato da leitura
1 Liderança no Espaço Escolar: Supervisão e Orientação; Letras Português/Inglês; Colégio Estadual
Avelino Antônio Vieira – Ensino Fundamental e Médio. 2 Doutorado em Linguística Geral e Semiótica; Mestrado em Filologia e Língua Portuguesa;
Letras/Tradução Francês/Italiano ; UFPR; Professora Adjunta I .
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pode apresentar algumas dificuldades, tais como a compreensão de algumas
palavras ou não entendimento do momento histórico a narrativa aconteceu. Mas,
não se compreende um texto tentando decodificar os sentidos das palavras, pois o
leitor faz, em algum momento da leitura, inferências com seu mundo, percebe seu
vocabulário, procurando entender o sentido do texto e o vivencia. Para quem intui a
formação de leitores competentes dos mais diferentes gêneros textuais, deve-se
primeiramente considerar os conhecimentos prévios que o aluno possa ter para que
seja capaz de construir significados e analise criticamente o seu contexto de vida,
sendo criativo, participantes das transformações sociais e seja um leitor consciente.
É de responsabilidade da escola, fazer com que o aluno amplie de forma
adequada seus conhecimentos linguísticos por meio do uso da língua oral e escrita,
adaptando-as às diferentes situações de uso da linguagem em sua trajetória de vida,
interagindo melhor em suas práticas sociais, vivenciando e se ajustando à sua
realidade.
Assim, cabe à escola e ao professor propiciar situações para maximizar o
potencial leitor, escritor e a oralidade de seus alunos, propondo estratégias de leitura
através de gêneros textuais diversificados e autores competentes. O estímulo deve
acontecer principalmente no ambiente escolar, espaço de aprendizado propício a
novas descobertas.
2 As atividades desenvolvidas
Em nosso trabalho procuramos propor atividades didáticas contextualizadas
de Língua Portuguesa, centradas na leitura, tendo como pressupostos teóricos a
literatura, e, como objeto de estudo e ensino a obra adaptada “Odisseia” de Ruth
Rocha, Companhia das Letrinhas (2000).
Para implementação do projeto, foram necessárias 42 horas aulas.
De acordo com o proposto pela Diretriz Curricular de Língua Portuguesa da
Secretaria de Educação do Estado do Paraná, partirmos de uma reflexão sobre a
linguagem como discurso enquanto prática social e em seguida apresentamos o
livro/texto como objeto de estudo e os objetivos dessa leitura, bem como as práticas
de análise discursiva que vislumbram a apropriação de leitura e compreensão dos
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diferentes gêneros textuais produzidos socialmente e ao longo da história dos
homens.
2. 1 Promovendo a leitura da obra
Os primeiros momentos de atividades foram explanações orais e
levantamento dos conhecimentos dos alunos a respeito dos povos gregos e da sua
tão instigante mitologia.
Alguns educandos já haviam lido a obra, mas a maioria ainda não a conhecia.
Sendo assim, muitos também repetiram a leitura.
Após leitura, foram comentadas as características mais marcantes de cada
personagem e, das partes de maior empolgação da narrativa.
Ao se propor o trabalho com o texto literário como objeto de estudo e de
ensino nas aulas de Língua Portuguesa, pretende-se ensinar ao aluno um
determinado gênero de texto, que ele possa se apropriar por meios de atividades de
análise discursiva e linguística e:
Analisar os textos produzidos, lidos e/ou ouvidos, possibilitando que o aluno amplie seus conhecimentos linguístico-discursivos; Aprofundar, por meio da leitura de textos literários, a capacidade de pensamento crítico e a sensibilidade estética, permitindo a expansão lúdica da oralidade, da leitura e da escrita; Aprimorar os conhecimentos linguísticos, de maneira a propiciar acesso às ferramentas de expressão e compreensão de processos discursivos, proporcionando ao aluno condições para adequar a linguagem aos diferentes contextos sociais, apropriando-se, também, da norma padrão. (PARANÁ, 2008, p. 54)
O uso da obra adaptada “Odisseia” mostrou-se uma estratégia de leitura
atraente para alunos da faixa etária entre 11 e 13 anos e também uma forma de
vencer a adversidade criada em relação aos textos literários. Após a leitura os
alunos relataram suas impressões e colocaram-na em um portfólio, que também
serviu para arquivo de outras atividades relacionadas adiante.
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2.2 Apreciação do filme “Odisseia”
Ao assistirem ao filme, os alunos conseguiram ter algumas ideias acerca da
obra de Homero. O filme “Odisseia” relata a importante saída de Odisseu de sua
ilha, Ítaca, logo após o nascimento de seu filho Telêmaco, para lutar na guerra de
Tróia e sobre sua volta conturbada após vinte anos de sofrimento na guerra e depois
perdido no mar e em cativeiros. Odisseu tinha uma meta na sua vida, que era
retornar aos braços da sua amada Penélope e para o maior conhecimento do seu
filho deixado, após o seu nascimento. Odisseu e enfrenta muitas dificuldades para
retornar à ilha de Ítaca, tendo que enfrentar diversos deuses e monstros mitológicos.
Após superar muitas barreiras ele chega à ilha, no tempo combinado com Penélope,
já que havia dito a Penélope que se não chegasse até o dia em que nascesse a
primeira barba em Telêmaco ela poderia casar. Na chegada Odisseu encontra com
seu filho que não o reconheceu no primeiro momento.
Odisseu vai até sua casa, onde estavam reunidos os homens que queriam
tomar posse do seu reinado e entra na disputa para ver quem consegue atirar com
os arcos as flechas e passar por todos os buracos. Com isso, Odisseu toma o arco
nas mãos e acerta o alvo, passando por todos os buracos da flecha e continua com
seu reinado nas mãos, juntamente com sua amada Penélope. Foi relevante manter
contínua a participação dos alunos proporcionando momentos interessantes e
elucidativos no que se refere às questões históricas mencionadas no filme, como
exemplifica a atividade a seguir.
Fonte: Trabalho da aluna L.P.S.
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2.3 Conhecendo a Grécia Antiga
Nesta atividade procurou-se compreender a evolução histórica da Grécia
Antiga, como ela se dividia em quatro períodos, que são conhecidos como Pré-
Homérico, Homérico, Arcaíco e o Período Clássico. Ao estudarmos os fatos
históricos entendemos o porquê de muitos fatos serem explicados
predominantemente por mitos. Os gregos acreditavam em deuses, mitos, lendas e
criaturas mágicas. A história de Odisseu se passa entre os séculos XII ao VII a.C,
quando a Grécia saía do que se chama a fase obscura, devido à dissolução dos
gênos e a consequente formação das cidades-estados. Os alunos descreveram
quem foram os gregos, suas características mais marcantes, tais como marinheiros
destemidos, possuidores de grandes habilidades marítimas, que cruzaram os mares
como também fizeram os Cartagineses e os Fenícios. Puderam também entender
sobre as principais contribuições da Grécia Antiga para mundo Ocidental e como ela
se relaciona ao desenvolvimento harmonioso do indivíduo (corpo e mente), a cidade-
estado, a democracia, a filosofia, os mitos e a arte.
Fonte: Trabalho da aluna I.T.G.
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Fonte: Trabalho da aluna J.T.G.
2.4 Localização no mapa
Os alunos pesquisaram mapas e fizeram a localização dos ambientes onde
se passam as principais aventuras vividas por Odisseu, relatando os fatos de
maneira sintetizada, de acordo com o relato citado na obra. Também foi
oportunizado que os alunos apontassem, no mapa da Grécia Antiga, a suposta
localização do Monte Olimpo, local da morada dos deuses.
2.4 Montagem do glossário
A proposta de montagem do glossário visou a um conhecimento dos termos e das
palavras usadas na obra e que fugiam à compreensão do alunado. As palavras
foram pesquisadas em dicionários e também em sites da internet no laboratório do
colégio. Os alunos mostraram-se instigados a conhecer o vocabulário usado para
nomear os seres e as criaturas que faziam parte do imaginário do povo grego da
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mesma forma como procuravam entender como viam os acontecimentos naturais
como obra de alguma divindade. Dessa forma, entenderam que as mais
complicadas indagações que envolviam os povos gregos foram transmitidas de
geração para geração, em forma de mitos, representação históricas exemplares,
chegando até ao nosso conhecimento de uma forma tão atraente.
Fonte: trabalho da aluna I.T.G.
Fonte: trabalho da aluna I.T.G.
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2.5 Charge sobre Monte Olimpo
Os alunos puderam ir até o laboratório de informática do colégio, apreciar a
charge de cartunista Bira, fazendo apontamentos e inferências aos dias atuais.
E, em seguida, produziram uma reflexão escrita sobre o fato. (Charge
disponível em http://andersonferreiralog.blogspot.com/2010/01/charges-piadas.html)
Fonte: Trabalho do aluno P.T.T.L.
Fonte: Trabalho da aluna A.A.
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2.6 Conhecendo Ulisses e os heróis da trama
Esta atividade proporcionou aos alunos um maior conhecimento sobre
Ulisses, personagem principal da trama, fizeram pesquisas, descreveram sua
personalidade e sobre sua bravura enfrentando as inúmeras dificuldades que passou
para poder retornar ao seu lar. Puderam entender que os heróis mortais também
tinham um papel importante na mitologia grega. Para essa atividade inspiraram-se
nas imagens postadas a seguir:
Ilustração 1: Polifemo - Personagem da Trama Fonte: Danilo Trindade da Silva
Ilustração 1: Polifemo - Personagem da Trama
Fonte: Danilo Trindade da Silva
Ilustração 2: Poseidon - Personagem da Trama Fonte: Danilo Trindade da Silva
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Ilustração 3: Atena - Personagem da Trama Fonte: Danilo Trindade da Silva
Ilustração 4: Odisseu - Personagem da Trama Fonte: Danilo Trindade da Silva
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2.7 Produção de História em Quadrinhos
Esta atividade teve como proposta a recontagem dessa consagrada história
de uma forma bastante lúdica: a História em Quadrinhos. Sabedores do valor que
existe nessa adaptação da obra adaptada, Odisseia, foi destacado para essa
atividade os fatos mais marcantes da trama.
Angela Rama afirma que existem algumas formas de se utilizar as HQs em
sala de aula como forma de ilustrar uma ideia acerca de como eram alguns aspectos
da vida social de comunidades do passado; serem lidas e estudadas como registros
de uma época; ou servirem como ponto de partida para discussões conceituais,
entre outras características ou conteúdos históricos relativos a outros contextos ou
sociedades humanas (Como usar as Histórias em Quadrinhos na sala de aula,
2005).
Levando em consideração essa ideia, orientamos os grupos de alunos
escolher uma das partes da história e também uma forma que lhes fossem
conveniente para a montagem dos quadrinhos. Puderam fazer desenhos dos
personagens e utilizar impressão e cópias recortadas. Outro elemento importante
que foi observado foi o da linguagem, que deveria ser colocada de forma bem
resumida, da mesma forma as falas foram sintetizadas para serem escritas em
balões. Outros elementos, como o uso de onomatopeias deram maior vivacidade à
narrativa. Procuraram manter fidelidade ao descrito na narrativa no que dizia
respeito ao cenário, lembrando que nas histórias em quadrinhos o que é mais
expressivo é a imagem. Como cada grupo ficou com uma parte do resumo para
confecção da história, o resultado compôs a trajetória de Ulisses na Odisseia.
Por considerar a parte de maior envolvimento, resultado e interesse dos
educandos, neste artigo, analisaremos e retomaremos a essa questão do ponto de
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vista da retextualização do significado apreendido por meio da produção em
quadrinhos no item quatro deste artigo.
2.8 Sugestão de Jogo Eletrônico
Como atividade lúdica e de conclusão, sugerimos aos alunos que fizessem o
download e o cadastro do jogo eletrônico livre Grépolis e o jogassem como forma de
atividade de conhecimento e de lazer. Esse jogo encontra-se disponível
gratuitamente no site http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/mitologia-
grega/odisseia.php.
3. Trabalho com o Grupo de Trabalho em Rede – GTR
O GTR – Grupo de Trabalho em Rede – voltado à formação e à socialização
de professores da Rede Pública Estadual de Ensino, por meio das interações dos
participantes, trouxe um enriquecimento significativo à proposta de trabalho
desenvolvido na escola.
As atividades do GTR foram realizadas de acordo com o Projeto de
Intervenção Pedagógica na Escola – A didatização da obra adaptada Odisseia como
fruição à leitura, teve como meta o desenvolvimento e a ampliação da capacidade
leitora, da competência comunicativa e da criatividade por meio do trabalho
sistemático de leitura de texto literário.
A Produção Didático-Pedagógica com o mesmo título do projeto, promoveu a
integração dos professores da rede por meio de interações, resultando em
sugestões de práticas educativas que incentivam novas perspectivas para a
articulação de estratégias de ensino-aprendizagem com base em texto adaptado da
literatura clássica.
Em torno dessa obra adaptada, demonstrou-se as possibilidades de práticas
de leitura e reflexão sobre a literatura e das produções propostas, que servem de
incentivo ao trabalho docente e também como alternativa de apropriação de
conhecimento literário clássico.
Ao apontar uma metodologia de apropriação dos textos e da cultura representada pela literatura, indica-se um caminho que é, simultaneamente,
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de valorização da autonomia do jovem, porque lhe dá a possibilidade de ser autor crítico das leituras que faz, e também de atualização da cultura, por via da mobilização de outros saberes e práticas com o potencial de criar uma comunidade de sentido organizada a partir do que lê”. (FILIPOUSKI, Ana Maria & MARCHI, Diana Maria, 2009, p.26)
Os Fóruns das Temáticas I, II e III trataram do Projeto, do Material Didático
produzido e da Implementação Pedagógica do Projeto na escola. Os professores
participantes socializaram informações referentes à proposta e apresentaram suas
considerações a partir dos resultados disponibilizados pela professora tutora.
Advindas do conhecimento e da vivência de cada um, propuseram sugestões de
atividades significativas, envolvendo conceitos, procedimentos e reflexões, a fim de
dinamizar e enriquecer a prática pedagógica, sempre em busca de um ensino-
aprendizagem de qualidade.
4. A História em Quadrinhos como “retextualização” a partir da leitura da
Odisseia de Ruth Rocha
Quando enfatizamos o aspecto positivo das histórias em quadrinhos no
contexto da sala de aula podemos estar gerando uma polêmica, porém ao
conhecermos as muitas experiências que muitos educadores têm conseguido
realizar a partir dessa atividade pode-se comprovar a eficácia da mesma como um
bom instrumento de ensino de leitura, releitura, retextualização e produção de texto.
Tanto a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) quanto os PCNs (Parâmetros
Curriculares Nacionais) contemplam o uso das histórias em quadrinhos como
recurso didático-pedagógico. Essa ideia encontra-se atrelada à formação de leitores
ativos e competentes, não um sujeito passivo, mas sim um sujeito que constrói
significados a partir do que lê, que busca autonomia e não verdades prontas. Torna-
se primordial, sobretudo no espaço escolar, expor ao aluno os diversos tipos de
gêneros: literários, poéticos, informativos, dissertativos, publicitários e narrativos
(nos quais encontramos as histórias em quadrinhos).
É a partir do contato com a diversidade de textos, que acreditamos ser
possível estabelecer contrapontos, esclarecendo ao alunado que cada texto tem sua
especificidade e pode proporcionar uma interpretação diferenciada, sendo preciso
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oportunizar o debate, a exposição de ideias, criticas e argumentos, análise da
construção de um texto e também os sentidos a ele atribuídos. Sendo assim,
A criança e o adolescente precisam de um espaço para poder expressar o que a obra, seja ela qual for, suscitou dentro deles. [...] Se essas instituições forem de modelo autoritário, não haverá o necessário diálogo e as pequenas cabeças serão talhadas conforme a censura dos adultos decidir que devem pensar. Se forem igualitárias, mesmo diante de conflitos interpretativos, ideias e crenças serão postas em circulação irrestrita e cotejadas com os fatos concretos, alargando-se a visão de mundo dos leitores, tanto adultos como jovens. (ZILBERMAN, 1993, P.12)
Do ponto de vista da narrativa, a História em Quadrinhos, da mesma forma
que outros produtos ficcionais (romances, filmes para cinema, telenovela e
minisséries, entre outros), apresentam elementos que devem ser levados em
consideração quando de sua leitura e análise: personagens, narração, tempo,
espaço. A trama principal da Odisseia traz em seu relato todos esses elementos
básicos e dessa forma, tornou-se viável o trabalho de retextualização por meio de
Histórias em Quadrinhos com os educandos. Obviamente que adaptações foram
necessárias para se dar conta de um enredo cheio de detalhes como esse.
4.1 Processos de retextualização
A atividade de retextualização de um texto ou de uma obra literária, envolve a
produção de um novo texto, da criação e utilização de um outro gênero. O que
significa dar ao texto uma nova ressignificação do entendimento da leitura. Significa
que o sujeito ou o educando estará trabalhando suas habilidades linguísticas tendo
em vista uma nova situação de interação. O educando tem a possibilidade de
reescrever a história usando a intertextualidade. Como enfatiza MARCUSCHI (2001,
p. 47) esse processo “não é a passagem do caos para a ordem: é a passagem de
uma ordem para outra ordem”. Por isso é preciso levar em conta, no começo do
processo a compreensão do que se quer retextualizar. Isso envolve operações de
substituição, reordenação, ampliação, redução e mudanças de estilo, tomando
cuidado para não alterar a essência da informação ou o valor contido no conteúdo
da obra ou texto lido. Deve-se manter fidelidade ao texto.
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Estar vivenciando esse processo é bastante significativo, já que envolve
análise, síntese, seleção e organização de informações, habilidades cognitivas
fundamentais para a efetivação dos atos de ler e de escrever.
O processo de construção de uma História em Quadrinhos, não exclui uma
análise do processo de construção de leitura. Nesse sentido, nosso principal
propósito, além de contribuir para a inserção cultural e social dos nossos alunos, no
mundo letrado, dá oportunidade aos alunos de vivenciar uma nova experiência e
fazer do aprendizado algo mais lúdico no ambiente escolar.
A aplicabilidade das operações de retextualização permite que os alunos
cheguem à percepção de como realmente os textos falados e os escritos se
constituem.
4.2 Descrição Metodológica
A produção de texto via retextualização permitiu que estabelecêssemos
reflexões sobre o processo de produção de história em quadrinhos, uma vez que o
texto sofreria notáveis modificações na sua forma. Por exemplo, o texto escrito
precisou ser dividido em cenas que comporiam os futuros quadrinhos. Os autores
das produções precisariam tomar decisões sobre como desenhar os personagens
e o cenário, como fazer o enquadramento das cenas. O texto escrito precisou ser
sumarizado e o discurso que prevaleceu foi o indireto. Essa atividade ficou rica e
permitiu a apropriação de uma realidade e sua reorganização. Professora e alunos
tiveram oportunidades de vivenciarem uma complexa e agradável experiência de
produção textual.
Para fazer esse trabalho com a turma de alunos seguimos o esquema abaixo:
Apresentação da obra adaptada Odisseia de Ruth Rocha.
Breve comentário sobre a obra e sobre o poema original de Homero, sua
importância para a humanidade.
Leitura do livro em sala de aula e em casa.
Apreciação do filme A ODISSÉIA (The Odyssey, EUA 1997) Direção: Andrei
Konchalovsky.
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Comentários sobre o filme e comparações e apontamentos sobre ele.
Apresentação do resumo do livro a ser usado na composição dos quadrinhos.
Divisão pelos alunos, do texto em cenas e atribuição de um título para cada
uma delas.
Apresentação de histórico e a montagem de uma história em quadrinhos.
Transposição, pelos alunos, para a história em quadrinhos das cenas nas
quais o texto foi dividido, utilizando-se de desenhos e outros recursos
possíveis para montagem dos quadrinhos.
Revisão da história em quadrinhos modificando os elementos que os alunos
não julgavam muito adequados.
Momento de troca das composições com os colegas e conversa entre eles
sobre os textos produzidos. Esse foi um momento importante, pois os autores
tiveram a oportunidade de trocarem ideias sobre os trabalhos produzidos e
verem seus textos em situação real de leitura e a opinião que outros leitores
tiveram dos mesmos.
Após o momento de interação surgiu a necessidade de novas revisões e
produção final.
Alguns alunos apresentaram algumas dificuldades na sistematização dos
quadrinhos, desconhecendo o uso dos balões e outros recursos. Houve alguns
alunos que, apesar de terem desenhado os balões, não se valeram de falas, e
inseriram neles tópicos de discurso indireto. Uma vez que o objetivo da atividade era
apresentar uma releitura da obra adaptada, não foram feitas alterações no resultado
final dos trabalhos.
Na sequência, são apresentadas algumas das produções dos participantes da
implementação do projeto.
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Fonte: Trabalho da aluna J.F.M.P.
Podemos avaliar os resultados obtidos ao longo do processo como positivos, e
até é possível afirmar que a totalidade dos alunos teve participação satisfatória nos
trabalhos, evidenciando um interesse maior quando se trata de apresentação visual que
envolve textos literários.
Nota-se, portanto, que o trabalho pedagógico deve pressupor também a
apropriação de sentidos do texto por meio de Histórias em Quadrinhos também, fator
que imprime maior motivação ao desenvolvimento das estratégias utilizadas.
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5. Conclusão
Acreditamos que este artigo possa contribuir para aulas de Língua Portuguesa
sendo um instrumento precioso, em que outros profissionais da educação possam
usufruir das contribuições aqui apresentadas, adaptando-as no seu contexto escolar
se assim lhes convier. Que sirva de incentivo para trabalhar com essa obra e tantas
outras também importantes. Precisamos formar cidadãos mais críticos, que tenham
uma nova postura diante da sociedade na qual estão inseridos.
Já no que diz respeito à implementação e aceitação do projeto na escola,
observamos que toda a comunidade escolar mostrou-se receptiva e a maioria
colaborou para que tudo saísse da melhor forma possível, desde a Direção,
pedagogos, professores e alunos, participaram na implementação do projeto, que
foi um momento de enriquecimento cultural para todos os envolvidos.
Observamos também que a implementação foi positiva no sentido da
sensibilização para o despertar da leitura.
Uma questão relevante nesse artigo e que não podemos esquecer de
relatar é a contribuição valiosa dos professores que fizeram parte do Grupo de
Trabalho em Rede, o GTR - curso on line da Secretaria de Estado da Educação –
etapa importante do PDE. Cada participante, a seu modo deu a sua contribuição,
que foi de total importância para que tudo se concretizasse.
É importante dizer que muitos alunos no final da implementação tiveram
ideias diferentes das apresentadas no início do projeto, ou seja, mesmo aqueles
que não mostravam interesse no início das atividades, se interessaram durante a
implementação do trabalho.
Como bem sabemos, o objetivo principal da educação é que o cidadão se
torne um agente social de mudança, mas para isso, é preciso que, nós
educadores, estejamos preparados para isso. Dessa forma a mudança na estratégia
de apresentação e avaliação da leitura neste trabalho contribuíram para novas
estratégias, até então não conhecidas pelos alunos. Acreditamos e, sobretudo
verificamos o resultado positivo dessa nova proposta.
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Referências
ALARCÃO, Maria de Lourdes. Motivar para a leitura: estratégia de abordagem do texto narrativo. Lisboa 1995, São Paulo: Texto Editores 2005. BRASIL, SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa - terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa – Ensino Médio. Brasília: MEC/SEF, 2000. CEREJA, William Roberto. Ensino de Literatura: uma proposta dialógica para o trabalho com literatura. São Paulo: Atual, 2005. COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Ática, 2000. FILIPOUSKI, Ana Mariza Ribeiro e MARCHI,Diana Maria: A formação do leitor jovem:
temas e gêneros da literatura.- Erechim, RS: Edelbra, 2009.
MARCUSCHI, Luís Antônio - Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001. RAMA, Angela. VERGUEIRO, Waldomiro. Como Usar Quadrinhos na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 2004 ROCHA, Ruth. Odisséia.Companhia das Letrinhas, São Paulo, 2000.
ZILBERMAN, Regina (Org). Guia de leitura para alunos de 1º e 2º graus. Campinas: UNICAMP, 1993.
Documentos eletrônicos:
Filme A Odisseia, (The Odyssey, EUA 1997) produzido por Francis Ford Copolla. (The Odyssey, EUA 1997) Direção: Andrei Konchalovsky. Elenco: Isabella Rosselini, Armand Assante, Eric Roberts, Greta Scacchi, Geraldine Chapin, Cristopher Lee, Irene Papas. http://andersonferreira-blog.blogspot.com/2010/01/charges-piadas.html,32 http://g1.globo.com/Noticias/Cinema/0,,MUL1099640-7086,00.html
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/mitologia-grega/odisseia.php.